O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

domingo, 1 de janeiro de 2012

Governantes irresponsaveis deveriam ser processados por crime contra o patrimonio publico

O dia em que políticos irresponsáveis forem processados criminalmente por obras mal planejadas, mal conduzidas e, sobretudo, totalmente sem projetos sérios, vai terminar essa mania brasileira de começar obras sem qualquer administração séria.
Esse crime de Lula, contra o patrimônio de toda a nação, deveria ser levados ao tribunais, sob a Lei de Responsabilidade Fiscal. O dia em que um presidente, um governador, um prefeito, forem levados às barras dos tribunais e às barras da cadeia, por obras irresponsáveis como essa, teremos menos desperdício dos recursos públicos, menos gastos criminosos, e maior eficácia no uso do dinheiro do cidadão.
Lula deveria ser processado por isso, e com ele metade do seu governo.
Paulo Roberto de Almeida 

Transposição cada vez mais cara

O Estado de S.Paulo, 01 de janeiro de 2012

Decidida e iniciada às pressas por interesse político-eleitoral, sem que houvesse estudos que dirimissem dúvidas quanto à sua viabilidade econômica nem projetos executivos para assegurar a boa execução dos trabalhos, a transposição do Rio São Francisco está ficando cada vez mais cara para os contribuintes e ainda não se sabe quanto, afinal, custará nem quando estará concluída. Responsável no governo pelo projeto, o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, agora anuncia que, mesmo depois de licitadas todas as obras necessárias e assinados os respectivos contratos, nova licitação terá de ser feita, ao preço de pelo menos R$ 1,2 bilhão, para recuperação do que se deteriorou e execução do que deveria ter sido feito, mas não foi.
O custo de R$ 5 bilhões, anunciado quando as obras foram iniciadas, em 2007, vem sendo revisto desde então. Se as novas obras a serem contratadas ficarem no valor previsto pelo governo, o total alcançará R$ 6,9 bilhões. Mas ainda não se sabe quanto mais será gasto com a nova licitação. "Só vamos ter certeza do valor quando concluirmos o processo licitatório e fecharmos o contrato", disse o ministro ao Estado. Isso ainda levará algum tempo, pois o ministro pretende lançar a licitação em março.
Certamente, quando o contrato for fechado, o ministro e todos os brasileiros saberão quanto mais custará esse projeto eleitoreiro idealizado pelo ex-presidente Lula e que sua sucessora Dilma Rousseff se comprometeu a concluir. Mas nem depois de fechados os novos contratos se terá certeza de que não haverá outros custos adicionais.
A transposição do São Francisco é uma amostra exemplar do padrão de gestão petista. Decisões são tomadas não com base em cálculos econômico-financeiros ou estudos sobre a importância e a urgência do projeto para a região e para o País, mas tendo em conta os interesses do PT e de seus aliados de ocasião.
Em obras essenciais, projetos são mal elaborados - às vezes nem existem projetos executivos -, o que abre espaço para renegociações de preços, que o Tribunal de Contas da União (TCU) vem acompanhando com atenção, tendo vetado várias delas, e para a execução de serviços em condições inadequadas, e que por isso precisam ser refeitos, com custos adicionais para o contribuinte.
No início de dezembro, a reportagem do Estado percorreu trechos das obras da transposição em Pernambuco e constatou a existência de estruturas de concreto estouradas, vergalhões de aço abandonados e enferrujados, paredes de contenção rachadas e canteiros de obras fantasmas. Muito do que havia sido executado estava se perdendo, por falta de continuidade das obras - outra característica do governo petista, que, por deficiência administrativa, não tem conseguido assegurar o ritmo normal de execução de vários projetos. Na ocasião, o ministro disse que a recuperação não implicaria custos adicionais para o governo.
Agora, reconhece que haverá novas licitações. "Não diria que foi erro de projeto, mas o projeto básico não estava detalhado e foi incapaz de identificar as situações de campo", disse, ao tentar justificar a paralisação dos trabalhos em diversos setores, a revisão de contratos e a realização de nova licitação. É uma confissão de que não havia projetos adequados para uma obra das dimensões da transposição.
Para o objetivo político-eleitoral a que se destinava, a obra já cumpriu seu papel, pois o projeto de transposição foi um dos maiores responsáveis pela esmagadora vitória que a então candidata do PT obteve nos municípios que serão diretamente beneficiados - e, por dever de gratidão eleitoral, ela assumiu o compromisso de concluir a obra.
Tendo chegado ao estágio que chegou, é importante que a obra seja concluída, no menor prazo e ao menor custo possíveis. Mesmo usada como peça de propaganda eleitoral, a obra está muito atrasada. O ex-presidente Lula queria inaugurar o Eixo Leste em seu mandato, mas faltam 30% das obras. A nova previsão é a inauguração no fim do mandato da presidente Dilma Rousseff. O Eixo Norte tem menos de metade das obras pronta e não estará concluído antes de dezembro de 2015.

Voce confia no governo? Nao deveria... (mas se aplica a todos...)

The Year Governments Lost Their Credibility

The New York Times, December 30, 2011

For most of 2011, it appeared that the year would be decent, if not particularly interesting, for investors.
Then Europe announced its second plan to rescue Greece, the first one, reached more than a year earlier, having turned out to be completely inadequate. That’s when 2011 became exciting and the losses began to pile up.
The summit meeting of European leaders on July 21 in Brussels called for private investors to take losses of 21 percent on some Greek bonds, but for a rescue package to keep losses from being worse. At first markets reacted with enthusiasm, but that deal did not last long enough to even write out the details.
The European leaders had drastically underestimated the problem and misunderstood the risk that fears of default would spread to other countries.
Within weeks, it became clear that 2011 would be remembered as the year that governments lost their credibility. Markets, which had always assumed that major Western governments would honor their obligations, struggled to learn to adjust to a new world where that was not so certain.
At the same time Europe was failing to come to grips with its problems, President Obama was in negotiations with Congressional Republicans over a possible deal to raise the debt ceiling and avoid an American default. In the end, there was no default, but the fact that some politicians seemed to think one was a good idea was unsettling to investors. In August, Standard & Poor’s cut the country’s credit rating from AAA to AA-plus.
Oddly, the downgrade of the United States seemed to help its financial markets. Whatever a rating agency might think, the United States seemed to be a bastion of safety and relative certainty. Treasury bond prices rose and yields fell. And the American stock market, while it became extremely volatile, more than held its own. Depending on what index is used, American stocks rose a little or fell a little during the year, although they ended lower than they had been when the European leaders announced their Brussels agreement. The MSCI index for the United States ended with a 2 percent rise.
Late in the year, Europe tried again to find a way out of its financial morass, and may have done a better job. The European Central Bank offered unlimited three-year loans to European banks, which seemed to be willing to take the money — at a 1 percent interest rate — and buy government securities that will mature before the central bank’s loan must be repaid. In the final week of the year, Italian debt auctions produced rates of 3.2 percent on six-month bills, but more than double that for 10-year-bonds. European share prices seemed to stabilize.
The accompanying charts document the trend in share prices for the world and for 12 stock markets, using MSCI indexes to assure comparability, and document how the investment world changed as it became clear that the July 21 Brussels accord had accomplished little. The indexes include reinvested dividends, and are all calculated in dollars. The countries shown are six nations in the euro zone, the area most directly affected by the European deliberations, and six other major markets around the world.
A Rescue That Soured
The year was well on its way to being a decent one for stocks in most countries until July 21 — when European leaders reached agreement on a Greek rescue package that included “voluntary” haircuts for private investors in Greek government bonds. At first, the agreement was well received by markets, but as it became clear that the deal would not hold, stock markets became weaker and much more volatile. Related Article »

