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domingo, 14 de abril de 2013

Ainda Margareth Thatcher - Monica Baumgarten De Bolle


O problema da maior parte dos artigos sobre Thatcher, ou daqueles que são inteligentes (os únicos que entram aqui), é que eles são geralmente elogiosos, focando em suas realizações, e deixando de lado os erros que ela cometeu (e que tenho procurado compensar aqui, colocando alguns da Escola Austríaca). Tirando esse aspecto, acredito que mesmo esses artigos elogiosos (mas inteligentes) podem contribuir para a ilustração dos mais jovens (e de alguns obtusos, também), já que escapam daquela arenga tradicional (e altamente estúpida) de apenas vincular seu governo a um tal de neoliberalismo, que no Brasil (e no resto da América Latina também) passa por xingamento da parte dos ignorantes.
Paulo Roberto de Almeida  

Não há hoje líderes como Margaret Thatcher

Para fazer reformas e tirar seu país da estagnação, a ex-primeira-ministra britânica não hesitou em escolher um caminho de alto custo político

Monica Baumgarten De Bolle
Revista Exame, edição 1039,  12/04/2013
Margaret Thatcher, ex-primeira-ministra britânica
Tenacidade e magnetismo: o receituário liberal irritava a oposição, mas ela venceu três eleições consecutivas
São Paulo - Ligas metálicas podem ser de dois tipos: as ferrosas, em que o ferro é o componente principal, e as não ferrosas, constituídas de outros metais. O ferro, além de resistente e de possuir propriedades magnéticas, é o elemento de núcleo mais estável da tabela periódica. Não foi à toa, portanto, que a única primeira-ministra na história do Reino Unido, Margaret Thatcher, recebeu a alcunha de Dama de Ferro.
Que o apelido tenha sido dado pelos soviéticos, os responsáveis pela Cortina de Ferro que a Dama posteriormente ajudou a derrubar, é mais do que mera coincidência. É uma deliciosa ironia, digna do humor nativo da ilha.
Uma figura controvertida até na morte — as manifestações depois do anúncio de seu falecimento foram elogiosas e críticas em igual medida —, Margaret Thatcher foi um exemplo de tenacidade e de magnetismo.
Apesar de ter escolhido o caminho mais árduo, aquele cujos custos políticos eram os mais elevados, para pôr em marcha os planos de transformação que tinha para o Reino Unido, conseguiu promover a vitória do Partido Conservador em três eleições consecutivas.
Governou o país de 1979 a 1990, uma época permeada por grandes crises externas e mudanças geopolíticas marcantes. A lista vai desde o longo período estagflacionário proveniente dos choques do petróleo, os anos de crescimento baixo e inflação elevada que sobrevieram dos eventos no Oriente Médio na década de 70, até a abertura da União Soviética e a derrubada do Muro de Berlim, culminando na extinção da liga metálica que encobria os países do Leste Europeu, a Cortina de Ferro.
Ao longo desses anos, Thatcher manteve inabalada a convicção na eficiência dos mercados, na necessidade de tornar mais flexíveis as leis trabalhistas do país e de promover as indústrias mais competitivas, deixando que as demais caíssem no esquecimento e desaparecessem gradualmente.
Até sua ascensão ao posto máximo do governo, o Reino Unido enfrentava um período de ruidosa decadência econômica, imortalizada nas imagens das greves sucessivas dos carvoeiros e de outros trabalhadores, e dos aguerridos protestos promovidos pelos sindicatos, que ditavam os rumos do país e o desmoralizavam mundialmente.
A degradação econômica e política que caracterizara os anos do pós-guerra chegou ao auge em meados da década de 70.  Quando Thatcher assumiu o poder, em 1979, a economia britânica crescia menos de 3% ao ano e enfrentava uma inflação de nada menos do que 13%.
Três anos antes, em 1976, o país recorrera ao FMI devido às crescentes dificuldades para reequilibrar as contas públicas e financiar o rombo no balanço de pagamentos. Passados dez anos depois de ela ter assumido a liderança política, o Reino Unido crescia 5% e alcançara a estabilidade de preços: em 1988, a inflação foi de 4,9%. Quem dera fosse esse o atual desempenho da economia brasileira...
A intolerância de Margaret Thatcher com a ineficiência desmantelou os grupos de interesse que emperravam a modernização e o aumento da competitividade do país. A primeira-ministra foi responsável por um dos mais ambiciosos e abrangentes planos de privatização de que se tem notícia, opôs-se ferrenhamente aos sindicatos e deu prioridade a setores em que o Reino Unido já possuía nítidas vantagens comparativas, como o polo financeiro sediado na City de Londres.
O que mais assombra ao relembrar as conquistas da Dama de Ferro é a profundidade das reformas que ela promoveu em tão pouco tempo. Dez anos. Em uma década, o Reino Unido foi da decadência à revitalização, reconquistando o espaço perdido na economia global e na geopolítica.
Hoje, o Reino Unido só não está emaranhado no torvelinho da crise do euro por causa de Thatcher e de sua inabalável determinação. “No, no, no”, bradou em meio às discussões no Parlamento sobre os planos de maior integração com a Europa. Por ironia do destino, a obstinação em evitar que a ilha se amalgamasse ao continente foi uma das razões para sua renúncia em novembro de 1990.
Pagar para ver
“Não sou uma política de consenso. Sou uma política de convicção” (“I am not a consensus politician, I am a conviction politician”). Não há, no mundo de hoje, políticos como Margaret Thatcher. Trata-se de uma época de políticos não ferrosos, de políticos excessivamente maleáveis. São políticos de consenso. O problema é que épocas de crise, ou de graves sequelas de crises, são incompatíveis com o consenso. O consenso não resiste ao fogo da polarização e do impasse político.
Exemplos abundam. Vejam os Estados Unidos, amarrados a um corte automático de gastos públicos nas áreas sociais devido à incapacidade de seus políticos de chegar a um consenso.
Vejam a Europa, onde muitos países já trocaram de governo por causa da falta de consenso. Alguns, inclusive, estão sem governo por esse motivo, como a Itália. Vejam o euro, à deriva em meio ao dissenso que prevalece entre os líderes dos países-membros do acordo de moeda única. O consenso se esvai na fumaça ardente das tensões.
Em todos esses casos, chamam a atenção não só a falta de consenso mas também a ausência de convicção. Não há líderes convictos, líderes com visão e determinação para transformar seus países, para levar a cabo as reformas que precisam fazer para tirar as economias do vórtice recessivo, do desemprego e da atividade moribunda. Ninguém quer pagar para ver. Margaret Thatcher, por mais polêmica que fosse, pagou para ver.
Aqui no Brasil, parece que queremos pagar para ver. Contudo, queremos pagar para ver o que não deveria ser visto. Enrijecemos as leis trabalhistas do país, indexamos o salário mínimo permitindo que o rendimento médio do trabalhador cresça acima da produtividade da economia, dificultamos os investimentos em infraestrutura por meio de políticas econômicas desconjuntadas e do excesso de intervencionismo do governo, criamos novas estatais.
O Estado brasileiro cresce desordenadamente, seja por meio da carga tributária elevada, seja por meio dos gastos que não param de subir ou do crédito público em demasia. Desmantelamos as agências regulatórias, revertendo os ganhos de eficiência conquistados em áreas como telecomunicações, em setores estratégicos como óleo e gás e de energia elétrica.
Deixamos que o excesso de burocracia prejudique o setor privado e impeça a retomada do investimento, sem o qual não sairemos da armadilha do baixo crescimento. Flertamos abertamente com a inflação. Nosso receituário é o inverso do implantado pela Dama de Ferro. É o receituário do latão, do material que amassa com facilidade, que oxida.
Nossa presidente é uma política de convicção. Nesse caso, antes fosse uma política de consenso.

Comentarios: sempre bem vindos, desde que pertinentes

Uma nota aos leitores, visitantes, curiosos, comentaristas em geral
(Aliás, colocada na seção de comentários, apesar de que muitos não prestam atenção)

Comentários são sempre bem-vindos, desde que se refiram ao objeto mesmo do post em questão. Outras questões podem ser encaminhadas através de meu site (www.pralmeida.org). 
De preferência, formule seus comentários em linguagem concisa, objetiva, com um Português aceitável para os padrões da língua coloquial.
Retirei, a pedido, mas me arrependi, a confirmação manual para os comentários; como previa, aumentou enormemente o número de junks e spams, e fui, portanto, obrigado a restabelecer o antigo sistema; desculpo-me desde já pelo incômodo, mas a propaganda e as bobagens que tenho de apagar a cada vez, tornam necessário o controle...

Acho que o recado está dado, mas ele se aplica a muito pouca gente. A maioria se encaixa nos padrões normalmente aceitos para participar de um debate saudável.
Os que não se encaixam, podem ser classificados numa das categorias seguintes:
1) Super-concisos: "genial", "gostei", "muito bem", "de acordo", e por aí vai...
2) Os que tem raiva deste blog e deste blogueiro, anônimos, por definição, e que aproveitam qualquer oportunidade (ainda que seja por uma questão ridícula como erro de redação, dada a rapidez da postagem, várias vezes sonolenta) para atacar a postagem e o autor; algumas vezes posto, se for pertinente, mesmo atacando este blogueiro que não tem poder sobre nada (e muito menos para abalar o poder atual); outras não, se não contribuir em nada para o debate;
3) Os "oportunistas", ou seja, que aproveitam qualquer postagem para simplesmente enviar um link, por vezes obscuro, sem dizer nada, apenas querendo usar da oportunidade para "descarregar" o que acabam de ver ou ler; eles provavelmente não dispõem de blog, ou de leitores e querem usar o meu como veículo; por vezes posto, se é pertinente, outra vez não, se é irrelevante;
4) Os "outros": todos os que não se encaixam nas categorias acima, ou talvez caibam em todas, como se faz em certas respostas de múltipla escolha: "todas as opções acima".  

