Um livro relevante, de quem foi presidente da Petrobras, tentou fazê-la funcionar como empresa submetida a critérios de mercado e aos interesses dos seus acionistas (sendo que o maior é o Estado brasileiro), mas que foi demitindo sumariamente quando se opôs a ordens contraditórias e nocivas para a empresa e para o país, pelo então presidente Jair Bolsonaro, que trocou mais três vezes de presidente, apenas para satisfazer seus propósitos eleitoreiros rasteiros. (PRA)
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
sábado, 2 de novembro de 2024
Livro: Petrobras: A luta pela transformação - Roberto Castello Branco (LVM)
segunda-feira, 20 de maio de 2024
Petrobras: Sucesso e fracasso - André Gustavo Stumpf (Correio Braziliense)
Petrobras: Sucesso e fracasso
Agora, o presidente Lula demonstra sua inclinação a repetir as políticas de seus dois primeiros governos e o de sua sucessora do Planalto. A Petrobras está segurando o preço dos combustíveis para aliviar a inflação e, ao mesmo tempo, favorecer seus candidatos na eleição de novembro.
A Petrobras, empresa brasileira de petróleo, impressiona pelo seu tamanho, imenso valor (mais de US$250 bilhões), importância na economia brasileira e enorme capacidade de ser vítima da ação dos políticos. Seu sucesso é seu fracasso. No governo Lula 2, foi descoberto o fabuloso pré-sal que vai da costa do Espírito Santo até a de São Paulo com cerca de 15 bilhões de barris de petróleo. A descoberta permitiu que o Brasil assumisse a posição de importante exportador de petróleo. As necessidades do mercado interno foram atendidas, mas com o preço internacional.
No governo Dilma, a Petrobras foi para o centro do debate político por motivo inglório. Foi descoberto o rentável esquema de corrupção na petroleira. Diretores admitiram receber fortunas para beneficiar empresas que redistribuíam parte dos lucros para o Partido dos Trabalhadores. Em 2006, a Petrobras pagou 360 milhões de dólares por 50% da refinaria de Pasadena, no Texas. Em 2008, a petroleira brasileira e a empresa belga de petróleo se desentenderam e uma decisão judicial obrigou a Petrobras a comprar a parte de sua sócia. A aquisição da refinaria de Pasadena acabou custando 1,18 bilhão de dólares à Petrobras, mais de 27 vezes o que a Astra teve de desembolsar. Foi o começo da história cabulosa.
A Operação Lava-Jato da Polícia Federal, a partir de março de 2014, apurou um esquema de lavagem de dinheiro suspeito de movimentar mais de R$ 10 bilhões montante que, atualizado, alcança mais de R$ 20 bilhões. Até abril de 2014, a operação envolveu 46 pessoas indiciadas pelos crimes de formação de organização criminosa, crimes contra o sistema financeiro nacional, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro e 30 foram presas, entre elas o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa. Pedro Barusco disse que o esquema de pagamento de propinas na Petrobras começou em 1997.
Em 14 de novembro de 2014, foram presos os presidentes e diretores de grandes empresas do Brasil, como OAS, Iesa Óleo e Gás, Camargo Corrêa, UTC Engenharia e Construtora Queiroz Galvão. A força-tarefa da Lava-Jato identificou R$ 10 bilhões em propinas, recuperou R$ 870 milhões, bloqueou outros R$ 2,4 bilhões e prendeu 105 envolvidos no escândalo. Em novembro de 2015, a PF estimou que o prejuízo da Petrobras com corrupção chega a R$ 42 bilhões, mas somente R$ 6 bilhões foram divulgados oficialmente pela empresa. A estimativa tem como base laudo da perícia criminal baseado em tabelas que mostram os pagamentos indevidos envolvendo 27 empresas apontadas como integrantes do cartel na Petrobras.
O governo Temer, que sucedeu o de Dilma Rousseff, tratou a empresa como ente privado. Saneou as dívidas, proporcionou ótimos dividendos para os acionistas. A mesma fórmula foi repetida no governo Bolsonaro. Agora, o presidente Lula demonstra sua inclinação a repetir as políticas de seus dois primeiros governos e o de sua sucessora do Planalto. A Petrobras está segurando o preço dos combustíveis para aliviar a inflação e, ao mesmo tempo, favorecer seus candidatos na eleição de novembro. Ele entende que o lucro da empresa deve ser investido em projetos sociais que gerem empregos. O mais conhecido deles é o sonho da indústria naval, que foi tentado várias vezes e virou pesadelo na forma de prejuízos monumentais.
O presidente Lula tem exibido sua face analógica e a dificuldade em se situar no novo cenário globalizado e informatizado. Os novos negócios e os recentes caminhos do comércio internacional modificaram as referências no mundo moderno. Mas os dirigentes do PT ainda não perceberam. O chefe do governo custou a entender que ele precisaria definir uma pessoa para atuar em nome do governo federal no Rio Grande do Sul. Demorou muito. Escolheu o ministro Paulo Pimenta, que se tornou um evidente candidato ao governo daquele estado. Fez o anúncio em comício na cidade de São Leopoldo. O assembleísmo do PT ditou o rumo dos acontecimentos. Politizou o problema.
A substituição de Jean Paul Prates na presidência da Petrobras está dentro da moldura da política petista, que pretende botar a mão nos lucros da empresa. Magda Chambriard, que dirigiu a Agência Nacional do Petróleo durante o governo Dilma, foi funcionária da Petrobras por mais de 20 anos. Conhece bem o assunto e sabe das intenções do presidente Lula. Os presidentes da Petrobras não costumam ficar muito tempo no cargo. Eles estão sempre no meio de interesses multimilionários e da vontade política do partido que está no poder. A substituição na presidência da Petrobras é apenas mais um capítulo na luta entre acionistas privados e o governo federal. O perigo é que os dois terminem perdendo dinheiro e o cidadão brasileiro pague o prejuízo ao final.
quinta-feira, 11 de abril de 2024
"Ideal é privatizar a Petrobras", diz Marcelo Mesquita, conselheiro mais antigo da Petrobras (Valor)
"Ideal é privatizar a Petrobras", diz Mesquita
Governança - Conselheiro mais longevo afirma que crises sucessivas ocorrem pelo modelo estatal
Kariny Leal, Fábio Couto e Francisco Góes - Do Rio
Valor, 11/04/2024
Mais antigo conselheiro da Petrobras, cargo que ocupa há oito anos, o economista Marcelo Mesquita entende que a privatização é a melhor saída para as contínuas crises vividas pela empresa, governo após governo. "Se um governo do PT faz isso, ficaria no poder 20 anos", diz. Um modelo possível, segundo ele, seria o de "Corporation", empresa sem controle acionário definido, com atuação focada em exploração e produção de petróleo no Brasil. No formato atual de empresa de economia mista, Mesquita identifica vários problemas. Entre os quais aponta as tentativas de ingerência política, incluindo a formação de preços dos combustíveis, e retrocessos na governança, que vai sendo minada gradualmente: "É uma barragem que vai criando rachaduras", compara.
No tempo em que está no colegiado da Petrobras, Mesquita conviveu com sete diferentes presidentes da empresa. Ele deixará o conselho depois da assembleia de acionistas do dia 25, uma vez que não pode se candidatar a uma terceira reeleição, vedada pelo estatuto. O economista não quis opinar sobre tuna possível permanência do atual CEO da estatal, Jean Paul Prates. Mas reconheceu que o debate sobre o comando da estatal paralisa a companhia. Diz ainda nunca ter visto situação como a atual em que conselheiros do governo e diretoria não se entendem, como ocorreu no caso dos dividendos extraordinários: "É como se não fosse bom estar dando lucro e pagando dividendo." A seguir os principais pontos da entrevista ao Valor: Valor: Que avaliação faz do momento da Petrobras?
Marcelo Mesquita Em crises anteriores, a empresa estava em momento ruim. Em 2018, a Petrobras tinha dívida e custos altos. A lucratividade não era elevada, a empresa não pagava dividendos e a cotação do petróleo estava baixa. A empresa estava fragilizada. Hoje, anos depois, é diferente porque se fez uma reestruturação da governança. A empresa chegou a ter 120 mil funcionários, hoje tem 60 mil e produz mais. Quando se vê que a empresa está indo bem, não tem a "desculpa" para Brasília de que [a Petrobras] não pode atender os pedidos.
Valor: Porque dá lucro?
