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segunda-feira, 4 de maio de 2020

Previsões pessimistas para a economia mundial - IEDI

Coronavírus e o Cenário Econômico Mundial
Carta IEDI n. 994, 4/05/2020
Sumário
A pandemia do coronavírus provocou a maior crise econômica e financeira global desde os anos 1930, sendo denominada pelo FMI de “great lockdown”. De acordo com o cenário básico do Fundo de abril, o PIB da economia global cairá -3% em 2020. Ou seja, mais de 6 pontos percentuais (p.p.) inferior à sua projeção anterior, divulgada em jan/20 (+6,6%). A “grande recessão”, no contexto da crise financeira global de 2008, havia registrado recuo de -0,1% em 2009.
A primeira hipótese subjacente ao cenário considerado mais provável pelo FMI é que a pandemia será controlada no segundo semestre de 2020, permitindo a retirada gradual das medidas de isolamento social tanto nas economias avançadas como nas economias emergentes e em desenvolvimento. Com isso, a economia global voltará a crescer em 2021 a um ritmo de +5,8%. 
A segunda hipótese é que as medidas de combate à crise do coronavírus, adotadas de forma praticamente generalizada pelos governos de muitos países, como mostraram as Cartas IEDI n. 987, 991 e 992, evitarão um colapso ainda maior da atividade econômica e serão mantidas no próximo ano ou ampliadas, se necessário. 
Ainda mais grave será o efeito do coronavírus sobre o comércio internacional, cujo volume cairá -11% em 2020, segundo o FMI. A alta +8,4%, projetada para 2021, não será capaz de compensar integralmente o recuo deste ano.
No caso dos preços das commodities, um parâmetro importante para um grande exportador de bens primários como o Brasil, o FMI estima que seu índice de matérias-primas agrícolas e metálicas recuará -1,1% em 2020 e -0,6% em 2021. Importante influência virá dos metais que, por serem insumos da produção industrial, têm preços muito mais sensíveis ao ciclo econômico. 
Retrocesso maior ficará por conta das commodities energéticas, como já apontou a cotação negativa do barril WTI, referência para o mercado americano, em 20/04. A previsão do Fundo é de uma deflação de -42% em 2020, devido à baixa demanda global, e uma recuperação muito parcial em 2021 (+6,3%).
O Fundo alerta, porém, para o alto grau de incerteza em relação ao seu cenário básico na medida em que o desempenho da economia global dependerá da interação de fatores de difícil previsão, como a evolução da pandemia, a intensidade e a duração das medidas de isolamento, a dimensão do choque de oferta devido à interrupção de cadeias, a repercussão do choque financeiro etc. Ou seja, o desempenho global poderá ser ainda pior do que o apresentado acima. 
No cenário básico, o grupo das economias avançadas será o principal responsável pela contração da economia global em 2020, com queda do PIB prevista de -6,1%. Para 2021, a previsão é de uma forte retomada: +4,5%. Em outros termos, o Fundo aponta para uma curva em “V” para a recuperação. 
O maior declínio do PIB será registrado na Área do Euro (-7,5%), devido à gravidade da epidemia na Itália e na Espanha e, em menor medida, na França e na Alemanha. Recuos intensos também são esperados no Reino Unido (-6,5%), EUA (-5,9%) e Japão (-5,2%). Em um quadro não tão adverso estão países que contiveram mais rapidamente a disseminação do vírus sem a necessidade de drástico isolamento social, como Singapura, Hong Kong, Coréia do Sul etc. 
Nos países emergentes e em desenvolvimento, a crise virá em múltiplas dimensões: choque sanitário, face a sistemas precários de saúde pública, e choque econômico, com colapso da demanda externa; deflação dos preços das commodities; reversão dos fluxos de capitais; aumento dos prêmios de risco nos mercado financeiro; queda dos preços das ações; e fortes depreciações cambiais. 
A previsão do FMI é de uma queda de -1% do PIB no grupo das economias emergentes e em desenvolvimento. Este resultado esconde, contudo, forte heterogeneidade. Enquanto a Ásia emergente deve apenas se desacelerar, mantendo-se no azul (+1% em 2020), em função de China (+1,2%) e Índia (+1,9%), outras regiões, como a América Latina e a Europa emergente não escaparão de queda acentuada: -5,2% em ambos os casos. 
Para o Brasil, o FMI espera um recuo de -5,2%, em linha com o desempenho da Rússia, mas não tão severo como o do México, que tem maior dependência da demanda externa dos EUA, bem como das exportações de petróleo. Para o Banco Mundial, a queda do PIB brasileiro em 2020 não será muito diferente: -5%, embora projete um declínio mais acentuado para a América Latina como um todo (-4,6%).

Introdução

Esta carta IEDI apresenta o cenário atual para o desempenho da economia global do Fundo Monetário Internacional (FMI), que provocou a maior crise econômica e financeira desde os anos 1930. A primeira seção apresenta esse cenário e, a título de comparação, a projeção atualizada do Banco Mundial para a América Latina. As demais instituições multilaterais ainda não divulgaram a atualização dos seus cenários. 
A segunda seção sintetiza o impacto do choque do Covid-19 sobre a economia global, subjacente ao cenário do FMI, com base, principalmente, nos primeiros capítulos do World Economic Outlook e do Global Financial Stability Report de abril de 2020. As demais referências utilizadas são informadas ao longo da análise. 

