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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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terça-feira, 4 de março de 2025

Quem é Walter Salles, bilionário e diretor de ‘Ainda Estou Aqui’ - Mafê Firpo (Revista Veja)

 Quem é Walter Salles, bilionário e diretor de ‘Ainda Estou Aqui’

Cineasta está entre os mais bem pagos do mundo

Por Mafê Firpo 

 Revista Veja, 25 jan 2025, 19h00    

 

Leia mais em: https://veja.abril.com.br/coluna/veja-gente/quem-e-walter-salles-bilionario-e-diretor-de-ainda-estou-aqui

 

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Diretor de Ainda Estou Aqui é bilionário. Conheça história de Walter Salles


Em evidência atualmente por seu trabalho como o diretor de Ainda Estou Aqui, Walter Salles é conhecido por sua longa história relacionada ao cinema nacional. Desde sua estreia em 1991 com A Grande Arte, ele já se destacou por filmes como Central do Brasil (1998), Abril Despedaçado (2001) e Diários de Motocicleta (2004), entre outros.

 

Nascido em abril de 1956 no Rio de Janeiro, o cineasta teve um privilégio que até hoje é raro para a população brasileira, tendo estudado cinema na Universidade do Sul de Califórnia, em Berkley. Essa oportunidade, bem como a chance de dedicar uma vida inteira à arte, está muito ligada à sua origem como herdeiro de Walter Moreira Salles, um dos fundadores do Itaú Unibanco.

Diretor de Ainda Estou Aqui é um dos brasileiros mais ricos da atualidade

A ligação do diretor com o banco privado mais bem-sucedido do país faz com que ele já tenha aparecido várias vezes na Forbes como um dos brasileiros mais ricos do mundo. Uma estimativa recente coloca sua fortuna na casa dos US$ 4,2 bilhões (R$ 25,7 bilhões), graças ao patrimônio que compartilha com os irmãos Pedro Moreira Salles e João Moreira Salles.

A família Salles possui 100% das ações da Cia. E. Johnston de Participações, que é dona de 33,47% das ações do Itaú Unibanco Participações que, por sua vez, tem 26,1% do Itaú Unibanco. Em outras palavras, ele está em uma posição financeira confortável na qual pode se dedicar à produção de suas obras sem sofrer grandes pressões.

Também formado em economia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), ele dedicou toda a sua carreira profissional ao cinema, tendo produzido algumas das obras audiovisuais mais reconhecidas e aclamadas das últimas décadas. Ele inclusive tem seu nome marcado como o produtor de Cidade de Deus, longa de Fernando Meirelles que é considerado bastante influente em nível global.

Enquanto parte de sua fortuna pessoal sem dúvida é resultado dos sucessos comerciais de seus longas-metragens, a maior parte dela realmente está ligada às ações que possui do Itaú Unibanco. Graças a elas, ele é atualmente considerado o terceiro diretor mais rico do mundo, ficando atrás de Steven Spielberg (US$ 5,3 bilhões) e George Lucas (US$ 5,2 bilhões).

Filme do diretor foi indicado ao Oscar

A situação única de Walter Salles, combinada com a influência e conexões que ele conquistou com o passar dos anos, inclusive foi um fator determinante na criação de Ainda Estou Aqui. O longa-metragem não usou qualquer espécie de dinheiro público ou programa de incentivo em sua criação, sendo financiado de forma privada junto a parceiros franceses.

 

Diretor de Ainda Estou Aqui é bilionário? Conheça história de Walter Salles


Em evidência atualmente por seu trabalho como o diretor de Ainda Estou Aqui, Walter Salles é conhecido por sua longa história relacionada ao cinema nacional. Desde sua estreia em 1991 com A Grande Arte, ele já se destacou por filmes como Central do Brasil (1998), Abril Despedaçado (2001) e Diários de Motocicleta (2004), entre outros.

 

Nascido em abril de 1956 no Rio de Janeiro, o cineasta teve um privilégio que até hoje é raro para a população brasileira, tendo estudado cinema na Universidade do Sul de Califórnia, em Berkley. Essa oportunidade, bem como a chance de dedicar uma vida inteira à arte, está muito ligada à sua origem como herdeiro de Walter Moreira Salles, um dos fundadores do Itaú Unibanco.

Diretor de Ainda Estou Aqui é um dos brasileiros mais ricos da atualidade

A ligação do diretor com o banco privado mais bem-sucedido do país faz com que ele já tenha aparecido várias vezes na Forbes como um dos brasileiros mais ricos do mundo. Uma estimativa recente coloca sua fortuna na casa dos US$ 4,2 bilhões (R$ 25,7 bilhões), graças ao patrimônio que compartilha com os irmãos Pedro Moreira Salles e João Moreira Salles.

A família Salles possui 100% das ações da Cia. E. Johnston de Participações, que é dona de 33,47% das ações do Itaú Unibanco Participações que, por sua vez, tem 26,1% do Itaú Unibanco. Em outras palavras, ele está em uma posição financeira confortável na qual pode se dedicar à produção de suas obras sem sofrer grandes pressões.

Também formado em economia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), ele dedicou toda a sua carreira profissional ao cinema, tendo produzido algumas das obras audiovisuais mais reconhecidas e aclamadas das últimas décadas. Ele inclusive tem seu nome marcado como o produtor de Cidade de Deus, longa de Fernando Meirelles que é considerado bastante influente em nível global.

Enquanto parte de sua fortuna pessoal sem dúvida é resultado dos sucessos comerciais de seus longas-metragens, a maior parte dela realmente está ligada às ações que possui do Itaú Unibanco. Graças a elas, ele é atualmente considerado o terceiro diretor mais rico do mundo, ficando atrás de Steven Spielberg (US$ 5,3 bilhões) e George Lucas (US$ 5,2 bilhões).

Filme do diretor foi indicado ao Oscar

A situação única de Walter Salles, combinada com a influência e conexões que ele conquistou com o passar dos anos, inclusive foi um fator determinante na criação de Ainda Estou Aqui. O longa-metragem não usou qualquer espécie de dinheiro público ou programa de incentivo em sua criação, sendo financiado de forma privada junto a parceiros franceses.


domingo, 23 de fevereiro de 2025

Politica comercial de Trump é altamente prejudicial aos EUA - Juliana Machado (Revista Veja)

 A ineficiência do ‘tarifaço’ de Trump, segundo o BofA

Dez economistas assinam relatório sobre o efeito limitado da política comercial para as contas do governo americano

Por Juliana Machado

Revista Veja, 22:02/2025


As tarifas comerciais impostas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, globalmente podem ter diversos efeitos para as relações geopolíticas, mas uma coisa é certa: elas não vão resolver o déficit comercial ou de conta corrente do governo americano. A opinião consta em relatório do Bank of America (BofA) enviado a clientes.

“Trump acredita nas tarifas como uma primeira linha de defesa”, dizem 10 economistas do banco, em diversos países, que assinam o relatório. “O déficit de conta corrente é um desequilíbrio macroeconômico, impulsionado por um excesso de investimento doméstico em relação à poupança doméstica.”