Ficamos assim, então?
Paulo Roberto de Almeida

O novo amigo dos companheiros: ate os bancos suicos desconfiam...

Agora, até bancos suíços suspeitam de Maluf

Jamil Chade, Direto da Europa
Blogs Estadão, 13/04/2013

Bancos suíços suspeitam que Paulo Maluf continuaria lavando dinheiro e bloqueiam transação de sua empresa, a Eucatex, em Zurique. O UBS em Zurique alertou à COAF no Brasil sobre “possíveis atividades suspeitas” na tentativa da Eucatex de transferir a uma empresa uruguaia R$ 47 milhões no final de 2012. A movimentação foi considerada pela Justiça paulista como um sinal suspeito de que Maluf continuaria a usar a Eucatex como veículo para lavagem de dinheiro. O UBS se recusou a autorizar a transferência.

Ontem, o banco Itaú – que representa o UBS no Brasil – foi intimado a executar a ordem da Justiça de São Paulo de bloquear os bens até o limite de R$ 519,7 milhões da Eucatex S.A. Indústria e Comércio. O valor corresponderia ao que teria sido desviado pelo ex-prefeito da capital paulista e deputado Paulo Maluf (PP) e serviria para ressarcir os cofres públicos por causa de dinheiro supostamente desviado da Prefeitura. A decisão é da juíza Celina Kiyomi Toyoshima, da 4.ª Vara da Fazenda Pública.

A liminar havia sido pedida pelo promotor Silvio Antônio Marques, da Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Público.

Segundo o Estado apurou, a nova suspeita na Suíça sobre Maluf foi registrada no dia 19 de fevereiro deste ano, quando o Conselho de Controle de Atividades Financeiras comunicou a tentativa da Eucatex de transferir ações de sua emissão do banco UBS à empresa uruguaia Cuznar. O banco envolvido na negociação, o Finter Bank de Zurique, se negou a revelar quem seria o dono dos valores mobiliários.

O alerta foi passado ao COAF pelo Itaú, banco que representa o UBS no Brasil. O banco brasileiro informou que, no dia 6 de outubro de 2012, o Finter Bank pediu ao UBS em Zurique fazer a transação de R$ 47 milhões da Eucatex aos uruguaios.

O UBS, em diversas ocasiões desde então, solicitou ao Finter Bank informações sobre quem seriam os propritários das ações. Cinco meses depois, o UBS ainda não tinha recebido as informações e o único dado repassado ao maior banco suíço foi que a pessoa envolvida era classificada no país como PEP – sigla para Politically Exposed People (Pessoas Politicamente Expostas). Sim informações, o UBS decidiu bloquear a transação até que ficasse esclarecida sua natureza.

Coube então ao Itaú, com base em cartas assinadas pelos executivos do UBS, Stephan de Boni e Oliver Barcholet, comunicar às autoridades brasileiras do fato.

Para a Justiça paulista, a mudança de custodiante das ações pela Eucatex foi uma prática que Maluf se utilizou em diversas ocasições nos últimos dez anos. Isso envolveu transações de até US$ 74 milhões em 2001 no mesmo Finter Bank de Zurique, além do uso da Durant Int, empresas que, em Jersey, já foi identificada como um dos veículos de Maluf para depositar dinheiro fruto de corrupção.

E por falar em educação: o PISA, esse monstrengo revelador de nossas carencias em educacao...

Overview

The Program for International Student Assessment (PISA) is an international assessment that measures 15-year-old students' reading, mathematics, and science literacy. PISA also includes measures of general or cross-curricular competencies, such as problem solving. PISA emphasizes functional skills that students have acquired as they near the end of compulsory schooling.
PISA is coordinated by the Organization for Economic Cooperation and Development (OECD), an intergovernmental organization of industrialized countries and is conducted in the United States by NCES. PISA was first administered in 2000 and is conducted every three years. The most recent assessment was in 2012.
PISA 2012 focuses on mathematics literacy and also assesses reading and science literacy. PISA 2012 also includes computer-based assessments in mathematics literacy, reading literacy, and general problem solving, and an assessment of students' financial literacy. PISA 2012 results will be released on December 3, 2013.
More information about PISA and resources, including the OECD’s PISA reports, PISA assessment frameworks, and international data files, are available at the OECD’s website.
International Data Explorer You can explore the PISA data directly through NCES's online data tool — the International Data Explorer (IDE)
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Data Snapshots
PISA (International) 2009 Assessment<br />
15-year-olds mathematics literacy: 2009<br />
U.S. average score: 487<br />
OECD average score: 496
PISA (International) 2009 Assessment
15-year-olds mathematics literacy: 2009
U.S. average score: 487
OECD average score: 496

(Read entire article)

Novamente, onde Margareth Thatcher errou economicamente - ainda Murray Rothbard

Grato ao amigo, e leitor deste blog, Eduardo, do Rio, pelo envio deste artigo retirado do Mises Brasil, mas de 1991.
Paulo Roberto de Almeida 

