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domingo, 31 de julho de 2016

Contra a Anti-Globalizacao: contradicoes do movimento antiglobalizador - Paulo Roberto de Almeida

Fui surpreendido, algumas semanas atrás, por acessos intensos, continuados, repetitivos, a um texto meu publicado originalmente mais de dez anos atrás, republicado sob diversas formas desde então, e aparentemente caído em silêncio, até que algum professor -- que desconheço quem seja -- o recomendou como leitura indicada num curso sobre relações internacionais oferecido online pelo Instituto do Legislativo Brasileiro (desculpem se erro o nome exato), o que fez com que dezenas de alunos inscritos no curso tenham começado a downloadar (ugh!) esse texto na plataforma Academia.edu.
Eis a ficha original do trabalho:


1297. “Contra a antiglobalização: Contradições, insuficiências e impasses do movimento antiglobalizador”, Brasília, 5 jul. 2004, 23 p. Ensaio, de caráter contestador, das principais ideias e princípios do movimento antiglobalizador, discutindo seus fundamentos, demonstrando suas contradições teóricas e insuficiências intrínsecas e expondo sua falta de racionalidade econômica e a ausência de fundamentação histórica. Publicado dividido em sete partes no Colunas de Relnet sob os títulos respectivos de: 1. Contra a antiglobalização; 2. Contradições, insuficiências e impasses do movimento antiglobalizador; 3. A antiglobalização tem idéias concretas sobre temas concretos?; 4. A antiglobalização e o livre-comércio: angústia existencial; 5. Concentração da renda e desigualdades: a antiglobalização tem razão?; 6. No meio do caminho tinha um mercado: tropeços dos antiglobalizadores; e 7. Tática do avestruz: a antiglobalização à procura do seu mundo.  Republicado de forma parcial e sucessiva na revista eletrônica Meridiano 47:  (a) “Contradições, insuficiências e impasses do movimento antiglobalizador” (n. 49, jul. 2004, p. 9-11); (b) “A antiglobalização tem ideias concretas sobre temas concretos?” (n. 50-51, set/out. 2004, p. 15-17); (c) “Contra a antiglobalização” (n. 54, jan. 2005, p. 10-12); (d) “A antiglobalização e o livre-comércio: angústia existencial” (n. 55, fev. 2005, p. 6-7); (e) “Concentração da renda e desigualdades: a antiglobalização tem razão?” (n. 56, mar. 2005, p. 9-10); (f) “No meio do caminho tinha um mercado: tropeços dos antiglobalizadores” (n. 57, abr. 2005, p. 8-9); (g) “Tática do avestruz: a antiglobalização à procura do seu mundo” (n. 58, mai. 2005, p. 13-15). Ensaio incorporado ao livro: Paralelos com o Meridiano 47: Ensaios Longitudinais e de Ampla Latitude (Hartford, 2015). Relação de Publicados n: 487, 495, ??, 506, 518, 535, 541, 544, 550 e 560. Repostado no blog Diplomatizzando (11/07/2016; link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2016/07/contra-antiglobalizacao-um-texto-de.html). Disponível na plataforma Academia.edu (http://www.academia.edu/5873102/1297_Contra_a_antiglobaliza%C3%A7%C3%A3o_Contradi%C3%A7%C3%B5es_insufici%C3%AAncias_e_impasses_do_movimento_antiglobalizador_2004_).

O mesmo texto acabou incorporado ao meu livro  Globalizando: ensaios sobre a globalização e a antiglobalização (Rio de Janeiro: Lumen Juris Editora, 2011, xx+272 p.; ISBN: 978-85-375-0875-6).   

Mas, tendo em vista a "popularidade" desse texto, creio ser meu dever disponibilizá-lo novamente, embora eu acredite, como se diz, estar batendo em cachorro morto, pois não acredito que pessoas inteligentes, hoje em dia, se deixem ainda engabelar pelos antiglobalizadores (só os franceses), tantas são as bobagens desmentidas desde sempre. Não creio que o movimento Forum Social Mundial, um bando de iludidos e de equivocados, tenha hoje qualquer razão de ser.
Os antiglobalizadores são seres anacrônicos, saídos de uma outra época, e já enterrados, como produtos fora de moda, ultrapassados, coisa brega.
Em todo caso, como sempre existem iludidos, aqui vai o texto novamente.


