Uma estratégia destinada ao fracasso: a de Trump para o Hemisfério Ocidental
Paulo Roberto de Almeida
Os EUA já tiveram grandes estratégias na era contemporânea. A primeira, desenhada ao início da Guerra Fria, em 1947, contou com aportes significativos de militares e de técnicos vinculados à segurança nacional, inclusive a diplomacia, como a “doutrina da contenção” (da União Soviética), sugerida pelo diplomata George F. Kennan.
Depois acrescentaram algumas “teorias”, como a do dominó, que se revelou um desastre. Levou ao “over strecht”, que provocou excesso de extensão e de compromissos inviáveis economicamente. A quebra do padrão de Bretton Woods, em 1971, sinalizou a ruptura de um sistema que já era insustentável desde o final dos anos 1950.
Mas o poderio americano continuou a se exercer pela força de atração de sua economia e de um regime de liberdades inigualável no mundo, atraindo braços e cérebros de todo o mundo, enquanto perdurou esse dinamismo econômico e político.
Certos vícios americanos se acentuaram com a prosperidade, e a integração com o resto do hemisfério se fez pelas vias mais indesejáveis: drogas, de um lado, armas do outro.
Um filho de imigrantes especialmente imbecil resolveu “corrigir” alguns problemas criados pelo próprio império em declínio relativo, em face do renascimento de um velho império asiático, não agressivo e não intrusivo (mas impérios estabelecidos costumam ser paranoicos).
Em lugar de definir uma estratégia de complementaridade para uma prosperidade comum, se decide pela “estratégia do enfrentamento” e se começa pelo próprio Hemisfério Ocidental, no qual perfila ao Sul uma América Latina pouco dinâmica, mas que é classificada como “problema”.
O fato de classificar a nova estratégia como sendo um “corolário Trump à doutrina Monroe” já revela a imensa ignorância de seus formuladores, que exibem uma pretensão absurda de “Enlist and Expand”, ou seja, de incorporar e de ampliar, como se seus autores pudessem determinar sozinhos e unilateralmente o curso dos eventos, da evolução e da sua própria interação com o resto do Hemisfério.
Essa estratégia está destinada ao fracasso, mas enquanto durar o poder dos ignorantes no império declinante ela está destinada a provocar maiores fracassos e desapontamentos, para os próprios EUA e para os vizinhos ao sul do Rio Grande.
Poucas vezes na história do mundo grandes impérios tiveram o cuidado de documentar e registrar o caminho de sua própria decadência e fracasso.
A razão neste caso específico pode ser explicada: o documento não cuidou de “enlist and expand” o número e a diversidade de seus formuladores, mas permaneceu restrito ao pequeno núcleo de seguidores, bajuladores, conversos e submissos ao chefão ignorante, apenas focados em preencher suas fantasias numa terminologia artificial aparentemente triunfante.
Logo após o Western Hemisphere vem a Asia no documento, de onde virão exatamente os piores fracassos da “estratégia”, baseada numa nova doutrina de “contenção” simplesmente inaplicável, absurda e equivocada.
Os “aliados”, hoje desprezados, não vão rir, porque seria politicamente incorreto e pouco diplomático. O suposto “adversário” tampouco vai reagir; ao contrário, vai ficar quieto. Afinal, como já recomendava Sun Tzu, não se deve fazer nada quando o seu “inimigo” estiver fazendo bobagens.
A única coisa que Trump consegue produzir é uma bobagem atrás da outra, além de desastres para o seu próprio país e para o mundo.
De vez em quando, na história, surgem personagens que conseguem atravessar o curso dos eventos, pelos motivos os mais bizarros. A Guerra de Troia, finalmente, não está tão longe assim, e Trump pode ser apenas um novo Menelau. Depois teremos algum novo Homero para relatar a epopeia; por enquanto só temos alguns novos seguidores que pretendem reescrever Tucídides, esquecendo-se da ironia de que Atenas foi vencida por seus próprios erros diplomáticos. É o que está fazendo Trump, para desgosto de dirigentes normais ao redor mundo. Acontece…
Paulo Roberto Almeida
Brasília, 6/12/2025
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