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sábado, 29 de outubro de 2022

Registro de uma primeira mudança fundamental, vinte anos atrás - Paulo Roberto de Almeida (2002)

Em 2002, contemplando a primeira mudança fundamental na política brasileira, eu redigia estas notas sobre o resultado das eleições que mudariam o Brasil de maneira significativa.

Brasília, 29/10/2022

 Crônica de uma Mudança Fundamental

Memórias para servir a uma nova História do Brasil

 

Paulo Roberto de Almeida

Início: 9 de outubro de 2002

959. “Crônica de uma Mudança Fundamental: Memórias para servir a uma nova História do Brasil”, Washington, 9 out. 2002, 3 p. Introdução ao registro de eventos, fatos e reflexões que pretendo fazer no curso das semanas e meses seguintes, como meio de oferecer testemunho pessoal sobre o processo de mudanças em curso no País a partir da definição de uma nova correlação de forças no sistema político nacional. Seguido por registros esparsos e ocasionais de fontes diversas. Inédito.


 

Introdução:

 

Tenho acompanhado o panorama político e social do Brasil desde os meus doze ou quatorze anos pelo menos, a partir do momento em que primeiro fui apresentado aos problemas políticos e econômicos do mundo contemporâneo, mediante o temor de uma confrontação nuclear a partir da crise dos foguetes em Cuba e, pouco adiante, desde o golpe militar de 1964, que interrompeu um ciclo da vida política brasileira.

Com efeito, à parte as imagens furtivas da era Kubitschek – mais ligadas propriamente à Copa do Mundo de Futebol de 1958 do que ao presidente “bossa nova” – e das eleições presidenciais de 1960 e seu imediato seguimento de episódios burlescos com a figura histriônica de Jânio Quadros, eu não tinha sido até então confrontado a questões reais do “mundo dos adultos”. Essa oportunidade chegou com a ameaça do confronto nuclear do segundo semestre de 1962, que primeiro me levou a interessar-me por problemas das relações internacionais e, oportunamente, pela situação de Cuba e seu estatuto especial no sistema interamericano. Cemecei a partir daí leituras dirigidas nessas questões internacionais, assim como o contato quase diário com os jornais, ou talvez mais corretamente, a leitura semanal do Estadão de domingo, aquele pesado calhamaço de notícias, de ensaios e de comentários que praticamente me formaram intelectualmente, tanto quanto os manuais escolares e os livros acadêmicos. Depois desse primeiro aprendizado prático de crises estratégicas, os meses seguintes foram ocupados pelos episódios agitados da crise política interna culminando no golpe de estado de 1964, que me lançou na atividade política já com um sentido determinado e uma orientação bem precisa quanto às minhas escolhas fundamentais. 

Não pretendo, contudo, retomar neste momento meu próprio itinerário político e ideológico, mas tão somente situar o quadro conceitual e os precedentes intelectuais em função dos quais decidi empreender, agora, o registro de um processo de mudanças – no plano societal brasileiro, no sistema político-partidário do País e na minha própria posição em relação a esses desenvolvimentos maiores – que desde muito antes das eleições de 6 de outubro de 2002 considerei como histórico e paradigmático de uma nova fase sendo inaugurada na vida nacional.

Consciente dessa importância, decidi iniciar um registro pessoal, necessariamente reservado mas não obrigatoriamente confidencial, dos eventos e processos mais importantes que estão enquadrando essa mudança fundamental na história atual do Brasil. Convencido também da utilidade de um registro objetivo e honesto, mas basicamente subjetivo (pois que pessoal e seletivo), das mudanças que possam estar sendo operadas em ambientes não exatamente cobertos pelos cronistas oficiais do Poder ou pelos escrevinhadores da imprensa diária, considerei particularmente interessante que essas memórias fossem sendo acumuladas contemporaneamente aos eventos que pretendo comentar, mais do que descrever, pois que elas devem coincidir com minhas quatro primeiras décadas do que se poderia chamar de “interação social consciente” com o mundo e com a sociedade que me cerca. 

Essa intenção já tinha sido aventada antes de 6 de outubro, e de fato, desde muitos meses, tenho acumulado notas e comentários sobre os aspectos que considerei mais importantes, ou interessantes, desse processo de mudança que sentia emergir como real a partir de pequenas indicações quanto à consistência das “transformações mentais” em curso no movimento que se converteu no centro do novo sistema copernicano da política brasileira. Uma consulta a meus trabalhos escritos – inéditos e publicados – poderia revelar em que sentido iam essas preocupações pessoais com as novas forças da mudança paradigmática: essencialmente no sentido de chamar a atenção para os limites impostos pelo sistema internacional e pelos constrangimentos internos (como pela racionalidade econômica stricto sensu) a essa “vontade de mudança” da nova maioria. 

Operada essa mudança, ou pelo menos tendencialmente, decidi começar este registro episódico, irregular e ocasional, para servir como uma espécie de “crônica dos eventos correntes”, tanto em relação a elementos externos – isto é, aqueles dos quais não sou parte direta, ou sequer interessada – como em face de aspectos internos, aqueles que envolvem minha própria ação ou interação com personagens, fatos ou processos que são consubstanciais a esse processo de mudança.

Não pretendo seguir um método particular e uniforme nestas “memórias”, sequer um padrão constante quanto ao registro desses elementos objetivos e subjetivos, pois como toda e qualquer memória, esta aqui também se faz de elementos diversos: notas pessoais, impressões de momento, “colagens” de documentos externos, compilação de dados ou registro de interações assistidas ou sabidas, enfim, retalhos de uma realidade bem mais complexa do que aquela suscetível de ser aqui captada e “explicada” (o que de toda forma estaria fora do alcance de simples memórias). Um único critério me serve de guia neste registro pessoal dos eventos correntes: a Honestidade Intelectual. Coloquei os conceitos em maiúsculas porque reputo essa dimensão essencial a qualquer testemunho que se pretenda legítimo ou fiel aos dados da história. Pretendo seguir escrupulosamente esse princípio diretor nas linhas e páginas que se vão seguir a partir de agora (pelas semanas e meses adiante, sem limites quanto ao “fechamento”), pois que se trata de postura que reputo como básica para mim mesmo como para qualquer relação que possa manter com colegas e outras pessoas com as quais possa vir a interagir. 

Uma última palavra introdutória a estas crônicas público-pessoais sobre uma mudança ainda em curso: apesar de intelectualmente marxista, pelo menos quanto ao método analítico, sou essencialmente “anarquista” no que se refere à postura em relação a autoridades ou instituições. Isto significa, apenas, que não fui, não sou, nem pretendo ser, filiado, associado, vinculado ou subordinado a qualquer grupo político ou filosófico, a qualquer agrupamento ideológico ou a qualquer entidade que possa representar alguma espécie de cerceamento de meu livre arbítrio intelectual. Ou seja, não tenho por hábito guiar meus escritos, reflexões, intervenções na realidade com base em programas, doutrinas ou posições que não representem meu próprio pensamento sobre a matéria, se possível alcançado mediante pesquisa em reflexão, ou mais frequentemente por meio de leituras e de muita informação (contínua, diversificada, intensa). Se posso resumir a postura, talvez devesse dizer que sou “marxista”, mas não sou “religioso”, isto é, não costumo pautar minhas reflexões e escritos por qualquer tipo de dogma ou verdade revelada. Independência absoluta, portanto, e honestidade intelectual, antes de mais nada.

