Pois o racismo vem sendo implantado no Brasil por meio de políticas racialistas oficiais.
O que mais me surpreende é que a academia "compre" o discurso racista e pretenda vê-lo como a atitude correta, normal. Isso é difícil de suportar.
Vejam o post abaixo, de um colega acadêmico em seu blog.
Ele começa por perguntar "por que a oposição às cotas raciais nas universidades?"
Eu, sinceramente, acho isso inacreditável!
Por que a universidade, que deveria ser o primeiro bastião contra o racismo, sem empenha agora a promover o racismo oficial?
O acadêmico em questão reconhece, acertadamente, que a universidade é uma instituição de elite, com o que concordo inteiramente.
Ela pertence à elite do saber, de qualquer cor, "raça", religião, etnia, crenças políticas, afiliações sociais, culturais, de qualquer tipo. Todos os que atingem um determinado saber são admitidos na universidade, que representa, por assim dizer, o coroamento de uma vida de estudos e de pesquisa (aqui nem tanto).
Pretender fazer a universidade responder por desigualdades sociais, ou tentar resolver esse tipo de problema é deformar o sentido profundo do que é uma universidade: uma instituição de elite, ponto.
Fico estarrecido de constatar que esse sentido mínimo, essencial da universidade, esteja se perdendo, num discurso racialista que vai perder o Brasil também.
Estão transformando o Brasil num mosaico racial, no qual as pessoas deverão dizer, além da nacionalidade, o seu suposto pertencimento étnico, ou racial: "Eu sou afro-descendente, por isso tenho mais direitos do que você, seu branquela imperialista e colonialista."
É isso que pretendem os acadêmicos racialistas?
Paulo Roberto de Almeida
Assisti ao documentário Raça Humana, da TV Câmara.* Revela os bastidores da discussão sobre as cotas raciais na Universidade de Brasília e apresenta os argumentos a favor e contrários.
A rejeição das cotas raciais faz parte da democracia. Não obstante, o discurso dos discentes e docentes faz pensar: por que tamanha oposição e agressividade? Será possível compreender esta postura apenas pelos argumentos ou é inerente à natureza da universidade? A minha hipótese é que a contenda sobre as cotas expressa algo mais profundo do que ser contra ou a favor. É o próprio caráter da universidade e do seu papel na sociedade que se encontra sob questionamento.
A universidade é, por excelência, o espaço das elites, expressão da influência desta no âmbito da sociedade – e isso é particularmente visível nos cursos de elite, os mais concorridos. A universidade é pública. Porém, da mesma forma que o Estado universaliza a cidadania através do reconhecimento dos direitos políticos, igualiza a todos na universalidade da lei e na categoria cidadão/cidadã e, assim, coloca um véu sobre a realidade social desigual, a universidade pública escamoteia as desigualdades de oportunidades fundadas em diferenças raciais, sociais e culturais. Se a universidade é para todos e, em tese, qualquer indivíduo, desde que se esforce, pode ingressar nela, ela o é no discurso, na letra da lei, no mito de que o vestibular é um critério justo para definir quem entra. A universidade é, por sua natureza social, excludente. As exceções dos menos favorecidos social e economicamente que conquistam o direito de freqüentá-la, e até de seguir carreira e se tornarem professores universitários e doutores, apenas confirmam a regra.
A universidade é intrinsecamente elitista. Não é por acaso que a resistência às cotas raciais aumenta na medida em que a escolaridade e o nível de renda são maiores. Isto tem uma relação direta com a oposição tenaz em cursos cujo perfil discente demonstra nível de renda maior (como no Direito).
Escolaridade e nível de renda caminham juntos. A classe média e os que se encontram acima, os mais aquinhoados financeiramente, são os que ocupam em sua maioria as vagas na universidade. No fundo, até mesmo pelo investimento que fazem na preparação dos seus filhos, vêem a universidade como sua. As cotas lhes parecem um perigoso artifício para tirar um direito adquirido pela posição que ocupam na sociedade. Até admitem que os pobres concorram, mas não reconhecem que o ponto de partida destes é inferior. No limite, acabam culpando o pobre pela situação em que se encontra.
Na universidade prevalece um tipo de saber pretensamente científico e racional, branco, eurocêntrico e excludente da cultura e saber populares. Eis os alicerces da nossa universidade, os quais foram sedimentados pela colonização que, seguindo a modernidade ocidental, impôs um padrão dominante erigido como novo dogma substituto à teologia. Em outras palavras, na universidade assimilamos acriticamente o modelo racional científico de saber, oficial e pretensamente neutro, legitimado em si mesmo. São os fundamentos elitistas desse saber e cultura oficiais, reservados aos que, desde a infância, trilham os caminhos e são preparados para incorporá-las: pois, suas famílias têm condições econômicas e culturais para tanto, isto é, são depositários do “capital social” e “capital cultural”. O vestibular, portanto, termina por escolher os escolhidos social e economicamente, isto é, os mais preparados pelas próprias condições de vida para passar pelo funil.
