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sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Eleicoes 2014: Aecio Neves e Eduardo Campos falam sobre politica externa...

... na revista Política Externa (vol. 23, n. 1, 2014), justamente.
E vamos ser sinceros: não são eles que falam, e sim assessores diplomáticos que escreveram as respostas por eles. Eles apenas mudaram uma coisa ou outra...
Paulo Roberto de Almeida

Entrevista

Entrevista

Revista Política Externa, em 04/08/2014 (vol. 23, n. 1, 2014)


A Revista enviou aos três principais candidatos à Presidência da República, como tem feito desde 2002, um questionário sobre temas de política externa para que a comunidade interessada neste assunto possa avaliar o que cada um pretende fazer nessa área se conseguir se eleger.

ENTREVISTA

As perguntas foram feitas a partir de sugestões colhidas junto ao Conselho Editorial. Não foi dado aos candidatos nenhum limite de espaço para as suas respostas, e elas estão reproduzidas abaixo sem nenhuma edição ou corte.
Os candidatos Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) enviaram as suas respostas no prazo de tempo que foi dado a todos. A candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT) não enviou suas respostas.

Tradicionalmente, a política externa brasileira tem sido concebida como um instrumento relevante na estratégia de desenvolvimento do país. Num mundo cada vez mais integrado e interdependente do ponto de vista econômico, qual a sua concepção desse papel nos próximos anos?

Aécio Neves: Em função do processo de globalização, o mundo está cada vez mais interconectado e afeta todos os países, ainda que de maneiras distintas. É um dado do cenário internacional contemporâneo que as mudanças e transformações alteram a dinâmica de funcionamento do sistema internacional em suas múltiplas vertentes e agendas. Entre elas: a difusão do poder e a crescente multipolaridade, o empoderamento dos indivíduos graças à revolução digital, a velocidade do acréscimo de conhecimentos que altera a competitividade das economias, o aumento da nova classe média mundial devido ao crescimento das economias emergentes, o impacto crescente das mudanças climáticas, as alterações da geopolítica energética, os desafios da sustentabilidade, o tema dos recursos escassos.
Neste contexto, a política exterior precisa ter sensibilidade estratégica e sentido de direção para transformar em oportunidades para o desenvolvimento interno aquilo que efetivamente está ao alcance de um país como o nosso, de escala continental e com ativos relevantes para outros países e para o mundo na atual conjuntura internacional.
Uma faceta desta sensibilidade é a importância que deve ser atribuída à nossa capacidade de participar e influir na governança das instâncias internacionais de decisão política, econômica, social, financeira, comercial, ambiental e de criação de conhecimento científico e tecnológico.
O Brasil historicamente teve presença proativa nas organizações e mecanismos que tratam desses temas. Essa presença deve dar-se em consonância com as nossas realidades. Precisamos contribuir para que o mundo multipolar seja um mundo multilateral dotado de estabilidade, pois o mundo multipolar por si só não é necessariamente positivo e pode trazer tensões e incertezas se não estiver no âmbito de uma moldura multilateral estabilizadora.
Para alcançar esses objetivos, a política externa num mundo interconectado e com crescente número de atores governamentais e não governamentais está sempre relacionada com os dados da política interna, como é cabível numa democracia, e com uma qualificada coordenação de todos os setores do governo. Isso requer liderança presidencial, pois é ao presidente da República que incumbe, nos termos da Constituição, a condução da política externa, e é ele que em última instância representa o país no mundo.
No exercício dessa liderança, é preciso reunir meios humanos e materiais consideráveis, e muito especialmente valer-se do conhecimento e qualificação acumulados pelo Ministério das Relações Exteriores, valorizando-o e dotando-o de recursos necessários, o que não tem ocorrido no governo de Dilma Rousseff.
Nestes quase quatro anos de sua administração, a política exterior tem-se caracterizado pela inapetência, pela timidez e pela leniência. A presidente demonstra falta de interesse em entender as grandes transformações por que passa o mundo. Ela tem dificuldade de compreender a natureza dos mecanismos de decisão e os tempos próprios da atuação diplomática. Diplomacia é processo, e os resultados devem importar mais do que os prazos. Nesse campo, a impaciência é inimiga da eficácia.
Há falta de visão estratégica e mesmo tática do que deve ser a política externa do Brasil a caminho da terceira década do século XXI. Como situar-nos no mundo? O que queremos para a América do Sul? Quais serão os principais vetores para o nosso comércio exterior? Como vamos ampliar a capacitação científica e tecnológica que ainda nos falta? Nenhuma resposta para essas questões vitais parece configurar-se no dia a dia da ação diplomática do Brasil na atual gestão.
Essa falta de perspectiva tem gerado a timidez de iniciativas e a gestão meramente burocrática dos assuntos externos. Vamos simplesmente atuando rotineiramente no Mercosul, na Unasul, nos BRICS, na relação com os EUA e os parceiros europeus, no desequilíbrio das trocas comerciais com a China.
À inapetência e à timidez soma-se a leniência, fundada em afinidades político-ideológicas. É o que vimos em casos como os entraves e as restrições que a Argentina impôs aos fluxos de mercadorias, nas ações do governo boliviano contra interesses de empresas brasileiras, nas graves tensões políticas e ameaças aos preceitos democráticos na Venezuela.
Meu partido, o PSDB, em documento do início deste ano que embasará minha administração, já definiu almejar “um país que participe ativamente da comunidade internacional, negociando com todos os continentes”, tendo como ponto de partida interno, “um país justo, inovador, sustentável, produtivo, integrado e moderno”, que valorize “a sua rica diversidade cultural”. As condições internas do país são fundamentais para lhe dar uma política externa efetiva.
A perda da confiança interna no governo atual, que se evidencia todos os dias, tem reflexos também na confiança externa, e isso ajuda fragilizar a posição brasileira no mundo. Eu tenho experiência em gestão e coordenação, como provei com a qualidade de minha administração como presidente da Câmara dos Deputados e como governador de Minas Gerais. Tenho o senso de direção para o Brasil no mundo. Tenho condições de recuperar a confiança dos brasileiros em seu governo e, com isso, assegurar as condições para que o país tenha uma presença mais ativa na gestão da ordem mundial e se beneficie internamente dos resultados positivos que se obtiver dessa sua atuação.
Eduardo Campos: É hora de revalidar a política externa como política de Estado destinada à promoção dos interesses e valores nacionais. Por lidar com aspirações permanentes do país e implicar compromissos de Estado, a política externa não pode ser refém de facções ou agrupamentos políticos. Deve refletir, sempre que possível, convergências sociais e multipartidárias. Surpreende o recurso nos últimos anos a “diplomacias paralelas”. A política externa é aquela definida pelo presidente da República e executada pelos agentes do Estado, sob amparo do texto constitucional. O marco ideológico da política externa são os valores enunciados no artigo 4º da Constituição Federal.
Como ocorreu em momentos decisivos de nossa história, a política externa deve estar a serviço do desenvolvimento do país. Isto passa por uma compreensão acurada e isenta da cena internacional. Já se nota que a crise financeira provocou ajustes importantes na gestão das principais economias, mas não trouxe o anunciado reordenamento do poder econômico. Os EUA dão sinais de reativação de sua capacidade produtiva, com uma reorientação gradual da matriz energética. A China sofre diminuição em sua taxa de crescimento, ainda expressiva, e passa a privilegiar o consumo, no lugar do investimento.
Afastado o risco de colapso de sua franja mediterrânea, a União Europeia vê-se defrontada com o árduo desafio da integração fiscal. O Japão persiste na busca de fórmulas para romper uma década e meia de estagnação, com vultosos pacotes de estímulo à atividade produtiva, à custa de desvalorização do iene. A redução da liquidez internacional afeta os países emergentes com intensidades que variam segundo o contexto doméstico. A Índia e a Turquia são penalizadas por elevados déficits em conta corrente.
Também repercute a deterioração fiscal da economia russa, malgrado suas elevadas reservas. O México aposta em reformas econômicas há muito devidas e na simbiose com a economia norte-americana. Enfim, não se configurou a propalada decadência do Ocidente e uma ascensão definitiva dos países emergentes. A sorte dos emergentes parece depender menos de profecias autorrealizáveis do que de políticas acertadas em produtividade, inovação, participação em cadeias produtivas e acordos seletivos de comércio.
O Brasil não perdeu o bonde da história. Em muitos aspectos, reuniu trunfos para uma inserção positiva na ordem em construção. Conquistou a estabilidade monetária; comprometeu-se com a responsabilidade fiscal; logrou níveis altos de produtividade no campo; reduziu sua vulnerabilidade externa com o acúmulo de reservas; ampliou sobremaneira o mercado interno; adotou padrões normativos de sustentabilidade; universalizou o acesso à escola e deu impulso à pesquisa científica em centros de excelência. Mas é preocupante que se tenha descurado de uma inserção positiva nas relações econômicas internacionais.
Não se justifica a reticência em negociar novas frentes para o comércio de nossos bens e serviços. A valorização das tratativas na Organização Mundial do Comércio é plenamente compatível com a negociação de acordos regionais e bilaterais. Se a adoção de regras universais é crucial para a simetria no comércio entre os povos, é inadiável a necessidade de garantir condições favoráveis de acesso a mercados regionais em um cenário volátil como o atual, onde os principais atores estão empenhados na acomodação recíproca de seus interesses.
Basta lembrar os entendimentos em curso entre os EUA e a União Europeia para a criação da Parceria Transatlântica em Comércio e Investimento, que definirão diretrizes em barreiras não tarifárias e regras de comércio incontornáveis para quem pretenda exportar bens e serviços para dois dos três principais polos da economia internacional. Igualmente sugestivos são os passos adotados para a viabilização de uma zona de livre comércio entre a Ásia e as Américas, com o envolvimento de alguns países latino-americanos, como Chile, Peru, Colômbia e México, os quais, por sua vez, criam e impulsionam a Aliança para o Pacífico, com propósitos ambiciosos em serviços, circulação de capitais e promoção de investimentos.
É importante promover a discussão com o empresariado e a academia sobre como o Brasil deve reagir ao impacto sobre o comércio internacional da formação crescente de cadeias produtivas em escala global, que estão alterando os padrões tradicionais de transação de bens e serviços, sobretudo aqueles de maior valor agregado. O intercâmbio de partes, componentes e serviços ocorre de modo cada vez mais intenso no interior de redes transnacionais de inovação, produção e comercialização.
A regulamentação desse processo tem sido realizada por acordos regionais e bilaterais envolvendo os Estados Unidos, a Europa e alguns países asiáticos e latino-americanos. Comportam regras que costumam ir além do previsto nas normas da OMC sobre propriedade intelectual, garantia de investimento, serviços, movimentos de capital e cooperação aduaneira. Se, por um lado, o reclame por especialização em alguma etapa do processo produtivo pode suscitar reservas em países emergentes com um parque industrial diversificado como Brasil, China, Índia e Rússia, é presente, por outro lado, o risco de marginalização dos fluxos de comércio tecnologicamente mais inovadores da atualidade. É plausível supor que, com a densidade tecnológica de que já dispõe e o grau de internacionalização alcançado por suas empresas, o Brasil possa ajustar-se de forma vantajosa ao novo modelo, valorizando as cadeias de valor sustentáveis e “decabornizantes”.

A América do Sul tem apresentado recentemente uma divisão ideológica e de estratégias nacionais para o comércio internacional como fazia muito tempo não se observava. Como o Brasil deve agir nos próximos anos para lidar com os seus vizinhos, em especial no que se refere às alternativas diversas para o comércio escolhidas pelo Mercosul e pela Aliança do Pacífico?