BofA explica que o problema todo é gerado pela conta de capital, em que os fluxos de capital levam a uma apreciação do dólar e induzem ao déficit. “Se a administração (de Trump) realmente quer lidar com esse desequilíbrio, deveria começar colocando ordem nas contas fiscais — algo que nós não esperamos”, diz o banco.

BofA afirma também que continua vendo as tarifas de Trump como uma “ferramenta para estimular concessões em acordos bilaterais abrangentes”. No entanto, usar as tarifas como forma de diálogo não significa que elas não serão impostas de fato sobre as nações.

Ainda no relatório, o banco diz que não espera tarifas permanentes para o Canadá ou o México. Na Europa, as negociações provavelmente terão como foco setores específicos, como energia e gastos com defesa. No caso da China, porém, o objetivo continua sendo de “dissociação geopolítica e econômica, o que ampara a visão de que as tarifas sobre a China serão permanentes”, ainda que em níveis menores do que o prometido na campanha republicana.

“Alguns países na Ásia, como Índia, Japão, Coreia do Sul e Vietnã parecem estar no topo da lista do governo para potenciais tarifas, segundo nossos especialistas”, diz o BofA.

O relatório também traz comentários a respeito das tarifas recíprocas, aquelas em que os EUA aplicarão taxas a produtos importados de um país na mesma proporção em que os produtos americanos são taxados ali.

“A implementação das tarifas recíprocas foi anunciada para começar em abril ao invés de imediatamente, abrindo margem para negociação. São economias emergentes, como Índia e Brasil, as maiores impactadas por essas tarifas, embora o Japão também esteja no foco”, diz o relatório.


Acordo Mercosul-UE cada vez mais em perigo: condicionalidades agricolas - Marcos Fava Neves Revista Veja

 A força das mídias sociais no agro

O que aprendemos com os casos da Danone, Carrefour e Tereos no Brasil? 

Por Marcos Fava Neves

Revista Veja, 22/02/2025


Nos meses de outubro e novembro de 2024, três executivos de altíssimo nível da Danone (França), Carrefour (França) e Tereos (França) – organizações muito respeitadas e admiradas – fizeram declarações públicas na imprensa e nas redes sociais sob diferentes situações de pressão, afirmando que não comprariam produtos do Brasil (ou do Mercosul). O argumento foi relativamente o mesmo: a questão da conformidade com regras sociais e ambientais, de acordo com a própria avaliação dessas empresas, demonstrando desconhecimento sobre as práticas e exigências para agricultores e empresas que operam no Brasil, a maioria certificada por organizações internacionais.

Essas declarações rapidamente ganharam destaque na mídia global, gerando problemas de imagem para a produção brasileira, já que a força dessas empresas e de suas marcas é impressionante. No Brasil, elas provocaram diversas reações de instituições do agronegócio, fornecedores, compradores e indivíduos, criando problemas para suas subsidiárias no país, prejudicando sua imagem e colocando em risco seu valor e suas vendas. As redes sociais, incluindo Instagram, LinkedIn e grupos de WhatsApp, nesta nova era de comunicação rápida, espalharam a informação rapidamente e causaram grandes danos em um único dia, algo impossível na era dos jornais impressos.

Quando o boicote contra seus produtos começou a crescer, a Danone conseguiu, após quatro dias, acalmar a situação emitindo um comunicado global esclarecendo que houve um mal-entendido na interpretação do que seu CFO (ChiefFinancial Officer) havia dito, reafirmando seu compromisso de comprar do Brasil, a importante do país para o negócio e que a situação estava sob controle, mas que, certamente, gerou aprendizados dentro da empresa.

No caso do Carrefour, após o CEO (Chief ExecutiveOfficer) da rede, Alexandre Bombard, anunciar que não importaria carnes oriundas de países do Mercosul, o movimento de boicote por parte de grandes fornecedores de carne do Brasil tomou forma e levou ao cessamento do abastecimento de carne para as empresas da rede no Brasil (Carrefour, Atacadão e Sam’s Club). A filial do Carrefour no Brasil publicou uma nota de retratação. O CEO se desculpou com uma nota endereçada ao ministro Carlos Fávaro.

Outro caso foi o da Tereos, gigante francesa produtora de açúcar. Olivier Leducq, CEO do grupo, se manifestou nas redes sociais se opondo a possibilidade de assinatura de acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul, alegando que a medida colocaria em risco a competitividade do setor açucareiro europeu. O diretor ainda disse que a concorrência seria desleal, pois os produtos sul-americanos não respeitam os padrões ambientais e sociais, como os países europeus. Após uma onda de comentários questionando a opinião, o executivo tentou se retratar negando ataques ao agro brasileiro e que sua publicação não diz respeito à qualidade dos produtos brasileiros. Ressaltou, ainda, os altos custos resultantes das exigências impostas aos produtos franceses.

Nós acreditamos em mercados e na liberdade econômica. Qualquer empresa na França, Holanda, Alemanha – ou outros países – tem o direito de buscar fornecedores onde quiser, desde que as regulamentações locais permitam essa liberdade; é o caso dessas três empresas na França. Elas pagam impostos, mas podem comprar de onde quiserem. Se quiserem dar preferência à produção local ou proteger fornecedores nacionais, é algo que entendemos e já opinamos, referindo-se a esse movimento como “compre localmente” ou outros nomes que levam ao mesmo objetivo de estimular o desenvolvimento interno. Muitos supermercados até identificam prateleiras onde os consumidores podem comprar produtos locais. O que deve ser compreendido, no entanto, é que se toda a sua oferta for local e for mais cara (menos competitiva) do que outras fontes internacionais, os consumidores serão forçados a pagar mais, gerando inflação de alimentos. E isso vai contra a liberdade de escolha.

Danone, Carrefour, Tereos e outras empresas respeitadas podem decidir o que quiserem em termos de fornecimento, mas precisam justificar suas preferências e escolhas com argumentos corretos. Basta informar aos consumidores e ao público (mídia) que comprarão apenas da França ou de outros lugares por razões de desenvolvimento local, ou outras justificativas verdadeiras. Quando a escolha é explicada atacando fornecedores, principalmente sem argumentos factíveis, gera-se uma injustiça e danos à imagem e ao trabalho árduo de empresas, pessoas e países.

Para inspirar futuras declarações e entrevistas de executivos de multinacionais ou até mesmo de empresas locais, os aprendizados com esses casos são: a) Seja transparente nos argumentos para justificar suas escolhas; b) Não ataque a produção de nenhum país, pois isso pode levar a generalizações, falta de respeito, injustiças e demonstrar desconhecimento sobre o mercado; c) Caso ataque, entenda que haverá reações de todos os stakeholders (de fornecedores locais a compradores, influenciadores, imprensa e consumidores) e que essas reações serão potencializadas pela incrível força das redes sociais, causando danos às filiais da empresa e à sua imagem. Felizmente, hoje as redes nos apoiam nessa luta contra a desinformação e a defesa da nossa imagem. Torcemos para ver cada vez menos casos como estes daqui em diante, afinal o aprendizado ficou evidente.


