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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

BRICS: solucoes pacificas, por favor, somos pelo dialogo...

Primeiro o artigo:

Ser radical é tomar as coisas
Celso Amorim
Carta Capital, 25 de abril de 2011

A Velha Ordem está morrendo. Viva a Nova! Já não será possível que um grupo de potências ocidentais dite a vontade do mundo.

Os líderes (no caso do Brasil, a líder) dos cinco países emergentes que, com a adesão da África do Sul, hoje compõem os BRICS reuniram-se em Sanya, na China, em 14 de abril último. A entrada da África do Sul é bem-vinda por trazer a África para esse grupo, cuja crescente importância no cenário internacional já não é mais contestada. Evidentemente, os pessimistas profissionais continuam a apontar diferenças de interesses entre os membros dos BRICS, traduzindo, em verdade, seu desconforto com a criação desse grande espaço de cooperação entre países até há pouco considerados subdesenvolvidos.
O mundo assiste à ascensão dos BRICS com um misto de esperança (de dividir encargos) e temor (de compartilhar decisões). Com o surgimento dos BRICS, chega ao fim a época em que -duas ou três potências ocidentais, membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas, podiam reunir-se numa sala e sair de lá falando em nome da “comunidade internacional”.
Tive oportunidade de participar dos primeiros movimentos que deram origem ao nascimento dos BRIC (então sem o “S”). Ou para usar uma terminologia que tomo emprestada da filosofia, da passagem dos BRIC de uma realidade “em si”, identificada pelo analista de mercado Jim O’Neill, para uma realidade “para si”. Foram necessários quatro ou cinco anos para que esses países assumissem sua identidade como grupo. O primeiro passo nesse sentido foi o convite do ministro do Exterior russo, Sergei Lavrov, para que os chanceleres dos quatro países se reunissem à margem da Assembleia Geral da ONU. Foi um encontro pouco estruturado. Interação mesmo, se é que houve, ficou restrita ao ministro russo e a mim.
No ano seguinte, tomei a iniciativa de convidar meus colegas para um almoço de trabalho na residência oficial da nossa representante permanente junto à ONU, Maria Luiza Viotti. Foi durante esse encontro que se tomou a decisão, inicialmente vista com certa reserva pela China, de convocar reunião a ser realizada em um dos países – e não como mero apêndice da pesada agenda dos ministros durante a Assembleia Geral. Assim, em maio de 2008, realizou-se a primeira reunião formal dos BRIC, na fria cidade russa de Ekaterinbrugo, no limite da Europa com a Ásia, com direito a declaração final e tudo o mais, ainda em nível de ministros. No ano seguinte, teve lugar, também na Rússia, a primeira cúpula de líderes. Antes disso, houve a tentativa, que acabou limitada a uma foto, de um encontro dos quatro, à margem da reunião do G-8 com alguns países em desenvolvimento, no Japão. Em 2010, ocorreu a Cúpula de Brasília, que quase não mereceu -atenção da mídia -brasileira, mas que motivou um documentário da tevê franco-alemã, a ARTE. E agora tivemos a Cúpula de Sanya, na China
E o que se nota ao longo desse processo? Primeiro, obviamente, a consolidação do grupo. Quando o Brasil propôs sediar a reunião do ano passado, a oferta foi aceita quase como um gesto de cortesia para com o presidente Lula, já que se tratava do final do seu mandato. Agora, sem que nada equivalente esteja ocorrendo, já se fixou a próxima cúpula para o ano que vem na Índia. Em suma, os líderes dos BRICS já não têm dúvidas sobre a importância de se reunir para discutir a cooperação entre eles e temas de interesse global, das finanças ao comércio, da energia à mudança do clima. Mais significativo, vencendo uma inibição que se fazia notar, sobretudo da parte da China, não hesitaram em tratar de questões relativas à paz e segurança internacionais. Em relação à Líbia, reafirmaram o desejo de encontrar uma solução “por meios pacíficos e pelo diálogo”. De forma mais geral, referindo-se ao Oriente Médio e à África, reafirmaram que o uso da força deve ser evitado. Como assinalou o comentarista do Financial Times, Gideon Rachman (embora eu discorde de sua análise das motivações), a intervenção anglo-franco-norte-americana na Líbia talvez seja o último hurrah! do que ele chama de intervencionismo liberal. Lembrando que Brasil, Índia, Rússia e China se abstiveram da resolução que autorizou “todas as medidas necessárias” para o estabelecimento da zona de exclusão aérea e a proteção da população civil, Rachman afirma que esses países, “as potências econômicas em ascensão”, são céticas sobre tal conceito. Aliás, se o Conselho voltar a reunir-se sobre o tema, é muito provável que a África do Sul, recém-ingressada nos BRICS e tendo de levar em conta posições mais recentes da União Africana, acompanhe seus novos companheiros de grupo. Isso deixaria a coalizão que apoiou o uso da força dependente de um único voto para qualquer nova ação que deseje tomar.
Bem… quais as consequências disso tudo? É que, com reforma ou sem reforma do Conselho de Segurança, já não será mais possível, por muito tempo, que um grupo de potências ocidentais decrete qual é a vontade da comunidade internacional. Da mesma forma que já não é possível para o G-7 (o G-8, do ponto de vista econômico, é uma ficção) ditar as regras que depois restaria ao FMI, ao Banco Mundial ou à OMC implementar. É evidente que, enquanto o Conselho da ONU não for efetivamente reformado, tudo será mais complicado e as grandes potências que emergiram vitoriosas da Segunda Guerra Mundial, especialmente os Estados Unidos, continuarão a barganhar apoios de Rússia e China, mediante concessões casuísticas, como fizeram por ocasião da adoção de sanções contra o Irã. Mas a tarefa será cada vez mais difícil. O surgimento dos BRICS no formato atual constitui uma verdadeira revolução no equilíbrio mundial, que se torna mais multipolar e mais democrático. Às vezes, as revoluções (refiro-me às verdadeiras, é claro) exigem tempo para se institucionalizarem. Mas isso acaba, inevitavelmente, ocorrendo.
Article printed from CartaCapital: http://www.cartacapital.com.br
URL to article: http://www.cartacapital.com.br/destaques_carta_capital/ser-radical-e-tomar-as-coisas.