Aécio: O Brasil tem necessariamente um papel preponderante e fundamental nos processos de integração na América do Sul e em sua interação com outros grandes blocos regionais ou extrarregionais. A construção de um espaço integrado e estável na América do Sul demanda do Brasil um trabalho permanente de diálogo e aproximação, e não de criação de falsos antagonismos. Não estamos numa corrida por modelos excludentes e devemos valorizar as dimensões do Atlântico e do Pacífico de nossa região. O Brasil é ator fundamental nesse processo e a diplomacia brasileira deve construir pontes entre as duas vertentes de nossa região e entre seus diferentes modelos de integração.
Isso requererá, em primeiro lugar, um reexame profundo de nossa política comercial e do Mercosul, que passa por uma crise de identidade. A sua vocação comercial, inibida por crises de países importantes como a Argentina e a Venezuela, foi sendo substituída por uma ênfase em outros setores, o que não é indesejável em si, mas que não convém que se torne prioritária. O bloco tem tido dificuldades em relacionar-se e interagir com outros países ou grupo de países, contrariando o que é hoje uma tendência mundial.
É preciso um reexame urgente do processo de integração, para recalibrá-lo e readaptá-lo. Não se trata de desfigurar o Mercosul, mas de fortalecê-lo para de novo torná-lo apto a engajar-se em negociações efetivas com outros parceiros e prepará-lo para uma maior abertura comercial. E o Brasil deve liderar esse processo, por ter a maior e mais diversificada economia do bloco.
A Aliança do Pacífico é o novo dado na equação integradora da região. Vê-la como agrupamento artificial, como ameaça ou bloco rival seria erro de consequências duradouras para a região como um todo. É preciso avaliar com serenidade as possibilidades de aproximação crescente entre os dois blocos. O Chile, a Colômbia e o Peru são associados ao Mercosul e já é importante o comércio que têm com os demais países do bloco, o que torna natural essa aproximação. E os países do Mercosul poderão beneficiar-se da abertura que os países da Aliança têm para a região Ásia-Pacífico, hoje motor de crescimento da economia mundial. A Aliança do Pacífico e o Mercosul são complementares e os países-membros dos dois blocos podem caminhar para a formação de uma área de livre comércio.
Eduardo: O Mercosul não tem cumprido bem o desígnio original de constituir uma modalidade de “regionalismo aberto”. A expansão significativa do comércio intrarregional não foi acompanhada de empenho negociador do bloco em aumentar suas transações com outras regiões. Salvo um par de acordos de livre comércio com mercados inexpressivos, a tônica foi o imobilismo. As tratativas iniciadas há mais de uma década com vistas a uma associação com a União Europeia permanecem inconclusas. Não se chegou sequer a testar a real disposição da UE em reduzir seu protecionismo agrícola por conta da relutância da Argentina em convergir com os demais membros quanto aos produtos a serem liberalizados e ao período de desgravação. Por pressão da opinião pública e a aproximação das eleições de outubro, o governo brasileiro somente há pouco começou a cobrar com a ênfase devida uma atitude negociadora mais construtiva por parte das autoridades argentinas.
É importante ter presente que a hipótese de uma negociação em “dupla velocidade” não é vedada pelo Tratado de Assunção ou por qualquer dos acordos posteriores firmados entre as Partes. A exigência de uma negociação conjunta consta apenas de uma resolução do Conselho de Ministros das Relações Exteriores, não sujeita à ratificação pelos parlamentos nacionais e, dessa forma, passível de pronta revogação. Como principal economia do bloco, cabe ao Brasil tomar a iniciativa de propor as mudanças de rumo necessárias para que o Mercosul converta-se em fator de desenvolvimento e ator dinâmico do comércio internacional.
Como parte do processo de internacionalização das empresas brasileiras, cujo estímulo pelo Estado deve ser condicionado à obediência de padrões sustentáveis, observou-se nos últimos anos um aumento notável de nossa presença empresarial na América do Sul. Cabe zelar para que a participação de grupos brasileiros na construção da infraestrutura regional em energia, transportes e comunicações ocorra em ambiente de estabilidade de regras e respeito a contratos.
A adesão dos governos sul-americanos ao objetivo da integração física do continente deve ser traduzida em políticas de receptividade e estímulo à cooperação empresarial. Se os ganhos em redução de custos logísticos, reforço da competitividade e formação de cadeias produtivas são comuns, é exigível que se atenda à expectativa por efetiva proteção de investimentos. O governo brasileiro não pode ficar indiferente à sorte das empresas nacionais nos países do entorno, sobretudo quando atuam como parceiras do Estado na consecução de objetivos caros à política externa.

Ainda em relação à América do Sul, como o Brasil deve proceder diante das situações de crise atualmente vividas por Argentina e Venezuela?

Aécio: Um país com fronteira com dez países e com o maior território, população e PIB em sua região deve buscar um entorno politicamente estável, para o que a democracia plena, o desenvolvimento e a harmonia social são fundamentais.
Argentina e Venezuela vivem situações diferentes. No caso da Venezuela, o mais urgente é trabalhar para fortalecer e restaurar os mecanismos democráticos, que estão muito debilitados. Essa é uma tarefa primordial para os próprios venezuelanos, mas uma colaboração externa respeitosa e construtiva, aceita por todos os setores da sociedade venezuelana, pode ajudar consideravelmente. Sobretudo, se for feita com isenção, sem recriminações, aberta ao diálogo com todos, facilitando o diálogo entre todos e promovendo a defesa dos direitos essenciais das pessoas.
Ao Brasil interessa a estabilidade econômica e política de todos os países sul-americanos e vamos continuar a atuar para ampliar as condições que favoreçam esse objetivo. O Brasil deve e está habilitado para ajudar.
A estabilidade institucional e democrática da Venezuela é de nosso interesse, assim como a recuperação de sua economia. No campo econômico vai ser necessário dar maior desenvoltura ao modelo de desenvolvimento do país, assegurando os ganhos sociais, mas liberando as forças produtivas e criativas visando à modernização e à diversificação da economia venezuelana.
Quanto à Argentina, sobressaem as dificuldades econômicas, em etapa que antecede importante transição política. Vou repisar o óbvio. A Argentina é um país de importância singular para o Brasil, parceiro indispensável dos pontos de vista político, econômico-comercial, de vizinhança geográfica, ambiental, humana e social. A sua estabilidade, progresso e bem-estar nos interessam porque também contribuem para os nossos próprios objetivos nesse sentido.
Para cooperar para que a Argentina supere essas adversidades econômicas, temos que encontrar formas de aumentar o nosso comércio bilateral, auxiliar nas tratativas argentinas com organismos ou setores financeiros internacionais, como já fizemos no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, intensificar investimentos de nossas empresas em setores importantes da economia argentina, exigindo que gozem de segurança jurídica e de normas de respeito aos contratos, promover uma maior integração de cadeias produtivas, além do setor automotor.
E é sempre bom lembrar que o êxito do Mercosul se baseará numa relação econômico-comercial sólida e diversificada entre o Brasil e a Argentina.
Eduardo: A América do Sul viveu um processo quase simultâneo de redemocratização a partir dos anos 1980. Não é por acaso que a região acumulou um acervo admirável de compromissos com a democracia como condição para o pertencimento aos esforços regionais de integração. Podem ser enumerados o Protocolo de Ushuaia sobre o Compromisso Democrático no Mercosul (julho de 1998), a Carta Democrática Interamericana (setembro de 2001) e o Protocolo Adicional ao Tratado Constitutivo da Unasul (novembro de 2010).
Mas é preciso estar atento para que, salvaguardado o respeito ao princípio da não intervenção nos assuntos internos de outros Estados soberanos, nosso país não acabe por endossar sinais de fenômenos que podem destoar dessa tendência. Fenômenos relacionados à ressurgência de um certo populismo tem sido identificados por analistas dos mais diversos matizes, em graus diferenciados e com causas específicas, em alguns países, como a Argentina, a Bolívia, o Equador e a Venezuela.
Alguns desdobramentos desses fenômenos nem sempre têm dado mostras de assegurar o pluralismo, a alternância no poder, a independência e equilíbrio dos poderes e as liberdades públicas fundamentais, como o direito de manifestação e a liberdade de imprensa, valores caros aos compromissos democráticos que inspiram os esforços de integração da região.
É questionável se o governo brasileiro tem atuado com discernimento e responsabilidade histórica diante da saga venezuelana. Há dúvidas sobre método e conteúdo. Pelo menos três vias têm sido exploradas para o diálogo regular com as autoridades da Venezuela: o Itamaraty, a Assessoria Especial da Presidência da República e os canais partidários. Além do descrédito doméstico e internacional que essa tríplice interlocução traz para o Ministério das Relações Exteriores, com responsabilidade normativa pela execução da política externa, fica a incerteza se é de Estado ou partidária a política do Brasil para a Venezuela, que assume posições em disputas eleitorais, arrisca suscitar ressentimentos na sociedade venezuelana e cria fissuras em uma relação que, forçosamente, sobreviverá às agruras do presente.
Já o equívoco de conteúdo tem a ver com a falta de sintonia entre posições e princípios. Cometem-se gestos de indisfarçável condescendência com o déficit democrático na Venezuela, que contrariam o compromisso do Estado brasileiro com a cláusula democrática e a integração regional. O país vê-se debilitado em sua autoridade para construir pontes em um continente crescentemente fracionado por modelos antagônicos de desenvolvimento. Parece-me positiva a mobilização da diplomacia brasileira para que a Unasul modere o diálogo em Caracas entre governo e oposição. Isto pode atenuar o mal-estar causado por comunicados intempestivos e nem sempre equilibrados sobre a situação venezuelana adotados por aquele foro e pelo Mercosul.

Finalmente em relação ao subcontinente, como é possível (se considera desejável) promover a sua integração?

Aécio: A integração regional é não só desejável, mas essencial como instrumento de desenvolvimento com democracia. O Brasil só terá a ganhar com a prosperidade de seus vizinhos. Não há ilhas de prosperidade em um mundo crescentemente interligado. Além disso, a multipolaridade será construída a partir de bases regionais sólidas. O regionalismo, com suas cadeias produtivas integradas, com uma moderna infraestrutura interligando os países, com instituições e regras voltadas para a preservação da paz e a solução dos conflitos e para o aprimoramento das instituições democráticas, com esquemas de cooperação em matéria de segurança, é um dos elementos centrais do mundo multipolar.
Mas um processo de integração dessa natureza requer seriedade, regras claras a serem respeitadas por todos, instituições comunitárias sólidas. Um regionalismo de integração aprofundada, baseado em concepções compartilhadas sobre como alcançar objetivos comuns e em consonância com a realidade de nossa região e seus desafios não se constrói apenas com discurso político. Na perspectiva do Brasil, isso requer uma vocação permanente para negociação e compromisso e uma aptidão para assumir responsabilidades.
A construção de um mercado comum regional não se fará com exceções e desrespeito às regras. Nós e nossos parceiros temos que sentar-nos à mesa e encarar a realidade atual do Mercosul e decidir refunda-lo em bases sólidas e por todos respeitadas. Temos que acordar um claro caminho para a construção de um mercado comum que constitua uma sólida base para a negociação com nossos vizinhos.
Por iniciativa do presidente Fernando Henrique Cardoso, realizou-se em Brasília no ano de 2000, a Primeira Cúpula da América do Sul. Dali, surgiu um projeto importante para a região, que merece ser revitalizado, a Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana (IIRSA), que, ao propugnar a integração física do subcontinente, representa a contrapartida necessária à expansão dos mecanismos de comércio para o adensamento da competitividade da região. O objetivo dessa maior integração deve ser o de uma região mais aberta para o mundo e para as possibilidades de interação com outros grandes grupos regionais.
Eduardo: A integração do nosso subcontinente atende a razões históricas, geográficas, culturais, políticas e econômicas. Teremos sempre uma identidade sul-americana, reconhecimento que motivou o Brasil a promover a Comunidade Sul-Americana de Nações (CASA), no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, e a formalizar e desenvolver a União das Nações Sul-Americanas (Unasul), na gestão do presidente Lula. É importante que se dê continuidade ao esforço de integração continental em energia, comunicações, e transportes, assegurando, de maneira definitiva, o acesso aos portos do Pacífico.
A região continua sendo destino privilegiado de nossas exportações, inclusive as de maior valor agregado. Muito ajudaria, estou certo, articular a associação do Mercosul com a Aliança do Pacífico, inclusive para a captação recíproca de investimentos e a incorporação de empresas brasileiras nas cadeias internacionais de valor. Quanto mais integrada a região, maiores os atrativos que reunirá para a celebração de acordos bilaterais e multilaterais com outros polos importantes da economia global.
Tome-se o exemplo do largo potencial para o adensamento da nossa relação estratégica com a União Europeia. Um passo emblemático pode ser a resolução das pendências para a formalização do acordo de associação entre o Mercosul e a UE, inclusive com a admissão da possibilidade de “dupla velocidade” para países.

Qual a sua visão sobre as relações do Brasil com os EUA? Como é possível superar o incidente provocado pelas ações da NSA? É desejável expandir o comércio bilateral? Caso sim, de que maneira?