Mesquita: A empresa é muito lucrativa. Do ponto de vista do país, deveríamos olhar isso [o lucro] com felicidade, e não com o estranhamento que algumas pessoas olham, como se ter muito lucro fosse errado. É como se não fosse bom estar dando lucro e pagando dividendo, essa é a insanidade do atual momento.
Valor: Qual é a razão disso?
Mesquita: A visão de que a Petrobras é uma galinha de ovos de ouro para o país precisa ser um consenso. O debate deveria ser o seguinte: vai haver uma transição energética, vamos fazer com a Petrobras ou não? É um debate complexo e saudável que o Ministério de Minas e Energia (MME) devia ter com o país. A empresa tem que dar lucro e pagar o máximo de dividendo que puder. Isso não deveria ser debatido. As pessoas acham que está sobrando dinheiro porque a Petrobras não está investindo o suficiente. É uma falácia. Esse é o ponto de partida da conversa do dividendo e do lucro. A Petrobras tem um plano de investimento que é o maior do Brasil, da América Latina e do hemisfério sul. É quase o tamanho da Exxon Mobil, a maior empresa de petróleo americana. Óbvio que a Petrobras gostaria de investir mais, mas precisa ter projeto.
Valor: Se a empresa está tão bem operacionalmente, por que não se construiu um consenso para evitar a crise dos dividendos?
Mesquita: Pois é, eu não entendo. Não sou do governo, não entendo o que acontece entre os políticos em Brasília. O sindicato não querer maior distribuição de dividendos até entendo, porque eles acham que dinheiro na empresa é melhor para ter mais emprego. Mas, de novo, isso é uma falácia porque não gera mais emprego sem as condições [econômicas] para sustentar essas vagas. Se tem dinheiro sobrando e compra ativo na Bolívia, na Venezuela ou na África só para dar destinação ao recurso, não faz sentido. Eu também gostaria que o país fosse autossuficiente em fertilizantes, mas não existe país rico que faça tudo. Se somos bons em fazer poços profundos, vamos focar nisso. Vamos debater como aumentar o investimento em exploração no Brasil.
Valor: Há risco de retrocesso na governança da Petrobras depois dos avanços dos últimos anos?
Mesquita: O risco é a empresa estar muito lucrativa, pagando dividendos e as pessoas quererem fazer coisas que no passado já se viu que não dão retomo. Esse risco é potencializado pela incerteza da transição energética. Mesmo empresas de petróleo privadas, sem as amarras da Petrobras, estão vivendo esse dilema [de diversificar o portfólio].
Valor: Qual é o melhor uso do dinheiro da Petrobras?
Mesquita: O ideal é privatizar a Petrobras, ter uma empresa menor e mais focada em exploração e produção de petróleo no Brasil. E deixar o país usar os recursos [da privatização] para fazer o que precisa, como infraestrutura, escolas, hospitais e abater a dívida pública para ter uma taxa de juros mais baixa. Isso permite ter um custo de capital menor. É saudável para o país usar esse dinheiro que a Petrobras gera. A Noruega e o Chile, por exemplo, têm fundos criados para pegar o excedente de dinheiro em momento de bonança, investir e guardar. No Brasil, não temos maturidade política para guardar porque todo mundo quer gastar quando está no poder e não deixar para quem vem depois. Se pudesse, esse seria o caminho: colocar o dinheiro em um fundo e usar quando precisar. Mas isso é tão sofisticado que não estamos nesse ponto do debate no Brasil.
Valor: O senhor defende a privatização da Petrobras há tempos, mas nunca houve condições reais de avançar nessa discussão...
Mesquita: A sociedade evoluiu. Agora seria o momento de ser magnânimo, de ser estadista. Se um governo do PT faz isso, ficaria no poder 20 anos. Deveriam ter a grandeza de entender isso. Se as forças políticas entendessem que têm que ser pragmáticas e não ideológicas em certas questões, alcançaríamos o consenso para nos desenvolvermos como nação. Cada vez que entra um grupo, fala que vai fazer tudo diferente do anterior. Não se acha uma convergência para que haja avanço.
Valor: Por que nunca ninguém conseguiu privatizar a Petrobras?
Mesquita: Porque ela ficou por último, depois de outros setores como celulose, siderurgia e mineração. A Petrobras, talvez por ser a maior e mais rentável, de um setor que muitos países têm estatais, ficou para o fim. E tem um debate polêmico [em torno ao tema], então vai indo pelas beiradas.
Valor Seu modelo para a privatização seria o de uma "Corporation"?
Mesquita: Privatização pode ser feita em vários modelos, o país tem que debater. Como permitir que a Petrobras se livre das interferências políticas privatizando, mas sem que fique desnacionalizada e aumentando investimentos, pagando impostos e gerando mais lucro. Se faz uma operação eficiente e lucrativa, o país ganha com isso, como ganha com a Vale. Quem é contra privatização por hipocrisia, deveria se obrigar a usar escola e hospital públicos em vez de ir no privado. O governo nem precisaria ter participação acionária, mas poderia influenciar, via "golden share", para não desnacionalizar. O governo recebe impostos da Petrobras, que são brutais. O [valor] que vai para funcionários e acionistas também é brutal.
Valor: Mas para privatizar teria que ter apoio do Congresso, mudar a Lei do Petróleo...
Mesquita: Estamos ficando para trás no mundo. A urgência da privatização da Petrobras tem a ver com a transição energética global. O petróleo vai deixar de ser uma riqueza, então precisamos usá-lo de forma correta.
Valor: Em que prazo?
Mesquita: Ninguém sabe. Mas está determinado que o planeta não quer mais usar petróleo, quer outras fontes de energias renováveis. Não sabemos em que velocidade. Uma empresa privada e ágil vai ter mais condições de tomar riscos do que uma estatal que muda a direção a cada quatro anos com a troca de governo. Qualquer governo de direita ou de esquerda quer mudar o presidente [da Petrobras] a cada ano. Em oito anos, eu vi sete conselhos, sete presidentes, sete diretorias. O Prates entrou, ainda está mudando as pessoas e a estrutura, e já estão falando que ele vai sair.
Valor: A dificuldade de Prates parece ser se equilibrar entre os interesses do governo e do mercado.
Mesquita: Esse embate existe porque tem minoritários que colocaram dinheiro e estão ali brigando. A empresa de economia mista [caso da Petrobras] funciona melhor do que quando não é, mas no Brasil não funciona bem como poderia. Porque não tem esse consenso político de que tem que ter vida de empresa e que não é uma autarquia federal. Com a "class action" [ação movida por investidores contra a Petrobras nos EUA, em 2015] e o acordo com a SEC [a CVM americana], a Petrobras se comprometeu a melhorar a governança e criar regras para evitar ataques e interferências. Graças a isso nos últimos oito anos a empresa melhorou muito. O ataque de Brasília é o mais difícil. Bolsonaro [o ex-presidente Jair Bolsonaro] ligava e achava que podia fazer o que queria. Mas não pode porque as pessoas que estão ali respondem com o CPE É resistência diária, mas a empresa vai sendo minada. É uma barragem que vai criando rachaduras. A flexibilização da Lei das Estatais foi uma delas.
Valor: Faltam duas semanas para a assembleia que vai eleger o conselho. Qual é a sua expectativa?
Mesquita: É um assunto difícil de falar, melhor comentar depois.
Valor: Tem elementos para dizer se Prates fica no cargo?
Mesquita: Nenhum, mas ficar 15 dias aparecendo supostos nomes que vão entrar [como CEO] é péssimo. A empresa para, os diretores começam a procurar emprego porque sabem que vão ficar desempregados. O presidente para de tomar decisão, as empresas que queriam parcerias também param.
Valor: O clima no conselho não parecer ser bom. É isso mesmo?
Mesquita: Onde tem alguma polêmica é quando se define o plano estratégico, ao definir o longo prazo da empresa. Eu votei contra o plano estratégico porque acredito numa Petrobras focada em exploração e produção, vendendo campos maduros, não entrando em coisas que não sabe fazer. Essa gestão, orientada por Brasília, aposta no outro caminho [de diversificar investimentos]. Tem que ter responsabilidade de votar com o CPE Às vezes tem consenso e outras vezes não.
Valor: Um caso em que não houve consenso foi na votação do dividendo extraordinário, quando Prates se absteve na votação.
