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segunda-feira, 21 de julho de 2014

O Itamaraty ja nao e' mais o que era? Provavelmente - Mansueto Almeida

Mas, as eventuais falhas na qualidade do material produzido nos últimos tempos não têm a ver, exatamente, com deficiências de serviço da própria institutição, e sim com as novas condições de trabalho, que impõem certas regras bizarras que não costumam, ou não costumavam fazer parte do menu habitual da Casa. Certas coisas só estando dentro para perceber, mas ainda assim seria preciso saber de onde partiram as ordens para fazer, não fazer, deixar de fazer, fazer outra coisa, inverter os processos, alterar procedimentos, deixar coisas sem registro escrito, tratar de certos assuntos por telefones ou mensagens eletrônicas à socapa, apagar os traços, enfim, tem todo um mundo que passa longe de nossa vã filosofia...
Paulo Roberto de Almeida

Diferença de postura
Blog do Mansueto Almeida
21 de julho de 2014

Nos últimos sete dias, o presidente dos EUA, Barak Obama, convocou entrevista coletiva para falar do ataque de terroristas ao voo MH17 na Ucrânia e sobre a crise entre Israel e Palestinos na faixa de Gaza.

Independentemente de concordamos ou não com aspectos da política de defesa e comercial dos EUA, o país tem um papel muito claro na defesa de suas posições e se alia com países com tradição democrática, apesar de o histórico condenável dos EUA no apoio de governos ditatoriais no passado, em especial, na América Latina.

No caso do Brasil, não vejo clareza na nossa política externa. O nosso problema parece ser pelo menos quatro. Primeiro, tem-se a nítida impressão que o país luta por um assento no Conselho de Segurança na ONU sem saber muito o que quer defender. O Brasil tem sido um defensor intransigente da democracia na América Latina? O país tem se destacado no âmbito mundial na defesa das minorias? Nos últimos anos, o governo brasileiro tem tido uma posição dúbia em relação a violação de direitos humanos na América Latina e o mesmo em relação aos grandes conflitos mundiais.

Segundo, o Brasil tem um corpo diplomático de excelente formação, o Itamaraty, instituição do Estado e do serviço público brasileiro que sempre foi respeitado pela sua qualidade técnica, desde a negociação de acordos internacionais até a solução do conflitos militares, como aquele que opunha Peru e Equador há décadas e que foi solucionado com a assinatura do Acordo Global e Definitivo de Paz, no Palácio Itamaraty, em Brasília, em 26 de outubro de 1998. Mas, nos últimos anos, há uma percepção de leigos e de diplomatas aposentados que o Palácio do Planalto passou a ter um consultor que, muitas vezes, parecer ser uma voz mais ativa do que o próprio Itamaraty na definição estratégica da política externa do país. Essa percepção pode ser equivocada, mas existe.

Terceiro, a atuação recente do Brasil na América Latina tem sido marcado por um atuação que parece muito mais ideológica do que voltada para defesa dos interesses do país. Há abundância de exemplos: a suspensão do Paraguai do Mercosul, a forma do ingresso da Venezuela no bloco, a ajuda financeira a Cuba, o tratamento dado à questão do Senador boliviano exilado na embaixada em La Paz e a posição dúbia brasileira em relação à crise política na Venezuela. De acordo com o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), presidente da comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado Federal: “…o governo brasileiro está fazendo uma opção pelo que há de mais atrasado e populista”. (clique aqui para ler a entrevista completa do senador a revista Veja).

Quarto e último ponto, tenho uma grande esperança que os esforços do Brasil em construir uma agenda comum com os demais países do BRICS tenha sucesso e que a criação do Novo Banco de Desenvolvimento tenha algum êxito. Sou cético quanto a isso e, no caso dos BRICS, não vejo o Brasil tomando à frente na defesa intransigente da democracia, direitos humanos e, no caso mais recente, condenação das ações da Rússia na Ucrânia.

Enquanto o presidente dos EUA condenava de forma clara o papel omisso da Rússia no episódio que levou à queda do voo MH17 na Ucrânia, a nossa presidenta fez uma declaração infeliz reproduzida nos jornais deste final de semana e desta segunda-feira:

Tem um segmento da imprensa dizendo que este avião… que foi derrubado estava na rota da volta do avião do presidente Putin. Coincidia com o horário e com o percurso. Então, que o míssil poderia ser dirigido ao avião do presidente Putin.

Por onde começar? O “segmento da imprensa” era a mídia russa que afirma também que os corpos poderiam estar lá há meses e a Otan poderia ter derrubado o Boeing para testar lealdades.

O que leva a presidente de 200 milhões de brasileiros a embarcar nesta canoa furada de propaganda? E por que, enquanto escrevo, três dias depois da tragédia, em meio à indignação do mundo civilizado, a líder da sétima economia do mundo não se sente compelida a expressar luto pelo massacre de 298 civis inocentes? Esqueçamos, por um momento, a estadista. A avó do Gabriel não tem ganas de dizer algo sobre as 80 crianças mortas no voo MH17” (ver Lúcia Guimarães, o meridiano do MH17 no Estado de São Paulo).

A impressão que tenho da política externa brasileira é que ainda há uma ênfase excessiva no discurso anti-americano dos tempos da guerra fria e uma excessiva leniência com atitudes não democráticas de governos Latino Americanos ou de alguns dos nossos aliados dos BRICS.

Vamos torcer para que o Itamaraty volte a ser mais relevante no desenho e na condução da nossa política externa e que o nosso empenho nas alianças com países em desenvolvimento dependa cada vez menos de questões ideológicas das afinidades do partido no poder.

(Mansueto Almeida)

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Um governo autista, que acha que o mundo esta' errado, so' ele esta' certo... - Mansueto Almeida

Existe alguma novidade econômica, ou de simples pensamento econômico, vindo do governo. O governo, ou a governanta, é autista, autossuficiente e satisfeito consigo mesmo.
Tem o contentamento dos beatos, dos simples, dos ingênuos, dos ignorantes...
Paulo Roberto de Almeida 

Os fundamentos econômicos estão ótimos? Brincadeira de mau gosto.