Aécio: Os EUA são um parceiro indispensável, com quem temos que construir relações maduras e positivas, baseadas no respeito mútuo e no reconhecimento dos interesses nacionais de cada um. Como superpotência remanescente e herdeiros de um mundo unipolar, os EUA têm uma capacidade de atuação à escala global e uma grande dificuldade em reconhecer os limites ao exercício do poder. Além disso, Os EUA são um dos poucos países que contribuem para a inserção do Brasil na cadeia de valor, mesmo que de maneira reduzida.
A unipolaridade declinante em que vivemos é um período complexo e instável, durante o qual os EUA terão que gradualmente ir abandonando o exercício do poder hegemônico e aceitando os limites a seu poder econômico e militar. De sua parte, os demais países com capacidade de fazê-lo devem assumir novas responsabilidades e colaborar para a superação dos focos de tensão e dos grandes problemas globais, como a mudança climática, a eliminação da pobreza e o terrorismo.
O Brasil, como principal país da América do Sul e do Atlântico Sul, áreas livres de tensão e fora dos perímetros centrais de segurança que preocupam os EUA, deve buscar com os EUA uma parceria estratégica centrada na construção de um espaço de paz, segurança e desenvolvimento em nossa região, como elemento de estabilidade em um mundo multipolar. Como a América do Sul não é uma área onde os EUA tenham interesses estratégicos importantes, nem é uma região que ameace a segurança norte-americana, e como não há competidores em busca da hegemonia no subcontinente, os EUA podem encarar a América do Sul e o Atlântico Sul como parceiros no desenvolvimento de uma forma diferente de relacionamento.
Com os EUA, temos que desenvolver uma relação adulta e sem complexos: respeito e compreensão dos interesses de cada um, diálogo entre iguais, franqueza e aceitação serena das eventuais divergências, ênfase no que pode nos aproximar são as balizas para um relacionamento produtivo, autonomia nas decisões e conformidade com os princípios que devem reger a nossa atuação diplomática, sem adesões automáticas, mas também sem confrontações desnecessárias ou irrefletidas. Há um enorme potencial que deve ser aproveitado e que não pode ser ignorado por preconceitos ou por desconfiança.
É não só possível, mas desejável acordar uma agenda positiva. Negociar com uma superpotência nunca é fácil, mas não temos com os EUA conflitos estratégicos e podemos trabalhar numa acomodação de interesses que não apenas respeite nossos objetivos, mas contribua para nosso desenvolvimento. Nossa relação hoje está muito aquém de suas potencialidades, e a retomada do crescimento nos EUA, que dá sinais de estar se consolidando, criará novas oportunidades. Somos dois dos maiores países e maiores economias nas Américas. Nossas transações comerciais podem facilmente chegar aos US$ 100 bilhões de dólares anuais, se mobilizarmos governo e empresariado na identificação de novas oportunidades de negócios, investimentos recíprocos, remoção de entraves. É significativo o fato de que os EUA são um dos maiores destinos para nossas exportações de valor agregado.
As oportunidades na área comercial não se esgotam no plano bilateral. Um dos desafios das próximas décadas será expandir a oferta mundial de alimentos. Brasil e EUA têm duas das maiores e mais competitivas agriculturas do mundo e, junto com outros grandes produtores, têm muito a ganhar com uma maior cooperação. No plano multilateral, devemos dialogar para a retomada da Rodada de Doha e para o fortalecimento das disciplinas na área de subsídios. Nesse contexto, temos que acompanhar a implementação da nova lei agrícola norte-americana e preservar nossos interesses em especial em soja, algodão e milho produtos, que podem ter seus preços deprimidos pelos subsídios norte-americanos.
Há muito a fazer ainda em matéria de cooperação em campos como inovação, educação, governança cibernética, ciência e pesquisa, tecnologia da informação, mudança climática. Temos hoje milhares de estudantes em universidades norte-americanas e devemos explorar esse capital para desenvolvermos esquemas de cooperação com nossas instituições de ensino superior.
O incidente provocado pelas ações da NSA – que são inaceitáveis, dada a natureza da relação entre o Brasil e os EUA – produziu um justificável mal-estar em nosso país. É prudente e indispensável que o governo norte-americano tome a iniciativa de adotar as medidas para superá-lo, porque é de nosso interesse comum não ficarmos reféns desse episódio. De nossa parte, devemos zelar para que as normas básicas de convívio internacional sejam respeitadas, rejeitando ingerências absurdas e formas insidiosas de manipulação da informação. A tecnologia abre as portas para o bem e para o mal, mas o desenvolvimento tecnológico não pode ser desculpa para formas aberrantes de ingerência e controle que violam direitos básicos de governantes e cidadãos.
Eduardo: As relações com os EUA carecem de atualização. Subestimamos a capacidade da economia norte-americana de inovar e reinventar-se, o que talvez explique a queda de nossa participação relativa naquele mercado, que tem sido, ao lado da América Latina, um dos principais destinos das manufaturas brasileiras. O desafio de reverter essa tendência cresce em importância com a reativação em curso do consumo e da produção nos EUA. Além de uma política comercial agressiva, de resto desejável para outras frentes regionais, é chegado o momento de uma clara determinação em desenvolver um diálogo maduro, equilibrado e propositivo com Washington, que não dramatize diferenças naturais entre parceiros com interesses econômicos e políticos reconhecidamente amplos. São inúmeros os campos que podem compor uma agenda positiva entre o Brasil e os EUA, que vão de um renovado estímulo à cooperação empresarial nas múltiplas áreas de complementaridade industrial ao reforço do intercâmbio tecnológico e educacional.

Que expectativas têm em relação ao futuro do comércio global sob a égide da OMC, agora sob o comando de um brasileiro?

Aécio: O crescimento do comércio global reduziu-se substancialmente depois da crise global de 2008. Nos últimos anos, o crescimento foi de apenas 2,5% e em 2014 não será diferente. A OMC vive um momento difícil e não é exceção na crise do multilateralismo que afeta as instituições econômico-financeiras e a que deveria velar pela paz e segurança.
O comércio global está cada vez menos sob a égide da OMC, e isso se deve tanto à proliferação de acordos de livre comércio como à própria evolução do comércio e da produção, primeiro com o comércio intrafirmas e agora com a consolidação de cadeias globais de valor. A nova geração de mega-acordos em negociação com o TPP e o TTIP envolve parte substancial do comércio mundial e coloca na mesa de negociação temas que vão muito além das disciplinas da OMC, como questões trabalhistas, ambientais, cambiais, transmissão de dados e comércio eletrônico, investimento e competição.
Além disso, tais acordos, que partem de uma visão geoestratégica a começar com o pivô dos EUA para a Ásia e a ascensão chinesa, procuram criar universos de regulação que se transformem em padrões mundiais. São acordos que têm a ambição de legislar para o futuro e mudar completamente a agenda do sistema multilateral de comércio. Ignorar tais desenvolvimentos ou jogar no fracasso dessas iniciativas, por mais problemáticas que elas sejam, não é a melhor estratégia para um país que sempre apostou na OMC e no sistema multilateral de comércio.
O acordo de Bali, que deve muito à atuação do diretor-geral Roberto Azevêdo, pareceu criar esperanças de que a agenda se desbloquearia, mas as dificuldades ainda presentes na situação da economia e do comércio mundiais dificultam avanços. Na área de maior interesse ofensivo para o Brasil, a dos subsídios agrícolas, a nova lei agrícola dos EUA e a nova política agrícola comum da Europa dificultam a negociação de novas disciplinas.
Não obstante esses problemas, o Brasil (que hoje tem um peso específico muito maior na OMC fruto de sua atuação na Rodada de Doha e de sua liderança no G20) deve perseguir um duplo caminho: concluir a Rodada de Doha, negociando um acordo possível nos temas centrais, agricultura e produtos industriais, e explorar novos caminhos para o sistema multilateral de comércio e para a OMC, que leve a uma OMC2, com uma nova agenda, com métodos de trabalho mais modernos e com um correspondente sistema de solução de controvérsias. Temos que desenvolver uma plataforma brasileira para a conclusão da Rodada e para a reforma da OMC e com base nela promover o diálogo e a concertação com nossos parceiros a começar pelo G20 e os BRICS.
Em poucas palavras: é preciso definir uma nova estratégia de negociação, que, sem desconsiderar a importância da OMC, seja também ativa na sua dimensão bilateral e regional.
Eduardo: Não há razão para minimizar a importância do acordo alcançado pela Organização Mundial do Comércio em Bali para a facilitação do comércio internacional. Além de prescrever a adoção de medidas que permitirão uma poupança significativa de recursos, inclusive aos países em desenvolvimento, o entendimento em Bali atestou a competência negociadora do embaixador Roberto Azevêdo em articular um consenso que garantiu a sobrevivência da organização e, com ela, o ideal de uma regulação simétrica e universal do comércio mundial. O Brasil deve continuar empenhado em obter uma resolução positiva dos demais itens do chamado pacote de Bali, em particular da questão agrícola. Nossos trunfos a este respeito são sobejamente conhecidos, a começar pelos padrões elevados de produtividades assegurados pelo trabalho da Embrapa e a determinação do nosso agronegócio.
Como já afirmado, o compromisso com o êxito das tratativas na OMC é plenamente compatível com a preocupação em promover a integração da América do Sul, negociar acesso a mercados regionais e assegurar uma incorporação vantajosa das empresas brasileiras nas cadeias globais de produção.

Apesar da alta prioridade que se deu à obtenção para o Brasil de um assento como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, ela parece atualmente mais distante do que nunca. Que prioridade terá em seu governo esse objetivo?

Aécio: O Brasil é hoje reconhecido em todo o mundo como um candidato natural a um assento permanente numa reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Isso se deve à atuação de nossa diplomacia, ao prestígio que angariamos pela nossa vocação pacífica e em favor do desenvolvimento e da construção de instituições e regras multilaterais que reflitam os interesses de todos os países. Não temos por que abdicar desse capital e do reconhecimento amplamente majoritário de nossas qualificações para ser membro permanente do Conselho de Segurança.
A reforma do Conselho é reconhecida por ampla maioria dos membros das Nações Unidas como necessária e importante, e como um meio para recuperar o prestígio e a capacidade de atuação da ONU, em especial na garantia da paz e da segurança num mundo pós-Guerra Fria.
Ao mesmo tempo, devemos admitir que não temos como forçar uma reforma do CS, nem fazê-la da forma que consideramos mais correta. Esse é um tema que pelo conjunto de interesses que desperta levará seu tempo.
O Brasil tem dado excelentes exemplos de que reúne todas as condições para ocupar um assento permanente no Conselho de Segurança, por meio de suas seguidas participações em missões de estabilização e paz, e muito notadamente no Haiti, aonde as nossas Forças Armadas vêm demonstrando uma capacidade de atuação de que podemos nos orgulhar. Além da contribuição para a restauração da segurança no país, as tropas brasileiras têm atuado na área da reconstrução da infraestrutura, com resultados reconhecidos e apreciados pela população haitiana. A participação nessa missão tem, também, aperfeiçoado a capacitação do Brasil para colaborar mais eficientemente em outras operações da ONU na manutenção da paz em regiões conturbadas. Dada a nossa projeção no mundo, seremos mais e mais chamados a contribuir para esse tipo de missão e acho que devemos atender.
Eduardo: Somos a sétima maior economia, a quinta maior população e o quinto maior território do planeta. Temos instituições democráticas estáveis e consolidadas. Nossa tradição diplomática pacifista e multilateral é muito respeitada no contexto das nações. Não temos pendências ou conflitos de relevo com qualquer outro país.
Estamos cada vez mais comprometidos com a cooperação internacional a favor do desenvolvimento sustentável e da eliminação da pobreza. Gozamos de relações muito positivas com as nações emergentes, muito por conta do empenho do presidente Lula em fortalecer as relações Sul-Sul.
Estas e outras credenciais explicam as expressivas vitórias obtidas pela diplomacia brasileira nas eleições para as Direções Gerais da FAO e da OMC. Mas do que isto: são fatores que reclamam o reforço do pleito pela atualização dos mecanismos de governança global, tanto na esfera econômica como no âmbito político.
É mais do que justo que o peso do voto do país nas deliberações do Fundo Monetário Internacional seja elevado a um patamar que efetivamente corresponda à dimensão de nossa economia. Também cabe insistir na reivindicação de que as chefias do FMI e do Banco Mundial deixem de ser monopólios de europeus e norte-americanos.
O pleito pela reforma na composição do Conselho de Segurança das Nações Unidas mantém sua atualidade, inclusive a fórmula de articulação conjunta (G4) com outras potências regionais. Sem uma representatividade adequada, o CS não pode desincumbir-se com a eficácia desejável de suas elevadas atribuições nos campos da paz e da segurança.

O Brasil tem sido acusado por entidades de defesa de direitos humanos de proceder com frequência de maneira dúbia ou fraca em situações como as crises da Síria e da Venezuela. Quais as diretrizes de seu governo nesse campo?

Aécio: A prevalência dos direitos humanos é um dos princípios que obrigatoriamente devem informar a política externa brasileira (artigo 4º II da Constituição Federal). Será uma diretriz fundamental em meu governo, pois reflete a nossa visão de um país de rica diversidade cultural empenhado na tolerância pluralista e na sustentabilidade.
Os princípios de não intervenção em assuntos internos e soberania serão respeitados. Não podemos, entretanto, ficar indiferentes diante de situações em que claramente são violados os direitos das pessoas, seja em momentos de grave conturbação interna, seja no contexto de conflitos regionais ou internacionais mais amplos.
Nossa diplomacia será orientada, em meu governo, a deixar clara da maneira mais apropriada nos foros internacionais e junto às forças envolvidas nossa adesão à defesa dos direitos humanos e nossa inconformidade com a sua violação pontual ou sistemática. O importante será avaliarmos lucidamente as situações e verificar qual pode ser o melhor meio de influir construtiva e eficazmente. E eu não hesitarei, se considerar necessário, em fazer chegar eu mesmo a nossa posição a eventuais interlocutores.
Recentemente, o governo Dilma Rousseff deu um péssimo exemplo de como não se comportar em situações concretas de direitos humanos, no caso o direito a asilo político, na situação que criou com o senador boliviano Pinto Molina.
Foi uma atuação que não honrou as melhores tradições de nossa diplomacia. Houve erros e má condução do caso dos dois lados. Num contexto de relações próximas e importantes como se dá entre Brasil e Bolívia, o governo do presidente Evo Morales deveria ter respeitado a decisão brasileira de conceder o asilo e não poderia ter-se negado a dar o salvo-conduto para que o senador deixasse o país. Há toda uma prática latino-americana estabelecida nesse sentido por acordos e ações.
Da parte do Brasil, houve uma inexplicável passividade ante a atitude boliviana e uma condução nebulosa das tratativas, sem que a opinião pública fosse devidamente informada e esclarecida. Por que manter por tanto tempo o senador Pinto Molina alojado em condições inóspitas nos escritórios da Embaixada, sem poder nem tomar banho de sol nem receber visitas além das do seu advogado? Por que ele não foi transferido para a residência do embaixador? Por que o Brasil não agiu com firmeza e determinação para fazer com que a Bolívia lhe desse o salvo-conduto?
Será lamentável se, no final, o diplomata Eduardo Saboia vier a pagar a conta de tantos equívocos.
Eduardo: Não devemos oferecer motivos para que paire qualquer dúvida sobre os valores e princípios que desejamos ver prosperar na convivência internacional, que são aqueles que nortearam a modernização do país e encontram o mais pleno amparo no texto constitucional: defesa da paz, resolução pacífica de controvérsias, valorização da democracia, respeito aos direitos humanos e promoção do desenvolvimento sustentável. A elevação do nosso status no sistema das Nações Unidas e no multilateralismo como um todo somente faz sentido se for para honrar o que somos, evitando omissão ou ambiguidade diante do uso da força, do arbítrio, da violação dos direitos e garantias fundamentais, da pobreza e da destruição da natureza. Em torno daqueles valores, que são universais, justifica-se que alarguemos nossos horizontes, contribuindo, como é tradição de nossa diplomacia, para a formação de consensos, sem vícios ideológicos ou confrontações estéreis.
Estas preocupações devem orientar o posicionamento do Brasil diante do que ocorre na Crimeia, na Síria e nos diferentes casos e temas submetidos à atenção do Conselho de Segurança, do Conselho de Direitos Humanos e dos foros sociais e ambientais das Nações Unidas. São princípios igualmente relevantes para as relações com nossos vizinhos, até porque refletem uma experiência de amadurecimento democrático pela qual também passou a maior parte dos países latino-americanos.
Em prazos quase concomitantes, soubemos superar regimes de exceção, validar o Estado de Direito, promover a inclusão social no marco da democracia, ampliar o exercício da cidadania e ser um dos principais polos das redes virtuais e horizontais que estão renovando a participação-cidadã, configurando uma sociedade civil global e abrindo espaço para a emergência do que Marina Silva chama de “ativismo autoral”.

