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segunda-feira, 9 de abril de 2012

Manifesto por um Brasil mais rico, não mais caro - Ricardo Amorim

Como não acompanho o detalhe das contas públicas, acabo por vezes perdendo informações importantes, como esta aqui: 
"No ano passado, impostos sobre importação arrecadaram mais que o Imposto de Renda Pessoa Física."
Sempre estive acostumado a um Brasil protecionista, no qual as tarifas eram tão proibitivamente elevadas, e as políticas comercial e industrial tão absurdamente esquizofrênicas, que simplesmente não importávamos nada: a taxa de nacionalização da oferta interna devia beirar os 95%, e com isso as receitas aduaneiras eram, também, ridiculamente baixas. 
Isso mudou, mas não sabia que as receitas eram maiores agora do que o próprio Imposto de Renda, o instrumento por excelência da justiça fiscal em países normais.
Mas não no Brasil, claro. Quem pretende que o Brasil seja um país normal?
Só os malucos, como eu...
Paulo Roberto de Almeida 


Manifesto por um Brasil mais rico, não um Brasil mais caro

Ricardo Amorim
Revista IstoÉ, 04/2012


Na Idade Média, o tratamento para a peste bubônica era forçar o doente a penitenciar-se com um padre. Buscava-se tratar sintomas como febre, calafrios e delírio através da graça de Deus. O resultado: um terço da população europeia foi dizimada pela peste.
De lá para cá, muito mudou, mas nem tanto assim. Vários tratamentos médicos continuam lidando exclusivamente com os sintomas e não as causas das doenças. Na economia, também.

Na história brasileira, há mais casos de tratamentos de sintomas de problemas econômicos do que episódios onde as verdadeiras razões dos desarranjos foram confrontadas.

Nesta semana, tivemos mais um. Para lidar com dificuldades da nossa indústria, o governo e o Banco Central vem adotando uma série de medidas, incluindo redução temporária de impostos para alguns subsetores, aceleração da queda da taxa de juros, adoção de restrições à entrada de capitais estrangeiros para enfraquecer nossa moeda e elevação de impostos sobre produtos importados.

Além de sujeitarem o país a eventuais retaliações comerciais, estas medidas criam um Brasil mais caro, não mais rico. Quem pagará a conta do encarecimento dos produtos importados e da redução da competição com os nacionais é você, o consumidor. Aliás, já paga. No ano passado, impostos sobre importação arrecadaram mais que o Imposto de Renda Pessoa Física. Você pagou ambos. Os primeiros, nos preços elevadíssimos praticados no Brasil e o IRPF, na fonte.

A própria indústria, beneficiária no curto prazo, acaba perdendo no longo prazo, à medida que a elevação de preços reduz o número de consumidores que podem arcar com preços mais elevados.

O governo deve, sim, adotar medidas enérgicas para elevar a competitividade do país. Para isso, precisa cortar gastos públicos excessivos e de péssima qualidade. Somos pouco competitivos e nossos preços são elevados porque, no Brasil, compramos o produto ou o serviço e pagamos junto nosso governo gastão.
Não raro, pagamos duas vezes pelo mesmo serviço. Saúde e educação são exemplos óbvios. Através de nossos impostos, pagamos os sistemas públicos, mas, devido à baixa qualidade, quem pode paga também por serviços privados.

Com menos gastos públicos, os impostos também cairiam e, com eles, os preços. Com preços menores, o consumo aumentaria e a geração de empregos também.
Sobrariam mais recursos para investimentos em infraestrutura, reduzindo custos de transporte, energia, comunicação, etc. O governo necessitaria de menos dinheiro emprestado, permitindo que a taxa de juros caísse, sem gerar desequilíbrios. Juros menores atrairiam menos capital estrangeiro, levando a uma taxa de câmbio menos apreciada.

Menos gastança governamental e impostos são a receita para um país mais rico. Mais impostos sobre produtos importados constroem apenas um país mais caro.
Nossa presidente tem reclamado do tsunami financeiro dos países ricos – que ela não controla – mas não tem atacado sistematicamente o tsunami de gastos públicos, sob seu controle.

Ricardo Amorim
Economista, apresentador do programa Manhattan Connection da Globonews e presidente da Ricam Consultoria

Um comentário:

amauri disse...

Boa tarde Paulo!
Acho que o Brasil carece de tecnologia própria nos mais diversos setores. E isto não é de fácil resolução. abs