Nada mais tenho a acrescentar nesta “introdução antecipada” à minha crônica pessoal dos eventos correntes. Chega de considerações abstratas: abro o caminho ao registro de uma mudança histórica recém iniciada.

 

Paulo Roberto de Almeida

Washington, 9 de outubro de 2002


1. Os dados da nova maioria

 

9 de outubro de 2002

 

            Transcrição de alguns parágrafos de trabalho meu, sob a rubrica “Conseqüências econômicas da vitória” (22.09.02), que primeiro antecipou a mudança em curso:

 

“No momento em que escrevo estas linhas, 21-22 de setembro de 2002, antes portanto de qualquer definição eleitoral, parece estar ficando muito claro que o Brasil se prepara para atravessar uma das mais importantes fases de transição política em toda a sua história contemporânea, equivalente, talvez, ao desmantelamento do Estado econômico varguista, supostamente operado durante os oito anos da administração FHC. / De fato, o País passou a viver, a partir do início da campanha eleitoral, em meados de 2002, uma situação de nítida recomposição das forças políticas e da própria estrutura da representação político-eleitoral, resultando no desmantelamento do sistema político varguista instalado a partir de 1945. (…) Cabe enfatizar essa realidade, inédita e surpreendente em toda a história política brasileira: esse partido, seja como referência positiva ou negativa, ocupa uma posição absolutamente central no sistema copernicano da política brasileira, em torno do qual todos os demais atores passam a se posicionar, a favor ou contra (não importa), como se ele fosse o paradigma de fato desse sistema político-partidário. Talvez no cenário pós-eleitoral essa centralidade venha a retroceder, em termos de forças e pesos reais na arena parlamentar, mas do ponto de vista político-ideológico ela parece destinada a perdurar.”

 

Apud: 

947. “Companheiros, muita calma: trata-se agora de não errar!: As conseqüências econômicas da vitória (ou: manual de economia política para momentos de transição)”, Washington, 22 setembro 2002, 11 pp. Ensaio sobre o novo centro político que está se formando no Brasil a partir da transição operada na campanha eleitoral presidencial, com algumas recomendações de política econômica.

 


 

2. Os resultados 

 

            No domingo, 6 de outubro, 94.3 milhões de brasileiros atribuiram a Lula uma clara maioria nas eleições presidenciais, embora não a vitória esperada no primeiro turno. Ele obteve 46.4% dos votos válidos, colocando-o num segundo turo com o segundo mais votado, José Serra (23.2%) no dia 27 de outubro. Garotinho ficou em terceiro com 17.9% desses votos e Ciro Gomes terminou em quarto com apenas 12%. A abstenção foi de 17.8% e os brancos e nulos representaram 10.4% do total.

 

            No plano do Legislativo, a mudança foi também significativa: o PT elegeu 10 novos Senadores e 90 deputados, ficando com a maior bancada, seguido pelo PFL (84), PMDB (74), PSDB (71) e o PPB (49). Em princípio, quando a nova Legislatura se abrir, em feveereiro de 2003, o PT poderá fazer o presidente da Casa, a menos que recomposições nos demais partidos altere a maioria saída das urnas.

 

            A mudança de maioria pode ser evidenciada nestes números: a antiga aliança governamental perdeu 45 Deputados e 7 Senadores, ao paso que a oposição ganhou 42 Deputados e 4 Senadores.

 

            O cientista político David Flesicher, da Universidade de Brasília, elaborou os seguintes quadros para refletir a mudança de maiorias:

 

 

Table 1 - Summary of 6th October Elections for Congress

 

______________________________________________________

 

Presidential                   Federal     Senate                          Chamber  of  Deputies   

Coalition/                    Sept.                Feb.                    Sept.                      Feb.

Party*                          2002     Change   2003                      2002     Change   2003

_______________________________________________

José Serra

   PSDB                      24        -5        19                    94      -23        71

   PMDB                     14        -3        11                    87        -4         74

 

Lula

   PT                           08        +6        14                    58      +32       90

   PCdoB                    00        --         00                    10       +2        12

   PL/PSL                   01        +2       03                    27          0        27     

 

Ciro Gomes

  PPS                          02        -1        01                    12        +3        15

   PDT                        05        -2        03                    16        +5        21

   PTB                         05        -2        03                    33        -7        26

Garotinho

   PSB                         03        +1        04                    16        +7        23

 

Independents#

   PFL                         17        +2        19                    98       -14       84

   PPB                         02        -1        01                    53        -4        49

 

Small Parties

    Left                        00        - -        00                    00        +6        06*

    Right                      00        +1        01@                09        +6        15*

            

TOTAL                      81                    81                   513                  513  

 

______________________________

# - Parties that did not participate in presidential coalitions.

@ - PSD elected one Senator.

*- Small parties in the Chamber elected:

       Left - PV (5) and PMN 1.

       Right - PRONA (6), PSD (4), PST (3), PSC (1) and PSDC (1)

 

 

Table 2 - Possible Support Coalitions for Lula and Serra in Congress in 2003

 

______________________________________________________

 

Presidential                   Federal     Senate                          Chamber  of  Deputies   

Coalition/                    Feb.                                       Feb.

Party*                          2003       Lula     Serra                    2003      Lula       Serra

_______________________________________________________________________

José Serra

   PSDB                      19        08        19                    71        16        71

   PMDB                     11        04        11                    74        44        74

 

Lula

   PT                           14        14        00                    90        90        00

   PCdoB                    00        00        00                    12        12        00

   PL/PSL                   03        03        03                    27        27        18

 

Ciro Gomes

   PPS                         01        01        00                    12        12        00

   PDT                        03        03        00                    21        21        00

   PTB                         03        03        03                    26        26        26

 

Garotinho

   PSB                         04        04        00                    23        23        00

 

Independents#

   PFL                         19        04        19                    84        32        55 

   PPB                         01        01        01                    49        00        49

 

Small Parties

    Left                        00        00        00                    06*      06        00

    Right                      01@    01        01                    15*      00        15

            

TOTAL                      81        48        57                   513     309      308

______________________________

# - Parties that did not participate in presidential coalitions.

@ - PSD elected one Senator.

*- Small parties in the Chamber elected:

       Left - PV (5) and PMN 1.

       Right - PRONA (6), PSD (4), PST (3), PSC (1) and PSDC (1)

         

 

Transcrição: 9/10/2002

 

 

Diplomatas brasileiros nas letras e nas humanidades - Paulo Roberto de Almeida (2019)

 Este trabalho precedeu de pouco minha exoneração do cargo de Diretor do IPRI, no governo dos novos bárbaros...

Paulo Roberto de Almeida


quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Diplomates bresiliens dans les lettres et les humanites - Paulo Roberto de Almeida

Um trabalho preparado para um colóquio em Brasília, no mês de março, ainda em revisão.
Coloquei em pdf em Academia.edu (https://www.academia.edu/s/d1a565519e/diplomates-bresiliens-dans-les-lettres-et-les-humanites-2019).