Qual a sua opinião sobre a tese da “responsabilidade ao proteger” lançada pelo Brasil na ONU com boa reação internacional de início, mas que depois não prosperou?


Aécio: O conceito de “responsabilidade ao proteger” é a meu ver uma boa contribuição do Brasil à discussão sobre como deve reagir a comunidade internacional frente a situações em que se verifica grave crise humanitária em razão de conflitos. É uma lástima que, depois de ter anunciado o conceito na Assembleia Geral da ONU, a presidente Dilma Rousseff tenha aparentemente se esquecido dele e tenha deixado de promovê-lo, em mais uma demonstração de seu desinteresse pelos grandes temas de relações internacionais, que às vezes chega a ser quase irresponsável.
As populações podem ser vítimas de crimes de diferentes naturezas e a questão é saber como e com que autoridade intervir sem causar danos maiores dos que já estão ocorrendo. Preferivelmente os meios iniciais devem ser os pacíficos. A opção militar, se adotada, deverá cercar-se de todos os cuidados para afetar minimamente a população civil e o recurso à força deve ser a última opção, e sempre com respaldo das Nações Unidas e de organismos multilaterais. Critérios preliminares precisam ser acordados multilateralmente nos foros competentes.
Cabe relançar a discussão sobre esse tema nos âmbitos interno e externo. Internamente, envolver além dos órgãos governamentais, o Congresso, a área jurídica e setores da academia e da sociedade civil para plasmar uma consistente e sólida posição em termos jurídicos. Depois, levá-la ao debate político com outros países interessados e na ONU.
Eduardo: Parece-me uma tese legítima, orientada como é pelo interesse em preservar as populações civis dos elevados custos de intervenções armadas. Creio ser uma iniciativa condizente com nosso apego à paz e que merece ser amadurecida, ao lado da tese da “responsabilidade de proteger”, conceito igualmente legítimo no esforço de proteger os civis de crimes hediondos como o genocídio e a limpeza étnica.

A China deverá se tornar proximamente a maior economia nacional do mundo. Quais são as suas prioridades para a relação bilateral com esse país, do qual a vitalidade das exportações brasileiras tem se tornado quase dependente?

Aécio: Num primeiro momento, é preciso estabilizar a relação, intensificando o diálogo na busca de soluções negociadas para os problemas que dificultam a construção de uma verdadeira parceria estratégica. Tais problemas aparecem, sobretudo, na área econômica e vêm sendo atacados por medidas pontuais, defensivas e unilaterais. Esse enfoque, que não resolve as questões, deveria ser substituído por uma estratégia mais abrangente, que permitisse colocar as pendências atuais num contexto mais amplo. Em vez de concentrar a estratégia brasileira exclusivamente em medidas defensivas, esse novo enfoque permitiria combinar aspectos defensivos e ofensivos e montar uma agenda negociadora com a China como forma de avançar os interesses brasileiros.
Para que uma estratégia dessa natureza prospere, é fundamental dar à relação com a China uma verdadeira visão de conjunto que integre as visões setoriais e permita identificar as vinculações e as trocas. Isso só será possível por meio de um efetivo exercício de coordenação, envolvendo não só o governo, mas o empresariado e os meios acadêmicos. Essa articulação faz-se absolutamente necessária no caso da China, dadas as dimensões do país e seu sistema político e econômico sui generis: o socialismo com características chinesas. A China é uma sociedade com cultura e organizações socioeconômicas diferentes e deve ser vista como tal, não para hostilizá-la, mas para melhor compreendê-la e com ela nos relacionarmos adequadamente. Tal relacionamento requer que os problemas sejam vistos em conjunto com a percepção dos linkages e trade-offs possíveis.
Ao procurar avançar na mesa de negociações, o Brasil deve ir redefinindo sua relação com a China dando-lhe novos contornos que, sem deixar de explorar as complementaridades básicas entre as duas economias, possam ir além desenvolvendo novas sinergias e complementaridades.
O Brasil seguirá sendo um importante fornecedor de matérias-primas e produtos agrícolas para a China, cuja demanda por tais produtos continuará crescendo. A China seguirá exportando produtos manufaturados para o Brasil, cada vez mais sofisticados e com maior valor agregado. Essa complementaridade é importante, pois cria a base para um crescimento continuado dos fluxos de comércio e investimento, tornando a relação bilateral cada vez mais importante para os dois lados.
O que falta é ir além dessa complementaridade em três sentidos: mudando a natureza da relação comercial através da diversificação das exportações brasileiras e da redução das exportações chinesas de bens de consumo baratos; criando novas parcerias através de investimentos recíprocos que permitam gerar novas correntes de comércio; desenvolvendo complementaridades em novas áreas como infraestrutura, ciência e tecnologia e educação e cultura.
Esse exercício contribuirá para reduzir a dimensão dos problemas e atritos ao tornar a agenda bilateral mais abrangente, o que facilitará a resolução de problemas pontuais colocando-os na moldura mais ampla da redefinição da parceria estratégica.
Brasil e China, como dois gigantes em desenvolvimento, enfrentam muitos desafios comuns, e suas políticas públicas refletem uma grande coincidência apesar das diferenças de regime. Essas coincidências abrem espaço para uma agenda renovada de diálogo e cooperação. As diferenças tornam o diálogo mais interessante e a não ser em poucas questões não são de ordem a impedir a cooperação.
As transformações em curso no mundo, com o aumento do peso relativo dos países em desenvolvimento e com sinais de uma repartição mais equitativa do poder e de um mundo multipolar, dão à parceria entre o Brasil e a China uma dimensão que ultrapassa o plano bilateral. Atuando em conjunto com outros países emergentes, Brasil e China podem ajudar a desenhar uma nova ordem internacional para cuja construção será necessário dar ao multilateralismo do pós-guerra uma nova configuração.
Aos dois países interessa um mundo estável e harmonioso, livre de hegemonias. O aumento da multipolaridade por si só não levará a um mundo dessa natureza. Será, portanto, necessário desenvolver um esforço de formulação que procure criar as bases para uma ordem multipolar. Brasil e China, como dois grandes países em desenvolvimento e potências regionais, no Leste e no Oeste, têm uma responsabilidade especial nesse contexto. O diálogo político entre os dois terá que ser redefinido para incorporar essa visão estratégica de longo prazo.
Eduardo: A relação com a China exige atenção prioritária pela magnitude das cifras e pelos desafios. Em um par de anos o país tornou-se nosso primeiro parceiro comercial, com elevado superávit do lado brasileiro, bem como uma importante fonte de investimentos. É improvável que essa relação diferenciada seja alterada com a diminuição no ritmo de crescimento chinês. Se confirmado que a taxa de expansão anual do produto interno bruto da China no período 2014-2016 ficará em torno de 7%, isso significa um incremento por ano de 1,3 trilhão de dólares, quase o dobro do que se observava há dez anos, quando o crescimento era superior a 11%. A elevação da base de cálculos propicia uma geração adicional de riqueza a cada ano em volume suficiente para assegurar uma considerável demanda por insumos externos, mesmo com o esperado aumento do consumo doméstico.
Por tranquilizador que seja esse cenário para as contas nacionais brasileiras, ele não implica, de todo modo, uma melhora na composição da pauta bilateral e tampouco a eliminação da concorrência desleal representada pelas exportações chinesas de baixo custo. É verdade que já se configuram tendências como a substituição das indústrias de baixo custo por indústrias intensivas em conhecimento e a valorização gradual do yuan, que podem eventualmente dispensar as práticas desleais de comércio. De qualquer maneira, parece mais do que recomendável, até pelo ritmo lento dessas mudanças, que se desenvolva um diálogo franco com as autoridades chinesas sobre as dificuldades impostas pelo câmbio e pelas exportações a custo irrisório. Também convém empenhar-se para que os investimentos chineses atendam às nossas expectativas por estabelecimento de parcerias, utilização de insumos locais, criação da capacidade de pesquisa e desenvolvimento e contratação de mão de obra e de executivos brasileiros.

Qual a sua opinião sobre a importância do grupo BRICS para o Brasil e que relevância ele terá em seu governo?

Aécio: O conceito do economista Jim O’Neill foi bastante original ao buscar pontos de convergência ou similaridade entre os quatro países que conformaram o grupo BRICS em seu início e ao sublinhar a sua importância e o seu potencial no crescimento da economia global. Considerados em suas individualidades, Rússia, Índia, China e África do Sul são países com os quais o Brasil já tem um relacionamento substantivo, intenso e diversificado. Somados reúnem cerca de 40% da população mundial e são responsáveis por ao redor de 20% do PIB mundial. Os BRICS são um grupo de crescente relevância e uma plataforma para a projeção do Brasil.
O grupo enfrenta, contudo, desafios importantes e ainda não se consolidou como interlocutor de peso no equacionamento de temas relevantes da agenda internacional. O exercício de coordenação entre seus membros é ainda incipiente e isso se deve não só às diferenças entre eles, mas ao fato de que não há um consenso entre seus membros sobre a necessidade de assumir maiores responsabilidades como decorrência de seu crescente peso econômico e influência política. Nesse sentido, os BRICS ainda não evoluíram para definir claramente seu perfil e para projetar uma visão de como desejariam ver reformulada a presente ordem internacional.
O grupo tem três pilares: diálogo, coordenação e cooperação. Pelo diálogo, o grupo deveria aumentar sua confiança mútua e ir desenvolvendo uma visão comum da situação internacional, sem negar as diferenças entre seus membros. Na coordenação, o grupo deveria enfatizar as áreas de maior coincidência econômica, começar a desenvolver propostas mais concretas como, por exemplo, em matéria dos temas do G20. Exemplo positivo foi a recente proposta de criação de um banco formado pelos BRICS. A influência do grupo dependerá, contudo, de sua capacidade de coordenar-se melhor também em temas políticos onde as divergências entre seus membros são mais importantes (sistemas políticos, visão estratégica, relações entre Oriente e Ocidente). A cooperação deveria ser orientada pela concentração em poucas áreas e efetiva implementação. Poderia também abrir espaço para exercícios de aproximação com outros países, sobretudo em desenvolvimento. Esse exercício de “alargamento” teria um duplo objetivo: evitar a caracterização do grupo como elitista ou fechado e diluir percepções do grupo como confrontacionista e obstrucionista.
Ao Brasil interessa atuar no seio dos BRICS para a consolidação do grupo e para que ele se converta em uma plataforma para a formulação de propostas sobre um novo ordenamento multipolar e uma reforma do multilateralismo. Essas propostas deverão surgir do fortalecimento do diálogo e da sua capacidade de chegar a posições comuns sobre temas da agenda internacional, inclusive no plano político. Esse exercício deverá consolidar-se gradualmente e reconhecer os diferentes interesses dos membros. Ao mesmo tempo interessa ao Brasil aprofundar a cooperação entre os cinco países em áreas como agricultura, energia e ciência e tecnologia.
É por essas razões, por ser um espaço de diálogo – somado a outros que já integramos – que em meu governo o Brasil continuará a participar dos BRICS de maneira construtiva.
Eduardo: Trata-se de um conceito sem capacidade para pautar a política externa brasileira, mas com algum valor instrumental. Reúne países muito heterogêneos entre si, com escassa ou nenhuma coincidência em termos de valores, como democracia, direitos humanos e desenvolvimento sustentável, em relação aos quais temos bem mais afinidade com os EUA e a Europa. Daí a importância de evitar que a participação no grupo nos iniba de assumir as posições mais condizentes com as nossas tradições e princípios, como suspeito tenha ocorrido no tratamento da crise na Ucrânia. De todo modo, o foro pode ser útil para avançar reformas nos padrões de governança econômica global, como ocorreu na expansão dos recursos para empréstimos do Fundo Monetário Internacional.

Qual a sua opinião sobre o projetado Conselho Nacional de Política Externa que alguns pretendem criar?

