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terça-feira, 25 de outubro de 2011

Teorias conspiratorias: a confirmacao que faltava...

Você ainda estava em dúvida sobre se as multinacionais -- especialmente as do setor financeiro, o mais cruel de todos -- realmente dominam o mundo, determinam a sua vida (e até dão uma espiada em seus segredos sem o seu consentimento) e conspiram para que você sempre fique prisioneiro de seus tentáculos malévolos e pague sempre para maior lucro e glória delas mesmas?
Não tenha mais dúvidas, aqui está a comprovação: a rede capitalista que a tudo açambarca, a tudo abraça, tudo embarca nos seus porões secretos, e nos emborca no abismo infinito das perdições consumistas, devidamente comprovada por pesquisadores sérios, cientistas do mais alto gabarito, que confirmam, enfim, as piores suspeitas dos paranoicos de sempre.
Fique tranquilo, o mundo não vai acabar: outras multinacionais surgirão...
Paulo Roberto de Almeida


Matemáticos revelam rede capitalista que domina o mundo
Da New Scientist - 22/10/2011
Visão crítica: Revelada a rede capitalista que domina o mundo
Este gráfico mostra as interconexões entre o grupo de 1.318 empresas transnacionais que formam o núcleo da economia mundial. O tamanho de cada ponto representa o tamanho da receita de cada uma.[Imagem: Vitali et al.]
Além das ideologias
Conforme os protestos contra o capitalismo se espalham pelo mundo, os manifestantes vão ganhando novos argumentos.
Uma análise das relações entre 43.000 empresas transnacionais concluiu que um pequeno número delas - sobretudo bancos - tem um poder desproporcionalmente elevado sobre a economia global.
A conclusão é de três pesquisadores da área de sistemas complexos do Instituto Federal de Tecnologia de Lausanne, na Suíça.
Este é o primeiro estudo que vai além das ideologias e identifica empiricamente essa rede de poder global.
"A realidade é complexa demais, nós temos que ir além dos dogmas, sejam eles das teorias da conspiração ou do livre mercado," afirmou James Glattfelder, um dos autores do trabalho. "Nossa análise é baseada na realidade."
Rede de controle econômico mundial
A análise usa a mesma matemática empregada há décadas para criar modelos dos sistemas naturais e para a construção de simuladores dos mais diversos tipos. Agora ela foi usada para estudar dados corporativos disponíveis mundialmente.
O resultado é um mapa que traça a rede de controle entre as grandes empresas transnacionais em nível global.
Estudos anteriores já haviam identificado que algumas poucas empresas controlam grandes porções da economia, mas esses estudos incluíam um número limitado de empresas e não levavam em conta os controles indiretos de propriedade, não podendo, portanto, ser usados para dizer como a rede de controle econômico poderia afetar a economia mundial - tornando-a mais ou menos instável, por exemplo.
O novo estudo pode falar sobre isso com a autoridade de quem analisou uma base de dados com 37 milhões de empresas e investidores.
A análise identificou 43.060 grandes empresas transnacionais e traçou as conexões de controle acionário entre elas, construindo um modelo de poder econômico em escala mundial.
Poder econômico mundial
Refinando ainda mais os dados, o modelo final revelou um núcleo central de 1.318 grandes empresas com laços com duas ou mais outras empresas - na média, cada uma delas tem 20 conexões com outras empresas.
Mais do que isso, embora este núcleo central de poder econômico concentre apenas 20% das receitas globais de venda, as 1.318 empresas em conjunto detêm a maioria das ações das principais empresas do mundo - as chamadas blue chipsnos mercados de ações.
Em outras palavras, elas detêm um controle sobre a economia real que atinge 60% de todas as vendas realizadas no mundo todo.
E isso não é tudo.
Super-entidade econômica
Quando os cientistas desfizeram o emaranhado dessa rede de propriedades cruzadas, eles identificaram uma "super-entidade" de 147 empresas intimamente inter-relacionadas que controla 40% da riqueza total daquele primeiro núcleo central de 1.318 empresas.
"Na verdade, menos de 1% das companhias controla 40% da rede inteira," diz Glattfelder.
E a maioria delas são bancos.
Os pesquisadores afirmam em seu estudo que a concentração de poder em si não é boa e nem ruim, mas essa interconexão pode ser.
Como o mundo viu durante a crise de 2008, essas redes são muito instáveis: basta que um dos nós tenha um problema sério para que o problema se propague automaticamente por toda a rede, levando consigo a economia mundial como um todo.
Eles ponderam, contudo, que essa super-entidade pode não ser o resultado de uma conspiração - 147 empresas seria um número grande demais para sustentar um conluio qualquer.
A questão real, colocam eles, é saber se esse núcleo global de poder econômico pode exercer um poder político centralizado intencionalmente.
Eles suspeitam que as empresas podem até competir entre si no mercado, mas agem em conjunto no interesse comum - e um dos maiores interesses seria resistir a mudanças na própria rede.
As 50 primeiras das 147 empresas transnacionais super conectadas
  1. Barclays plc
  2. Capital Group Companies Inc
  3. FMR Corporation
  4. AXA
  5. State Street Corporation
  6. JP Morgan Chase & Co
  7. Legal & General Group plc
  8. Vanguard Group Inc
  9. UBS AG
  10. Merrill Lynch & Co Inc
  11. Wellington Management Co LLP
  12. Deutsche Bank AG
  13. Franklin Resources Inc
  14. Credit Suisse Group
  15. Walton Enterprises LLC
  16. Bank of New York Mellon Corp
  17. Natixis
  18. Goldman Sachs Group Inc
  19. T Rowe Price Group Inc
  20. Legg Mason Inc
  21. Morgan Stanley
  22. Mitsubishi UFJ Financial Group Inc
  23. Northern Trust Corporation
  24. Société Générale
  25. Bank of America Corporation
  26. Lloyds TSB Group plc
  27. Invesco plc
  28. Allianz SE 29. TIAA
  29. Old Mutual Public Limited Company
  30. Aviva plc
  31. Schroders plc
  32. Dodge & Cox
  33. Lehman Brothers Holdings Inc*
  34. Sun Life Financial Inc
  35. Standard Life plc
  36. CNCE
  37. Nomura Holdings Inc
  38. The Depository Trust Company
  39. Massachusetts Mutual Life Insurance
  40. ING Groep NV
  41. Brandes Investment Partners LP
  42. Unicredito Italiano SPA
  43. Deposit Insurance Corporation of Japan
  44. Vereniging Aegon
  45. BNP Paribas
  46. Affiliated Managers Group Inc
  47. Resona Holdings Inc
  48. Capital Group International Inc
  49. China Petrochemical Group Company

