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terça-feira, 22 de junho de 2021

Os militares, de aprendizes de feiticeiro a trapalhões- Luis Costa Pinto

Plataforma Brasília, junho 22, 2021

Bolsonaro pressente deposição e reage: desconfia dos militares

Por Luís Costa Pinto

Plataforma Brasília, 22.06/2021

Augusto Heleno, general-de-Exército da reserva, chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, está fora de combate. Tomado por uma crise aguda de depressão clinicamente diagnosticada, submete-se a tratamento rigoroso. 
Com o comandante fora da trincheira do GSI, a coordenação da segurança presidencial foi entregue a militares com os quais Jair Bolsonaro não tem intimidade e que não gozam da confiança dos filhos do presidente. 
O vereador Carlos Bolsonaro, integrante do clã presidencial que mais se imiscui nos porões palacianos, foi o responsável indireto pela espoleta que fez o pai explodir qual pistola com bala de festim na última segunda-feira em Guaratinguetá (SP).
Tão logo saltou do veículo que o conduzia, Bolsonaro foi saudado por gritos de “genocida!”, “impeachment, já!”, “vacina no braço, comida no prato!”. Sempre aziago, o mal humor presidencial desandou de vez. Ele lançou um olhar enfurecido pelo oficial do GSI responsável pela segurança do evento e passou-lhe uma descompostura de fazer corar até alguns dos sem-vergonha que o acompanhavam (foi o caso da deputada federal Carla Zambelli e do prefeito do município do interior paulista).

A covardia do presidente 
Frouxo e covarde, com temor explícito às reações e reprimendas do general Heleno que, sabia, não viriam dado as condições clínicas do militar que comanda o GSI, o presidente então deu vezo às reclamações contra sua equipe: sabia que não haveria rebate pelo superior do militar a quem fora designada a missão de garantir sua segurança em Guaratinguetá.
Àquela altura, ele já fora informado que diversos veículos de imprensa tinham informações dando conta da compra de vacinas indianas Covaxin superfaturadas em 1.000% e o líder do governo, deputado Ricardo Barros (PP-PR) e assessores do ex-ministro Eduardo Pazuello haviam se envolvido diretamente no negócio. Não sabia, ainda, que o site Uol receberia mais tarde o vazamento de um relatório da Agência Brasileira de Informações (Abin, controlada por militares) levantando suspeitas sobre a fortuna e o rápido enriquecimento do amigo Luciano Hang, o grotesco dono das Lojas Havan.
Exalando o mau humor que lhe é peculiar e o azedume dos maus bofes que marcam a sua personalidade, Jair Bolsonaro explodiu contra os repórteres que improvisaram uma entrevista coletiva no corredor que era caminho único para seu evento no interior paulista. Sem guardar resquícios da compostura exigida para um Chefe de Estado, soltou impropérios contra a imprensa em geral e a Rede Globo e a TV CNN em particular (também lançou perdigotos ao léu, contra as repórteres encarregadas de cobrir o ato, ao tirar ilegalmente a máscara em meio a um acesso de ira quase animal).
No regresso ao comboio presidencial, o oficial do GSI destacado para coordenar aquele deslocamento da comitiva presidencial foi mais uma vez desancado como égua arisca nas mãos de capataz bêbado em estrebarias de fazendas de gado nos rincões de Goiás. 