Mesquita: Nunca vi isso em oito anos. Nos governos Temer e Bolsonaro, mesmo com todas as mudanças, havia coordenação entre CEO e o chairman da empresa, entre conselheiros colocados pelo governo e o que o presidente da empresa estava querendo fazer, sempre houve coordenação forte. Não entendo o que acontece, também não pergunto e não quero saber. É muito estranho a diretoria ter uma proposta e os conselheiros que a indicaram não terem uma atuação coordenada. É surpreendente como minoritário. E não sei explicar, não sei porque é assim. Eu acho que tem que ser distribuído 100% de tudo o que sobra. Por definição, se sobrou dinheiro e a empresa está com dívida resolvida, investindo o máximo que pode, tem que distribuir.
Valor: Então o senhor foi contrário à criação da reserva de capital.
Mesquita: Claro! Porque não tem que ter reserva de procrastinação. Eu até brinco internamente que essa não é uma reserva de capital, é uma reserva de atraso, porque esse dinheiro, um dia, ou vai ter que ser dado ao acionista ou vai ser investido em maluquice. Ou pode queimar [o recurso] caso faça retenção de preço de combustíveis.
Valor: Há algum ativo que a Petrobras não deveria ter vendido?
Mesquita: Foi ótimo [vendera distribuição de combustíveis] porque cria mais concorrência, mais players. Também não houve problema em vender refinarias. Quando se tem uma fatia de mercado monopolista e o dono da empresa é o governo, a mão pesada é sempre para vender barato e fazer politicagem. Historicamente, o capital aplicado em refino nunca deu retorno porque sempre se tentou represar preços para segurar a inflação.
Val
"Ideal é privatizar a Petrobras", diz Mesquita
Governança - Conselheiro mais longevo afirma que crises sucessivas ocorrem pelo modelo estatal
Kariny Leal, Fábio Couto e Francisco Góes - Do Rio
Mais antigo conselheiro da Petrobras, cargo que ocupa há oito anos, o economista Marcelo Mesquita entende que a privatização é a melhor saída para as contínuas crises vividas pela empresa, governo após governo. "Se um governo do PT faz isso, ficaria no poder 20 anos", diz. Um modelo possível, segundo ele, seria o de "Corporation", empresa sem controle acionário definido, com atuação focada em exploração e produção de petróleo no Brasil. No formato atual de empresa de economia mista, Mesquita identifica vários problemas. Entre os quais aponta as tentativas de ingerência política, incluindo a formação de preços dos combustíveis, e retrocessos na governança, que vai sendo minada gradualmente: "É uma barragem que vai criando rachaduras", compara.
No tempo em que está no colegiado da Petrobras, Mesquita conviveu com sete diferentes presidentes da empresa. Ele deixará o conselho depois da assembleia de acionistas do dia 25, uma vez que não pode se candidatar a uma terceira reeleição, vedada pelo estatuto. O economista não quis opinar sobre tuna possível permanência do atual CEO da estatal, Jean Paul Prates. Mas reconheceu que o debate sobre o comando da estatal paralisa a companhia. Diz ainda nunca ter visto situação como a atual em que conselheiros do governo e diretoria não se entendem, como ocorreu no caso dos dividendos extraordinários: "É como se não fosse bom estar dando lucro e pagando dividendo." A seguir os principais pontos da entrevista ao Valor: Valor: Que avaliação faz do momento da Petrobras?
Marcelo Mesquita Em crises anteriores, a empresa estava em momento ruim. Em 2018, a Petrobras tinha dívida e custos altos. A lucratividade não era elevada, a empresa não pagava dividendos e a cotação do petróleo estava baixa. A empresa estava fragilizada. Hoje, anos depois, é diferente porque se fez uma reestruturação da governança. A empresa chegou a ter 120 mil funcionários, hoje tem 60 mil e produz mais. Quando se vê que a empresa está indo bem, não tem a "desculpa" para Brasília de que [a Petrobras] não pode atender os pedidos.
Valor: Porque dá lucro?
Mesquita: A empresa é muito lucrativa. Do ponto de vista do país, deveríamos olhar isso [o lucro] com felicidade, e não com o estranhamento que algumas pessoas olham, como se ter muito lucro fosse errado. É como se não fosse bom estar dando lucro e pagando dividendo, essa é a insanidade do atual momento.
Valor: Qual é a razão disso?
Mesquita: A visão de que a Petrobras é uma galinha de ovos de ouro para o país precisa ser um consenso. O debate deveria ser o seguinte: vai haver uma transição energética, vamos fazer com a Petrobras ou não? É um debate complexo e saudável que o Ministério de Minas e Energia (MME) devia ter com o país. A empresa tem que dar lucro e pagar o máximo de dividendo que puder. Isso não deveria ser debatido. As pessoas acham que está sobrando dinheiro porque a Petrobras não está investindo o suficiente. É uma falácia. Esse é o ponto de partida da conversa do dividendo e do lucro. A Petrobras tem um plano de investimento que é o maior do Brasil, da América Latina e do hemisfério sul. É quase o tamanho da Exxon Mobil, a maior empresa de petróleo americana. Óbvio que a Petrobras gostaria de investir mais, mas precisa ter projeto.
Valor: Se a empresa está tão bem operacionalmente, por que não se construiu um consenso para evitar a crise dos dividendos?
Mesquita: Pois é, eu não entendo. Não sou do governo, não entendo o que acontece entre os políticos em Brasília. O sindicato não querer maior distribuição de dividendos até entendo, porque eles acham que dinheiro na empresa é melhor para ter mais emprego. Mas, de novo, isso é uma falácia porque não gera mais emprego sem as condições [econômicas] para sustentar essas vagas. Se tem dinheiro sobrando e compra ativo na Bolívia, na Venezuela ou na África só para dar destinação ao recurso, não faz sentido. Eu também gostaria que o país fosse autossuficiente em fertilizantes, mas não existe país rico que faça tudo. Se somos bons em fazer poços profundos, vamos focar nisso. Vamos debater como aumentar o investimento em exploração no Brasil.
Valor: Há risco de retrocesso na governança da Petrobras depois dos avanços dos últimos anos?
Mesquita: O risco é a empresa estar muito lucrativa, pagando dividendos e as pessoas quererem fazer coisas que no passado já se viu que não dão retomo. Esse risco é potencializado pela incerteza da transição energética. Mesmo empresas de petróleo privadas, sem as amarras da Petrobras, estão vivendo esse dilema [de diversificar o portfólio].
Valor: Qual é o melhor uso do dinheiro da Petrobras?
Mesquita: O ideal é privatizar a Petrobras, ter uma empresa menor e mais focada em exploração e produção de petróleo no Brasil. E deixar o país usar os recursos [da privatização] para fazer o que precisa, como infraestrutura, escolas, hospitais e abater a dívida pública para ter uma taxa de juros mais baixa. Isso permite ter um custo de capital menor. É saudável para o país usar esse dinheiro que a Petrobras gera. A Noruega e o Chile, por exemplo, têm fundos criados para pegar o excedente de dinheiro em momento de bonança, investir e guardar. No Brasil, não temos maturidade política para guardar porque todo mundo quer gastar quando está no poder e não deixar para quem vem depois. Se pudesse, esse seria o caminho: colocar o dinheiro em um fundo e usar quando precisar. Mas isso é tão sofisticado que não estamos nesse ponto do debate no Brasil.
Valor: O senhor defende a privatização da Petrobras há tempos, mas nunca houve condições reais de avançar nessa discussão...
Mesquita: A sociedade evoluiu. Agora seria o momento de ser magnânimo, de ser estadista. Se um governo do PT faz isso, ficaria no poder 20 anos. Deveriam ter a grandeza de entender isso. Se as forças políticas entendessem que têm que ser pragmáticas e não ideológicas em certas questões, alcançaríamos o consenso para nos desenvolvermos como nação. Cada vez que entra um grupo, fala que vai fazer tudo diferente do anterior. Não se acha uma convergência para que haja avanço.
Valor: Por que nunca ninguém conseguiu privatizar a Petrobras?
Mesquita: Porque ela ficou por último, depois de outros setores como celulose, siderurgia e mineração. A Petrobras, talvez por ser a maior e mais rentável, de um setor que muitos países têm estatais, ficou para o fim. E tem um debate polêmico [em torno ao tema], então vai indo pelas beiradas.
Valor Seu modelo para a privatização seria o de uma "Corporation"?