Adeus à Dama de Ferro
Mises Brasil, segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012
Artigo publicado em fevereiro de 1991
MAGGIE copy-2.jpgA saída de madame Thatcher do governo britânico se deu de maneira bastante condizente com todo o seu reinado: barulhento em termos de retórica ("a Dama de Ferro jamais renunciará"), mas ínfimo em termos de ações genuinamente concretas (a Dama de Ferro rapidamente saiu de cena).
Margaret Thatcher ascendeu estrondosamente ao posto de primeira-ministra da Grã-Bretanha em 1979 com a promessa de desestatizar a economia, implementar um livre mercado, acabar com os déficits e com a inflação monetária.  Suas realizações, no entanto, são outra história, e possuem pontos positivos e negativos.
Do lado positivo, é fato que sua retórica realmente devolveu respeitabilidade às ideias pró-livre mercado na Grã-Bretanha após meio século de crescente estatismo, e é certamente gratificante ver os estimados indivíduos do Institute of Economic Affairs em Londres se tornarem o mais reputado instituto econômico britânico.  Também deve ser creditado à era Thatcher o fato de o Partido Trabalhista ter se movido mais para a direita e ter majoritariamente abandonado suas ideias esquerdistas malucas, além do fato de a Grã-Bretanha ter decisivamente abandonado sua psicose pós-Depressão de que o desemprego jamais deve ficar acima de 1%.
Houve também um considerável volume de desestatizações e privatizações, inclusive a venda de moradias públicas para seus respectivos inquilinos, o que fez com que eleitores que tradicionalmente votavam no Partido Trabalhista se convertessem em ferrenhos proprietários eleitores do Partido Conservador.  Outro sucesso da ministra foi o de ter quebrado o até então inquebrantável poder dos poderosos sindicatos britânicos.
Infelizmente, estes pontos positivos do histórico econômico de Thatcher são mais do que contrabalançados pelo desolador fato de que o estado britânico chega ao fim da era Thatcher sendo um fardo parasítico ainda maior sobre a economia britânica e a sociedade do que era quando ela assumiu o poder.  Por exemplo, ela jamais ousou tocar na vaca-sagrada da medicina socializada, o National Health Service.  Os déficits continuaram altos, e a inflação monetária e a inflação de preços estão atualmente em dois dígitos.  Apesar de toda retórica thatcherista em prol do monetarismo, seu sucesso no combate à inflação foi moderado e efêmero, e acabou sendo totalmente revertido já no final de seu governo: a expansão monetária, a inflação, os déficits e todo o desemprego por eles gerados estão em níveis alarmantes.  Madame Thatcher deixou o poder, após onze anos, em meio a uma infame recessão inflacionária: inflação de preços em 11% e desemprego em 9%.  Em suma, o histórico macroeconômico de Thatcher foi abismal.
Como explicar resultados tão desastrosos para um regime supostamente pró-livre mercado?  Não é difícil.  Os thatcheristas são "burkeanos" e não "leninistas de direita".  Sendo assim, em vez de uma abordagem obstinada, radical e abolicionista para se chegar à liberdade econômica, eles preferiram se entregar às glórias do gradualismo e da moderação.  Isso pôde ser comprovado logo nos primeiros anos do governo.  Em vez de uma política monetária rígida, em vez da total interrupção da expansão monetária para acabar de vez com a inflação crescente, optou-se por uma contenção monetária bem mais gradual.  E qual foi o resultado deste gradualismo na política monetária?  O gradualismo gerou uma crônica recessão, o que era inevitável, mas não foi restritivo o suficiente para acabar com a inflação ou para revigorar a economia.  Logo, teve-se o pior dos mundos: recessão, desemprego e inflação de preços.  E tal cenário perdurou até aproximadamente 1985, quando estes indicadores melhoraram.  Mas o bom momento, obviamente, gerou novos afrouxamentos na política monetária, de modo que, já em 1990, todos eles estavam novamente tão ruins quanto no início do governo.
Houve realmente uma redução nas alíquotas mais altas do imposto de renda, mas isto foi imediatamente mais do que compensado por um aumento ainda maior no VAT (imposto sobre o valor agregado, essencialmente um imposto sobre vendas).  Desta maneira, os pequenos ganhos obtidos pelos grupos de mais alta renda foram mais do que contrabalançados por um aumento do fardo sobre os pobres e a classe média.  Se os esquerdistas quisessem inventar um bicho-papão de direita, eles dificilmente fariam um trabalho mais exitoso e com resultados mais desastrosos para a causa da liberdade econômica.
Para coroar tudo, não nos esqueçamos de sua monumental e decisiva gafe: substituir os impostos municipais sobre propriedade por um imposto único e de igual valor por pessoa (o chamado "poll tax").  Na Inglaterra, o governo central possui autoridade sobre os governos municipais, muitos dos quais são administrados por trabalhistas esquerdistas fanáticos por gastanças.  Este imposto único por pessoa, que substituiria os impostos municipais sobre propriedade, foi criado com a intenção de reprimir a gastança descontrolada dos governos locais.
Porém, em vez de reduzir drasticamente o volume de tributação imposta pelos municípios, algo sobre o qual Thatcher tinha total autoridade, ela simplesmente não impôs limite algum, e deixou que os gastos e demais impostos municipais ficassem a cargo das assembléias municipais.  Logo, aconteceu exatamente aquilo que poderia ter sido previsto de antemão: estas assembléias, Trabalhistas e Conservadoras, agora sem as receitas do imposto sobre propriedade, elevaram seus outros impostos substancialmente, de modo que o cidadão britânico comum se viu obrigado a pagar aproximadamente um terço a mais em impostos.  Enquanto os governos locais aumentavam seus gastos e seus impostos, o imposto único seguiu mordendo furiosamente a renda dos pobres e da classe média.  Ato contínuo, e como era de se esperar, os governos locais simplesmente, e de maneira muito efetiva, jogaram a culpa pelos altos impostos sobre o governo Thatcher.  Não é de se surpreender que tenham ocorrido violentos protestos nas ruas de Londres em março de 1990.  O que é realmente intrigante é que as manifestações não tenham sido muito severas.
Ademais, em meio a todas estas manobras, os thatcheristas se esqueceram de um ponto essencial a respeito do imposto único por cabeça: para ele ser implantado, todos os outros impostos têm de ser drasticamente reduzidos, de modo que até o mais pobre dos mais pobres possa pagá-los.  Suponha, por exemplo, que nossos atuais impostos federais fossem repentinamente unificados sob a forma de um imposto único por cabeça, mas de modo a manter a mesma receita de antes.  Isso significaria que o cidadão médio, e particularmente o cidadão de baixa renda, repentinamente teria de pagar uma quantia enormemente maior de impostos por ano — aproximadamente $5.000.  Logo, o grande charme da tributação única por cabeça é que ela necessariamente forçaria o governo a reduzir drasticamente seus níveis de tributação e de gastos.  Assim, se o governo instituísse, por exemplo, um imposto universal e igual de $10 por ano, confinando suas receitas totais à magnífica soma de $2 bilhões anuais, todos nós viveríamos perfeitamente bem com este novo imposto.
Agora, implantar o imposto único por cabeça no lugar do antigo imposto sobre propriedade, e permitir que ele seja elevado, é uma insanidade política e econômica, e Madame Thatcher recebeu a punição adequada por este erro egrégio.
Por que então o governo Thatcher, ao implantar seu imposto único, não decretou que os governos municipais reduzissem drasticamente suas alíquotas de impostos para cada cidadão?  Se fizesse isso, as massas certamente teriam recebido com prazer o imposto único em vez de tê-lo combatido vigorosamente.  A resposta thatcherista é que, se fizesse isso, o governo central teria então de se responsabilizar pelo financiamento de determinadas atividades fornecidas pelos governos locais, como educação, o que, por sua vez, faria com que o governo central tivesse de elevar seus impostos — ou incorresse em maiores déficits.
Mas esta resposta simplesmente empurra a análise um passo adiante: por que então o governo Thatcher não estava preparado para cortar seus próprios gastos, já substancialmente inchados?  Claramente, a resposta é que os thatcheristas jamais acreditaram genuinamente em sua própria retórica.  Ou isso, ou eles não tiveram a coragem de levantar a questão.  Por esta e por várias outras razões, os gastos e as receitas do governo britânico chegaram ao fim do governo Thatcher sendo mais fartos do que nunca.
Infelizmente, o thatcherismo é muito similar ao reaganismo: retórica livre-mercadista mascarando um conteúdo estatizante.  Exceto pelas privatizações, o fardo estatal aumentou sob Thatcher.  Os gastos absolutos e a porcentagem das receitas tributárias em relação ao PIB aumentaram durante seu regime, e a inflação monetária nunca foi contida.  Compreensivelmente, o descontentamento básico com o governo aumentou, e o aumento dos impostos locais permitidos pelo "poll tax" foi apenas a gota d'água. 
Parece-me claro que um critério mínimo para que um regime receba a alcunha de "pró-livre mercado" seja o fato de ele cortar seus gastos totais, cortar impostos em geral e, consequentemente, reduzir suas receitas.  Além disso, é imprescindível que ele interrompa decisivamente sua própria criação inflacionária de dinheiro.  Mesmo por este certamente muito modesto padrão de medida, a administração Thatcher passou longe de ser digna de tal alcunha.  Por isso, Madame Thatcher mereceu seu destino final.
No entanto, há uma área da macroeconomia da qual certamente temos de lamentar a saída de Thatcher: ela era a única voz contra a criação de um Banco Central Europeu emitindo uma nova e única moeda europeia. [Veja sua reação à jocosa proposta de ela ser a presidente do BCE].  Infelizmente, e especialmente desde a demissão de seu conselheiro econômico, o monetarista Sir Alan Walters, Madame Thatcher não conseguiu apresentar um argumento convincente contra esta vindoura nova ordem mundial, limitando-se apenas a fazer sua oposição utilizando termos esquisitos, raivosos e fanfarrões, como 'a glória nacional britânica contra a subordinação à "Europa"'.  Ela, portanto, passou a ser vista apenas como uma tacanha obstrucionista antieuropeia contrária a uma aparentemente iluminada e beneficente "Europa unida".
O problema presente em praticamente todas as análises da Comunidade Europeia é a típica fusão que fazem entre estado e sociedade.  Socialmente e economicamente, à medida que, em teoria, a nova Europa será uma vasta área de livre comércio e livre investimento de capitais, esta nova ordem será benéfica: irá expandir a divisão do trabalho, a produtividade, e o padrão de vida de todas as nações participantes.  Mas, infelizmente, a essência da nova Europa não será sua área de livre comércio, mas sim uma monstruosa nova burocracia estatal, sediada em Estrasburgo e Bruxelas, a qual irá controlar, regular e "igualar" as alíquotas de impostos em todos os países, coercivamente impondo a elevação dos impostos naqueles países que possuem uma carga tributária mais baixa.
E o pior aspecto desta Europa unificada é exatamente aquela área na qual Madame Thatcher centrou sua artilharia: a moeda e o sistema bancário.  Embora os monetaristas estejam completamente errados em preferir uma Europa (ou um mundo) guiada por diferentes tipos de dinheiro de papel fragmentados em nível nacional em vez de um padrão-ouro internacional, eles estão corretos em alertar sobre os perigos deste novo esquema.  Pois o problema é que a nova moeda, obviamente, não será o ouro — que é uma moeda produzida no mercado e pelo mercado —, mas sim uma única moeda de papel, fiduciária e de curso forçado.  De modo que o resultado deste esquema neokeynesiano será um dinheiro fiduciário inerentemente inflacionista, cuja emissão será controlada monopolisticamente pelo Banco Central Europeu — isto é, por um novo governo regional.
Este arranjo, por sua vez, irá facilitar ainda mais para que os Bancos Centrais dos EUA, da Grã-Bretanha e do Japão colaborem e atuem coordenadamente com o novo Banco Central Europeu, e assim conduzam o mundo rapidamente para aquele velho sonho de Keynes: um Banco Central Mundial emitindo uma única moeda de papel, de aceitação obrigatória para todos os países.  E assim estaremos definitivamente sem ter para onde fugir, com o dinheiro e a macroeconomia mundial estando totalmente à mercê de uma inflação em escala mundial, controlada centralmente por iluminados e autoproclamados mestres keynesianos.
É de se lamentar que Margaret Thatcher não tenha sabido articular sua oposição à nova ordem monetária europeia em tais termos.  É de se lamentar também que sua retórica pró-livre mercado não tenha sido efetivamente colocada em prática.  No final, a história julgará corretamente seu governo e seus feitos.
Murray N. Rothbard (1926-1995) foi um decano da Escola Austríaca e o fundador do moderno libertarianismo. Também foi o vice-presidente acadêmico do Ludwig von Mises Institute e do Center for Libertarian Studies.

Voces continuam querendo saber quando o Brasil vai comecar a tomar jeito?

Eu continuo não sabendo, mas pelo andar da carruagem, e da linguagem, vai demorar o dobro do que qualquer ser humano, ou brasileiro, poderia esperar...


Eu vou só fazer um parêntese aqui e contar uma coisa para vocês. Uma vez, numa discussão sobre esta questão: metade do Brasil é mulher… e mulher é muito importante, tem de ter seus direitos. E aí, os homens estavam meio tristes e uma companheira, metalúrgica, disse o seguinte: ´não tem problema, metade é mulher e a outra metade é filho desta primeira metade, então, fica todo mundo em casa´. E é verdade”.


Não preciso dizer quem é, não é mesmo?
Juro que eu só queria entender...
Paulo Roberto de Almeida

Voces querem saber quando o Brasil vai tomar jeito?