Marcos Fava Neves é professor Titular (em tempo parcial) da Faculdades de Administração da USP (Ribeirão Preto – SP) e fundador da Harven Agribusiness School (Ribeirão Preto – SP). É especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos e outros materiais em harvenschool.com e veja os vídeos no Youtube (Marcos Fava Neves). Agradecimentos a Vinícius Cambaúva e Rafael Rosalino.


Empresas japonesas alertam: Trump pode ser um desastre para os negócios - Camila Pati (Revista Veja)

 Empresas japonesas alertam: Trump pode ser um desastre para os negócios

Tarifas mais altas, guerra comercial com a China e ameaças à indústria automotiva estão no centro das preocupações dos empresários japoneses, segundo pesquisa

Por Camila Pati

Revista Veja, 22/02/2025


Nove em cada dez empresas japonesas dizem que as políticas de Donald Trump na presidência dos Estados Unidos são ruins para os negócios.  A pesquisa divulgada pela Reuters nesta quinta-feira, 20, mostra a crescente preocupação no Japão que é o investidor estrangeiro direto dos Estados Unidos. Tarifas mais altas, guerra comercial com a China e ameaças à indústria automotiva estão no centro das preocupações dos empresários japoneses. O levantamento foi feito pela Nikkei Research,  queentrevistou 233 empresas anonimamente.

Cerca de 86% dos entrevistados disseram que as medidas políticas de Trump teriam um efeito adverso ou ligeiramente adverso em seu ambiente de negócios, enquanto o restante espera um impacto positivo ou ligeiramente positivo.

Desde que assumiu a presidência dos Estados Unidos, há um mês, Trump impôs tarifas de 25% sobre aço e alumínio, além de 10% sobre produtos chineses, e ameaçou Canadá e México com novas tarifas,  queacabaram suspensas por 30 dias, após acordo. Ele também ordenou planos para tarifas recíprocas contra países que taxam importações dos EUA e medidas contra barreiras não tarifárias.  Nesta quinta-feira, 20, o presidente Lula, em entrevista à rádio Tupi do Rio de Janeiro,  voltou a dizer que se o presidente americano impuser tarifas, o Brasil vai reagir e afirmou que Trump está tentando ser imperador do mundo.

 A percepção negativa das políticas de Trump entre as empresas japonesas aumentou significativamente em relação ao mês anterior, quando o percentual de empresas que viam impacto adverso foi de 73% .

Entre as empresas que veem as políticas de Trump de forma positiva, 37% destacaram a desregulamentação e os cortes de impostos, enquanto outros 37% apontaram o incentivo à produção de combustíveis fósseis. Apesar disso, 16% das empresas adotaram uma postura mais cautelosa em relação a investimentos nos EUA, enquanto 80% não planejam mudanças.


O custo do tarifaço trumpista para as empresas e os consumidores americanos - Márcio Juliboni (Revista Veja)

 Cada emprego criado pela tarifa do aço de Trump, em 2018, custou US$ 380 mil

Em 2018, quando exercia seu primeiro mandato, Trump impôs uma taxa de 25% sobre a importação do aço e preço no mercado americano subiu 19%

Por Márcio Juliboni

Revista Veja, 22/02/2025


O presidente dos Estados UnidosDonald Trump, prometeu novas medidas protecionistas nesta quarta-feira 19. O alvo da vez são as importações de automóveis, semicondutores e medicamentos. O republicano indicou que pode impor tarifas de 25% sobre esses produtos, em linha com as medidas que anunciou nos últimos dias. À medida que assina atos ordenando taxas sobre tudo o que outros países vendem ao país, economistas e empresários americanos temem uma disparada nos custos de produção. Um exemplo do que a ofensiva pode causar é o que ocorreu em 2018, quando Trump, então em seu primeiro mandato, estabeleceu uma tarifa de 25% sobre a importação de aço.

Segundo o centro de estudos Peterson Institute, a medida custou caro aos setores que utilizam o aço em seus produtos. O preço médio da commodity aumentou 19% naquele ano nos Estados Unidos. Como a produção das siderúrgicas americanas cresceu 13,5%, a alta dos preços indica que o setor aproveitou para elevar as margens de lucro. O instituto calcula que a sobretaxa gerou ganhos extras de 2,4 bilhões de dólares às usinas locais. O lucro total do setor saltou mais de 60% naquele ano.

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É verdade que o protecionismo trumpista ajudou o setor siderúrgico dos Estados Unidos a criar 8 700 empregos em 2018. Esta é a parte que os apoiadores de Trump mostram a quem critica as sobretaxas. O outro lado, contudo, é que as tarifas elevaram os custos das empresas que utilizam aço em seus produtos. O Peterson Institute estima que, naquele ano, as companhias nessa situação pagaram 5,6 bilhões de dólares a mais para suprir suas necessidades.

Feitas as contas entre os lucros gerados para a siderurgia americana e os custos extras dos setores que dependem da commodity, o Peterson Institute calcula que cada emprego criado pela tarifa do aço, em 2018, custou aos consumidores americanos 380 000 dólares. Não é por acaso, portanto, que, tempos depois, Trump trocou as sobretaxas por um sistema de cotas de importação de produtos siderúrgicos.

O fantasma da inflação é o que mais assusta os economistas críticos à guerra comercial deflagrada pelo republicano. Após anunciar, no mês passado, o estabelecimento de uma taxa de 25% sobre todas as importações provenientes do Canadá e do México – posteriormente adiada por 30 dias -, Trump voltou ao ataque na semana passada. Na segunda-feira 10, assinou uma ordem revogando o sistema de cotas e restabelecendo a cobrança de 25% sobre todo o aço e alumínio importado pelos Estados Unidos. A medida entrará em vigor em 12 de março, e o Brasil deve ser um dos mais penalizados, já que é o segundo maior fornecedor de aço para os americanos, atrás apenas do Canadá.

Na última quinta-feira, 13, o republicano reforçou a investida ao assinar um memorando determinando que diversos órgãos do governo federal analisem as disparidades entre as taxas cobradas pelos Estados Unidos sobre os produtos que importa, e as que o país paga para exportar para seus parceiros comerciais. O objetivo é estabelecer reciprocidade tarifária, igualando as tarifas. O etanol de cana de açúcar brasileiro será um dos mais afetados pelas tarifas recíprocas, e foi usado como exemplo por Trump na ocasião. Enquanto o produto brasileiro paga uma taxa de 2,5% para entrar nos Estados Unidos, o etanol de milho americano é taxado em 18% pela alfândega verde-amarela.