Aécio: A sociedade civil no Brasil tem exigido legitimamente a ampliação de espaços de participação na formulação e na execução de políticas públicas que afetam o seu quotidiano, o que lhe é garantido em nossa Constituição. A questão que se põe está em como fazer isso sem ignorar as instâncias institucionais e políticas que também representam e interpretam a vontade popular. E sem desconhecer que já existem órgãos e mecanismos participativos em diferentes campos.
No caso da política exterior, as Comissões de Relações Exteriores do Senado e da Câmara Federal têm promovido frequentemente o debate sobre assuntos externos, como lhes compete. O Itamaraty, já no início dos anos 1990, abriu-se ao diálogo com diferentes setores sociais, promovendo seminários, mesas-redondas, audiências públicas sobre temas como meio ambiente, direitos humanos e negociações comerciais. Esses diálogos, conduzidos pelo Legislativo e pelo Executivo, foram inclusivos, tendo deles participado representantes dos setores acadêmico, sindical, empresarial, de organizações sociais não governamentais, vindos de diferentes vertentes políticas e de pensamento.
É saudável esse intercâmbio porque a política externa deixou há tempos de ser preocupação restrita a seus executores ou a setores especializados. A vida internacional se normatiza de maneira crescente e sua internalização tem impacto em muitos setores da vida nacional. A coordenação de esforços na formulação de política externa é sempre louvável, mas depende de capacidade de gestão, como se demonstrou durante o governo Fernando Henrique Cardoso, quando a Camex foi fundamental para a política comercial brasileira. Infelizmente, ela foi abandonada desde que as administrações petistas passaram a exercer o poder.
A propósito de um eventual Conselho Nacional de Política Externa, cabe lembrar que há uma enorme diferença entre ouvir os mais amplos setores da sociedade para coordenar esforços e o risco de deixar que as políticas de Estado sejam instrumentalizadas por grupos político-ideológicos, partidos políticos e movimentos afinados com quaisquer governos. A política externa é uma política pública de Estado, e todo mecanismo voltado para o seu aperfeiçoamento deve ser concebido em termos republicanos, que não é o que me parece estar nas propostas ora mencionadas para a criação de um Conselho Nacional de Política Externa.
Eduardo: A proposta de criação de um conselho externo tem a ver com o papel do Itamaraty. O Ministério das Relações Exteriores poderia ter sido mais valorizado nos últimos anos. Poderia ter sido fortalecido em diálogo com outros órgãos do Estado brasileiro e instâncias da sociedade civil. A instituição foi esvaziada com a partidarização ou ideologização da política externa.
Para colocar outras vozes no debate sobre os rumos de nossa ação externa, não me parece necessário criar um conselho com atribuições paralelas. Basta aumentar a porosidade do Itamaraty aos influxos externos, seja do Estado, seja da sociedade, o que começa a ser feito pela gestão atual da Casa de Rio Branco.
Transferir competências em política externa a um novo foro seria depor contra uma instituição e quadros de reconhecida capacitação e que têm prestado uma inestimável contribuição à construção e à projeção internacional do Brasil.
Julho de 2014

Argentina: solita contra el mundo: que borrachera...

Argentina reclama medidas internacionales contra el "anarcocapitalismo"

El Gobierno del país cree que hay instancias de apelación en el Tribunal de la Haya para desbloquear el conflicto de la deuda

EFE Buenos Aires 05/08/2014

El jefe del Gabinete del Gobierno argentino, Jorge Capitanich.

El jefe del Gabinete del Gobierno argentino, Jorge Capitanich.- EFE

El Gobierno argentino reclamó este martes medidas para luchar contra el "anarcocapitalismo", que pone al mundo bajo la "espada de Damocles" de "grupos minúsculos", como los fondos buitre, por lo que cree que hay instancias de apelación en el Tribunal de la Haya para desbloquear el conflicto de la deuda.
En su rueda de prensa diaria, el jefe de Gabinete del Gobierno argentino, Jorge Capitanich, dijo hoy que el mundo no puede estar bajo el "anarcocapitalismo".
"El mundo no puede estar con la espada de Damocles de grupos minúsculos oligárquicos" que "conspiran contra la estabilidad del sistema económico y financiero internacional" y vulneran "la condición de un país soberano" con un "nivel de usura inaceptable", recalcó Capitanich en referencia al conflicto con los fondos buitre.
El Gobierno argentino que encabeza la presidenta Cristina Fernández estudia recurrir al Tribunal Internacional de La Haya para desbloquear los pagos a los tenedores de bonos reestructurados, que permanecen bloqueados en Estados Unidos por la sentencia del juez Thomas Griesa, favorable al 1% de los acreedores que denunciaron a Argentina para cobrar el importe íntegro de la deuda.
"Frente a una controversia de carácter internacional que implica una disputa entre estados, obviamente hay instancias de carácter internacional que puedan ser utilizadas para la resolución", apuntó el jefe de Gabinete.
"El sistema económico internacional está reclamando la cobertura de un vacío jurídico y legal" respecto a la aplicación de una regla "de las mayorías" en los "procesos de reestructuración de deuda de países soberanos", continuó.
Capitanich pidió medidas que actúen como "desincentivos" para los fondos buitre que se aprovechan de "un sistema judicial perverso", que "está absolutamente corrompido por la incidencia de este tipo de intereses".
Además, explicó que Argentina puede recurrir a mecanismos como el "método de opinión consultiva" o el proceso de "introducción a instancias con o sin medida cautelar" que ofrece el Tribunal Internacional de La Haya.
Sin embargo, el abogado argentino y exfiscal en la Corte Penal Internacional Luis Moreno Ocampo advirtió ayer que no hay posibilidades de que esa vía judicial prospere.
Capitanich criticó también la decisión del juez estadounidense de ratificar al mediador, Daniel Pollack, y le acusó de "mala comprensión, por un lado, incapacidad manifiesta por el otro, clara parcialidad respecto a la posición de los fondos buitre y marcada incompetencia para resolver un problema".
Para el funcionario argentino ratificar al mediador supone insistir en "la misma posición por parte del juez", quien "no entiende adecuadamente las dificultades de este proceso".
"Es tan simple la solución de esta cuestión que precisamente llama la atención de por qué no se instrumenta", señaló, respecto a la reclamación del Ejecutivo argentino para que la Justicia estadounidense adopte una medida cautelar que permita el pago a los tenedores de títulos que aceptaron los canjes de 2005 y 2010.
Las agencias calificadoras de riesgo internacionales han declarado al país en suspensión de pagos, pero el Gobierno argentino niega la situación de impago, sostiene que ha cumplido sus obligaciones financieras y responsabiliza a la Justicia estadounidense de congelar los fondos destinados a los acreedores de deuda reestructurada (92,4% del total).

Os totalitarios se revelam: Marina Silva defende o decreto bolivariano dos sovietes petistas

Bem, não se poderia esperar outra coisa do velho pessoal totalitário, petistas de carteirinha, e companheiros de viagem do partido neobolchevique.
Paulo Roberto de Almeida

Marina Silva apoia o decreto de Dilma sobre os conselhos
Ex-senadora disse que decreto foi editado com atraso e faz parte de uma "estratégia eleitoral", mas elogiou a ideia

Rio de Janeiro - A futura candidata à Vice-Presidência da República na chapa de Eduardo Campos (PSB), Marina Silva, disse nesta terça-feira, durante visita ao Rio, que o decreto da presidente Dilma Rousseff (PT) que obriga órgãos do governo a promover consultas populares sobre grandes temas, antes que iniciativas sejam postas em prática, foi editado com atraso e faz parte de uma "estratégia eleitoral", mas elogiou a ideia.

"A participação da sociedade é algo muito bom em um País como o nosso, com essa dimensão territorial e diversidade cultural. É fundamental que os governos façam coisas com as pessoas e não para as pessoas. Mas isso é para ser feito ao longo de toda uma vida, e não apenas vinculado à eleição. É algo a ser cultivado, independente de ser estratégia eleitoral. É uma inovação na gestão pública", afirmou a ex-senadora, líder da Rede Sustentabilidade.

O decreto prevê a criação de nove conselhos aos quais serão submetidas iniciativas como grandes obras e novas políticas públicas.

A medida tem sido criticada pelos partidos de oposição, que acusam Dilma de usurpar as atribuições do Poder Legislativo. Marina, no entanto, defendeu as consultas populares.

"Cada vez mais a sociedade exige compartilhamento da autoria, da realização. O decreto poderia ter sido feito antes, são 12 anos de governo (do PT). Mas antes tarde do que nunca. Nada está sendo dado de presente", afirmou a ex-senadora.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Primeira Guerra Mundial: os 100 anos da guerra que não acabou - Alberto Dines (Observatório da Imprensa)

Um programa de que participei, minimamente é verdade, mas para o qual eu já tinha escrito um texto aqui postado. Este aqui:  "A guerra de 1914-1918 e o Brasil: impactos imediatos, efeitos permanentes"; publicado em Mundorama (28/07/2014; link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/07/a-primeira-guerra-mundial-e-o-brasil.html); postado duas vezes neste Diplomatizzando (links: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/06/o-brasil-e-primeira-guerra-mundial-no.html e http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/07/a-primeira-guerra-mundial-e-o-brasil.html).
Vejam o programa, dirigido pelo sempre competente Alberto Dines, aliás autor de uma biografia maravilhosa de Stefan Zweig (Morte no Paraíso), escritor austríaco, que se suicidou em Petrópolis, tendo antes escrito suas magníficas memórias sobre o período anterior à guerra (O Mundo de Ontem) e o panegírico Brasil: o país do futuro (que ficou mais pelo título do que pelo conteúdo).
Emissão do Observatório da Imprensa: “Os 100 anos da guerra que não acabou”, com Alberto Dines (Programa n. 736, 5/08/2014; link: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/videos/view/os_100_anos_da_guerra_que_nao_acabou). 
Paulo Roberto de Almeida 
OI NA TV

PRIMEIRA GRANDE GUERRA

Os 100 anos da guerra que não acabou

Alberto Dines | Programa nº 736 | 05/08/2014 | 0 comentários
 

Ela foi chamada de belle époque, também de dourada era da segurança; os mais céticos preferem classificar o período como o alegre apocalipse. A exposição mundial de Paris, em 1900, exibiu as maravilhas da eletricidade com a iluminação da Torre Eiffel. As novas tecnologias despertaram novas energias e fortíssimas ambições. O avião, os transatlânticos, automóveis, o metrô, o cinema, o rádio e os avanços da medicina simbolizavam um progresso, uma paz que, imaginava-se, jamais seria revertida. Nos subterrâneos deste mundo excitante e refinado um vulcão roncava, emitia avisos que poucos queriam escutar.
Alfred Nobel, o inventor da dinamite, primeira arma de destruição em massa, captou esses sinais, assumiu-se como pacifista e no testamento deixou recursos para a concessão de cinco prêmios anuais, um deles o Nobel da Paz, concedido pela primeira vez em 1901.
Se os esforços pela paz precisavam ser estimulados e premiados, significa que a guerra era uma ameaça concreta, assustadora. Conflitos bélicos não acontecem por acaso. Os contenciosos acendem diversos pavios, até que um deles chega ao barril de pólvora mais próximo.
O que aconteceu no verão europeu de 1914 vinha sendo articulado há décadas. A inauguração do Canal de Suez, em 1869, abalou em definitivo o império otomano. O conflito franco-prussiano, de 1870, tirou da França uma rica fatia de território. O paroxismo ideológico deslanchado pelo caso Dreyfus, em 1894, forneceu a munição.
Mas foi a crença de que novas tecnologias são suficientes para garantir a paz e o progresso o principal equívoco cometido nesse xadrez.
A serviço do rancor, os milagres da ciência convertem-se em pesadelo.
 

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Imigracao nos EUA: uma obsessao historica - livro de Alvaro Vargas Llosa

Breaking Through the Partisanship of Broken Borders
Dispelling the Myths on Immigration


The flood of children crossing the U.S.-Mexico border has rekindled an already heated immigration debate, but will it prompt politicians to make major changes to the nation's immigration laws? Or will they play it safe as midterm elections approach, and hope that immigration issues somehow resolve themselves? And what exactly should immigration policy look like in a free society?

In a defining approach to the hotly debated issue of immigration reform, the award-winning book Global Crossings, by Independent Institute Senior Fellow Alvaro Vargas Llosa, examines the immigrant experience and explores who migrants are, why they move, and who benefits. And as this powerful story unfolds, Vargas Llosa offers reforms that stand as a powerful and humane solution to the flawed plans being offered by politicians.

Global Crossings:Immigration, Civilization, and America
By Alvaro Vargas Llosa

A native of Peru who has lived and worked on three continents, renowned author Vargas Llosa has written an insightful analysis of the cultural, economic, and political ramifications of immigration—one the most enduring phenomena of the human story.

Part historical treatise and part politico-economic analysis—and sprinkled with fascinating anecdotes from his personal experience around the world—Global Crossings is a far-reaching book that will captivate anyone curious about the drama inherent in the age-old quest to make a better life by moving abroad and about the government policies that often thwart that effort.
PROSE Honorable Mention Award for Best Book (Association of American Publishers)
2014 Bronze Medal IPPY Award Winner
2014 Benjamin Franklin Silver Award (Independent Book Publishers Association)

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Available in Hardcover & Paperback
eBook Available on Kindle, iTunes, Nook
384 Pages • 6 x 9 Inches
16 Tables • 23 Figures • Index

For Educators:
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Praise for Global Crossings:

"Alvaro Vargas Llosa's timing is as superb as his book, which lands smack in the middle of a feverish Washington debate over America's most recent arrivals . . . What recommends Global Crossings is that it offers a thoughtful critique of the restrictionists from the standpoint of a fellow conservative."
—The Wall Street Journal

"This compelling book is a must read for anyone on the vital yet contentious issue of immigration. Global Crossings puts a personal face on the issue, superbly arguing that restrictions on the basis of accident of birthplace have no economic or social justification, and in the hands of government are a dangerous infringement on individual liberty and human well-being."
—Daniel L. McFadden, Nobel Laureate in Economic Sciences; E. Morris Cox Professor of Economics, University of California, Berkeley

"Using facts, history, logic and his own personal experiences, Alvaro Vargas Llosa vividly demonstrates why immigration is almost always economically, culturally and morally beneficial. Global Crossings is an essential and highly readable, even riveting, tour de force."
—Richard K. Vedder, Distinguished Professor of Economics, Ohio University

Alvaro Vargas Llosa is Senior Fellow at the Independent Institute. He has been a nationally syndicated columnist for the Washington Post Writers Group and among his Independent Institute books, Liberty for Latin America received the Sir Anthony Fisher International Memorial Award and Lessons from the Poor: Triumph of the Entrepreneurial Spirit was awarded the Templeton Freedom Award. Former op-ed page editor at the Miami Herald, he has written for the Wall Street Journal, New York Times, Los Angeles Times, BBC World Service, Time, and other media, and he has been named Young Global Leader by the World Economic Forum in Davos, Switzerland.

