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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

O inacreditável "romancista" dadaista-surrealista-confusionista EA, e sua obra estrambótica - resenha de Carlos U. Pozzobon; comentário PRAlmeida

Antes da "Miséria da diplomacia", a "miséria da literatura"

Nesta mesma madrugada, para trás, fiz uma breve apreciação sobre a trajetória do nosso inacreditável chanceler acidental, como registrado nesta postagem: 

3857. “Sobre a resistível ascensão de um oportunista no Itamaraty”, Brasília, 16 fevereiro 2021, 2 p. Comentários sobre a trajetória do chanceler acidental. Divulgado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/02/sobre-resistivel-ascensao-de-um.html).

 Um amigo, colega de redes sociais e grande intelectual, Carlos U. Pozzobon, teve o cuidado (e a pachorra) de postar um comentário que é uma espécie de "resenha" – se isso é possível – sobre uma das obras do dito colega diplomata, mas que eu NUNCA tive curiosidade de ler (pois fui avisado discretamente, por quem comprou ou recebeu, que "não valia a pena"). 

Devo dizer que, entre 2004 e 2020, eu resenhei praticamente TODOS os livros publicados pelos diplomatas, em todos os gêneros, e durante algum tempo passei a receber vários (mas só resenhava aqueles que eu achava que "valiam a pena"). Informo abaixo sobre essas publicações, que estão todas disponíveis aos interessados.

Transcrevo abaixo o "comentário-resenha" de Pozzobon sobre um dos livros do candidato a "Borges de Cabrobó da Serra", seguido de meu próprio comentário na postagem acima, mas que posto aqui, para tornar mais explícito este "exercício literário" tão auspicioso quanto as tiradas diárias do capitão, chefe do chanceler acidental. Não se tem notícia, ainda, de outros "romances" inspirados no desgoverno do capitão, mas o estilo é praticamente o mesmo: confuso, caótico, sem qualquer atratividade.

A sorte me poupou de receber uma dessas "obras". Mas já li toda a "produção" não literária do chanceler acidental, e afirmo que é mais ou menos no mesmo estilo. 

Paulo Roberto de Almeida


Logo que tomou posse encomendei A Porta de Mogar a partir de comentários na imprensa sobre os dotes literários do novo chanceler. Algumas semanas depois comecei a ler o pequeno livro precedido por uma dedicatória a um certo ministro (não cito o nome) pelo apoio literário que recebeu. O ministro deve ter esquecido da dedicatória e o livro foi parar em um sebo e dali nas minhas mãos.
Mas o que se pode dizer de A Porta de Mogar? Trata-se de um samba de uma nota só. Começa assim: 
“A primeira coisa é decidir o teu nome, que imagino pode ser Arétsei, já que nasceste no país de Lham, ao som do realejo do cais de Aleufar. Na verdade nasceste num domingo de janeiro, que eu voltava de uma galeria e encontrei na rua o velho Kedad, que me saudou e ofereceu-me um cigarro. Conversamos um pouco sobre a pontuação e o calendário, e decidimos passar logo ao capítulo 2”.
E de fato, termina o capítulo 1 e começa o 2. E o que diz o capítulo 2? 
“O segredo do homem é fixar limites. E descumpri-los. E dividir-se entre esses dois segredos, que são um só. 
O que se pode conhecer do segredo, senão o seu entorno físico, a paisagem que dele se avista, seu endereço? Se soubermos onde o segredo fica, já estamos sabendo um pouco o que o segredo diz?
– Como é simples – comentou Kedad.
– O que é simples?
– Está vendo? Já complicou”.

E acaba o capítulo 2. Ainda estamos na página 1 e já chegamos ao capítulo 3. 
O leitor não sabe se está na presença de um gênio, um vanguardista, um inovador ou de um idiota. Como não sou de desistir no primeiro embate, criei coragem e avancei na leitura. Depois de páginas e mais páginas, o leitor nota um traço comum: todos os nomes são esquisitos, todos os lugares estrambóticos, a paisagem é desértica, o nonsense invade cada capítulo minúsculo e o tema se repete sempre o mesmo. Parece que o chanceler pretendeu imitar Borges em Ficções no conto Tlön, Uqbar, Orbis Tertius, mas logo percebe que seu texto não diz nada com nada. 
Os personagens trocam de nomes em desfile sucessivo a cada página como Kedad, Ftob, Xirdac, e cidades ou aldeias como Alquizia, Dezlum e Gaidehob e Crechêbiu.
A cada página me pergunto: mas o que é isso? E na minha perseverança continuo atento na expectativa de que em algum momento as futilidades vão acabar, mas nada: 