 

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

Entenda como o Brasil e os outros Brics querem evitar o dólar nas transações - Camila Pati (Revista Veja)

Entenda como o Brasil e os outros Brics querem evitar o dólar nas transações

A ideia de criação de uma alternativa à moeda norte-americana enfureceu o presidente dos estados Unidos que, mais uma vez, ameaça impor barreiras tarifárias

Por Camila Pati

Veja, 2/02/2025

A ameaça do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de taxar 100% dos produtos dos Brics caso os países membros do bloco passem a utilizar uma moeda comum alternativa ao dólar para as transações reacendeu um debate que teve início em 2023.

Tradicionalmente o dólar é a moeda utilizada nas transações comerciais entre os países membros do Brics, o grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul e que recebeu outros países nos últimos anos: Egito, Etiópia, Irã, Emirados Árabes Unidos e a Indonésia.

No mundo, 58% dos pagamentos internacionais, excluindo aqueles dentro da área do euro, utilizam o dólar, e 54% das faturas de comércio exterior são denominadas na moeda americana, segundo os dados do Brookings Institution de 2022.

No entanto, a ideia de criação de uma alternativa à moeda que tem dominado o comércio internacional desde o século passado, ganhou força em agosto de 2023 depois que a Rússia começou a propor mudanças nos pagamentos feitos a partir de transações comerciais entre os membros do bloco.

Isso porque os bancos russos foram excluídos do sistema SWIFT, que promove a comunicação entre bancos e outras instituições financeiras, como parte das sanções internacionais após a invasão da Ucrânia. O SWIFT permite que as transações internacionais sejam realizadas de forma segura, rápida e padronizada.

Uma das propostas dos russos é utilizar tokens. A Rússia propõe o uso de tecnologia de registro distribuído (DLT) ou uma plataforma multinacional para transações com tokens, destacando a eliminação do risco de crédito associado ao sistema bancário tradicional. Os argumentos são de que o uso dessa tecnologia agiliza e reduz custos, eliminando intermediários e verificações de conformidade. o que poderia gerar uma economia de até US$ 15 bilhões anuais para os países do Brics, caso metade das transações entre os membros do bloco fosse feita via DLT.

A ideia de substituir o dólar é apoiada pela China. Mas o país busca fortalecer a própria moeda e tem promovido o uso do yuan nas transações comerciais. Já o presidente Lula tem se posicionado em defesa de um sistema financeiro menos atrelado ao dólar. Em discurso por videoconferência durante reunião na cúpula dos Brics em Kazan, na Rússia, em outubro do ano passado, Lula defendeu novamente que o bloco avance nas discussões sobre o uso de uma moeda comum nas transações entre os países do bloco.

“Agora é chegada a hora de avançar na criação de meios de pagamento alternativos para transações entre nossos países. Não se trata de substituir nossas moedas, mas é preciso trabalhar para que a ordem multipolar que almejamos se reflita no sistema financeiro internacional. Donald Trump reagiu logo após vencer as eleições ameaçando tarifas de 100% contra países que apoiarem uma nova moeda do Brics e reiterou a ameaça nesta semana. Na prática,atéagoraodólarsemantémforte,apesardosesforçosdoBrics para reduzir a dependência da moeda.


sábado, 16 de novembro de 2024

É correto dizer que o agro não traz industrialização? - Marcos Fava Neves (Revista Veja)

É correto dizer que o agro não traz industrialização?

Ao contrário do que alguns pensam, há grande contribuição para o desenvolvimento industrial

Por Marcos Fava Neves

Revista Veja, 16/11/2024


O protagonismo do Brasil no cenário agrícola mundial não é ao acaso, mas sim proveniente de diversas vantagens comparativas e competitivas: dimensões continentais (1); condições climáticas favoráveis (2); e o investimento consistente em pesquisa e desenvolvimento (3). Dessa forma, foi possível expandir culturas como a soja e milho para regiões como o Cerrado, além de desenvolver cultivares adaptados e práticas agrícolas sustentáveis, como o plantio direto, irrigação, integração Lavoura-Pecuária, entre outras. 

Segundo dados da Conab, nos últimos 30 anos, a produção brasileira de grãos saltou de 58 milhões de toneladas, em 1990, para mais as esperadas 322 milhões de toneladas em 2024, enquanto a área plantada cresceu em proporção muito menor, de 38 milhões para cerca de 82 milhões de hectares (+ 97%).

Mesmo assim, é comum nos depararmos com colocações de que o agro não contribui com a necessária industrialização do Brasil, são produtos “primários”, sendo importante mostrarmos que estas não estão corretas por dois motivos principais.

Primeiro equívoco é que estas colocações não consideram as indústrias que estão dentro do agro, provavelmente pelo desconhecimento do conceito de agro. A agricultura é uma grande promotora do desenvolvimento industrial, gerando oferta e demanda para dezenas de tipos de indústrias nas mais variadas cadeias. Impulsiona segmentos como: as indústrias de bioenergia (a), que guiam o país para uma transição energética mais limpa e renovável (exemplos: usinas de cana-de-açúcar, usinas de etanol de milho, de biogás, biodiesel, biometano e outras, além dos seus fornecedores); as indústrias frigoríficas e laticínios (b), que transformam proteína animal nos mais variados cortes e produtos processados; indústrias têxteis (c) que processam o algodão para transformá-los em roupas e trajes (fiações, tecelagens, malharias e confecções); indústria de máquinas e equipamentos (d); a gigante indústria de alimentos (e), que processa, desde o suco de laranja e o café até frutas e vegetais; a indústria de papel e celulose (f), que nos proporciona as embalagens, os papeis com finalidade sanitária e outros; a indústria de móveis (g), que transformam a madeira cultivada em nossas mesas, cadeiras e bancadas; a indústria da borracha (h), que nos proporciona o pneu e outros produtos; a indústria de couro (i), para as botas, bolsas e casacos; além das indústrias de insumos agrícolas (j) e nutrição animal (k).

O Brasil é referência nestas indústrias citadas que foram historicamente impulsionadas por uma agricultura eficiente e fazem parte do agro. Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA) e a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), somente as agroindústrias são responsáveis por empregar 4,7 milhões de pessoas; além de representar cerca de

5,9% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.

E em relação ao futuro, devem continuar demandando grandes investimentos industriais, apenas a título de exemplo temos a Eurochem e a recente fábrica de fertilizantes inaugurada em Serra do Salitre (MG), com investimento de R$ 8,2 bilhões. No setor de papel e celulose, indústrias têm sido instaladas principalmente no Mato Grosso do Sul, com investimentos que superam os R$ 20 bilhões por unidade. No etanol de milho, cada planta traz investimentos na ordem de R$ 1,2 bilhão e muitos projetos estão anunciados. Na área de processamento de grãos, diversas cooperativas anunciam investimentos em unidades industriais para fabricação de farelo e óleo na casa de R$ 1 bilhão, impulsionando o

desenvolvimento regional e gerando empregos e oportunidades.

