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segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Procura por diplomacia supera engenharia: 276 candidatos por vaga

Bem, parece que estamos em alta: seria o momento de reivindicar melhores salários, fazer greve?


Procura por diplomacia supera Fuvest

Disputa para entrar no Instituto Rio Branco tem 276 candidatos por vaga enquanto na engenharia civil na USP de São Carlos são 52,27

28 de novembro de 2011 | 14h 57
Márcia Rodrigues, de O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - O sonho de conhecer diversos países e de representar o Brasil em negociações globais, além de um salário que vai de R$ 12,5 mil (para iniciante) a R$ 18 mil (para embaixador) vêm atraindo muitos jovens para a diplomacia. São em média 276 candidatos por vaga nas provas realizadas todos os anos pelo Instituto Rio Branco (IRB) - a porta de entrada para os futuros diplomatas. É uma disputa cerca de cinco vezes maior do que o curso mais procurado na Fuvest, o de engenharia civil da USP de São Carlos, que tem 52,27 candidatos por vaga. 
André Engracia Melo enfrenta uma maratona diária de estudos para prestar o concurso que normalmente ocorre em fevereiro - Daniel Teixeira/AE
Daniel Teixeira/AE
André Engracia Melo enfrenta uma maratona diária de estudos para prestar o concurso que normalmente ocorre em fevereiro
Cada concurso para o IRB preenche, em média, 26 novos postos no Itamaraty. A maioria abertos em consequência de aposentadorias. O próximo edital deve ser publicado no mês de dezembro e a prova é aplicada sempre em fevereiro.
A disputa acirrada faz com que os candidatos entrem numa maratona de estudos. É o caso de Bruna Pachiari, de 24 anos, que largou o trabalho para se dedicar integralmente à preparação. Ela consome oito horas por dia a esta tarefa. Bruna é a primeira de um clã de advogados a investir na diplomacia. "Sempre quis representar o Brasil em negociações econômicas e políticas. Tanto que cursei comércio exterior, inglês, francês e, recentemente, comecei a estudar espanhol."

Empolgada com a possibilidade de morar fora, avisa: "Meu namorado disse que me acompanha para qualquer país".

Assim como a jovem, André Engracia Melo, 36 anos, também dedica-se aos estudos diariamente. Ator e administrador de empresas, já recusou participação em novelas e peças teatrais para se debruçar sobre os livros. "Amo a possibilidade de lidar com pessoas de culturas diferentes e estar no meio de discussões de grande importância para a economia global."

Ao contrário do que os pais esperavam, o jornalista Tarcízio Zanfolin, 26 anos, não seguiu carreira na imprensa como anunciara ao entrar na faculdade de comunicação. Sua facilidade de aprender outros idiomas foi um dos aspectos que o levaram a olhar com mais atenção para a diplomacia. Atualmente, fala inglês, espanhol, alemão e já cursou um ano de chinês. O próximo passo será aprender francês, idioma classificatório na prova do Itamaraty.

"Ficarei feliz de representar o Brasil em qualquer país, mas gostaria de mergulhar um pouco na cultura da Ásia, que vem obtendo grande destaque na economia internacional."

O casal André Flores, 30 anos, e Lorena Sodano Ribeiro Flores, 32 anos, resolveu investir na carreira junto. "Um apoia o outro nos momentos de dificuldades e quando bate o cansaço ou o desânimo", comenta ele.
"Nosso tempo livre é estudando. Estamos realmente determinados a prestar o concurso quantas vezes precisarmos para ingressar na carreira", diz Lorena.
Questionados sobre a possibilidade de cada um assumir a representação de um país diferente, dizem que vão avaliar qual é a melhor proposta e um vai abdicar da carreira para permanecerem juntos.

