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quarta-feira, 9 de março de 2016

Projecoes de queda do PIB este ano ja superam os 4% - OESP

Como escreveu o ex-ministro ( e até recentemente conselheiro econômico do Lula e da Dilma...) Delfim Netto, é preciso muita "competência" para conseguir jogar o Brasil em uma recessão dois anos seguidos ( e serão 3, ao que tudo indica, porque as previsões para 2017 são catastróficas também, caso não ocorra o impeachment ou deposição da presidenta Dilma...). Portanto, todos os patriotas às ruas no domingo 13 pelo impeachment da Dilma e/ou anulação da fraude eleitoral de 2014 !
Mauricio David

Projeções de queda do PIB este ano já superam os 4%
Luiz Guilherme Gerbelli e Marcia de Chiara
O Estado de S.Paulo, 8/03/2016

Safra de números negativos no início deste ano provocou revisões nas expectativas para a economia feitas por consultorias e bancos

A economia brasileira deverá ter em 2016, segundo analistas, uma recessão até mais forte do que a registrada no ano passado, quando o Produto Interno Bruto (PIB) caiu 3,8%. Nas projeções de bancos e consultorias, a queda da atividade pode até passar de 4% neste ano. Além disso, sem uma mudança de cenário, a avaliação é que pode haver mais um recuo também em 2017.

A safra de números negativos da economia no início deste ano provocou as revisões, para baixo, nas projeções para o PIB. Entre as razões apontadas para a mudança está a piora da indústria, do varejo e do crédito.

Na sexta-feira, o Credit Suisse reduziu a projeção para o PIB de 2016, de uma contração de 3,5% para 4,2%. Em 2017, a economia brasileira deve sofrer uma queda de 1%. “Os principais indicadores de atividade continuam a sugerir deterioração adicional da economia no primeiro trimestre”, informou o banco em relatório.

A Rosenberg Associados também piorou a perspectiva para 2016. Nos últimos dias, a consultoria revisou a projeção para o PIB de 2016 de -3,5% para -4%.

“Em janeiro e fevereiro, a produção industrial foi muito ruim”, diz Thaís Zara, economista-chefe da Rosenberg. Só a produção de veículos no primeiro bimestre recuou 31,6% na comparação com o mesmo período do ano passado. “O comércio varejista também começou o ano mal”, afirma. Em janeiro, ela projeta uma redução de 7,9% no volume do varejo restrito (não inclui automóveis nem material de construção) em relação ao mesmo período de 2015.

A indústria e o varejo vão continuar emagrecendo neste ano por causa do tombo que houve no crédito, um dos motores do crescimento da economia nos últimos anos. Nas contas do diretor de pesquisa da GO Associados, Fabio Silveira, houve uma retração de 7,7% no crédito ao consumidor em janeiro deste ano comparado ao mesmo mês de 2015. “O crédito irriga 60% do PIB. Com essa retração, tiraram a escada”, diz Silveira. Ele revisou a projeção do PIB deste ano de -3,5% para -4,2%.

Política. A projeção para o desempenho da economia pode piorar ainda mais, dependendo do desenrolar da política.

Para os analistas, se houver uma atenuação da crise política, reformas importantes podem começar a sair do papel e, consequentemente, causar uma melhora das expectativas para a atividade. “Só um ambiente político mais harmonioso, que permita o avanço de algumas relevantes reformas, poderia encurtar esse longo ciclo de crescimento baixo”, diz Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco. O banco estima uma retração de 3,5% neste ano, mas projeta um crescimento de 1,5% no ano que vem, em um cenário com uma atenuação da crise política.

'Só um ambiente político mais harmonioso, que permita o avanço de algumas relevantes reformas, poderia encurtar esse longo ciclo de crescimento baixo', diz Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco
Sustentabilidade. A MB Associados projeta queda de 3,8% no PIB deste ano e um crescimento de 0,6% em 2017, se a presidente Dilma Rousseff deixar o cargo. No caso dela continuar, a retração pode chegar a 4,9% este ano e a 1% em 2017. “A presidente não consegue mais liderar qualquer tipo de mudança na economia, muito menos reformas”, diz Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados.
Projeções
 
Mesmo os economistas que estimam um desempenho da economia um pouco melhor em 2017, avaliam que não se trata de algo sustentável. “É preciso uma retomada da confiança que traga os investimentos de volta”, diz Maurício Molan, economista-chefe do Santander. O banco espera avanço de 1,2% em 2017.

terça-feira, 8 de março de 2016

Miniresenhas de livros de diplomatas - Revista ADB 1/2016 - Paulo Roberto de Almeida