Delfim: conselheiro da presidente nao esta' aconselhando bem (valor de mercado diminuiu?)

Qualquer que seja a empresa que paga pelos conselhos de ex-todo poderoso czar da economia brasileira, deveria começar a pensar quanto valem os seus conselhos.
Aparentemente pouco, pois se ele aconselha os companheiros petistas desde o início, ou os companheiros não aceitam os seus conselhos, ou os aplicam estupidamente, ou os conselhos não são muito bons assim.
Em todo caso, eu diminuiria o valor de mercado desse economista, que fica sempre enrolando os outros e não diz coisa com coisa... ou só diz o óbvio...
Paulo Roberto de Almeida

Delfim estima que País vai crescer apenas 1%
Ricardo Leopoldo, Tássia Kastner
O Estado de S. Paulo, 7/08/2014

Ex-ministro da Fazenda estima ainda que quadro ficará mais grave por causa da inflação que, segundo ele, 'deve ter subido 30% em quatro anos'

Delfim Netto destacou que o Brasil só tem acordos bilaterais com três parceiros internacionais: Egito, Israel e Autoridade Palestina
O ex-ministro da Fazenda Delfim Netto afirmou ontem que o Produto Interno Bruto (PIB) neste ano deve registrar uma fraca expansão, ao redor de 1%. "O País está crescendo muito pouco, e isso é um grande problema."
Na avaliação de Delfim, esse quadro fica mais grave porque o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) "deve ter subido 30% em quatro anos" e a inflação é "muito alta". Segundo ele, a inflação está perto do teto do sistema de metas de inflação, mas isso não significa que ela sairá do controle. "O governo controla a gasolina para combater a inflação, mas destrói o setor do etanol", disse Delfim, durante evento do Fórum Lideranças da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
De acordo com Delfim Netto, também é um destaque negativo da economia o fato de que a indústria de transformação apresenta um nível de atividade semelhante ao registrado em 2009, o que representa estagnação. Um efeito negativo dessa realidade é o registro de um déficit de contas correntes de US$ 270 bilhões. "Não é bom financiar a economia com capital externo dessa forma", disse. "O credor é um canalha que vai querer seus recursos de volta."
Política cambial. Delfim afirmou que a política de utilizar o câmbio para combater a inflação é um "equívoco grave", pois só é viável controlar sua variação, mas não o nível. "A intervenção do Banco Central está mantendo o câmbio abaixo do seu equilíbrio", comentou. "Mas a inflação volta, pois (o BC) está só escondendo a inflação. Temos entre 1,5% e 2% de inflação escondida. E para combatê-la, precisa em primeiro lugar fazer com que as pessoas acreditem que ela vai cair."
Embora tenha destacado o quadro de crescimento baixo, inflação alta e déficit de transações correntes elevado, o ex-ministro ponderou que esses fatores não vão levar o País a uma crise econômica como a do passado. Mas ponderou que houve "certo descuido" do Poder Executivo na gestão das contas.
"A prioridade do governo tem sido a ampliação do custeio e não dos investimentos", disse. Segundo ele, houve, talvez, excesso no emprego de recursos do Tesouro para repasses ao BNDES, o que acabou ajudando a elevar a dívida bruta. "Ocorreu uma confusão de achar que dívida pública é recurso."
Delfim criticou "o abandono da política comercial" pelo Brasil. "Nos amarramos à estrutura do Mercosul, que não funciona. Temos de ser uma zona de livre-comércio", destacou. "Transformamos o Atlântico Sul num cemitério. Abandonamos o comércio exterior como um vetor do crescimento."
Delfim Netto destacou que o Brasil só tem acordos bilaterais com três parceiros internacionais: Egito, Israel e Autoridade Palestina.
Sensibilidade. O ex-ministro afirmou que o governo "está muito sensível, reage a qualquer crítica com certa violência", ao lembrar o documento do Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgado na semana passada, que colocou o Brasil na lista de países economicamente vulneráveis. "Estava certo o FMI quando disse que o Brasil é relativamente vulnerável. Não significa que vamos ter crise e que ela está nos esperando no curto prazo."
O ex-ministro ressaltou ainda que a dívida de curto prazo sobre as reservas no Brasil é de 8,7%, bem menor que Índia (31,1%) e Turquia (84,6%), por exemplo, também listados como vulneráveis.

Maquiagem das contas publicas pelo Tesouro custa caro ao Brasil (bando de idiotas)

Pois é, os companheiros acreditavam que podiam fazer maquiagem à vontade que ninguém iria perceber, parace que perceberam, e como...
Os trogloditas que cuidam das contas públicas atualmente -- devem ser poucos, mas com poder de decisão, pois a maior parte do pessoal, concursado, deve saber fazer contas -- são os únicos responsáveis pela lambança, mas a autorização deve vir do alto, pois ninguém atua assim de forma claramente irregular, e irresponsável para o país, sem autorização, e talvez ordens superiores.
Paulo Roberto de Almeida 

Brasil paga taxas de risco maiores que as de vizinhos
Por Aline Oyamada | De São Paulo
Valor Econômico, 7/08/2014

Reticentes com o cenário econômico, investidores têm cobrado mais caro do Brasil do que de vizinhos na América Latina para aplicar no país. Até 2012, o Brasil pagava prêmios de risco similares aos de alguns mercados da região. Desde então, as taxas descolaram.
Analistas argumentam que, enquanto alguns países latino-americanos reforçaram os fundamentos econômicos por meio de reformas estruturais nos últimos anos, o Brasil percorreu caminho oposto, apresentando, por exemplo, piora nas contas públicas e externas e no comprometimento com a meta de inflação. Ainda que o custo de algumas captações externas tenha diminuído recentemente, o país continua tendo que oferecer taxas mais atrativas aos investidores.
A diferença de percepção do mercado pode ser vista nos spreads dos contratos de seguro contra calotes - "credit default swap" (CDS), na expressão em inglês. No caso do Brasil, eles estão sendo negociados em patamares bem mais elevados que os da média das principais economias da América Latina. Esse tipo de contrato é uma medida de risco. Cada 100 pontos-base significa que o credor vai pagar o equivalente a 1% da sua carteira de investimento pela proteção oferecida pelo vendedor do CDS.
O CDS do Brasil com vencimento em cinco anos era negociado ontem com spread de 166 pontos-base, bem acima dos prêmios pagos pelo Chile (77), Colômbia (93), México (86) e Peru (94), de acordo com dados da consultoria Markit. Além disso, a diferença entre o prêmio do Brasil e a média desses quatro países saltou de sete pontos-base em 2010 para 72 pontos agora. No fim do ano passado, chegou a 99 pontos.
"Essa diferença aumentou quando começaram a ficar evidentes as manobras contábeis do governo para ocultar o descumprimento das metas fiscais", explica Rodolfo Oliveira, da consultoria Tendências. Os títulos da dívida externa brasileira também estão pagando spreads mais altos. Na última emissão, o país contratou taxa mais alta que as do México, Colômbia e Peru.

Diplomacia Sul-Sul: existe alguma vantagem nessa coisa? - Paulo Roberto de Almeida

Transcrevendo o que foi publicado no blog Amálgama, neste link: http://www.amalgama.blog.br/08/2014/opcao-preferencial-pelo-sul-um-novo-determinismo-geografico/
Meridionais: apreciai..., com moderação...
Paulo Roberto de Almeida

A opção preferencial pelo Sul: um novo determinismo geográfico?

A diplomacia Sul-Sul é melhor, mais produtiva, mais benéfica e de maiores retornos concretos do que a diplomacia tradicional?
mapamundi2

Introdução

A temática da política externa voltada para as relações Sul-Sul tem sido enfatizada de maneira recorrente nos últimos anos; para ser mais exato, desde o início do governo Lula, numa espécie de retomada de alguns dos padrões da diplomacia praticada nos tempos da política externa independente (1961-1964) e, novamente, na era Geisel (1974-1979). Grande parte da produção universitária brasileira sobre a política externa nos governos petistas tende a considerar a diplomacia brasileira a partir de 2003, e mais especificamente a concepção Sul-Sul que a sustenta, como orientações eminentemente positivas para a postura internacional do Brasil. De fato, a recepção dessas políticas no ambiente acadêmico tem sido a melhor possível, aliás, talvez até mais do que isso, na medida em que tal diplomacia aparece, em muitos escritos, como uma determinação absolutamente necessária para a política externa brasileira, quaisquer que sejam os resultados efetivos desse tipo de política no contexto em que ela é operada. A postura adotada neste ensaio se coloca em desacordo conceitual, quando não em contraposição política, com esse tipo de orientação predominantemente Sul-Sul da diplomacia brasileira desde 2003, por razões que serão expostas ao longo do texto.
É de se esperar que os processos e programas de cooperação científica, cultural ou tecnológica entre os países, sem descurar dos fluxos dos mais diversos tipos, nas áreas financeira, educacional, militar, ou simplesmente turística, sejam desenvolvidos em todas as direções possíveis ou existentes, em especial em estreito contato com os países que melhores condições oferecem para transferências de tecnologia, fluxos de investimentos diretos, cooperação científica e educacional, enfim, em todas as benesses possíveis da civilização moderna. Em resumo, e preventivamente, a interação que uma diplomacia inteligente deveria buscar para a nação que representa deveria ser dirigida a todos os quadrantes do globo, com ênfase naquelas direções com maiores possibilidades de ser estabelecido um relacionamento mutuamente benéfico (e mais ainda, no caso de países menos desenvolvidos, unilateralmente proveitoso).
Tendo estes elementos presentes, como supostos de senso comum, o que poderia levar dirigentes políticos, ou diplomáticos, a preferir a parte em lugar do todo, a eximir-se de explorar o conjunto de possibilidades de cooperação, substituindo uma ampla interface por um número mais reduzido de opções? Dito de outra forma: o que poderia levá-los a colocar uma viseira unidirecional no horizonte de relacionamentos externos do país? Por que, finalmente, amputar o país da exploração irrestrita do estoque universal de conhecimento humano acumulado até os nossos dias?

Um novo determinismo geográfico na política externa brasileira?