On July 22, the day after the Brussels accord, the MSCI world index — which includes markets in all developed economies but not in emerging markets like China — was up 7.1 percent since the end of 2010. Even poor Greece had a stock market that was almost even for the year, thanks to a 7.5 percent rise on that day.
As the year neared an end, the Greek market was down more than 60 percent. From its 2007 high, the market has lost 92 percent of its value. From top to bottom during the Great Depression, the Dow Jones industrial average fell just 89 percent.
The pain was also intense in other European countries. In all of the other five euro zone countries shown — Germany, France, Italy, Spain and Portugal — prices declined significantly after that July meeting. Germany, the dominant economy in Europe, and the one that did the most to keep the bailout packages from growing too large, suffered the most. Italy, down 19.5 percent after the meeting, did the best.
Outside the euro zone, the loss of confidence also echoed. India’s stock market lost nearly a third of its value after the summit meeting, and China’s fell by nearly 20 percent. The losses in the United States, Britain and Japan were smaller.
The rise in volatility was even more impressive. The charts show the proportion of trading days in each market in which prices either rose or fell at least 2 percent during the day. For the world as a whole, the proportion went from 1 percent in the months before the summit meeting to more than a quarter of the days after that. In Germany, about one day in two exceeded that threshold after the meeting.
When the euro was created in 1999, Europeans voiced hope that a common currency would help the Continent reassert its economic influence in the world. In 2011 that happened, although not in the way the creators of the euro had envisioned.

Floyd Norris comments on finance and the economy at nytimes.com/economix.



Educacao na Finlandia: um modelo universal? - The Atlantic

Provavelmente não. Difícil emular um país pequeno, relativamente homogêneo, com forte identidade nacional, desprovido de maiores recursos, à parte os naturais (que ele sempre explorou) e seus recursos humanos, notoriamente excelentes.
Mas, sempre surge a pergunta do ovo e da galinha: a Finlândia é o sucesso que é depois que construiu penosamente seu sistema de educação de qualidade, e por isso ficou rica, ou ficou rica primeiro e por isso pode financiar um sistema totalmente estatal e de primeiríssima qualidade no setor educacional?
O que veio antes?
Provavelmente é um processo complexo, que atuou interativamente, um elemento (a educação) reforçando os outros - a qualidade de vida, o desempenho produtivo, a excelência nos produtos que oferece ao mundo -- sem que seja possível separar um dos elementos constitutivos para fazê-lo funcionar como alavanca em outros processos nacionais de modernização social, econômica ou tecnológica.
Os fatores culturais são sem dúvida predominantes, mas também os desafios que o país sempre enfrentou, com o gigante russo ali ao lado querendo dominar um povo orgulhoso de sua cultura e desejoso de preservar sua independência e personalidade nacional. A identidade cultural deve ter funcionado, mas aqui cabe referir-se ao papel de elites esclarecidas, que souberam levar o país à essa situação de bem-estar material (primeiros lugares no IDH) e de excelência educacional absoluta.
Algo semelhante ocorre na China, independentemente do caráter autoritário de seu regime político atualmente (mas esse é um parênteses em sua longa história, que aliás sempre foi autoritária). A China era a nação, a sociedade, o Estado mais avançados do mundo, durante vários séculos. Depois, por idiotice de seus dirigentes -- um ou dois imperadores incompetentes fazem o desastre -- começou uma longa fase de decadência, acrescida da dominação e da humilhação estrangeiras (europeia, americana, japonesa). A China foi, possivelmente, o país que mais sofreu ao longo do século XX, como dezenas de milhões de mortos (tanto pelas invasões e guerras estrangeiras, quanto pelo delírio econômico e político do totalitarismo maoista). Agora a China renasce, e como a Finlândia, começa a se situar nos primeiros lugares em matéria de excelência educacional.
Vale a pena ler esta matéria da Atlantic Review, sobre a educação finlandesa, e seus possíveis ensinamentos para os Estados Unidos. Provavelmente não servem para os EUA, e para Brasil, tampouco, a não ser pelo lado elementar: professores bem formados, bem pagos, trabalhando em regime de constante avaliação dos pares, o que também ocorre na China.
Um elemento distingue de início: em países muito grandes, diversificados, regionalmente e socialmente muito diversos como esses dois gigantes continentais, seria impossível ter um único sistema estatal eficiente, e de toda forma, nem EUA, nem o Brasil vão abandonar (pois seria impossível) a combinação de estatal e privado na oferta educacional. Mesmo se os EUA não são um modelo de educação universal, seu sistema descentralizado funciona muito melhor do que o sistema relativamente centralizado e estatizado do Brasil (para a educação fundamental e média). Eles são mais democráticos e abertos do que o Brasil, mas isso tem a ver com fortes elementos culturais, também.
Uma coisa é certa: o Brasil está fazendo tudo errado em matéria educacional e está muito longe de corrigir as bobagens que faz, pois sequer tomou consciência dessas bobagens...
Ou seja, vai demorar para consertar por aqui...
Paulo Roberto de Almeida 
PS.: Alias, a Finlândia NÃO é um país escandinavo, mas isso os americanos não devem saber, pois eles continuam meio ruinzinhos em geografia...
What Americans Keep Ignoring About Finland's School Success 
NATIONAL : THE ATLANTIC | 29 DE DEZEMBRO DE 2011

