Paulo Roberto de Almeida
Lula foi Lula ao falar à PF e disse
não saber de nada em caso de
dinheiro clandestino
VEJA obteve a íntegra do depoimento prestado pelo
ex-presidente em 9 de dezembro de 2014. Inquirido
sobre “empréstimo” de 7 milhões de dólares ao PT,
ele transferiu a responsabilidade por eventuais irregularidades
a Delúbio Soares e João Vaccari
Rodrigo Rangel
Na
sede da Polícia Federal, em Brasília, tudo foi planejado para oferecer
ao visitante o conforto a que ele tem direito como ex-presidente da
República e, principalmente, a mais absoluta discrição. Lula pediu, e
foi atendido, para depor em um local reservado. Os policiais escolheram
uma sala contígua ao gabinete do diretor-geral. Foi assim que, na
terça-feira 9 de dezembro de 2014, Lula prestou seu depoimento. O
ex-presidente, acompanhado de três advogados, entrou pela garagem do
prédio e usou o elevador privativo do diretor para levá-lo ao 9º andar.
Com a solenidade, o respeito e a deferência que merece um ex-mandatário
da República, depois de várias tentativas em vão, a polícia finalmente
conseguiu interrogar Lula sobre uma passagem ainda obscura do mais
rumoroso caso de corrupção a estourar durante o seu governo, o mensalão.
Desde
que deixou o governo, em 2010, pouca coisa se ouviu do ex-presidente
sobre o escândalo. Seu principal ministro, seus amigos mais próximos, a
cúpula de seu partido e muitos dos parlamentares que apoiavam seu
governo foram condenados à prisão. Embora, em última instância, fosse o
principal beneficiado pela compra de apoio parlamentar, o ex-presidente
nunca foi acusado de nada. Em 2005, Lula se disse traído quando se
revelou que o tesoureiro e amigo Delúbio Soares e José Dirceu, seu
braço-direito, haviam montado uma rede clandestina de captação de
dinheiro para subornar parlamentares e sustentar as campanhas políticas
do PT. Preservado por todos os que sabiam de seu envolvimento direto no
mensalão, Lula escapou do processo judicial. Ele passou todo o seu
governo negando a existência do esquema. Quando desceu a rampa do
Palácio do Planalto, porém, prometeu que contaria "a verdadeira história
do mensalão". Diante dos policiais federais em Brasília, Lula voltou à
versão que, oficialmente, sustentou.
VEJA
teve acesso à integra do depoimento, um documento de valor histórico
inestimável em que Lula, pela primeira vez, formaliza o que tem de
importante a dizer sobre o caso: absolutamente nada. São quatro valiosas
páginas que sintetizam a natureza do ex-presidente diante de uma
situação embaraçosa - ele, como sempre, jura que não sabia de nada, que
nunca se envolveu com os malfeitos de seu governo e, quando confrontado
com os fatos, aponta o dedo para terceiros para salvar a própria pele.
Durante pouco mais de uma hora, Lula driblou as 28 perguntas elaboradas
previamente e lidas por um delegado convocado especialmente para a
ocasião.
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