Só pode ser brincadeira. Hoje na Folha de São Paulo (clique aqui) ha uma matéria que diz que a presidenta Dilma busca um interlocutor na área econômica para acalmar o mercado. O que me impressionou foi a explicação de um ministro (que como sempre fala em off porque tem “convicção”) no final da matéria:  “Um ministro explica que a posição do governo será a de bater na tecla do presente, de que “os fundamentos do país estão ótimos” entre as principais economias do mundo: PIB, geração de emprego, reservas cambias e superávit.”
Isso só pode ser brincadeira e esse tipo de atitude serve apenas para piorar a falta de confiança do mercado no governo. Será que o governo teria coragem de falar o seguinte: “os fundamentos econômicos do Brasil estão ótimos e a desaceleração da economia é explicada, integralmente, pelos problemas do resto do mundo e pela incerteza em relação as eleições deste ano. A política econômica denominada de “Nova Matriz Econômica” será reforçada pelo governo do PT”.
Parece que não “caiu a ficha” do governo em relação ao desastre da “Nova Matriz Econômica”. Os jornais deveriam procurar os economistas ligados ao governo, como fizeram no aniversário do Plano Real, para “comemorar” o aniversário da Nova Matriz Econômica. O problema é que os economistas fogem da autoria da Nova Matriz Econômica como o diabo foge da cruz.
A verdade é que, com exceção do emprego, todos os indicadores econômicos pioraram nos últimos três anos. E o que causa preocupação no mercado é não saber se, em caso de reeleição, haverá de fato mudanças. Os nossos “fundamentos ótimos” são:
(i) A inflação consolidada perto do teto da meta de 6,5% e sem perspectiva que volte ao centro da meta;
(ii) O crescimento do PIB para este e o próximo ano na faixa de 1% a 1,5% e risco do baixo crescimento começar a afetar a taxa de desemprego já no segundo semestre deste ano;
(iii) Saldo da balança comercial piorou muito desde 2011 (passou de US$ 30 bilhões, em 2011, para US$ 2,6 bilhões em 2013) e déficit em conta corrente aumentou mais de 50% no mesmo período;
(iv) A participação dos básicos na pauta de exportação passou de 50% no primeiro semestre deste ano e o Brasil vem perdendo participação nas exportações mundiais desde 2011;
(v)  Os indicadores de confiança da FGV do comércio, serviços e industria estão todos em quedas consecutivas nos últimos quatro meses (seis meses no caso da industria). Índice de confiança da indústria está no seu menor nível desde maio de 2009,
(vi) O superávit primário, em 12 meses até maio, foi de  1,5% do PIB, queda de 50% em relação ao primeiro ano do governo atual (2011), quando foi de 3,1% do PIB. Se descontarmos as receitas extraordinárias de  novembro (leilão de libra e Refis), o primário em 12 meses até maio cai para 0,7% do PIB. Se descontarmos truques com restos a pagar, a conta de precatórios e sentenças judiciais que são tradicionalmente pagas em abril e neste ano foram postergadas para o final do ano, primário de 12 meses fica entre “zero” e 0,5% do PIB;
(vii) A taxa de juros Selic de 11% ao ano hoje é maior do que no início do governo Dilma quando era de 10,75% aa. Adicionalmente, a taxa de juros para pessoa física no segmento de crédito livre voltou para faixa de 42% ao ano -mesma taxa de 2011;
(viii) crescimento da despesa primária do governo federal em três anos de governo Dilma já foi de 1,5 pontos do PIB (ainda falta 2014), muito próximo aos oito anos de governo, quando foi de 1,7 pontos do PIB. A esse ritmo é certo que o governo aumentará a carga tributária ou a dívida. Neste ano até maio, a Dívida Líquida do Setor Público (DLSP) já cresceu em 1 ponto do PIB e a tendência para os próximos anos, dada a política econômica atual, é de crescimento;
(ix) De acordo com dados do IBRE-FGV, a produtividade da economia (PTF) está estagnada nos últimos três anos e a produtividade do trabalho estagnada nos últimos dois anos;
 (x) Taxa de investimento na economia está estagnada nos últimos três anos, por volta de 18% do PIB em valores correntes ou de 20% do PIB a preços constantes do último ano. O que preocupa é um aumento tão forte do déficit em conta corrente – em mais de 50% em três anos- apesar da estabilidade da taxa de investimento; 
O que podemos falar em relação à tendência? A tendência é de os indicadores melhorarem? Não, com a política econômica e com a equipe econômica atual, da qual a presidenta faz parte ativamente, a tendência é piorar porque a despesa pública continua crescendo a um ritmo muito acima do crescimento da receita, o que significa queda do primário; não há perspectiva de forte crescimento das exportações do Brasil e, logo, o déficit em conta corrente pode até melhorar mas continuará perigosamente elevado; e com inflação próxima ao teto da meta e ainda com a perspectiva de reajuste dos preços dos combustíveis e tarifas de energia, a inflação continuará elevada neste e no próximo ano e, logo, as taxas de juros permanecerão elevadas.
Por fim,  os empresários não voltarão a investir enquanto não enxergarem de forma muito clara como o (novo) governo resolverá os problemas acima. É bom mesmo que o governo indique o grupo de economistas que está pensando a “novíssima matriz econômica”. O problema é que, mesmo as pessoas próximas ao governo hoje, já namoram com a ideia que o melhor é voltar ao passado e restabelecer o tripé macroeconômico e a retomada da agenda de reformas.

terça-feira, 17 de junho de 2014

Arminio Fraga no Valor Economico: resumo por Mansueto Almeida

Já postei neste espaço, mais abaixo, a íntegra da entrevista de Arminio Fraga.
Segue um resumo feito por Mansueto Almeida.
Paulo Roberto de Almeida