The Scandinavian country is an education superpower because it values equality more than excellence.

finnish-kids.jpg

Sergey Ivanov/Flickr
Everyone agrees the United States needs to improve its education system dramatically, but how? One of the hottest trends in education reform lately is looking at the stunning success of the West's reigning education superpower, Finland. Trouble is, when it comes to the lessons that Finnish schools have to offer, most of the discussion seems to be missing the point.
The small Nordic country of Finland used to be known -- if it was known for anything at all -- as the home of Nokia, the mobile phone giant. But lately Finland has been attracting attention on global surveys of quality of life -- Newsweek ranked it number one last year -- and Finland's national education system has been receiving particular praise, because in recent years Finnish students have been turning in some of the highest test scores in the world.
Finland's schools owe their newfound fame primarily to one study: the PISA survey, conducted every three years by the Organization for Economic Co-operation and Development (OECD). The survey compares 15-year-olds in different countries in reading, math, and science. Finland has ranked at or near the top in all three competencies on every survey since 2000, neck and neck with superachievers such as South Korea and Singapore. In the most recent survey in 2009 Finland slipped slightly, with students in Shanghai, China, taking the best scores, but the Finns are still near the very top. Throughout the same period, the PISA performance of the United States has been middling, at best.
Compared with the stereotype of the East Asian model -- long hours of exhaustive cramming and rote memorization -- Finland's success is especially intriguing because Finnish schools assign less homework and engage children in more creative play. All this has led to a continuous stream of foreign delegations making the pilgrimage to Finland to visit schools and talk with the nation's education experts, and constant coverage in the worldwide media marveling at the Finnish miracle.
So there was considerable interest in a recent visit to the U.S. by one of the leading Finnish authorities on education reform, Pasi Sahlberg, director of the Finnish Ministry of Education's Center for International Mobility and author of the new book Finnish Lessons: What Can the World Learn from Educational Change in Finland? Earlier this month, Sahlberg stopped by the Dwight School in New York City to speak with educators and students, and his visit received national media attention and generated much discussion.
And yet it wasn't clear that Sahlberg's message was actually getting through. As Sahlberg put it to me later, there are certain things nobody in America really wants to talk about.
* * *
During the afternoon that Sahlberg spent at the Dwight School, a photographer from the New York Timesjockeyed for position with Dan Rather's TV crew as Sahlberg participated in a roundtable chat with students. The subsequent article in the Times about the event would focus on Finland as an "intriguing school-reform model."
Yet one of the most significant things Sahlberg said passed practically unnoticed. "Oh," he mentioned at one point, "and there are no private schools in Finland."
This notion may seem difficult for an American to digest, but it's true. Only a small number of independent schools exist in Finland, and even they are all publicly financed. None is allowed to charge tuition fees. There are no private universities, either. This means that practically every person in Finland attends public school, whether for pre-K or a Ph.D.
The irony of Sahlberg's making this comment during a talk at the Dwight School seemed obvious. Like many of America's best schools, Dwight is a private institution that costs high-school students upward of $35,000 a year to attend -- not to mention that Dwight, in particular, is run for profit, an increasing trend in the U.S. Yet no one in the room commented on Sahlberg's statement. I found this surprising. Sahlberg himself did not.
Sahlberg knows what Americans like to talk about when it comes to education, because he's become their go-to guy in Finland. The son of two teachers, he grew up in a Finnish school. He taught mathematics and physics in a junior high school in Helsinki, worked his way through a variety of positions in the Finnish Ministry of Education, and spent years as an education expert at the OECD, the World Bank, and other international organizations.
Now, in addition to his other duties, Sahlberg hosts about a hundred visits a year by foreign educators, including many Americans, who want to know the secret of Finland's success. Sahlberg's new book is partly an attempt to help answer the questions he always gets asked.
From his point of view, Americans are consistently obsessed with certain questions: How can you keep track of students' performance if you don't test them constantly? How can you improve teaching if you have no accountability for bad teachers or merit pay for good teachers? How do you foster competition and engage the private sector? How do you provide school choice?
The answers Finland provides seem to run counter to just about everything America's school reformers are trying to do.
For starters, Finland has no standardized tests. The only exception is what's called the National Matriculation Exam, which everyone takes at the end of a voluntary upper-secondary school, roughly the equivalent of American high school.
Instead, the public school system's teachers are trained to assess children in classrooms using independent tests they create themselves. All children receive a report card at the end of each semester, but these reports are based on individualized grading by each teacher. Periodically, the Ministry of Education tracks national progress by testing a few sample groups across a range of different schools.
As for accountability of teachers and administrators, Sahlberg shrugs. "There's no word for accountability in Finnish," he later told an audience at the Teachers College of Columbia University. "Accountability is something that is left when responsibility has been subtracted."
For Sahlberg what matters is that in Finland all teachers and administrators are given prestige, decent pay, and a lot of responsibility. A master's degree is required to enter the profession, and teacher training programs are among the most selective professional schools in the country. If a teacher is bad, it is the principal's responsibility to notice and deal with it.
And while Americans love to talk about competition, Sahlberg points out that nothing makes Finns more uncomfortable. In his book Sahlberg quotes a line from Finnish writer named Samuli Puronen: "Real winners do not compete." It's hard to think of a more un-American idea, but when it comes to education, Finland's success shows that the Finnish attitude might have merits. There are no lists of best schools or teachers in Finland. The main driver of education policy is not competition between teachers and between schools, but cooperation.
Finally, in Finland, school choice is noticeably not a priority, nor is engaging the private sector at all. Which brings us back to the silence after Sahlberg's comment at the Dwight School that schools like Dwight don't exist in Finland.
"Here in America," Sahlberg said at the Teachers College, "parents can choose to take their kids to private schools. It's the same idea of a marketplace that applies to, say, shops. Schools are a shop and parents can buy what ever they want. In Finland parents can also choose. But the options are all the same."
Herein lay the real shocker. As Sahlberg continued, his core message emerged, whether or not anyone in his American audience heard it.
Decades ago, when the Finnish school system was badly in need of reform, the goal of the program that Finland instituted, resulting in so much success today, was never excellence. It was equity.
* * *
Since the 1980s, the main driver of Finnish education policy has been the idea that every child should have exactly the same opportunity to learn, regardless of family background, income, or geographic location. Education has been seen first and foremost not as a way to produce star performers, but as an instrument to even out social inequality.
In the Finnish view, as Sahlberg describes it, this means that schools should be healthy, safe environments for children. This starts with the basics. Finland offers all pupils free school meals, easy access to health care, psychological counseling, and individualized student guidance.
In fact, since academic excellence wasn't a particular priority on the Finnish to-do list, when Finland's students scored so high on the first PISA survey in 2001, many Finns thought the results must be a mistake. But subsequent PISA tests confirmed that Finland -- unlike, say, very similar countries such as Norway -- was producing academic excellence through its particular policy focus on equity.
That this point is almost always ignored or brushed aside in the U.S. seems especially poignant at the moment, after the financial crisis and Occupy Wall Street movement have brought the problems of inequality in America into such sharp focus. The chasm between those who can afford $35,000 in tuition per child per year -- or even just the price of a house in a good public school district -- and the other "99 percent" is painfully plain to see.
* * *

