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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

domingo, 2 de outubro de 2011

Austeridade e "indignados": quando as pessoas vao crescer?

Recebo de um correspondente de internet a seguinte mensagem:

Pessoal
De uma mensagem que recebi ontem de terras lusas, extraí o seguinte:

A situação econômica aqui em Portugal está muito muito má. Não há emprego, empresas a fechar todos os dias, tudo muito caro,  e  o governo a tomar medidas de austeridade, atrás de medidas de austeridade. Continuam a aparecer buracos nas contas do estado, não sei aonde isto vai parar, choca-me o povo Português até agora estar a suportar isto tudo com passividade.
Na minha opinião o governo está a ir pelo caminho errado e mais facil que é aumentar imposto. Deveria reduzir a despesa do estado, têm reduzido mas muito pouco.
Depois as injustiças e a corrupção. É muito facil gerir a crise dos outros. No caso dos politicos portugueses que são bem pagos e cheios de mordomias.
Enfim, não tenho muita esperança, penso que vamos no caminho da Grecia é uma questão de tempo, a divida de Portugal é muito grande e o Pais produz muito pouco.

Seria impressão minha, ou vocês não acham que já viram algo assim, meio familiar?
Lá como cá, más fadas há.

Respondi o que segue: 

Meu caro [Fulano],
Compreendo as agruras dos nossos amigos lusitanos, mas esse tipo de reclamação subjetiva, impressionista, não tem nenhuma razão de ser.
Explico rapidamente as razões.
Em qualquer país, em quaisquer governos, de centro, de direita ou supostamente de esquerda e progressistas, "amigos do povo", os políticos fazem aquilo que sempre fizeram: gastar o dinheiro dos outros.
Político é assim: seu único objetivo é se reeleger, continuamente, e para isso prometem mundos e fundos, bondades para gregos e goianos.
Não existe nenhuma hipótese, sublinho NENHUMA, de que isso não redunde em déficit fiscal e buracos no orçamento e dívidas públicas crescentes. NAO EXISTE.
Pois bem, o que pede o colega lusitano? Fim da austeridade?
Mas ele não pensou em que antes os governos gastaram mais do que podiam, ou deviam?
E ele pede, não aumento de impostos, mas redução das despesas estatais?
Mas ele não concluiu que se trata exatamente da mesma coisa?
Não existe NADA, sublinho NADA, que o governo possa fazer de bondade, para pessoas como ele, que não tenha sido TIRADO ANTES da mesma população, pois a ÚNICA FONTE DE RENDA de um governo são os impostos, taxas e contribuições que o governo tira de empresários e trabalhadores, pessoas como ele.
Ou seja, quando ele pede políticas para isso e para aquilo, habitação, emprego, seguro desemprego, ele está convidando políticos a retirar seu dinheiro para fazer essas bondades.
Politicos e burocratas de governo, ao manipular todos esses recursos para bondades, fazem as suas bondades primeiro consigo próprios e o que sobrar vai para os ingênuos como ele que acreditam em Papai Noel.
Não adianta reclamar depois: pediu bondades estatais, tome déficit público e buraco fiscal. Depois tem de vir a austeridade, a menos de calote sobre gregos e goianos, justamente.
Quando é que as pessoas vão ficar grandes?
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Paulo R. de Almeida

Um comentário:

Eduardo Rodrigues, Rio disse...

Ótimo texto.

Como falou Roger Scruton em excelente entrevista à Veja:

1) Os arruaceiros de Londres não são pobres excluídos. São meninos mimados, sustentados pela previdência social, que se acostumaram à idéia de que têm todos os direitos e nenhuma obrigação.

http://www.olavodecarvalho.org/semana/110921dc.html

Abraço.