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quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
958) Brics, uma avaliacao otimista
Jornal do Brasil, 3/12/2008
(transcrito em MundoRI, neste link)
Mais do que um grupo de superpotências emergentes cujo nariz aponta para a mesma direção, os laços que unem os países que compõem o BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) tendem a se estreitar, nos próximos anos, pelo que seus integrantes apresentam de mais heterogêneo: ao mesmo tempo que são competitivos, seus modos de produção são também complementares.
A análise veio à tona no seminário “BRIC: As Potências Emergentes na Visão da Diplomacia e da Mídia” – evento organizado pelo Jornal do Brasil e pela Gazeta Mercantil que discutiu o papel que Brasil, Rússia, Índia e China desempenham na economia global.
Ao dissecar relatório recente do banco de investimentos Goldman Sachs – cujo economista Jim O'Neill foi o autor da sigla "BRIC" – o embaixador da República da Índia, B.S. Prakash, ressaltou a diversidade do modo de produção dos integrantes do grupo como fator agregador de suas relações comerciais: a China pelas manufaturas; a Índia pela excelência em prestação de serviços e desenvolvimento tecnológico; a Rússia pelas reservas de petróleo e gás natural; e o Brasil pela tradicional exportação de commodities.
“O BRIC representa algo maior, a multipolaridade. Até 89, o mundo apresentava-se bipolarizado. Entre 1990 e 2000, era dominado por uma potência. Nos últimos anos, houve a difusão do poder”, disse Prakash. “Hoje em dia há uma pluralidade de perspectivas”.
O amplo mercado consumidor interno dos quatro países – que, somados, totalizam 3 bilhões de pessoas – são identificados como principal escudo à crise econômica que abalou a confiança de investidores ao redor do globo.
Promoção
O cônsul-geral da República Popular da China, Li Baojun, destacou que o BRIC é uma força de correlação importante no atual cenário. Segundo o diplomata chinês, os quatro países têm, juntos, 42% da população global, e enorme volume de recursos estratégicos de mercado.
“O papel das nações integrantes do grupo é fundamental para a promoção dos países emergentes”, acentuou Baojun. “Esses quatro países têm também grande importância geopolítica na resolução de conflitos, além de procurar estabelecer o diálogo norte-sul e as negociações sul-sul”.
Segundo o cônsul, entre 2000 e 2007, a contribuição dos países do BRIC alcançou a marca de 50% da economia global. Sobre as trocas comerciais entre Brasil e China, Baojun anunciou que a soma pode subir de US$ 32 bilhões para até US$ 40 bilhões.
O diretor do Departamento de Organismos Internacionais do Ministério das Relações Exteriores, ministro Carlos Sérgio Duarte, ressaltou que, em 2035, o Produto Interno Bruto (PIB) do BRIC deve ultrapassar o do G7 (grupo dos sete países mais ricos do mundo) e dos EUA.
“O grupo tem um grande potencial e representa uma nova multipolaridade na ordem global”, analisou o ministro, citando tamanho do território, população e PIB como traços comuns.
Participaram ainda o CEO da Companhia Brasileira de Multimídia (CBM), Marcos Troyjo, o diretor de Projetos Editorias do JB, Pedro Nonato, o representante da CBM para a Federação Russa, Aleksander Medvedovsky, o presidente da Câmara de Comércio Brasil-China, Charles Tang, o diretor-executivo da Rossiijskaya Gazeta, de Moscou, Eugene Abov, o CEO do The Jai Group, Rakesh Vaidyanatahan, o consultor da Presidência da Petrobras, José Carlos Vidal, o cônsul-geral da Rússia, Alexey Labetskiy. O evento contou com patrocínio da Petrobras e do governo federal.
Produção de petróleo do Brasil superará a da Rússia
Em 2014, ano em que o Brasil sediará a Copa do Mundo de futebol, o país já poderá ter ultrapassado a Rússia, um dos maiores produtores de petróleo do planeta. A previsão é do consultor da Presidência da Petrobras, José Carlos Vidal, um dos palestrantes do seminário promovido pelo JB.
Baseando-se em dados de 2007, o especialista sublinhou que, graças à descoberta do pré-sal, as reservas provadas de petróleo do Brasil superarão os 79,4 bilhões de barris produzidos pelos russos no ano passado.
“Não sabemos precisar qual será a produção, mas aquilo ali é uma imensidão”, vaticinou Vidal, sem, no entanto, arriscar uma estimativa.