Pasi Sahlberg goes out of his way to emphasize that his book Finnish Lessons is not meant as a how-to guide for fixing the education systems of other countries. All countries are different, and as many Americans point out, Finland is a small nation with a much more homogeneous population than the United States. 
Yet Sahlberg doesn't think that questions of size or homogeneity should give Americans reason to dismiss the Finnish example. Finland is a relatively homogeneous country -- as of 2010, just 4.6 percent of Finnish residents had been born in another country, compared with 12.7 percent in the United States. But the number of foreign-born residents in Finland doubled during the decade leading up to 2010, and the country didn't lose its edge in education. Immigrants tended to concentrate in certain areas, causing some schools to become much more mixed than others, yet there has not been much change in the remarkable lack of variation between Finnish schools in the PISA surveys across the same period.
Samuel Abrams, a visiting scholar at Columbia University's Teachers College, has addressed the effects of size and homogeneity on a nation's education performance by comparing Finland with another Nordic country: Norway. Like Finland, Norway is small and not especially diverse overall, but unlike Finland it has taken an approach to education that is more American than Finnish. The result? Mediocre performance in the PISA survey. Educational policy, Abrams suggests, is probably more important to the success of a country's school system than the nation's size or ethnic makeup.
Indeed, Finland's population of 5.4 million can be compared to many an American state -- after all, most American education is managed at the state level. According to the Migration Policy Institute, a research organization in Washington, there were 18 states in the U.S. in 2010 with an identical or significantly smaller percentage of foreign-born residents than Finland.
What's more, despite their many differences, Finland and the U.S. have an educational goal in common. When Finnish policymakers decided to reform the country's education system in the 1970s, they did so because they realized that to be competitive, Finland couldn't rely on manufacturing or its scant natural resources and instead had to invest in a knowledge-based economy. 
With America's manufacturing industries now in decline, the goal of educational policy in the U.S. -- as articulated by most everyone from President Obama on down -- is to preserve American competitiveness by doing the same thing. Finland's experience suggests that to win at that game, a country has to prepare not just some of its population well, but all of its population well, for the new economy. To possess some of the best schools in the world might still not be good enough if there are children being left behind.
Is that an impossible goal? Sahlberg says that while his book isn't meant to be a how-to manual, it is meant to be a "pamphlet of hope."
"When President Kennedy was making his appeal for advancing American science and technology by putting a man on the moon by the end of the 1960's, many said it couldn't be done," Sahlberg said during his visit to New York. "But he had a dream. Just like Martin Luther King a few years later had a dream. Those dreams came true. Finland's dream was that we want to have a good public education for every child regardless of where they go to school or what kind of families they come from, and many even in Finland said it couldn't be done."
Clearly, many were wrong. It is possible to create equality. And perhaps even more important -- as a challenge to the American way of thinking about education reform -- Finland's experience shows that it is possible to achieve excellence by focusing not on competition, but on cooperation, and not on choice, but on equity.
The problem facing education in America isn't the ethnic diversity of the population but the economic inequality of society, and this is precisely the problem that Finnish education reform addressed. More equity at home might just be what America needs to be more competitive abroad.

Para iniciar o ano bem: Umberto Eco e seus romances

Agradeço a meu amigo André Eiras o envio desta entrevista, que de outra forma me teria passado despercebida. Como leio muita coisa da imprensa internacional, algumas coisas boas da imprensa nacional acabam ficando de lado.
Pessoalmente, considero que, como todo professor antigo, amante de livros e habituado à cultura de cátedra, Eco é um pouco conservador, e equivocado, quanto às características da internet, e seu uso anárquico e indiscriminado por todo tipo de usuário, aliás para o bem ou para o mal. Ele pede uma espécie de filtro, ou hierarquização, no processamento da informação, como se isso fosse desejável ou sequer possível. 
Caro professor: a internet continuará sendo o caos que é, e seria impossível, e até antidemocrático, tentar colocar qualquer ordem nessa caos absoluto. Em qualquer hipótese, qualquer tentativa nesse sentido seria ineficiente, inconsequente, pouco prática (para não dizer totalmente impraticável), cerceadora e carente de algum tipo de autoridade que ninguém tem, e nem se deveria tentar implementar algo do gênero.
Compreendo sua angústia em face do besteirol da internet, mas esse é o preço a pagar por (e para) sermos livres...
Em todo caso, o excesso de informação JAMAIS provocaria amnésia, pois o próprio cérebro, independentemente de nossa vontade, organiza, segundo critérios próprios (e ainda desconhecidos para nós), a informação que recebe, guardando algumas delas, descartando outras, colocando outras em compartimentos "secretos" (que um dia poderão aflorar, se necessário), e assim por dia. Essa frase selecionada para título da matéria é, ela mesma, um besteirol completo.
No resto, a entrevista é saborosa. Aproveitem o feriado para ler.
E se não leram ainda nenhum romance dele, está na hora de começar...
Paulo Roberto de Almeida 

Umberto Eco: "O excesso de informação provoca amnésia"
Luis Antíonio Girón, de Milão
Revista Época, 30/12/2011
PROFESSOR

O pensador e romancista italiano Umberto Eco completa 80 anos nesta semana. Ele está escrevendo sua autobiografia intelectual
(Foto: Eric Fougere/VIP Images/Corbis)


O escritor italiano diz que a internet é perigosa para o ignorante e útil para o sábio porque ela não filtra o conhecimento e congestiona a memória do usuário.