Raça Humana é um documentário que contribui para esta reflexão. Vale a pena assistir!
6 comentários:
"A universidade é, por excelência, o espaço das elites, expressão da influência desta no âmbito da sociedade" ?
Tem certeza que esse é o papel das universidades? Não seria a formação de pesquisadores para desenvolverem a ciência?
Por consequencia esses pesquisadores formados pelas universidades ganham poder na e dinheiro.
Sou branco e estudei na UnB. Na minha colação a representante do reitor que outorgou-nos o grau de bacharel disse que agora estávamos prontos para o mercado de trabalho. Quase me levantei e disse: mercado de trabalho? aqui não se prepara para o mercado!
Mas parece que é isso que virou a universidade. Uma máquina de sonhos porque é capaz de realizar sonhos, empregos, dinheiro.
Tudo desconstruido. E as pesquisas?
Será que só os filhos das famílias atuantes, que passaram anteriormente pelas universidades podem entrar e se formarem também?
Tem que haver igualdade de direitos.
Ou você acha justo um jovem que pode estudar nos Maristas e Mackenzies passar com facilidade(claro que tem mérito próprio tb - que o diga os jovens do Sigma que faziam parte de "gangs" do DF e hoje vivem às custas dos pais...) enquanto jovens que lutam pra frequentar escolas públicas na ceilândia tem que trabalhar e ainda enfrentar um lar desprovido de infraestrutura suficiente. São realidades iguais?
Dá um tratado!
Caro amigo,
A Universidade lar da sabedoria da "Vida adulta" é para mim um meio de inclusão social e não um lugar elitista.
Costumo andar pela universidade federal de meu estado e o que vejo e a interação de diversos grupos sociais.
Se a universidade fosse de caráter elitista creio eu que não me atreveria a tentar adentrá-la afinal não quero me limitar a uma visão do mundo.
Acredito eu que não a frase melhor para descrever isso do que a seguinte:
"Quanto mais aumenta nosso conhecimento, mais evidente fica nossa ignorância."
John F. Kennedy
Obriado,
Davi Duarte
Concordo, Paulo R. Almeida!
Fiquei indignado quando o rescenseador me perguntou minha raça. Respondi que raça é coisa de cachorro, que somos todos da raça HUMANA.
A política sistemática de dividir a sociedade em raças, classes e categorias é uma das ferramentas da promoção da luta de classes para uma guerra civil modelo maoísta-chavista. Em breve teremos milícias juvenis, estilo Hitlerjugend e Guarda Jovem Maoísta, femininas estilo Chávez, etc. seguindo a doutrina das piores ditaduras ditas populistas, na verdade totalitaristas.
Fusca,
Voce tem perfeitamente razao e a pergunta do recenseador, se feita assim, é perfeitamente racista, graças às políticas perfeitamente racialistas deste governo, e ao aparelhamento perfeitamente partidario do IBGE.
Como você vê, vivemos num país quase perfeitamente perfeito...
Paulo Roberto de Almeida
Felipe Maia,
Concordo com o "igualdade de direitos", que não parece ser assegurada quando se introduzem critérios racialistas na seleção de entrada.
A universidade é sim algo de elite, a elite do saber, justamente, apenas isto, simplesmente isso, nada mais do que isso.
Que as pessoas depois façam pesquisa, se dirijam ao mercado para trabalhar em empresas privadas, façam concurso para se tornarem burocratas públicos, ou simplesmente se tornem rentistas de qualquer coisa, isso não é mais com a universidade, a não ser o fato de que ela tem de selecionar os melhores, justamente, que ele pretende associar a seus programs de pesquisa para, supostamente, "desenvolverem a ciência".
Poder e dinheiro são meras consequências de certas ações, algumas vinculadas à universidade (quando isso deriva de atividades diretamente acadêmicas), outras totalmente desvinculadas dela.
Máquina de sonhos é com as pessoas, não com a universidade, que deveria ser gerida como uma empresa, exatamente isso: boa administração, foco nos resultados, cobrar trabalho de seus funcionários, fazer competição para a excelência.
Sinceramente, acho que você está misturando muitas coisas. Sugiro separar os diferentes problemas.
Um é a universidade. Outro é o viés racialista que estão imprimindo nos critérios de seleção, o que destroi os valores universitários, justamente.
Tristes tempos estes que vivemos no Brasil e na UnB, em particular.
Paulo Roberto de Almeida
Alô Paulo
Senti que tem comentarista que realmente acredita que até o tiririca deveria ter sua "cota'na universidade em razão desta pretensa inclusão e convívio social.
assim não dá para discutir.
Para esta turma fica dificil assimilar que as diferenças existem e não podemos querer eliminá-las por decretos ou sentimentos humanitários.
abraços
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