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O que o ex-ministro está dizendo, em sintese, é que, na próxima vez que o CSNU se reunir para tomar alguma decisão, qualquer decisão, do tipo que se fez em relação ao massacre anunciado por Kadafy da população de Benghazi, os Brics vão propor que a situação seja resolvida por meios pacíficos, ou seja, pelo diálogo entre um ditador truculento e uma população sem armas.
Bela posição.
Funcionou em Ruanda.
Quando decidiram intervir, já se tinham ido 500 ou 600 mil pessoas.
Provavelmente os BRICS vão se opor a qualquer pressão sobre o governo da Síria, que vai continuar matando seu próprio povo, na indiferença geral. Se o CSNU quiser adotar qualquer solução a respeito, terá de ser por "uma solucao pacífica" e por meio do "diálogo entre as partes".
Bonito isto...
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Paulo Roberto de Almeida

8 comentários:

Bernardo disse...

Todas as vezes que vejo esse tipo de ideia manifestada em artigos publicados por pessoas com significativa "visibilidade", imagino que nunca assistiram as cenas dos massacres em Ruanda.. Até quando a política externa brasileira receberá doses de anti-americanismo e anti-ocidentalismo?

Nada mais do que a partidarização do irbr.. lamentável..

Anônimo disse...

Paulo Roberto, descobri hoje o seu blog e acho muito legal! Eu tenho 16 anos e quero seguir a carreira diplomática também. Queria saber quanto tempo você levou para conseguir passar no concurso, se ele era tão concorrido como é hoje e se você dedicou-se exclusivamente ao estudo para o concurso ou trabalhava ou fazia outra atividade?

Obrigado

Paulo Roberto de Almeida disse...

Anônimo de 16 anos,
Muito bem que voce tenha decidido cedo ser diplomata, mas ja está um pouco tarde. Eu nunca tinha decidido nada até tres meses antes, mas eu estava preparado desde os sete anos de idade, quando comecei a ler sem parar, de tudo.
Portanto, estude sem parar, todos os livros do programa e mais alguns. Voce tem oito anos pela frente, mais ou menos, até conseguir entrar, assim que dá para voce ler uns 500 livros pelo menos.
Eu passei no concurso quase sem estudar e praticamente sem preparação, mas eu não sou critério para ninguém, pois como disse eu era um rato de biblioteca, e para mim foi facil.
Eu trabalhava muito quando estava estudando (2 meses antes) para o concurso.
Não sei se foi mais facil ou mais difícil do que hoje, foi diferente, pois foi concurso direto, nao vestibular para o Instituto Rio Branco.
Só tenho uma única recomendação: estude, sem parar.
Paulo Roberto de Almeida

Anônimo disse...

Acho curioso que você tenha "passado sem estudar", leia "desde os sete anos", seja um "rato de biblioteca" e... escreva tão mal nosso vernáculo.
Triste.

Paulo Roberto de Almeida disse...

Pois é Anônimo, ao contrário de você, eu tenho a coragem de assumir o que faço, o que penso, e assumo o que escrevo, como escrevo, ao contrários de certas pessoas que preferem ficar anônimas.
Se você acha que eu escrevo mal, você tem duas soluções: deixar de frequentar este blog (e parar de fazer comentários idiotas) e criar o seu próprio blog e assim exercer seus talentos literários, que devem certamente ser superiores aos meus.
Comentários anônimos desse tipo são eminentemente covardes, e eu deveria simplesmente eliminá-los.
Publico, para que os leitores saibam como existem pessoas medíocres, ressentidas, que se comprazem em atacar outros anonimamente.
Paulo Roberto de Almeida

Anônimo disse...

Caro Paulo, acho que sua posição política contrária a do megalonanico Amorim ofendeu o rapaz anônimo. Acho que vc ainda não entendeu, mas apenas a esquerda doentia tem direito a erros, de acentos a dólares na cueca, os erros são permitidos apenas a aqueles que seguem o livro em branco do "grande apedeuta"...

Anônimo disse...

Estou realmente comovido com a brilhante atuação do ex-ministro... sua notória necessidade de autoglorificação na atuação junto a esse grupo super heterogêneo de países, faz com que ele sinta a necessidade de contar seus feitos e exaltá-los ao seus leitores. (Bem... afinal ficou feio o balanço final da política externa lulista sendo cantada em prosa e verso pela mídia).

Vale lembrar: nem a União Europeia consegue consenso entre si sobre temas variados de política externa, o que dirá esse grupo de semi-pobres mais China...

Amorim, vá descansar, passear, cuidar da família. Não se preocupe em reescrever a história, em amenizar seus "grandes" feitos ao lado de seu líder supremo; aquele que você disse que era tão grande que não cabia em cargos como o de Secretário Geral da UN...

Gustavo.

Paulo Roberto de Almeida disse...

Gustavo,
Certas pessoas adotam atitudes goethianas em determinados momentos de suas vidas (não estou me referindo à melhor vertente temática da obra de Goethe, se você me entende).
Depois não conseguem mais se libertar do personagem e continuar a aprofundar a derrocada de caráter.
Depois já não ligam mais...
Uma vez no caldeirão, se acostumam com as novas companhias...
Paulo Roberto de Almeida