Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;
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segunda-feira, 16 de dezembro de 2013
Carlos Rangel: o mito perverso do bom revolucionario latino-americano (grato a Orlando Tambosi)
domingo, 10 de novembro de 2013
Primeira Guerra Mundial: dez mitos - Le Monde
Pour en finir avec dix idées reçues sur la guerre de 14-18
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
Contra a mentira e a manipulacao - Ruth Rocha
Uma grande escritora e uma grande personalidade. Gostaria de ter o dom que ela tem para escrever de forma simples e descomplicada. Infelizmente não tenho, e meus leitores são obrigados a conviver com a minha prolixidade horrível no estilo da escrita, frases longas demais, apostos, complementos, enfim, esses monstros metafisicos que poluem o meu texto e fazem alguns leitores desistir de me ler.
O que vou fazer? Eu não nasci Ruth Rocha e não aprendi a escrever como ela. Ruim para mim.
No meio do meu caminho, tinha várias pedras, claro, mas também tinha uma coisa chamada Escola Paulista de Sociologia, que comecei a ler desde muito cedo. Aí, infelizmente, fiquei com esse jeito florestânico de escrever que é uma praga de construção verbal, um estilo horrendo e prolixo, justamente.
Mais, passons.
Não comecei a escrever este post para falar de estilos literários.
Atualmente andamos mal de estilos, com um sujeitinho que polui o ambiente com suas frases estropiadas e seu estilo que não tem nem nome: é dele só, e espero que nos livremos rapidamente, pois já não aguento mais ler ou ouvir esse estilo se espalhando nas minhas notícias.
Mais, passons, à nouveau...
O que eu queria era simplesmente transcrever um texto da Ruth Rocha, que achei digno e necessário. Elegante, educado, mas firme e decidido.
Ela está nesse jogo por algo maior do que a escolha de um (ou uma) candidato(a). Ela pretende, como eu, simplesmente defender a verdade, ser contra as manipulações da história, e ser independente.
Comme il faut...
Paulo Roberto de Almeida
Carta à candidata Dilma
Ruth Rocha
Meu nome foi incluído no manifesto de intelectuais em seu apoio. Eu não a apóio. Incluir meu nome naquele manifesto é um desaforo! Mesmo que a apoiasse, não fui consultada. Seria um desaforo da mesma forma. Os mais distraídos dirão que, na correria de uma campanha... “acontece“. Acontece mas não pode acontecer. Na verdade esse tipo de descuido revela duas coisas: falta de educação e a porção autoritária cada vez mais visível no PT. Um grupo dominante dentro do partido que quer vencer a qualquer custo e por qualquer meio.
Acho que todos sabem do que estou falando.
O PT surgiu com o bom sonho de dar voz aos trabalhadores mas embriagou-se com os vapores do poder. O partido dos princípios tornou-se o partido do pragmatismo total. Essa transformação teve um “abrakadabra” na miserável história do mensalão . Na época o máximo que saiu dos lábios desmoralizados de suas lideranças foi um débil “os outros também fazem...”. De lá pra cá foi um Deus nos acuda!
Pena. O PT ainda não entendeu o seu papel na redemocratização brasileira. Desde a retomada da democracia no meio da década de 80 o Brasil vem melhorando; mesmo governos contestados como os de Sarney e Collor (estes, sim, apóiam a sua candidatura) trouxeram contribuições para a reconstrução nacional após o desastre da ditadura.
Com o Plano Cruzado, Sarney tentou desatar o nó de uma inflação que parecia não ter fim. Não deu certo mas os erros do Plano Cruzado ensinaram os planos posteriores cujos erros ensinaram os formuladores do Plano Real.
É incrível mas até Collor ajudou. A abertura da economia brasileira, mesmo que atabalhoada, colocou na sala de visitas uma questão geralmente (mal) tratada na cozinha.
O enigmático Itamar, vice de Collor, escreveu seu nome na história econômica ao presidir o início do Plano Real. Foi sucedido por FHC, o presidente que preparou o país para a vida democrática. FHC errou aqui e ali. Mas acertou de monte. Implantou o Real, desmontou os escombros dos bancos estaduais falidos, criou formas de controle social como a lei de responsabilidade fiscal, socializou a oferta de escola para as crianças. Queira o presidente Lula ou não, foi com FHC que o mundo começou a perceber uma transformação no Brasil.
E veio Lula. Seu maior acerto contrariou a descrença da academia aos planos populistas. Lula transformou os planos distributivistas do governo FHC no retumbante Bolsa Família. Os resultados foram evidentes. Apesar de seu populismo descarado, o fato é que uma camada enorme da população foi trazida a um patamar mínimo de vida.