Contra a antiglobalização: Contradições, insuficiências e impasses do movimento

Paulo Roberto de Almeida
(texto original: Brasília, 5 de julho de 2004)


1. Uma longa (mas necessária) introdução metodológica e de princípios
Se posicionar contra ou a favor de coisas em geral, sejam elas ideias, processos, movimentos, pessoas ou princípios, dá um pouco mais de trabalho do que simplesmente ser acomodado, passivo ou mesmo indiferente. Decidindo ser contra ou a favor de algo, o dono da posição tem, em geral, de se justificar perante outros, explicar os motivos de sua postura, defendê-la de ataques ou contestações que possa julgar equivocados, enfim, fazer qualquer coisa que torne suas ideias não apenas “melhores” do que outras, que são concorrentes ou alternativas, mas também compatíveis com os princípios pelos quais ele afirma pautar sua vida, sob risco, em não o fazendo, de ser acusado de inconsequente ou, simplesmente, de contraditório.
Ser contra ou a favor de um conjunto de ideias dá, portanto, um certo trabalho, pois que em geral se é obrigado a deixar a acomodação monótona dos slogans rápidos ou o simplismo redutor das idées reçues – isto é, as velhas crenças, sem fundamentação empírica ou validade prática – para pesquisar sobre os fundamentos das posições que se está defendendo, investigar suas causas e consequências, examinar a validade dos argumentos em favor de posições opostas – do contrário como seria possível recusá-las, tão simplesmente? –, bem como destrinchar as “fortalezas” de suas próprias posições e tornar evidentes as “fragilidades” das ideias alternativas.
Isso parece complicado e trabalhoso demais? Seria preferível, talvez, a placidez de algum consenso geral? Isso não existe: concordância de opiniões não é uma realidade muito presente nas sociedades democráticas, sobretudo em relação a fenômenos ou processos que são inerentes à própria dinâmica social na qual se vive, como é o caso da globalização. É assim inevitável que sobre ela persistam tantos debates e tanta polêmica.
Não tenho, portanto, a mínima intenção de interromper esse fluxo enriquecedor, preferindo, ao contrário, alimentar o debate com meus próprios argumentos, que como indica o título deste ensaio, tende a colocar-me em oposição aos partidários da antiglobalização, cobrando-lhes consistência na ideias e racionalidade de propósitos. Sinto muito por trazer algumas angústias aos que têm suas causas a defender no partido da anti, mas este é o preço da coerência que deve existir entre as ideias gerais e as ações na vida prática: é preciso ter um mínimo de racionalidade e de consistência intrínseca, se se pretende fazer com que as ideias próprias, ou as do movimento a que se pertence, tenham aceitação geral, sejam triunfantes na vida social e sejam, não apenas adotadas pelos que nos governam, como implementadas na prática. Não é isso afinal o que pretendem todos os que têm ideias a defender?: que elas sejam disseminadas, o mais amplamente possível, e convertidas em realidade?
Creio que sim, e é isso também que me anima a escrever, em primeiro lugar para mim mesmo – afinal, trata-se de excelente método para afinar as próprias ideias –, em segundo lugar para alunos, leitores ocasionais ou os simples curiosos que frequentam eventualmente as páginas de meu site, ou que podem ler o que escrevo em boletins eletrônicos. Como sabem alguns desses leitores, não sou de fazer concessões políticas, não costumo ceder a argumentos ilógicos, nem sou levado por modismos ideológicos. Apenas cultivo a modesta racionalidade dos argumentos que fazem sentido, que não ofendem os dados da realidade e que se conformam a testes de validação empírica. Meu único partido é a falta de partido, justamente.
Com o perdão dos leitores por esta longa digressão introdutória, eu escrevi tudo isto como forma de abrir um debate – que, sei, não terá seguimento – sobre um dos mais curiosos e surpreendentes fenômenos destes tempos de globalização e que conforma, ao mesmo tempo, um paradoxo: o fato de pessoas medianamente inteligentes – todas da classe média para cima –, ou mesmo de indivíduos tidos como de inteligência superior –ostentando títulos universitários, livros publicados, espaços na imprensa, homenagens recebidas, enfim, credenciais reconhecidas pela mídia – se posicionarem de forma veementemente contrária ao processo de globalização (refiro-me, obviamente a “esta” globalização, que eles costumam chamar de “capitalista”). A curiosidade está em que, contra tantos argumentos contrários às suas posições, eles façam sucesso, e o paradoxo (ou a ironia) é que esse sucesso se deve inteiramente ao processo de globalização, que eles condenam com tanta veemência.
Com efeito, não há fenômeno mais disseminado, mediatizado e de maior sucesso público nos últimos anos do que o chamado altermundialismo, também chamado de antiglobalização, termo que prefiro e já explico por quê. O altermundialismo, como ele mesmo se proclama, é um movimento que defende que um outro mundo é possível, ou seja, um mundo diferente do atual, talvez oposto, ou em todo caso melhor do que o que agora temos: injusto, desigual, contraditório, cheio de misérias e tragédias, feito de exploração do homem pelo homem, de dominação política, de guerras imperialistas, mas também de guerras civis, guerras tribais, limpezas étnicas, degradação da natureza, esgotamento de recursos, bref, um mundo horrível, capitalista e desigual, que caberia eliminar, ou pelo menos substituir por outro melhor. Mas é um fato, também, que o mundo está sempre mudando: já não temos tantas guerras como antigamente, menos pessoas morrem de fome ou doenças, hoje temos penicilina, saneamento básico, um pouco mais de direito e, certamente, mais justiça e democracia também. Enfim, o mundo mudou, embora talvez não no ritmo e na extensão que seriam desejáveis, mas ele mudou, e para melhor, nos últimos dois ou três séculos de revolução industrial e de globalização capitalista (usemos este adjetivo que incomoda muita gente, mas que expressa a realidade que os altermundialistas querem recusar).