Eu não sei precisar a data, mas acho que vai demorar um bocado: 


Carlos Brickmann, 12/04/2013

Roseana Sarney, filha de José Sarney, trabalhou três anos no Senado, entre 1982 e 1985 (aliás, foi nomeada sem concurso). Agora se aposentou, com aposentadoria de R$ 23.800,00 mensais. A isso se soma seu salário como governadora do Maranhão, e há ainda a aposentadoria como senadora. A aposentadoria como senadora é papa fina: a atual ministra Ideli Salvatti, que exerceu o cargo por exatos oito anos, aposentou-se com vencimentos de R$ 6.100,00 mensais – mais, naturalmente, mordomias e salários que recebe como ministra.Como foi a carreira da primeira-filha de José Sarney no Senado? Foi nomeada em 1974, aos 21 anos de idade, num trem da alegria pilotado pelo senador Jarbas Passarinho, companheiro de seu pai no partido da ditadura militar, a Arena. Num trem da alegria, os beneficiados recebem emprego provisório, mas são efetivados logo depois, sem concurso — concurso é para quem não tem padrinho, não para Roseana, que tem pai, padrinho e partido – é do PMDB e tem apoio do PT. Ela só começou a trabalhar em 1982. Ficou até 1985, quando o pai chegou à Presidência da República e a levou com ele para o Palácio do Planalto (seu marido, Jorge Murad, foi junto). Não voltou mais, exceto agora para aposentar-se.
O caro leitor é aposentado? Ganha a aposentadoria pela qual pagou? Se contribuiu sobre dez mínimos, é isso que recebe? Mas não reclame só de Roseana e seus padrinhos. O PSDB ocupou a Presidência por oito anos, teve apoio de Sarney e criou o fator previdenciário, que reduz a aposentadoria.

sábado, 13 de abril de 2013

Educacao nos EUA: uma nacao ainda sob risco

Coloquei os links da publicação original para permitir a recuperação dos varios materiais ali linkados; o relatório inicial tem 48 páginas e é antigo, mas talvez alguma coisa ainda seja válida (inclusive para o Brasil, que provavelmente estaria muito melhor se pelo menos contasse com uma educação tão "medíocre" quanto a dos EUA):
http://www.nytimes.com/2013/04/13/opinion/teachers-will-we-ever-learn.html
Paulo Roberto de Almeida

Teachers: will we ever learn?
Jal Mehta
The New York Times, April 13, 2013

Cambridge, MA
IN April 1983, a federal commission warned in a famous report, “A Nation at Risk,” that American education was a “rising tide of mediocrity.” The alarm it sounded about declining competitiveness touched off a tidal wave of reforms: state standards, charter schools, alternative teacher-certification programs, more money, more test-based “accountability” and, since 2001, two big federal programs, No Child Left Behind and Race to the Top.

But while there have been pockets of improvement, particularly among children in elementary school, America’s overall performance in K-12 education remains stubbornly mediocre.

In 2009, the Program for International Student Assessment, which compares student performance across advanced industrialized countries, ranked American 15-year-olds 14th in reading, 17th in science and 25th in math — trailing their counterparts in Belgium, Estonia and Poland. One-third of entering college students need remedial education. Huge gaps by race and class persist: the average black high school senior’s reading scores on the National Assessment of Educational Progress continue to be at the level of the average white eighth grader’s. Seventeen-year-olds score the same in reading as they did in 1971.

As the education scholar Charles M. Payne of the University of Chicago has put it: “So much reform, so little change.”

The debate over school reform has become a false polarization between figures like Michelle Rhee, the former Washington, D.C., schools chancellor, who emphasizes testing and teacher evaluation, and the education historian Diane Ravitch, who decries the long-run effort to privatize public education and emphasizes structural impediments to student achievement, like poverty.

The labels don’t matter. Charter-school networks like the Knowledge Is Power Program and Achievement First have shown impressive results, but so have reforms in traditional school districts in Montgomery County, Md., Long Beach, Calif., and, most recently, Union City, N.J., the focus of a new book by the public policy scholar David L. Kirp.

Sorry, “Waiting for Superman”: charter schools are not a panacea and have not performed, on average, better than regular public schools. Successful schools — whether charter or traditional — have features in common: a clear mission, talented teachers, time for teachers to work together, longer school days or after-school programs, feedback cycles that lead to continuing improvements. It’s not either-or.

Another false debate: alternative-certification programs like Teach for America versus traditional certification programs. The research is mixed, but the overall differences in quality between graduates of both sets of programs have been found to be negligible, and by international standards, our teachers are underperforming, regardless of how they were trained.

HERE’S what the old debates have overlooked: How schools are organized, and what happens in classrooms, hasn’t changed much in the century since the Progressive Era. On the whole, we still have the same teachers, in the same roles, with the same level of knowledge, in the same schools, with the same materials, and much the same level of parental support.

Call it the industrial-factory model: power resides at the top, with state and district officials setting goals, providing money and holding teachers accountable for realizing predetermined ends. While rational on its face, in practice this system does not work well because teaching is a complex activity that is hard to direct and improve from afar. The factory model is appropriate to simple work that is easy to standardize; it is ill suited to disciplines like teaching that require considerable skill and discretion.

Teaching requires a professional model, like we have in medicine, law, engineering, accounting, architecture and many other fields. In these professions, consistency of quality is created less by holding individual practitioners accountable and more by building a body of knowledge, carefully training people in that knowledge, requiring them to show expertise before they become licensed, and then using their professions’ standards to guide their work.

By these criteria, American education is a failed profession. There is no widely agreed-upon knowledge base, training is brief or nonexistent, the criteria for passing licensing exams are much lower than in other fields, and there is little continuous professional guidance. It is not surprising, then, that researchers find wide variation in teaching skills across classrooms; in the absence of a system devoted to developing consistent expertise, we have teachers essentially winging it as they go along, with predictably uneven results.

It need not be this way. In the nations that lead the international rankings — Singapore, Japan, South Korea, Finland, Canada — teachers are drawn from the top third of college graduates, rather than the bottom 60 percent as is the case in the United States. Training in these countries is more rigorous, more tied to classroom practice and more often financed by the government than in America. There are also many fewer teacher-training institutions, with much higher standards. (Finland, a perennial leader in the P.I.S.A. rankings, has eight universities that train teachers; the United States has more than 1,200.)

Teachers in leading nations’ schools also teach much less than ours do. High school teachers provide 1,080 hours per year of instruction in America, compared with fewer than 600 in South Korea and Japan, where the balance of teachers’ time is spent collaboratively on developing and refining lesson plans. These countries also have much stronger welfare states; by providing more support for students’ social, psychological and physical needs, they make it easier for teachers to focus on their academic needs. These elements create a virtuous cycle: strong academic performance leads to schools with greater autonomy and more public financing, which in turn makes education an attractive profession for talented people.

In America, both major teachers’ unions and the organization representing state education officials have, in the past year, called for raising the bar for entering teachers; one of the unions, the American Federation of Teachers, advocates a “bar exam.” Ideally the exam should not be a one-time paper-and-pencil test, like legal bar exams, but a phased set of milestones to be attained over the first few years of teaching. Akin to medical boards, they would require prospective teachers to demonstrate subject and pedagogical knowledge — as well as actual teaching skill.

Tenure would require demonstrated knowledge and skill, as at a university or a law firm. A rigorous board exam for teachers could significantly elevate the quality of candidates, raise and make more consistent teacher skill level, improve student outcomes, and strengthen the public’s regard for teachers and teaching.

We let doctors operate, pilots fly, and engineers build because their fields have developed effective ways of certifying that they can do these things. Teaching, on the whole, lacks this specialized knowledge base; teachers teach based mostly on what they have picked up from experience and from their colleagues.

Anthony S. Bryk, president of the Carnegie Foundation for the Advancement of Teaching, has estimated that other fields spend 5 percent to 15 percent of their budgets on research and development, while in education, it is around 0.25 percent. Education-school researchers publish for fellow academics; teachers develop practical knowledge but do not evaluate or share it; commercial curriculum designers make what districts and states will buy, with little regard for quality. We most likely will need the creation of new institutions — an educational equivalent of the National Institutes of Health, the main funder of biomedical research in America — if we are to make serious headway.

We also need to develop a career arc for teaching and a differentiated salary structure to match it. Like medical residents in teaching hospitals, rookie teachers should be carefully overseen by experts as they move from apprenticeship to proficiency, and then mastery. Early- to mid-career teachers need time to collaborate and explore new directions — having mastered the basics, this is the stage when they can refine their skills. The system should reward master teachers with salaries commensurate with leading professionals in other fields.

In the past few years, 45 states and the District of Columbia have adopted Common Core standards that ask much more of students; raising standards for teachers is a critical parallel step. We have an almost endless list of things that we would like the next generation of schools to do: teach critical thinking, foster collaboration, incorporate technology, become more student-centered and engaging. The more skilled our teachers, the greater our chances of achieving these goals.

Undergraduate education programs and graduate schools of education have long been faulted for being too disconnected from the realities of practice. The past 25 years have seen the creation of an array of different providers to train teachers — programs like Teach for America, urban-teacher residencies and, most recently, schools like High Tech High in San Diego and Match High School in Boston that are running their own teacher-training programs.

Again, research suggests that the labels don’t matter — there are good and bad programs of all types, including university-based ones. The best programs draw people who majored as undergraduates in the subjects they wanted to teach; focus on extensive clinical practice rather than on classroom theory; are selective in choosing their applicants rather than treating students as a revenue stream; and use data about how their students fare as teachers to assess and revise their practice.

THE changes needed to professionalize American education won’t be easy. They will require money, political will and the audacity to imagine that teaching could be a profession on a par with fields like law and medicine. But failure to change will be more costly — we could look up in another 30 years and find ourselves, once again, no better off than we are today. Several of today’s top performers, like South Korea, Finland and Singapore, moved to the top of the charts in one generation. Real change in America is possible, but only if we stop tinkering at the margins.