Entre os quatro países integrantes do BRIC, em 2007, o Brasil aparecia à frente apenas da Índia, com 12,7 bilhões de barris produzidos, contra os 5,5 dos indianos. A China é a segunda colocada com a produção de 15,5 milhões de barris.
O consultor da Petrobras enxerga potencial de cooperação do Brasil com os demais integrantes do BRIC em, pelo menos, outras cinco esferas: produção de biocombustíveis, como etanol e biodiesel; eficiência energética no combate ao desperdício; exploração e produção de petróleo e gás natural em águas profundas; captura e estocagem de carbono; e na universalização do acesso à energia elétrica.
“A cooperação é o ingrediente para aumentar as possibilidades de crescimento sustentável, principalmente nas condições do fundamentalismo de mercado”, assinalou Vidal. “É preciso adotar um paradigma de crescimento econômico diferente do modelo predador que nos conduziu à crise atual”.
Parceria
Em visita ao Brasil, Medvedev passou pela Petrobras junto com empresários brasileiros e russos, com quem conversou sobre desenvolvimento de projetos conjuntos na área de energia. Está previsto, para início do ano que vem a abertura de um escritório da Gazprom, no Rio.
Também diretor da petrolífera estatal russa, Medvedev deixou claro que a empresa tem interesse em firmar parcerias com a Petrobras na exploração e produção de petróleo no Brasil - destacando o peso que o país terá futuramente no cenário energético mundial. Atualmente, o lucro da Gazprom ultrapassa o dobro do da petrolífera brasileira: são US$ 25,7 bilhões contra US$ 11,03 bilhões.
Sigla começa a ganhar ares que vão além de fórum econômico
O que até então se tratava de uma sigla que sugeria um fórum econômico comum começa a tornar contornos mais rígidos e concretos, visando a parcerias de trocas efetivas e defensoras de interesses comuns.
Ainda definindo como serão amarradas as ligações, os países emergentes que compõem o BRIC voltam-se para seu universo em comum para impulsionar crescimento e multilateralismo global.
“Não somos, definitivamente, inimigos”, analisa Eugene Abov, diretor-executivo da Rossiijskaya Gazeta, de Moscou. “Mas, sem dúvida, seremos grandes competidores no futuro. E temos a responsabilidade de lidar com a crise econômica à frente. O peso dos Estados Unidos, certamente, será menor. E o papel dos BRICs, maior. O equilíbrio da balança mundial será dado entre os EUA e os BRICs”.
Ainda que não possam ser identificados por traços históricos, ideológicos ou culturais comuns, as quatro nações têm características de convergência como contingente populacional, base territorial grande, recursos naturais e "certo sentimento de distanciamento entre o potencial e a realidade", observa o ministro Carlos Sérgio Duarte, do Ministério das Relações Exteriores.
“Interesses comuns como estratégicos, por uma nova ordem multipolar; econômicos, com um sistema comercial aberto e não protecionista; e relativos à diversidade cultural e étnica, no entanto, serão fundamentais na união dos quatro”, avalia Duarte.
Depois da reunião de chanceleres, em maio, em Ecaterimburgo, na Rússia, e da de ministros da Fazenda, no mês passado, em São Paulo, o convite do presidente russo, Dmitri Medvedev, para a primeira cúpula de chefes de Estado, prevista para março, em Moscou, é passo definitivo para a concretização do grupo emergente.
Intercâmbio
O cônsul-geral da Rússia, Alexey Labetskiy, lembra, no entanto, a necessidade em expandir a convergência além dos campos econômicos e políticos:
“Os últimos acontecimentos provam que um sistema baseado em foco único não funciona”, alertou. “Para mudar isso, são necessários laços humanos. É preciso ir além da imagem que russos têm do Brasil: Copacabana e Cristo; e da que brasileiros têm da Rússia: vodca e urso”.
Neste sentido, Abov acredita num papel indispensável à mídia: “O intercâmbio midiático funciona como catalisador das relações entre esses países. Ajudará com que os países se conheçam e nutram mais interesses culturais, econômicos e políticos uns pelos outros”.
Fred Raposo e Marsílea Gombata
Enviado pelo Jornal do Brasil, Rio de Janeiro.
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Por fim, permito-me informar que um trabalho analítico meu sobre os Brics e o Brasil deverá estar sendo publicado no próximo número da revista Inteligência, cujo conteúdo pode ser examinado neste link.
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