Armínio Fraga no Valor Econômico
Meu colega economista Armínio Fraga, ex-diretor e ex-presidente do Banco Central do Brasil, deu uma brilhante entrevista hoje ao Valor Econômico. Há um grupo de pessoas que ganham a vida tentando distorcer o que Armínio fala, apesar dele ser uma dos poucos economistas com um conhecimento forte da literatura acadêmica e do mundo real.
Apesar de sua carga de trabalho, Armínio ainda estava lecionando na PUC no último ano e tem um contato privilegiado com a academia brasileira, setor empresarial e “policymakers” do resto do mundo. Enquanto muita gente tenta entender algumas provocações do  “Joseph Stiglitz” em um dos seus artigos, Armínio manda um e-mail e/ou fala diretamente com o economista. Foi aluno do Stiglitz por duas vezes no início da década de 1980.
Mas o que mais me impressiona no Armínio é sua enorme paciência. Uma vez, quando era presidente do Banco Central, presenciou uma manifestação do Movimento dos Sem Terra  (MST) na porta do Banco Central e mandou formar uma comissão para subir e conversar com ele. Ele calmamente explicou para a comissão do MST qual era o papel do BACEN. Uma vez uma repórter me falou que, quando era presidente do BACEN, era comum Armínio descer às 10 da noite da sala da presidência do Banco e conversar com jornalistas.
Depois dessa breve introdução, escrevo para falar que Armínio mostra no Valor de hoje os problemas que temos que resolver. Destaco alguns pontos e muita gente boa do BACEN, Tesouro e Min. da Fazenda (estou falando aqui dos técnicos concursados que não têm opção a não ser seguir ordens dos seus superiores) concordaria com algumas das afirmações do Armínio. Por exemplo:
1) Incerteza a e pessimismo: “A economia está fraca, assustada e muito defensiva, com pouco investimento e pouca ousadia. A incerteza tem uma dimensão macroeconômica ligada ao baixo crescimento, à inflação alta e ao déficit em conta corrente; e uma dimensão mais micro, que afeta cada setor de uma maneira diferente. Mas, no geral, assusta, com raízes importantes no setor elétrico, de petróleo, que não são os únicos, mas são os principais. Esse quadro precisa ser abordado de maneira clara e isso não está acontecendo.”
2) Crescimento do consumo: “A fase de crescimento acelerado do consumo pode ter ficado para trás porque o PIB não está crescendo, as famílias se endividaram bastante e os juros estão subindo. Mas há um espaço enorme para o consumo crescer. Só que a renda tem que crescer junto, o custo do capital tem que cair e os prazos têm que se alongar.
3) Desemprego: “A semente do desemprego já está aí, pois infelizmente a economia não está crescendo. Para reduzir a inflação e evitar o desemprego será necessário afetar as expectativas. Falta hoje transparência nas contas públicas e compromissos com a responsabilidade fiscal e com inflação na meta. O ritmo de queda terá que ser avaliado à medida que fique claro o tamanho do atraso em alguns preços.”
4) Política Social:Há duas frentes de trabalho que deveriam ser não ideológicas. Uma diz respeito ao lado da igualdade de oportunidade. Mesmo o mais liberal dos liberais tende a defender a igualdade de oportunidade. Claro que muitos liberais veem um papel para o governo na provisão da educação e da saúde pública e não necessariamente na produção. Vi isso em uma entrevista recente do Ricardo Paes de Barros [subsecretário de Ações Estratégicas da Secretaria de Assuntos Estratégicos], por exemplo. A provisão cabe ao governo na educação, saúde, segurança, um Judiciário decente, transporte público de qualidade. Essa é a base para uma sociedade onde as pessoas têm chances, onde o filho de uma pessoa pobre não está condenado a ser pobre. Isso é um desejo do Brasil, está na Constituição e o governo deveria estar entregando mais nessas áreas. Esse é um canal de resposta muito poderoso à questão colocada por Piketty.”
5) Crescimento econômico e progresso social: .”….Temos que cair na real: as coisas não estão dando certo. O país não está crescendo e, se não crescer, as frustrações vão aumentar. Estudiosos como o Ricardo Paes de Barros e o Marcelo Neri [ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos] têm escrito e dito ao longo dos anos que um percentual alto da queda da pobreza e da redução da desigualdade veio do crescimento. Do crescimento. Não é do programa distributivo, do Bolsa Família. Você está falando com alguém que não tem vergonha de dizer que é um liberal com coração. É importante o país crescer e é importante gastar melhor, sim.”
Vou parar por aqui porque não quero que o Valor me processe por copiar conteúdo protegido. Comprem o jornal e leiam a entrevista que está muito boa. E cabe a cada um de vocês decidir com o que concordam e discordam das teses do economista. Não deixem ninguém interpretar por vocês (eu inclusive).

quinta-feira, 5 de junho de 2014

A politica industrial esquizofrenica do governo - Mansueto Almeida, Joao Luiz Mauad

Transcrevendo, e acho que não preciso dizer mais nada sobre a loucura mental dos keynesianos de botequim que pululam no governo...
Paulo Roberto de Almeida

Um Retrato da Política Industrial do Governo

“A melhor política industrial é não ter nenhuma política industrial” (Ronald Reagan)
O economista Mansueto de Almeida publicou ontem, em seu blog, excelente artigo em que destaca os ridículos resultados das megalomaníacas políticas industriais do Governo Dilma Rousseff.
Embora discordemos pontualmente quando ele diz que há espaço para fazer política industrial no Brasil – pois acho que únicas políticas eficazes, nesse aspecto, seriam a desburocratização, a desregulamentação (inclusive na esfera trabalhista), a redução ampla e linear dos impostos sobre o trabalho e a produção, a abertura aos importados, o fim da insegurança jurídica (mudança nas regras a todo momento) e, last but not least, a melhoria da infraestrutura -, vale a leitura atenta.  Mansueto de Almeida é daqueles economistas que conhecem profundamente a realidade brasileira, bem como os meandros da administração pública.  Seguem alguns trechos:
No início do governo Dilma, muito se falou da “revolução” que seria produzir Ipads e Iphones no Brasil. O governo brasileiro fez esforços para que, o maior fabricante desses aparelhos, a empresa Foxconn de Taiwan aumentasse os investimentos no Brasil. A Foxconn opera megas fábricas na China. Algumas com mais de 300 mil trabalhadores.
A ideia era que, a ampliação dos investimento da Foxconn, no Brasil, traria novos investimentos para o país e aumentaria a “densidade” da cadeia de eletro-eletrônicos. No futuro, o Brasil se tornaria um pólo de exportação desses produtos eletrônicos.
(…)
Há algum sinal de sucesso dessa estratégia? Absolutamente nenhum sinal. Primeiro, como o Brasil é um país relativamente fechado, seria natural que a Foxconn e Apple produzissem alguns dos Iphones e Ipads no Brasil para vender aqui e no Mercosul, desde que contassem com incentivos fiscais – o que ocorreu. Mas achar que o Brasil se tornaria um grande pólo de exportação desses produtos, um país de custo de produção elevado, é fantasioso.
Segundo, para decepção de todos e vergonha geral da nação, quando os produtos “made in Brazil” chegaram às lojas, os preços cobrados eram exatamente os mesmos dos produtos importados – o que seria o esperado para qualquer economista. No entanto, algumas pessoas acreditavam na forte queda dos preços quando aqui fossem produzidos os Iphones e Ipads. Assim, o governo concedeu subsídios para a Foxconn, mas os produtos não tiveram os preços reduzidos. O custo era o mesmo que antes pagávamos pelos importados. Isso é coisa de gênio!
(…)
Terceiro, qual grupo empresarial apostou neste plano de produzir Iphones e Ipads no Brasil? Talvez algum grupo com vasta experiência em gestão de empresas e que, ao longo de décadas, cresceu e se diversificou. Será que aos acionistas da 3G capital apostaram nisso? Será que o grupo Votorantim apostou nisso? Ou que tal nossas grandes empreiteiras como Odebrecht, etc.? Não os dois grandes sócios da Foxconn, no Brasil, seriam Eike Batista e o BNDES. Não sei sobre o Banco, mas duvido que Eike Batista queira e possa agora continuar nessa empreitada.
Os Iphones e Ipads já são produzidos no Brasil, mas nada mudou para o consumidor, que continua pagando um preço muito caro por esses aparelhos. Nada mudou também em relação aos nossos indicadores agregados de inovação e de exportação de manufaturas, que continuam patinando. Em 2006, o saldo da balança comercial de manufaturas foi de US$ 5 bilhões e, em 2013, esse saldo se transformou em um déficit de US$ 105 bilhões. A culpa não foi do Ipad ou do Iphone.
O que de fato mudou foi que, nunca mais,  representantes do governo falaram da revolução que seria produzir Ipads e Iphones, no Brasil. E os lançamentos dos novos modelos desses aparelhos continuam chegando no mercado brasileiro com atraso em relação ao mercado internacional.
“E dai? o que importa é que hoje produzimos Iphones e Ipads”. Produzimos carros também, mas o crscimento do PIB neste e no próximo ano será abaixo de 2%. Adicionalmente, se o governo continuar com o seu plano de  resolver os nossos problemas com a concessão indiscriminada de subsídios, o que parece ser a política oficial, o resultado será novos aumentos de carga tributária, aumento da dívida e/ou  mais inflação (isso ninguém fala, mas esperem para ver o que acontecerá pós-eleição se o governo atual for reeleito).
Infelizmente, ainda existem pessoas que acham que fabricar Iphones e Ipads, no Brasil, é exemplo de política industrial moderna. Essas mesmas pessoas acreditam que um desequilíbrio macroeconômico é justificável desde que o resultado seja a criação de um parque tecnológico. Se olhassem com mais cuidado para a Coreia, saberiam que aquele país tinha elevada poupança e limitada rede de assistência social quando adotou políticas industriais ativas. Não é hoje o caso do Brasil.
Há espaço para se fazer política industrial? Sim, mas não na magnitude que pessoas no governo acreditam. Ao que parece, o nosso maior “sucesso” da política industrial foi a criação de uma mega frigorífico (JBS/Friboi), uma empresa que o governo possui 30% do seu capital e que está perto de se tornar a segunda maior empresa do Brasil, atrás apenas da Petrobras. O Brasil é hoje um país mais inovador? Não. (…)