Diplomates brésiliens dans les lettres et les humanités

Paulo Roberto de Almeida
 [Objectif: colloque « Diplomates et écrivains »; finalité: exposé synthétique]


Diplomates écrivains ou écrivains qui sont aussi diplomates ?
Quelle est la différence entre un diplomate écrivain, et un écrivain qui devient diplomate ? Il n’y a pas une réponse univoque à cette question, car l’origine, ou la condition professionnelle ou littéraire, de l’un et de l’autre est dépendante d’une certaine structure sociale, ou institutionnelle, qui préside aux rapports entre les deux conditions. Être écrivain n’est pas, sinon rarement, une profession, du moins pour la plupart, ou la quasi majorité de ceux qui se dédient aux arts de l’écriture. N’est pas Georges Simenon, ou Paulo Coelho, qui veut, mais seulement ceux qui ont accédé à une situation de prestige dans l’exercice de l’écriture permanente, les happy few qui peuvent vivre à l’aide de sa plume (ou machine à écrire et ordinateur) exclusivement.
Dans le cas brésilien, aucun écrivain ne sera invité à s’exercer dans la carrière diplomatique – sinon pour des missions spéciales – parce que cela est impossible dans la législation actuelle du Ministère des Affaires Étrangères, qui réserve l’entrée dans la carrière à ceux qui passent les concours de sélection de l’Institut Rio Branco. Mais, il n’a pas toujours été ainsi : avant l’institutionnalisation du concours, en 1945, on pouvait entrer « par la fenêtre », soit désigné politiquement, par les rapports de famille ou d’amitié. Sous la monarchie (1822-1899) et la « vielle » République, et même jusqu’à la Seconde Guerre, le concours était occasionnel et aléatoire.
On peut, donc, faire cette distinction fonctionnelle : auparavant, il était facile d’être un écrivain diplomate ; par après, le plus souvent est l’existence des diplomates écrivains, mais seulement en tant qu’une sorte de hobby, en marge de l’exercice professionnel dans la carrière. Les gens de lettres de la monarchie ou de la République oligarchique cherchaient dans la carrière cette possibilité de vivre à Paris ou à d’autres places de prestige, rien que pour profiter d’une bonne ambiance de travail, en se frottant à des membres connus de la République des Lettres ; on voulait s’éloigner de la misère brésilienne, du désert culturel d’un pays tropical, peuplé d’ignorants. Actuellement, il faut échapper de la bureaucratie oppressante et se refugier dans l’écriture, à des heures libres, ou essayer de combiner le travail à l’ambassade avec des cours et de recherches menées quasi à la sauvette, pour ceux qui veulent maintenir une carrière académique.

Au début, la construction de la nation : Hipólito da Costa
Le premier brésilien qui s’est adonné à l’écriture, tout en étant proche de la vie diplomatique, même s’il n’a jamais exercé des fonctions officielles dans la diplomatie portugaise ou brésilienne, a été Hipólito José da Costa, sujet Portugais, né dans la colonie de Sacramento (Uruguay) au dernier tiers du XVIIIe siècle, élevé et éduqué dans les premières lettres à Rio Grande, au sud du Brésil, entré en université à Coimbra, Portugal, plus tard persécuté par l’Inquisition portugaise par son adhésion à la maçonnerie, et refugié en Angleterre vers 1805, où il a créé et maintenu pendant 14 ans le premier journal brésilien indépendant, le Correio Braziliense, une entreprise d’écriture exceptionnelle, de prises de position en faveur du Brésil avant l’indépendance en 1822. Même s’il a n’a jamais retourné au Brésil après son départ très jeune au Portugal, et d’être mort en Angleterre un an après la proclamation de l’indépendance, il peut être considéré le premier homme d’État du Brésil, étant donné son rôle magistral dans la construction intellectuelle de la nouvelle nation, de par son travail infatigable de chroniqueur des événements courants en Europe et dans la péninsule ibérique, et par rapport aux indépendances latino-américaines.
Les pages de son Courrier Brésilien, qu’il appelait « Armazém Literário », soit, une « épicerie littéraire », sont remplies à chaque édition de rapports, des dépêches et des commentaires sur toutes les régions de la planète, tant sur le cours des affaires politiques, les guerres d’indépendance, que sur la production littéraire justement, souvent des livres d’histoire ou d’économie, parmi lesquels Adam Smith, Sismondi et d’autres. Il peut être aussi considéré le premier américaniste brésilien, une espèce de Tocqueville avant la lettre, car ayant accompli, aux dernières années du XVIIIe siècle (1798-99), un voyage de recherches scientifiques et économiques aux Etats-Unis, au service du plus puissant ministre de la cour portugaise à cette époque, le Comte de Linhares, D. Rodrigo de Souza Coutinho, qui lui avait demandé d’enquêter sur les progrès techniques, agricoles et manufacturiers de la toute nouvelle République américaine. Son voyage d’inspection, presque d’espionnage économique aux Etats-Unis, a fait l’objet d’un rapport officiel, rendu à son ministre, et d’un cahier de mémoires qui n’a été découvert qu’en 1955 et publié par l’Académie Brésilienne de Lettres, plusieurs fois édité depuis lors.
Cet esprit illuministe, libéral et libertaire, maçon, peut être, en effet, considéré comme le premier homme d’État brésilien, car c’est lui qui, au moyen de l’écriture de son Courrier Brésilien, a vraiment conçu comment le Brésil devait se placer au centre d’un vaste Empire portugais éparpille dans quatre continents, et n’ont pas se décider pour la séparation. À la fin de sa vie, ayant déjà adhéré au Brésil indépendant, il a été nommé par le « père fondateur » du nouveau gouvernement, et premier ministre des affaires étrangères, José Bonifácio, Consul en Grande-Bretagne, bien qu’il n’ait pu jamais exercé cette fonction, étant décédé en Septembre 1823.
Il est important d’enregistrer qu’au moment des grandes commotions soulevées par la révolution libérale de Porto, en 1820, qui a résulté dans l’abolition de l’absolutisme et l’instauration d’une monarchie constitutionnelle au Portugal, Hipólito était contraire à la séparation des deux États, préférant le maintien de l’unité politique entre eux, mais avec la prééminence du Brésil, depuis bien avant devenu la principale base économique du vaste empire portugais d’outre mer, avec ses richesses de mines, du sucre, du coton, et d’un produit qui allait devenir le symbole du pays dans les deux siècles suivants, le café. Mais, ayant suivi les tractations de l’Assemblée Constituante à Lisbonne, pour discuter de la nouvelle situation crée par le retour du roi du Brésil, il a conclut que les représentants portugais voulaient tout simplement faire le Brésil retourner à sa condition coloniale, et prend donc fait et cause pour l’indépendance, en suivant dans cela son grand ami et fondateur du nouvel État, José Bonifácio de Andrada e Silva, devenu l’homme clé du premier gouvernement de Pedro, fils de D. João VI.
Dans cette condition de Consul désigné, mais de probable premier représentant diplomatique du Brésil auprès de la plus grande puissance politique, économique et militaire à cette époque, la Grande Bretagne, la pensée et l’œuvre d’Hipólito da Costa auraient pu donner le départ à la collection de grands noms de la diplomatie brésilienne qui se sont aussi exercé dans l’écriture, O Itamaraty na Cultura Brasileira. Conçue en 2001 par un véritable homme de lettres, l’ambassadeur Alberto da Costa e Silva, cet ouvrage a été composé par un autre homme de lettres, le ministre des affaires étrangères Celso Lafer. Une nouvelle édition est en train d’être préparée, avec l’addition de six nouveaux noms de diplomates écrivains décédés depuis la première édition.