O escritor e semiólogo Umberto Eco vive com sua mulher em um apartamento duplo no segundo e terceiro andar de um prédio antigo, de frente para o palácio Sforzesco, o mais vistoso ponto turístico de Milão. É como se Alice Munro morasse defronte à Canadian Tower em Toronto, Hakuri Murakami instalasse sua casa no sopé do monte Fuji, ou então Paulo Coelho mantivesse uma mansão na Urca, à sombra do Pão de Açúcar. "Acordo todo dia com a Renascença", diz Eco, referindo-se à enorme fortificação do século XV. O castelo deve também abrir os portões pela manhã com uma sensação parecida, pois diante dele vive o intelectual e o romancista mais famoso da Itália.
Um dos andares da residência de Eco é dedicado ao escritório e à biblioteca. São quatro salas repletas de livros, divididas por temas e por autores em ordem alfabética. A sala em que trabalha abriga aquilo que ele chama de "ala das ciências banidas", como ocultismo, sociedades secretas, mesmerismo, esoterismo, magia e bruxaria. Ali, em um cômodo pequeno, estão as fontes principais dos romances de sucesso de Eco: O nome da rosa (1980), O pêndulo de Foucault (1988), A ilha do dia anterior (1994), Baudolino (2000), A misteriosa chama da rainha Loana (2004) e O cemitério de Praga. Publicado em 2010 e lançado com sucesso no Brasil em 2011, o livro provocou polêmica por tratar de forma humorística de um assunto sério: o surgimento do antissemitismo na Europa. Por motivos diversos, protestaram a igreja católica e o rabino de Roma: aquela porque Eco satirizava os jesuítas ("são maçons de saia", diz o personagem principal, o odioso tabelião Simone Simonini), este porque as teorias conspiratórias forjadas no século XIX - como o Protocolo dos sábios do Sião - poderiam gerar uma onda de ódio aos judeus. Desde o início da carreira, em 1962, como autor do ensaio estético Obra aberta, Eco gosta de provocar esse tipo de reação. Mesmo aos 80 anos, que completa em 5 de janeiro, parece não perder o gosto pelo barulho. De muito bom humor, ele conversou com Época durante duas horas sobre a idade, o gênero que inventou - o suspense erudito -, a decadência europeia e seu assunto mais constante nos últimos anos: a morte do livro. É de pasmar, mas o maior inimigo da leitura pelo computador está revendo suas posições - e até gostando de ler livros... pelo iPad que comprou durante sua última turnê americana.

ÉPOCA - Como o senhor se sente, completando 80 anos?
Umberto Eco -
 Bem mais velho! (Risos.) Vamos nos tornando importantes com a idade, mas não me sinto importante nem velho. Não posso reclamar de rotina. Minha vida é agitada. Ainda mantenho uma cátedra no Departamento de Semiótica e Comunicação da Universidade de Bolonha e continuo orientando doutorandos e pós-doutorandos. Dou muita palestra pelo mundo afora. E tenho feito turnês de lançamento de O cemitério de Praga. Acabo de voltar de uma megaexcursão pelos Estados Unidos. Ela quase me custou o braço. Estou com tendinite de tanto dar autógrafos em livros. 
ÉPOCA - O senhor tem sido um dos mais ferrenhos defensores do livro em papel. Sua tese é de que o livro não vai acabar. Mesmo assim, estamos assistindo à popularização dos leitores digitais e tablets. O livro em papel ainda tem sentido?
Eco -
 Sou colecionador de livros. Defendi a sobrevivência do livro ao lado de Jean-Claude Carrière no volume Não contem com o fim do livro. Fizemos isso por motivos estéticos e gnoseológicos (relativo ao conhecimento). O livro ainda é o meio ideal para aprender. Não precisa de eletricidade, e você pode riscar à vontade. Achávamos impossível ler textos no monitor do computador. Mas isso faz dois anos. Em minha viagem pelos Estados Unidos, precisava carregar 20 livros comigo, e meu braço não me ajudava. Por isso, resolvi comprar um iPad. Foi útil na questão do transporte dos volumes. Comecei a ler no aparelho e não achei tão mau. Aliás, achei ótimo. E passei a ler no iPad, você acredita? Pois é. Mesmo assim, acho que os tablets e e-books servem como auxiliares de leitura. São mais para entretenimento que para estudo. Gosto de riscar, anotar e interferir nas páginas de um livro. Isso ainda não é possível fazer num tablet. 
ÉPOCA - Apesar dessas melhorias, o senhor ainda vê a internet como um perigo para o saber?
Eco -
 A internet não seleciona a informação. Há de tudo por lá. A Wikipédia presta um desserviço ao internauta. Outro dia publicaram fofocas a meu respeito, e tive de intervir e corrigir os erros e absurdos. A internet ainda é um mundo selvagem e perigoso. Tudo surge lá sem hierarquia. A imensa quantidade de coisas que circula é pior que a falta de informação. O excesso de informação provoca a amnésia. Informação demais faz mal. Quando não lembramos o que aprendemos, ficamos parecidos com animais. Conhecer é cortar, é selecionar. Vamos tomar como exemplo o ditador e líder romano Júlio César e como os historiadores antigos trataram dele. Todos dizem que foi importante porque alterou a história. Os cronistas romanos só citam sua mulher, Calpúrnia, porque esteve ao lado de César. Nada se sabe sobre a viuvez de Calpúrnia. Se costurou, dedicou-se à educação ou seja lá o que for. Hoje, na internet, Júlio César e Calpúrnia têm a mesma importância. Ora, isso não é conhecimento. 
ÉPOCA - Mas o conhecimento está se tornando cada vez mais acessível via computadores e internet. O senhor não acha que o acesso a bancos de dados de universidades e instituições confiáveis estão alterando nossa noção de cultura?
Eco -
 Sim, é verdade. Se você sabe quais os sites e bancos de dados são confiáveis, você tem acesso ao conhecimento. Mas veja bem: você e eu somos ricos de conhecimento. Podemos aproveitar melhor a internet do que aquele pobre senhor que está comprando salame na feira aí em frente. Nesse sentido, a televisão era útil para o ignorante, porque selecionava a informação de que ele poderia precisar, ainda que informação idiota. A internet é perigosa para o ignorante porque não filtra nada para ele. Ela só é boa para quem já conhece – e sabe onde está o conhecimento. A longo prazo, o resultado pedagógico será dramático. Veremos multidões de ignorantes usando a internet para as mais variadas bobagens: jogos, bate-papos e busca de notícias irrelevantes. 
ÉPOCA - Há uma solução para o problema do excesso de informação?
Eco -
 Seria preciso criar uma teoria da filtragem. Uma disciplina prática, baseada na experimentação cotidiana com a internet. Fica aí uma sugestão para as universidades: elaborar uma teoria e uma ferramenta de filtragem que funcionem para o bem do conhecimento. Conhecer é filtrar.