terça-feira, 27 de maio de 2014

Brasil: crescimento do PIB e dilemas de politica economica - Mansueto Almeida

Por Mansueto Almeida, 26/05/2014

O titulo deste post é claramente uma provocação. Mas a provocação vai pegar carona no artigo do Samuel Pessôa hoje, na Folha de São Paulo (clique aqui), para chamar atenção para a diferença de crescimento da renda via pesquisas domiciliares (PNAD) e o crescimento do PIB per capita. Como fala Samuel no seu artigo hoje na Folha:
“Entre 2003 e 2012, ano da Pnad mais recente disponível, o PIB per capita cresceu em termos reais 28%, enquanto a renda mediana domiciliar per capita teve aumento de 78%! Houve defasagem na velocidade de crescimento dos PIBs “do povo” e “dos economistas” de 50 pontos percentuais.”
Essa polêmica (positiva) vem de alguns cálculos do nosso colega Marcelo Neri, que é um excelente economista e que há anos vem se dedicando a desvendar as fontes do crescimento da renda, redução da pobreza e queda de desigualdade de renda no Brasil.
Como Samuel, não tenho nenhum reparo dos dados que Marcelo Neri tem destacado, cuja tese básica é que o crescimento per capita das renda domiciliar e, principalmente, das famílias de baixa renda foi desde 2002 muito superior ao crescimento do PIB per capita.
A discordância que tenho é como algum utilizam esse dado para defender a tese que o Brasil tem um modelo de desenvolvimento, um modelo cujo dinamismo de alguma forma não está sendo plenamente captado pelo crescimento do PIB e do PIB per capita que são as variáveis de crescimento que se debruçam os macroeconomistas. Não existe tal modelo.
O que o Brasil faz muito bem é gastar muito além de suas possibilidades – na linguagem técnica, nós economistas falamos que o crescimento da absorção (gastos das famílias, consumo do governo e investimento) é maior que o crescimento o PIB e, assim, a conta só fecha porque podemos recorrer à ajuda do resto do mundo (déficit em conta corrente).
Isso em uma economia com recursos ociosos não é necessariamente ruim, inclusive se utilizarmos a ajuda do resto do mundo (produtos que importamos) para aumentar a taxa de investimento, com impacto positivo no crescimento, que pode, no futuro, se traduzir na redução da nossa dependência externa (que viria do aumento da poupança doméstica). Mas não é este o nosso caso.
A má notícia é que apesar de o crescimento do Brasil nos últimos 40 anos, não quebramos a nossa dependência de poupança externa (ajuda do resto do mundo) para crescer. E, nos últimos oitos anos, o nosso crescimento do déficit em conta corrente (ajuda do resto do mundo) se refletiu no forte crescimento do investimento até 2008, mas não depois, o que sugere que passamos a fazer um jogo perigoso: passamos desde 2008 a utilizar, excessivamente, a ajuda do resto do mundo não mais para investir, mas para aumentar o consumo.
Gráfico 1 – Saldo em Conta Corrente 12 meses (% do PIB) – dez/1990-abril/2014