Quando se fala de uma “política externa voltada às relações Sul-Sul”, se as palavras possuem algum significado preciso, se entende que as relações internacionais desse país chamado Brasil devem estar prioritariamente voltadas para essa tal dimensão regional, não exatamente planetária, mas voltada para o hemisfério Sul, isto é, para os territórios, regiões e países normalmente identificados como periféricos, dependentes, em desenvolvimento, emergentes, ou outras variantes dessa mesma família. O conceito não é tão estreitamente geográfico, quanto ele é flexivelmente político, uma vez que alguns desses países podem não se conformar, exatamente, a essa geografia ou a esse padrão típico das nações em desenvolvimento, ou seja, ex-colônias ou dependências europeias a partir dos quatro ou cinco séculos após os “descobrimentos” europeus.
Por exemplo, a despeito do fato de que a China se situe no hemisfério Norte, e de que ela conduza, efetivamente, uma política estratégica, comercial, financeira, política, ou qualquer outra objetivamente orientada a todos os quadrantes possíveis, mas mais enfaticamente em direção ao próprio Norte – e para constatar isso basta computar seus fluxos comerciais e financeiros, ademais de sua atuação no âmbito dos organismos multilaterais –, o gigante asiático é comumente identificado como sendo um país do Sul, em parte porque se trata de uma economia supostamente em desenvolvimento, ou porque ela costuma se opor às velhas potências hegemônicas. Mas, com base naquilo que conta, de fato, ou seja, sua postura estratégica, seu poder nuclear, seus intercâmbios econômicos, seria a China, verdadeiramente, um país do Sul? Existem dúvidas, mas admitamos que sim. Ela não define, em todo caso, sua diplomacia como Sul-Sul.
Para todos os efeitos práticos, a política Sul-Sul costuma se referir justamente aos países não hegemônicos, ou seja, todos aqueles que não foram potências imperiais ou poderes coloniais no passado remoto, ou mais recentemente. Portugal, a esse título, seria uma potência hegemônica? Também existem dúvidas a esse respeito. E a Espanha, se enquadra na categoria? Certamente até a era das independências latino-americanas, mas com menos certeza depois disso. E a pequena Holanda? Também se encaixa na noção de potência hegemônica? Talvez. Ao longo da história, países que se projetaram hegemonicamente sobre outros, durante certo período – como o Império Otomano, por exemplo, ou a própria China imperial – terminaram por se encontrar identificados ao conjunto de nações dependentes ou periféricas. No conjunto, o conceito do Sul se aplica ao que se convencionou habitualmente chamar de “Terceiro Mundo”, ou Grupo de países em desenvolvimento, G77, embora sua diversidade seja hoje tão importante quanto sua composição ao longo das quatro ou cinco décadas pós-Segunda Guerra Mundial.
Abordando concretamente o caso em espécie, parece evidente que países que são de fato grandes potências – como China ou Rússia, por exemplo – podem ser eventualmente assimilados ao conceito geopolítico do Sul, que parece compreender todos os países que não exerceram um papel dominador na era da preeminência europeia e dos países desenvolvidos que emergiram a partir do colonialismo inglês. A Rússia, por exemplo, se encaixa mal no perfil “Terceiro Mundo” – já que se trata de uma potência imperial, bem mais importante no passado do que atualmente –, mas ainda assim ela é considerada uma aliada para grande parte das causas do Sul; a China, por sua vez, sempre se considerou, e foi considerada, um país em desenvolvimento, mas ela nunca cingiu suas relações internacionais e suas estratégias de política externa ao grupo identificado com a sigla G77.
Em todo caso, nenhum dos dois, Rússia ou China, se enquadra na categoria “ocidental”, ou seja, das modernas democracias de mercado, tal como definida nos trabalhos do historiador britânico Niall Ferguson, um convencido adepto das bondades do imperialismo para o avanço da civilização. O Brasil, que no passado da Guerra Fria também se identificava com a civilização cristã e ocidental, passou a se considerar, em algum momento dos anos 1970, como um país do Terceiro Mundo, e orgulhoso de sê-lo (ainda que nem todos, no Itamaraty, concordassem com o rótulo). Aparentemente, nos últimos dez anos, voltamos a aderir aos conceitos e posturas dos anos 1960 e 1970, até com o mesmo orgulho e empenho em continuar a pertencer à mesma família.
Assim, para a atual diplomacia brasileira, esses dois grandes países, tidos como não hegemônicos, parecem se encaixar numa definição ampla do Sul, de molde a poder justificar alguma coordenação de políticas e o estabelecimento de alianças e de plataformas conjuntas de ação, em itens da agenda internacional que, teoricamente, corresponderiam a objetivos compartilhados. Rússia e China, pelo menos, foram considerados como suficientemente “alinhados” com as teses principais da diplomacia brasileira, a partir de 2003, para legitimar o lançamento de iniciativas comuns, nos mais diversos foros do debate multilateral e bilateral, a exemplo do Brics (aliás, o único grupo diplomático no mundo a ter sido formado por uma sugestão externa aos próprios países envolvidos). Outros dois países, Índia e África do Sul, foram imediatamente reconhecidos como parceiros estratégicos para suscitar a criação de um outro grupo, o IBAS, que responde perfeitamente à definição das “relações Sul-Sul” para essa nova diplomacia brasileira.
Independentemente, porém, do leque concreto de países mobilizados para fins de formação de grupos e para coordenação de posições, temos primeiro de considerar a questão “filosófica”, que consiste a examinar se esse direcionamento geográfico se justifica no plano das intenções e dos resultados práticos, não só para a diplomacia brasileira, mas para o país, tão simplesmente, para sua economia e sua sociedade.
Assim sendo, o que é uma diplomacia Sul-Sul do ponto de vista do Brasil? Ela é, obviamente, uma mudança de eixo no relacionamento externo do país, apontando preferencialmente para países do Sul, tanto em sua acepção geográfica quanto no plano geopolítico. Por que isso e como isso se coaduna (ou não) com as posturas tradicionais da diplomacia brasileira, e como isso se encaixa no leque de possibilidades abertas, no supermercado da História, à economia ou à sociedade brasileira? Nosso país deve praticar uma diplomacia Sul-Sul? Ela é melhor, mais produtiva, mais benéfica e de maiores retornos concretos do que a velha diplomacia sem marcas geográficas ou geopolíticas definidas?
Obviamente que seus formuladores, promotores, patrocinadores e operadores dirão que sim, que ela é boa, e que de fato não discrimina os outros, os que sobraram nas outras direções, geralmente Norte, mas possivelmente também Leste e Oeste, ainda que não se saiba bem o que esses dois últimos termos significam atualmente, depois do fim da Guerra Fria. Visivelmente, a política externa brasileira voltou a ver o mundo segundo antigas linhas de divisão Norte-Sul, o que, por sinal, corresponde a velhos preconceitos de extração classista, ao gosto sindical: nós, de um lado, eles, do outro.
O significado do Sul tem a ver com uma assimetria básica que existiria no terreno das definições e das escolhas políticas, para alguns de caráter fundamental: de um lado, o Norte desenvolvido, capitalista, hegemônico e aparentemente arrogante, por vezes até unilateral e dominador; de outro, o Sul, periférico, dependente, explorado, enfim, em desenvolvimento e, portanto, naturalmente, interessado em posturas comuns para romper a dominação e tornar o mundo mais democrático e multilateral. Esse tipo de atitude já foi registrado na política externa brasileira em pelo menos duas épocas anteriores, nomeadamente a chamada “política externa independente”, dos anos 1961-1964, e depois o “pragmatismo responsável”, do governo Geisel (1974-1979).
A política externa do governo Lula, clara e oficialmente autodesignada como sendo Sul-Sul, reivindica plenamente essa herança das experiências anteriores, e proclama que retomou tradições anteriores de “independência” nas relações exteriores do Brasil, pretendendo com isso dizer que todas as demais administrações praticaram diplomacias alinhadas, dependentes, ou até submissas ao império ou aos organismos multilaterais de Washington. Deixemos esse maniqueísmo ridículo de lado, para passar a examinar, concretamente, as virtudes e méritos desse tipo de seletividade geográfica, ou suas limitações e insuficiências.

Alguns exemplos do novo determinismo geográfico e seus resultados práticos

Alguém acha, por exemplo, que os problemas sociais e políticos brasileiros têm algo a ver com os problemas sociais e políticos da Índia, ou da África do Sul? Alguém acha, em sã consciência, que grupos de trabalho, juntando burocratas dos três países, produzirão algo mais do que intensas viagens de burocratas governamentais e algumas belas declarações e programas de trabalho que prometem continuar juntando os mesmos burocratas, ou outros, em reuniões infinitas, tentando encontrar respostas comuns a problemas que são naturalmente, intrinsecamente, necessariamente diferentes, quando não incompatíveis entre si, no seu contexto, na sua forma e substância?
Alguém acha, de verdade, que um programa prometedor, em princípio, como o Ciência Sem Fronteiras, vai apresentar brilhantes resultados, se os candidatos brasileiros escolherem estudar nos mesmos países, ou na América Latina, ou então exclusivamente nos países ibéricos? Se os estudantes o fazem, em direção destes últimos, talvez seja porque não estejam suficientemente habilitados em inglês, francês ou alemão, para aproveitar o que de melhor a ciência produziu nos últimos duzentos anos. Mas alguém acha, sinceramente, que esse programa estará bem servido, e servirá ao país, numa direção essencialmente Sul-Sul, em lugar de se dirigir aos centros reconhecidos de excelência na ciência e na tecnologia mundiais? A tese Sul-Sul não parece sustentável nestes casos de qualificação científica e tecnológica.
No terreno das políticas comerciais, por exemplo, o grande sucesso apregoado logo no início do governo Lula, a formação do G20 comercial, durante a conferência ministerial da OMC, em Cancun, em setembro de 2003, visava, segundo o próprio, “dar um truco” nos países ricos e impedi-los de, mais uma vez, acertar acordos entre eles às custas dos países em desenvolvimento. Os objetivos formais do bloco seriam os de eliminar ou diminuir o protecionismo agrícola dos países avanços, seus subsídios internos à produção e as subvenções às exportações, que tanto prejudicam exportadores competitivos e não subvencionistas como o Brasil.
Visto o grupo mais de mais de perto, porém, a seletividade geográfica de suas demandas, justamente no sentido Sul-Sul, revela-se, na verdade, de uma esquizofrenia exemplar, já que aquilo que é solicitado aos ricos é mantido como legítimo pelos e para os seus integrantes. Ora, se admitirmos que a demanda crescente de bens alimentares nos próximos anos e décadas virá, basicamente, de grandes países em desenvolvimento, como China e Índia, precisamente – já que a expansão desses mercados nos países ricos será quase vegetativa, ademais da demanda não ser beneficiada por alta elasticidade-renda, nesses casos – então a derrogação feita em favor dos países do Sul não é exatamente conforme aos interesses do agronegócio brasileiro ou das exportações do Brasil, em geral, para esses mercados dinâmicos.
Tomemos um outro caso, o das políticas de promoção comercial, que deveriam colocar em evidência o fato elementar de que, o acesso a mercados, do ponto de vista microeconômico, não apresenta nenhuma distinção geográfica, de natureza política, étnica ou ideológica; ou seja, para o capitalista exportador, qualquer mercado é mercado, seja ele interno, externo, rico, pobre, preto ou branco, bastando que ele seja solvente, acessível e de preferência estável e crescente. Não se duvide, nesse particular, que os mercados consolidados dos países ricos do capitalismo desenvolvido apresentam as melhores perspectivas nesses quesitos, e assim entendem os países dinâmicos da Ásia, que já criaram a sua “nova geografia do comércio internacional”, como pretendia o presidente Lula, com base justamente nessas constatações elementares de senso comum: exportemos, para onde for e para quem puder comprar.
Mercados de países em desenvolvimento, no continente africano ou em outras regiões, podem ser interessantes para explorar e abastecer, mas não em detrimento de mercados consolidados e solventes (como os dos países desenvolvidos, por exemplo). Todos exportam para os EUA, um dos mercados mais abertos do mundo, e quase todos possuem saldos nas balanças bilaterais; seria uma maldição o Brasil ser um dos poucos países a exibir déficits nessa relação?
E por que o Brasil tolera, por exemplo, discriminação contra os seus produtos no intercâmbio com a Argentina, salvaguardas e medidas de defesa comercial abusivas e ilegais, tanto do ponto de vista do Mercosul, quanto no que se refere às regras do sistema multilateral de comércio? Por que o Brasil é, talvez, o único país no mundo que instituiu um programa de “substituição de importações”, que visa, segundo o presidente Lula, praticar uma “diplomacia da generosidade” com os seus vizinhos, importando seus produtos mesmo que eles sejam mais caros ou de menor qualidade do que os de outros ofertantes competitivos? Esta seria uma política Sul-Sul conforme aos nossos interesses nacionais, aos da comunidade brasileira de negócios?
Por que será que o Brasil parou de impulsionar a cooperação com os países do Norte? Seria porque eles foram ou são imperialistas, e não existe mais nada a aprender deles ou com eles? Por que o Itamaraty, e o próprio Instituto Rio Branco, cessou de fazer intercâmbios com outras regiões além da América do Sul, África e alguns poucos países asiáticos? Será que temos mais a aprender com países que, em vários quesitos se situam abaixo dos níveis já alcançados pelo Brasil em pesquisa científica e inovação tecnológica? A política Sul-Sul nos traria tantos benefícios quanto aqueles que manifestamente obtivemos, ao longo das últimas décadas, nas relação com países do Norte? Existe alguma rationale, além de simples postura política, que poderia explicar tudo isso?
Pode-se, eventualmente, invocar o princípio inventado da “não indiferença”, ou o dever de solidariedade, para justificar, por exemplo, a cooperação ou assistência ao desenvolvimento que o Brasil passou a prestar a países menos avançados, alguns, aliás, manifestamente miseráveis. Não se pode argumentar contra esse tipo de iniciativa, mas caberia lembrar, a propósito, que o Brasil segue o mesmo caminho dos países ricos que, nas últimas cinco ou seis décadas, despejaram dezenas, ou centenas de bilhões de dólares nesses países, sem que resultados palpáveis tenham resultado dessas ações.
Em outros termos, são pouquíssimos os exemplos, se algum, de algum país pobre que se tenha alçado de sua condição miserável com base na ajuda ao desenvolvimento, embora existam vários que ascenderam na escala do desenvolvimento com base na inserção produtiva global, no comércio e nos investimentos estrangeiros. Mas isso não é novo: nos anos 1950, ainda antes das independências africanas, um espírito lúcido como o economista britânico de origem húngara, Peter Bauer, alertava contra a propensão a pretender “ajudar” os países africanos, em lugar de inseri-los na economia mundial pela via do comércio e da interdependência econômica. Suas advertências permanecem cruelmente atuais. E, se quisermos, análises mais recentes, eu recomendaria a leitura dos trabalhos do ex-economista do Banco Mundial, William Easterly, que demonstrou como a ajuda externa estava prejudicando, em lugar de ajudar, os países assim assistidos. O Brasil pode fazer o mesmo, mas não deveria deixar de considerar essas advertências.
Mas, mesmo nos casos de alianças políticas, será que a bússola do Sul é a que melhor serve aos interesses do país? Os que argumentam positivamente podem invocar a surrada tese dos interesses comuns dos países dependentes, em face dos interesses dos países do Norte em preservar a ordem atual, para eles injusta e desigual, de distribuição de poder e influência no plano mundial. Não é preciso, novamente, afastar como paranoicas e conspiratórias tais visões das relações internacionais, talvez aceitáveis para mentes simplistas, e simplificadoras, dos que dividem o mundo em linhas classistas, mas que não apresentam a mínima consistência para mentes mais abertas e inteligências mais aguçadas. Infelizmente, grande parte da academia brasileira ainda se compraz com as teses intelectualmente indigentes da “dependência”, com as teorias mistificadoras do “chutando a escada”, enfim, com o eterno complô das elites e das classes dominantes, que supostamente impedem países do Sul na sua justa ascensão a patamares mais altos de desenvolvimento e de prosperidade.
A pobreza conceitual e a total inadequação histórica desses tipos de concepção em torno das relações internacionais poderiam nos fazer sorrir, pelo que têm de patético, se não fosse pelo trágico de estarem sendo disseminados, continuamente, em nossas academias, por vezes até por vozes autorizadas, ou supostamente tais. Um pouco mais de seriedade na pesquisa, e de honestidade intelectual, já deveriam ter afastado de vez as visões ingênuas do mundo, as concepções maniqueístas, os conceitos ultrapassados que, muitas vezes, passam por construções teóricas dignas de acolhimento no ambiente acadêmico que conhecemos no Brasil e em grande parte da América Latina.
Aliás, seminários, conclaves, colóquios ou encontros exclusivamente latino-americanos, tendem a suscitar sentimentos de cansaço intelectual, em face das mesmas ladainhas e slogans que certamente serão ouvidos: a integração regional vai trazer desenvolvimento, autonomia, independência e dignidade, pois apenas entre latino-americanos é possível construir um futuro comum, já que somos todos iguais, inteligentes e sobretudo preparados para as grandes tarefas da construção da soberania.
Esse ritual de mesmices simplórias, essa repetição infindável das mesmas receitas ultrapassadas, que certas mentes anacrônicas insistem em nos impingir, só podem provocar cansaço intelectual. Se a América Latina fosse tão boa em aplicar suas receitas de desenvolvimento quanto ela o foi em conceber suas pretensas virtudes autonomistas e desenvolvimentistas, aliás desde o final dos anos 1940, ela já seria, meio século depois, infinitamente mais desenvolvida, mais igualitária, mais justa e menos corrupta, do que ela é, de fato, atualmente.
Não é preciso percorrer a enciclopédia de soluções geniais aos seus problemas de subdesenvolvimento, pois equivaleria a repassar um cemitério inteiro de ideias fracassadas, mas que insistem em nos importunar, como zumbis conceituais que não querem desaparecer. Basta com citar duas obras de analistas conhecidos, ambos trabalhando em academias americanas e, portanto, altamente suspeitos aos olhos de muitos; não importa: como Machado de Assis, pode-se julgar quaisquer produções intelectuais pela consistência intrínseca de seus argumentos respectivos, não pela identidade de quem os expressa. Pode-se citar, em primeiro lugar, a análise de história econômica de Sebastian Edwards, um chileno que leciona na Califórnia, e que publicou, em 2010, Left Behind: Latin America and the False Promise of Populism (University of Chicago Press), um retrato realista, talvez cruel, do nosso longo declínio e dos muitos erros de políticas econômicas. Em segundo lugar, se coloca o conhecido sociólogo Francis Fukuyama, que em 2008 coordenou um seminário cujo resultado, organizado e publicado por ele recebeu um título quase similar: Falling Behind: Explaining the Development Gap Between Latin America and the United States (Oxford University Press, com edição no Brasil: Ficando para Trás; Rocco Editora), com a participação de conhecidos especialistas das duas regiões.

