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segunda-feira, 7 de maio de 2007

726) America Latina: para trás, a toda velocidade...

Pode piorar muito
por Odemiro Fonseca
Instituto Millenium, Quarta-feira, 2 de Maio de 2007
neste link

A América Latina é uma aberração. É a única parte do mundo ocidental com consistente história de pobreza. Mas a Argentina e a Venezuela são casos especiais. Tinham se desgarrado e estavam entre os países ricos do mundo algumas gerações atrás.

Já em 1880 a Argentina equiparava-se aos ricos europeus. Entre 1915-45, somente EUA e Inglaterra, tinham o PIB e PIB per capita (combinados) maiores do que a Argentina. Juan Alberdi e seu grupo gravaram a tradição liberal clássica na Constituição de 1853 e o resultado foi espetacular. A Argentina se tornou o rico centro econômico e cultural da América Latina, com povo educado, sociedade aberta e democracia.

No período 1945-75 o PIB per capita da Venezuela sempre foi muito maior do que os da Itália, Noruega, Irlanda e Espanha. De 55 a 75, a inflação foi a mais baixa do mundo e o salário real cresceu todos os anos. A Venezuela era democracia estável. Mas a partir de 74 foram estatizados o petróleo, a mineração, a energia elétrica e as telecomunicações. O BC independente foi extinto. Proibiu-se às empresas estrangeiras vender alimentos e estabeleceu-se completo controle das importações. Seguiram-se controles de preços, crises hiper-inflacionárias e políticas. Hoje o PIB per capita (ppp) da Venezuela é sete vezes menor do que o da Noruega, seis do que o da Irlanda e cinco do que os da Itália e Espanha. (A. Maddison, B. Mundial, L. Ball)

Já vimos grande parte deste filme. Mas a Argentina e a Venezuela são quase um mistério. Depois de ricos, optaram pelo declínio econômico, ditaduras e corrupção endêmica. Porque nossa perene opção pela pobreza na América Latina?

Usando a imagem de M. Aguinis, nosso êthos abriga “um confronto entre o conquistador e o indígena”, que seria a causa da baixa auto-estima e precária identidade latino-americana, que criou o sentimento de atraso e de marginalidade histórica com relação ao Ocidente. Seria a causa também da nossa constante expectativa com relação ao futuro e da necessidade de saltar etapas. A tal “ocidental incompleto” (D. Magnoli), fundiu-se o mercantilista (a riqueza é natural), o patrimonialista ibérico (primeiro os meus) e o nacionalista autárquico (não precisamos de ninguém). Agregou-se o positivista tecnocrático e militar e o marxista vulgar dos movimentos sindicais e intelectuais com seus dogmas de exploração e luta de classes. Estava pronto o teórico do comércio injusto e das nossas dependências periféricas ao ancestral ocidental, rico, central e de olhar complacente. Novas economias e filosofias de libertação (pós-colonial) invadiram nossas academias e foram usadas como ferramentas ideológicas por antiga figura da América espanhola – o caudilho – agora travestido de novo libertador, nacionalista, populista – pois precisa de movimentos de massas - e ungido pelas novas teorias. A Argentina introduziu os ditadores populistas, o capitalismo monopolista de estado e o Estado assistencialista “macunaímico”. Fez um retorno seguro para o nosso “Terceiro Mundo Ocidental”(ib.). A Venezuela voltou para nós pelo mesmo caminho, mais tarde e de maneira mais abrupta.

Na análise de Douglass North “ a eficiência (econômica) adaptativa exige estrutura institucional que, na onipresença da incerteza, permita o processo decisório ser por tentativa e erro. E tal estrutura exige crenças que permitam experimentação e o abandono do erro. A União Soviética representa a antítese de tal abordagem”. A América Latina também representa tal antítese.

É assustador como nossas crenças podem piorar o nosso atraso. E o populismo tem recrudescido no Brasil. O primeiro governo de Lula teve uma positiva agenda microeconômica de reformas institucionais. Nada disso se vê agora. Com relação às reformas maiores – previdência, trabalhista, tributária – a conversa é tatibitate. O que se vê é maior esforço em propaganda estatal, entrincheiramento de interesses especiais e a formação de uma república sindical em concubinato com um estado gastador. As vítimas serão as de sempre - a democracia e a prosperidade. Por aqui ainda não caiu a ficha das tragédias da Argentina e Venezuela.