O segundo equívoco do pensamento que o agro não traz industrialização é que por ser gerador de uma renda anual nas atividades agrícolas e pecuárias próxima a R$ 1,2 trilhão e por exportar cerca de R$ 900 bilhões por ano, esta renda toda gera consumo e movimenta as indústrias de automóveis, cosméticos, construção civil, aviação, eletrodomésticos, eletrônicos e outros bens de consumo industriais, além do setor de serviços. Se não fosse esta renda e consumo, estes setores seriam muito menores no Brasil.

As críticas, apesar de equivocadas, não tiram o necessário processo de se caminhar para mais industrialização nos produtos a serem vendidos principalmente ao exterior, se possível agregando cada vez mais valor. A título de exemplo, caso o Brasil não exportasse carne de frango e de suínos, que são produtos industrializados, e exportasse o equivalente em soja e milho que os animais comeram ao longo do seu desenvolvimento, as exportações anuais cairiam de US$ 13 bilhões para US$ 3 bilhões.

O sonho a ser perseguido é o de ocupar o máximo do mercado de produtos primários, tais como a soja e o milho, que tem sim valor agregado e são muito importantes ao Brasil, e paralelamente caminhar para uma industrialização cada vez maior, exportando produtos prontos, embalados, encaixotados, que podem ir direto para as gôndolas dos supermercados internacionais.


Marcos Fava Neves é professor Titular (em tempo parcial) da Faculdades de Administração da USP (Ribeirão Preto – SP) e fundador da Harven Agribusiness School (Ribeirão Preto – SP). É especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos e outros materiais em harvenschool.com e veja os vídeos no Youtube (Marcos Fava Neves). Agradecimentos a Vinícius Cambaúva e Rafael Rosalino.


O Fundo Soberano que não era soberano, nem fundo, só caixa preta - Juliana Elias Revista Veja

 O bônus de 1 trilhão de reais: os rumos nebulosos do fundo do pré-sal

Criado para distribuir a riqueza do petróleo, até agora ele é mais um caso de fortuna nacional desperdiçada

Por Juliana Elias

Revista Veja, 16/11/2024


O presidente Lula poderia estar decepcionado com os rumos que as rendas bilionárias do pré-sal tomaram mais de uma década depois de sua descoberta, não estivesse ele próprio de volta ao Palácio do Planalto e com o comando desse oceano de dinheiro nas mãos. “O pré-sal é o nosso passaporte para o futuro”, disse ainda em seu segundo mandato, em um pronunciamento feito em 2008, gigantesca reserva de petróleo a

mais de 7 000 metros abaixo da superfície do mar na costa brasileira. “Vamos investir seus recursos naquilo que temos de mais precioso: nossos filhos e nossos netos”, concluía. 

A camada do pré-sal se revelou, de fato, tão ou mais exuberante do que qualquer prognóstico mais otimista pudesse antever. O mesmo, porém, não pode ser dito da principal ferramenta de proteção para as riquezas cada vez mais robustas geradas por ela — o Fundo Social, uma poupança nacional criada por Lula em 2010 para preservar o dinheiro do petróleo e investir no desenvolvimento do país. Aos 14 anos de vida, o fundo não cumpriu o seu objetivo original e tomou rumos nebulosos, que permanecem incertos até hoje em dia.

O aspirante a fundo soberano brasileiro não tem gestor designado, nunca definiu seus planos de investimentos, foi desconfigurado por uma série de leis que vieram depois e já gastou quase toda a fortuna que recebeu — embora ninguém saiba direito como, já que seus mecanismos de divulgação e transparência são opacos. Em tempos de penúria nas contas públicas, o desperdício pode ser considerado ainda mais chocante. “Estamos falando de muito dinheiro e ninguém está olhando para isso”, diz o e economista Beni Trojbicz, autor do livro Política Pública de Petróleo no Brasil.

Os números envolvendo essa poupança mal gerida são vultosos. De sua criação, em 2010, até 2023, o valor total de royalties e participações do petróleo depositados em sua conta somou 180 bilhões de reais, de acordo com uma auditoria feita pelo Tribunal de Contas da União (TCU). No fim do ano passado, porém, restavam em caixa pouco mais de 30 bilhões de reais disso tudo. Cerca de 80 bilhões de reais teriam ido para a educação, obedecendo a uma lei de 2013 que definiu que 50% dos recursos deveriam ir para a educação básica e a saúde.

Outros 64 bilhões de reais, por sua vez, foram usados em 2021 e 2022 para abater a dívida pública, projeto incluído pelo então ministro da Economia, Paulo Guedes, na PEC Emergencial. “A ideia do Fundo Social de transferir a renda petrolífera para a sociedade é mais do que justa”, diz Helder Queiroz, coordenador do Grupo de Economia da Energia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo (ANP). “Mas, como ele carece de regulamentação até hoje, o uso de seus recursos acabou sofrendo uma série de desvios.”

O piso nacional da enfermagem, de 2022, o Pé-de-Meia, nova bolsa de Lula para estudantes de baixa renda, e parte do socorro ao Rio Grande do Sul, após as

enchentes de abril, são outros remendos que vieram depois permitindo mais saques da poupança do petróleo. “Algumas destinações até são previstas, como o combate às mudanças climáticas, mas elas são feitas sem planejamento e foram acabando com o projeto inicial, de criar uma poupança de longo prazo”, afirma Ticiana Alvares, diretora técnica do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo.

O marco legal do pré-sal, que criou o Fundo Social em 2010, determinava que apenas o valor de seus rendimentos seria usado para investir nas políticas públicas, uma inspiração no modelo do fundo do petróleo da Noruega, um dos maiores e mais bem-sucedidos do mundo. A legislação original também definiu as áreas estratégicas para onde esses recursos deveriam ir: educação, saúde, cultura, esportes, inovação e meio ambiente. Até o ano passado, porém, as quatro últimas dessa lista não tinham recebido um centavo sequer.

Se a primeira década do Fundo Social já foi bilionária, a segunda chegará perto do trilhão. A conta do TCU é que, de 2024 até 2032, quando a produção do pré-sal atingirá seu auge, o fundo receberá mais 930 bilhões de reais. Dali em diante, as projeções do próprio governo são de que a produção do megacampo, seguindo o destino inexorável de todo recurso natural não renovável, começará a declinar. “O volume de dinheiro por vir é estrondoso, mas ele não vai continuar por muito tempo”, diz o economista especializado em contas públicas Murilo Viana. “É por isso que a essência desses fundos é fazer bons investimentos e gerar renda ao longo do tempo, sabendo que suas receitas são voláteis e finitas.”

Para que o país não perca mais uma década, o TCU deu ao governo, em abril, um prazo de 180 dias para apresentar os projetos de regulamentação do Fundo Social. O prazo se encerrou em outubro e foi prorrogado por mais 100 dias. A exigência do tribunal inclui a criação dos dois comitês que deveriam ser os responsáveis pela gestão dos investimentos financeiros e sociais do fundo, um aparato que está previsto e pendente desde a lei que o criou. Um programa estruturado de aplicações financeiras, investimentos no exterior (para proteger as receitas das flutuações do dólar), definição de como financiar as áreas sociais e relatórios semestrais dos resultados são outros mecanismos também previstos na legislação e que seguem até hoje sem ser criados.