L’historien diplomate, au service de l’État : Varnhagen
Cette très belle entreprise de synthèse monographique des grands diplomates brésiliens qui se sont excellés dans les lettres, les humanités, l’économie, commence en fait par notre premier historien, d’ailleurs le patron de l’historiographie brésilienne, Francisco Adolfo de Varnhagen, fils d’un ingénieur militaire allemand venu au Brésil pour installer les premières forges du pays et reparti au Portugal au moment de départ du roi. Le jeune Varnhagen fait toutes ses études à l’ancienne métropole, devenant, comme son père, ingénieur militaire, mais depuis très jeune dédié aux recherches historiques dans les archives coloniales portugaises. C’est lui qui a établi, d’après plusieurs manuscrits consultés, la rédaction des premiers documents sur la nouvelle terre découverte et occupée par les Portugais ; c’est aussi lui qui a redécouvert la tombe du « découvreur » du Brésil, Pedro Alvares Cabral, dans une petite église à l’intérieur.
C’est Varnhagen qui donne le départ à une histoire alignée au pouvoir monarchique, totalement légitimiste, offrant la version officielle, la raison d’État, aux révoltes régionales, souvent fédéralistes et contre le régime unitaire, mais que suit dans tout son parcours coloniale la lente conformation de l’unité territoriale d’un pays qui, avant de se convertir en nation indépendante, a vu grandir son territoire original, limité à la côte atlantique au début, mais qui est devenu presque la moitié de toute l’Amérique du Sud. À l’origine, le Brésil ne devrait même pas être Portugais, car la première division du monde, faite par le pape Alejandro Borgia, la bulle Inter Coetera, de 1493, fixait la ligne de partage entre les empires portugais et espagnols au milieu de l’Atlantique. Le roi portugais, certain de l’existence de terres plus loin à l’Ouest, a menacé son voisin espagnol d’un guerre, ce qui les a menés à signer le Traité de Tordesillas (1494), qui peut être considéré le premier traité bilatéral de division du monde, une espèce de Yalta à l’aube du monde moderne, et qui a survécu pendant deux siècles et demi, jusqu’à la négociation d’un nouvel traité, celui de Madrid, de 1750, en étendant les terres portugaises jusqu’en Amazonie, à peu près dans les dimensions du Brésil actuel ; c’est l’œuvre d’un diplomate portugais, mais né au Brésil, Alexandre de Gusmão, au service du roi D. João V. Mais c’est à propos du Traité de Tordesillas que le roi français François 1er a dit qu’il « voudrais bien voir la clause du testament d'Adam qui m'exclut du partage du monde ».
Francisco Varnhagen a écrit toute cette histoire jusqu’à l’indépendance, et même après, toujours défendant la couronne des Braganças contre les révoltes provinciales qui cherchaient à avoir plus des droits dans un système fortement centralisé. Sa collection monumentale en cinq volumes de l’Histoire Générale du Brésil est resté pendant plusieurs générations la référence primordiale de l’historiographie brésilienne, mais il ne faut pas oublier non plus son Mémorial Organique, de 1849, qui a établit le premier planning stratégique pour la construction de la nation, toujours inachevée, deux cents ans après l’indépendance. L’historien qui a le plus écrit sur lui et son œuvre, Arno Wehling, président de l’Institut Historique et Géographique Brésilien (IHGB), remarque que Varnhagen est entré en diplomatie « à partir de ses titres intellectuels, en tant que jeune chercheur déjà bien accompli dans le domaine de l’historiographie, avec la mission expresse de mener des investigations présentant un intérêt pour le pays. Il ne s’agissait pas d’un diplomate avec des intérêts d’historien, mais d’un historien qui devrait, dans son activité diplomatique [à partir de 1842], s’occuper de la recherche historique ». (Arno Wehling, « Varnhagen, história e diplomacia », revue 200, n. 1, 2018, pp. 17-39, cf. p. 19.)

Les écrivains diplomates brésiliens : la vie en douceur dans la diplomatie
Il y a ensuite, dans ce grand livre O Itamaraty na Cultura Brasileira, tout une succession de diplomates écrivains, qui sont en fait des écrivains diplomates, des hommes de lettres qui sont entrés en diplomatie, pendant un siècle a partir de la deuxième moitié du XIXe siècle, précisément pour écrire, pas nécessairement pour faire de la diplomatie. Ce sont des litterati, des dandy capables d’écrire des verses en Français, mais pas de trouver des solutions aux problèmes les plus pressants du pays : l’esclavage, un Loi de Terres qui empêche l’accès aux immigrants, l’option républicaine supposément égalitaire plutôt que l’aristocratisme de la monarchie, la défense des intérêts nationaux en face de l’agressivité des impérialismes, la promotion de l’éducation de masse. Certains s’en inquiètent, comme Joaquim Nabuco, lui même un aristocrate du sucre du Nord-Est, monarchiste entré au service de la République par goût de l’histoire et de la poésie, devenu le premier Ambassadeur du Brésil aux Etats-Unis, au moment où la grande aigle du Nord projette son œil sur l’Amérique centrale et les Caraïbes. L’essai sur Joaquim Nabuco est d’ailleurs écrit par un autre diplomate, Evaldo Cabral de Mello, lui-même originaire du même état que Nabuco, le Pernambouc sucrier, et probablement le plus grand historien brésilien à l’actualité.
D’autres, comme Oliveira Lima, historien entré en diplomatie lors de l’avènement de la République, mais qui est devenu monarchiste après bien des déceptions avec le nouveau régime. Il avait aussi ce besoin pressant de continuer des activités littéraires et de recherche dans des archives, pour poursuivre une carrière en douceur, aux grands postes de l’Europe impérialiste. Que la carrière diplomatique flatte son amour propre, qu’elle soit un actif de prestige social et un atout pour des promotions et accès à des postes plus convenables, ce sont là des compensations additionnelles qui ne sauraient entamer les buts originaux. Il y a là toute une accumulation de prestige e de reconnaissance sociale qui se situe à la même dimension des efforts déployés dans les activités littéraires et académiques exercées en parallèle. Son essai biographique a été fait par un grand historien brésilien, Carlos Guilherme Mota, qui n’a cependant pas aucun rapport la diplomatie ou la politique étrangère du Brésil.
D’une manière générale, les écrivains diplomates ne sont pas très friands des marchés – c’est-à-dire, les activités de promotion commerciale seulement dignes des boutiquiers et des épiciers – préférant l’ombre paisible des gouvernements, et les écrits sur la High Politics, plutôt que les contacts avec les importateurs de café. Mais, les diplomates écrivains, qui sont ceux appartenant déjà à la République, ayant entré en carrière pendant ou après la Seconde Guerre, ne se sont pas, pour autant, dédiés aux sujets d’histoire diplomatique ou à des questions politiques et sociales, comme Oliveira Lima et Joaquim Nabuco. Ils ont, pour la plupart, pris le choix de la littérature en tant que telle, avec très peu d’exceptions. Le plus grand d’entre eux, par exemple, Guimarães Rosa, est le constructeur d’un langage unique dans la littérature et même dans la terminologie régionale et la lexicographie du Portugais brésilien, puisant son vocable dans le parler spécial des éleveurs et trappeurs de l’intérieur de Minas Gerais, son état d’origine, appartenant encore à ce vaste heartland rustique des hauts plateaux du Brésil. Son essai a été préparé par un diplomate écrivain, Felipe Fortuna, qui s’est dédié à la poésie et aux essais, probable futur membre de l’Académie Brésilienne des Lettres. Beaucoup d’autres son restés effectivement des hommes de lettres, et très rarement des bureaucrates ayant laissé une forte empreinte dans la diplomatie officielle.
L’un de ces diplomates écrivains était déjà un poète reconnu avant d’entrer dans la carrière, Vinicius de Moraes, devenu l’un des plus importants compositeurs de la musique populaire, mis à la retraite par le gouvernement militaire, et le seul parmi les « sujets » littéraires qui sont contemplés dans ce beau livre à mériter deux chapitres, l’un en tant que poète, l’autre en tant que poète et compositeur populaire. Moraes a été, entre autres, l’auteur du script poétique du fameux film de Marcel Camus, Orphée Noir. Lui, comme tant d’autres, a contribué beaucoup plus à la culture brésilienne en tant que poète e compositeur, qu’en tant qu’un scribouillard des sujets arides et bureaucratiques de la diplomatie officielle. Chroniqueurs, romanciers, poètes ou prosateurs s’exerçant dans la diplomatie peuvent, ou non, avoir laissé dans les archives dormants du ministère des affaires étrangères des très beaux offices, rédigés dans un Portugais excellent, mais qui ont été destinés, pour la plupart, à la critique rongeuse des souris ou tout simplement à poussière des étagères, plutôt qu’au souvenir des collègues ou aux rapports annuels au président ou au Parlement. Ils se sont distingués dans la société, au Brésil ou ailleurs, en tant qu’intellectuels de renom, pas en tant que bureaucrates de la diplomatie ; ils ont fait beaucoup plus pour l’essor de la culture brésilienne dans les recoins silencieux de leurs bibliothèques personnelles que dans les cabinets austères du ministère ou dans les salons feutrés des négociations diplomatiques.