Se o mundo mudou, e continua mudando a cada dia, a caracterização usada pelos altermundialistas é, no mínimo, tautológica, ou redundante, motivo pelo qual devemos recusar esse conceito. Mas, há um motivo a mais pelo qual esse conceito é inoperante, pouco prático e no mínimo carente de significado. É porque ele promete coisas que é incapaz de entregar, ou seja, a própria definição prometida em sua caracterização enquanto grupo. Se esse movimento é a favor de um outro mundo, que já indica ser possível sem qualquer tipo de demonstração positiva, ele deveria dizer, de imediato, qual é, como se organiza, quais são os fundamentos materiais, espirituais, arquitetônicos e conceituais desse outro mundo que seus proponentes proclamam de modo contínuo na internet e nos encontros ruidosos nos quais eles martelam um pouco mais a ideia, sem desenvolvê-la de fato. Portanto, o conceito não nos serve, até que ele venha recheado de algo mais e, por isso, estou jogando-o na lata de lixo da história.
Fiquemos, portanto, na antiglobalização, que ela, sim, é um movimento de sucesso, aliás, muito mais ruidoso e organizado do que o dos altermundialistas (que são apenas um pequeno bando de irredutíveis gauleses); o movimento antiglobalizador foi constituído para se opor a algo de concreto, a globalização que “está aí, aos nossos olhos”, contra a qual se mobilizam todos aqueles que têm algumas ideias na cabeça (partimos da presunção de que todas são consistentes até prova em contrário). Também partimos do pressuposto de que os antiglobalizadores têm algumas soluções alternativas que eles gostariam de propor aos demais, esperando, em algum momento, que elas sejam aceitas pelos que decidem e que possam, assim, converter-se algum dia em realidade. Como vêem, parto do pressuposto de que os antiglobalizadores têm algo a dizer, que esse algo faz sentido, que seus argumentos merecem ser considerados e que vale a pena, a despeito do seu caráter heteróclito, debater com esse movimento ruidoso, ainda que ela me pareça marcado por uma certa cacofonia conceitual. Confesso, também, que tenho tido certa dificuldade em identificar precisamente as “ideias” dos anti, na medida em que eles parecem mais propensos a fazer manifestações do que em colocar no papel, de forma ordenada, seus argumentos anti, ou mesmo a favor de alguma coisa, qualquer coisa que permita substituir “esta” globalização por outra.
Rendendo modesta homenagem à minha tribo de origem, os sociólogos, considero, de minha parte, que o movimento antiglobalizador é uma ideologia, e que, como todas as ideologias, parte de uma certa concepção do mundo e da realidade, concepção que recusa o mundo como ele é e que pretende mudar-lhe os fundamentos ou o seu modo de funcionamento, de modo a torná-lo mais conforme aos princípios e ideias defendidos por esse movimento. Chamemos a esse movimento “ideologia da antiglobalização”, se me permitem o empréstimo de sabor levemente marxista. Não há nenhum preconceito nesta caracterização, pois eu aceito que chamem à minha própria concepção do mundo “ideologia da globalização”, com todas as consequências que isto implica, isto é, o desejo de fazer com o que o mundo também se conforme àquilo que eu julgo ser bom e desejável para seus habitantes, isto é, um pouco mais, ou bem mais, na verdade doses maciças de globalização, com todos os seus efeitos “devastadores” (no bom e no mau sentido).
Admitamos, portanto, que somos ambos “ideólogos”, eu e os adeptos da antiglobalização, e nisto não vai nenhum julgamento preliminar negativo; trata-se apenas de uma constatação. Há uma diferença, porém, entre eu e os antiglobalizadores: eu não pertenço a nenhum movimento, grupo, partido, seita, igreja, confraria, clã ou tribo; não costumo frequentar fóruns pró- ou antiglobalização e não admito nenhum argumento de autoridade que se interponha entre a informação que busco e recebo – de todas as fontes possíveis – e minhas próprias reflexões independentes. Sou um ser livre, tanto quanto me permite a minha condição de assalariado do Estado e atividades acadêmicas à margem da jornada na burocracia pública. Sou eu e meu computador, apenas, no qual escrevo e no qual recolho as informações que me chegam de todas as partes sobre a globalização e o seu contrário, isto é, o quixotesco movimento antiglobalizador.
Faço aqui um último parágrafo introdutório para me desculpar pelo adjetivo usado acima, isto é, “quixotesco”, em relação aos adeptos da anti, mas é que considero, de verdade, esse movimento como sendo quixotesco, isto é, uma figura (neste caso coletiva) levantada de lança em riste contra alguns moinhos de vento que só existem na cabeça dos que esgrimem argumentos antiglobalização, como agora passo a discutir.