Jal Mehta, an assistant professor at the Harvard Graduate School of Education, is the author of the forthcoming book “The Allure of Order: High Hopes, Dashed Expectations, and the Troubled Quest to Remake American Schooling.”
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Alguns comentários: 

470 Comments

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Comments Closed
    • Kevin Brock
    • Waynesville, NC
    NYT Pick
    In a political environment where public schools are seen as an unmerited entitlement for the lower class, and where teachers are seen as evil incarnate, is it any wonder that teachers are not drawn from the top third of college graduates? Why would young people be attracted to a profession with low pay and long hours, only to wake up to headlines that talk about incompetence and lack of professionalism?
    • Kenneth Bergman
    • Ashland, OR
    NYT Pick
    We certainly need to make teaching an important and respected profession in this country, and be willing to pay for that professionalism by getting highly trained and motivated people to become teachers. All scholastic fields are important, but math and science are the most critical for our technological culture, so instructors who are especially adept in those areas must be solicited and paid accordingly. Subject matter should be stressed more, and teaching techniques perhaps less, in preparing future teachers for their task. One cannot teach effectively unless one has mastered the subject matter. There have been too many cases where teachers prepared in other disciplinary areas are drafted into teaching science or math courses. More rigorous instruction in English, especially reading ability, also needs to be stressed.

    One problem in the U.S. is an anti-intellectual attitude that pervades much of our society. In some communities, any striving to learn is frowned upon by peers. Compare that with, say, Japan, where excelling in school is nearly everyone's desire and where teachers are highly respected. Japan, and some of the other nations with excellent schools, have the advantage of societies that are fairly uniform culturally. In the U.S., cultural norms differ widely, with education considered a waste of time by some. Unfortunately, there is a tendency for such attitudes to spread to others as well. As a result, the dropout rate is increasing, especially for males.
    • L Owen
    • Florida
    NYT Pick
    As a public high school teacher for nine years, I was gratified to see, in this article, ideas that make sense. In my school, we teach five classes with one "planning" period and one of those classes is 90 minutes long. This is not because this is what's good for the student; it's money (or lack of money)-driven. As a teacher, I barely have enough time to grade, let alone research, discuss with other teachers, and truly plan innovative lessons. I'm frustrated by my inability to get the work done that I need to do to my own standards, let alone anyone else's. I came to teaching through an alt. cert program because, after years in publisihng, I thought paying back the good my English teacher did for me was a good idea. Little did I know that I would feel frustrated, disrespected, and back-breakingly poor most of the time. (I made more money working part-time in publishing than I do full-time in teaching.) When I reach a student, when that light bulb goes on, when a lesson plan really, really works and I have a room full of engaged learners, it's still a rush. But the system works against that happening. I would rather have more time to plan and concentrated time with my classes than the system we have now. And as for my students, a good 50% of them are not illiterate but aliterate, thanks to constant testing which burns them out of reading at a young age. I'd love to go back to English when it was reading novels. Reading manuals is boring, for me and for them.

O guru da eterna inteligencia: Ray Kurzweill

Interview
Will Google's Ray Kurzweil Live Forever?
The Wall Street Journal, April 12, 2013

In 15 years, the famous inventor expects medical technology will add a year of life expectancy every year.

Ray Kurzweil must encounter his share of interviewers whose first question is: What do you hope your obituary will say?
This is a trick question. Mr. Kurzweil famously hopes an obituary won't be necessary. And in the event of his unexpected demise, he is widely reported to have signed a deal to have himself frozen so his intelligence can be revived when technology is equipped for the job.
Mr. Kurzweil is the closest thing to a Thomas Edison of our time, an inventor known for inventing. He first came to public attention in 1965, at age 17, appearing on Steve Allen's TV show "I've Got a Secret" to demonstrate a homemade computer he built to compose original music in the style of the great masters.
In the five decades since, he has invented technologies that permeate our world. To give one example, the Web would hardly be the store of human intelligence it has become without the flatbed scanner and optical character recognition, allowing printed materials from the pre-digital age to be scanned and made searchable.
If you are a musician, Mr. Kurzweil's fame is synonymous with his line of music synthesizers (now owned by Hyundai). As in: "We're late for the gig. Don't forget the Kurzweil."
If you are blind, his Kurzweil Reader relieved one of your major disabilities—the inability to read printed information, especially sensitive private information, without having to rely on somebody else.
In January, he became an employee at Google. "It's my first job," he deadpans, adding after a pause, "for a company I didn't start myself."
There is another Kurzweil, though—the one who makes seemingly unbelievable, implausible predictions about a human transformation just around the corner. This is the Kurzweil who tells me, as we're sitting in the unostentatious offices of Kurzweil Technologies in Wellesley Hills, Mass., that he thinks his chances are pretty good of living long enough to enjoy immortality. This is the Kurzweil who, with a bit of DNA and personal papers and photos, has made clear he intends to bring back in some fashion his dead father.
Mr. Kurzweil's frank efforts to outwit death have earned him an exaggerated reputation for solemnity, even caused some to portray him as a humorless obsessive. This is wrong. Like the best comedians, especially the best Jewish comedians, he doesn't tell you when to laugh. Of the pushback he receives from certain theologians who insist death is necessary and ennobling, he snarks, "Oh, death, that tragic thing? That's really a good thing."
"People say, 'Oh, only the rich are going to have these technologies you speak of.' And I say, 'Yeah, like cellphones.' "
To listen to Mr. Kurzweil or read his several books (the latest: "How to Create a Mind") is to be flummoxed by a series of forecasts that hardly seem realizable in the next 40 years. But this is merely a flaw in my brain, he assures me. Humans are wired to expect "linear" change from their world. They have a hard time grasping the "accelerating, exponential" change that is the nature of information technology.
"A kid in Africa with a smartphone is walking around with a trillion dollars of computation circa 1970s," he says. Project that rate forward, and everything will change dramatically in the next few decades.
"I'm right on the cusp," he adds. "I think some of us will make it through"—he means baby boomers, who can hope to experience practical immortality if they hang on for another 15 years.
By then, Mr. Kurzweil expects medical technology to be adding a year of life expectancy every year. We will start to outrun our own deaths. And then the wonders really begin. The little computers in our hands that now give us access to all the world's information via the Web will become little computers in our brains giving us access to all the world's information. Our world will become a world of near-infinite, virtual possibilities.
How will this work? Right now, says Mr. Kurzweil, our human brains consist of 300 million "pattern recognition" modules. "That's a large number from one perspective, large enough for humans to invent language and art and science and technology. But it's also very limiting. Maybe I'd like a billion for three seconds, or 10 billion, just the way I might need a million computers in the cloud for two seconds and can access them through Google."
We will have vast new brainpower at our disposal; we'll also have a vast new field in which to operate—virtual reality. "As you go out to the 2040s, now the bulk of our thinking is out in the cloud. The biological portion of our brain didn't go away but the nonbiological portion will be much more powerful. And it will be uploaded automatically the way we back up everything now that's digital."
"When the hardware crashes," he says of humanity's current condition, "the software dies with it. We take that for granted as human beings." But when most of our intelligence, experience and identity live in cyberspace, in some sense (vital words when thinking about Kurzweil predictions) we will become software and the hardware will be replaceable.
Which brings us to his father, a gifted musician and composer whose early death from heart disease left a profound mark on Mr. Kurzweil. Understand: He is not talking about growing a biological person in a test-tube and requiring him to be Dad. "DNA is just one kind of information," Mr. Kurzweil says. So are the documents his father left behind, and the memories residing in the brains of friends and family. In the virtual world that's coming, it will be possible to assemble an avatar more like his father than his father ever was—exactly the father Mr. Kurzweil remembers.
"My work on this project right now is to maintain these files," he adds, referring to Dad's memorabilia.
Mr. Kurzweil grew up in Queens, N.Y., and went to MIT. Looking back on his inventions, a common theme since that first music composer has been pattern recognition—which he believes is the essence of human thinking and the essence of the better-than-human artificially-enhanced intelligence that we are evolving toward.
The same work now continues at Google. Last July, Mr. Kurzweil was hunting investors for a new project. He pitched Google co-founder Larry Page. Mr. Page's response was to ask why Mr. Kurzweil didn't pursue his project inside Google, since Google controlled resources that Mr. Kurzweil surely would not be able to replicate outside. "Larry was actually more low-key and subtle than that," Mr. Kurzweil says now, "but that's how I interpreted the pitch. And he was right."
To wit, the knowledge graph—Google's map of billions of Web objects and concepts, and the billions of relationships among them—would be immeasurably handy to Mr. Kurzweil's ambition to recreate human-style pattern recognition, especially as it relates to language, in computers. The two agreed on a one-sentence job description: "to bring natural language understanding to Google."
Mr. Kurzweil and his Google team will be tackling a project begun by IBM's Watson, which fed its brain by reading Wikipedia. What Watson understood is hard to say, but—helped by brute processing power—Watson was famously able to beat all-time "Jeopardy" champions to intuit that, for instance, "a tiresome speech delivered by a frothy pie topping" was a "meringue harangue."
Mr. Kurzweil's goal is to enable Google's search engine to read, hear and understand human semantics. "The idea is to create a system that's expert in everything it has read and make that expertise available to the world," he says.
Mr. Kurzweil, at age 65, claims he has become just another Googler living in San Francisco and "riding the Google bus to work every day." But his employer also wants him to remain a "world thought leader"—a term not so grandiose as it seems when you consider all the Davos-type pontificators who exercise global influence without having hatched an original thought.
Mr. Kurzweil's ideas on death and immortality, not his impressive record as an entrepreneur, are what bring TV newsmagazines and print reporters to his door these days. I suggest to him he's discovered the power of the prophetic voice and is borne forward by the rewarding feelings that come from giving people hope in the face of their profoundest fears.
My insight does not impress him. He says he just gets satisfaction from seeing his ideas, like his inventions, wield a positive force in the world. People blame technology for humanity's problems, he says. They are much too pessimistic about its power to solve poverty, disease and pollution in our lifetimes.
By the same token, people need to prepare themselves for a downside they haven't experienced yet. "How many people have been harmed by biotechnology? Approximately zero. But when it's a problem, it's going to be a big problem," he says. (Starting more than a decade ago, Mr. Kurzweil began helping the U.S. Army develop countermeasures to a potential terrorist superbug.)
Mr. Kurzweil tells me he objects to some people's insinuation that he's religiously motivated, that "I'm trying to start a religion." He simply believes what his data are telling him: The rise of computational technology is exponential, and astonishingly smooth and predictable through wars, depressions, history. His aim in the first instance was the practical one of making sure his technology ventures succeeded in the market. Today, his goals are still practical.
One is to keep himself alive until some form of technological immortality becomes possible. Two of his seven books are on nutrition and health. A Kurzweil-co-founded company even sells "longevity products," and Mr. Kurzweil himself takes more than 150 pills and supplements a day. As the subtitle of one of his books puts it, "Live long enough to live forever."
But be warned: There is no magic pill. Mr. Kurzweil submits to a relentless series of blood tests to monitor his efforts to reprogram his body chemistry against aging and against inherited propensities for diabetes and heart disease. "I'm reasonably confident that I will make it," he adds. "But it's not guaranteed. There are still many diseases we don't have an answer to, though I do have some good ideas about cancer and heart disease." If diagnosed with a life-threatening illness, he adds, he already has plans to put aside his other projects and develop a cure.
Which creates a moral quandary for anyone tempted to wish Mr. Kurzweil good health. But this is one wisecrack I keep to myself.
Mr. Jenkins writes the Journal's Business World column.