Na página 52 [que também é o capítulo 52] lemos coisas assim: 
“O momento da flecha de fogo surge uma vez em cada batalha. No meio da retranca e do alarido [o livro é uma repetição de batalhas no deserto com a caracterização do tempo histórico por espadas e flechas disparadas entre tribos] sobrevém um minúsculo silêncio, como um instante de clareza no meio do sono. O capitão, se o percebe, toma o seu arco (que só serve para isso), embebe a flecha no óleo, acende-a e dispara, tal qual uma certeza pelo arco do pensar. [Noto que o arco da flecha é também o arco do pensar, mas não se trata de uma metáfora, pois fico confuso se afinal o arco do pensar é uma certeza ou o arco da flecha propriamente]. “Neste momento, apenas nesse momento, a flecha faz o efeito”. [Lindo, não? “A flecha faz o efeito”]. “Os olhos do inimigo se arregalam, e é a hora de forçar o centro de sua linha. A flecha de fogo, no momento certo, é sempre uma surpresa, para os dois lados, sabida mas inesperada”.

Essas galimatias me faz supor que o autor está bêbado, e que o pileque vai passar, mas não passa. Todo o livro foi feito para se rir do autor e não dos personagens. Ele diz bobagens enfileiradas como “uma nação se aprende na derrota”, ou “civilização é complexidade”. Fiquei desconfiado que o livro foi escrito com alguma finalidade de longo prazo, como o de disputar um lugar na ABL ao término do mandato, se abrir uma vaga entre os imortais.

Chego no capítulo 68 saturado e sôfrego:
"- Tsanash, você tem irmãos?" [Segue- se uma digressão e por fim a resposta:]
"- Tenho.
“Ao que me lembre, além do Tsanash, somente a ti te fiz essa pergunta tremenda". [É uma pergunta tremenda que deixa o leitor tremendo].

Me arrastando chego ao capítulo 86:
"Eu e Ftob ouvíamos ao longe o choque das armas e os relinchos. A primeira linha hestiaque foi rompida e a desordem se espalhou. Ftob juntou-se à tropa e me deixou sozinho. Formou-se uma segunda linha para deter os riombes, mas também foi quebrada. Para o vilarejo indiferente [pode haver indiferença no meio de uma batalha?] era apenas mais um dia úmido. Eu não enxergava nada e não entendia, sentia todos os músculos presos, como se estivesse cercado por quinhentos credores [parece incrível que no meio de uma batalha alguém se lembre dos credores], como se não houvesse nada para ser defendido. Como se eu não valesse nada, como se eu fosse um burro carregando nas costas o incômodo da vida [Pode estar aí uma autorrevelação]. Bandos dispersos de soldados fugiam, procurando esconderijo”. 
Logo adiante (88) um pirueta estonteante: "para ti não existe o amor, mas apenas amar alguém, e para mim amar alguém é apenas um exemplo do amor. Por isso não nos comunicamos"... "pensas que cada ser está preso ao seu sido". [Sido? Isso mesmo, sido].
"Toda a filosofia é um esforço para retraduzir o mundo, de tal modo a poder rasgá-lo". 

Neste caso encontrou seu destino no olavismo. Poderia ser diferente? Não há nada que se salve. O chanceler fez da literatura o que Bolsonaro fez da política. Os gênios sempre se encontram. E encerrei nocauteado no capítulo 90 que por acaso se chama “Para que servem as ideias?” 
As dele, as dele todo mundo sabe.

[Fim de transcrição]


Meu comentário à resenha acima: 

PRA: "Carlos U. Pozzobon

: É inacreditável. Acho que tenho sorte de nunca ter topado com essas aberrações nos 17 anos durante os quais fiz mini-resenhas de (quase) todos os livros publicados pelos diplomatas para o Boletim (agora Revista) da ADB: do que escapei (poderia ter desistido da missão self-assumed). 

Mas tem um que leva o nome de EA como co-autor, junto com seu chefe (meu amigo), embaixador Sergio Florencio: Mercosul Hoje (1996; 2a ed. 1999). Nunca perguntei quem fez o que, mas a resenha é positiva, nos meus requerimentos rigorosos. Está com centenas de outras resenhas, grandes e pequenas, num livro que deveria ter sido publicado pela Funag, muito antes que eu fosse diretor do IPRI: como quiseram censurar duas resenhas (ainda nos tempos do lulopetismo diplomático), me opus aos cortes e publiquei eu mesmo o livro: 

Prata da Casa (2014) e edições sucessivas, com outras organizações: Polindo a Prata da Casa; Codex Diplomaticus Brasiliensis; Rompendo Fronteiras, tudo disponível em Academia.edu. 

Quero agradecer e reconhecer o sacrifício de Carlos Pozzobon por ter enfrentado a “desinteria mental” de um dos “livros” (sic três vezes) do chanceler acidental.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 16/02/2021


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