Não me cabem considerações próprias a estudiosos em geral, jornalistas, economistas ou cientistas políticos. Meu discurso é outro: é a democracia que permite a transformação do país. A dinâmica democrática favorece a mudança das prioridades. Todos os indicadores sociais melhoraram com a democracia. Não foi o Lula quem fez. Votando, denunciando e cobrando foi a sociedade brasileira, usando as ferramentas da democracia, quem está empurrando o país para a frente. O PT tem a ver com isso. O PSDB também tem assim como todos os cidadãos brasileiros. Mas não foi o PT quem fez, nem Lula, muito menos a Dilma. Foi a democracia. Foram os presidentes desta fase da vida brasileira. Cada um com seus méritos e deméritos. Hoje eu penso como deva ser tratada a nossa democracia. Pensei em três pontos principais.
1) desprezo ao culto à personalidade;
2) promoção da rotação do poder; nossos partidos tendem ao fisiologismo. O PT então...
3) escolher quem entenda ser a educação a maior prioridade nacional.
Por falar em educação. Por favor, risque meu nome de seu caderno. Meu voto não vai para Dilma.
SP, 25/10/2010
Ruth Rocha, escritora
http://oglobo.globo.com/pais/noblat/
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Addendum (necessário), mas emprestado de um colega de lista:
Entrei no blog do Noblat, para ler os comentários sobre a carta da Ruth Rocha, e fiquei estarrecido. Apesar de não ter lido todos (já são mais de 100), constatei que há dezenas de comentários destratando a Ruth Rocha como se ela fosse uma bandida por se queixar do uso indevido de sua assinatura. As pessoas perderam completamente a noção do que é certo, do que é decência. Antigamente, um peão de fazenda analfabeto sabia que não se pode agir assim com alguém, atentando contra a sua vontade, tanto que palavra dada era documento. Hoje, depois de meio século de pregação esquerdizante, a honradez individual foi assassinada — só existe a tal "ética" do grupo, de quem grita mais alto. O problema do Brasil já não é mais político — é civilizacional. Estamos chafurdando na barbárie.
Comento eu (PRA):
De fato, eu também me dou ao hábito, que me toma um tempo indevido em face de minhas leituras e outras obrigações, de ler comentários de leitores, cartas de leitores nos jornais impressos, ou mensagens enviadas no seguimento de uma coluna ou matéria postada num site ou blog.
Confesso que fico estarrecido. As cartas em jornais são filtradas, e portanto evitam a linguagem chula, as expressões ofensivas, os exemplos mais deletérios de paixões incontidas. Já não é o caso das mensagens não moderadas dessas matérias de jornal ou colunas assinadas em blogs: é inacreditável como a educação se degradou no Brasil.
Além de palavrões escabrosos, que apenas revelam a indigência mental de seus autores, existem argumentos tão raivosamente enviesados que me confirmam, sim, que o Brasil está irremediavelmente dividido entre os a favor ou contra este ou aquele candidato. A violência verbal é tamanha que me faz imaginar um desses enfrentamentos reais, caso a oportunidade se apresente, similar às brigas de gangues de torcidas organizadas de futebol, um exemplo supremo de que, como naqueles países dominados por tribos fanatizadas por alguma crença qualquer, também temos nossos energúmenos para provocar mortes e destruição.
Infelizmente, parece que vamos continuar descendo na escala da civilização, o que é triste, muito triste.
PRA (28.10.2010)
quinta-feira, 15 de abril de 2010
2022) A parabola do samaritano, revisitada, e novamente corrigida
terça-feira, 13 de abril de 2010
2096) Efeitos nefastos do Bolsa Familia sobre o mercado de trabalho
que provocou certa polêmica, como se pode constatar pela fileira de comentários a ele anexa,
mandou-me esta singela parábola adaptada ao seu gosto:
José Marcos deixou um novo comentário sobre a sua postagem "2096) Efeitos nefastos do Bolsa Familia sobre o me...":
A PARÁBOLA DO BOM SAMARITANO REVISITADA
Descia um homem de Manari para Maceió, e caiu desfalecido, meio morto, em virtude da fome e do inclemente calor do sertão nordestino. E, ocasionalmente, descia pelo mesmo caminho certo empresário; e, vendo-o, passou de largo. E de igual modo também um banqueiro, chegando àquele lugar, e, vendo-o, passou de largo. Mas um alto funcionário público, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão; com seu telefone celular, convocou um carro-pipa para aplacar a sede do infeliz; em seguida, inscreveu-o num programa assistencial do governo para combater a fome. Ao ver as ações que o alto funcionário público tomara, o empresário e o banqueiro ficaram profundamente indignados. Foram tomar-lhe satisfações, alegando que ele estava gastando o dinheiro dos impostos de forma irresponsável, sem uma contrapartida de prestação de serviços. Acrescentaram que tal assistencialismo contribuiria apenas para produzir indolentes e refratários ao trabalho. Tomaram, então, os benefícios que o alto funcionário público havia dado ao homem que caíra no caminho. Decorridos alguns dias, o homem tornou novamente a cair na estrada de Manari para Maceió. Dessa vez, não mais se levantou do lugar.