Preparação. O concurso é realizado em quatro fases. A primeira inclui provas objetivas de português, história, geografia, política internacional, inglês, economia e direito. A segunda etapa tem provas de português de caráter eliminatório e classificatório. Na terceira fase, ocorrem os exames escritos das mesmas matérias da primeira etapa. A última fase, de caráter classificatório, consiste em testes de espanhol e francês.

A coordenadora do cursinho preparatório chamado Escola Superior de Diplomacia (ESD), Cláudia Gonçalves Galaverna, diz que a dedicação dos alunos não é exagerada. "É preciso estudar, e muito, para entrar no Itamaraty. Além de o grau de exigência ser grande, o volume de matérias é bem pesado e exige muito do aluno."

Uma dica da coordenadora é elaborar um plano de estudo e seguir à risca. Também é importante acompanhar as provas, principalmente as de português. Há leituras obrigatórias para os futuros candidatos (veja lista dos livros nesta página).

Para o primeiro secretário do IRB, Márcio Rebouças, responsável pelo concurso, mais do que dedicação aos estudos, o candidato deve ter persistência. "Deve estar preparado para prestar a prova mais de uma vez se for o caso." Hoje, o Brasil tem 1,5 mil diplomatas. A cada seis meses, há inscrições para vagas disponíveis em diversos países.

4 comentários:

Anônimo disse...

"(...)a vida no estrangeiro constitui para os homens uma prova psicológica semelhante àquela que se tem com a experiência das prisões ou com o ostracismo político. Aos fortes enrija e eleva; aos fracos, rebaixa e degrada. A vida no estrangeiro, aos fortes enrijece em ânimo, enriquece em perspectiva, engrandece em personalidade, tornando-os mais interessados e compreensivos no ver de perto ou por dentro os problemas do seu País, mais conscientes e lúcidos em integrar-se na sua comunidade nacional. E, assim, nem porque-ufanistas, nem pessimistas de espírito descarnado na impotência do esnobismo e do bovarismo. Aos fracos, a vida no estrangeiro corrompe a natureza humana, degrada a sensibilidade nativa, amesquinha a visão pessoal como num círculo de peru, transformando-os em melancólicos 'déracinés', forrados em estufas de egoísmo pessoal e frivolidade social. E, dêste modo, destroçados em sua vida interior por efeito daquele desespêro dos frustrados que se disfarça em ceticismo e diletantismo".

*Álvaro Lins; in:"Missão em Portugal";PRIMEIRA PARTE "Diário de uma experiência diplomática"; p.191; EDITORA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA S.A., Rio de Janeiro, 1960.

Caro Dr. P.R.A.,

Nos perguntamos, diante do que fora exposto, se todos que aspiram a ingressar na "carrière"; este verdadeiro excesso de contingente de "homens cordiais"; possuem vocação!

À parte o lugar-comum dos discursos, rebarbativos à la "miss congeniality"(...certamente todos sonham com a paz mundial...!); é alvisareiro testemunharmos que a demanda ao ingresso na SERE só tem aumentado; não sabemos se a quantidade traduzir-se-á em qualidade na formação de novos quadros; o tempo dirá; o certo é que o Brasil tem pressa...a maré e o tempo não esperam...!

Vale!

P.S.: Serão as causas deste "fenômeno", verdadeira "piracema"(!) (...276 para 1...! Muito mais fácil candidatar-se ao cargo de presidente... as exigências são bem menores...v.g. o Q.I. da concorrência não é tão elevado, não é exigido proficiência em inglês...tampouco em português...quiça ter sentado em banco escolar...!); o "boom" de faculdades/cursos de Direito pelo país à fora (...daqui a pouco seremos 200 milhões "com anel de dotô"...!); de qualidade duvidosa; somado as dificuldades dos egressos (vítimas!) em obter aprovação no exame da Ordem dos Advogados do Brasil(OAB), que fecha as portas para muitos ao ingresso no funcionalismo público (via concursos do Poder Judiciário; em âmbito federal e estadual); que exige tempo mínimo de atividade laboral; e consequentemente registro na instituição?!

