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quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

973) Nascimento do fascismo? Talvez...

O fascismo assume várias características, entre elas o culto do líder e o abastardamento das instituições, quando não a supressão de sua independência, em nome de uma causa nacional supostamente unificadora, geralmente a serviço desse mesmo líder.
Não tenho certeza de quais seriam os elementos analíticos principais que permitem a Reinaldo Azevedo aproximar esse tipo de regime político do atual modelo brasileiro de governança, mas certamente ele tem motivos para fazê-lo.
A ler e refletir.

IGNORANTES E FASCISTÓIDES
Blog Reinaldo Azevedo (17.12.2008):

O fascismo foi o regime do "vulgo". Embora, em latim, a palavra "vulgus" também signifique povo, eu a tomo aqui no sentido de "multidão" — a massa amorfa que adota como definitivas as falsas verdades, pautadas pela ignorância e pelo preconceito. Alguém poderá objetar, com alguma razão, que o sistema não difere muito do socialismo. Na vocação totalitária, sim. Mas o fascismo tem particularidades: à diferença de seu congênere de esquerda, ele teve o apoio das massas. Os socialistas só se mantiveram – ou se mantêm, onde subsistem – no poder em razão do aparato repressivo. Os vários fascismos foram inequivocamente populares, contavam com a adesão entusiasmada do chamado "HOMEM COMUM", em nome do qual alguns "jornalistas" anunciam falar hoje em dia.
Raramente ou nunca o "homem comum" da Alemanha, da Itália, da Espanha ou de Portugal se sentiram tão representados como nos governos, respectivamente, de Hitler, Mussolini, Franco ou Salazar. No Brasil, o período de adoração a Getúlio Vargas coincide com o auge do Estado Novo — o fascismo caboclo. Em todos os casos, e também no brasileiro, o autoritarismo, ou a tirania mesmo, como expressão de uma dita "vontade" nacional, seduziu fatias do pensamento. Todos esses modelos deram à luz os "intelectuais do regime", que se dedicaram, então, à tarefa de demonstrar a identidade de propósitos entre o "líder" e o açougueiro da esquina. Para o fascismo e os fascistas, os detalhes não interessam, mas as idéias gerais — os "detalhes" pertencem à esfera dos regimes burgueses.
É evidente que vou chegar ao Brasil. Lula não é um líder fascista porque, por ora ao menos, as condições institucionais brasileiras não permitem. Mas seus homens de propaganda talham a figura do líder fascistóide, sempre pronto a dar um conforto intelectual aos açougueiros, a dizer aquelas "verdades" genéricas que tornam sábia a estupidez. E seus mistificadores cantam, então, as glórias de sua sabedoria, de seu vocabulário desassombrado, de sua camaradagem sempre hostil aos matizes e aos detalhes. Se o fascismo podia criar a sua máquina de imprensa e propaganda, censurando o jornalismo livre, os fascistóides, por ora, se contentam em criar a "imprensa do regime".
Essa imprensa oficial tem duas faces — ou, melhor, se manifesta em duas frentes: há os jornalistas da grande imprensa que cedem à patrulha e passam, então, a fazer o jogo do poder, falando, eles também, como os açougueiros do regime, e há a canalha comprada mesmo, minoridades morais que se colocam a serviço do poder porque pagas para isso. Quem é mais desprezível?
É difícil saber. Corromper-se por dinheiro é pior do que corromper-se por alinhamento ideológico ou covardia? Não tenho resposta. O regime dos açougueiros é instituído com a conivência dos dois grupos. Talvez o corrompido ideológico seja ligeiramente inferior porque, se os tontons-maCUTs realmente triunfarem, ele também acaba indo em cana — ao passo que o jornalista venal estará sempre dizendo as verdades eternas do poder. Assim, o que adere ao regime por "convicção" talvez consiga ser um tantinho mais asqueroso do que o outro: porque, além de tudo, é burro.
Não sou porta-voz de açougueiros, do tal "homem comum" – uma categoria que só existe na cabeça de gente do miolo mole. Porto a voz apenas das minhas convicções, esperanças e angústias. Mas considero que é uma questão de respeito com o telespectador saber ao menos o que diz a Constituição antes de entrevistar um presidente do Supremo Tribunal Federal.
Não vale alegar a condição de "pessoa comum" para dizer ignorâncias e irrelevâncias indignadas.

Por Reinaldo Azevedo | 17:18 | comentários (60)

2 comentários:

Anônimo disse...

Paulo, Reinaldo tem os motivos de sempre: toda a sua lógica e todo o seu conhecimento se subordinam ao antilulismo - mesmo o seu anticomunismo se subordina ao seu antilulismo, isto é, ele prefere defender uma política à esquerda a admitir uma vitória de Lula. Pode-se ouvir o que o sujeito diz, mas não dá pra acreditar nas opiniões dele.

Quanto ao direito de manifestação e de reunião de 250 pessoas desarmadas, bem...o fascismo seria exatamente proibir esse tipo de manifestação, não? Ou só são legítimas manifestações da FIESP, devidamente civilizadas e com anúncio, ops, matéria, em jornais de grande circulação?

Paulo Roberto de Almeida disse...

Glaucia,
Como voce escreveu sem e-mail de origem, apenas posso responder desta forma.
Eu não disse que concordava, ou apoiava o Reinaldo Azevedo, mas transcrevi o post dele, pois me pareceu que ele permite iniciar um bom debate sobre "fascismos" e fascismos.
Digo isto porque, como grande leitor de história, só posso ficar cada vez mais inquieto pela enorme semelhança entre os comportamentos de determinados líderes e movimentos e o itinerário dos fascismos reais, históricos, hoje enterrados nas brumas de um passado suficientemente distante para fazer as pessoas esquecerem do que é feito, efetivamente, o fascismo.
Muitos acreditam que o Chávez, apenas por xingar o imperialismo, seja um líder de esquerda, quando ele é, basicamente, um fascista.
Se formos analisar a história veremos que Mussolini, em 1922, copiou Lênin (1917-18), e por sua vez foi copiado por Hitler (1933). Todos esses regimes são totalitários, e começaram justamente por proclamar a soberania do povo, sob a liderança de uma personalidade carismática, e acabaram caindo no totalitarismo puro e simples.
Determinados movimentos ditos sociais são fascistas quando eles acham que podem ocupar prédios públicos e privados em nome de determinadas causas sociais e vociferam a sua vontade por meios extra-legais, muitas vezes violentos, com depredação, intimidação e ameaças. Isso é "camisas negras" do Mussolini, isso é proto-fascismo.
Não tenho nenhuma dúvida quanto a isso.
O MST não tem absolutamente nada a ver com reforma agrária: é um partido politico neo-bolchevique, que acredita estar em 1917. Já teria tomado o poder, se pudesse, e teria fuzilado a burguesia, os latifundiários, estatizado os meios de produção e nacionalizado os meios de comunicação. Isso não é nemsocialismo. Isso tem um nome muito claro. Isso se chama FASCISMO!