Mesquita: Privatização pode ser feita em vários modelos, o país tem que debater. Como permitir que a Petrobras se livre das interferências políticas privatizando, mas sem que fique desnacionalizada e aumentando investimentos, pagando impostos e gerando mais lucro. Se faz uma operação eficiente e lucrativa, o país ganha com isso, como ganha com a Vale. Quem é contra privatização por hipocrisia, deveria se obrigar a usar escola e hospital públicos em vez de ir no privado. O governo nem precisaria ter participação acionária, mas poderia influenciar, via "golden share", para não desnacionalizar. O governo recebe impostos da Petrobras, que são brutais. O [valor] que vai para funcionários e acionistas também é brutal.
Valor: Mas para privatizar teria que ter apoio do Congresso, mudar a Lei do Petróleo...
Mesquita: Estamos ficando para trás no mundo. A urgência da privatização da Petrobras tem a ver com a transição energética global. O petróleo vai deixar de ser uma riqueza, então precisamos usá-lo de forma correta.
Valor: Em que prazo?
Mesquita: Ninguém sabe. Mas está determinado que o planeta não quer mais usar petróleo, quer outras fontes de energias renováveis. Não sabemos em que velocidade. Uma empresa privada e ágil vai ter mais condições de tomar riscos do que uma estatal que muda a direção a cada quatro anos com a troca de governo. Qualquer governo de direita ou de esquerda quer mudar o presidente [da Petrobras] a cada ano. Em oito anos, eu vi sete conselhos, sete presidentes, sete diretorias. O Prates entrou, ainda está mudando as pessoas e a estrutura, e já estão falando que ele vai sair.
Valor: A dificuldade de Prates parece ser se equilibrar entre os interesses do governo e do mercado.
Mesquita: Esse embate existe porque tem minoritários que colocaram dinheiro e estão ali brigando. A empresa de economia mista [caso da Petrobras] funciona melhor do que quando não é, mas no Brasil não funciona bem como poderia. Porque não tem esse consenso político de que tem que ter vida de empresa e que não é uma autarquia federal. Com a "class action" [ação movida por investidores contra a Petrobras nos EUA, em 2015] e o acordo com a SEC [a CVM americana], a Petrobras se comprometeu a melhorar a governança e criar regras para evitar ataques e interferências. Graças a isso nos últimos oito anos a empresa melhorou muito. O ataque de Brasília é o mais difícil. Bolsonaro [o ex-presidente Jair Bolsonaro] ligava e achava que podia fazer o que queria. Mas não pode porque as pessoas que estão ali respondem com o CPE É resistência diária, mas a empresa vai sendo minada. É uma barragem que vai criando rachaduras. A flexibilização da Lei das Estatais foi uma delas.
Valor: Faltam duas semanas para a assembleia que vai eleger o conselho. Qual é a sua expectativa?
Mesquita: É um assunto difícil de falar, melhor comentar depois.
Valor: Tem elementos para dizer se Prates fica no cargo?
Mesquita: Nenhum, mas ficar 15 dias aparecendo supostos nomes que vão entrar [como CEO] é péssimo. A empresa para, os diretores começam a procurar emprego porque sabem que vão ficar desempregados. O presidente para de tomar decisão, as empresas que queriam parcerias também param.
Valor: O clima no conselho não parecer ser bom. É isso mesmo?
Mesquita: Onde tem alguma polêmica é quando se define o plano estratégico, ao definir o longo prazo da empresa. Eu votei contra o plano estratégico porque acredito numa Petrobras focada em exploração e produção, vendendo campos maduros, não entrando em coisas que não sabe fazer. Essa gestão, orientada por Brasília, aposta no outro caminho [de diversificar investimentos]. Tem que ter responsabilidade de votar com o CPE Às vezes tem consenso e outras vezes não.
Valor: Um caso em que não houve consenso foi na votação do dividendo extraordinário, quando Prates se absteve na votação.
Mesquita: Nunca vi isso em oito anos. Nos governos Temer e Bolsonaro, mesmo com todas as mudanças, havia coordenação entre CEO e o chairman da empresa, entre conselheiros colocados pelo governo e o que o presidente da empresa estava querendo fazer, sempre houve coordenação forte. Não entendo o que acontece, também não pergunto e não quero saber. É muito estranho a diretoria ter uma proposta e os conselheiros que a indicaram não terem uma atuação coordenada. É surpreendente como minoritário. E não sei explicar, não sei porque é assim. Eu acho que tem que ser distribuído 100% de tudo o que sobra. Por definição, se sobrou dinheiro e a empresa está com dívida resolvida, investindo o máximo que pode, tem que distribuir.
Valor: Então o senhor foi contrário à criação da reserva de capital.
Mesquita: Claro! Porque não tem que ter reserva de procrastinação. Eu até brinco internamente que essa não é uma reserva de capital, é uma reserva de atraso, porque esse dinheiro, um dia, ou vai ter que ser dado ao acionista ou vai ser investido em maluquice. Ou pode queimar [o recurso] caso faça retenção de preço de combustíveis.
Valor: Há algum ativo que a Petrobras não deveria ter vendido?
Mesquita: Foi ótimo [vendera distribuição de combustíveis] porque cria mais concorrência, mais players. Também não houve problema em vender refinarias. Quando se tem uma fatia de mercado monopolista e o dono da empresa é o governo, a mão pesada é sempre para vender barato e fazer politicagem. Historicamente, o capital aplicado em refino nunca deu retorno porque sempre se tentou represar preços para segurar a inflação.
Valor: Faz sentido econômico ter lançado o segundo trem da Rnest [Refinaria Abreu e Lima]?
Mesquita: Faz porque o investimento foi feito. O ganho é grande ao se terminar o que começou. Votei a favor. Apesar de ter sido um investimento mal-feito, com preços absurdos, que demorou à beça [para ser implantado], a pior obra é a inacabada. Não é uma questão ideológica, é prática, específica.
Valor: Há defasagem nos preços dos combustíveis desde o início do ano. Como é o debate no conselho?
Mesquita: Não se pode olhar a defasagem apenas a curto prazo. Todo mês o conselho monitora a política de preços, a equipe de vendas explica o que está acontecendo com dados e gráficos. Na gestão de Prates, a política foi correta, não se vendeu gasolina com subsídios. Quando precisou, [a Petrobras] aumentou [os preços]. Agora é difícil [aumentar preços], porque quando se fala em derrubar o presidente e é preciso reajustar, é difícil acreditar que ele vá fazer. Entram as pressões políticas. Eu já vi esse filme antes. Por isso tem que privatizar.
Valor E se Prates reajustasse os preços dos combustíveis hoje?
Mesquita: Seria corajoso ao extremo. Eu, se fosse ele, até tentaria, para mostrar que é forte e que não vai sair. Se o Lula não quer tirá-lo [da presidência da Petrobras] de fato, é um ótimo momento para aumentar os combustíveis, mostrar que está tudo normal.
or: Faz sentido econômico ter lançado o segundo trem da Rnest [Refinaria Abreu e Lima]?
Mesquita: Faz porque o investimento foi feito. O ganho é grande ao se terminar o que começou. Votei a favor. Apesar de ter sido um investimento mal-feito, com preços absurdos, que demorou à beça [para ser implantado], a pior obra é a inacabada. Não é uma questão ideológica, é prática, específica.
Valor: Há defasagem nos preços dos combustíveis desde o início do ano. Como é o debate no conselho?
Mesquita: Não se pode olhar a defasagem apenas a curto prazo. Todo mês o conselho monitora a política de preços, a equipe de vendas explica o que está acontecendo com dados e gráficos. Na gestão de Prates, a política foi correta, não se vendeu gasolina com subsídios. Quando precisou, [a Petrobras] aumentou [os preços]. Agora é difícil [aumentar preços], porque quando se fala em derrubar o presidente e é preciso reajustar, é difícil acreditar que ele vá fazer. Entram as pressões políticas. Eu já vi esse filme antes. Por isso tem que privatizar.
Valor E se Prates reajustasse os preços dos combustíveis hoje?
Mesquita: Seria corajoso ao extremo. Eu, se fosse ele, até tentaria, para mostrar que é forte e que não vai sair. Se o Lula não quer tirá-lo [da presidência da Petrobras] de fato, é um ótimo momento para aumentar os combustíveis, mostrar que está tudo normal.
domingo, 7 de abril de 2024
Falta de rumo de Lula 3 causa o barraco do BBB 24 da Petrobras - Vinicius Torres Freire (FSP)
Vinicius Torres Freire
Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).