O novo determinismo geográfico: um novo fracasso à espreita?

Existiriam, ainda, muitos outros argumentos históricos, econômicos, políticos, ou até mesmo culturais, contra uma visão seletivamente restritiva, no âmbito geográfico, para uma definição estratégica de nossas principais políticas macro ou setoriais. Bastaria, aliás, alinhar outras razões, e elas seriam muitas, para não cair nesse tipo de reducionismo absurdo que consiste em privilegiar determinados parceiros, ou certas direções cardeais, na seleção dos relacionamentos, dos contextos de cooperação, na busca de soluções ou receitas de desenvolvimento.
Pode-se julgar todos os tipos de autonomismos superficiais, de soberanismos vazios, e de nacionalismos exacerbados como sendo especialmente nefastos na grande tarefa do desenvolvimento e do crescimento econômico sustentado. A abertura ao comércio e aos investimentos internacionais constitui uma boa política, a conjugar-se com a estabilidade macroeconômica, com a competitividade microeconômica, com a boa governança e alta qualidade dos recursos humanos, para alcançar fins benéficos, de inserção no mundo e de promoção da prosperidade social.
Um outro grande equívoco, obviamente, é achar que, trabalhando com apenas uma das partes se consegue chegar ao todo. Esse todo, não é preciso repetir, é a busca da pesquisa de ponta, da excelência intelectual, do avanço tecnológico; e o equívoco consiste em se privar do contato com o que existe de mais refinado no mundo em nome de não se sabe bem qual solidariedade política ou qual afinidade ideológica. É esse equívoco que está na origem dessa nefasta seletividade geográfica, para a qual não se pode encontrar nenhum mérito, nem mesmo o de continuar nas mesmas latitudes, climas e temperaturas.
A autonomia mental, a liberdade de escolha, a amplitude de visões, a mais completa seleção de opções, enfim, a total soberania geográfica nos relacionamentos externos parecem, de longe e em todas as hipóteses, as posturas mais adequadas na determinação das políticas, as que melhor respondem a nossas necessidades teóricas e práticas. Essa postura geral corresponde, aliás, ao livre arbítrio individual e à total liberdade de escolha, que devem sempre prevalecer nos assuntos humanos e sociais.
Esta é uma simples constatação de bom senso. Nunca devemos deixar de exercer nosso direito à total liberdade de espírito e à mais completa autonomia da razão. É bem melhor ser um completo anarquista do pensamento e um libertário incorrigível, do que ser um dependente de crenças alheias.
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Este ensaio é uma versão abreviada de um dos capítulos do recém-lançado Nunca Antes na Diplomacia…: A política externa brasileira em tempos não convencionais (Curitiba: Editoria Appris).

Historia economica dos Estados Unidos: a primeira economia mundial desde 1870 (Delanceyplace)

Today's encore selection -- from Land of Promise by Michael Lind. By 1868, the United States had already become the world's largest economy, and by 1914 -- the dawn of World War I -- the US economy was larger than the economies of Britain, France, and Germany combined. With such extraordinary growth, the US required enormous new resources -- especially labor. To fill that need, immigrants came pouring into the US from around the world, turning America into a nation of immigrants. Greeting many of these immigrants was the Statue of Liberty and Emma Lazarus's immortal phrase, "give us your tired, your poor, your huddled masses yearning to breathe free":

"In 1867-1868, the United States surpassed Britain in gross domestic product (GDP), becoming the world's largest economy. The growth of the size of the American economy was driven by a combination of productivity growth with a rapid increase in population, driven by mass immigration from Europe between the 1840s and World War I.

"The US population increased from forty million in 1870 to seventy-six million in 1900. Two-thirds of the growth was the result of natural increase, one-third the result of immigration.

"Of the seventy-six million Americans in 1900, a third were either foreign born or the children of foreign-born parents. In 1910, the foreign-born and their first-generation children accounted for more than 70 percent of the population in New York, Chicago, Boston, Milwaukee, and Detroit.

"The Statue of Liberty was unveiled at a ceremony attended by President Grover Cleveland on October 28, 1886. The New York Herald described the scene: 'Amid the uproar and excitement that succeeded the consecration of the statue, there glided through the Narrows a huge steamship crowded with European immigrants. From her decks the eyes of the strangers were fixed upon the wonderful drama in progress before them. The cannon smoke and vapor rolled up, and ringed in a huge, fire-fringed semicircle, they saw before them the mighty figure of Liberty. Imagination can only conceive of what to their tired eyes, weary with the hardships, the hopelessness and the cruelties of the Old World, this apparition must have conveyed.'

"Although the purpose of the Statue of Liberty was to commemorate the French-American alliance during the American Revolution, it became an inspiring symbol to the millions of immigrants who passed it before arriving to be processed for entry to the United States at Ellis Island. The link between the statue and immigration was reinforced by 'The New Colossus,' the 1883 poem by Emma Lazarus engraved into the base:

Not like the brazen giant of Greek fame,
With conquering limbs astride from land to land;
Here at our sea-washed, sunset gates shall stand
A mighty woman with a torch, whose flame
Is the imprisoned lightning, and her name
Mother of Exiles. From her beacon-hand
Glows world-wide welcome; her mild eyes command
The air-bridged harbor that twin cities frame.
'Keep, ancient lands, your storied pomp!' cries she
With silent lips. 'Give me your tired, your poor,
Your huddled masses yearning to breathe free,
The wretched refuse of your teeming shore.
Send these, the homeless, tempest-tost to me,
I lift my lamp beside the golden door!' "

Land of Promise: An Economic History of the United States
Author: Michael Lind
Publisher: Harper Paperbacks
Copyright 2012 by Michael Lind
Pages: 168-169

Ucrania-Russia: sancoes contra o Ocidente; Brasil escapou (e vai lucrar com isso...)

Certamente um motivo de regojizo para alguns. Que bom que o nosso governo foi preclaro, previdente, astucioso. Ele sabia o que iria acontecer, tanto quanto sabia a trajetoria do avião do aliado preferencial anti-hegemônico...
Alguns sempre preferem ficar do lado de certas causas...
Paulo Roberto de Almeida 
Russia Responds to Western Sanctions With Its Own
Moscow announced a ban on all beef, pork, fruit, vegetables and dairy products from the European Union, the United States, Canada, Australia and Norway.

MOSCOW — Russia announced on Thursday that it was banning the import of a wide range of food and agricultural products from Europe and the United States, among others, responding to Western-imposed sanctions and raising the level of confrontation between the West and Moscow over the future of Ukraine.
Dmitri A. Medvedev, the prime minister, announced that Russia would ban all beef, pork, fruit, vegetables and dairy products from the European Union, the United States, Canada, Australia and Norway for one year.
“We hoped until the very last that our foreign colleagues would realize that sanctions are a dead end and that nobody needs them,” Mr. Medvedev said. “Things have turned out in such a way that we have to implement retaliatory measures.”
Russia was still considering various measures involving aviation, including a ban on flights over Siberia, which would affect routes used by European and American airlines that fly to Asia, he told a cabinet meeting broadcast live on state-run satellite news channels.
Narrowing the air corridors open to Western carriers was another possibility, he said. Mr. Medvedev announced that all Ukrainian air carriers were barred from transiting Russian air space — effectively ending many flights to former Soviet republics from Kiev. In the Soviet era, all Western airlines were barred from flying across Russia, and barring them now would increase both costs and flying times again.
Finally, he said Russia was studying the possibility of introducing restrictions on the import of planes, navy vessels and cars, although the government would first make a realistic assessment of its own production capabilities.
The European Union’s policy-making body said it regretted Russia’s move, saying it reserved the right to impose additional retaliatory measures.
“This announcement is clearly politically motivated,” the European Commission said in a statement Thursday. "We underline that the European Union's restrictive measures are directly linked with the illegal annexation of Crimea and destabilization of Ukraine. The European Union remains committed to de-escalating the situation in Ukraine. All should join in this effort."
Analysts suggested that President Vladimir V. Putin, who enjoys huge popularity at home, felt the need to respond in some way as Western nations and even Japan added more and more sanctions after three rounds.
The United States and the European Union have said that Russia, after taking the Crimean peninsula from Ukraine last March, is destabilizing the rest of the country by supplying arms and fighters to a rebellion in the east. Russia denies it is fueling the insurgency.
Western sanctions started with freezes on the assets of senior officials and of companies linked to Mr. Putin or Crimea, but last week they were increased to include some financing for state banks, many arms deals and important technology for the energy sector.
Economic analysts suggested that the measures would have an immediate but moderate impact on the Russian economy, mostly as the country seeks other suppliers in Latin America and Africa for most of the food imports from Europe.
“Even if Russia says it will try to find additional sources of supply, it will be difficult in the short term,” said Ivan Tchakarov, the chief economist at Citibank for Russia. “Consumers will feel some pinch but I don’t think it will be a massive impact.”
The crisis next door in Ukraine is likely to have much more of an impact than the new food sanctions, but it could affect prices.
“The key question is what the effect on inflation will be,” he said. The bank is estimating that price increases could add one or two points to the inflation rate for 2014, currently running around 6.5 percent.
According to figures compiled by the bank and other agencies, Russia imports about 25 percent of its food, worth some $43 billion annually. Of that, about 75 percent, or $30 billion, comes mainly from Europe and the United States. The other 25 percent is mainly from former Soviet republics.
Wealthy consumers in Moscow and St. Petersburg consume goods like cheese and fruit from the West in far greater amounts than consumers in other parts of Russia. However, the cheaper dairy products and other goods that ordinary Russians buy often came from Ukraine and are now banned as well.
“Over all, I think it will have a moderate impact on consumption and a moderate impact on inflation,” Mr. Tchakarov said.
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Addendum: dito e feito...

Rússia anuncia aumento de importação de carne do Brasil

Decisão foi tomada após restrição de importação de alimentos dos EUA e da União Europeia, que impuseram sanções à Rússia

Rússia anunciou que vai proibir importação de alimentos dos EUA, UE, Austrália, Canadá e Noruega
Rússia anunciou que vai proibir importação de alimentos dos EUA, UE, Austrália, Canadá e Noruega (Mikhail Klimentyev/RIA Novosti/Kremlin/Reuters/VEJA)
O ministro da Agricultura da Rússia, Nikolai Fyodorov, afirmou nesta quinta-feira que o país compensará a proibição de importação de alimentos e produtos agrícolas da União Europeia (UE) e dos Estados Unidos com maior fornecimento de carne do Brasil. Segundo o ministro, o país também discute a proibição de importação com Cazaquistão e Belarus.
A Rússia anunciou nesta quinta-feira que vai proibir a importação de frutas, vegetais, carnes, peixes e laticínios dos EUA, UE, Austrália, Canadá e Noruega. A decisão acontece após um decreto assinado pelo presidente Vladimir Putin proibir ou limitar importações de alimentos de países que impuseram sanções à Rússia pelo apoio aos rebeldes no leste da Ucrânia e pela anexação da Crimeia. "Não há nada bom em sanções e não foi uma decisão fácil de tomar, mas tivemos de fazer isso", disse o primeiro-ministro russo, Dmitry Medvedev. A proibição será válida a partir de 7 de agosto e terá duração de um ano.