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Teorias conspiratorias: ufa! Estava sentindo falta delas. Ainda bem que o presidente do Ipea nao me deixa carente...

Este blog, como se diz acima, é pelas ideias inteligentes. Mas de vez em quando são bem-vindas, também, algumas ideias idiotas, como forma de contraponto às primeiras, para fazer o contraste, e oferecer, como querem alguns puristas, aquilo que já foi chamado de "outro-ladismo".
Teorias conspiratorias, por exemplo, andavam fazendo falta.
Quando ainda existia o socialismo, era mais fácil: bastava culpar meia dúzia de capitalistas pelos problemas do socialismo -- que eram reais no socialismo real -- e dizer que eles se reuniam à noite, em algum hotel chic da Suíça, para conspirar com esse modo de produção sucessor do capitalismo, que acabou não sucedendo nada, fez tilt, deu dois suspiros e depois morreu, sozinho, triste e macambúzio, como se dizia nos romances de antigamente...
Vai ver que foram aqueles seis capitalistas hiper, super, megapoderosos, que complotaram de forma bem sucedida para criar todos aqueles problemas enfrentados pelos países do socialismo real.
Cuba, por exemplo: quão rica, poderosa, feliz e sobretudo livre ela não seria, se não fosse pelo embargo americano? Ianques desgraçados, vocês estão empobrecendo Cuba apenas para provar suas teorias sinistras e funestas, de que o socialismo não funciona. Só não funciona por causa de vocês, malditos capitalistas. Se vocês não existissem o mundo seria tão mais..., o quê mesmo?: feliz, rico, próspero? Enfim, menos capitalista, e portanto mais socialista. Pelo menos não haveria todos esses países neoliberais para se fazer comparação.

Pois bem, eu estava sentido falta de uma boa teoria conspiratoria, das boas, daquelas capazes de explicar tudo e um pouco mais. Explicar como, por exemplo, nosso planetinha redondo -- sim, se ele fosse quadrado não teríamos problemas de poluição capitalista, pelo menos não em direção ao Sul, que é todo subdesenvolvido e anticapitalista -- não estaria sendo poluído tanto assim, se não fosse por essas malditas companhias transnacionais, que dominam, literalmente, o planeta e a estratosfera. Basta 500 delas -- reunidas em assembleia na Batcaverna -- para decidirem sobre nossas vidas e sobretudo nossas mortes (de poeira, de fumaças tóxicas, de venenos capitalistas e defensivos multinacionais). Uma coisa horrível.
Enfim, nem sempre temos um gênio da economia como esse presidente do Ipea para restabelecer a verdade verdadeira sobre os problemas do planeta.
Estou louco para ouvi-lo na Rio+20... (para ele vão abrir uma exceção, e será Rio+1, o gênio da raça).
Paulo Roberto de Almeida