Pas seulement la République des Lettres : des essais économiques et sociaux
Peux d’entre les diplomates qui se sont distingués dans la République des Lettres, retenus dans ce beau volume sur la culture brésilienne – au sens raffiné de ce mot –, l’ont été par leurs contributions aux sciences sociales, au sens large du mot. Une bonne partie a préféré se cantonner dans la littérature, et deux ou trois dans l’histoire du Brésil, éventuellement dans le contexte international. L’un d’entre eux a commencé une carrière politique et de publiciste en luttant contre l’esclavage : Joaquim Nabuco ; un autre s’est distingué dans la musique – Brazílio Itiberê da Cunha –, mais a laissé un précoce appel, au début du XXe siècle, en faveur l’éducation commerciale au Brésil, en vue d’intégrer le Brésil aux courants de la modernité économique de la belle époque ; un ancien poète frustré, Gilberto Amado, converti en consultant juridique du Service Extérieur est devenu pendant longtemps le représentant brésilien au Comité de Droit International, bien que son choix pour le volume a été dû à son travail de mémorialiste.
Cependant, le tout dernier inclus dans l’ouvrage, José Guilherme Merquior, mort prématurément à 49 ans en 2001, mériterait un hommage spécial, en complément au témoignage très émouvant de son ancien éditeur, José Mario Pereira, qui retrace dans le volume l’itinéraire d’un des plus grands intellectuels brésilien. Merquior, commencé son parcours intellectuel par la critique littéraire et, élu très jeune à l’ABL, a refait sa pensée politique, économique et sociale en contact avec de grands penseurs brésiliens, des diplomates éclairés (en contraste avec les bureaucrates, car il y en a), mais aussi en faisant des études spécialisées à Paris et à Londres (LSE, avec Ernest Gellner, parmi d’autres). À Londres il a travaillé en compagnie de l’ambassadeur Roberto Campos, lui même un des grands hommes d’Etat pendant toute la seconde moitié du XXe siècle au Brésil. Ayant assisté aux conférences de Bretton Woods (1944) et de la Havane (1947-48), qui ont inauguré l’ordre économique contemporain, Campos a été l’un des plus importants technocrates avant et durant le régime militaire, auquel il a servi en tant que ministre du Plan et réformateur de toute la politique économique, préparant le Brésil pour les années de « miracle » de croissance à fin des années 1960 et début des 70. Par après, reprenant son esprit libéral, il est devenu un critique acéré de l’interventionnisme et un ennemi enragé du poids de l’État dans l’économie et même dans la vie privée des citoyens.
Roberto Campos a été l’objet de deux récents livres au Brésil, l’un sur tout son itinéraire intellectuel, O Homem que Pensou o Brasil (2017), l’autre en tant que pourfendeur de la Constitution de 1988 : A Constituição Contra o Brasil (2018). Il va recevoir un chapitre à la troisième édition de l’ouvrage de 2001, O Itamaraty na Cultura Brasileira, en compagnie d’autres notables diplomates écrivains. Merquior, de par son importance dans la critique littéraire, mais aussi de par ses livres et essais sur les questions politiques et sociales au Brésil, sur une approche libérale progressiste, mérite lui aussi un hommage intelligent des nouveaux représentants de la théorie sociale, moins imprégnés du marxisme culturel des dernières décennies, et plus connectés aux courants libéraux qui commencent à se renforcer au pays.
D’ailleurs les nouvelles additions à cette troisième édition sur les diplomates intellectuels sont beaucoup plus axées sur les humanités et les sciences sociales appliquées, que sur les belles lettres comme auparavant. À côté de Roberto Campos, il y aura un spécialiste en Machiavel – Lauro Escorel, aussi un brillant critique littéraire –, un musicologue et historien – Vasco Mariz –, un historien et linguiste – Sergio Corrêa da Costa –, un promoteur des arts et de la culture, responsable pour le transfert des Affaires Etrangères à Brasília et la très belle décoration du Palais Itamaraty à la nouvelle capitale – Wladimir Murtinho –, finalement, un penseur conservateur, qui était aussi un fin sociologue des idiosyncrasies brésiliennes : Meira Penna. Restant peu d’années jusqu’aux commémorations des deux premiers siècles de l’indépendance du Brésil, en 2022, et tenant compte que la diplomatie a vraiment participé, intensément, à la construction de la nation – tel est l’argument principal de l’ouvrage déjà classique de l’ambassadeur Rubens Ricupero, A Diplomacia na Construção do Brasil, 1750-2016 (2017) –, il serait très bienvenu qu’à cette date on puisse compter avec un livre en hommage aussi bien aux écrivains diplomates qu’aux diplomates écrivains au long de ces deux derniers siècles.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 19/02/2019
[Première version ; en révision]

Tramando uma biografia intelectual (quando for possível escrever) - Paulo Roberto de Almeida (2009)

 

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

Memórias Intelectuais: Uma biografia das ideias que permearam a minha vida - Paulo Roberto de Almeida

 Memórias Intelectuais

Uma biografia das ideias que permearam a minha vida

 

Paulo Roberto de Almeida

Concepção e primeira redação em 18.10.2009

(numa dessas noites de insônia)

Revisão resumida: 22.12.2009

Postado nesta versão no blog DiplomataZ (1/01/2010;

link: http://diplomataz.blogspot.com/2010/01/29-memorias-intelectuais.html).