Procurada, a Casa Civil, braço do Executivo responsável pelo Fundo Social, informou por nota que, em resposta ao ultimato de regulamentação do TCU, “o governo federal está trabalhando com os órgãos envolvidos na elaboração de uma proposta”. Não respondeu, porém, a outras perguntas da reportagem, como quanto dinheiro há na conta do fundo ou qual é a equipe responsável por geri-lo enquanto a regulamentação não vem. “Não há uma distribuição transparente dos recursos, e mesmo os repasses declarados para a educação não necessariamente chegaram aonde deveriam”, diz Daniel Cara, professor de economia da educação na Universidade de São Paulo e coordenador honorário da Campanha Nacional pelo Direito à Educação. “O resultado é que não vimos nenhuma diferença, e agora já perdemos uma geração.” É urgente que os problemas apontados pelo TCU sejam resolvidos para garantir que ao menos as próximas gerações sejam beneficiadas pela dádiva do pré-sal.


sábado, 5 de outubro de 2024

Santa raiva: A tragédia educacional precisa ser vista como a da escravidão - Cristovam Buarque (revista VEJA)

 . Nem sentimos incômodo pelo fato de nosso desprezo à educação amarrar o país, impedir o aumento da renda média e manter a sua trágica concentração devido ao sistema escolar dividido entre “escolas senzala” e “escolas casa grande”, determinando o futuro de uma criança desde o dia de seu nascimento; salvo raras exceções, tanto quanto antes era por causa da cor da pele durante a escravidão...

 

 

sábado, 5 de outubro de 2024

Cristovam Buarque - Santa raiva

Veja

A tragédia educacional precisa ser vista como a da escravidão

 

O movimento abolicionista só cresceu quando, em vez da simpatia à liberdade dos escravos, passou a usar a raiva contra a perversidade da escravidão e a denunciar a estupidez desse sistema para o progresso do país. Há décadas, nossos educacionistas defendem o direito de todos a uma escola com qualidade, mas a educação continua entre as piores e mais desiguais do mundo; sabe-se que a deseducação é uma barreira para nosso progresso, mas o eleitor não vota por educação, sobretudo se o candidato lembrar que essa prioridade exige relegar outros gastos.

Apenas com discurso simpático, educação não estará entre as prioridades dos políticos. Ainda mais agora, quando os resultados eleitorais são motivados mais pela raiva aos políticos do que por simpatia a uma causa.

Mais do que ser favorável à educação, os educacionistas precisam criar uma santa raiva contra a falta de educação, tanto quanto os abolicionistas contra a escravidão. Vergonha por termos entre 12 milhões e 14 milhões de adultos analfabetos plenos, incapazes de ler o lema escrito na bandeira; e quase 100 milhões despreparados para o mundo contemporâneo, sem um mapa que facilite sua busca pela felicidade pessoal nem as ferramentas necessárias a sua participação na promoção do progresso do país. Indignação por estarmos entre os piores do mundo em educação: 52º lugar em leitura, 65º em matemática, 62º em ciência, e termos o mais desigual sistema escolar do mundo conforme a renda e o endereço do aluno. Raiva por sabermos que essa situação deixará o Brasil atrasado, insustentável, injusto, ineficiente, continuando a escravidão mesmo 136 anos depois da abolição, que ficou incompleta por desprezo com a educação dos libertos.

“É vergonhoso termos entre 12 milhões e 14 milhões de adultos analfabetos plenos”

Medo coletivo diante do fato de que 40 milhões de nossos 50 milhões de brasileiros em idade escolar neste ano de 2024 serão deixados para trás e não desenvolverão o potencial necessário para construir um país rico, justo, civilizado; no máximo 10 milhões deles chegarão à vida adulta plenamente alfabetizados para a contemporaneidade. A raiva seria imensa se poços de petróleo fossem tapados, já temos raiva porque queimamos florestas, mas não há uma santa raiva contra a queima dos cérebros deixados para trás por falta de escolas com qualidade.

Nem sentimos incômodo pelo fato de nosso desprezo à educação amarrar o país, impedir o aumento da renda média e manter a sua trágica concentração devido ao sistema escolar dividido entre “escolas senzala” e “escolas casa grande”, determinando o futuro de uma criança desde o dia de seu nascimento; salvo raras exceções, tanto quanto antes era por causa da cor da pele durante a escravidão.

Felizmente, aprendemos a ter raiva da corrupção que domina a política, mas ainda não sentimos desconforto com a pior delas: o roubo de inteligência, negação de escola com qualidade para as crianças sem renda suficiente para pagar algumas das raras boas escolas privadas ou, com sorte, para entrar em uma das raras públicas com qualidade, em geral federal. Sentimos raiva porque o SUS não funciona bem, mas nenhuma raiva porque o Brasil, com 136 anos de República, ainda não tem um Sistema Único Público de Educação de Base com qualidade para todos.

A política só vai priorizar a educação quando os educacionistas, inspirados nos abolicionistas, promoverem um sentimento de santa raiva e vergonha diante da tragédia educacional, sua injustiça com os brasileiros e estupidez com o país.

 

Publicado em VEJA de 4 de outubro de 2024, edição nº 2913

sábado, 16 de março de 2024

Os impactos desastrosos da interferência do governo na Petrobras e na Vale - Juliana Machado e Pedro Gil (Veja)


Os impactos desastrosos da interferência do governo na Petrobras e na Vale

Gestão Lula mexe na distribuição de dividendos da petroleira e embaralha a sucessão do presidente da Vale. Péssimo para as empresas, pior para o Brasil

Por Juliana Machado e Pedro Gil

Veja, 16 março 2024


Poucas empresas na história do Brasil, talvez nenhuma, foram tão maltratadas pelos governantes de ocasião quanto a Petrobras. Desde a sua criação, em 1953, pelo presidente Getúlio Vargas, a petrolífera tem sido alvo de pressões políticas que frequentemente determinam os caminhos que ela deverá seguir. Foi assim com o próprio Getúlio, que inventou a campanha “o petróleo é nosso”, e com os governos militares, que fizeram a estatal trabalhar a favor do slogan “Brasil grande”. Os governos petistas, contudo, têm especial predileção por mexer com a companhia. Nos dois primeiros mandatos do presidente Lula e na gestão Dilma, o esquema conhecido como petrolão custou aos cofres da Petrobras, segundo investigação da Polícia Federal, prejuízos estimados em 43 bilhões de reais. Apesar das péssimas experiências no passado, o PT decidiu novamente usar a empresa como instrumento político — com impactos econômicos, mais uma vez, desastrosos.