Como ainda vai demorar para a revista da ADB ser publicada, e como não sei se vão publicar todas as oito miniresenhas, ou guilhotinar um quarto ou até a metade, resolvi postar aqui preventivamente as elaboradas desde o ano passado e recentemente dos últimos livros recebidos, ou lidos em biblioteca.
Já tenho várias outras no pipeline, ou no forno, ou ainda na sala de espera...
Paulo Roberto de Almeida


Prata da Casa - Revista ADB: 1ro. quadrimestre 2016

Paulo Roberto de Almeida
Revista da Associação dos Diplomatas Brasileiros
(ano 23, n. 92, janeiro-abril 2016, p. xx-xx; ISSN: 0104-8503)

(1) Synesio Sampaio Goes Filho Navegantes, Bandeirantes, Diplomatas: um ensaio sobre a formação das fronteiras do Brasil (ed. rev. e atual.; Brasília: Funag, 2015, 409 p.; ISBN: 978-85-7631-544-5; coleção História Diplomática)


O autor vem navegando com este livro desde 1982, e ele já atravessou pântanos, corredeiras e despenhadeiros, para converter-se no que é hoje, apropriadamente, um clássico de nossa historiografia das fronteiras, na companhia do Barão, de Hélio Vianna, de Jaime Cortesão e de outros especialistas e negociadores, sem esquecer bandeirantes e diplomatas, que também deram sua contribuição para o Brasil ser o que é, desde o início da República. Nesta nova edição, o livro traz mais mapas e acrescenta revisões feitas a partir de suas outras encarnações, inclusive comerciais. O autor, tanto por esta obra de síntese didática e interpretativa, como pelas suas aulas no Instituto Rio Branco e outros trabalhos publicados, merece ser incluído entre os diplomatas-historiadores, uma distinção que vale tanto quanto ser classificado de grande negociador em prol do país.


2) Gelson Fonseca Jr.: Constantes e variações: a diplomacia multilateral do Brasil (Porto Alegre: Leitura XXI, 2015; 216 p.; ISBN: 978-85-86880-55-1);


O livro é uma adaptação da tese de doutorado defendida na URGS em 2014 e examina a importância do multilateralismo na política externa brasileira desde o início da República até os nossos dias. Depois de uma introdução bibliográfica e de uma discussão sobre a teoria do multilateralismo, o autor percorre os momentos fundadores da diplomacia brasileira, desde Rio Branco e Rui Barbosa até a Liga das Nações e São Francisco e, num grande capítulo sobre a evolução das posições brasileiras na ONU – onde ele foi representante – desde 1947, cobre o tema desde a era da Guerra Fria até a fase da redemocratização, passando pela Política Externa Independente e a diplomacia do regime militar. Um longo prefácio do ex-chanceler Celso Lafer repassa a obra acumulada do autor e destaca o essencial desta tese.



(3) Paulo Cordeiro de Andrade Pinto: Diplomacia e política de defesa: o Brasil no debate sobre a segurança hemisférica na década pós-Guerra Fria (1990-2000)
(Brasília: Funag, 2015, 262 p.; ISBN: 978-85-7631-566-7; Coleção CAE)


A tese não foi publicada quando devia e ficou defasada: já não se está nos anos 1990 quando os perversos imperialistas pretendiam fazer das FFAA os cães de guarda dos seus interesses na região: luta contra o narcotráfico e coisa e tal. Muita coisa mudou e o debate ficou para trás. O que mudou foi a criação de instâncias próprias de defesa no âmbito sul-americano, que aliás pretende a mesma coisa que os imperialistas expulsos: a promoção da coexistência pacífica regional, no que o Brasil está empenhado, mas sem os intrometidos. Aqui se superou a “reticência brasileira”. O mais importante, porém, seria saber contra quem, exatamente, exercer a defesa, com quais ferramentas e alianças fazê-lo. Quem sabe está na hora de reabrir o debate e discutir seriamente a questão, sem paranoias e sem falsos amigos? A tese oferece a base histórica para começar a pensar.


(4) Luiz Alberto Figueiredo Machado: A plataforma continental brasileira e o direito do mar: considerações para uma ação política (Brasília: Funag, 2015, 174 p.; ISBN: 978-85-7631-555-1; Coleção CAE)


Publicada 15 anos depois da defesa, a tese do ex-chanceler (então conselheiro) integra um pequeno grupo de trabalhos altamente especializados sobre o direito do mar e os interesses brasileiros nos diversos aspectos dessa área anteriormente insondável, e agora devassada justamente em função de trabalhos técnicos de grande qualidade sobre a “ultima fronteira física” do Brasil, algumas vezes designada como “Amazônia azul”. A análise histórica e jurídica para trás permanece inteiramente válida, e as tarefas à frente caminham no sentido aqui discutido, o que confirma, não um caráter visionário, mas a adequação dos argumentos de 2000 às realidades do presente (e não apenas em função do pré-sal). Muito do que se fez, pelo Itamaraty e outros órgãos, em prol da extensão dos limites da plataforma brasileira, seguiu o roteiro traçado neste livro.