Falta de rumo de Lula 3 causa o barraco do BBB 24 da Petrobras
Após quase um terço do mandato, governo não tem política para a estatal, petróleo e energia
Os assuntos mais importantes da Petrobras são política de preços, pesquisa e plano de investimento —quanto vai para petróleo, combustíveis fósseis ou energia renovável. A petroleira é a única estatal, talvez a única empresa do país, que se possa chamar de "estratégica", como a esquerda gosta de dizer até de barraca de dogão.
Mais importante é a política nacional de petróleo e energia. Isto é, saber quanto mais petróleo se vai explorar e quais as alternativas econômicas que preservem a segurança do abastecimento de energia. Ou saber o que se vai fazer de impostos, dividendos e outros dinheiros petrolíferos. Por ora, tais receitas mal ajudam a cobrir as despesas do governo muito deficitário. Como seria possível, então, que a exploração de petróleo ajudasse a bancar pesquisa e desenvolvimento de energias renováveis? O que se pode fazer a respeito?
Não há política nacional de petróleo e energia, apenas disputas desorganizadas em um governo que já vai completar um terço de mandato. Petrobras, Meio Ambiente, Minas e Energia, Casa Civil e Fazenda, para citar os mais influentes, no caso, têm ideias diferentes ou mesmo opostas a respeito. Não há decisão de rumo e projeto.
Não há nem mesmo política para Petrobras, apenas desejos de Luiz Inácio Lula da Silva. No limite, tais vontades vagas são incompatíveis com normas e com a solidez econômica da Petrobras. De imediato, tais desejos estimulam a politicalha, esse salseiro vexaminoso que prejudica também o crédito da petroleira e mesmo o do governo.
Nosso maior interesse vai para o BBB 24 da Petrobras. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, espezinha o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, para quem soltou em público, nesta Folha, um "sabe com quem está falando?" e um "ponha-se no seu lugar". O presidente da Petrobras pede a Lula que decida quem manda no barraco. Lula "se irrita", não gosta de ser "emparedado", vaza pelas mídias. Prates ou seus amigos choramingam anonimamente: Prates está "machucado". O drama cafona e irrelevante jorra. Informações sigilosas vazam.
Silveira é amiguinho do casal presidencial. Bajula o presidente, que quer "obras" da Petrobras: navio, refinaria, gasoduto, fábrica de lampião, sabe-se lá. Por vários motivos, pois, entre eles o desejo de mandar mais na empresa, Silveira se sente à vontade de dinamitar Prates, que tentava conciliar estatutos e interesses (e pressões internas) da empresa com os desejos de Lula quanto a preços e investimentos.
A vulgaridade do "reality" aumenta. Uma turma vaza veneno sobre Prates, suas nomeações heterodoxas na empresa, várias de petistas e sindicalistas, tendo, porém, deixado "bolsonaristas" em cargos relevantes. Outra turma vaza que Silveira e amigos seus no conselho da empresa são quase-bolsonaristas (nem bem isso são: agem de acordo com a oportunidade de poder). Etc.
Entra Aloizio Mercadante na história, que talvez substituísse Prates. No paredão, ele "desagrada" ao mercado; na fofoca amiga, teria dito a Prates que não vai lhe passar uma rasteira e que está "moderado" no BNDES.
O país adora fofoca, novela, barraco e reality, das elites toscas ao restante do povo. Disputa de poder e intriga são compreensíveis e mais interessantes do que balanços, eficiência, transição energética e política de desenvolvimento. Causa desânimo terminal que a burrice da conversa seja tão grande mesmo nisso que se chama de elite nacional.
Dentro e fora do governo, nos ministérios, no BNDES, na Petrobras etc., há gente séria e capaz de pensar uma política. O governo, porém, é uma desordem jeca, amigo de ideias provincianas e erradas de desenvolvimento. Lula, coadjuvado por vassalos atrasados e ignaros, deixou essa baderna daninha acontecer.
sábado, 16 de março de 2024
Os impactos desastrosos da interferência do governo na Petrobras e na Vale - Juliana Machado e Pedro Gil (Veja)
Os impactos desastrosos da interferência do governo na Petrobras e na Vale
Gestão Lula mexe na distribuição de dividendos da petroleira e embaralha a sucessão do presidente da Vale. Péssimo para as empresas, pior para o Brasil
Por Juliana Machado e Pedro Gil
Veja, 16 março 2024
Poucas empresas na história do Brasil, talvez nenhuma, foram tão maltratadas pelos governantes de ocasião quanto a Petrobras. Desde a sua criação, em 1953, pelo presidente Getúlio Vargas, a petrolífera tem sido alvo de pressões políticas que frequentemente determinam os caminhos que ela deverá seguir. Foi assim com o próprio Getúlio, que inventou a campanha “o petróleo é nosso”, e com os governos militares, que fizeram a estatal trabalhar a favor do slogan “Brasil grande”. Os governos petistas, contudo, têm especial predileção por mexer com a companhia. Nos dois primeiros mandatos do presidente Lula e na gestão Dilma, o esquema conhecido como petrolão custou aos cofres da Petrobras, segundo investigação da Polícia Federal, prejuízos estimados em 43 bilhões de reais. Apesar das péssimas experiências no passado, o PT decidiu novamente usar a empresa como instrumento político — com impactos econômicos, mais uma vez, desastrosos.
Há alguns dias, a estatal anunciou, em conjunto com a apresentação do balanço do quarto trimestre, que não pagará dividendos extraordinários aos acionistas, ou seja, não distribuirá recursos acima do mínimo estabelecido no seu estatuto social. A decisão tomada pelo conselho de administração atendeu a um pedido do presidente Lula e contrariou avaliações técnicas feitas por boa parte dos diretores e conselheiros da empresa, incluindo o seu próprio presidente, Jean Paul Prates. A inapropriada ingerência de Lula fez a Petrobras perder, em apenas um dia, 56 bilhões de reais em valor de mercado em razão da queda de 10% do valor de suas ações na bolsa de valores. “A Petrobras faz política social ao pagar impostos e royalties e ao gerar empregos e investimentos”, afirma Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura “Agora, o governo quer voltar ao passado com uma política que nunca deu certo.”
O argumento de Lula para cortar o pagamento de dividendos é que os recursos que seriam distribuídos aos acionistas voltarão ao Brasil na forma de investimentos feitos pela Petrobras. Trata-se de uma visão torta — os gestores da empresa, e não o presidente da República, deveriam estabelecer o destino do dinheiro e a partir de critérios meramente técnicos. Note-se também que o próprio governo federal sai perdendo. “O governo está tentando aumentar a arrecadação, mas nega receber os dividendos da empresa que poderiam ser usados para ajudar a fechar as contas do país”, disse a VEJA Roberto Castello Branco, ex-presidente da Petrobras. “É uma decisão irracional.” Castello Branco conhece bem a mão pesada dos políticos. Ele foi demitido do comando da companhia pelo então presidente Jair Bolsonaro, que o instava a reduzir o preço dos combustíveis. O executivo resistiu quanto pôde. “Essas pressões prejudicam o ambiente de negócios e afugentam investidores”, afirma. “Iniciativas intervencionistas são perniciosas para a avaliação de riscos.”
O cenário de ingerência não está restrito à petrolífera. A Vale, outra empresa estratégica para os políticos, também tem sofrido com o barulho provocado por Lula, que tentou emplacar o ex-ministro Guido Mantega no comando da companhia e com suas atitudes tem embaralhado o processo sucessório do atual presidente, Eduardo Bartolomeo. No caso da Vale, as investidas de Lula são ainda mais chocantes. Trata-se de uma empresa de controle privado, que não deveria dar satisfação aos palpiteiros de Brasília. Lula, de fato, tem provocado estragos com seu jeito peculiar de fazer política. Em carta de renúncia apresentada aos colegas, o conselheiro independente da Vale José Luciano Penido afirmou que a transição na mineradora vem sendo conduzida “de forma manipulada, não atende ao melhor interesse da empresa, e sofre evidente e nefasta influência política”.
Sob os ruídos políticos, e mais queda de preço do minério de ferro, a Vale recentemente viu evaporar 69 bilhões de reais em valor de mercado desde a cotação mais alta de suas ações. Ou seja, quem tem recurso investido na empresa perdeu dinheiro. “Minha impressão é que incomoda ao Penido não só a intervenção do governo, mas os interesses de cada um dos acionistas que têm representantes no conselho e olham para si próprios e para suas empresas, como é o caso de Cosan, Bradespar e Mitsui”, afirma um gestor de ações de uma grande casa. “É uma empresa disfuncional no modelo de governança.”