 

 

Uma pequena introdução que se poderia chamar de metodológica 

Comecei a conceber a redação destas “memórias intelectuais” numa dessas noites de insônia que me acontecem frequentemente. Não que eu seja um insone ou que tenha dificuldades para dormir, ao contrário: como estou sempre lendo, ou escrevendo, no limite de minhas possibilidades físicas, quando vou dormir já estou dormindo em pé, ou sentado em frente ao computador, não sendo raro que eu cochile quase em cima do teclado, abatido pelo cansaço do dia, das muitas leituras, da fadiga visual em face da tela, da falta de sono enfim. Quando vou para a cama, portanto, caio como uma pedra e durma apenas o suficiente, pois necessariamente tenho de acordar antes de ter feito o ciclo completo de sono, antes de gozar daquele sono reparador que todos os médicos recomendam, seja porque tenho de trabalhar, seja porque tenho de dar aulas, o que para mim não é exatamente o mesmo que um trabalho, e sim o equivalente de um hobby, uma atividade que assumo voluntariamente, mais por prazer do que por necessidade.

Ocorre, porém, que, em algumas ocasiões, eu não consigo pregar o sono de imediato, seja porque minha cabeça fervilha com novas ideias adquiridas ao sabor das leituras cotidianas, seja porque algum outro problema perturbou o meu sono, apenas algumas horas depois de tê-lo iniciado.  

 

Pois aqui estou eu, tentando dar início a uma nova obra que vai, provavelmente, ocupar outras noites de insônia ao longo dos próximos meses e anos à frente, na redação paulatina, gradual, lenta e necessariamente interrompida do que eu chamei de “memórias intelectuais”, que nada mais são, como indica o subtítulo, do que uma história das ideias que permearam a minha vida. Por que isso? Por que esse título e não uma simples biografia ou memórias de vida, como todo mundo faz? Já explico.

Como qualquer leitor contumaz, também li muitas histórias de vida: grandes e pequenas biografias, autobiografias, relatos de vidas de homens (e mulheres) famosos, extratos de aventuras fabulosas (algumas verdadeiras, outras semi-inventadas), notas pessoais, currículos, enfim, uma variedade de escritos pessoais que sempre me interessaram mais pelo lado das ideias do que propriamente pelos feitos ou eventos. Sou assim, fascinado pelas ideias e pelos processos mentais, mais até do que pelos feitos e acontecidos. Interesso-me particularmente pelas reflexões e elaborações mentais dos homens (e mulheres, para não deixar de ser politicamente correto) que representaram alguma importância na história da humanidade. Lembro-me de ter lido, ainda em minha infância ou primeira adolescência, diversas biografias de grandes homens (e algumas mulheres) de autores como Hendryk Van Loon, Stefan Zweig, Monteiro Lobato (este mais um adaptador, do que um verdadeiro biógrafo) e vários outros autores. 

Nunca imaginei, pelo menos até alguns anos atrás, escrever minha própria biografia, e continuo achando que não tenho nada de particularmente interessante a dizer em matéria de relato de vida: a minha não foi suficientemente relevante no plano nacional, ou interessante no plano individual, para merecer uma biografia no sentido clássico, inclusive porque não sou um homem de grandes realizações práticas ou de qualquer impacto na vida nacional. Tampouco prestei depoimentos, até o presente momento, nem jamais mantive diários ou anotações regulares quanto a minhas atividades e ocupações. Sou, sim, um homem de leituras e de anotações, mas isso de livros, basicamente, o que faço de forma totalmente desorganizada e anárquica – o que parece redundante, mas não é – sem qualquer preocupação com o ordenamento sistemático dessas notas ou seu alinhamento cronológico. Simplesmente, me interesso por tanta coisa, e leio tantos livros diferentes, que sempre me foi impossível manter uma linearidade nas anotações de maneira a sustentar qualquer relato ordenado sobre a minha vida, se ela fosse relevante, ou sobre as minhas ideias, se por acaso eu tivesse um punhado delas representativa de alguma grande “filosofia” particular, o que obviamente não é o caso. Meu anarquismo literário e redacional nunca me permitiu manter notas organizadas o suficiente para escrever o que se chama classicamente de biografia, ainda que de simples ideias. 

Por que, então, me permito chamar estas minhas anotações de “Memórias Intelectuais”, um título aparentemente prometedor e, ao mesmo tempo, enganador? Não sou um intelectual, pelo menos não oficialmente: não me reconheço como tal, e não creio que eu seja conhecido como tal. Sou simplesmente um homem de leituras e de escritos, os mais diversos, tocando um pouco em todas as áreas das humanidades, o que faço mais de metido do que de sabido. O adjetivo “intelectuais” apegado ao substantivo memórias quer dizer simplesmente que este meu relato não é de vida, propriamente, nem de eventos ou de processos reais que aconteceram comigo, mas sim de elaborações mentais, de ideias, como aliás confirmado pelo subtítulo, como já escrevi acima. Ou seja, eu pretendo, sobretudo, tratar das ideias que eu defendi, que eu “frequentei”, que permearam a minha vida ao longo de cinco ou seis décadas (dependendo de quando se deve começar a contar minha vida “intelectual”). 

Não são todas ideias minhas, está claro, e sim ideias que movem o mundo, como já disse, a propósito de um livro seu, o historiador Felipe Fernandez Armesto (ver o seu Ideas That Changed the World, publicado em 2003, um livro que já resenhei, em sua edição brasileira). São, especialmente, ideias que movimentaram o meu mundo, ou que pelo menos influenciaram a minha formação, o meu pensamento, e algumas das minhas ações (sim, também as houve, e as relato aqui, conforme apropriado, mas sem muita ênfase, preferindo ficar mesmo no terreno das ideias). Não sei se sou um homem de ideias, mas sou, sim, um homem que viveu com ideias, para ideias e em função de ideias, embora (pelo menos acredito) sempre com um sentido prático, isto é, sempre com a intenção de colocá-las em “funcionamento”, ainda que poucas tenham de verdade “funcionado”. Isso nunca me deixou frustrado, ao contrário, pois eu atribuo às ideias as mais importantes transformações do mundo, ainda que nem todas tenham tido esse poder. Vale uma pequena elaboração a esse respeito, o que faço agora, à maneira de parênteses. 

 

O mundo, na concepção marxista e materialista – à qual eu aderi, voluntária e conscientemente, por boa parte de minha juventude e da vida adulta – é movido por forças materiais, por processos objetivos, que emergem do entrechoque de interesses sociais (de classe, obviamente) e do confronto entre relações sociais, algumas decadentes, outras, as vencedoras, avançadas, ou correspondendo a uma etapa superior das forças produtivas. No máximo os homens são prisioneiros de ideias do passado, segundo a fórmula de Marx no Dezoito Brumário. Keynes também disse algo semelhante, a respeito de ser a geração atual (qualquer uma) prisioneira de economistas mortos, o que se aplica perfeitamente ao seu próprio caso e à geração atual, ainda presa às suas ideias dos anos 1930, ou seja, de duas gerações passadas. 