O que tudo isso significa? Se fizermos uma extrapolação do que ocorreu no passado recente para os próximos dez anos, acho que a grande maioria dos economistas há de concordar que não é aconselhável e talvez nem seja possível elevar o déficit em conta corrente para perto de 7% do PIB para que a renda e consumo cresçam muito além do crescimento do PIB. Dado que agora nem mesmo temos uma taxa de desemprego elevada como era o caso em 2003, a dinâmica do crescimento do Brasil (o PIB dos economistas) e do crescimento do PIB do povo (renda domiciliar per capita medida pela PNAD) dependerá cada vez mais do crescimento da produtividade, se não quisermos aumentar a nossa vulnerabilidade externa.
Que bom! Então há consenso? Não. De cada 100 economistas, todos concordam com a importância do crescimento da produtividade. Mas esses mesmos economistas não concordam “com a forma de aumentar a produtividade”. Por exemplo, o protecionismo e o excesso de intervenção da “Nova Matriz Econômica” é vista por alguns economistas do governo como uma forma legítima de aumentar o crescimento da produtividade. Outros economistas enxergam nessas intervenções justamente a causa da estagnação recente da nossa produtividade.
Qual a grande dúvida do mercado? Se a presidenta Dilma concorda com os seus economistas ou se passou a concordar com economistas críticos de sua política econômica. Em outras palavras, será que a Presidenta acredita que é possível que o PIB do povo (renda per capita medida pela PNAD como chama o Samuel) continue crescendo à uma taxa muito superior ao crescimento do PIB dos economistas?
Para terminar, se você economista quer entender como a bonança externa nos permitiu crescer mais rápido desde 2005 sem que para isso fosse preciso nos preocuparmos muito com reformas, além do excelente artigo do Samuel hoje na Folha, o economista Edmar Bacha se debruçou sobre isso no seu capítulo (Bonança externa e desindustrialização: uma análise do período 2005-211) no livro o Futuro da Industria no Brasil, 2013.
A preocupação de Bacha neste texto era entender de que forma o forte crescimento do gasto doméstico (com consumo e investimento) estava se traduzindo em perda de dinamismo da indústria. A analise de Bacha mostra que, de 2005 a 2011, o efeito ganho dos termos de troca mais transferências externas (ajuda do resto do mundo que toma a forma de déficit em conta corrente) nos permitiu que, neste período, o gasto doméstico crescesse entre 9 a 10 pontos de percentagem a mais do que o crescimento do PIB a preços constantes. Neste período, entre 2005 a 2008 houve crescimento do investimento, mas depois de 2008 o que se destaca é o crescimento do consumo.
Infelizmente, não existe país desenvolvido com crescimento da renda domiciliar per capita muito acima do crescimento do PIB per capita ao logo de duas, três ou mais décadas. O que fecha o nossos modelo recente de crescimento são os ganhos nos termos de troca e o aumento do déficit em conta corrente (o que estou chamando aqui de ajuda do resto do mundo). E sem os ganhos nos termos de troca, a partir de 2008, a situação de potencial desequilíbrio externo seria ainda pior, pois como lembra Samuel no seu artigo:
“Conta simples sugere que, se não tivesse havido a alteração dos preços em nosso favor, a variação do deficit de transações correntes entre 2003 e 2012 seria de mais de sete pontos percentuais do PIB, visto que nesse período a absorção (consumo e investimento dos setores público e privado) cresceu 60%, e o produto, 40%.”
Em resumo, o crescimento da renda domiciliar per capita ultrapassou o crescimento do PIB per capita? Sim! isso significa que o Brasil tem um modelo de crescimento sustentável e que o equipe econômica atual fez um bom trabalho para garantir o crescimento do país? Infelizmente, não, o que significa que será difícil termos mais uma década inclusiva como foi a anterior.

O forte crescimento do PIB do povo teve a ajuda do resto do mundo para o seu crescimento e ainda estamos com uma taxa de investimento baixa em relação aos nossos pares e sem a mínima ideia de como será a evolução do crescimento da produtividade nos próximos anos. Além disso, a poupança doméstica não cresceu e continuamos reduzindo o superávit primário e aumentando os subsídios. Difícil ver consistência macroeconômica nesses resultados.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Os aprendizes de feiticeiro do Cerrado Central: a alquimia da "novamatriz economica" nao produziu ouro...

Não sabemos porque, mas deu tudo errado.
Gente sensata explica pirque...
Paulo Roberto de Almeida 

A nova matriz econômica falhou – 2

Dando continuidade a critica sobre o que se convencionou chamar de “nova matriz econômica”, recomendo a leitura de dois bons artigos que também mostram o fracasso dessa agenda.
Um dos artigo é do presidente do Banco Central ao longo dos oito anos de governo Lula: Henrique Meirelles. No seu artigo de hoje no jornal Folha de São Paulo (pecados nada originais – clique aqui), Meirelles fala que:
“Em 2011 foi introduzida uma novidade no Brasil, a “nova matriz econômica”. Os pontos centrais eram expansão fiscal com juros baixos e câmbio depreciado. Sua finalidade, elevar o crescimento e as exportações industriais.
Resultado: o crescimento caiu, os juros voltaram a subir após recrudescimento da inflação e as exportações industriais perderam participação de mercado. Resta a discussão sobre a questão fiscal.
A tese básica do artigo de Meirelles é que os ajustes institucionais antes do governo Lula (tripé econômico e Lei de Responsabilidade Fiscal) junto com política monetária e fiscal austeras trouxeram de volta o crescimento mais elevado de 2003 a 2010. Meirelles é taxativo: “Depois, vieram as novidades, e o crescimento caiu.”
O outro artigo que recomendo é o texto de Samuel Pessoa na edição de abril da Revista Conjuntura Econômica, no qual Pessôa procura entender o que está por trás do recente downgrade do Brasil pela Standard & Poor’s. Seria o motivo o nosso problema estrutural de crescimento do gasto público (e carga tributária) pós Constituição de 1988 ou a “nova matriz economia”? (clique aqui para ler o artigo).
Pessôa credita o nosso downgrade à piora fiscal decorrente de estímulos setoriais, sem que se tenha criado anteriormente o espaço fiscal para as desonerações setoriais, a piora no saldo da nossa conta corrente explicada em parte pela política de não reajuste dos combustíveis e falta de transparência das contas públicas com o uso e abuso dos truques contábeis. Essas ações junto com o excesso de intervenção na economia , segundo ele, formaria o conjunto de medidas por trás do nosso baixo crescimento e piora fiscal. Adicionalmente, Pessôa adverte que:
“…há um elemento que distingue a nova matriz econômica do contrato social da redemocratização. Enquanto este engloba políticas  que em geral são exaustivamente negociadas no Congresso Nacional, muitas das ações subjacentes à nova matriz econômica referem-se a elementos do gasto que não passam pelo parlamento e muitas vezes não aparecem de forma clara nas contas públicas.”
E quer saber o mais interessante disso tudo, não se sabe até hoje de quem foi a ideia do que se convencionou chamar da “nova matriz econômica”. O conjunto de políticas foi ideia de um grupo pequeno de economistas do governo? Foi ideia de um grupo ou de uma pessoa? Há consenso que esse conjunto de políticas não funcionou ou a percepção é que o modelo é correto, mas precisa de mais estímulos setoriais, por exemplo? Espero que a essa altura já se tenha percebido que a “nova matriz econômica” não funcionou.

sábado, 10 de maio de 2014

Politica economica brasileira: a concepcao primitiva de economia dos governantes (e de economistas) - Mansueto Almeida

De vez em quando a gente "pesca" uma frase sincera de nossos governantes, e de alguns de seus assessores, que revela todo o primitivismo, rusticidade, todos os desvios de concepção de seu entendimento sobre como deve ser uma economia.
Já se deve dar por desconto que eles acham que realmente o mercado é muito anárquico, irregular, errático, imprevisível, desigual, assimétrico, injusto, enfim, todas essas coisas, e que é preciso, necessário, indispensável que o governo, e seus economistas iluminados corrijam essas distorções e "imperfeições", impondo algumas "regras sadias" de bom funcionamento, para "proteger" todo mundo, sobretudo "os mais fracos". Geralmente se dá exatamente o contrário: eles perturbam todo o funcionamento do mercado, criam mais distorções do que aquelas naturalmente existentes pela ação dos próprios agentes, cada um agindo em seu próprio interesse, e acabam protegendo os mais fortes, ou aqueles que conseguem um lobby mais poderosos junto aos da Corte.
Com os subsídios é a mesma coisa.
Vejam abaixo a frase tosca da que responde pela nossa administração econômica, e que de economia deve entender muito pouco, pois do contrário não diria tamanho absurdo.
Lamento ter este tipo de confirmação, mas o Brasil vai continuar um país anormal por muito tempo ainda...
Paulo Roberto de Almeida

Brasil: o país precisa de subsídios? Sim!