ÉPOCA - O senhor já está pensando em um novo romance depois de O cemitério de Praga?
Eco -
 Vamos com calma. Mal publiquei um e você já quer outro. Estou sem tempo para ficção no momento. Na verdade, vou me ocupar agora de minha autobiografia intelectual. Fui convidado por uma instituição americana, Library of Living Philosophers, para elaborar meu percurso filosófico. Fiquei contente com o convite, porque passo a fazer parte de um projeto que inclui John Dewey, Jean-Paul Sartre e Richard Rorty - embora eu não seja filósofo. Desde 1939, o instituto convida um pensador vivo para narrar seu percurso intelectual em um livro. O volume traz então ensaios de vários especialistas sobre os diversos aspectos da obra do convidado. No final, o convidado responde às dúvidas e críticas levantadas. O desafio é sistematizar de uma forma lógica tudo o que já fiz...
ÉPOCA - Como lidar com tamanha variedade de caminhos?
Eco -
 Estou começando com meu interesse constante desde o começo da carreira pela Idade Média e pelos romances de Alessandro Manzoni. Depois vieram a Semiótica, a teoria da comunicação, a filosofia da linguagem. E há o lado banido, o da teoria ocultista, que sempre me fascinou. Tanto que tenho uma biblioteca só do assunto. Adoro a questão do falso. E foi recolhendo montes de teorias esquisitas que cheguei à ideia de escrever O cemitério de Praga.
ÉPOCA - Entre essas teorias, destaca-se a mais célebre das falsificações, O protocolo dos sábios de Sião. Por que o senhor se debruçou sobre um documento tão revoltante para fazer ficção?
Eco - 
Eu queria investigar como os europeus civilizados se esforçaram em construir inimigos invisíveis no século XIX. E o inimigo sempre figura como uma espécie de monstro: tem de ser repugnante, feio e malcheiroso. De alguma forma, o que causa repulsa no inimigo é algo que faz parte de nós. Foi essa ambivalência que persegui em O cemitério de Praga. Nada mais exemplar que a elaboração das teorias antissemitas, que viriam a desembocar no nazismo do século XX. Em pesquisas, em arquivos e na internet, constatei que o antissemitismo tem origem religiosa, deriva para o discurso de esquerda e, finalmente, dá uma guinada à direita para se tornar a prioridade da ideologia nacional-socialista. Começou na Idade Média a partir de uma visão cristã e religiosa. Os judeus eram estigmatizados como os assassinos de Jesus. Essa visão chegou ao ápice com Lutero. Ele pregava que os judeus fossem banidos. Os jesuítas também tiveram seu papel. No século XIX, os judeus, aparentemente integrados à Europa, começaram a ser satanizados por sua riqueza. A família de banqueiros Rotschild, estabelecida em Paris, virou um alvo do rancor social e dos pregadores socialistas. Descobri os textos de Léo Taxil, discípulo do socialista utópico Fourier. Ele inaugurou uma série de teorias sobre a conspiração judaica e capitalista internacional que resultaria em Os protocolos dos sábios do Sião, texto forjado em 1897 pela polícia secreta do czar Nicolau II. 
ÉPOCA - O senhor considera os Procotolos uma das fontes do nazismo?
Eco -
 Sem dúvida. Adolf Hitler, em sua autobiografia, Minha luta, dava como legítimo o texto dosProtocolos. Hitler tomou como verdadeira uma falsificação das mais grosseiras, e essa mentira constitui um dos fundamentos do nazismo. A raiz do antissemitismo vem de muito antes, de uma construção do inimigo, que partiu de delírios e paranoias.
ÉPOCA - O personagem de O cemitério de Praga, Simone Simonini, parece concentrar todos os preconceitos e delírios europeus do século XIX. Ele é ao mesmo tempo antissemita, anticlerical, anticapitalicas e antissocialista. Como surgiu na sua mente alguém tão abominável?
Eco -
 Os críticos disseram que Simonini é o personagem mais horroroso da literatura de todos os tempos, e devo concordar com eles. Ele também é muito divertido. Seus excessos estão ali para provocar riso e revolta. No romance, Simonini é a única figura fictícia. Guarda todos os preconceitos e fantasias sobre um inimigo que jamais conhece. E se desdobra em várias personalidades: durante o dia, atua como tabelião falsificador de documentos; à noite, traveste-se em falso padre jesuíta e sai atrás de aventuras sinistras. Acaba virando joguete dos monarquistas, que se opõem à unificação da Itália, e, por fim, dos russos. Imaginei Simonini como um dos autores de Os protocolos dos sábios do Sião. 
ÉPOCA - A falsificação sobre falsificações permitida pela ficção tornou o livro controverso. Ele tem provocado reações negativas. O senhor gosta de lidar com polêmicas? 
Eco - A recepção tem sido positiva. O livro tem feito sucesso sem precisar de polêmicas. Quando foi lançado na Itália, ele gerou alguma discussão. O L'osservatore Romano, órgão oficial do Vaticano, publicou um artigo condenando os ataques do livro aos jesuítas. Não respondi, porque sou conhecido como um intelectual anticlerical - e já havia discutido com a igreja católica no tempo de O nome da rosa, quando me acusaram de atacar a igreja. O rabino de Roma leu O cemitério de Praga e advertiu em um pronunciamento que as teorias contidas no livro poderiam se tornar novamente populares a partir da obra. Respondi a ele que não havia esse perigo. Ao contrário, se Simonini serve para alguma coisa, é para provocar nossa indignação.
ÉPOCA - Além de falsário, Simonini se revela um gourmet. Ao longo do livro, o senhor joga listas e listas de receitas as mais extravagantes, que Simonini comenta com volúpia. O senhor gosta de gastronomia?
Eco -
 Eu sou MacDonald's! Nunca me incomodei com detalhes de comida. Pesquisei receitas antigas com um objetivo preciso: causar repugnância no leitor. A gastronomia é um dado negativo na composição do personagem. Quando Simonini discorre sobre pratos esquisitos, o leitor deve sentir o estômago revirado.