Há alguns dias, a estatal anunciou, em conjunto com a apresentação do balanço do quarto trimestre, que não pagará dividendos extraordinários aos acionistas, ou seja, não distribuirá recursos acima do mínimo estabelecido no seu estatuto social. A decisão tomada pelo conselho de administração atendeu a um pedido do presidente Lula e contrariou avaliações técnicas feitas por boa parte dos diretores e conselheiros da empresa, incluindo o seu próprio presidente, Jean Paul Prates. A inapropriada ingerência de Lula fez a Petrobras perder, em apenas um dia, 56 bilhões de reais em valor de mercado em razão da queda de 10% do valor de suas ações na bolsa de valores. “A Petrobras faz política social ao pagar impostos e royalties e ao gerar empregos e investimentos”, afirma Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura “Agora, o governo quer voltar ao passado com uma política que nunca deu certo.”

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O argumento de Lula para cortar o pagamento de dividendos é que os recursos que seriam distribuídos aos acionistas voltarão ao Brasil na forma de investimentos feitos pela Petrobras. Trata-se de uma visão torta — os gestores da empresa, e não o presidente da República, deveriam estabelecer o destino do dinheiro e a partir de critérios meramente técnicos. Note-se também que o próprio governo federal sai perdendo. “O governo está tentando aumentar a arrecadação, mas nega receber os dividendos da empresa que poderiam ser usados para ajudar a fechar as contas do país”, disse a VEJA Roberto Castello Branco, ex-presidente da Petrobras. “É uma decisão irracional.” Castello Branco conhece bem a mão pesada dos políticos. Ele foi demitido do comando da companhia pelo então presidente Jair Bolsonaro, que o instava a reduzir o preço dos combustíveis. O executivo resistiu quanto pôde. “Essas pressões prejudicam o ambiente de negócios e afugentam investidores”, afirma. “Iniciativas intervencionistas são perniciosas para a avaliação de riscos.”

O cenário de ingerência não está restrito à petrolífera. A Vale, outra empresa estratégica para os políticos, também tem sofrido com o barulho provocado por Lula, que tentou emplacar o ex-ministro Guido Mantega no comando da companhia e com suas atitudes tem embaralhado o processo sucessório do atual presidente, Eduardo Bartolomeo. No caso da Vale, as investidas de Lula são ainda mais chocantes. Trata-se de uma empresa de controle privado, que não deveria dar satisfação aos palpiteiros de Brasília. Lula, de fato, tem provocado estragos com seu jeito peculiar de fazer política. Em carta de renúncia apresentada aos colegas, o conselheiro independente da Vale José Luciano Penido afirmou que a transição na mineradora vem sendo conduzida “de forma manipulada, não atende ao melhor interesse da empresa, e sofre evidente e nefasta influência política”.

Sob os ruídos políticos, e mais queda de preço do minério de ferro, a Vale recentemente viu evaporar 69 bilhões de reais em valor de mercado desde a cotação mais alta de suas ações. Ou seja, quem tem recurso investido na empresa perdeu dinheiro. “Minha impressão é que incomoda ao Penido não só a intervenção do governo, mas os interesses de cada um dos acionistas que têm representantes no conselho e olham para si próprios e para suas empresas, como é o caso de Cosan, Bradespar e Mitsui”, afirma um gestor de ações de uma grande casa. “É uma empresa disfuncional no modelo de governança.”

Não é difícil ver os impactos danosos das ingerências políticas em empresas que deveriam caminhar com as próprias pernas. Como gigantes da bolsa, ao ser abaladas, Petrobras e Vale acabam afastando investidores locais e estrangeiros e contaminando, assim, todo o mercado — juntas, suas ações representam 24% do Ibovespa, principal índice da bolsa de valores. Para ter ideia, em 2024 o indicador está no campo negativo, enquanto as bolsas nos Estados Unidos, Europa e Japão alcançaram recentemente as suas máximas históricas. Outro dado alarmante é a debandada de investidores estrangeiros da bolsa brasileira, que deveria atrair capital de risco. Em 2024, eles já sacaram 21 bilhões de reais da B3 — e o ano mal começou. Para efeito de comparação, a bolsa registrou em 2023 captação positiva de 56 bilhões de reais.

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A desvalorização das ações das empresas e a consequente perda de bilhões de dólares em valor de mercado afetam as suas capacidades de competir com rivais estrangeiros. No caso da Petrobras, a ação já é historicamente negociada com um nível de “desconto” maior em relação a pares globais, incorporando os riscos de uma companhia com controle compartilhado com o governo. Nos últimos dias, os problemas dessa mistura ficaram evidentes. Enquanto os governantes teimarem em achar que grandes empresas existem para servir aos seus interesses políticos, o mundo corporativo brasileiro e o desenvolvimento do país estarão ameaçados.

 

 

sábado, 24 de fevereiro de 2024

O Nobel da insensatez - Revista Veja

 O Nobel da insensatez

Revista Veja | Brasil
23 de fevereiro de 2024


A obsessão do presidente pela busca de protagonismo internacional produz mais um vexame diplomático e empurra o Brasil outra vez para o lado errado da história Daniel Pereira

O PRESIDENTE Lula traçou dois grandes objetivos para o seu terceiro mandato. No plano interno, pavimentar o caminho para a sua reeleição, em 2026. No externo, tornar-se um líder global, status com que sonha desde a sua primeira passagem pelo Palácio do Planalto. Aos olhos de hoje, a segunda meta parece bem mais difícil. Para alcançá-la, o governo brasileiro tenta ser protagonista no debate sobre proteção ao meio ambiente e costurar no âmbito do G20 - grupo que reúne as dezenove maiores economias do mundo, além da União Africana e da União Europeia - uma aliança global contra a fome e a pobreza. Se der certo, o petista pode até ser laureado com o Prêmio Nobel da Paz, apostam alguns de seus principais assessores, como o ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias. O problema de Lula não é o tamanho de sua ambição, mas a forma como ele faz política externa, principalmente quando abandona a tradição brasileira de mediação e conciliação, distorce fatos históricos, tem recaídas ideológicas e entoa discursos irresponsáveis como se estivesse num palanque eleitoral, arranhando a imagem e prejudicando os interesses do país.

A diplomacia é, entre outras coisas, a arte de medir bem as palavras. É justamente o que o presidente não fez, mais uma vez, ao comparar as ações do Exército de Israel em Gaza, deflagradas em resposta aos ataques terroristas do Hamas, ao extermínio de 6 milhões de judeus, durante a Segunda Guerra Mundial, pelo regime nazista de Adolf Hitler. "O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu, quando Hitler resolveu matar os judeus", disse o presidente brasileiro durante uma entrevista na Etiópia. A comparação é um despropósito completo. Feita de forma improvisada, por ignorância ou ma-fé, ela serviu de estopim para uma crise diplomática entre Brasil e Israel. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, puxou a reação, escrevendo numa rede social que as palavras de Lula eram vergonhosas e graves. "Isso banaliza o Holocausto e prejudica o povo judeu e o direito de Israel de se defender. Comparar Israel ao Holocausto nazista e a Hitler é cruzar a linha vermelha". Sob ordens de Netanyahu, o chanceler de Israel intensificou o revide, aproveitando para constranger publicamente o embaixador do Brasil no país, Frederico Meyer.