Gustavo disse...

O 1° colocado do último concurso fez um documento de 100 páginas dando dicas e mais dicas sobre a preparação.

É estarrecedor... As dicas são extremamente pragmáticas quanto ao estudo para o certame. O autor, com todo mérito, sabe bastante sobre toda a estratégia de preparação. O que lamento é que o MRE não faz mais questão de candidatos de alta bagagem cultural, com livros e mais livros lidos ao longo do tempo. Sabendo o que mais cai nas provas, está valendo a vaga.

Com treinamento de questões que vêm caindo todos os anos mudando somente a forma, faz-se uma excelente prova.

Entre as dicas está a de não ler Gilberto Freire, por exemplo, pois este autor não cai diretamente. Um resumo de internet é indicado no lugar do clássico.

Todos os méritos ao pole position e sua cordialidade com os demais candidatos. O problema está com o MRE mesmo.

Daqui a pouco quem elaborará as provas serão as "saúvas freirianas" (do Paulo, é claro) lotadas no MEC, como diz o professor Paulo Roberto. Daí os candidatos só lerão esquerdismos de toda sorte...

Lamentável.

André disse...

Olá Prof. Paulo,

gostaria de saber qual em sua opinião é o melhor centro para estudo de Relações Internacionais. A USP tem um renome excepcional, mas a área ainda é nova e sofre com alguns problemas de infraestrutura. A UnB é a de maior tradição no país em RI e fica localizada em Brasília o que, talvez, seja um local privilegiado para quem pretende trabalhar na área. Caso seja de seu conhecimento você poderia, mais uma vez, ajudar esclarecendo os pontos fortes e fracos que enxerga em cada uma?

Grande abraço!
André P.

Paulo Roberto de Almeida disse...

Andre,
Minha opinião pode não ser bem informada, pois, afinal de contas, nunca fiz graduação em RI para poder fazer alguma comparação válida, nunca dei aulas em graduação de RI, nem na UnB (onde estive no departamento de Sociologia, apenas), apenas participando de seminários, na UnB e na USP, e de bancas de mestrado ou doutoramento na UnB, com algum contato episódico com alunos das duas graduações.
Não sei se o renome da USP -- já bastante fragilizado pelos maconheiros e esquerdistas malucos da Fefelech -- alcança também o curso de RI, que na verdade funciona na FEA, onde o ambiente é um pouco melhor do que naqueles ambientes poluídos das Ciências Sociais, mas entendo que o curso apresente algumas qualidades, a despeito de ser, como em vários outros casos, também, uma assemblagem de quatro vertentes das humanidades, com algumas opcionais de valor mais para o final do curso.
O da UnB tem a sua reputação, mas o considero acadêmico demais, no sentido estrito da palavra, para uma abertura a profissões de mercado, servindo mais para a própria academia ou a diplomacia (ainda assim com algumas deficiências).
Minha opinião geral sobre os cursos de graduação em RI, como aliás para todas as vertentes das Humanidades nas universidades brasileiras, tanto públicas quanto privadas, não é muito alta, ou positiva. Considero que as universidades brasileiras estão em franco processo de decadência, mais ainda nas Humanidades, onde a mediocridade impera de modo assombroso, mas você pode considerar o meu julgamento muito rigoroso, claro.
Eu diria a você que o curso não faz muita diferença desde que você consinta, e tenha o projeto concreto de, ser autodidata, estudando por conta própria o que você considera relevante para sua formação e preparação para a carreira diplomática, se é essa sua intenção.
Nada substitui o estudo autônomo, aliás, muito mais válido quando você não perde tempo com professores medíocres e aulas dormitivas e aborrecidas.
Em todo caso, não faço propaganda de nenhum curso, pois não seria correto, ético, ou válido.
Siga o seu próprio caminho e construa o seu próprio saber.
Paulo Roberto de Almeida