ÉPOCA - Qual o sentido de escrever romances hoje em dia? O que o atrai no gênero?
Eco -
 Faz todo o sentido escrever ficção. Não vejo como fazer hoje narrativa experimental, como James Joyce fez com Finnegan's Wake, para mim a fronteira final da experimentação. Houve um recuo para a narrativa linear e clássica. Comecei a escrever ficção nesse contexto de restauração da narratividade, chamado de pós-modernismo. Sou considerado um autor pós-moderno, e concordo com isso. Vasculho as formas e artifícios do romance tradicional. Só que procuro introduzir temas que possam intrigar o leitor: a teoria da comédia perdida de Aristóteles em O nome da rosa; as conspirações maçônicas em O pêndulo de Foucault; a imaginação medieval em Baudolino; a memória e os quadrinhos em A misteriosa chama; a construção do antissemitismo em O cemitério de Praga. O romance é a realização maior da narratividade. E a narratividade conserva o mito arcaico, base de nossa cultura. Contar uma história que emocione e transforme quem a absorve é algo que se passa com a mãe e seu filho, o romancista e seu leitor, o cineasta e seu espectador. A força da narrativa é mais efetiva do que qualquer tecnologia.
ÉPOCA - Philip Roth disse que a literatura morreu. Qual a sua opinião sobre os apocalípticos que preveem a morte da literatura?
Eco -
 Philip Roth é um grande escritor. A contar com ele, a literatura não vai morrer tão cedo. Ele publica um romance por ano, e sempre de boa qualidade. Não me parece que nem o romance nem ele pretendem interromper a carreira (risos).
ÉPOCA - Mas por que hoje não aparecem romancistas do porte de Liev Tolstói e Gustave Flaubert?
Eco -
 Talvez porque ainda não os descobrimos. Nada acontece imediatamente na literatura. É preciso esperar um pouco. Devem certamente existir Tolstóis e Flauberts por aí. E têm surgido ótimos ficcionistas em toda parte.
ÉPOCA - Como o senhor analisa a literatura contemporânea?
Eco - 
Há bons autores medianos na Itália. Nada de genial, mas têm saído livros interessantes de autores bastante promissores. Hoje existe o thriller italiano, com os romances de suspense de Andrea Camilleri e seus discípulos. No entanto, um signo do abalo econômico italiano é que [PRA: ACREDITO QUE FALTA UM NÃO, AQUI ] é mais possível um romancista viver de sua obra literária, como fazia (Alberto) Moravia. Hoje romance virou uma atividade diletante. É diferente do que ocorre nos Estados Unidos, aindaum polo emissor de ótima ficção e da profissionalização dos escritores. Além dos livros de Roth, adorei ler Liberdade, de Jonathan Franzen, um romance de corte clássico e repleto de referências culturais. A França, infelizmente, experimenta uma certa decadência literária, e nada de bom apareceu nos últimos tempos. O mesmo parece se passar com a América Latina. Já vão longe os tempos do realismo fantástico de García Márquez e Jorge Luis Borges. Nada tem vindo de lá que me pareça digno de nota.
ÉPOCA - E a literatura brasileira? Que impressões o senhor tem do Brasil? O país lhe parece mais interessante hoje do que há 30 anos?
Eco -
 O Brasil é um país incrivelmente dinâmico. Visitei o Brasil há muito tempo, agora acompanho de longe as notícias sobre o país. A primeira vez foi em 1966. Foi quando visitei terreiros de umbanda e candomblé - e mais tarde usei essa experiência em um capítulo de O pêndulo de Foucault para descrever um ritual de candomblé. Quando voltei em 1978, tudo já havia mudado, as cidades já não pareciam as mesmas. Imagino que hoje em dia o Brasil esteja completamente transformado. Não tenho acompanhado nada do que se faz por lá em literatura. Eu era amigo do poeta Haroldo de Campos, um grande erudito e tradutor. Gostaria de voltar, tenho muitos convites, mas agora ando muito ocupado... comigo mesmo.
ÉPOCA - O senhor foi o criador do suspense erudito. O modelo é ainda válido?
Eco -
 Em O nome da Rosa, consegui juntar erudição e romance de suspense. Inventei o investigador-frade William de Baskerville, baseado em Sherlock Holmes de Conan Dolyle, um bibliotecário cego inspirado em Jorge Luis Borges, e fui muito criticado porque Jorge de Burgos, o personagem, revela-se um vilão. De qualquer forma, o livro foi um sucesso e ajudou a criar um tipo de literatura que vejo com bons olhos Sim, há muita coisa boa sendo feita. Gosto de (Arturo) Pérez-Reverte, com seus livros de fantasia que lembram os romances de aventura de Alexandre Dumas e Emilio Salgari que eu lia quando menino.
ÉPOCA - Lendo seus seguidores, como Dan Brown, o senhor às vezes não se arrepende de ter criado o suspense erudito?
Eco -
 Às vezes, sim! (risos) O Dan Brown me irrita porque ele parece um personagem inventado por mim. Em vez de ele compreender que as teorias conspiratórias são falsas, Brown as assume como verdadeiras, ficando ao lado do personagem, sem questionar nada. É o que ele faz em O Código Da Vinci. É o mesmo contexto de O pêndulo de Foucault. Mas ele parece ter adotado a história para simplificá-la. Isso provoca ondas de mistificação. Há leitores que acreditam em tudo o que Dan Brown escreve - e não posso condená-los.
ÉPOCA - O que vem antes na sua obra, a teoria ou a ficção?
Eco -
 Não há um caminho único. Eu tanto posso escrever um romance a partir de uma pesquisa ou um ensaio que eu tenha feito. Foi o caso de O pêndulo de Foucault, que nasceu de uma teoria. Baudolino resultou de ideias que elaborei em torno da falsificação. Ou vice-versa. Depois de escrever O cemitério de Praga, me veio a ideia de elaborar uma teoria, que resultou no livroCostruire il Nemico (Construir o Inimigo, lançado em maio de 2011). E nada impede que uma teoria nascida de uma obra de ficção redunde em outra ficção.