As ideias são algo importante, e coisas vivas, no entanto. São elas que dão sentido à nossa existência consciente, são elas que guiam as nossas ações, são elas que nos impelem a novas aventuras do espírito ou empreendimentos práticos, são elas, finalmente, que sustentam a defesa de alguns princípios e valores que julgamos relevantes, seja para a “economia política” de nosso comportamento, seja para a elaboração de algum julgamento moral sobre nossas próprias ações e as dos outros. Ideas do matter, dizem os ingleses, ou americanos, whoever... As ideias têm importância, e elas tiveram uma tremenda importância em minha vida, toda ela feita de leituras, reflexões, escritos e debates em torno de ideias, todas elas, as minhas, ou seja, as que eu adquiri com leituras ou pessoas mais espertas, as emprestadas ocasionalmente, as dos outros, com as quais eu poderia concordar, ou não, assim como ideias que eu já defendi e que depois vim a recusar, até mesmo rejeitar, e que passei a combater, como foi o caso com boa parte de minha formação intelectual marxista da primeira juventude (depois explico como foi isso). 

Não tenho nenhum problema em aceitar, confessar, reconhecer essa mudança de ideias, de percepções, de atitudes em minha vida juvenil e adulta, posto que a vida é um processo continuo de incorporação de novas ideias, de sua submissão aos testes da lógica formal e da realidade, e da sua sustentação ou rejeição em função dos resultados desses “testes”, que nada mais são do que experiências de vida, novos aprendizados, incorporação de conhecimentos, aceitação de novos princípios e fundamentos para a ação social. Repito aqui o que Keynes parece ter dito, uma vez, a um interlocutor que o acusava de ter mudado frequentemente de ideias: “sim, eu mudo de ideias cada vez que muda a realidade; e você, o que faz?”

 

Este livro, portanto, não se ocupa apenas de minhas ideias, ainda que seja difícil distinguir o que é meu e o que pertence aos seus autores originais, na minha incorporação particular, individual, das ideias que li ou ouvi ao longo de uma vida extremamente bem recheada de leituras e de palestras, a que assisti ou de que participei, interagindo com membros da mesa ou com o público inquisidor (sim, sempre acreditei que aprendemos muito com nossos interlocutores, mesmo os que nos contestam, como ocorre ocasionalmente com alguns alunos e mais frequentemente com outros debatedores). São ideias que “estavam no ar”, que eu peguei, usei, transformei, reelaborei, introduzi em novas ideias que eu mesmo possa ter elaborado e que sai por aí, distribuindo à vontade, em meus escritos, aulas e palestras. Fiz isso durante toda a minha vida adulta, seja na profissão diplomática, seja nas lides acadêmicas, assumidas em caráter voluntário e em tempo parcial durante quase todo o tempo em que fui diplomata de carreira. 

Sim, sou daqueles que acreditam e defendem ideias próprias, mesmo trabalhando numa corporação de ofício, a casta dos diplomatas, que tem algo de Vaticano em sua maneira de ser e em sua forma de proceder. Na veneranda Casa que foi minha durante várias décadas, um funcionário subalterno é suposto acatar ideias dos superiores, quando não defendê-las, como se fossem suas. Consoante meu espírito anarquista e libertário, eu nunca fiz isso, jamais; sinceramente não me lembro de ter alguma vez acatado, em sã consciência ideias “superiores” apenas porque elas emanavam dos semideuses que nos governavam, quando eu era secretário: conselheiros, ministros, embaixadores. Sempre formulei alguma observação, seja para assinalar minha concordância (quando eu efetivamente concordava com o que estava sendo exposto), seja para argumentar em algum outro sentido (quando eu tinha alguma objeção de princípio ou alguma observação tópica a fazer a respeito do assunto em pauta). Nunca fui daqueles que quando parte para o trabalho deixa o cérebro em casa, ou deposita a sua capacidade de reflexão na portaria, ao adentrar no serviço: sempre levei comigo minha disposição a pensar com minha própria cabeça e a levantar elementos factuais ou argumentos opinativos, sempre quando o tema tratado me parecia padecer de alguma inconsistência formal ou de deficiência substantiva. Nunca tive qualquer hesitação em contestar chefes ou outros superiores em reuniões de trabalho, acumulando com isso (pelo menos suspeito) sólidas inimizades ao longo da carreira (não de minha iniciativa, mas provavelmente da parte dessas personalidades contestadas, que provavelmente nunca toleraram a arrogância desse mero secretario ou conselheiro que ousava discordar de suas brilhantes ideias e propostas). 

Sou assim, e não me escuso de sê-lo, pois acredito que devemos ser, publicamente, como somos na intimidade, ou seja, nos comportar exatamente como comandam nossos instintos, modo de ser, vocação inata. Eu nasci para ser um leitor, um “absorvedor” e um processador de ideias, e tendo a expressar as minhas, conforme julgo apropriado ou oportuno. Se os demais, os superiores, não concordam com elas, não me importo minimamente, pois considero que num mundo de ideias, como o que vivemos, devemos sempre lutar para que as boas ideias prevaleçam sobre as más, ou inadequadas. Não sou, nem me considero, um “salvador” da humanidade, pelas ideias ou pelas ações, mas considero, sim, que a humanidade pode e deve avançar pela defesa das boas ideias, pela sua prevalência sobre as más, ou negativas, pela promoção das soluções “corretas” aos enormes problemas da humanidade, de pobreza, de desigualdade, de injustiça, de infelicidade. Sim, também tenho esse lado um pouco milenarista ou messiânico de pretender “melhorar” a humanidade pela ação consciente dos homens de bem, dos cientistas, dos engenheiros, dos humanistas, que buscam algo mais na vida do que o simples prazer pessoal ou a satisfação individual. Considero-me comprometido com uma causa superior, que é, em primeiro lugar, a elevação espiritual, ou “mental”, da humanidade, base indispensável para sua elevação material, ou para a busca incessante de melhores padrões de vida para o maior número. 

Talvez seja esse o legado de meu passado socialista ou marxista: pretender “melhorar” a humanidade, ainda que eu tenha há muito desistido de qualquer projeto de “engenharia social”, ou seja, a pretensão de mudar os homens para mudar a sociedade, como ocorreu na triste história do socialismo real ao longo do século 20. O “homem novo” deve ser simplesmente construído em nível individual, pela educação de qualidade, livre, diversificada, totalmente liberta de qualquer crença fundamentalista – como o marxismo esclerosado, por exemplo – e não imposto por qualquer programa de “reeducação social” mediante projetos autoritários de transformação social, como os conhecidos nessa triste experiência político-messiânica. Dessas ideias eu creio que me libertei, a partir da juventude tardia e da entrada na etapa adulta de minha vida, ainda que eu não tenha conseguido me libertar dessa ideia básica de pretender promover o “bem comum” e a “felicidade dos povos” (mas, aqui e agora, sem qualquer sentido autoritário ou mandatório). De todas as minhas visitas e experiências no socialismo real – o que poucos intelectuais do mundo capitalista realmente fizeram – retirei a certeza de que o sistema criado pelo partido de vanguarda trouxe mais infelicidade do que bem-estar aos povos que pretendeu transformar, e nem sempre num sentido meramente material, de disposição de bens correntes; no mais das vezes, a miséria moral e a degradação dos indivíduos foram bem mais relevantes do que a penúria de bens e serviços. 