Militares geram desconfiança
Bolsonaro desconfia cada dia mais dos militares que o cercam. E crê ter muitas razões de sobrar para manter acesas tais suspeições.
Um dos catalisadores dos acessos de cólera do presidente é seu vice, o general da reserva Hamilton Mourão. Nos últimos cinco dias, em pelo menos três pronunciamentos públicos, Mourão deixou claro que não é ouvido pelo titular da chapa por meio da qual galgou à vice-presidência. A um interlocutor comum dele e do cabeça-de-chapa de 2018 disse que não há “nosso governo”. Haveria, sim, um “governo dele (Bolsonaro)”. Os erros e descaminhos da gestão, portanto, seriam frutos exclusivos das escolhas e das companhias do presidente da República.
Jair Bolsonaro sabe que não era a primeira opção dos militares na última eleição. Organizados nos Clubes Militares, os oficiais da reserva até denotavam uma preferência por eles. Mas, além de não terem voz ativa, eram minoria. Liderados pelos generais Sérgio Etchegoyen, Eduardo Villas-Boas e Silva e Luna, os quarteis do Exército não escondiam desconforto pelo primarismo de Bolsonaro. Torciam pela decolagem, na campanha, de nomes como Geraldo Alckmin, João Amoedo e até Luciano Huck (que refugou no lançamento de sua candidatura).
A greve dos caminhoneiros de maio de 2018, episódio que terminou de derrubar quaisquer aspirações de Michel Temer a sair um pouco melhor do Palácio do Planalto depois de ter usurpado a cadeira presidencial entrando pela porta dos fundos na sede de governo, pôs os militares definitivamente na mediação da crise política nacional. Bolsonaro cresceu naquele momento, disseminou o próprio nome entre os grevistas, mas, não foi ali que se converteu na alternativa militar. 
Disputando pelo obscuro PSL, Jair Bolsonaro só passou a ser o “Plano Único” dos estrategistas fardados depois do episódio do atentado a faca do qual foi vítima em Juiz de Fora (MG). Divisor de águas no curso da campanha e responsável por determinar uma guinada patética da cobertura da mídia no processo eleitoral, a conversão do atual presidente em “vítima” do sistema (algo que nunca foi, muito pelo contrário) concedeu ao seu nome um verniz de outsider. Era um falso brilhante. O verniz, contudo, foi decisivo para a vitória. 

Generais manobraram a Justiça
Sérgio Etchegoyen, chefe do Gabinete de Segurança Institucional de Temer, e Eduardo Villas-Boas, chefe do Estado Maior do Exército sob Dilma e que seguiu no posto após o golpe jurídico/parlamentar/classista que apeou a ex-presidente porque serviu à construção do enredo golpista, foram personagens ativos na ascensão eleitoral de Bolsonaro em 2018 no curso de uma campanha assimétrica. 
Etchegoyen entrincheirou-se no Tribunal Superior Eleitoral e, em reuniões nas quais inflava o clima de conspiração e de conflagração nos quarteis, açulou os ministros da Corte eleitoral a concederem benefícios de campanha a Bolsonaro – tais como dar uma entrevista individual à TV Record no mesmo dia e hora do derradeiro debate entre os candidatos no primeiro turno. 
Alegando mal-estar, Bolsonaro recusara o convite para o debate. No segundo turno, o TSE, por meio de uma decisão do então ministro Admar Gonzaga, permitiu que todos os debates fossem cancelados, no lugar de terem sido convertidos em entrevistas. O candidato apoiado explicitamente pelos militares transformou sua campanha em notas oficiais lidas em off pelos telejornais, ausentando-se do debate de ideias e do cotejamento de propostas. 
A urdidura de Etchegoyen teve o auxílio vergonhoso de Admar Gonzaga, então ministro do TSE que havia sido advogado de Carlos Bolsonaro e deixou o tribunal por lhe terem sido impostas contingências da Lei da Maria da Penha (foi acusado de agredir a esposa). Ao deixar o TSE, Gonzaga virou advogado e secretário-geral do grupo que tenta criar um partido para Bolsonaro. 
Villas-Boas, como é público e notório, é réu confesso do crime de ameaça ao Supremo Tribunal Federal. Em dois tuítes, na véspera de a Corte Suprema decidir sobre a possibilidade, ou não, de o ex-presidente Lula disputar a Presidência (ele era o favorito naquele momento em todas as pesquisas pré-eleitorais do pleito de 2018), o então Comandante Geral do Exército soprou eflúvios de veneno golpista e de interrupção da construção democrática brasileira caso o STF não tirasse Lula da corrida eleitoral. Acovardados, os ministros do Supremo acolheram a chantagem militar.