Não é difícil ver os impactos danosos das ingerências políticas em empresas que deveriam caminhar com as próprias pernas. Como gigantes da bolsa, ao ser abaladas, Petrobras e Vale acabam afastando investidores locais e estrangeiros e contaminando, assim, todo o mercado — juntas, suas ações representam 24% do Ibovespa, principal índice da bolsa de valores. Para ter ideia, em 2024 o indicador está no campo negativo, enquanto as bolsas nos Estados Unidos, Europa e Japão alcançaram recentemente as suas máximas históricas. Outro dado alarmante é a debandada de investidores estrangeiros da bolsa brasileira, que deveria atrair capital de risco. Em 2024, eles já sacaram 21 bilhões de reais da B3 — e o ano mal começou. Para efeito de comparação, a bolsa registrou em 2023 captação positiva de 56 bilhões de reais.
A desvalorização das ações das empresas e a consequente perda de bilhões de dólares em valor de mercado afetam as suas capacidades de competir com rivais estrangeiros. No caso da Petrobras, a ação já é historicamente negociada com um nível de “desconto” maior em relação a pares globais, incorporando os riscos de uma companhia com controle compartilhado com o governo. Nos últimos dias, os problemas dessa mistura ficaram evidentes. Enquanto os governantes teimarem em achar que grandes empresas existem para servir aos seus interesses políticos, o mundo corporativo brasileiro e o desenvolvimento do país estarão ameaçados.
domingo, 19 de fevereiro de 2023
O que é o “novo pré-sal” e por que a Petrobras aposta tanto nele - Célio Yano (Gazeta do Povo)
O que é o “novo pré-sal” e por que a Petrobras aposta tanto nele
Por Célio Yano
Gazeta do Povo, 19/02/2023 14:10
A Petrobras pretende iniciar em breve a exploração de petróleo em uma fronteira, a chamada Margem Equatorial. Apelidada de “novo pré-sal”, a região abrange uma extensa faixa da costa do Amapá até o Rio Grande do Norte, e deve receber 49% dos investimentos em exploração da companhia até 2027.
Embora a exploração não deva se dar necessariamente sob uma camada de sal, a região recebeu o apelido em razão do potencial de fornecimento de petróleo e gás natural, corroborado por reservas encontradas em territórios vizinhos, de mesmo contexto geológico, nos últimos anos.
Somente a ExxonMobil já soma, desde 2015, mais de 25 descobertas de hidrocarbonetos no mar territorial da Guiana, cinco apenas em 2022. Na área offshore do Suriname, a TotalEnergies e a Apache anunciaram a descoberta de seis reservas significativas no chamado bloco 58 desde janeiro de 2020.
Além disso, descobertas nas bacias da chamada Margem Conjugada Africana, que guarda similaridade geológica com a Margem Equatorial brasileira, aumentam as expectativas para a exploração e produção de óleo e gás na região, segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
“A Margem Equatorial é considerada uma área estratégica para a Petrobras e uma fronteira exploratória promissora em águas ultraprofundas. As descobertas recentes feitas por outras empresas em regiões vizinhas a essa fronteira (offshore das Guianas e do Suriname) corroboram esse potencial”, diz a Petrobras, em nota.
Em seu primeira declaração após ser empossado, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates defendeu a ampliação das fronteiras exploratórias de óleo e gás pela companhia, incluindo “toda a costa da margem equatorial, essa nova e promissora fronteira exploratória e onde também há um forte potencial para energias renováveis”.
Para dar início aos trabalhos, a companhia aguarda a emissão de uma licença ambiental pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Como parte desse plano, a Petrobras já recebeu autorização ambiental do governo do Pará para um "simulado de vazamento" na bacia da foz do Amazonas.
Assim que obtida a licença do Ibama, a primeira perfuração será a 160 quilômetros da costa, em águas ultra profundas (2,8 mil metros de profundidade), em região pertencente ao estado do Amapá, na bacia da Foz do Amazonas.
Os blocos da bacia foram os mais disputados na 11.ª rodada de licitações de petróleo e gás da ANP, realizada em maio de 2013, e acabaram arrematados por um consórcio formado por TotalEnergies (40%), Petrobras (30%) e BP (30%).
A dificuldade na obtenção do licenciamento ambiental e a opção por investir em energias limpas fez com que as multinacionais desistissem da operação em 2020 e 2021, respectivamente. Ambientalistas criticam a exploração na região por considerarem que a atividade coloca em risco a biodiversidade local.
Em maio de 2022, a Petrobras recebeu uma autorização do Ibama para a avaliação pré-operacional como condição para a licença para exploração. “Estamos preparados para nossa jornada na Margem Equatorial empregando todo o conhecimento operacional da Petrobras e as tecnologias necessárias para a preservação e manutenção das características físicas e biológicas do ambiente. Em paralelo, desenvolveremos projetos socioeconômicos positivos para a região, com foco no cuidado ambiental”, informou a empresa à Gazeta do Povo.
Segundo a companhia, as atividades de perfuração serão monitoradas e acompanhadas 24 horas por dia por meio de equipamentos e equipes técnicas especializadas. “Como forma de garantir a segurança das atividades, serão realizadas inspeções planejadas de sistemas e equipamentos, programas de manutenção preventiva e corretiva, treinamentos, simulados de emergência, vistorias e auditorias”, afirma.
A Petrobras trata os projetos da Margem Equatorial como “a nova geração de projetos de óleo e gás”, porque buscariam sinergia com novas fontes renováveis e de baixo carbono nas áreas em que a empresa atua.
Até 2027, a estatal planeja investir ao menos US$ 2,94 bilhões em atividades de exploração da Margem Equatorial, com previsão de perfuração de 16 poços, de acordo com o plano estratégico da empresa para o próximo quadriênio. Segundo a companhia, a abertura de novas frentes exploratórias dependerá da obtenção das licenças ambientais correspondentes.
Hoje, a maior parte da produção da Petrobras advém da camada do pré-sal. No 3º trimestre de 2022, foram produzidos em média 2,64 milhões de barris de óleo equivalente por dia, dos quais 1,94 milhão – ou 73% – vieram da fronteira exploratória.
https://www.gazetadopovo.com.br/economia/o-que-e-novo-pre-sal-e-por-que-petrobras-aposta-tanto-nele/
quarta-feira, 30 de novembro de 2022
Petrobras aprova Plano Estratégico 2023-2027: o PT vai ousar mudar o plano estratégico recém aprovado?
O PT vai ousar mudar o Plano Estratégico da Petrobras que vai além do mandato de sua majestade Lula III?
