O regime militar e a oposição armada (7):
um retrospecto histórico, por um observador engajado
Paulo Roberto de Almeida
Sumário:
1. Antecedentes e contexto do golpe militar de 1964
(ver neste link)
2. A reação dos perdedores: resistência política e luta armada
(ver neste link)
3. A passagem à luta armada: a insensatez em ação
(ver neste link)
4. A derrota da luta armada e suas consequências: uma história a ser escrita
(ver neste link)
5. O que foi a luta armada no Brasil: uma interpretação pessoal
(ver neste link)
6. Quando a luta armada se desenvolveu no Brasil?
(ver neste link)
7. Onde a
luta armada se desenvolveu no Brasil?
A “geografia humana” da
luta armada é feita, basicamente, de idealistas de classe média guiados por uma
adesão equivocada a certas causas – basicamente as da revolução cubana, mais
até do que a do socialismo de inspiração soviética – e de alguns egressos do
comunismo histórico, seduzidos pelo chamamento e o apoio cubano a um grande
empreendimento que se pretendia de libertação do continente do latifundismo, do
imperialismo e, em última instância, da burguesia capitalista. Ela raramente
envolveu legítimos trabalhadores – senão alguns poucos “líderes” sindicais já
adquiridos à ação militante, de natureza política, não exatamente sindical – e
menos ainda camponeses típicos, senão alguns poucos agitadores políticos que já
tinham base em zonas rurais. Ela foi basicamente urbana.
Foi um fenômeno
essencialmente de, e restrito à classe média, em algumas metrópoles
brasileiras, recrutando adeptos no mesmo universo de universitários
conquistados às teses leninistas ou gramscianas, e emocionalmente estimulados
pela epopeia vitoriosa – em grande medida romantizada e idealizada – dos
revolucionários cubanos. Creio poder dizer que sou um típico representante
dessas camadas de estudantes “revoltados” que viam na luta armada não apenas –
ou talvez não exclusivamente – o meio de “libertar o Brasil dos generais
gorilas”, mas basicamente uma via romântica de atuação política-prática, seguindo
o exemplo daquele pequeno grupo de bravos guerrilheiros que conduziram uma luta
exemplar até a vitória. Essa perspectiva da “tomada do poder” por colunas
guerrilheiras, secundadas, no momento decisivo, por uma greve geral da
população contra a ditadura opressiva, fazia parte do universo mental de todo
candidato a guerrilheiro urbano, que forneceu, de modo geral, 90% do
contingente humano para a luta armada (o experimento do PCdoB nas selvas do
Araguaia jamais assumiu proporções significativas, em termos humanos e
materiais, e nunca teria tido qualquer influência no debate político
contemporâneo, se esse partido não fosse constituído de fundamentalistas
devotados às suas causas esquizofrênicas).
(continua...)
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