26/09/2011 10:39
Brasil Econômico (SP): Brasil enxerga a questão ambiental pelo ângulo social

Para Pochman,do Ipea,reduzir emissão de gases é insuficiente e não tem eficácia para emergentes.
A base industrial futura está em novos materiais
Um dos personagens mais ativos na articulação de propostas estruturais para a Rio+20, o economista Marcio Pochmann, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), acredita que o poder desmedido das multinacionais tem contribuído enormemente para fragilizar os fóruns de governança global.
“Somos cada vez mais governados por 500 corporações, que respondem por 47% do PIB mundial e 4/5 dos investimentos em inovações tecnológicas.
Elas financiam campanhas, partidos, pesquisas e até Ongs e aniquilam o espaço público.
Fazem com que presidentes, governadores e prefeitos se transformem em seus caixeiros-viajantes”, afirma.
Na visão de Pochmann,essa correlação desigual de forças gera um desequilíbrio de poder, que acaba por privilegiar decisões favoráveis à manutenção do atual padrão de produção e consumo.
“As corporações decidem o quê, quando e onde tudo vai ser produzido e também o quê e quem vai ser taxado”, exemplifica.
Por outro lado, elas detêm conhecimento de ponta, materiais e recursos tecnológicos que as credenciam a liderar a transição para um novo modelo de desenvolvimento.
“Trabalham com inovação e não querem ser protagonistas do passado.
Vivem a dialética de mirar o futuro com o olhar focado no lucro, o principal objetivo desse modelo em crise”, analisa.
A questão mais relevante em jogo, no entender de Pochmann, é o esvaziamento de elementos de governabilidade que esse cenário gerou, reduzindo drasticamente o papel do Estado do ponto de vista supranacional: “O mundo atravessa a mais grave crise mundial desde 1929 e a ONU não foi capaz de fazer nenhuma conferência para discutir o assunto.
Estamos vivendo um movimento de decadência dos EUA e de ascensão chinesa, que contrapõe o esgotamento das velhas formas de regulação com a imaturidade das novas.
Não nos faltam modelos de desenvolvimento; faltam atores globais”.
Por isso, o grande desafio da diplomacia brasileira para a Rio+20, na opinião de Pochmann, é ajudar a construir uma governança transnacional, fortalecendo entidades como o G-20 e os Brics.
“Os países desenvolvidos sustentam70% da dinâmica econômica mundial e os 37 mais ricos concentram a maior parte da renda”, disse.
O economista lembra que há mais de três décadas se discutem alternativas a esse modelo responsável pela desigualdade entre as nações.
“Ele só é sustentável se quisermos incluir nele apenas um terço da população mundial”, frisa.
O presidente do Ipea diz que não existe um único caminho para a nova sociedade que buscamos e muito menos convergência em torno de uma das três vias em pauta nas agendas internacionais.
A primeira, que chama de pós-desenvolvimentista, é a mais crítica em relação ao modelo vigente.
Propõe o resgate de valores perdidos, acompanhado de um profundo respeito pela natureza, um retorno à mãe-Pátria.
“Apesar de ter muitos adeptos, esse modelo, rudimentar e agrário, não é viável nos dias de hoje", opina.
A segunda vem ancorada na implantação da economia verde, com a perspectiva de tornar sustentável economicamente um modelo ambiental insustentável.
“Essa alternativa não altera as coisas, apenas reorganiza a indústria para diminuir a emissão de gases e deter o aquecimento global”, avalia.
Bastante confortável para os países ricos, que não precisam mais crescer, a proposta é pouco atraente para a maioria da população.
A terceira via, nem pós-desenvolvimentista nem economicista, propõe uma base industrial e produtiva assentada em novos materiais.
“Essa é a melhor saída, mas sua implantação demanda pesados investimentos, o que parece pouco provável de ocorrer com as restrições impostas pela crise fiscal internacional e num cenário em que os bens financeiros são mais atrativos do que os bens produtivos”, diz, taxativo.
O lado bom é que o Brasil, ao ajudar a construir o conteúdo da Rio+20, está dando outro viés ao debate, garante Pochmann: “O país não está aceitando a visão de fora, que queria um debate sobre a economia verde.
Está defendendo a visão totalizante do desenvolvimento, que considera a questão ambiental, mas do ponto vista social”.
Ele não quis comentar o convite do PT para concorrer à Prefeitura de Campinas (São Paulo).

sábado, 27 de agosto de 2011

Conspiradores, acalmai-vos, voces tem razao: conspiracoes existem...