Os comandantes foram ingênuos?
Ouriçados com a vitória do pupilo, os comandantes militares das três forças estavam crentes na capacidade que teriam para tutelar a criatura primária, de rala formação moral e escasso preparo intelectual, que se elegera. 
Péssimos estrategistas, os integrantes da cúpula militar estavam enganados. Na melhor das hipóteses, foram ingênuos em demasia. Ninguém tutela um presidente da República eleito com 54 milhões de votos, tampouco uma personalidade deformada como a de Jair Bolsonaro. Ele é um ser acometido de possessões diárias da “Síndrome da Pequena Autoridade”, os mesmos desvios de caráter e de conduta que se verificam nos famosos “guardas da esquina” nos processos de ascensão de regime nazi-fascistas.
Quanto mais reivindica lealdade dos militares a seu projeto de poder personalista, dando pistas de que não se resignará a uma derrota nas urnas de 2022 que parece iminente e óbvia a dezesseis meses do pleito, mais distante Bolsonaro fica da meta almejada de reunir o consenso das Forças Armadas a si. 
Tendo cruzado o rubicão da política e aberto os portões dos quarteis para um debate franco em torno de opções eleitorais – o que é descabido e impensável entre militares profissionalizados e ciosos do papel de garantidores da Constituição que detêm – os atuais comandantes das três forças desejam se manter influentes e afluentes no poder. Contudo, sabem que o caminho tomado por Bolsonaro inviabiliza da manutenção do Brasil no rol das nações consideradas democracias institucionais maduras.
Não passa pela cabeça nem pela prancheta dos comandos militares brasileiros quaisquer tipos de golpes tradicionais como o de 1964. Há uma janela aberta, com fresta exígua, para um golpe parlamentar como o de 2016 que depôs Dilma Rousseff sem crime de responsabilidade – fazer o presidente da Câmara, Arthur Lira, mudar de lado nos próximos meses e aceitar um pedido de impeachment. 
Um impeachment clássico (razões e crimes de responsabilidade não faltam no prontuário de Bolsonaro) é o melhor caminho para conservar o esmalte “democrático” do Brasil no exterior e dar margem e poder de manobra para o vice Hamilton Mourão convocar um breve governo de “conciliação e união” do centro à direita e tentar se viabilizar candidato ou inventar uma chapa “liberal-democrática” com seu apoio nos moldes do que foi construído pela dupla Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso em 1994. 

Bolsonaro e “O Retrato de Dorian Gray
No momento, uma certeza dilacera os militares que colaram suas reputações e seus projetos pessoais em Jair Bolsonaro: ele perde a eleição para qualquer um em 2022 e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, é o favorito em todos os cenários pré-eleitorais. 
Na caserna, não se crê em recuperação da economia, muito menos no programa de privatizações vendido pelo ministro Paulo Guedes como panaceia – espécie de cloroquina econômica. Só ao custo de uma divisão inédita dos comandos militares as Forças Armadas perfilariam a favor de uma aventura de não reconhecimento do resultado do pleito presidencial. 
A imagem de Jair Messias Bolsonaro afixada nas fotos oficiais dos QGs brasileiros assemelha-se, a cada dia que passa, ao retrato de Dorian Gray, no romance homônimo do escritor e dramaturgo britânico Oscar Wilde. 
Assim como o personagem de Wilde, Bolsonaro vendeu sua alma aos comandantes militares e firmou uma profissão de fé de que seriam felizes juntos e para sempre no comando do País. Contudo, ao se descobrir Presidente, acreditou ser onipotente e deixou vazar os matizes mais grotescos e bizarros de sua alma deformada. Assustados com as perversões que ajudaram a implantar no Palácio do Planalto e envergonhados com a péssima figura externa que o Brasil faz hoje no mundo, os chefes das Forças Armadas querem apagar a foto e exorcizar a culpa que têm por terem-na encomendado. Dar cabo dessa missão, entretanto, é tarefa para um Estadista – e não há biografias disponíveis no espectro de direita com tamanha envergadura para suportar a dimensão desse adjetivo superlativo.

LUÍS COSTA PINTO

LUÍS COSTA PINTO

Luís Costa Pinto, 52. Jornalista profissional desde 1990. Começou como estagiário no Jornal do Commercio, do Recife. Foi repórter-especial, editor, editor-executivo e chefe de sucursal (Recife e Brasília) de publicações como Veja, Época, Folha de S Paulo, O Globo e Correio Braziliense. Saiu das redações em agosto de 2002 para se dedicar a atividades de consultoria e análise política. Recebeu os prêmios Líbero Badaró e Esso de Jornalismo em 1992. Prêmio Jabuti de livro-reportagem em 1993. Diversos prêmios "Abril" de reportagem. É autor dos livros "Os Fantasmas da Casa da Dinda", "As Duas Mortes de PC Farias" e "Trapaça - Saga Política no Universo Paralelo Brasileiro" que já tem dois volumes lançados e o volume 3 está em fase de edição.

domingo, 6 de junho de 2021

Militares se dobram a Bolsonaro - Daniel Carvalho, Ricardo Della Coletta (FSP)

 Sob Bolsonaro, militares vão de moderadores a controlados por presidente

Depois da demissão do general Fernando Azevedo do Ministério da Defesa, ingerência de mandatário sobre Forças Armadas ficou mais evidente

Daniel CarvalhoRicardo Della ColettaFolha de S. Paulo, 5/06/2021
BRASÍLIA

Se no início do governo Jair Bolsonaro os militares espalhados pelo primeiro escalão serviam como um anteparo para conter o radicalismo gestado no gabinete do ódio e nos braços ideológicos da gestão federal, a situação mudou dois anos depois.