Direita e esquerda no Brasil - Carlos Alberto Sardenberg

O grande problema deste artigo é que ele acredita que FHC representou a direita no Brasil e e que ele implementou um programa liberal, quando a única coisa que fez FHC foi estabilizar a economia, o que já é uma enorme missão, e aplicar um programa social-democrata, ou seja, distributivista, ainda que moderado. FHC esteve muito longe de um programa realmente liberal.

A falta que nos faz uma boa direita
Carlos Alberto Sardenberg
O Globo, 11/04/2013

Vou falar francamente: uma Thatcher, hoje, seria perfeita para o Brasil. Mas uma Thatcher em grande estilo: líder de partido, ganhando eleições com uma agenda liberal. Seria bom até para modernizar a cultura esquerdista amplamente dominante no país. Isso aconteceu na Inglaterra e, nos 80 e 90, em boa parte do mundo, inclusive no Brasil. Precisava acontecer de novo.

A longa administração conservadora de Margaret Thatcher fez o trabalho, digamos, sujo de demitir funcionários excedentes, cortar gastos públicos, controlar o poder dos sindicatos de empresas estatais (e depois privatizá-las), além de desregulamentar a economia, reformar a legislação trabalhista e reduzir a pesada burocracia do Estado.

Depois de um início custoso, com greves e desemprego em alta, funcionou. Com investimentos privados, o país voltou a crescer e gerar emprego e renda. Não por acaso, Thatcher ganhou três eleições seguidas.

Quando veio o desgaste até normal da administração conservadora, o serviço principal estava feito, a quebra do imenso, custoso e já ineficiente Estado do Bem-Estar. Aí veio Tony Blair com a suave conversa do “Novo trabalhismo”: retomada dos investimentos públicos em educação, saúde e segurança, mas em uma economia livre, aberta e competitiva.

Os eleitores foram trocando, conforme a ocasião. Elegeram o Partido Trabalhista no pós-guerra, que instalou o Estado do Bem-Estar, depois fartaram-se dos excessos desse modelo, que estatizava tudo de grande que via pela frente, como disse Churchill, e finalmente entregaram o poder para Thatcher desmontar tudo. E aí devolveram o governo à esquerda, mas uma esquerda reeducada.

Já entre nós, quando o eleitorado comprou a ideia de que era preciso desmontar o Estado excessivo e abrir a economia, porque só produzíamos carroças protegidas, acabou elegendo Fernando Collor, cuja agenda correta para o momento não resistiu ao caixa de PC. E terminou que a agenda liberal caiu no colo de Fernando Henrique.

FHC não liderou um movimento dentro de seu partido e junto aos aliados para construir uma agenda comum de reformas. Para dizer francamente, pelo menos no começo, foi tudo no vai da valsa. As trapalhadas seguidas de Itamar Franco acabaram jogando o Ministério da Fazenda no colo de FHC. Aí valeram a sabedoria e aguda percepção política do professor, que definiu logo o inimigo imediato ─ a superinflação – e escalou a equipe certa para atacá-lo.

Então, foi na sequência: para consolidar o combate à inflação, era preciso controlar o déficit das contas públicas, para o que eram necessárias as reformas, incluídas as privatizações. A agenda liberal se impôs no calor dos acontecimentos.

Daí as dificuldades de implementação. Não foi como na Inglaterra, com propostas bem definidas.. Aqui, FHC, vindo da esquerda, eleito com base nas novíssimas notas de um real, precisou construir essa agenda momento a momento. Excetuada a equipe econômica, quase ninguém entre seus colaboradores e seguidores estava preparado para a missão. Tratava-se de uma elite intelectual criada nas ideias socialistas e social-democratas, que viu ruir o Muro de Berlim e alcançou o poder em um mundo em que só existia capitalismo ─ e numa fase de liberalismo à americana ou “thatcherista”.

Além dessa turma, havia os velhos políticos, todos acostumados a viver em torno do Estado, fonte de nomeações, privilégios e bons negócios. Visto assim, a gente até se espanta de ver quanto o governo FHC avançou na agenda modernizadora.

Mas, é claro, não terminou o serviço. E parte desse serviço, eis outra peça do destino, ficou para o governo Lula. É a origem de nossos problemas atuais, o eleitorado se cansou de uma agenda liberal antes que ela tivesse sido completada. E elegeu um governo propondo mudar tudo para a esquerda, mas topando com os entraves causados justamente pela não conclusão da agenda liberal.

Daí o Lula do primeiro mandato. Manteve as bases macroeconômicas de FHC e ainda avançou em reformas micro claramente liberais e pró-negócios, sem reestatizações. De certo modo, os dois governos acabaram bem parecidos: construir alianças a meio do caminho para implementar reformas difíceis.

Depois, mais seguro, Lula parou com as reformas e começou a voltar para a agenda da velha esquerda estatizante, movimento agora claramente tomado pela presidente Dilma ─ e com os velhos políticos Estado-dependentes.

Tudo considerado, eis o que sempre nos faltou: uma boa direita, moderna, capaz de ganhar uma eleição com uma agenda liberal e implementá-la rigorosamente. E depois abrir espaço para uma boa esquerda, também moderna, que se eleja para fazer o seu serviço, que é gastar com educação, saúde e segurança. Mas gastar com eficiência e sem atrapalhar a economia privada.

Educacao:utopia e realidade - Gustavo Ioschpe

Artigo
A utopia sufoca a educação de qualidade

"Se a diferença que mais impacta a qualidade de vida das pessoas é a de renda, e se a fonte principal de renda é o trabalho, então precisamos de um sistema educacional que coloque ricos e pobres em igualdade de condições para concorrer no mercado de trabalho"

Gustavo Ioschpe
Revista Veja, 13/04/2013

A missão da boa escola é ensinar as disciplinas fundamentais aos alunos, e não tentar corrigir as desigualdades do Brasil.

Um dos males que assolam nossa educação é a esperança vã de pensadores e legisladores de que uma escola que mal consegue ensinar o básico resolva todos os problemas sociais e éticos do país. Eles criaram um sistema com um currículo imenso, sistemas de livros didáticos em que o objetivo até das disciplinas científicas é formar um cidadão consciente e tolerante. Responsabilizaram a escola pela formação de condutas que vão desde a preservação do meio ambiente até os cuidados com a saúde; instituíram cotas raciais e forçaram as escolas a receber alunos com necessidades especiais. A agenda maximalista seria uma maneira de sanar desigualdades e corrigir injustiças. O Brasil deveria questionar essa agenda.

Primeira pergunta: nossas escolas conseguem dar conta desse recado? A resposta é, definitivamente, não. Estão aí todas as avaliações nacionais e internacionais mostrando que a única igualdade que nosso sistema educacional conseguiu atingir é ser igualmente péssimo. Copiamos o ponto final de programas adotados nos países europeus sem termos passado pelo desenvolvimento histórico que lhes dá sustentação.

Segunda pergunta: esse desejo expansionista faz bem ou mal ao nosso sistema educacional? Será um caso em que mirar no inatingível ajuda a ampliar o alcançável ou, pelo contrário, a sobrecarga faz com que a carroça se mova ainda mais devagar? Acredito que seja o último. Por várias razões. A primeira é simplesmente que essas demandas todas tornam impossível que o sistema tenha um foco. Perseguir todas as ideias que aparecem -- mesmo que sejam todas nobres e excelentes -- é um erro. Infelizmente, a maioria dos nossos intelectuais e legisladores não tem experiência administrativa, e acredita ser possível resolver qualquer problema criando uma lei. No confronto entre intenções e realidade, a última sempre vence. A segunda razão para preocupação é que, com uma agenda tão extensa e bicéfala -- formar o cidadão virtuoso e o aluno de raciocínio afiado e com conhecimentos sólidos --, sempre é possível dizer que uma parte não está sendo cumprida porque a prioridade é a outra: o aluno é analfabeto, mas solidário, entende? (Com a vantagem de que não há nenhum índice para medir solidariedade.) E, finalmente, porque quando as intenções ultrapassam a capacidade de execução do sistema o que ocorre é que o agente -- cada professor ou diretor -- vira um legislador, cabendo a ele o papel de decidir quais partes das inatingíveis demandas vai cumprir. Uma medida que deveria estimular a cidadania tem o efeito oposto: incentiva o desrespeito à lei, que é a base fundamental da vida em sociedade.