6 comentários:

Tiago Albineli Motta disse...

As experiencias de Argentina e Venezuela deveriam servir de contra-exemplo para nosso país.

Anônimo disse...

É POSSível que não disponha eu de adequada informação histórica. O que me intriga é o seguinte: Se a Argentina era tão rica assim, de onde saíram as legiões paupérrimas que, mais tarde, foram fermento para a demagogia que resultou no peronismo? A noção de riqueza e prosperidade desenvolvida pelos articulistas não será aquela que admite a existência de massas miseráveis sustentando a prosperidade de capitalistas exploradores e de governos gastadores, externamente ostentado riqueza e poder militar e, internamente, convivendo com vasto proletariado, na prática sem garantia, sequer, de subsistência.
Será esta a "riqueza" da qual estamos falando?
Longe de mim considerar-me um socialista.
Lembremo-nos da "grandeza" da Grâ-Bretanha imperial, cuja Londres, como cartão de visita, comportava vastíssimas favelas. O tema incomodava tanto que o autor de Oliver Twist foi pressionado pelos editores a conseguir um final feliz para seu protagonista.

Maria do Espírito Santo disse...

Pelo que eu pude entender do excelente texto (deixa espaço para o leitor, por si mesmo, pescar o entredito nas entrelinhas...) há uma causa comum, arquetípica, para esse "retorno veloz" à periferia mundial e essa causa primeira, fundante, essencial, se chama controle estatal da economia. Como costuma, às vezes, dizer o dono do blog, ponto. E como o autor do texto está falando da América Latina, eu sinceramente não entendi o que foi que as favelas de Londres vieram fazer aqui e muito menos o happy end de Oliver Twist... Oliver Twist era venezuelano ou argentino? Quando se faz uma tese é fundamental que ela tenha o famoso "recorte"; quando se escreve sobre um determinado tema, lá vem de novo a necessidade do recorte. O único texto que pode, em princípio, sair misturando alhos com bugalhos é o texto literário, e mesmo assim, o autor tem que ter um baita know how senão o texto não vai prestar. Ora, o brilhante autor alvo desse comentário, já fez um recorte amplo, de difícil abordagem, tomando como tema a América Latina e aí me vem um louco falar de favelas britânicas e de Oliver Twist?! Daqui a pouco a culpa do Atlético Mineiro ter sido rebaixado no campeonato do ano passado vai parar lá nos Jogos Olímpicos da Grécia antiga...

Anônimo disse...

Oliver Twist era miserável. Para ser miserável, não precisa ser venezuelano nem argentino. Basta ser miserável, que seu exemplo torna-se atemporal e cosmopolita. Lembrem-se do exemplo recente, oferecido pelos flagelados de N.Orleãns, nos Estados Unidos. Se Venezuela e Argentina eram tão ricas assim, e um exemplo de prosperidade,de onde sairam as legiões de miseráveis que foram fermento e massa de manobra para a demagogia seguida de intervencionismo estatal, que se desenvolveu nas décadas seguintes?
LOUCO é quem nega que o liberalismo economico postulado pela dna. Maria, na medida em que gera a prosperidade de poucos e a privação de muitos, carrega o embrião de sua própria extinção.
Lamentavelmente, dn.a. Maria evitou o âmago da questão que propus.
Talvez a "culpa" pelo rebaixamento do Atlético tenha sido mesmo a falta de observância de disciplina olímpica.
HELIO SANTOS ROCHA

Anônimo disse...

Os comentários que postei não foram incluídos na página.
Não importa Oliver Twist fosse Venezuelano ou Argentino. Era miserável. Atemporal e cosmopolita, portanto. A sr.a. Maria do Espírito do Santo fugiu do ponto nodal do cometário anteriormente postado; Se Venezuela e Argentina eram tão ricas assim, de onde saíram as legiões de miseráveis que foram fermento e massa de manobra para a demagogia, ditaduras e intervencionismo estatal subsequentes? O liberalismo econômico pregado pela ilustre dr.a. é aquele que considera riqueza a prosperidade de poucos sobre a miséria de muitos?
HELIO SANTOS ROCHA- TEL. 021.25233829

Unknown disse...

Já se passaram quase doze anos. Parece que o "louco" venceu.