Cenário para a economia global

A pandemia do coronavírus provocou a maior crise econômica e financeira global desde os anos 1930, denominada pelo FMI de “great lockdown”. De acordo com o cenário básico dessa instituição multilateral, a economia global contrairá -3% em 2020, mais de 6 pontos percentuais (p.p.) inferior à projeção de janeiro (+6,6%). A intensidade desta queda é muito superior ao registrado no contexto da crise financeira global de 2008 e da “grande recessão”: -0,1% em 2009. 
Além da maior gravidade da crise atual, a diferença no desempenho da economia mundial nas vésperas das duas crises também chama atenção do Fundo. Enquanto a crise financeira de 2008 foi precedida por um boom de crescimento de cinco anos consecutivos a taxas superiores a +4% ao ano, atingindo pico de +5,7% em 2007, nos anos anteriores ao “great lockdown” decorrente do covid-19 a economia global já estava em desaceleração. 
O ritmo de expansão do PIB mundial em 2019 foi de +2,9% em contraste com projeção do FMI que indicava +3,6%, em outubro do ano passado. Ademais, o período 2012-2016 caracterizou-se por um baixo crescimento da economia global e falta de sinais consistentes de aceleração, com o que o PIB global variou entre +3% e +3,5%, num contexto de vários eventos desestabilizadores, dentre os quais a crise da área do euro, a volatilidade das condições financeiras globais e a queda dos preços das commodities a partir de 2014.
A primeira hipótese subjacente ao cenário básico do FMI é que a pandemia será controlada no segundo semestre de 2020, permitindo a retirada gradual das medidas de isolamento social, tanto nas economias avançadas (EA) como nas economias emergentes e em desenvolvimento (EMED). Com a consequente retomada do nível de atividade, a economia global voltará a crescer em 2021 a um ritmo de +5,8%. 
A segunda hipótese é que as medidas de estímulo adotadas de forma praticamente generalizada pelos governos dos dois grupos de economia (ver Carta IEDI n. 987, 991 e 992), evitarão um colapso ainda maior da atividade econômica global e serão mantidas no próximo ano, sendo ampliadas, se necessário. 
Neste cenário, a retração de -11% do volume de comércio internacional prevista para 2020, como reflexo da contração da atividade econômica global, será sucedida por um crescimento de +8,4% em 2021, bem acima do ritmo anterior à crise de 2020. 
No caso dos preços das commodities, com base nos preços vigentes nos mercados futuros no final de março, o FMI estima que seu índice de matérias-primas agrícolas e metálicas recuará -1,1% em 2020 e -0,6% em 2021, como resultado da queda muito mais expressiva do preço dos metais (de -15% em 2020 e -5,6% em 2021) que, por  serem insumos da produção industrial, são muito mais sensíveis ao ciclo econômico global. 
Já para os preços das commodities agrícolas, a projeção é de um recuo de -1,8% e uma alta de +0,4% em 2021. Por sua vez, o índice das commodities energéticas será muito mais afetado. A previsão é de uma deflação de -42% em 2020 e uma pequena recuperação em 2021 (+6,3%) em função não somente do maior impacto da crise sobre a demanda por petróleo, mas também da inexistência de um acordo de corte de produção entre os países da OPEC+ até o fechamento das projeções do FMI (ver próxima seção). 
 O Fundo é muito cauteloso, alertando para o alto grau de incerteza em relação ao seu cenário básico na medida em que o desempenho da economia global dependerá da interação de fatores de difícil previsão, como a evolução da pandemia, a intensidade e a duração das medidas de confinamento,  a dimensão do choque de oferta decorrente da interrupção da atividade em vários setores, a repercussão do choque financeiro provocado pela forte deterioração das condições financeiras globais, a possível mudança nos padrões de gasto e, inclusive, comportamentais (como pessoas evitando shopping centers e transporte público). Assim, os riscos de que um desempenho pior do que o previsto nesse cenário são muito elevados. 
Para conter esses riscos e evitar que um cenário mais adverso se manifeste, o FMI destaca que um amplo conjunto de políticas em âmbito doméstico e multilateral é necessário para conter as consequências da pandemia Covid-19 tanto no curto como no médio e longo prazo. Mesmo as medidas adotadas para reduzir o contágio, que têm levado à forte queda da atividade econômica, devem ser vistas como um importante investimento de longo prazo na saúde população e da economia. 
A prioridade imediata é mitigar os efeitos do choque Covid-19, especialmente mediante o aumento das despesas para fortalecer a capacidade e os recursos dos sistemas de saúde, simultaneamente às iniciativas para conter o contágio. 
As políticas econômicas também são essenciais para amortecer o impacto da inevitável queda da atividade econômica nas empresas, famílias e no sistema financeiro, bem como garantir a normalização gradual da atividade econômica logo que a pandemia se dissipe e as medidas de confinamento sejam retiradas. 
Políticas de natureza fiscal, monetária e financeira, com foco em setores específicos, são igualmente necessárias para apoiar as empresas e famílias afetadas. 
É positiva a avaliação do Fundo sobre as políticas monetárias e fiscais contracíclicas de dimensão inédita adotadas até o início de abril. Todavia, segundo o FMI, políticas adicionais terão que ser acionadas se a paralização no nível de atividade se revelar persistente ou se a recuperação for anêmica após a remoção do confinamento.
Estímulos fiscais de grande escala podem impedir um colapso da confiança das empresas e famílias e contribuir para o aumento da demanda agregada, evitando um recuo ainda maior da atividade econômica. No âmbito da política monetária, a ação contracíclica dos bancos centrais das principais economias avançadas, bem como de várias emergentes e em desenolvimento, contribuíram para reduzir o risco sistêmico e evitar um aumento ainda maior da aversão aos riscos, colocando a economia global numa melhor posição de largada quando a retomada se iniciar. Assim, devem ser mantidas e ampliadas, se necessário. 
A provisão de liquidez para os bancos e instituições financeiras não-bancárias, especialmente aquelas que emprestam para pequenas e médias empresas, é vista como essencial na tentativa de evitar colapso maior da atividade econômica. Já as autoridades de regulação e supervisão financeira devem encorajar os bancos a renegociaram empréstimos de famílias e empresas em condições financeiras adversas.
O FMI ressalta que ações sincronizadas das autoridades monetárias dos países avançados podem ampliar seu impacto em cada país e contribuir para aumentar o raio de manobra dos países emergentes para a adoção de medidas de estímulo monetário.  
A cooperação multilateral também é vista como essencial para que os efeitos da pandemia sejam superados, inclusive para ajudar os países com restrições financeiras que enfrentam um choque “gêmeo”, de saúde e de financiamento, e para direcionar recursos para países com sistema de saúde frágeis. Os países também devem unir esforços tanto para que o espraiamento do vírus diminua, como para o desenvolvimento de uma vacina e outros tratamentos médicos contra a doença. 
Os riscos subjacentes ao cenário básico do FMI estão presentes nas projeções tanto para as economias avançadas com para as emergentes e em desenvolvimento. O primeiro grupo será o principal responsável pela contração da economia global em 2020, com uma queda prevista de -6,1% no PIB (contra -3,4% na “grande recessão”), decorrente do forte espraiamento da pandemia e das consequentes medidas de contenção, que levaram à paralização de diversos setores de atividades, aumento do desemprego e forte redução da demanda agregada. Para 2021, a previsão é de uma forte retomada, a um ritmo de +4,5%, uma diferença de 10,5 p.p. frente a 2020 (contra 6,5 p.p. entre 2009 e 2010). 
O maior declínio do PIB será registrado na Área do Euro (-7,5%) diante da severidade da epidemia em alguns países, como Itália e Espanha, que devem retrair -9,1% e -8%, respectivamente. Nas duas economias líderes (na Alemanha e França), o FMI prevê uma contração no patamar de -7%. 
Os demais países desenvolvidos também enfrentaram recessões agudas: em ordem decrescente, os recuos serão de -6,5% no Reino Unido, -5,9% nos Estados Unidos e -5,2% no Japão. Nos demais, a queda do PIB será um pouco menor (-4,6%), em função seja da adoção de medidas mais frouxas de confinamento (caso da Suécia), seja do desempenho menos adverso das economias de Singapura, Hong Kong, Coréia do Sul e Taiwan, que há alguns anos ascenderam à categoria de economia avançada na classificação do FMI. 
As economias emergentes e em desenvolvimento (EMED) também estão enfrentando uma crise de múltiplas dimensões diante da combinação do choque sanitário em sistemas precários de saúde pública aos diversos choques econômicos amplificadores: colapso da demanda externa, deflação dos preços das commodities, reversão dos fluxos de capitais, aumento dos spreads (prêmios de risco), queda dos preços das ações e fortes depreciações cambiais (ver próxima seção). Mesmo algumas EMED, onde o surto do Covid-19 ainda não atingiu a gravidade observada na China e em várias EA, já enfrentam crises econômicas de maior proporção devido à sua maior vulnerabilidade externa que amplifica os canais de transmissão do choque inicial.
A previsão do FMI, todavia, é de uma queda de somente -1% do PIB conjunto das EMED em 2020, seguida por uma expansão de +6,6% em 2021, maior taxa de crescimento desde 2010. Contudo, o ritmo da retomada (7,7 p.p.) é inferior ao estimado para as EA. A recessão bem mais suave do que nas economias avançadas encobre, porém, uma grande heterogeneidade regional. 
A Ásia emergente será a única região desse grupo com taxa positiva de crescimento em 2020 (+1,0%), embora 5 p.p. inferior à média da década anterior e 4.5 p.p menor que a registrada em 2019. Esse resultado, por sua vez, decorre, sobretudo, do desempenho das economias chinesa e indiana (+1,2% e +1,9%, respectivamente). Excluindo a China, a contração seria de -2,2 %. 
Já o PIB conjunto das economias da ASEAN, que também um peso relevante na dinâmica regional, retrairá -0,6%, mas as divergências entre os países membros também são expressivas (enquanto a Indonésia deve crescer +0,5%, a previsão para a Tailândia é de uma queda de -6,7% do PIB).
Nas demais regiões emergentes e em desenvolvimento, o desempenho será negativo, mas em diferentes intensidades. Tanto na Europa emergente e em desenvolvimento e na América Latina e o Caribe, o PIB regional retrairá -5,2% sob a influência das maiores economias regionais. As previsões para a Rússia e o Brasil são semelhantes (recuos de -5,3% e -5,2%, respectivamente), enquanto o México deve registrar uma recessão mais severa (-6,6%) diante da sua maior dependência da demanda externa dos Estados Unidos, bem como das exportações de petróleo. 
Segundo as projeções realizadas pelo Banco Mundial e divulgadas igualmente em abril de 2020, a retração do PIB da América Latina deve ser um pouco menos intensa do que o esperado pelo FMI: recuo de -4,6% para a região como um todo. Este desempenho será influenciado negativamente pelo Brasil, cujo declínio chegará a -5%, e também pela queda de -6% do México.
Já a retração no Oriente Médio e Ásia Central, segundo o FMI, será de -2,8%. Além do desempenho da Arábia Saudita (-2,3%), maior economia da região, a previsão é de queda do PIB na maioria dos países (exportadores e não-exportadores de petróleo). 
Finalmente, o PIB da África subsaariana deve declinar -1,6% como reflexo, principalmente, do desempenho das suas duas principais economias (recuo de -5,8% na África do Sul e -3,4% na Nigéria). O FMI também divulgou a projeção para o PIB dos países exportadores de petróleo (queda de -4,4%), com grande presença nessas duas últimas regiões e especialmente atingidos nessa crise.