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Volto a comentar (PRA):
Eu acho que ele errou ligeiramente na parábola, por isso me permito corrigi-la (e corrigi-lo):
A NOVA PARABOLA DO SAMARITANO (versão corrigida e atualizada)
Estavam 44 milhões de brasileiros, à beira da estrada, desfalecidos, desnutridos, quase mortos de fome, sob o sol inclemente, chuvas torrenciais, bandidos salteadores, políticos desprezíveis, enfim, mais de 9 milhões de famílias absolutamente desprovidas de meios para se alimentar dignamente, e que esperavam pelo seu salvador há 500 anos.
Nunca antes neste país alguém havia se preocupado com eles. E ali estavam os 44 milhões de brasileiros prestes a morrer de fome.
Passavam por eles banqueiros, capitalistas, políticos do PSDB, do DEM, coronéis do Nordeste, funcionários do Banco Mundial, do FMI, da ONU, do Vaticano, todo esse bando de privilegiados, e deixavam os 44 milhões de brasileiros entregues à sua própria sorte, condenados a morrer de fome, se não fosse uma aparição repentina.
Foi aí, então, que em 2003, quando a história começou nestepaiz, que um Salvador, filho de Deus (quem sabe até o próprio), saído dos grotões de Pernambuco, para caçar rato e passar fome em SP, mas que depois engordou um bocadinho, foi aí que este anjo salvador criou o Bolsa Família -- com um pouco de know-how tucano, mas isso não é para ser dito nesta parábola tão exemplar -- e começou a encher o programa de gente pobre, saídos das listas das prefeituras (algumas controladas por coronéis, que maldosamente também incluiam suas cunhadas, o gato e o cachorro no programa) e salvos milagrosamente de morrer de fome pela mão do divino redentor.
E foi assim que 44 milhões de brasileiros famintos puderam comer.
Como o divino redentor não tinha meios próprios para alimentá-los, ele foi pedir ao maldito agribusiness que aumentasse a sua produtividade e passasse a fornecer uma quantidade maior de alimentos.
Sim, o divino redentor não contava que todos aqueles miseráveis que antes sobreviviam de agricultura de subsistência, de xepa na feira, de pequenos trabalhos no mercado informal, parariam de trabalhar apenas para serem acolhidos pela graça divina de receberem dinheiro do Bolsa-Família e assim poderem ir na feira, na quitanda, no empório, no supermercado, e comprar seu alimento.
Mas, como antes eles viviam de sistemas de subsistência, houve uma diminuição do trabalho e do fornecimento de produtos desses setores informais.
Se não fosse o extremo dinamismo da agricultura capitalista no Brasil, o Bolsa-Família teria tido efeitos inflacionários e de desequilíbrio entre a oferta e a procura, o que foi contornado pelo tremendo potencial da agricultura moderna no Brasil (e isso a despeito de um bando de energúmenos que insistiam em bloquear as possibilidades de o agronegócio aumentar sua produção, com invasão de propriedades, destruição de culturas, de equipamentos e toda a sorte de abusos).
Foi assim que o divino redentor conseguiu alimentar todo aquele povo.
Mas antes precisa ser dito outra coisa.
Se ele não tivesse colocado mais impostos e contribuições sobre os empresários, sobre a classe média e sobre o povo trabalhador em geral, ele JAMAIS teria conseguido o dinheiro para dar para aqueles 44 milhões de famélicos, que corriam o risco iminente de morrer de fome, não fosse sua genial e divina intervenção.
E assim foi a história verdadeira do bom samaritano, que de samaritano não tem nada, sendo apenas uma aliado de velhos e novos coronéis, para manter o povo humilde na dependência da assistência pública, com propósitos claramente eleitorais.
E tem gente que ouve uma outra versão da parábola e ainda pensa que o mundo é feito de milagres e de divinos redentores...
Pela nova versão da parábola:
Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 16.04.2010)