Petrobras aprova Plano Estratégico 2023-2027
Rio de Janeiro, 30 de novembro de 2022 – A Petróleo Brasileiro S.A. – Petrobras informa que seu Conselho de Administração aprovou, em reunião realizada hoje, o Plano Estratégico para o quinquênio 2023-2027 (PE 2023-27). A Petrobras ao longo de 2022 entregou uma performance operacional e financeira em linha com o compromisso de gerar valor para a sociedade e para os acionistas e em plena aderência ao Plano Estratégico 2022-2026, mostrando a resiliência e solidez da Companhia, e aumentando, dessa forma, o grau de confiança na consecução de suas metas. Do ponto de vista operacional, nos nove primeiros meses de 2022, a Companhia manteve uma sólida performance entregando avanços significativos nas suas operações. Sob a ótica financeira, a Companhia seguiu na sua trajetória de entrega de resultados consistentes e sustentáveis. A estrutura de capital foi mantida em nível saudável e o caixa atingiu um patamar mais compatível com as suas necessidades financeiras. A Companhia entregou sólidos resultados financeiros, alcançando a primeira e a segunda maior marca trimestral de EBITDA e fluxo de caixa operacional de sua história, no segundo e terceiro trimestres de 2022, respectivamente. A geração de caixa operacional associada ao endividamento estável e controlado e às perspectivas de sólida liquidez permitiram à Petrobras declarar R$ 13,80 por ação ordinária e preferencial em remuneração ao acionista em 2022. Importante destacar que a sociedade brasileira recebe cerca de 37% desse total, a maior parcela individual, além de ser beneficiada pelo pagamento de impostos, que alcançaram recorde para os primeiros nove meses do ano de R$ 222 bilhões. Nesse contexto, o novo PE 2023-27 foi elaborado preservando a visão, os valores e o propósito da Companhia. As estratégias foram mantidas, com exceção daquelas relacionadas às temáticas Ambiental, Social e Governança (ASG) e Inovação, que foram aprimoradas. Com a visão de “Ser a melhor empresa de energia na geração de valor, com foco em óleo e gás, sustentabilidade, segurança, respeito às pessoas e ao meio ambiente”, a Petrobras preserva no PE 2023-27 seus valores:
Além disso, a companhia mantém seu propósito de “Prover energia que assegure prosperidade de forma ética, segura e competitiva”. O PE 2023-27 propõe um conjunto de estratégias que visam uma contribuição efetiva da Petrobras para um futuro próspero e sustentável, como por exemplo: (i) entregar resultados sustentáveis para uma sociedade em transição, ao atuar nos negócios com responsabilidade social e ambiental, segurança, integridade e transparência, fortalecendo o seu posicionamento em baixo carbono; (ii) maximizar o valor do portfólio, com foco em ativos de águas profundas e ultraprofundas; (iii) agregar valor ao parque de refino, com processos mais eficientes e novos produtos; (iv) fortalecer a integração das atividades de comercialização e logística; e (v) inovar para gerar valor nos negócios, de hoje e do futuro, e atingir os objetivos em descarbonização. De maneira a garantir o alinhamento dos incentivos para o atingimento das metas corporativas, o PE 2023-27 reafirma as quatro métricas de topo do plano passado, que são:
As três primeiras métricas impactam diretamente a remuneração variável dos executivos e de todos os empregados da companhia. A Petrobras reafirma no PE 2023-27 a ambição de zero fatalidade e zero vazamento. O seu compromisso com a vida é um valor inegociável e a sua reconhecida cultura pela segurança segue sendo reforçada todos os dias para fortalecer a segurança operacional e das pessoas. As métricas IAGEE e VAZO estão alinhadas aos compromissos de baixo carbono e sustentabilidade ambiental do PE 2023-27, enquanto o indicador Delta EVA® representa uma medida de geração de valor econômico. O PE 2023-27 consolida a Petrobras como a maior investidora do país e inclui todos os projetos que apresentaram viabilidade econômica segundo os critérios de governança e aprovação da empresa, não havendo qualquer represamento de projetos por restrição orçamentária. Os investimentos (CAPEX) previstos para o período 2023-2027 são de US$ 78 bilhões, 15% superiores ao plano passado, e está no mesmo patamar que a média dos pares da indústria. Esse montante é superior à média dos últimos seis planos estratégicos, que foi de US$ 72 bilhões, e sinaliza que os investimentos voltaram ao patamar pré-covid. O CAPEX do segmento de Exploração e Produção (E&P) é 83% do total, seguido pelo Refino, Gás e Energia com 12%, Comercialização e Logística com 2%, e 3% no Corporativo. Cabe destacar que além desses US$ 78 bilhões, a Companhia alocará ainda cerca de US$ 20 bilhões em afretamentos de novas plataformas, totalizando assim quase US$ 100 bilhões de recursos em projetos. Essa alocação está aderente ao foco estratégico de atividades em Exploração e Produção, nas quais a Petrobras tem vantagem competitiva e maior retorno. O CAPEX total do E&P é de US$ 64 bilhões, com cerca de 67% destinados para o pré-sal. O plano destaca ainda que os projetos de E&P mantêm a premissa de dupla resiliência – econômica e ambiental: viáveis a cenários de baixos preços de petróleo no longo prazo (Brent de US$ 35 por barril) e com baixo carbono (compromisso de intensidade de carbono no portfólio de E&P de até 15 KgCO2e por barril de óleo equivalente até 2030). Com o objetivo de buscar novas fronteiras de óleo e gás, incluindo oportunidades em gás não associado, o plano considera investimento total em exploração de US$ 6,0 bilhões, sendo aproximadamente 50% na Margem Equatorial. O CAPEX total da área de Refino e Gás Natural totaliza US$ 9,2 bilhões com cerca de 50% dos recursos aplicados na expansão e aumento da qualidade e eficiência do refino. A Petrobras segue assim focando na eficiência operacional e energética de suas unidades de refino e em produtos de maior qualidade e com menor pegada de carbono, com destaque para os investimentos em biorrefino. O plano prevê investimentos em oito novas unidades de processamento, além de seis obras de adequações de grande porte em unidades já existentes. Com esses projetos concluídos, prevê-se aumento de capacidade de processamento e conversão do refino da Petrobras em 154 mil de barris por dia (bpd) e a capacidade de produção de Diesel S-10 será ampliada em mais de 300 mil bpd. Na área de Gás e Energia, o PE 2023-27 destaca a continuidade da estratégia de comercialização do gás próprio, com ações comerciais alinhadas aos aumentos de capacidade, resultantes dos investimentos em expansão da infraestrutura e da oferta própria de gás natural. No quinquênio 2023-2027, a área de Comercialização e Logística intensificará a sua atuação em mercados estratégicos no Brasil, ao mesmo tempo em que seguirá expandindo e fortalecendo sua atuação no mercado externo com a captação de novos clientes e permanente busca das melhores oportunidades de valorização de seus petróleos e produtos. Outro foco da área é a otimização da infraestrutura logística com a remoção de gargalos no escoamento de produtos e petróleos, otimização de estoques e redução nos índices de emissões da frota. O CAPEX da área previsto no plano é de US$ 1,6 bilhão. Importante destacar que os investimentos do PE 2023-27 incluem o montante de US$ 4,4 bilhões (6% do CAPEX total) em projetos direcionados a iniciativas em baixo carbono da Companhia. O PE 2023-27 mantém uma gestão de portfólio ativa, com expectativa de desinvestimentos entre US$ 10 bilhões e US$ 20 bilhões no quinquênio, o que contribuirá para melhorar a eficiência operacional, o retorno sobre o capital e a geração de caixa adicional para realização de novos investimentos mais aderentes à estratégia da Companhia. A gestão ativa permite focar nos ativos que têm potencial para elevar o retorno esperado do seu portfólio de forma sustentável e/ou reduzir os riscos percebidos pela Petrobras. Produção de óleo, LGN e gás naturalA curva de produção de óleo e gás projetada para o período 2023-2027 indica um crescimento contínuo, mesmo considerando os desinvestimentos, explicado pela entrada de novos sistemas de produção e de projetos complementares. Em linha com o foco estratégico da Companhia, as atividades de Exploração e Produção estão concentradas em águas profundas e ultraprofundas no Brasil. A produção do pré-sal representará 78% do total da companhia no final do quinquênio. A curva de produção considera a entrada de 18 novas plataformas (FPSOs) no período 2023-2027, sendo 11 afretadas, 6 próprias e 1 não operada. A meta de produção para 2023 foi mantida em 2,1 milhões de barris de óleo por dia, com uma variação de 4% para mais ou para menos, considerando os ajustes do Acordo de Coparticipação de Sépia e Atapu, que reduziram 0,1 milhão de boed em relação ao plano passado. A meta de produção total para 2023, incluindo petróleo e gás natural, também foi mantida em 2,6 milhões de boed, considerando variação de 4% para mais ou para menos. A projeção de produção de óleo para 2024 e 2025 foi reduzida em aproximadamente 0,1 milhão de bpd, na comparação com o plano passado, por ajuste no cronograma de interligação de poços. Todas as projeções de produção total e comercial foram mantidas para o horizonte do PE 2023-27. O programa RES20 apresenta entregas consistentes ao longo do ano, apoiado em seus três pilares: (i) intensa campanha de aquisição sísmica, (ii) planos diretores por ativo e (iii) melhores modelos de reservatórios. O referido programa terá prosseguimento, porém a divulgação de suas projeções ao mercado será descontinuada em alinhamento ao praticado por seus pares. ASG – Ambiental, Social e GovernançaO PE 2023-27 integrou os elementos ASG em uma única visão, sintetizando a posição da Companhia sobre o assunto, conforme a mandala abaixo. Esta mandala ASG direciona o planejamento e o engajamento com os stakeholders e está alinhada aos elementos e objetivos estratégicos da Companhia. São destacadas quatro ideias-força: (i) reduzir a pegada de carbono; (ii) proteger o meio-ambiente; (iii) cuidar das pessoas; e (iv) atuar com integridade. Para cada uma dessas ideias-força foi identificado um conjunto de temas relevantes que suportam e direcionam as nossas ações, projetos, programas e compromissos relacionados. Os compromissos relacionados a cada uma das quatro ideias-força da mandala foram consolidados em uma lista única, alinhada ao conceito de ASG integrado: No PE 2023-27, estão planejados investimentos de US$ 4,4 bilhões para iniciativas de baixo carbono da Companhia: (i) US$ 3,7 bilhões aplicados em projetos que contribuem para as iniciativas de descarbonização das operações (escopos 1 e 2); (ii) US$ 0,6 bilhão em iniciativas de biorrefino (diesel renovável e bioquerosene de aviação); e (iii) US$ 0,1 bilhão em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) para novas competências. Com o objetivo de apoiar a trajetória de neutralidade de emissões foi reforçado no PE 2023-27 o Programa Petrobras Carbono Neutro e o Fundo de Descarbonização, que tem o objetivo de financiar as soluções de descarbonização que reduzam as emissões com o menor custo e maior impacto em mitigação de carbono. O orçamento do Fundo no PE 2023-27 é de US$ 600 milhões, representando um crescimento significativo em relação ao plano passado, que era de US$ 248 milhões. Avançando nas iniciativas voltadas para a diversificação rentável, o PE 2023-27 traz como novidade os negócios que foram indicados por uma análise multicritério, dentre vários estudados, como os mais adequados para a Companhia. Foi indicado o aprofundamento de estudos nos novos negócios de eólicas offshore, hidrogênio e captura de carbono, além da continuidade da atuação em biorrefino. Cabe destacar ainda que a Companhia está implementando uma política de reciclagem verde para plataformas em descomissionamento, alinhada com as melhores práticas ASG disponíveis no mercado. FinanciabilidadeAs principais premissas para a financiabilidade do PE 2023-27 são:
O Brent médio do quinquênio do PE 2023-27 é de US$ 75/bbl e a taxa de câmbio média para o mesmo período é de R$ 5/US$. É importante ressaltar que o PE 2023-27 é autofinanciável para os próximos 5 anos, sendo que aproximadamente 52% da sua geração de caixa líquida retornará para a sociedade.