As aulas de ciências e as de português e matemática são as que vão fazer diferença positiva na vida dos jovens quando eles chegarem ao mercado
Terceira pergunta: mesmo que todas essas nobres intenções fossem exequíveis, sua execução cumpriria as aspirações de seus mentores, construindo um país menos desigual? Eu diria que não apenas não cumpriria esses objetivos como iria na direção oposta. Deixe-me dar um exemplo com essas novas matérias inseridas no currículo do ensino médio -- música, sociologia e filosofia. A lógica que norteou a decisão é que não seria justo que os alunos pobres fossem privados dos privilégios intelec-tuais de seus colegas ricos. O que não é justo, a meu ver, é que a adição dessas disciplinas torna ainda mais difícil para os pobres se equiparar aos alunos mais ricos nas matérias que realmente vão ser decisivas em sua vida. A desigualdade entre os dois grupos tende a aumentar. A triste realidade é que, por viverem em ambientes mais letrados e com pais mais instruídos, alunos de famílias ricas precisam de menos horas de instrução para se alfabetizar. É pouco provável que um aluno rico saia da 1ª série sem estar alfabetizado, enquanto é muito provável que o aluno pobre chegue ao 3º ano nessa condição. O aluno rico pode, portanto, se dar ao luxo de ter aula de música. Para nivelar o jogo, o aluno pobre deveria estar usando essas horas para se recuperar do atraso, especialmente nas habilidades basilares: português, matemática e ciências. É o domínio dessas habilidades que lhe será cobrado quando ingressar na vida profissional. Se esses pensadores querem a escola como niveladora de diferenças, se a diferença que mais impacta a qualidade de vida das pessoas é a de renda, e se a fonte principal de renda é o trabalho, então precisamos de um sistema educacional que coloque ricos e pobres em igualdade de condições para concorrer no mercado de trabalho. O que, por sua vez, presume uma educação desigual entre pobres e ricos, fazendo com que a escola dê aos primeiros as competências intelectuais que os últimos já trazem de casa. Estou argumentando baseado em uma lógica supostamente de esquerda (digo supostamente porque, nesse caso, é transparente que as boas intenções dos revolucionários de poltrona só aprofundam as desigualdades que eles pretendem diminuir).

O mercado de trabalho valoriza mais as habilidades cognitivas e emocionais não porque os nossos empregadores sejam mesquinhos, mas porque, em um mercado competitivo, precisam remunerar seus trabalhadores de acordo com sua produtividade. Essa é a lógica inquebrantável do sistema de livre-iniciativa. Não adianta pedir ao gerente de recursos humanos que seja “solidário” na hora da contratação e leve em conta que os candidatos à vaga vêm de origens sociais diferentes, porque, se o recrutador selecionar o funcionário menos competente, o mais certo é que em breve ambos estejam solidariamente no olho da rua. Não conheço nenhum estudo que demonstre o impacto de uma educação filosoficamente inclusiva sobre o bem-estar das pessoas. Mas há vários estudos empíricos sobre a desigualdade no Brasil. O que eles informam é assustador: o fator número 1 na explicação das desigualdades de renda é, de longe, a desigualdade educacional (disponíveis em twitter.com/gioschpe). Ao criarmos uma escola sobrecarregada com a missão de não apenas formar o brasileiro do futuro mas corrigir as desigualdades de 500 anos de história, nós nos asseguramos de que ela se tornará um fracasso. A escola não pode fracassar, pois é a alavanca de salvação do Brasil.

O tipo de escola pública que queremos é uma discussão em última instância política, e não técnica. É legítimo, embora estúpido, que a maioria dos brasileiros prefira uma educação que fracasse em ensinar a tabuada mas ensine bem a fazer um pagode. Acrescento apenas uma indispensável condição: que a população seja informada, de modo claro e honesto, sobre as consequências de suas escolhas. Quais as perdas e os ganhos de cada caminho. O que é, aí sim, antidemocrático e desonesto é criar a ilusão de que não precisamos fazer escolhas, de que podemos tudo e de que conseguiremos obter tudo ao mesmo tempo, agora. Infelizmente, é exatamente isso que vem sendo tentado. Nossas lideranças se valem do abissal desconhecimento da maioria da população sobre o que é uma educação de excelência para vender-lhe a possibilidade do paraíso terreno em que professores despreparados podem formar o novo homem e o profissional de sucesso. Essa utopia, como todas as outras, acaba em decepção e atraso. Essa pretensa revolução, como todas as outras, termina beneficiando apenas os burocratas que a implementam.


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sexta-feira, 12 de abril de 2013

Pausa para humor ao contrario, ou seja: terrorismo economico - Rogerio Furkim Werneck

POLÍTICA
Reeleição a qualquer custo
Rogério Furquim Werneck
O Globo, 12/04/2013

Pensando no imediatismo e na inconsequência que vêm marcando a condução da política econômica no país, por conta da precoce fixação do Planalto na reeleição, lembrei-me de uma passagem marcante de um livro que li há mais de 50 anos.

Sou da época em que crianças ainda liam Júlio Verne. Assim mesmo, com prenome aportuguesado, como o autor era conhecido por aqui. “A volta ao mundo em oitenta dias”, publicado em 1873, é um dos seus livros mais famosos. Conta as aventuras de Phileas Fogg, um solteirão inglês rico e excêntrico, que aposta com outros sócios de seu clube que poderia fazer uma viagem ao redor do mundo e retornar a Londres em apenas 80 dias. Bastam dois parágrafos curtos para situar, no enredo, o episódio de que me lembrei.

Fogg cruza a Europa e a Ásia, atravessa o Pacífico e segue, por trem, de San Francisco a Nova York. Mas não chega a tempo de embarcar no navio em que pretendia retornar à Inglaterra. E aí se vê em dificuldades. Os navios que estavam prontos para zarpar não eram suficientemente rápidos. Os que eram, não sairiam a tempo de Nova York.

Mas Fogg afinal descobre o Henrietta, um cargueiro que parecia adequado, prestes a partir vazio para Bordeaux. Era um navio típico do período de transição da navegação a vela para a vapor. Já tinha propulsão a vapor, mas ainda era dotado de velas. E, afora o casco de aço, a caldeira e a máquina a vapor, era todo de madeira.

Fogg embarca no Henrietta e consegue desviá-lo para a Inglaterra, graças a um motim por ele fomentado. Mas a travessia acaba tendo de ser feita em meio a uma tempestade. E logo fica claro que o estoque de carvão do navio, dimensionado para uma travessia calma de Nova York a Bordeaux, era insuficiente para a viagem a todo vapor, em mar revolto, que estava sendo empreendida.

É nesse ponto que vem o episódio que me veio à mente (capítulo 33, para quem se interessar). Com o carvão prestes a acabar, Fogg convence o capitão, a quem o navio pertencia, a lhe vender o Henrietta. E, para manter a pressão da caldeira, ordena que todas as partes em madeira do navio sejam desmanteladas e lançadas à fornalha. Quando, afinal, o Henrietta chega às Ilhas Britânicas, só lhe restam o casco, a caldeira e a máquina a vapor.

A ideia de um navio que vai sendo desmantelado para que seus pedaços sejam usados como combustível que o mantém em movimento propicia excelente metáfora para perceber com mais clareza o que hoje vem ocorrendo no país. Ajuda a realçar o que há de mais errado na forma inconsequente com que a presidente Dilma Rousseff vem tentando assegurar sua reeleição a todo custo, em frenético vale-tudo.

Não há espaço aqui para um balanço de tudo o que já foi desmantelado para avivar a fornalha da reeleição. Mas uma lista curta teria de incluir o controle da inflação, a credibilidade do Banco Central e previsibilidade da política fiscal.

Num quadro em que o dispêndio público continua a mostrar rápida expansão, já não se tem mais ideia do que será o resultado fiscal de 2013, deixado agora ao sabor de pacotes de desoneração anunciados de improviso, a cada mês, em desesperada tentativa de mascarar a inflação com medidas que implicam inflação mais alta no futuro.

Merecem ainda destaque o abandono cada vez mais escancarado da ideia de realismo tarifário — como bem ilustra a insistência na política de preços de derivados de petróleo — e a decisão populista de não repassar, aos consumidores, o custo mais alto da energia elétrica proveniente das térmicas. E há, também, outras conquistas valiosas, como a solidez dos bancos federais, sendo consumidas na fornalha da reeleição.

A inconsequência na gestão da Petrobras e do pré-sal não pode deixar de ser mencionada. Mas tem mais a ver com o vale-tudo anterior, que marcou a travessia do biênio eleitoral de 2009-2010.

Faltam hoje 560 dias para o segundo turno das eleições presidenciais. Uma travessia de 80 semanas. E ainda há muito o que queimar a bordo. Mas em que estado estará o nosso Henrietta no fim de outubro do ano que vem?

Rogério Furquim Werneck é economista e professor da PUC-Rio.