ÉPOCA - Quando escreve, o senhor tem um método ou uma superstição?
Eco -
 Não tenho nenhum método. Não sou com Alberto Moravia, que acordava às 8h, trabalhava até o meio-dia, almoçava, e depois voltava para a escrivaninha. Escrevo ficção sempre que me dá prazer, sem observar horários e metodologias. Adoro escrever por escrever, em qualquer meio, do lápis ao computador. Quando elaboro textos acadêmicos ou ensaio, preciso me concentrar, mas não o faço por método.
ÉPOCA - Como o senhor analisa a crise econômica italiana? Existe uma crise moral que acompanha o processo de decadência cultural? A Itália vai acabar?
Eco -
 Não sou economista para responder à pergunta. Não sei por que vocês jornalistas estão sempre fazendo perguntas (risos). Talvez porque eu tenha sido um crítico do governo Silvio Berlusconi nesses anos todos, nos meus artigos de jornal, não é mesmo? Bom, a Itália vive uma crise econômica sem precedentes. Nos anos Berlusconi, desde 2001, os italianos viveram uma fantasia, que conduziu à decadência moral. Os pais sonhavam com que as filhas frequentassem as orgias de Berlusconi para assim se tornarem estrela da televisão. Isso tinha de parar, acho que agora todos se deram conta dos excessos. A Itália continua a existir, apesar de Berlusconi.
ÉPOCA - O senhor está confiante com a junção Merkozy (Nicolas Sarkozy e Angela Merkel) e a ascensão dos tecnocratas, como Mario Monti como primeiro ministro da Itália?
Eco -
 Se não há outra forma de governar a zona do Euro, o que fazer? Merkel tem o encargo, mas também sofre pressões em seu país, para que deixe de apoiar países em dificuldades. A ascensão de Monti marca a chegada dos tecnocratas ao poder. E de fato é hora de tomar medidas duras e impopulares que só tecnocratas como Monti, que não se preocupa com eleição, podem tomar, como o corte nas aposentadorias e outros privilégios.
ÉPOCA - O que o senhor faz no tempo livre?
Eco -
 Coleciono livros e ouço música pela internet. Tenho encontrado ótimas rádios virtuais. Estou encantado com uma emissora que só transmite música coral. Eu toco flauta doce (mostra cinco flautas de variados tamanhos), mas não tenho tido tempo para praticar. Gosto de brincar com meus netos, uma menina e um menino.
ÉPOCA - Os 80 anos também são uma ocasião para pensar na cidade natal. Como é sua ligação com Alessandria?
Eco -
 Não é difícil voltar para lá, porque Alessandria fica a uns 100 quilômetros de Milão. Aliás foi um dos motivos que escolhi morar por aqui: é perto de Bolonha e de Alessandria. Quando volto, sou recebido como uma celebridade. Eu e o chapéu Borsalino, somos produção de Alessandria! Reencontro velhos amigos no clube da cidade, sou homenageado, bato muito papo. Não tenho mais parentes próximos. É sempre emocionante.

Para comecar o ano bem... (bem, mais ou menos...)


Algumas leis da “natureza”:

O seguro cobre tudo, menos o que aconteceu.

Quando você estiver com apenas uma mão livre para abrir a porta, a chave estará no bolso oposto.

Quando suas mãos estiverem sujas de graxa, vai começar a coçar no mínimo o nariz.

Não importa por que lado seja aberta a caixa de um medicamento. A bula sempre vai atrapalhar.

Quando você acha que as coisas parecem ter melhorado, é porque algo passou despercebido.

Sempre que as coisas parecem fáceis, é porque não atendemos a todas as instruções.

Se você mantém a calma, quando todos perderam a cabeça, é porque você não captou o problema.

Os problemas não se criam, nem se resolvem, só se transformam.

Você vai chegar ao telefone exatamente a tempo de ouvir quando desligam.

Se só existirem dois programas na TV que vale a pena assistir, os dois passarão na mesma hora.

A velocidade do vento é diretamente proporcional ao preço do penteado.

Quando, depois de anos sem usar, você decide arquivar alguma coisa, vai precisar dela na semana seguinte.

Sempre que você chegar pontualmente a um encontro não haverá ninguém lá para comprovar, e se ao contrário você se atrasar, todo mundo vai ter chegado antes de você.

Grandes tendencias economicas para 2012 - Wall Street Journal


Um primeiro post de 2012, pode começar com estas previsões, moderadamente pessimistas, ou pessimisticamente realistas, sobre as grandes tendências nas economias da Europa, dos EUA e da China.
Paulo Roberto de Almeida

Five Economic Trends to Watch in 2012

By Sudeep Reddy

Blog Real Time Economics
Economic insight and analysis from The Wall Street Journal, December 30, 2011

The Council on Foreign Relations polled economists to identify five trends to watch in the coming year. They all fall under the increasingly common theme of “uncertainty,” and most of them touch on U.S. or euro-zone policies. Brief excerpts of their conclusions, which you can read in full here:
U.S. political polarization: “The increasing partisan and ideological division between the two parties constitutes the single most important influence on future economic policymaking. … We face the possibility that a political impasse will leave the government without a budget for essential federal functions and without the borrowing capacity to fund normal operations.” – Gary Burtless, Brookings Institution
Global volatility: “The main trend in 2012 is volatility, with the preponderance of extreme macroeconomic risk on the downside. It is a two-scenarios environment with roughly equal weight, with the center of global risk located in Europe. … Virtually all of the risk stems from uncertainty about bold policy action and coordination within and among advanced countries. As the probabilities attached to political gridlock shift, expectations about market and economic trajectories will move with them.” – Michael Spence, Council on Foreign Relations
China’s rise under stress: “History will note that 2012 marked China’s shift to a slower growth trajectory and the anointment of its ‘fifth generation’ of leaders. This comes at a time when the country faces formidable internal and external challenges. … With weak financial institutions and its infrastructure-led growth model under attack, [China] may not have all the tools to achieve its goals.” – Yukon Huang, Carnegie Endowment for International Peace
Shortage of AAA assets: “Unlike the Internet bubble, the household and sovereign credit boom was fueled less by dreams of fabulous growth than by the promise of safety. Financial engineering was supposed to turn risky mortgages into safe-as-houses, AAA-rated bonds; similarly, the euro was supposed to turn previously irresponsible countries into paragons of German fiscal discipline. With those illusions shattered, 2012 will witness a widening gap between the preferences of savers and the needs of borrowers.” – NYU’s Thomas Philippon and Morgan Stanley’s Ashley Lester
New appetite for risk: “The new trend to look for in the euro area in 2012 will manifest itself in financial markets rather than in the political realm. At some point, the economic fundamentals of the euro area–as well as the messy [policy responses of] its governments –will have ensured that market fears surrounding, for instance,  Italian government debt will be surpassed by the greed of yield-hungry investors.” – Jacob Kirkegaard, Peterson Institute for International Economics