Como ocorre em casos

dessa natureza, Meyer foi convocado pelo governo de Israel a prestar esclarecimentos sobre a fala de Lula. O encontro entre ele e o chanceler israelense, Israel Katz, ocorreu num importante memorial do Holocausto. Lá, sob as lentes e os microfones da imprensa, Katz declarou o presidente brasileiro persona non grata, o que significa que ele não é bem-vindo em Israel enquanto não se retratar, e exigiu um pedido de desculpas. Tudo em hebraico, e sem a presença de um intérprete, o que pode ter impossibilitado a compreensão do que era dito pelo embaixador brasileiro. A crise estava definitivamente instalada. No Brasil, Lula, contrariado, determinou a convocação do embaixador de Israel para prestar esclarecimentos. De nada adiantou. O chanceler Katz continuou a fustigar o presidente brasileiro nas redes sociais: "Sua comparação é promíscua e delirante. Uma vergonha para o Brasil e um cuspe no rosto dos judeus brasileiros. Ainda não é tarde para aprender história e pedir desculpas". Em resposta, o ministro de Relações ExterioresMauro Vieira, declarou que as manifestações de Katz eram inaceitáveis na forma, mentirosas no conteúdo e funcionariam como uma cortina de fumaça.

Para o governo brasileiro, Netanyahu está aproveitando o caso para fugir de explicações sobre denúncias de crimes de guerra cometidos pelas forças israelenses contra civis palestinos. Pode até ser verdade, mas quem deu a deixa, como uma declaração desatinada e irresponsável, foi Lula. As recaídas ideológicas e os improvisos têm feito mal ao presidente na área internacional. Como se sabe, a esquerda brasileira e o PT nutrem simpatia pela causa palestina e defendem a existência de dois Estados independentes na região, o que é rechaçado por Israel. Até aí, tudo dentro da normalidade. A situação começa a desandar quando desce aos detalhes. Após as barbaridades perpetradas pelo Hamas em 7 de outubro, Lula resistiu quanto pode a chamar de terroristas os atos praticados pelo grupo contra civis israelenses, que incluíram assassinatos, torturas, sequestros e estupros. A duras penas, a diplomacia brasileira, um nicho de excelência no serviço público brasileiro, conseguiu convencer o presidente a fazer o que devia ser feito: chamar os terroristas pelo nome. Lula, por sinal, foge das cascas de banana que ele mesmo costuma espalhar pelo caminho ao seguir o roteiro dos diplomatas profissionais.

Dias antes de sua declaração desastrosa, o presidente divulgou uma mensagem nas redes sociais em que, fazendo jus à tradição brasileira, dizia que o ataque do Hamas era indefensável e merecia condenação veemente, mas que a reação de Israel era desproporcional, indiscriminada e inaceitável, tendo resultado na morte de cerca de 30 000 civis, incluindo mulheres e crianças. Por isso, Lula defendia um imediato cessar-fogo. Essa posição enfática, manifestada de forma ponderada, foi logo atropelada pela entrevista na Etiópia, que ainda serviu de pretexto para os radicais de sempre e os áulicos de plantão tentarem dourar a pílula do desatino retórico cometido pelo chefe. Assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, o ex-chanceler Celso Amorim afirmou que a fala de Lula "sacudiu o mundo e desencadeou um movimento de emoções que pode ajudar a resolver uma questão que a frieza dos interesses políticos foi incapaz de solucionar", conforme relatado pela colunista Mônica Bergamo, do jornal Folha de S.Paulo. O senso de protagonismo brasileiro nesse caso não é apenas exagerado. Simplesmente não aconteceu.

Além de causar problemas no cenário externo, Lula conseguiu dar um tiro no pé na política interna, tomando para si o protagonismo da agenda negativa, que até então estava toda no colo de seu principal adversário, o ex-presidente Jair Bolsonaro. Embora algumas vozes desatinadas tenham dado apoio, a exemplo da deputada Gleisi Hoffmann, presidente do PT, que atacou Netanyahu dizendo que o israelense não tem autoridade moral nem política para apontar o dedo para ninguém, o bom senso foi a tônica no Congresso. Conhecido por seu perfil conciliador, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, cobrou de Lula, de quem é aliado, uma retratação por comparar a ação militar de Israel em Gaza ao Holocausto. "Ainda que a reação do governo de Israel (aos atos terroristas do Hamas) venha a ser considerada desproporcional, excessiva, violenta, indiscriminada, não há como estabelecer um comparativo com a perseguição sofrida pelo povo judeu no nazismo", disse o senador. O líder do governo na Casa, Jaques Wagner, um dos poucos quadros no PT com coragem para dizer o que pensa ao presidente da República, seguiu caminho parecido. Durante a sessão plenária, Wagner relatou ter dito o seguinte a Lula: "Não tiro uma palavra do que vossa excelência disse, a não ser o final, porque, na minha opinião, não se traz à baila o episódio do Holocausto para nenhuma comparação".

Desde a campanha eleitoral de 2022, Lula vem usando a política externa para fazer um contraponto a Bolsonaro, cuja gestão chegou a se gabar de ter transformado o Brasil num pária internacional. No primeiro ano de seu terceiro mandato, o petista privilegiou a agenda internacional e visitou mais de vinte países, tentando conquistar um pouco de visibilidade positiva no cenário internacional. Essa ofensiva, se bem-sucedida, pode render dividendos de imagem, acordos em diferentes áreas e ganhos financeiros. Também pode lustrar a própria imagem de Lula, que chegou a ser chamado de "o cara" por Barack Obama. Anos depois, em sua biografia, o ex-presidente americano relatou que o petista lhe causara boa impressão, mas ressaltou também que, segundo constava, tinha escrúpulos de um chefão de uma organização criminosa.

Pelo menos até 2026, a forma como o Brasil será visto no exterior dependerá de como Lula se portará em temas tão distintos como meio ambiente, combate à miséria e negociações de paz. Na quarta-feira, o presidente recebeu o chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Antony Blinken, e ouviu dele que os americanos concordam com a solução de dois Estados independentes na região, mas rechaçam veementemente a comparação feita por Lula entre a ação de Israel em Gaza e o Holocausto. Hoje, o Brasil é um importante líder regional, com pretensão de ascender à primeira prateleira dos países protagonistas no cenário internacional. As oportunidades para ganhar relevância estão dadas. O Brasil sediará em novembro a reunião do G20, quando Lula espera sacramentar a aliança global contra a fome e a pobreza. Além disso, será palco no ano que vem da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. De olho ou não no Nobel da Paz, o presidente petista pode conseguir avanços importantes nesses dois encontros. Basta deixar a ideologia, a tentação do palanque e o improviso desrespeitoso de lado. Como bem ressaltou o ex-embaixador Marcos Azambuja, a diplomacia é feita de "palavras cuidadas", ponderadas, bem pensadas. A crise diplomática com Israel é uma prova disso.