Há quem perdeu a força ou até mesmo o cargo, enquanto outros militares se aproximaram do bolsonarismo e do jogo político conduzido pelo presidente. Tanto que alguns ganharam de colegas de farda um apelido: "generais do centrão".

O movimento permitiu que as Forças Armadas passassem a sofrer uma interferência política cada vez maior —evidenciando que quem manda é Bolsonaro— a despeito da hierarquia e das regras tão caras aos militares.

O principal sinal de enfraquecimento militar até então havia sido, no fim de março, a demissão do general Fernando Azevedo e Silva do Ministério da Defesa. A troca na pasta resultou na saída dos comandantes das três Forças, coroando a maior crise militar desde 1977.

Nos últimos dias, porém, a ingerência de Bolsonaro sobre os militares foi além.

Na quinta-feira (3), o comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, aceitou a pressão do mandatário ao decidir livrar o general da ativa Eduardo Pazuello de qualquer punição por ter participado de um ato político ao lado do presidente.

Além disso, Pazuello ainda ganhou o cargo de secretário de Estudos Estratégicos da Secretaria de Assuntos Estratégicos, vinculada à Presidência da República. Ao levá-lo para um posto no Planalto, Bolsonaro deixou ainda mais claro que não aceitaria castigo para o ex-ministro.

Diante do desfecho produzido pelo presidente, muitos integrantes da cúpula das Forças Armadas que defendiam uma punição para Pazuello protagonizaram um contorcionismo retóricopara não se opor à decisão forçada por Bolsonaro —ou evitaram se manifestar em condição de anonimato, ao contrário do que fizeram nos últimos dias.

Defensor da punição, o vice-presidente Hamilton Mourão foi passar o feriado no Rio de Janeiro e, questionado pela Folha, não comentou o caso.

general da reserva Carlos Alberto dos Santos Cruz, demitido cargo de ministro da Secretaria de Governo em junho de 2019, disse em uma rede social que não estava falando com jornalistas por vergonha.

"É uma desmoralização para todos nós. Houve um ataque frontal à disciplina e à hierarquia, princípios fundamentais à profissão militar. Mais um movimento coerente com a conduta do presidente da República e com seu projeto pessoal de poder. A cada dia ele avança mais um passo na erosão das instituições", afirmou.

General Santos Cruz
na sexta

VERGONHA!

Ontem, 3 de junho de 2021, fui surpreendido com telefonemas e mensagens de dezenas de jornalistas sobre o encerramento do caso Pazuello. Em atenção ao trabalho que fazem, sempre respondo, mesmo que seja para informar que nada tenho a dizer. Mas ontem eu não disse nada. Por vergonha.

Por formação, me nego a fazer qualquer consideração sobre a decisão.

Sobre o conjunto dos fatos, é uma desmoralização para todos nós. 
Houve um ataque frontal à disciplina e à hierarquia, princípios fundamentais à profissão militar. Mais um movimento coerente com a conduta do Presidente da República e com seu projeto pessoal de poder. A cada dia ele avança mais um passo na erosão das instituições. 

Falta de respeito pessoal, funcional e institucional. Desrespeito ao Exército, ao povo e ao Brasil. Frequentemente, com sua conduta pessoal, ele procura desrespeitar, desmoralizar pessoas e enfraquecer instituições.

Não se pode aceitar a SUBVERSÃO da ordem, da hierarquia e da disciplina no Exército, instituição que construiu seu prestígio ao longo da história com trabalho e dedicação de muitos.
Péssimo exemplo para todos. Péssimo para o Brasil. 
À irresponsabilidade e à demagogia de dizer que esse é o "meu exército", eu só posso dizer que o "seu exército" NÃO É O EXÉRCITO BRASILEIRO. Este é de todos os brasileiros. É da nação brasileira.

A politização das Forças Armadas para interesses pessoais e de grupos precisa ser combatida. É um mal que precisa ser cortado pela raiz. 