O PE 2023-27 demonstra o compromisso da Petrobras de ser uma companhia focada na geração de valor, com capacidade de investir, gerar empregos, pagar tributos e distribuir os seus ganhos para a sociedade e seus acionistas. A companhia segue a trajetória de ser uma empresa cada vez mais saudável, sólida e resiliente, contribuindo para a geração de energia confiável e eficiente e para um mundo ambientalmente sustentável. .
Petróleo Brasileiro S.A - PETROBRAS - Relações com Investidores Este documento pode conter previsões, Segundo o significado da Seção 27ª da Lei de Valores Mobiliários de 1933, conforme alterada (Lei de Valores Mobiliários) e Seção 21E da lei de Negociação de Valores Mobiliários de 1934, conforme alterada (Lei de Negociação) que refletem apenas expectativas dos administradores da Companhia. Os termos "antecipa", "acredita", "espera", "prevê", "pretende", "planeja", "proteja", "objetiva", "deverá", bem como outros termos similares , visam a identificar tais previsões , as quais, evidentemente , envolvem riscos ou incertezas previstos ou não pela Companhia. Portanto, os resultados futuros das operações da Companhia podem diferir das atuais expectativas e o leitor não deve se basear exclusivamente nas informações aqui contidas. |
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terça-feira, 1 de novembro de 2022
Petrolão: Petrobras recupera mais de 6 bilhões dos recursos roubados
Petrobras sobre acordos de leniência
Rio de Janeiro, 01 de novembro de 2022 – Petróleo Brasileiro S.A. – Petrobras informa que recebeu, ao longo do último trimestre, a devolução de cerca de R$ 439 milhões, recuperados por meio de acordos de leniência das empresas Camargo Corrêa, Novonor S.A. (anteriormente denominada Odebrecht S.A.) e SBM, bem como acordo de colaboração do Pedro Barusco.
Com essas devoluções, o total de recursos transferidos para os cofres da Petrobras (incluindo subsidiárias), em decorrência de acordos de colaboração, leniência e repatriações, ultrapassou o montante de R$ 6,7 bilhões.
A Camargo Corrêa devolveu, no mês de outubro, R$ 235,6 milhões à Petrobras e outros R$ 6,9 milhões à Transpetro, subsidiária da Companhia e contemplada no mesmo acordo de leniência, além de R$ 88 milhões já recebidos anteriormente, que representam algumas das parcelas do montante total a ser devolvido.
A Novonor S.A., por sua vez, pagou R$ 71,3 milhões para a Petrobras e outros R$ 728 mil para Transpetro, que representam parte do montante total a ser devolvido, que deverá ser pago por meio de 22 (vinte e duas) parcelas anuais.
Os acordos de leniência da Camargo Corrêa e da Novonor foram celebrados com o Ministério Público Federal (MPF), bem como com a Controladoria Geral da União (CGU) e Advocacia Geral da União (AGU).
A SBM devolveu, para a Petrobras, R$ 113,7 milhões entre agosto e outubro de 2022. Aproximadamente R$ 48,7 milhões foram pagos diretamente à Companhia e outros R$ 64,9 milhões foram abatidos de pagamentos devidos pela Petrobras à SBM em decorrência de contratos vigentes de afretamento de plataformas e prestação de serviços. O acordo de leniência da SBM foi celebrado em 2018 com a Petrobras, além da CGU e da AGU. Excetuados os valores ressarcidos nesse último trimestre, aproximadamente R$ 1,1 bilhão já foram devolvidos pela SBM à Petrobras em decorrência da celebração do acordo.
Os ressarcimentos decorrem da condição de vítima da Petrobras nos crimes investigados no âmbito da Operação Lava Jato. A Companhia tem adotado as medidas cabíveis em busca do adequado ressarcimento dos prejuízos que lhe foram causados. A Petrobras atua como coautora do Ministério Público Federal e da União Federal em 32 ações de improbidade administrativa em andamento, além de ser assistente de acusação em 90 ações penais relacionadas aos ilícitos investigados pela Operação Lava Jato.
Petróleo Brasileiro S.A - PETROBRAS - Relações com Investidores
terça-feira, 9 de agosto de 2022
Petrobras continua a enfrentar processos, em cortes americanas, e ter enormes prejuízos por causa do Petrolão do PT
Leiam com bastante atenção a nota abaixo, da Petrobras, sobre mais um dos processos intentados contra ela no mercado americano, por causa das perdas incorridas por investidores americanos numa das empresas inventadas pelos companheiros do PT para roubar ainda mais dinheiro de acionistas e investidores em geral.
Para quem não se lembra a Sete Brasil foi uma das empresas criadas pelos companheiros especificamente para roubar, a despeito de ter como objetivo nominal a construção de plataformas de exploração de petróleo off shore.
As imensas perdas e prejuízos acarretados pela sanha de roubar do PT, e de seus chefões mafiosos já causaram prejuízos gigantescos ao Brasil, que continuam a se desenrolar em cortes americanas, já que as nossas parecem não servir para absolutamente nada.
Paulo Roberto de Almeida
Petrobras sobre ação da EIG Energy
Rio de Janeiro, 09 de agosto de 2022 - A Petróleo Brasileiro S.A. – Petrobras, em continuidade ao comunicado de 31 de março de 2017, informa que, em 08 de agosto de 2022, o juiz do Tribunal Distrital de Colúmbia, Estados Unidos, proferiu decisão em ação que EIG Energy Fund XIV, L.P. e outros (EIG) ajuizaram em face da Petrobras, relacionada ao seu investimento na Sete Brasil Participações S.A..
O juiz acolheu o pleito dos autores quanto à responsabilidade da Petrobras pelas alegações formuladas, mas negou o pedido dos autores de julgamento antecipado (motion for summary judgment) com relação a danos e qualquer concessão de indenização estará sujeita à comprovação de danos pela EIG em audiência de julgamento. Na mesma decisão, o juiz negou o pedido da Petrobras de julgamento antecipado e adiou decisão sobre duas questões procedimentais.
Essa decisão é recorrível.
A Petrobras reitera que seguirá se defendendo vigorosamente no processo e reafirma a sua condição de vítima das atividades ilícitas investigadas no âmbito da Operação Lava Jato, conforme reconhecido por todas as instâncias do Judiciário brasileiro.