Pausa para... humor governamental (com perdao dos leitores)

Bem, humor não é bem o caso, mas é que as previsões do Mantega sempre me fazem sorrir. Alguns podem ter acessos de riso, e outros, mais tolerantes, podem até gargalhar...
Desculpem, se não agradou, mas essas piadas são velhas no cenário brasiliense...
Paulo Roberto de Almeida

Acuado pela inflação e pela pressão do mercado, Mantega acena com a elevação dos juros
VEJA.com, 12/04/2013

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou nesta sexta-feira, em São Paulo, que o controle da inflação é tão importante quanto a solidez fiscal e disse que o governo não titubeará em adotar medidas impopulares, como a alta da Selic, a taxa básica de juros. “Vamos tomar medidas, mesmo que não populares, como o ajuste na taxa de juros”, disse Mantega, durante evento na capital. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) divulgado na última quarta-feira mostrou alta de 0,47% e ultrapassou a meta de inflação no acumulado de 12 meses, chegando a 6,59%.

Em seu discurso, o ministro claramente jogou para escanteio a independência do Banco Central ao aventar a possibilidade de alta dos juros – dando a entender que se trata de uma decisão de governo, e não da autoridade monetária que, em teoria, deveria agir sem interferência de qualquer política econômica.

Questionado sobre a influência do cenário político e eleitoral nas medidas econômicas que vêm sendo tomadas, o ministro negou que o governo esteja postergando medidas impopulares até o final de 2014. “Se vocês olharem ao longo do tempo, nós elevamos juros em véspera de eleição. Por exemplo, em 2010 nós elevamos taxa de juros. Portanto, não nos pautamos por calendário político”, comentou Mantega durante palestra.

O ministro voltou a repetir o mantra de que a “inflação é passageira” e atribuiu ao real valorizado parte da culpa pela alta do IPCA. Sobre os juros, Mantega disse ainda que a Selic em alta levou o setor produtivo a fazer operações financeiras e que “quando se reduz juros, o setor produtivo investe”. “Está havendo uma transição de juros altos para aumento de produção”, disse.

Desonerações
O ministro voltou a citar o programa de desonerações implantado no país pelo governo como medida que deverá aliviar a alta dos preços. Segundo ele, as desonerações chegam a 1% do Produto Interno Bruto (PIB) e serão da ordem de 70 bilhões de reais em 2013. “Para 2014 está programada uma desoneração de 88 bilhões de reais, quase 2% do PIB”, disse o ministro, citando que 42 setores já estão sendo beneficiados pela desoneração da folha de pagamento e outros engrossarão o grupo.

Crescimento
Apesar do número desanimador divulgado nesta manhã pelo Banco Central, que mostra que a economia encolheu 0,52% em fevereiro, o ministro se mostrou – como sempre – otimista em relação ao crescimento da economia brasileira. Segundo ele, a previsão é que o crescimento do PIB seja de 3,5% neste ano e de 4,1% no ano que vem, “melhor do que em 2012, que foi ruim”.

O ministro avaliou que a passagem entre 2012 e 2013 foi marcada por um gradual crescimento, cenário que vai perdurar. “O investimento voltou a crescer; entre janeiro e fevereiro houve bom desempenho. A absorção de bens de capital cresceu 8,5% no trimestre, o que mostra que o investimento vai continuar a crescer em 2013.”

Mantega reafirmou que, depois que a crise acabar, os países serão mais competitivos e citou os investimentos do Brasil necessários para ampliar a competitividade. “No Brasil temos desvantagem, que é atraso na infraestrutura”, disse o ministro, dando como exemplo os investimentos feitos na China. “A diferença entre Brasil e a China é que a China faz investimentos e não tem demanda. E eu não quero criticar o programa da China, que é certo”, afirmou.

Pausa para... humor ingles

Taxista Inglês

*Isso aconteceu na cidade inglesa de Manchester.....

Um muçulmano devoto e barbudo entra num táxi.
Uma vez sentado, pede ao taxista para desligar o rádio, porque não quer  ouvir música,
como decretado na sua religião, e porque no tempo do  profeta não havia música, especialmente música ocidental, que é música dos  infiéis.
O motorista do táxi educadamente desliga o rádio, sai do carro dirige-se à porta do lado do cliente e abre-a.
O árabe pergunta: - "O que você está a fazer?
Resposta do taxista: - "No tempo do profeta não havia táxis, por isso
saia e espere pelo próximo camelo".

Humor britânico é isto aí, até quando é politicamente incorreto.....

(Enviado por meu amigo Maurício David)

BRICS demais, bricks de menos... - Dani Rodrik

O que o mundo precisa dos Brics?


Por Dani Rodrik

Em 2001, Jim O'Neill1, do Goldman Sachs, cunhou celebremente o termo Bric para referir-se às quatro maiores economias em desenvolvimento - Brasil, Rússia, Índia e China. Mais de dez anos depois, no entanto, o único fator em comum desses países é que são as únicas economias entre as 15 maiores do mundo (ajustadas pela paridade do poder de compra) a não fazer parte da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Os quatro países têm estruturas econômicas muito diferentes: Rússia e Brasil baseiam-se nas commodities; a Índia, no setor de serviços; e a China, na indústria. Brasil e Índia são democracias, enquanto China e Rússia, definitivamente, não o são. E, como escreveu Joseph Nye2, a Rússia é uma superpotência em declínio, enquanto a China e (em menor medida) os outros dois estão em ascensão.
Ainda assim, em um raro caso em que a vida imita a imaginação, os Brics (os quatro originais mais a África do Sul, que passou a fazer parte do grupo posteriormente) formaram um grupo real entre eles, com encontros periódicos e iniciativas comuns de política econômica. A ideia mais ambiciosa até agora é a criação de um banco de desenvolvimento do grupo.
 Em sua reunião em Durban, em março, os líderes dos cinco países anunciaram que seu "Novo Banco de Desenvolvimento" vai ter foco em investimentos em infraestrutura de países em desenvolvimento, que, segundo eles, veem-se limitados por "investimentos externos diretos e financiamentos de longo prazo insuficientes". Eles comprometeram-se a fazer uma contribuição inicial de capital ao banco que seria "substancial e suficiente para o banco atuar no financiamento à infraestrutura".
Uma segunda iniciativa anunciada em Durban foi a criação de uma linha de crédito contingente de reserva de US$ 100 bilhões para lidar com "pressões de liquidez de curto prazo".
O fato de as maiores economias em desenvolvimento do mundo conversarem periodicamente e estabelecerem iniciativas comuns só pode ser motivo de aplausos. Ainda assim, é decepcionante que tenham escolhido o financiamento à infraestrutura como foco para sua primeira grande área de colaboração conjunta.
Essa abordagem representa a ideia de desenvolvimento econômico dos anos 1950, que há muito foi substituída por uma perspectiva mais diversificada, que aborda a multiplicidade de limitadores - desde a baixa governança até as falhas do mercado - cujo grau de gravidade varia de país a país. Seria até possível dizer que a economia global de hoje sofre de financiamento demais entre fronteiras e não de menos.
O que o mundo precisa dos Brics não é mais um banco de desenvolvimento, mas uma maior liderança quanto às grandes questões mundiais do momento. Os Brics são lar de cerca da metade da população e de grande parte do potencial econômico não explorado no mundo. Se a comunidade internacional deixar de enfrentar seus desafios mais graves - desde a necessidade de uma arquitetura econômica mundial sólida até as mudanças climáticas - os que vão pagar o maior preço serão os Brics.
Até agora, no entanto, esses países desempenharam um papel bastante tímido e pouco criativo nos fóruns internacionais, como o Grupo dos 20 (G-20) e a Organização Mundial do Comércio (OMC). Quando declararam alguma posição, foi em grande parte em busca de interesses nacionais estreitos. Será que eles realmente não têm nada de novo a oferecer?
A economia mundial até agora operou sob um conjunto de ideias e instituições que emanaram dos países avançados no Ocidente. Os Estados Unidos deram ao mundo a doutrina do multilateralismo liberal baseado em regras - um regime cujos vários defeitos acabam por destacar os nobres princípios segundo os quais o sistema funcionou em termos gerais. A Europa trouxe os valores democráticos, solidariedade social e, apesar de todos seus problemas atuais, o feito mais impressionante de engenharia institucional do século, a União Europeia.
Essas velhas potências, contudo, não têm a legitimidade nem o poder para sustentar a ordem global no futuro, enquanto as novas potências ascendentes ainda precisam demonstrar que valores vão articular e promover. Elas precisam desenvolver seu ponto de vista sobre uma nova economia global, um ponto de vista que vá além das queixas sobre sua estrutura de poder assimétrica. Infelizmente, ainda não está claro se elas estarão propensas a ir além de seus interesses imediatos para enfrentar os desafios em comum do mundo.
A experiência com seu próprio desenvolvimento torna países como China, Índia e Brasil avessos ao fundamentalismo de mercado e defensores naturais da diversidade institucional e da experimentação pragmática. Eles podem aproveitar essa experiência para articular uma nova história global que enfatize a economia real acima das finanças, a diversidade política acima da harmonização, a esfera da política nacional acima das restrições externas e a inclusão social acima do elitismo tecnocrático.
Mas precisam deixar de ser suplicantes e agir como verdadeiros líderes, compreender que os demais, incluindo também os países avançados, deparam-se com problemas que algumas vezes exigem políticas que coloquem sua economia doméstica em primeiro lugar. E os Brics precisam trabalhar para manter os princípios fundamentais que serviram tão bem à economia mundial - e a eles próprios - tão bem nos últimos 60 anos: multilateralismo e não discriminação.
Em última análise, porém, os Brics também precisam ser líderes dando o exemplo. As práticas de direitos humanos na China e Rússia, assim como a supressão da oposição política são incompatíveis com a nova liderança mundial. Esses regimes autoritários precisam reformar-se dentro de casa se quiserem exercer qualquer tipo de reivindicação moral no exterior.
Dani Rodrik professor de Economia Política Internacional na Universidade de Harvard, é autor de "The Globalization Paradox: Democracy and the Future of the World Economy (O paradoxo da globalização: a democracia e o futuro da economia mundial).