O impacto do choque COVID-19 sobre a economia global

O choque do covid-19 é significativamente distinto daqueles que geraram as reversões anteriores do ciclo econômico global: 
     •  infecções reduzem a oferta de trabalho; 
     •  quarentenas, confinamentos e distanciamentos sociais – essenciais para conter o vírus – restringem a mobilidade, com efeitos particularmente intensos nos setores que dependem da interação social (como turismo e entretenimento); 
     •  o fechamento de fábricas e escritórios leva à ruptura das cadeias de valor e à redução da produtividade; 
     •  demissões, queda na renda, medo da contaminação e aumento da incerteza levam à redução do consumo, implicando fechamento de outras empresas e novas demissões. 
Em suma, parte substancial da economia é paralisada. Somente as despesas com saúde aumentam mais do que o esperado. 
Já a propagação do choque inicial ocorreu por canais semelhantes aos observados nas desacelerações ou crises precedentes, mas numa intensidade muito maior devido à natureza particular do choque covid-19 mencionadas acima. 
Dois canais foram rapidamente acionados: o comércio e as cadeias de produção globais. 
Como o choque eclodiu inicialmente na China, que tem um papel central tanto no comércio como na produção mundial, a queda abrupta da produção industrial, das vendas do varejo e do investimento fixo, em janeiro e fevereiro, registradas neste país contaminou o desempenho econômico das economias com vínculos com a economia chinesa (principalmente, países do sudeste asiático, Japão e outras EAs, como Alemanha e Estados Unidos), bem como países emergentes exportadores de commodities). 
Com o espraiamento da pandemia para a Europa e os Estados Unidos e a consequente adoção de medidas de confinamento a partir de fevereiro (embora em diferentes escalas), esses canais se reforçaram. Os índices de gerentes de compra indicam o colapso da atividade econômica em março na área do euro, Japão e Estados Unidos.
Outros canais se manifestaram a partir de meados de fevereiro com a propagação global do covid-19 e os receios cada vez maiores dos seus efeitos econômicos adversos. 
Os preços dos ativos de risco e das commodities despencaram numa velocidade inédita. Simultaneamente, diante o movimento de fuga para a qualidade dos investidores globais, os preços dos ativos considerados “porto-seguro”, como os títulos do governo americano (mas, em menor medida, alemão), inclinaram para cima e sua rentabilidade caiu fortemente como reflexo da queda dos spreads e da expectativa de políticas monetárias acomodatícias por um longo período.
Os mercados acionários experimentaram a queda mais rápida já registrada (o índice Standard & Poors 500 (S&P 500), o mais representativo das bolsas de valores dos Estados Unidos, caiu -20% frente ao seu pico desde a crise financeira global de 2008 em somente 16 pregões e a volatilidade dos preços dos ativos atingiu níveis não vistos desde aquela crise. 
Os spreads dos títulos corporativos de alto risco também aumentaram expressivamente, sobretudo das empresas do setor de energia e de atividades mais afetadas pela pandemia, como transporte. As condições se deterioraram ainda mais a partir do final de fevereiro como reflexo do aumento dos riscos de crédito e de liquidez. 
Com isso, os spreads dos títulos com grau de investimento, mas com risco de redução (downgrade) de suas classificações de risco de crédito (ratings), se ampliaram. Todavia, o mercado continuou aberto para empresas americanas com grau de investimento, que recorreram ao mercado de bônus para captar recursos diante da provisão parcial das necessidades de caixa pelas linhas de crédito bancário e o virtual congelamento dos mercados de commercial papers
Neste contexto, os bancos centrais das economias avançadas adotaram um conjunto de medidas para aliviar as tensões nos mercados financeiros e conter a deterioração das expectativas, como cortes nas taxas de juros básicas, provisão de liquidez mediante seja linhas já existentes, seja novos instrumentos, e programas de compra de ativos mais amplos vis-à-vis aos adotados no contexto da CFG (ver Cartas IEDI n. 987, 991 e 992).
O ajuste dos portfolios em direção a ativos líquidos (inclusive moeda) e seguros também resultou em sinais de escassez de funding em dólar americano, a moeda-chave do sistema monetário internacional. Esses sinais levaram o Federal Reserve (Fed), único capaz de atuar como emprestador em última instância em âmbito global, a acionar em meados de março suas linhas de swaps com outros bancos centrais, adotadas pela primeira vez na crise financeira de 2008. 
Além das linhas com os bancos centrais da área do Euro, Canadá, Reino Unido, Suíça e Japão,  que se tornaram permanentes em outubro de 2013 (as chamadas standing facilities), o Fed também estabeleceu linhas temporárias de seis meses de duração com os bancos centrais da Austrália, Suécia, Dinamarca, Noruega, Nova Zelândia, Singapura, Coréia do Sul, México e Brasil, os mesmos contemplados em 2008. Autoridades monetárias de outras economias avançadas e da China também ativaram suas linhas de swaps.
No início de abril, os mercados de ativos começaram a recuperar parte das perdas diante do impacto positivo sobre as expectativas dos investidores das ações de política monetária e fiscal de escala sem precedentes adotados pelos países desenvolvidos para conter os efeitos econômicos da pandemia. 
Contudo, as tensões nos segmentos de maior risco dos mercados de crédito (bônus corporativo, empréstimos alavancados e crédito privado) persistiram. Elas começaram a ceder após o Fed e os bancos centrais da área do euro e Japão ampliarem e/ou criarem novas linhas emergenciais direcionadas ao crédito corporativo.
O impacto sobre os preços das commodities foi igualmente devastador em função não somente do choque financeiro, mas também do colapso em curso e previsto da demanda global.  
As commodities energéticas foram as mais atingidas, tendo o preço do petróleo acelerado seu movimento de “queda livre” a partir do início de março em função do fracasso da tentativa de acordo de corte de produção entre os países da OPEC+. O segundo grupo mais atingido foram as commodities metálicas, sobretudo as utilizadas como insumo da produção industrial. 
Vale mencionar que o acordo da OPEC+, que anunciou um corte inédito da produção a partir de maio, foi concluído somente em meados de abril (após o lançamento do cenário atual do FMI), detendo a espiral descendente dos preços do petróleo. 
Contudo, essa espiral foi retomada rapidamente, pois o corte anunciado foi insuficiente para compensar o colapso no consumo global. Diante do excesso de oferta global, no dia 22 de abril, o preço do petróleo Brent, uma das cotações internacionais de referência, atingiu o menor nível em duas décadas após a segunda cotação de referência (West Texas intermediate - WTI) registrar um valor negativo pela primeira vez na história. Isto porque, os agentes com posições compradas no mercado futuro de WTI tiveram que pagar para liquidarem seus contratos antes do vencimento devido à escassez de terminais de armazenamento. 
A pandemia do covid-19 foi o gatilho de múltiplos choques externos sobre as economias emergentes e em desenvolvimento (EMED). A combinação da queda dos preços das commodities, aumento da aversão ao risco global e a perspectiva de uma recessão mundial resultou numa liquidação em massa de ativos emitidos por essas economias nos mercados internacionais e domésticos. Os preços das ações dos mercados emergentes registraram quedas sincronizadas e em intensidade semelhante, recuando em torno de -20% entre meados de janeiro e início de abril. 
Já nos mercados de câmbio, as moedas dos países exportadores de commodities (Brasil, México, África do Sul, Colômbia e Rússia) foram as mais atingidas. Com exceção da Colômbia, esses países também se destacam pela maior liquidez dos seus mercados de câmbio (à vista e/ou de derivativos) em comparação com seus congêneres regionais, o que pode ter contribuído para as fortes depreciações registradas. As moedas das demais EMED foram relativamente menos afetadas, seja devido às intervenções dos bancos centrais, seja da menor vulnerabilidade externa. 
No mercado externo de títulos soberanos, os spreads atingiram no final de março os níveis mais altos desde a crise financeira de 2008. Nesse mercado, houve igualmente diferenciação entre os países, com as maiores altas sendo registradas naqueles com elevadas dívidas externas e/ou déficits em conta corrente (como Argentina e Turquia). 
Até o início de abril, os países importadores de petróleo tinham sido menos afetados pelo efeito-contágio do choque do covid-19, mas a redução das remessas de imigrantes, contração do financiamento externo e menor demanda externa deve se sobrepor ao efeito positivo do baixo preço do petróleo nos próximos meses.
Os movimentos nos preços dos ativos e dos spreads foram provocados, em grande medida, pela saída recorde de investimentos de portfólio de não-residentes tanto em dólares (mais de US$ 100 bilhões), como em porcentagem do PIB no primeiro trimestre de 2020. Todas regiões e mercados foram afetados, embora o impacto inicial tenha sido mais significativo na Ásia (a primeira região atingida pelo choque inicial) e nos mercados acionários devido a sua maior sensibilidade ao crescimento global. 
A abrangência da saída de capitais (em termos do número de países atingidos) foi a maior desde a crise global de 2008, mas sua intensidade variou entre os países. Na Tailândia e na África do Sul, por exemplo, ela atingiu mais do que 1% do PIB somente em dois meses. No caso do mercado de títulos, o impacto foi maior nos títulos denominados em moeda estrangeira (ou seja, no mercado internacional). 
Para conter o impacto adverso da reversão dos fluxos de capitais, os bancos centrais das EMED intervieram nos mercados de câmbio mediante venda de reservas, estabeleceram linhas de suporte de liquidez aos mercados de capitais e bancário e recorreram às linhas de swapcom os bancos centrais das economias avançadas (sobretudo do Fed), quando disponíveis. 

sábado, 26 de dezembro de 2015

Terrorismo economico? Nao, so as previsoes de Adolfo Sachsida para 2016

Ou seja, terrorismo econômico, mas ele é justamente provocado pelo governo, não pelo economista, que só reflete os dados da realidade.
Não atirem no mensageiro...
 Paulo Roberto de Almeida

Blog do Adolfo Sachsida

sábado, 26 de dezembro de 2015

Previsões para 2016

PIB: queda de 2,5%

Inflação: 10%

Déficit primário do setor público consolidado de 3% do PIB

Desemprego: 10%


Vai ser um ano merda pra cacete. Infelizmente o governo Dilma NÃO FEZ um único ajuste na economia no ano de 2015, a consequência óbvia disso é a implosão fiscal que ocorrerá em 2016.