Independente de qualquer consideração, a UNIÃO de todos os militares com seus comandantes continua sendo a grande arma para não deixar a política partidária, a politicagem e o populismo entrarem nos quartéis.

Carlos Alberto dos Santos Cruz”


Entre congressistas, o ato do comandante do Exército foi visto como mais uma mancha na imagem da instituição e elevou o temor de que ele abra as portas para possibilidade de anarquia nos quartéis.

O cenário atual em que os militares deixaram de ser uma força moderadora e passaram a ser controlados por Bolsonaro, que já usou diversas vezes a expressão "meu Exército", contrasta com episódios registrados no início do governo ou mesmo na campanha.

​​Quando Bolsonaro ainda era candidato, no Rio de Janeiro, o general da reserva Augusto Heleno(atual ministro da Segurança Institucional) já era conhecido como uma das mentes por trás da campanha.

Na transição em Brasília, o militar também tinha papel de destaque, quando atuava para conter os influenciadores ideológicos mais radicais do presidente, como o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ).

O papel também era atribuído a outros fardados que se juntaram a Bolsonaro no governo, como Santos Cruz, Azevedo e Hamilton Mourão.

Depois, ingressaram no grupo os generais Luiz Eduardo Ramos, que foi para a reserva somente quando já era ministro da Secretaria de Governo —hoje ele está na Casa Civil— e Walter Braga Netto, que migrou da Casa Civil para a Defesa quando da demissão de Azevedo.

O núcleo militar do governo, como os fardados eram conhecidos, vivia em constante cabo de guerra com o grupo apelidado de ala ideológica, formada por seguidores do escritor Olavo de Carvalho.

Em alguns episódios, os militares fizeram valer sua vontade.

Ainda em fevereiro de 2019, em meio ao aumento de tensão entre com o ditador Nicolás Maduro, os conselheiros militares conseguiram convencer Bolsonaro a escalar Mourão como chefe de uma delegação que participou de uma conferência sobre a crise venezuelana em Bogotá.

À época, Maduro havia recém-fechado a fronteira da Venezuela com o Brasil, em retaliação à autorização dada pelo governo brasileiro para que opositores venezuelanos usassem Roraima como base para envio de ajuda humanitária. A escalação de Mourão foi vista como uma tentativa de reduzir as tensões.

Em outra vitória do grupo militar, ainda no início da gestão Bolsonaro, o então ministro Santos Cruz, da Secretaria de Governo, conseguiu articular a demissão de dois aliados do chanceler Ernesto Araújo da diretoria da Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos).

A agência vinha passando por uma série de crises desde o início do governo.

O êxito de Santos Cruz, no entanto, foi breve. Cerca de um mês depois, ele foi demitido por Bolsonaro da pasta que ocupava, após atritos com o vereador filho do presidente.

Mourão, por sua vez, foi acionado em outra ocasião para tentar servir como força moderadora e pragmática frente à agenda bolsonarista.

Diante do aumento da pressão internacional contra a agenda ambiental do governo, Bolsonaro indicou seu vice para coordenar o Conselho da Amazônia. Mourão comanda uma estrutura cada vez mais esvaziada, e Bolsonaro tem respaldado o ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente) em conflitos recentes com o vice.

Nas demais questões, Mourão nem sequer é consultado e já sabe que não integrará a chapa de Bolsonaro pela reeleição. Ambientado na política, pretende disputar uma cadeira no Senado pelo Rio Grande do Sul em 2022.

Outros generais do primeiro escalão, por sua vez, se aproximaram do ambiente político.

Com bem menos influência, Heleno chegou a dizer que mudou a opinião que tinha sobre o centrão. O grupo era rejeitado por Bolsonaro na campanha e hoje dá sustentação ao governo no Congresso.

Ramos aumentou sua proximidade com a política no período em que esteve à frente da Secretaria de Governo. Muito próximo a Bolsonaro, promoveu rearranjos e hoje é uma das principais vozes que defendem as ingerências de Bolsonaro nos assuntos militares.

Em fevereiro do ano passado, garantiu a saída de Onyx Lorenzoni da Casa Civil e trouxe para a posição seu amigo Braga Netto. Em março, coordenou a dança das cadeiras que trocou os titulares de seis pastas.

Já Braga Netto, ao assumir a Defesa, deixou de lado o perfil discreto que tinha e passou a discursar a militantes do presidente e a acompanhar o mandatário em passeios de moto em agendas extraoficiais.​