5) João Paulo M. Peixoto (org.): Presidencialismo no Brasil: história, organização e funcionamento (Brasília: Senado Federal, 2015, 304 p.; ISBN: 978-85-7018-674-4);

Dois capítulos sobre diplomacia presidencial neste livro coletivo, um pelo professor da UnB Eiiti Sato, cobrindo as transformações do sistema internacional, o outro pelo diplomata Paulo Roberto de Almeida abordando o mesmo tema em perspectiva histórica, com ênfase nos mandatos mais recentes de FHC e de Lula. Desde o Império chefes de Estado se envolvem na política externa, mas essa interação foi bem mais errática na República, podendo ser datado um papel mais ativo a partir de Getúlio Vargas. A consolidação do conceito se deu com FHC, e sua exacerbação ocorreu com seu sucessor, que conduziu uma política externa personalista, talhada ao gosto terceiro-mundista e anti-hegemônico do seu partido, e claramente identificada com uma visão do mundo peculiar a essas formações de esquerda.


(6) Valério de Oliveira Mazzuoli; Eduardo Bacchi Gomes (orgs.): Direito da Integração Regional: diálogo entre jurisdições na América Latina (São Paulo: Saraiva, 2015, 590 p.; ISBN: 978-85-02-62745-1)


Um único diplomata neste volume coletivo: Otávio Cançado Trindade, que assina um estudo da jurisprudência internacional em matéria de controvérsias entre Estados no campo dos direitos humanos. Entre 1794 e 1900 ocorreram 177 arbitragens entre Estados, e só nos últimos 15 anos 80 Estados participaram de procedimentos contenciosos na Corte Internacional de Justiça, mas existem diferentes instâncias, mais de 20 foros, com funções judiciais ou quase judiciais. As questões de direitos humanos não costumam integrar controvérsias no campo da integração regional, geralmente limitadas a problemas comerciais, ou econômicos, no sentido amplo. O ingresso da Venezuela bolivariana no Mercosul pode, justamente, suscitar questões relevantes na área, mas os estudos do autor cobrem basicamente casos no âmbito europeu e da ONU.


(7) Sérgio Eduardo Moreira Lima (org.): Visões da obra de Hélio Jaguaribe (Brasília: Funag, 2015, 135 p.; ISBN: 978-85-7631-539-1)


Em 2013, o IHGB acolheu um evento em homenagem aos 90 anos do pensador do nacionalismo brasileiro e da integração no Cone sul. Coube ao diplomata Samuel Pinheiro Guimarães analisar sua contribuição para a diplomacia, o que fez enfatizando a “notável atualidade nas ideias que [HJ] defendeu para a política externa” (p. 81). Para “demonstrar” essa atualidade, destacou trechos do livro O Nacionalismo na Atualidade Brasileira, de 1958, indicando as similaridades com as políticas e posturas defendidas desde 2003 pela diplomacia brasileira, da qual ele foi um dos principais ideólogos. As mesmas oposições à época destacadas por HJ, entre o capital estrangeiro e o nacional, a autonomia ou a submissão ao império, a união da América Latina para “neutralizar o poder de retaliação dos Estados Unidos” (p. 89), seriam válidas ainda hoje. CQD...

(8) Maringoni, Gilberto et alii (orgs.): 2003-2013: uma nova política externa (Tubarão: Ed. Copiart, 2014, 256 p.; ISBN: 978-85-8388-023-3; disponível: http://library.fes.de/pdf-files/bueros/brasilien/11346.pdf)


Diversos diplomatas – com destaque para o então primeiro chanceler da terceira administração lulopetista, Antonio Patriota – participam deste volume, que reproduz as palestras e debates realizados em 2013, na Universidade Federal do ABC, para a maior glória da política externa ativa e altiva das administrações petistas. O ex-chanceler afirmou que a diplomacia de Lula identificou a América do Sul como espaço privilegiado de atuação do Brasil, o que, ipso facto, elimina o que já havia sido feito nas duas gestões de FHC. Para ele, a gestão seguinte à de Lula seria de consolidação, aprofundamento e ampliação. “Obviamente não há ruptura em relação ao período anterior”(p. 21). A Unasul também seria um espaço de defesa de valores comuns, como a democracia. Um volume inteiramente pro domo sua...



Paulo Roberto de Almeida
[Originais: Hartford, 5 de agosto; 4 de setembro de 2015;
Revisto: Brasília, 25 de janeiro de 2016;
Versão final: 5/03/2016]