Quantas vezes eu pedi que se cancelassem as olimpíadas no Brasil??? Eu pedia isso enquanto ainda era possível tal cancelamento. As olimpíadas do Rio custarão algo como R$ 40 bilhões. Isto é, custará o equivalente a uma CPMF!!!! Isso num país sem escolas e sem saúde pública!!! Sem esgoto, sem infraestrutura básica!!!!!

O ano de 2016 será o ano do COLAPSO FISCAL da União, dos Estados e dos Municípios. Diversos municípios ficarão inadimplentes, os estados seguirão firme e forte rumo a insolvência, e a União vai se virar como puder. Prestem atenção: boa parte dos empresários prefere deixar de pagar os impostos, pois este governo usou e abusou do REFIS. Isto é, os empresários sabem que lá na frente terão um programa de refinanciamento de suas dívidas tributárias. Resultado: é melhor se endividar junto ao Fisco do que junto aos bancos. Isso vai gerar uma queda enorme na arrecadação, que também terá caído muito por causa da queda na atividade econômica.

Um governo prudente tentaria emplacar reformas para diminuir o gasto público, mas alguém acredita que o novo ministro da Fazenda vai emplacar medidas sérias para reduzir o déficit da previdência? Pelo contrário, em 2016 o gasto público continuará aumentando, mesmo num cenário de queda da arrecadação!!!!

O teste de seriedade para o novo ministro da Fazenda é simples: ele tem que fazer dois anúncios. Primeiro, NÃO HAVERÁ reajuste do salário mínimo em 2016 (cada 1 real de aumento no salário mínimo custa em torno de R$ 320 milhões nas contas da previdência). Segundo, não haverá reajuste para o funcionalismo público em 2016. Como ele não fará nenhum desses dois anúncios resta evidente que quem não faz o básico dificilmente fará o avançado (reforma trabalhista, reforma previdenciária, reforma tributária, abertura econômica, desburocratização, etc.).

A única coisa que o governo fará em 2016 será procurar por novas formas de se endividar mais (seja alterando regras, seja usando um dinheiro que não lhe pertence (tal como o assalto que os governos estaduais estão fazendo com o fundo previdenciário de seus funcionários, ou manobras para assaltar ainda mais o FGTS do trabalhador), seja criando permissões para gastar recursos que estão em litígio judicial, etc.).

Eu não tenho a menor dúvida de que em junho de 2016 teremos outro governo, só não sei qual governo será. Ãssim que começarem os saques a supermercados (e eles começarão em breve) a situação desse governo ficará ainda pior. A irresponsabilidade do STF (ao mudar o rito de um processo de outro poder com a finalidade única de tentar salvar a presidente Dilma) pode custar sangue. Rezo a Deus por uma saída institucional: impeachment, cassação de chapa, ou renúncia. Mas sempre existem saídas não institucionais, eu não as apoio. Mas elas existem.

Só para lembra-los: ainda existem diversas caixas pretas contábeis nesse governo. Cada uma delas é um esqueleto contábil novo, são mais dívidas, mais problemas. Caixa Econômica Federal, e BNDES são apenas dois desses exemplos.

O ano de 2016 será mais um ano ruim por culpa EXCLUSIVA das péssimas políticas econômicas adotadas pelo governo do PT. O custo da irresponsabilidade petista está matando o brasileiro, e quanto mais demorar para retirarmos o PT do poder mais caro será esse custo.

Para finalizar: é patética a fala do novo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, dizendo que fará reformas previdenciárias e trabalhistas. Alguém realmente acredita que o governo Dilma prepara um pacote para CORTAR direitos trabalhistas e previdenciários? Alguém realmente acredita que esse governo, que acabou de demitir Joaquim Levy, vai realmente fazer qualquer ajuste fiscal? Essa é apenas mais uma mentira desse desgoverno petista que jura de pé junto uma coisa, mas faz o seu oposto. Em 2016 teremos mais um ano ruim graças ao PT.

domingo, 4 de janeiro de 2015

Esses economistas fajutos e suas previsoes equivocadas: erraram todas em 2014

Vejamos o que os praticantes da ciência lúgubre -- seria assim que se traduz dismal science? -- andaram errando em suas estimativas de um ano atrás para o comportamento dos principais indicadores econômicos.

Taxa de desemprego: média das previsões para dezembro de 2014: 6,3%; taxa real: 5,8%
Inflação: projetado para o índice ao consumidor: 1,9%; taxa real: 1,3%
Taxa de juros: estimada para os títulos a 10 anos do Tesouro: 3,52%; real: 2,17% (e aqui a diferença é realmente brutal, para os poupadores, coitados)
Preço do barril do petróleo: consenso para o final de 2014: US$ 94,65; preço real: $53,27 (para a desgraça de muitos produtores tradicionais, mas também para uns idiotas do pré-sal por aqui mesmo);
Crescimento do PIB: previsão: 2,8%; taxa real dentro de dois meses, mas pode ter sido melhor.

Bem, vocês já previram que eu estava falando dos EUA não é mesmo? Ali, os economisas ou foram muito pessimistas, ou realistas, mas o fato é que eles erraram feio, como reparou o Wall Street Journal (2/01/2015), esse grande jornalão do PIG americano, defensor dos especuladores da rua do mesmo nome.

No Brasil, os economistas acertaram todas, não é mesmo? Pelo menos, os que não são do governo...
Paulo Roberto de Almeida 


sexta-feira, 18 de julho de 2014

Heranca maldita dos companheiros: juros mais altos do mundo ate o final de 2015...

Déficit de transações correntes em alta, inflação em alta, e investimentos estrangeiros em baixa.
Essa é a herança a ser deixada pelos companheiros em economia...
Paulo Roberto de Almeida

Brazil
Itau economic forescasting, 18/07/2014

The Copom will publish on Thursday the minutes of its last meeting (occurred last Wednesday). In the post-meeting statement, the Copom affirmed that it decided, “at the moment”, to maintain the SELIC rate unchanged at 11.0%. In the context of weak economic activity (particularly the decline in business and consumer confidence), the expression “at the moment” may be interpreted by some market participants as signaling that interest rates could be cut in the coming months. However, we do not see much room for lower rates, given that inflation is above the upper bound of the target range, there are still increases in monitored prices in the pipeline for 2014 and 2015, and the unemployment rate still remains at historical lows. The minutes are expected to provide more details to this discussion.

We maintain our call that the SELIC rate will remain at 11% until the end of 2015.

July’s IPCA-15 consumer inflation preview will hit the wires on Tuesday. We forecast a 0.23% monthly gain, down from 0.47% in June on slower transport and food inflation. If our estimate is on the mark, twelve-month inflation will rise to 6.58% (6.41% in the previous month), with a still-wide gap between market-set and regulated inflation (7.2% and 4.6%, respectively).

June’s unemployment rate is scheduled for release on Thursday, but there is still uncertainty as to whether the full-data will be released. We still don’t know May’s unemployment rate because of strikes among IBGE employees. We forecast the unemployment rate at 5.1% in both May and June, and the seasonally-adjusted reading at 4.8% in both months (4.7% in April). Job creation has been slow, but there are also less people looking for jobs, maintaining the unemployment rate at low levels.

The FGV confidence indexes for July (preview of industrial business confidence on Wednesday and the consumer confidence on Friday) are also noteworthy.

June’s federal tax collection is expected to come through on Wednesday. We forecast BRL 90 billion, which represents a year-over-year decline of 1.4% in real terms (-6.0% in May). If correct, annual growth in the last three months will hit -2.1%, from -0.8% in May. The weakness of tax collection stems from slow economic activity and the tax breaks implemented over recent years. The trend indicates that efforts to increase non-tax revenue will continue, and reinforces our view that the recurring primary fiscal surplus will remain below 1% of GDP this year.

June’s balance of payments will come though on Friday. We look for a current account deficit of USD 3.9 billion, down from USD 6.6 billion in May, but in line with the level recorded in June 2013 (also USD 3.9 billion). The improvement from the previous month should stem mostly from a stronger trade balance, but also from lower deficit in the service and income accounts. If we’re correct, the twelve-month current account deficit will remain stable at 3.6% of GDP. Foreign direct investment is expected to be slightly weaker than in previous months, given the inflow of only USD 2.3 billion until June 18th. We estimate USD 3.6 billion, with the twelve month reading declining from 2.9% to 2.8% of GDP.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Pausa para... humor economico (ou contos de fadas antecipando o Natal, para o ministro da deseconomia...)