Estava há pouco lendo os jornais e me deparo com uma matéria on linedo jornal Folha de São Paulo (após crítica de Aécio, Dilma diz que país “precisa de subsídio, sim” – clique aqui)  afirmando que a nossa presidenta defende a continuidade da política de subsídios. Segundo o jornal, a nossa Presidenta falou que: “Subsídio é necessário para o Brasil, sim. Há que se subsidiar vários segmentos. Porque senão não tem obra”.
É preciso qualificar melhor esse tema subsídios. Primeiro, de fato, crédito subsidiado sempre teve no Brasil e vai continuar. Assim, não há a mínima chance de acabar crédito subsidiado seja para o setor agrícola, para o setor industrial ou para infraestrutura.
O debate, no entanto, é um pouco mais complicado. Quanto devemos subsidiar? Devemos subsidiar tudo? E qual deve ser o tamanho do subsídio? Recentemente, por exemplo, o BNDES aumentou o custo das linhas de financiamento do Programa de Sustentação do Investimento (PSI). A taxa deste programa chegou a ser de 3,5% nominal ao ano no primeiro semestre do ano passado. Uma taxa menor do que a inflação de 6% ao ano.
Dei uma palestra para um grupo de Embaixadores da União Europeia no ano passado e um deles ficou assustado quando falei que as taxas do PSI estavam menores do que a inflação. É mais do que subsidio; é taxa de juros real negativa! Até hoje me arrependo de não ter comprado o meu caminhão!
Apesar da afirmação da nossa presidenta de que “o país precisa de subsídios, sim!”, emprestar para todo mundo à uma taxa menor do que a inflação, em um país no qual a poupança do setor público é negativa, é um tiro de canhão no pé.
Segundo, já falei isso 300 vezes e agora vou falar mais uma vez. A fonte de recursos para esses enormes subsídios, que o país precisa!!!!,  vem do crescimento da dívida pública bruta. Isso tem um custo elevadíssimo que até meu filho de três anos já aprendeu a calcular. O governo para se endividar paga taxa de juros de mercado, Selic, que hoje é de 11% ao ano, e empresta o recurso aos bancos públicos cobrando uma taxa de 5% ao ano – a Taxa de Juros de Longo Prazo.
Não por um acaso, qualquer economista com um conhecimento superficial de contabilidade sabe que, a forte acumulação de reservas e o crescimento excepcional de quase 10 pontos do PIB dos empréstimos para bancos públicos desde 2009, explica a excepcionalmente elevada taxa de juros da nossa Dívida Líquida do Setor Público (DLSP) de 17% ao ano, a mesma taxa  quando a DLSP chegou a ser próxima de 60% do PIB, em 2003.
Taxa de Juros Implícita da Dívida Líquida do Setor Público (DLSP) -2002-2013 – % ao ano
Taxa DLSP
 OBS: taxa de juros que leva em conta a receita de juros (com reservas e empréstimos para bancos públicos) e o pagamento de juros da dívida bruta. 
O que escutei de um bom economista com trânsito no governo? “Mansueto, não temos como aguentar uma diferença tão grande entre Selic e TJLP. Teremos que aumentar a TJLP.” Mas não dá para fazer isso em uma economia que precisa de muito crédito subsidiado. Concordam? É melhor continuarmos pagando juros elevado e subsidiando alguns setores, algumas firmas ou todo mundo. Que legal!!!!
Terceiro e último ponto, precisamos sim subsidiar mais todo mundo porque o Tesouro Nacional não paga a conta, o que fatalmente se transformará em um esqueleto no futuro e, adicionalmente, o governo inventou um truque fantástico em relação aos subsídios. Eles só passam a ser devidos (não necessariamente pagos) depois de dois anos!!!  Se lembram da Portaria nº 357, de 15 de outubro de 2012 do Ministério da Fazenda, que no inciso III do Art. 7o fala que:
Art. 7o……..
I – ………
II – ……….
III – os valores apurados das equalizações a partir de 16 de abril de 2012, relativos às operações contratadas pelo BNDES, serão devidos após decorridos 24 meses do término de cada semestre de apuração e atualizados pelo Tesouro Nacional desde a data de apuração até a data do efetivo pagamento.
A conta de subsídios será paga no próximo governo via aumento da DLSP e/ou aumento da inflação e/ou aumento de carga tributária. Estou com MUITO medo  que alguns “bons” economistas aceitem uma inflação maior como forma de “pagar” os subsídios e outras despesas do governo que estão crescendo além do que deveriam.
Tolice minha. Subsídio é bom!!! (OBS ESTOU SENDO IRÔNICO) mas me avisem se isso vai continuar, porque se for ainda quero comprar o meu caminhão. Ainda mais porque agora teremos estradas boas construídas com recursos subsidiados e combustível subsidiado. Será que tem subsidio também para comprar carne? Deve ter, porque soube que tem para frigoríficos!!!
Ainda vou ter um desses com crédito subsidiado!!!
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terça-feira, 6 de maio de 2014

MEC = Educacao? Nao! Ensino? Nao!! Cultura? Nao!!! Puro besteirol ideologico

Como eu sempre digo, para meus alunos, em palestras e conferências: a situação do ensino no Brasil (não merece esse nome, sequer o de educação) é muito pior do que jamais poderíamos imaginar. Como diria alguém, é muito mais pior...
O MEC é um dinossauro ideológico, infestado de saúvas freireanas, que estão destruindo o que restou de educação no Brasil...
Paulo Roberto de Almeida 

Já sabemos que a educação brasileira é doutrinada por socialistas das mais diversas vertentes. 
Mas agora Cláudio Haddad, doutor em economia pela Universidade de Chicago, resolveu quantificar o quanto isso é verdade. 
Ele fez a prova do ENADE e concluiu que as respostas consideradas corretas não são as de conhecimento técnico, e sim as ideológicas. Ele errou metade da prova cuja matéria domina e leciona.
O governo brasileiro, na figura do MEC, demonstra que não se importa com a formação cultural do aluno, mas sim em doutrinar o mesmo. Estamos formando mais uma geração que, apesar do grande potencial, estará perdida e inferiorizada frente ao seus pares do resto do mundo.