Teorias de Conspiração são Naturais
Douglas T. Kenrick
Psychology Today, 16 de agosto de 2011
(tradução cortesia de André Rabelo)

Que tipo de pessoa teria tão pouca confiança em seus companheiros para acreditar que o presidente dos E.U.A e a CIA conspiraram para forjar a morte de Osama Bin Laden, ou que a imprensa é rigidamente controlada por um grupo poderoso de extremistas ricos? Se você examinar a literatura em psicologia sobre a crença em teorias da conspiração, ou leu comentários políticos sobre o tópico, vai ouvir falar muito sobre paranóia, alienação eanomia. Você vai aprender que pessoas que acreditam em uma teoria da conspiração bizarra também são propensas a acreditar em outras (está tudo conectado com os illuminatie os assassinatos dos Kennedy, afinal de contas). Você descobrirá que crenças em conspirações têm sido relacionadas com ser pobre, ser membro de uma minoria oprimida, ter a sensação generalizada de que a vida é controlada por fatores externos e outras circunstâncias lamentáveis.

Mas existe outra perspectiva que decorre do pensamento sobre a história evolutiva de nossa espécie: o cérebro humano foi moldado para teorias da conspiração. Nesta perspectiva, somos todos teóricos da conspiração – você, eu e sua tia Ginger de Iowa.

Vamos desconsiderar os detalhes da teoria de conspiração excêntrica du jour, e considerar isso: Algumas alegadas conspirações se mostraram posteriormente bem reais – a Al Qaeda, a CIA, a KGB e a Máfia envolveram pessoas reais se juntando para planejar ações reais e nefastas. Só porque você é paranóico não significa que eles não estejam atrás de você. Teóricos evolucionistas como Robert Trivers e Bill von Hippel observaram: um aspecto ruim da comunicação é que ela abre as portas para o engano (Isso é uma deliciosa minhoca ou uma armadilha de pescador para peixes? O pássaro está realmente machucado ou fingindo?). Seres humanos são comunicadores especialmente talentosos e ótimos enganadores também. Pesquisadores que estudam a psicologia da mentira descobriram não apenas que a pessoa comum mente sobre alguma coisa todos os dias, mas também que não nos saímos muito melhor que o mero acaso ao distinguir uma afirmação verdadeira de uma mentira deliberada.

Nossos ancestrais tinham que se preocupar com conspirações de membros de seu próprio grupo, bem como conspirações de membros de outros grupos (que tinham ainda menos o que perder e mais a ganhar ao prejudicá-los). Psicólogos evolucionistas como Pascal Boyere Ara Norenzayan têm notado que o cérebro humano possui mecanismos poderosos para buscar causas complexas e escondidas. A popularidade de Sherlock Holmes, James Bond e Harry Potter se deve em grande parte aos talentos de seus autores para exercitar estes mecanismos causais em seus leitores.

E como os psicólogos evolucionistas Randy Nesse e Martie Haselton têm argumentado, a mente é moldada como um detector de fumaça, pronta para acionar o alerta vermelho a qualquer possível sinal de ameaça no ambiente (ao invés de esperar até que a evidência seja tão esmagadora que seja muito tarde para apagar o fogo). Uma vez que tenhamos aceitado uma crença, possuímos uma série de mecanismos cognitivos projetados para nos enviesar contra a rejeição desta crença. Um dos meus estudos favoritos dessa natureza foi realizado pelos psicólogos de Stanford Charlie Lord, Lee Ross e Mark Lepper.

Eles apresentaram aos seus brilhantes alunos um cuidadoso balanço de evidências científicas a favor e contra os benefícios da pena de morte. Depois de ouvir as evidências balanceadas, os estudantes que favoreceram inicialmente a pena de morte estavam ainda mais convencidos de que estavam certos, enquanto os que eram contra se tornaram ainda mais convencidos na direção oposta. O que aconteceu foi que os estudantes se lembraram seletivamente das fraquezas no argumento do outro lado e dos pontos fortes das evidências favorecendo o seu próprio lado. Parece familiar? (e lembre-se, estes eram estudantes de Stanford, não membros de um grupo extremista entrincheirado ao redor de Two Dot, Montana).