O Ministro Mantega deve estar pedindo um PIBão, na sua meia de Natal, e espera que o Papai Noel, ou alguma fada distraída, lhe traga pelo menos um PIB de 2,5% de crescimento anual, de agora até o final do ano.
Não é uma gracinha?
Um grandalhão desses, um bobalhão econômico, melhor dito, acreditando em Papai Noel e contos de fadas.
Fica, em todo caso, registrado, nossa página de humor econômico da semana.
Nunca antes neste país se torceu tanto para uma inversão para cima do tal crescimento gradual, outra piada deste jornal mantido, financiado, escrito e a serviço do chefe da quadrilha, sim, ele mesmo, o Stalin Sem Gulag que curta sua "saison en enfer" da Papuda. O que é que vocês querem? O Stalin de verdade, o homem do Gulag, também enfrentou algum tempo de cadeia (por assaltar bancos) antes de ascender na escala do crime...
O nosso Stalin Sem Gulag fez mais do que assaltar bancos: expropriou contabilmente vários bancos, um procedimento mais limpo, mais seguro e muito mais eficaz. Bem, de vez em quando algo dá errado. Nem tudo é perfeito neste país.
De perfeito mesmo, só as projeções do pândego ministro Mantega.
Ele ficou contente com a revisão do IBGE, que corrigiu o fabuloso crescimento de 2012 de 0,9 para 1%, ou seja, um recuo de 0,5% no crescimento real per capita. Cada brasileiro ficou mais pobre em meio por cento, na média, com exceção dos amigos do rei, ou seja, os corruptos de sempre; estes continuam enriquecendo, a taxas que nem te conto...
Bem, chega de piada da semana, vamos ao que interessa...
Paulo Roberto de Almeida

Apesar da queda, Mantega ainda acredita em PIB a 2,5% este ano
Correio do Brasil, 3/12/2013
Por Redação - de Brasília e Rio de Janeiro

A economia brasileira está em trajetória de expansão gradual, que deve se manter nos próximos trimestres, avaliou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, reconhecendo ainda que o desempenho da economia está abaixo do desejado.
– A recuperação talvez não seja na velocidade que gostaríamos – afirmou o ministro a jornalistas, acrescentando, no entanto, que ainda é possível que a economia avance 2,5% neste ano.
O Produto Interno Bruto (PIB) do país encolheu 0,5% no terceiro trimestre deste ano ante o segundo, primeiro resultado negativo e o pior em mais de quatro anos, afetado pela retração dos investimentos. Entre abril e junho passados, a atividade havia crescido 1,8%.
Sobre a dinâmica da expansão do PIB, o ministro avaliou que os investimentos estão acelerando e deverão registrar alta entre 6% e 7% neste ano em relação a 2012, apesar de terem encolhido 2,2% no trimestre passado sobre os três meses anteriores.
– O crescimento é gradual porque no mundo todo está sendo assim, e esse crescimento se dá principalmente em investimentos, bens de capital – disse Mantega a jornalistas, acrescentando que, por outro lado, vai demorar “mais alguns anos” para que a Formação Bruta de Capital Fixo – uma medida de investimento – corresponda a 24% do PIB.
O programa de concessões que está em curso, nos setores de infraestrutura e logística, vai ajudar a “elevar o crescimento potencial do país, de 4%”, afirmou ele. Mantega reconheceu que as sucessivas elevações na Selic tiveram impacto no crescimento da atividade neste ano. Em abril passado, o Banco Central iniciou um ciclo de aperto monetário que já levou a taxa básica de juros de 7,25% para o atual patamar de 10%, a fim de combater a inflação por meio do encarecimento do crédito e, consequentemente, do consumo.
O ministro afirmou que o consumo das famílias está sendo prejudicado pela falta de crédito, mas considera que com a queda da inadimplência e com o menor comprometimento da renda dos brasileiros, o consumo avançará. Mantega disse ainda que o crescimento baixo atrapalha o resultado fiscal, mas repetiu que o governo central – governo federal, BC e Previdência vão cumprir sua meta de superávit primário de R$ 73 bilhões neste ano.
Ele também citou o atual momento da economia mundial, que vem mostrando recuperação e será seguida pelo Brasil.

PIB fraco
A queda na base sequencial veio depois de uma expansão revisada de 1,8% do PIB no segundo trimestre ante o primeiro. Pesquisa da agência inglesa de notícias Reuters indicava que a economia brasileira teria contração de 0,2% nos três meses até setembro sobre o segundo trimestre e avançaria 2,5% na comparação anual, segundo a mediana das projeções e sem considerar a nova metodologia do IBGE para o PIB.
– Em linhas gerais, a despeito das mudanças metodológicas, temos a confirmação de PIB fraco. Olhando pela ótica da demanda, vemos claramente que está ficando mais evidente a questão da diferença entre oferta e demanda – afirmou o economista sênior do Espírito Santo Investment Bank, Flávio Serrano.
Para ele, o quarto trimestre começou fraco e o PIB deve encerrar este ano com expansão de 2,2% a 2,3%, pior do que sua previsão anterior de 2,5%. Segundo o IBGE, a Formação Bruta de Capital Fixo, uma medida de investimento, recuou 2,2% no terceiro trimestre sobre o período imediatamente anterior, no pior desempenho desde o primeiro trimestre de 2012 (-2,7%) e na primeira queda em um ano.
O governo da presidente Dilma Rousseff assumiu o discurso de que os investimentos serão o principal motor da economia brasileira, tendo como pano de fundo as concessões de infraestrutura e logística já feitas e programadas para o próximo ano.
– Vale destacar que uma das coisas que mais caiu foram os gastos de capital, que é o grande desafio do governo… O desafio é ver os investimentos se recuperarem mais e melhorar a situação das importações – afirmou o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, acrescentando que revisará as estimativas de crescimento do PIB em 2014 para entre 2,4% e 2,5%, ante 2,7%.
No trimestre passado, ainda segundo o IBGE, o setor de Agropecuária também encolheu, com retração de 3,5 por cento sobre abril a junho, enquanto os setores Industrial e de Serviços ficaram praticamente estáveis, com variação positiva de 0,1 por cento, após terem avançado 2,2 e 0,8 por cento, respectivamente, no segundo trimestre sobre o primeiro.
Já o consumo das famílias e do governo, no terceiro trimestre, tiveram expansão de 1 e de 1,2 por cento, respectivamente, sobre o segundo.

Revisão do IBGE
O IBGE também revisou os resultados do PIB de períodos anteriores por causa da nova metodologia. Pelos novos números apresentados, a economia cresceu 1% em 2012, ligeiramente acima do 0,9% divulgado inicialmente.
Os resultados trimestrais anteriores também mudaram. Além de ter revisado o PIB do segundo trimestre de alta de 1,5% para de 1,8% sobre janeiro a março, o IBGE informou agora que a economia no primeiro trimestre deste ano ficou estagnada, pior que o avanço de 0,6% divulgado inicialmente.
O IBGE passou a incorporar no cálculo do PIB sua nova pesquisa mensal de serviços, que começou a ser divulgada este ano e que, por enquanto, mede apenas a receita do setor. Grande parte dos especialistas ainda não tinha conseguido adequar suas projeções com os novos parâmetros.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Alice au Beurre au Pays des Merveilles (nada a ver com Lewis Carroll) - Editorial Estadao

Bem, existem muitos tipos de manteigas na culinária francesa, algumas são mais pastosas que outras, e tem as que derretem, literalmente, nas mãos. Também servem para melhorar algum olho roxo...
Paulo Roberto de Almeida