A entrevista está nas páginas amarelas da Veja desta semana e vale a pena ser conferida.
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Prova do Enade é meramente ideológica

Em entrevista à revista Veja desta semana, o engenheiro e economista Claudio Haddad, presidente doInsper, afirma que a prova de conhecimentos gerais do Enade não mede conhecimentos: seu objetivo é apenas doutrinar. Aliás, é o que petismo faz em todos os níveis de educação, não excluídas as universidades. A própria educação terá que ser reconstruída sob um novo governo:
Engenheiro e doutor em economia pela Universidade de Chicago. Claudio Haddad. 67 anos, sofreu, digamos assim, uma reprovação no campo acadêmico. Ele resolveu fazer, só de curiosidade, a prova de conhecimentos gerais do Enade, o exame do Ministério da Educação para os recém- formados nas universidades. Segundo o gabarito oficial do MEC, ele errou metade das questões. Como assim? Haddad, que preside o Insper, faculdade que fundou em São Paulo com o nome lbmec, em 1999, depois de quinze anos como sócio do Banco Garantia, está desatualizado? Nada disso. O defeito é da prova, que não se propõe a medir conhecimento, mas a aferir o grau de alinhamento do candidato com a ideologia em voga em Brasília. Diz Haddad: “E uma prova com viés ideológico, alta dose de subjetividade e um olhar simplista sobre as grandes questões da atualidade”.

O que o motivou a fazer uma prova de conhecimentos gerais para recém-formados? 

Meus alunos se saíram mal, e quis entender em que tipo de conhecimento eles patinavam. Passei o olho nas questões em uma cópia do teste. Eram enunciados enormes, que me deram a impressão de conter alto grau de subjetividade. Por isso, resolvi fazer a prova duas vezes. Na primeira, respondi tudo da maneira que julguei a mais correta: na segunda vez, assinalei as opções que imaginei serem aquelas que os avaliadores considerariam acertadas por terem um viés mais ideológico. Resultado: à luz de meus conhecimentos, errei quatro de oito questões de múltipla escolha. Ou seja, um fiasco. Já na versão que fiz com o único intuito de dar as respostas que os examinadores queriam, fui muito bem. Acertei sete. Só errei mesmo uma em que, sinceramente, apesar de ter me detido nela inúmeras vezes, até agora não vi lógica.

O senhor está dizendo que a prova foi mal formulada? 

Sem dúvida. Não se pode dizer que uma questão de conhecimentos gerais que se fia num viés político e ideológico e abre espaço para interpretações subjetivas seja bem formulada. Uma boa prova deveria se basear em fatos objetivos, e não em crenças.

Dê um exemplo de como o viés ideológico aparece no Enade? 

Uma das questões que mais me espantaram pede aos estudantes que reflitam sobre ética e cidadania, marcando as definições que expressem bem os dois conceitos. Uma das alternativas diz que, sem o estabelecimento de regras de conduta, não se constrói uma sociedade democrática e pluralista, terreno sobre o qual a cidadania viceja como valor. Está correto. A outra enfatiza que o princípio da dignidade humana é o avesso do preconceito. Também está certo. A zona de sombra paira sobre a terceira proposição, a que o MEC considera correta. “Toda pessoa tem direito ao respeito de seus semelhantes, a uma vida digna, a oportunidades de realizar seus projetos, mesmo que esteja cumprindo pena de privação de liberdade, por ter cometido delito criminal, com trâmite transitado e julgado”. Isso é apenas uma divagação opinativa do formulador da prova sobre como seriam as condições ideais de vida de um preso. Existem maneiras bem mais objetivas e lógicas de testar o conhecimento do candidato sobre ética e cidadania.

E por que o senhor discorda da afirmativa?

Como alguém que cometeu um crime e está preso pode ter garantido o seu direito de realizar “projetos” como os demais cidadãos? É, antes de tudo, um absurdo lógico. Vejo aí uma condescendência típica de certas organizações de direitos humanos, que brigam indiscriminadamente por tudo o que é benefício para o preso: visita íntima, saída à vontade da cadeia. Isso, aliás, está bem em voga no Brasil. Faz parte do caldo ideológico incapaz de ver uma questão tão complexa sob todos os prismas.

O desprezo pela lógica é o pior defeito das questões do Enade?

A imposição de uma maneira de pensar é igualmente danosa. Uma das perguntas faz uma longa digressão sobre os jovens de hoje, que preferem ficar fechados em seu quarto mexendo no computador e jogando videogame a passear pela praça. 0 texto prega que a imersão no mundo eletrônico desvia a atenção das crianças dos impactos dos danos ambientais. A prova pede que o candidato escolha o título mais adequado para o texto que acabou de ler. Minha opção foi: “Preferências atuais de lazer de jovens e crianças: preocupação dos ambientalistas”. Errei. Para os avaliadores o título correto é: “Engajamento de crianças e jovens na preservação do legado natural: uma necessidade imediata”. Esse não é o título mais adequado para o texto, aliás de péssima qualidade. O que se tem no conjunto de texto e resposta é uma combinação de subjetividade total com pregação ambientalista. A questão não tenta medir o conhecimento do candidato. mas saber quanto ele está enquadrado na maneira de pensar oficial.

Qual é a origem dessas distorções?

Para mim. Está claro que o Enade deixa à mostra o modo torto de ver o mundo da maioria de nossos educadores. Eles são mergulhados nessa ideologia antiempresa, antilucro, antimercado já nas faculdades de pedagogia. Depois tratam de plantar essa visão na cabeça dos estudantes.

Essa é uma característica exclusiva da educação brasileira? 

Não. Há um movimento atualmente na França destinado a revisar o ensino de economia, que com o tempo foi se tomando distorcidamente anticapitalista. Está sendo difícil na França restaurar o equilíbrio. No Brasil a situação é pior. Aqui o discurso ideológico se mistura com a falta de conhecimento. O resultado é desastroso. É o triunfo de uma concepção de mundo simplista e equivocada. Gostaria de saber quantos desses pregadores leram Marx e Adam Smith no original. Sim, porque tem muito professor por aí que se baseia em textos curtos e apostilados para ensinar. A prova do MEC é um espelho dessa simplificação. O conhecimento verdadeiro consiste em entender realidades complexas, e não em contorná-las com resumos empobrecedores e enviesados.

Qual a consequência imediata disso?

A radicalização. O discurso ambientalista é um exemplo. Tomou-se uma sucessão de bandeiras e pregações alarmantes com evidente desprezo pela lógica e pela objetividade. A intervenção humana no meio ambiente é ensinada apenas como uma “agressão”. Muitas vezes faltam inteligência e informação na utilização racional dos recursos materiais, mas isso não significa que é impossível agir sobre a natureza sem provocar tragédias ambientais. As crianças também aprendem na escola a repudiar a Revolução Industrial inglesa, lembrada apenas pelas condições de trabalho miseráveis. Mas a miséria já estava lá bem antes e foi justamente com a Revolução Industrial que, pela primeira vez na história da humanidade, a riqueza aumentou exponencialmente para todas as classes. As economias cresceram, a renda per capita se multiplicou e os governos puderam arrecadar mais e implantar programas sociais. Mas a ideologia em voga demoniiza a Revolução Industrial. Isso não é educação de qualidade.