E quanto à pesquisa que mostra que os indivíduos pertencentes a grupos oprimidos são mais propensos a crenças conspiratórias do que aqueles de nós lendo o New York Times em algum subúrbio de classe média-alta? Esses dados assinalam para outro aspecto da nossa psicologia evoluída – nossos cérebros amplificam o volume dos nossos sistemas de perigo quando estamos sob ameaça. Pesquisas de nossos laboratórios têm demonstrado que pessoas que estejam tenham despertado seu sentido de auto-proteção (depois de assistir um filme assustador) estão mais propensas a projetar raiva nas faces de homens desconhecidos de outros grupos, e as pesquisas de Mark Schaller e seus colaboradores demonstraram que estar em um quarto escuro amplifica tipos específicos de estereótipos (aqueles envolvendo a periculosidade de americanos árabes ou africanos). Na mesmo medida em que a vida envolve ameaças e perigos diários, é provável que estejamos atentos a sinais de perigo à espreita.

Ao afirmar que o cérebro humano é moldado para estar alerta a conspirações e que sempre houveram conspirações reais pelo mundo afora, estaria eu querendo dizer que não há nada que possamos fazer para evitar acreditar na próxima história que escutarmos sobre a conspiração envolvendo Obama, a AMA e a Igreja Católica Romana? Não. Charlie Lord e seus colaboradores demonstraram que estudantes de Stanford poderiam ser um pouco mais objetivos se perguntassem primeiro para si mesmos a simples questão: "Como eu me sentiria se essa mesma evidência corroborasse a conclusão exatamente oposta?".

O sociólogo de Rutgers Ted Goertzel tem estudado crenças em teorias conspiratórias por duas décadas, e ele tem alguns conselhos adicionais para aqueles que desejam "distinguir entre os excêntricos engraçados, os honestamente equivocados, os litigantes avarentos e os céticos sérios, questionando um consenso prematuro". Primeiro, procure pela "cascata lógica" – um raciocínio que exige que crentes incluam mais e mais pessoas na conspiração sempre que alguém relate evidências contra suas afirmações (arrá, eles fazem parte dela também!). Segundo, seja cético quanto a afirmações que exigem quantidades irreais de poder e controle por parte dos conspiradores.

Goertzel dá o exemplo da suposta conspiração para forjar o pouso na Lua, que teria demandado cumplicidade completa de milhares de cientistas e técnicos trabalhando no projeto, assim como toda a mídia cobrindo os eventos e até mesmo os cientistas em outros países (incluindo a Rússia) que acompanharam os eventos.

Mas é claro, é possível que a CIA tenha financiado este artigo e eu esteja dizendo tudo isso para despistá-lo.

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Douglas T. Kenrick é o autor de Sex, Murder, and the Meaning of Life: A psychologist investigates how evolution, cognition, and complexity are revolutionizing our view of human nature. O livro foi recentemente escolhido como uma seleção mensal pela Scientific American Book Club. Ele afirma não ter qualquer conexões com a illuminati.

Referências

Abalakina-Paap, M., Stephan, W. G., Craig,T., & Gregory, W. L. (1999). Beliefs inconspiracies. Political Psychology, 20,637–647.
Atran , S. , & Norenzayan , A. ( 2004 ). Religion’s evolutionary landscape: Counterintuition, commitment, compassion, communion . Behavioral and Brain Sciences, 27 , 713 –770.
Boyer, P. (2003). Religious thought and behavior as by-products of brain function. Trends in Cognitive Science, 7, 119-124.
Nesse, R. M. (2005). Evolutionary psychology and mental health. In D. Buss (Ed.), Handbook of evolutionary psychology (pp. 903–930). Hoboken, NJ: Wiley.
Haselton, M. G., & Nettle D. (2006). The paranoid optimist: An integrative evolutionary model of cognitive biases. Personality and social psychology Review, 10, 47–66.
Lord, C. G., Lepper, M. R., & Preston, E. (1984). Considering the opposite: A corrective strategy for social judgment. Journal of Personality and Social Psychology, 47, 1231–1243.
Lord, C. G., Ross, L., & Lepper, M. R. (1979). Biased assimilation and attitude polarization. Journal of Personality and Social Psychology, 37, 2098–2109.
Schaller, M., Park, J. H., & Mueller, A. (2003). Fear of the dark: Interactive effects of beliefs about danger and ambient darkness on ethnic stereotypes. Personality & Social Psychology Bulletin, 29, 637–649.
Goertzel, T. (2010). Conspiracy theories in science. EMBO reports, 11, 493-499.
von Hippel, W. & Trivers, R. (2011). The evolution and psychology of self- deception. Behavioral and Brain Sciences, 34, 1-16.