Cada vez maior a farra fiscal

09 de junho de 2013 | 2h 04
Editorial O Estado de S.Paulo
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, respondeu com mais uma de suas bravatas à agência de classificação de risco Standard & Poor's (S&P), um dia depois de rebaixada a perspectiva do Brasil de estável para negativa. Segundo ele, a agência terá de mudar sua avaliação para um viés de alta, se isso depender da perspectiva econômica do País. A economia brasileira, argumentou, teve um "desempenho razoável" no primeiro trimestre e há sinais de crescimento maior no segundo.
É um arrazoado estranho. Depois de dois anos de estagnação, seria necessária uma expansão muito superior a 0,6% num trimestre para caracterizar uma evolução "razoável". Se o Produto Interno Bruto (PIB) crescer 3% neste ano, a expansão no triênio terá ficado em pífios 2,2% ao ano.
Além disso, o ministro Mantega descartou muito facilmente outros pontos. Ao adotar o viés de baixa, os avaliadores levaram em conta o risco de uma piora das contas públicas, já comprometidas pela combinação de excesso de gastos com desonerações mal planejadas. Somaram a isso a preocupação com o rápido aumento das operações dos bancos públicos e com o seu risco de crédito. Além disso, a justificativa da agência menciona também o baixo nível de investimentos e a fraqueza das exportações.
O anúncio da S&P coincidiu com a divulgação de duas más notícias sobre as contas públicas. Autorizado pela Medida Provisória (MP) 618, o Tesouro Nacional deverá repassar mais R$ 15 bilhões ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e uma quantia igual à Valec.
Esse dinheiro será levantado com mais endividamento, por meio da colocação de títulos federais no mercado. A transferência será feita por meio de um empréstimo sem prazo de vencimento. O governo poderá disfarçar outros efeitos, contabilmente, mas o impacto sobre a dívida bruta do Tesouro será evidente, e esse é o ponto mais relevante para os credores e demais agentes do mercado.
Além disso, o BNDES terá um desconto da dívida acumulada com o Tesouro desde 1997. A maior parte dessa dívida corresponde a transferências ligadas ao Programa de Sustentação de Investimentos, instituído em 2009 como instrumento de ação contra a crise. O governo deveria ter encerrado esse programa em poucos meses, mas decidiu renová-lo mais de uma vez. Entre 2009 e 2012 o Tesouro transferiu para o banco R$ 280 bilhões. A MP ainda autorizou o BNDES a descasar ativos e passivos de operações em dólares.
A outra má notícia reforça as expectativas de um mau resultado fiscal neste ano. O governo só conseguirá fechar suas contas - mesmo abatendo R$ 45 bilhões de investimentos e desonerações da meta fiscal - com a inclusão do bônus de assinatura das licitações do pré-sal na receita do Tesouro. A receita de concessões, inicialmente estimada em R$ 3,3 bilhões, foi revista em maio para R$ 15,6 bilhões, mas poderá ser maior, segundo fontes do Executivo.
O governo deverá usar, portanto, além dos truques já conhecidos, a contabilização de uma receita meramente eventual, sem perspectiva de repetição nos próximos anos. Mas a maior parte da gastança financiada pelo Tesouro deverá ser permanente.
A bagunça fiscal permanece, é indisfarçável e é inútil o governo rejeitar as avaliações de agências de classificação de risco ou de quaisquer outras entidades. Agências como a S&P têm o poder especial de prejudicar governos e países com suas opiniões negativas, certas ou erradas, mas esse é o menor problema. Muito mais grave, com ou sem classificação negativa, é o dano causado pelo manejo irresponsável das finanças públicas.
O Banco Central voltou a acentuar, na quinta-feira passada, a importância da política fiscal para o combate à inflação e para a preservação da confiança. Sem isso, ninguém poderá contar com estabilidade de preços nem com os investimentos indispensáveis ao País. A inflação em 12 meses continua no limite da margem de tolerância (6,5%), e os investimentos ainda estão longe do nível mínimo desejável. Nenhum desses indicadores vai melhorar com a farra fiscal.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

O Brasil: empantanado (quem diz e' o FMI...)

FMI: Restrições de oferta podem limitar ritmo do Brasil no curto prazo

Por Sergio Lamucci | Valor, 16/04/2013

WASHINGTON - O Fundo Monetário Internacional (FMI) cortou a previsão para o crescimento do Brasil em 2013 de 3,5% para 3%, elevando ligeiramente a estimativa para 2014 de 3,9% para 4%. “Restrições de oferta podem limitar o ritmo de expansão no curto prazo”, diz o FMI, em relatório divulgado nesta terça-feira. Segundo a instituição, a expansão do PIB  neste ano será maior que o 0,9% do ano passado refletindo o impacto defasado dos grandes cortes de juros promovidos no ano passado e das medidas seletivas para impulsionar o investimento privado.  Não há uma análise mais detalhada dos motivos que levaram à revisão da projeção de crescimento para este ano em relação ao número que era esperado em janeiro.
Ao comentar as recentes revisões para baixo das perspectivas de crescimento de médio prazo dos mercados emergentes, o FMI ressalta que isso não se deve apenas à expectativa de expansão um pouco mais moderada da China. “O assunto é mais amplo e mais óbvio em economias em que fatores de oferta, como gargalos de infraestrutura ou do mercado de trabalho, e incertezas sobre políticas e obstáculos regulatórios contribuíram para o recente adiamento de investimento – exemplos incluem Brasil, Índia e Rússia”, diz o FMI. “A desaceleração na acumulação de capital tende a reduzir o crescimento potencial no médio prazo.”
O FMI observa que o crescimento da América Latina desacelerou de 4,5% em 2011 para 3% em 2012 refletindo “a desaceleração na demanda externa e, em alguns casos, o impacto de fatores domésticos”. A perda de fôlego foi especialmente “pronunciada no Brasil, a maior economia da região, onde grandes estímulos falharam em impulsionar o investimento privado”.  A desaceleração na economia brasileira afetou os parceiros comerciais do país na região, principalmente Argentina, Paraguai e Uruguai, segundo o FMI. Neste ano, porém, o crescimento na América Latina vai se acelerar, beneficiando-se da expansão mais forte do Brasil, diz a instituição, que espera um avanço de 3,5% para o PIB da região.
O documento pouco fala sobre inflação no Brasil. Ao falar da América Latina, diz que a inflação nessas economias permaneceram em geral bem ancoradas, embora “tenham ficado acima do centro da meta em alguns casos (incluindo Brasil e Uruguai)”. Num comentário mais geral sobre a situação dos mercados emergentes, o FMI diz que restrições de capacidade crescentes indicam que a inflação pode surpreender para cima. Com isso, os juros podem voltar a subir ou há o risco de a inflação aumentar. No sumário executivo do estudo, o FMI diz que alguns países da América do Sul enfrentam inflação alta e pressões crescentes no mercado de câmbio, mas não diz explicitamente quais.
Nos 12 meses até março, o IPCA acumulou alta de 6,59%, acima do teto da meta, de 6,5%. Nesse cenário, a expectativa de muitos analistas é que o Copom eleve os juros na reunião que começa nesta terça-feira e se encerra na quarta.
No relatório, aparece uma previsão para a inflação ao consumidor no Brasil de 6,1% neste ano e de 4,7% no ano que vem, mas se trata da inflação calculada pela média anual – em 2012, ela ficou em 5,4%. A inflação acumulada de janeiro a dezembro no ano passado pelo IPCA ficou em 5,84% - as projeções do FMI para 2013 e 2014 de acordo com esse critério está num trecho do relatório que ainda não foi publicado.
Todas essas informações fazem parte dos dois primeiros capítulos do Panorama Econômico Mundial, divulgados nesta terça-feira, na reunião de primavera do FMI e do Banco Mundial, em Washington.
Leia mais:
FMI prevê caminho acidentado na recuperação das economias avançadas
Economias avançadas terão crescimento "pouco exuberante", diz FMI
FMI: China deve ter um crescimento um pouco mais forte que em 2012
FMI acompanha indicadores do G-20 para monitorar aquecimento excessivo
Países ricos avançam para reduzir risco fiscal no curto prazo, diz FMI

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sexta-feira, 12 de abril de 2013

Pausa para... humor governamental (com perdao dos leitores)

Bem, humor não é bem o caso, mas é que as previsões do Mantega sempre me fazem sorrir. Alguns podem ter acessos de riso, e outros, mais tolerantes, podem até gargalhar...
Desculpem, se não agradou, mas essas piadas são velhas no cenário brasiliense...
Paulo Roberto de Almeida

Acuado pela inflação e pela pressão do mercado, Mantega acena com a elevação dos juros
VEJA.com, 12/04/2013

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou nesta sexta-feira, em São Paulo, que o controle da inflação é tão importante quanto a solidez fiscal e disse que o governo não titubeará em adotar medidas impopulares, como a alta da Selic, a taxa básica de juros. “Vamos tomar medidas, mesmo que não populares, como o ajuste na taxa de juros”, disse Mantega, durante evento na capital. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) divulgado na última quarta-feira mostrou alta de 0,47% e ultrapassou a meta de inflação no acumulado de 12 meses, chegando a 6,59%.

Em seu discurso, o ministro claramente jogou para escanteio a independência do Banco Central ao aventar a possibilidade de alta dos juros – dando a entender que se trata de uma decisão de governo, e não da autoridade monetária que, em teoria, deveria agir sem interferência de qualquer política econômica.

Questionado sobre a influência do cenário político e eleitoral nas medidas econômicas que vêm sendo tomadas, o ministro negou que o governo esteja postergando medidas impopulares até o final de 2014. “Se vocês olharem ao longo do tempo, nós elevamos juros em véspera de eleição. Por exemplo, em 2010 nós elevamos taxa de juros. Portanto, não nos pautamos por calendário político”, comentou Mantega durante palestra.