O Enade sofre dessa miopia em relação aos processos econômicos?

Sim. Em um alto grau. Uma questão sobre a crise financeira mundial de 2008 é a prova disso. O texto da pergunta diz que a desregulação dos mercados americanos e europeus levou à formação de uma bolha de empréstimos especulativos e imobiliários que, ao estourar, desencadeou a crise mundial. Falso ou verdadeiro? Para o MEC, é verdadeiro; para mim, falso. Para o MEC, o certo é pôr toda a culpa no sistema. Ponto. Com essa ênfase ideológica, perdem-se dimensões importantes para entender as razões da crise. A frouxa política monetária do Fed, o banco central americano, teve muito a ver com a crise. Como teve seu papel o incentivo do governo americano à concessão de crédito imobiliário mesmo para quem, claramente, não poderia pagar. Essas ações de Washington foram decisivas para que o mercado de casa própria inflasse em bases irrealistas. Mas a lente ideológica manda apontar a desregulamentação dos mercados como a causa da crise financeira. Isso não é produção de conhecimento, mas simplesmente a divulgação de uma visão equivocada.

Por que as universidades brasileiras ainda são tão pouco inovadoras mesmo se comparadas às de outros países emergentes?

Entre as instituições públicas de elite, dois fatores pesam contra a corrida pela produtividade: elas têm verbas garantidas e o grosso do dinheiro é distribuído sem considerar o relevo da produção científica de cada uma. O princípio do igualitarismo pode até soar bacana, mas contém em seu DNA uma armadilha perversa. Para que todos progridam no mesmo ritmo, o avanço de uns é refreado em função do passo mais lento de outros. Cadê a meritocracia? Nos Estados Unidos, as melhores universidades recebem mais recursos do que as de menor desempenho – e isso não é por acaso. É mérito.

Na última década, o governo federal incentivou a abertura de universidades com o intuito de fomentar certas regiões carentes de ensino de qualidade. Isso ajuda? 

É clara essa preocupação em espalhar universidades por todo o território brasileiro, sob o discurso do desenvolvimento regional, mas, para mim, isso significa desperdiçar dinheiro baixando o nível de todos. Sim, porque o dinheiro é finito e a pulverização dele impede os melhores de chegar a um patamar ainda mais alto.

Alguma coisa melhora no ensino superior brasileiro?

Temos centros de excelência já conectados com o mundo lá fora. Poderíamos ter muito mais competição, porém. O economista Edward Glaeser faz uma colocação muito interessante em um de seus livros quando diz que as universidades americanas não resvalaram para o corporativismo justamente porque tinham de competir urnas com as outras. No Brasil, nunca ouvi falar de uma turma de cientistas de um determinado centro de pesquisas preocupada em correr para superar o trabalho de outro grupo. Também não vejo ninguém consternado com o fato de que sua instituição não está entre as melhores do mundo nos rankings. A preocupação em gerar recursos adicionais, então, é algo mais raro ainda.

De quem e a culpa? 

Vejo claros problemas de gestão e governança nas universidades públicas. Meu pai foi sub-reitor da UFRJ e não se conformava com o aluguel baixíssimo que a universidade recebia do Canecão. Ele achava que tinha de vender a casa de shows, que assim entraria mais dinheiro no caixa. Mas as resistências internas a qualquer iniciativa que mexa na velha maneira de fazer as coisas são tão grandes que não se faz nada. A UFRJ tem instalações no Rio de Janeiro inteiro. Por que não vender uma parte, concentrar tudo numa mesma área e otimizar recursos? Ai entra uma série de interesses específicos. Tem até o grupo que diz: “Mas está bom assim; a universidade é do lado da minha casa”.

O forte elo entre universidades e empresas ajuda a explicar o alto poder inovador de muitos países. Como o Brasil está nessa área?

O Brasil vem melhorando, mas precisa romper de vez com uma ideologia antiga segundo a qual a parceria com o mercado é vista como ameaça à autonomia universitária. Bobagem. Todas as grandes instituições de ensino superior americanas recebem dinheiro de empresas e não se privam com isso de sua liberdade criativa. Ao contrário: são as maiores fornecedoras de prêmios Nobel do planeta. Se o pesquisador ficar isolado em sua torre de marfim, dificilmente produzirá conhecimento relevante. Mas percebo, inclusive pelas conversas dos alunos em minha escola, que surge no Brasil uma geração de mente mais aberta e empreendedora. Ela é essencial para a criação de um ecossistema favorável à inovação e à produção de riqueza.

Quais as características desse ecossistema?

Empreendedores, inovadores, academia, empresas e financiadores trabalhando juntos. São Paulo reúne condições para a criação disso, que se vê em ebulição em lugares como Boston e Tel-Aviv. Estamos falando de criar no Brasil uma cultura que tenha na produção de conhecimento seu maior valor.

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O ENADE é ideológico?

Nos últimos anos, já nos acostumamos com os problemas do ENEM. Primeiro, como sempre lembra o jornalista Elio Gaspari, o Ministério da Educação nunca conseguiu fazer duas provas do ENEM por ano como havia prometido há algum tempo. Segundo, tivemos alguns casos de fraudes com o ENEM, que parecem que foram solucionados. Terceiro, ano passado tivemos o escândalo da correção das redações, quando se descobriu que algumas redações receberam notas máximas apesar de erros de ortografia e concordância.
Agora, o presidente do INSPER, Claudio Haddad, nos brinda com uma entrevista nas páginas amarelas da Veja na qual mostra que ele, um PhD em economia por Chicago, errou metade das questões do ENADE que, segundo ele, é uma prova com forte conteúdo ideológico. O ENADE é o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes que tem o objetivo de aferir o rendimento dos alunos dos cursos de graduação em relação aos conteúdos programáticos, suas habilidades e competências. O exame faz parte do Sinaes (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior) e objetivo é avaliar a qualidade dos cursos de formação superior.
Reproduzo abaixo apenas o início da matéria da Veja para que os interessados comprem a revista. Um governo sério deveria convida-lo para se reunir com a cúpula do Ministério da Educação e com um painel de acadêmicos para discutir suas críticas. Quem fez essas críticas não foi alguém sem conhecimento de causa. Mas um profissional que montou uma das melhores faculdades de economia e administração do Brasil e vai montar um novo curso de engenharia.
Isso é um assunto muito sério. O que impressiona é que essa avaliação critica do ENADE não tenha sido feita pelo próprio Ministério da Educação. Para acabar com eventuais mal entendidos, o Congresso Nacional deveria fazer uma audiência pública sobre o assunto e chamar Claudio Haddad. A ver.
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