 

Creio que os parágrafos acima já oferecem um resumo do que são as ideias que pretendo discutir neste ensaio de biografia intelectual, basicamente uma história das ideias para consumo próprio, uma espécie de balanço de uma vida de leituras, de reflexões e de escritos, que foi tudo o que me foi dado fazer ao longo de uma carreira diplomática e acadêmica sem muitas emoções ou grandes acontecimentos. Talvez as poucas ideias aqui contidas possam servir de motivo de reflexão aos mais jovens, aqueles que como eu começam ou começaram a sua vida cheios de entusiasmo juvenil por grandes projetos de transformação do Brasil e do mundo. Eu fiz a minha parte, tentei, sim, transformar o Brasil – nem sempre no bom sentido, confesso, como quando pretendia fazer do país uma economia socialista, seguindo o exemplo cubano – e tentei, depois, ajudar na transformação do mundo, seja como diplomata, seja como professor, seja ainda como autor de alguns escritos que podem ter influenciado a formação de alguns poucos jovens que tiveram contato com esses escritos.

Uma coisa é certa: ainda que eu possa ter errado algumas (ou muitas) vezes, eu sempre tentei ser honesto comigo mesmo e com as ideias que estavam à minha disposição, ou seja, ao usá-las de modo racional e sempre visando ao bem comum. A honestidade intelectual não é apenas uma virtude, para mim, mas uma necessidade imperiosa, uma condição inseparável de minha personalidade e disposição de vida. Nunca consegui defender ideias nas quais não acreditava, nunca fui hipócrita no trabalho diplomático ou acadêmico, sempre defendi (e expressei) o que pensava, mesmo ao risco de prejuízos materiais ou morais. Nunca me escondi atrás de “falsas ideias”, apenas para contentar um superior ou sugerir uma ilusória concordância intelectual com quem quer que seja na academia, e por isso mesmo devo ter granjeado inimizades e criado alguns problemas para mim mesmo, aqui e acolá. Isso nunca me importou: sempre preferi estar em paz com minha consciência, do que ganhar algum favor de um superior por submissão a ideias que não defendo ou que rejeito. Nunca fui carreirista, numa ou noutra “profissão”, aliás, nunca me classifiquei apenas como diplomata ou como acadêmico; sempre disse que eu era diplomata, ou professor, mas em meus escritos e palestras eu me apresentei sempre como sociólogo ou “doutor em ciências sociais”, conforme o caso, o que são títulos, não condições profissionais. Acho que nunca escrevi como diplomata – ou seja, a langue de bois, ou o bullshit, típicos da profissão e da linguagem diplomática – e tampouco me comportei como acadêmico, ou seja, apenas um pesquisador ou professor de uma instituição de ensino e pesquisa.

Sempre fui um ser livre, tanto quanto me permitiram minha condição de servidor público e de contratado de uma instituição de ensino, ou seja, cumprindo minhas obrigações mínimas, mas me reservando o direito de pensar com minha própria cabeça e de expressar o que me ia na cabeça, por vezes de forma algo agressiva, reconheço. Mas é porque o meu entusiasmo pelas ideias, meu cuidado em recolhê-las dos livros e colocá-las à disposição dos demais, meu empenho em “ensinar” aos outros as “boas ideias” são tais que em algumas (ou várias) ocasiões eu acabei me chocando com ideias antigas, conservadoras, inadequadas, incorretas, francamente equivocadas. Isso seria porque minhas ideias eram melhores do que as dos outros? Talvez, e aqui confesso algum orgulho de estar um pouco à frente de meus contemporâneos, exclusivamente em função de minha obsessão pela informação, pelo conhecimento, pela argumentação lógica e bem fundamentada. Sim, eu me impaciento com a lentidão de algumas pessoas (talvez a maioria) em perceber a realidade, que está ali, à disposição de quem quer ver, bastando se informar corretamente – mas a maioria das pessoas lê pouco e se informa de maneira deficiente – e refletir com base em preceitos mínimos da lógica formal e da argumentação bem sustentada. Não tenho culpa se sempre tive mais informações do que a média de meus colegas de trabalho e de academia: isso foi alcançado ao custo de muito sacrifício, de muitas noites de leitura, de muito esforço em buscar e apreender os dados da realidade. Como estou fazendo agora mesmo, neste momento de reflexão e de registro de minhas memórias intelectuais. Mas, encerro no momento, pois já são 9h25 de uma manhã de domingo, e eu vou dormir um pouco antes de retomar minhas leituras e lides acadêmicas um pouco mais tarde. Boa noite (ou bom dia).

 

Brasília, residência da SQS 213, 18/10/2009

Início: 6h37 da manhã; interrupção: 9h25.

Revisão: 22/12/2009

Perguntas a um Espectador Engajado - Paulo Roberto de Almeida (2007, 2022)

 Perguntas feitas a um Espectador Engajado em 2007 e AINDA não respondidas - Paulo Roberto de Almeida

Em meados de 2007, como se depreende do texto (inédito) transcrito abaixo, eu formulava uma série de questões a mim mesmo, supostamente com a intenção de responder em algum momento, o que parece que nunca foi feito (pelo menos ainda não encontrei algum outro trabalho com tal intenção ou  conteúdo). Ficam as questões sem resposta, no momento, pois que eu estava, justamente, procurando um outro textos conceitualmente conexo às questões abordadas nesse pequeno questionário. Vamos ver se algum dia eu respondo.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 17 de fevereiro de 2022 (15 anos depois)


Perguntas a um Espectador Engajado

Paulo Roberto de Almeida

Formulação de Questões em 12 de agosto de 2007 


Por que você, além e acima dos afazeres profissionais “normais”, se dedica voluntariamente às lides acadêmicas?

Existe alguma motivação outra, digamos financeira, a esse exercício de “sobre-trabalho”, ou essa atividade paralela responde a alguma necessidade interna?

Por que, além da preparação de artigos e ensaios voltados para suas pesquisas habituais – habitualmente em história diplomática, em relações internacionais e em política externa do Brasil – você mantém, igualmente, um site e vários blogs, além de colaborar, de maneira incessante, com vários outros veículos eletrônicos sobre os mais diversos assuntos?

Você se considera um militante de alguma causa definida?

O que você pretende com isso? Ou quem pretende alcançar, ou “atingir”, com isso?

Você acha que conseguirá transformar o mundo com esse ativismo intelectual?

Acredita que palavras jogadas ao “vento” – nesses canais eletrônicos livremente disponíveis hoje em dia – têm o poder de mudar algo de substantivo nas misérias do mundo? Ou, que seja, do Brasil tão somente?

Qual é, você acredita, o impacto real de suas palavras lançadas ao mundo?

Qual o seu grau de otimismo, ou de ceticismo, em relação a todas essas iniciativas que você impulsionou desde muitos anos, e que de certa forma interferem na sua vida profissional, familiar, pessoal? 

Qual o balanço que você faz desse tipo de atividade?

Que balanço você faz de sua vida nessas dimensões abordadas aqui?


Brasília, 12 agosto 2007, 1 p.