O ministro voltou a repetir o mantra de que a “inflação é passageira” e atribuiu ao real valorizado parte da culpa pela alta do IPCA. Sobre os juros, Mantega disse ainda que a Selic em alta levou o setor produtivo a fazer operações financeiras e que “quando se reduz juros, o setor produtivo investe”. “Está havendo uma transição de juros altos para aumento de produção”, disse.

Desonerações
O ministro voltou a citar o programa de desonerações implantado no país pelo governo como medida que deverá aliviar a alta dos preços. Segundo ele, as desonerações chegam a 1% do Produto Interno Bruto (PIB) e serão da ordem de 70 bilhões de reais em 2013. “Para 2014 está programada uma desoneração de 88 bilhões de reais, quase 2% do PIB”, disse o ministro, citando que 42 setores já estão sendo beneficiados pela desoneração da folha de pagamento e outros engrossarão o grupo.

Crescimento
Apesar do número desanimador divulgado nesta manhã pelo Banco Central, que mostra que a economia encolheu 0,52% em fevereiro, o ministro se mostrou – como sempre – otimista em relação ao crescimento da economia brasileira. Segundo ele, a previsão é que o crescimento do PIB seja de 3,5% neste ano e de 4,1% no ano que vem, “melhor do que em 2012, que foi ruim”.

O ministro avaliou que a passagem entre 2012 e 2013 foi marcada por um gradual crescimento, cenário que vai perdurar. “O investimento voltou a crescer; entre janeiro e fevereiro houve bom desempenho. A absorção de bens de capital cresceu 8,5% no trimestre, o que mostra que o investimento vai continuar a crescer em 2013.”

Mantega reafirmou que, depois que a crise acabar, os países serão mais competitivos e citou os investimentos do Brasil necessários para ampliar a competitividade. “No Brasil temos desvantagem, que é atraso na infraestrutura”, disse o ministro, dando como exemplo os investimentos feitos na China. “A diferença entre Brasil e a China é que a China faz investimentos e não tem demanda. E eu não quero criticar o programa da China, que é certo”, afirmou.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Memorias de um economista centenario - Alexandre Schwartsman

Enfim, não precisaria esperar tanto tempo para saber quais países vão dar certo, e quais vão dar errado. Mesmo sem ter vivido cem anos, sem ter bola de cristal ou poderes adivinhatórios, eu sei prever algumas coisas muito simples.
O ciclo de juros baixos dos países avançados vai terminar, e eles vão ter de aumentar os juros em algum momento; aí eu prevejo - vejam como eu sou "experto" - calotes em série no Brasil e aumento geral da inadimplência, retração dos investimentos em carteira, eventual fuga de capitais, enfim, desvalorização e quebra de alguns "ispertos". 
Também sei prever que a Argentina, pela "enésima" vez -- mas esta previsão é ainda mais fácil -- vai ter uma crise cambial, fuga de capitais, desvalorização, pobreza, manifestações, violência política, enfim, essas coisas que eles já conheceram cinco ou seis vezes nos últimos 70 ou 80 anos.
Também sei prever que os governos vão continuar irresponsáveis, emitindo dinheiro ou fazendo dívida pública, e depois produzindo um pouco de inflação para "honrar seus compromissos", pagando em moeda desvalorizada.
Eu sei prever um monte de coisas, mas obviamente tudo isso é chute, pois eu não tenho as virtudes de economista do articulista abaixo.

Paulo Roberto de Almeida 


Este é o segundo de uma série de artigos sobre a crise econômica atual e seus prováveis desdobramentos no mercado internacional e no Brasil, feitos por renomados economistas a pedido do Valor.

Memórias de um economista centenário
Por Alexandre Schwartsman
Valor Econômico12.9.2012 – pág. A18

Excerto das memórias do economista Alexandre Schwartsman, postadas no seu centésimo aniversário:
"Mas o principal erro, dentre tantos que cometi, e que são inerentes à profissão do economista, talvez tenha sido não levar a sério algumas de minhas próprias conclusões e, desta forma, não antever os eventos de maior magnitude observados até agora no século XXI, que vi nascer e no qual vivi a maior parte da minha longa existência.
Eu já tinha acompanhado o que ocorrera com a Argentina, país que - assim como a periferia europeia - havia se colocado numa armadilha cambial. Enquanto os capitais fluíam abundantemente tudo corria a favor do país. Havia um desequilíbrio externo, mas o financiamento barato não criava incentivos para sua correção; pelo contrário, a percepção que a poupança externa estaria sempre disponível para países que se engajassem seriamente nas reformas e no controle fiscal gerou despreocupação com respeito ao balanço de pagamentos.
Persistência do crescimento baixo ou negativo abre espaço para a polarização política e para o populismo
No entanto, quando os capitais secaram, originalmente por fatores que pouco (ou nada) tinham a ver com a Argentina, e o país se viu obrigado a fazer um forte ajuste de balanço de pagamentos, o pesadelo do padrão-ouro retornou. Incapaz de desvalorizar sua moeda, tentou promover a depreciação interna, isto é, reduzir preços e salários domésticos para recuperar a competividade perdida.
Como resultado, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), que atingira níveis asiáticos nos anos anteriores, foi negativo em 1998, 1999, 2000 e 2001, testando os limites políticos e econômicos da estratégia. A arrecadação caiu e o país passou a enfrentar problemas fiscais. Ao mesmo tempo, aumentou a percepção que a Argentina não conseguiria manter o câmbio fixo, gerando um sério problema: com praticamente toda a dívida pública e privada denominada em dólares, era claro que o abandono do câmbio fixo levaria - como levou - à reestruturação da dívida do governo e à quebra do sistema financeiro.
Crise ressalta necessidade de o Brasil retomar as reformas para viabilizar nova fase de expansão
Isto realimentava o problema à medida que tais temores se refletiam em elevações dos spreads soberanos e, consequentemente, do custo de capital para os setores público e privado, agravado a recessão e os problemas fiscais. De nada adiantaram planos de ajuste fiscal (mais rigorosos do mesmo hoje se dá crédito), ou promessas de ajuda externa (quantas vezes ouvimos o termo "blindaje"?).
Quando a deterioração atingiu um estado crítico, com fuga de capitais e queda acentuada da atividade econômica a Argentina viu-se forçada a desvalorizar a moeda, promover o corralito para estancar a fuga de depósitos e, por conta disso, mergulhou em profunda crise política, preparando o terreno para a volta do tradicional populismo latino-americano.
Os paralelos com a situação da periferia europeia eram mais do que desconfortáveis. Havia uma forma ainda mais extrema de câmbio fixo: a adoção de uma moeda única entre economias estruturalmente muito distintas e que não possuíam mecanismos de ajuste como os encontrados em economias continentais, como Estados Unidos e Brasil.
Os mercados de trabalho não eram integrados, isto é, salários na periferia e centro europeus eram determinados por considerações regionais, com pouquíssima migração de regiões com salários estagnados para regiões com salários em crescimento, o que levou à evolução muito distinta do custo do trabalho ajustado à produtividade.
Assim os custos subiram na periferia relativamente ao centro, processo equivalente à apreciação cambial, conduzindo a déficits externos maciços na periferia em contrapartida a superávits não menos relevantes no centro. Novamente isto não foi visto como problema, dada a crença na persistência dos ingressos de capitais por conta da integração financeira.
Contudo, quando sobreveio a crise de 2008-09 e os capitais voltaram ao centro, esta vulnerabilidade foi desnudada. Da mesma forma que na Argentina, a necessidade de redução de preços e salários levou a um forte processo recessivo, que contaminou as finanças governamentais. Adicionalmente as perdas bancárias forçaram os governos a garantirem, explícita ou implicitamente, depósitos, criando um imenso passivo público.
Aí ficaram patentes as duas outras falhas da integração europeia. A ausência de integração fiscal colocou um fardo desproporcional sobre a periferia, em particular nos países que, antes da crise, haviam tido desempenho exemplar de controle de gastos. Tiveram que cortar carne e osso, agravado o clima político e a queda da atividade.
Já a ausência de integração bancária deixou cada país exposto às vicissitudes do seu sistema financeiro, aprofundando a percepção que a conta dos problemas bancários recairia sobre o governo, e levando a prêmios de risco crescentes sobre sua dívida. Por outro lado, com os bancos carregados de títulos públicos, este mesmo aumento dos prêmios piorava sua situação patrimonial, o que não ocorreria (ou ocorreria em escala muito menor) caso a garantia aos bancos fosse supranacional.
Em suma, a crise europeia da primeira década do século foi uma repetição da crise argentina, mas em escala muito ampliada. Ampliada porque envolvia vários países; porque envolvia somas perto das quais o default argentino virava dinheiro de troco; porque ocorria pela primeira vez depois de quase um século em países desenvolvidos; e, finalmente, porque punha em xeque a construção política mais ambiciosa do Ocidente: a unificação europeia.
Hoje, 50 anos depois dos eventos, ainda me lembro do peso deste último elemento. Acreditava que a Europa não permitiria a dissolução do seu ousado projeto político e que, portanto, depois de todas as rodadas necessárias de barganha, os líderes europeus fariam o que seria necessário para manter a União Europeia. Eventualmente os países credores, Alemanha principalmente, acabariam pagando a conta em troca de um controle maior, ou seja, de uma criação de uma Europa federal.
Não contava, porém, com dois fatores perturbadores: a complexa governança europeia, que dava pesos iguais a países de dimensões muito distintas; e a polarização política acentuada pela própria recessão. Num primeiro momento a transição política de situação para oposição na Europa ocorreu dentro do mainstream, mas a persistência do crescimento baixo, ou mesmo negativo, terminou por corroer a credibilidade dos partidos políticos tradicionais.
Populistas como Beppe Grillo na Itália, Alexis Tsipiras (do Syriza), e Geert Wilders na Holanda, trazidos ao poder em meio a mensagens contrárias à austeridade fiscal e, de modo geral, hostis ao projeto de unificação europeia, transformaram o que poderia ser um jogo de cartas marcadas numa disputa real, abrindo inclusive espaço para a eleição de Marine Le Pen e sua Frente Nacional na França, a pá de cal no projeto europeu.
É bem verdade que, antes mesmo da eleição de Le Pen, a incapacidade da cúpula europeia de articular um plano ousado de resgate da periferia já havia forçado a saída da Grécia da moeda única, jogando aquele país numa crise ainda mais aguda que a experimentada entre 2008 e 2012.
Mais que isso, a saída grega (conhecida na época como Greekexit) terminou de vez com os resquícios da crença sobre a inviolabilidade do euro. Nas semanas e meses que se seguiram ao Greekexit, numa imitação agora da crise asiática de 15 anos antes, como dominós foram caindo os países da periferia.
Primeiro Portugal, assolado por problemas semelhantes aos gregos e, como a Grécia, percebido como pequeno demais para afetar o todo. Depois Chipre, Irlanda, Espanha e, finalmente, após uma luta inglória, também a Itália. Num espaço de meses toda a periferia europeia havia abandonado a moeda única, de repente domínio da Alemanha e seus satélites, com a França orbitando algo desajeitadamente entre o euro e o retorno do franco (finalmente decidido pela presidente Le Pen alguns anos mais tarde).
Desnecessário dizer que todos os países que abandonaram o euro pagaram caro (ainda que não se saiba até hoje qual teria sido o custo de permanecer atrelado ao euro). Da mesma forma que na Argentina, no começo do século, a dívida pública se tornou impagável, tendo sido convertida forçosamente nas novas moedas nacionais redivivas.
É verdade que credores domésticos sofreram relativamente pouco no processo (não quero dizer que sofreram pouco, apenas consideravelmente menos do que outras classes de credores). Sim, houve uma redução modesta no valor nominal da dívida em vários casos (não todos) e, sim, com as taxas de juros repactuadas e fixas, a aceleração da inflação nos primeiros anos do novo regime acabou por impor um ônus adicional aos poupadores nacionais.
Da mesma forma, o sistema bancário em muitos destes países (também não todos) teve que ser nacionalizado, reconhecendo de direito uma situação de fato, visto que os governos nacionais eram os garantidores últimos da dívida.
Por conta disto tais países passaram por um período recessivo adicional, mas, de forma não surpreendente, dada a experiência argentina, vários retomaram o crescimento em prazos de um a dois anos. É bem verdade que cresciam a partir de níveis muito reduzidos de produto, algo entre 15% e 20% abaixo do seu potencial (talvez até mais se as novas técnicas psicohistóricas de aferição de produto potencial são tão precisas quanto a nova geração de economistas acredita). As melhores estimativas atuais sugerem que, em até quatro anos, a maior parte deles já operava em intervalos próximos ao potencial.
O que talvez não fosse esperado era o custo que a dissolução do euro impôs aos países que nele permaneceram. A começar porque as perdas associadas à reestruturação das dívidas periféricas afetaram fortemente os bancos dos países credores, onde, afinal de contas, acumulavam-se os créditos contra a periferia. Incluem-se, entre estes, os bancos centrais, que, por meio do Target 2, também mantinham enorme exposição à periferia.
As perdas bancárias do centro europeu, somadas à monumental apreciação do euro relativamente às moedas periféricas, tiveram impacto extremamente negativo sobre estas economias.
A locomotiva exportadora alemã em particular foi duramente atingida, visto que suas vantagens em termos de custos foram revertidas pela desvalorização na periferia. Por outro lado, a retração de crédito bancário - por conta das elevadas perdas patrimoniais - afetaram a demanda interna, tanto consumo, quanto investimento. E, completando o quadro, a necessidade do governo alemão recapitalizar os bancos partindo de uma situação de endividamento já delicada, levou a um aumento expressivo do custo de captação do Tesouro alemão.
É verdade que, no primeiro momento, a Alemanha teve um desempenho muito superior ao da periferia, mergulhada ainda na crise pós-desvalorização. Mas, passados alguns anos, o país voltou a ser referido como o homem doente da Europa, levando ao fim do longo reinado democrata-cristão e abrindo espaço para a hegemonia socialdemocrata.
"Ironia" é uma palavra grega e não deixa de ser irônico que a Grécia, uma vez superada a desvalorização e o desastrado governo do Syriza, tenha apresentado durante muitos anos desempenho consideravelmente superior ao alemão.
Mas isto veio depois. No momento da ruptura e nos 18 a 24 meses que se seguiram, o que se observou foi uma queda adicional da atividade europeia que rapidamente se espalhou, ainda que em escala não tão dramática.
Os EUA conseguiram evitar o "despenhadeiro fiscal" que se temia no fim de 2012, embora o presidente Obama, mesmo reeleito, tenha se tornado refém do Congresso de maioria republicana nas duas casas na primeira metade de seu segundo mandato. Cortes de impostos foram prorrogados e os cortes de gastos algo diluídos no tempo, face à resistência republicana à redução das despesas militares.
Apesar disso, os ventos contrários vindos da Europa mantiveram a recuperação morna, levando, na segunda metade do segundo mandato, à recuperação da maioria democrata na Câmara e Senado e ao fim melancólico do Tea Party.
De fato, apenas no final do governo Obama a economia americana voltou a crescer com maior vigor, após o longo processo de ajuste do endividamento excessivo das famílias. A eliminação da Lei Dodd-Frank, substituída por uma versão mais moderna da lei Glass-Steagall, forçou a separação das atividades de bancos de investimento e comercial1, levando a uma expansão mais saudável do crédito. A flexibilidade do mercado de trabalho nos EUA também ajudou e o impulso advindo da exploração de petróleo e gás levou finalmente à recuperação da economia americana após quase oito anos de crise.
Já a China, ainda presa entre o status quo e a necessidade de alterar seu modelo de crescimento em favor do consumo, experimentou anos de baixo crescimento (para os padrões chineses da época), resultado do reduzido dinamismo do comércio internacional e do investimento excessivo nos anos anteriores à dissolução do euro. Apenas a mudança da liderança política no começo dos anos 20 conseguiu superar o impasse, recolocando o gigante asiático novamente em rota de crescimento acelerado, ainda que inferior ao observado no fim do século XX e início do século XXI.
As consequências para o Brasil não foram devastadoras, mas foram certamente negativas. Preços de commodities reverteram a tendência de alta e perderam fôlego privando o país dos ganhos de termos de troca que marcaram a primeira década do século.
A exploração do petróleo da camada pré-sal, tida por muitos como o caminho para a prosperidade, teve resultados bem mais modestos, em parte por conta do fim do superciclo de commodities, em parte pelo insucesso do modelo de exploração, limitado pela capacidade financeira da Petrobras.
O lado positivo desta história foi a necessidade do país retomar o processo de reformas, que eventualmente levou a nova aceleração do crescimento, anos mais tarde, embora em bases mais sólidas.
Enfim, acho importante deixar aqui meu depoimento sobre este período turbulento para as novas gerações, ainda mais agora que renascem as conversas sobre a moeda única latino-americana. Eu me pergunto de que vale ter um Googlechip no córtex e as conexões neurais ligadas ao Coletivo Google se a imensa maioria dos economistas ainda encara a história econômica como um relato tedioso do qual pouco se pode aprender."
1 Obviamente, 45 anos depois o novo Glass-Steagall foi revogado e observamos novamente a formação de imensos conglomerados financeiros, sob alegação da necessidade de fazer frente aos rivais chineses e indianos.
Alexandre Schwartsman, doutor em economia pela Universidade da Califórnia, Berkeley e ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central do Brasil. É professor do Insper e sócio-diretor da Schwartsman & Associados. E-mail: maovisivel.blospot.com e alexandre.schwartsman@ hotmail.com

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