2. Contradições da antiglobalização: carência de fatos, de método, de análises
Não é fácil, como disse acima, debater com o pessoal da anti, a começar pelo fato de que não se consegue saber direito o que pensam sobre os temas da globalização e o quê, exatamente, pretendem colocar no “lugar” desse processo. Por mais que eu tenha me esforçado na busca, navegando de site em site, de documento em documento, encontrei poucas propostas concretas desse movimento, alguma sistematização que contivesse as principais ideias, se alguma, sobre a “globalização realmente existente” e esse “outro mundo possível”. Slogans à parte, a consistência analítica esses “escritos” é deficiente, para dizer o mínimo, e sua adequação aos dados da realidade é inexistente.
Para dizer a verdade, existem inúmeros documentos, geralmente de caráter retórico, conclamando a manifestações antes e durante as datas e locais dos encontros oficiais da assim chamada globalização capitalista: o Fórum Econômico Mundial de Davos, em primeiro lugar, obviamente, considerado a bête noire do processo (mas agora que eles têm o seu próprio foro, Davos foi relegado a uma posição secundária), mas também as reuniões do FMI e do Banco Mundial, da OMC, da Alca, e até da UE e da UNCTAD. O tom geral é de indignação, de revolta, mas um exame ponderado dos fatos, que é o mínimo que se requer de qualquer trabalho universitário digno de nota (no sentido de pontuação, mesmo), é algo raro, senão inexistente nos textos da anti. Como, nessas circunstâncias, debater com o movimento?: seria preciso antes dispor da matéria-prima essencial a qualquer debate: ideias sistematizadas, claramente expostas, método.
Não só não é fácil, como na verdade não é permitido debater com esse pessoal, na medida em que, pelas próprias regras estatutárias dos anti, só participam dos encontros do Fórum Social Mundial – o arauto le plus en vue da antiglobalização (junto com a ATTAC e outros foros menores) – aqueles movimentos e entidades da sociedade civil que se declaram de acordo com sua Carta de Princípios. Ou seja, não é permitido ser a favor da globalização, ainda que eles o sejam, na prática, ao usarem e abusarem de todas as facilidades permitidas pela globalização para se informar, se reunir e debater. Qualquer outra pessoa física ou movimento, todavia, só pode participar se declarar-se a favor de um documento extremamente vago em seu conteúdo e definições.
Alguém que seja um anti da anti, como eu mesmo, não apenas está sumariamente excluído, ab initio, como jamais será cogitado para comparecer em algum foro. Registro aqui, ipsis litteris, o que figura nos procedimentos do FSM: “Poderão ser convidados a participar, em caráter pessoal, governantes e parlamentares que assumam os compromissos da Carta de Princípios.” Para participar, portanto, é preciso primeiro comprometer-se com posições dos próprios organizadores, o que não apenas configura um reducionismo absurdo, um verdadeiro cerceamento à liberdade de expressão, como também uma manifestação brutal de “pensamento único”, que eles dizem condenar.
Essa cláusula de participação restrita contradiz, portanto, o primeiro princípio do FSM, que afirma ser ele “um espaço aberto de encontro para o aprofundamento da reflexão, o debate democrático de ideias, a formulação de propostas, a troca livre de experiências…”, já que só se pode participar sendo a favor das ideias do movimento. E quais são essas ideias? Na verdade, muito poucas, e que já vem consignadas no seguimento desse primeiro princípio acima transcrito: o FSM visa “…a articulação para ações eficazes, de entidades e movimentos da sociedade civil que se opõem ao neoliberalismo e ao domínio do mundo pelo capital e por qualquer forma de imperialismo…”; isto pelo lado negativo. Pelo lado positivo, continua o texto: as entidades participantes “estão empenhadas na construção de uma sociedade planetária orientada a uma relação fecunda entre os seres humanos e destes com a Terra”.
Se eu fosse impaciente, eu diria: so what?, só isso? De fato é muito pouco para definir um vasto movimento que mobiliza centenas de milhares de pessoas, talvez milhões, em todo o planeta, e que se propõe a grandiosa tarefa de mudar esse mesmo planeta (não esqueçamos a “sociedade planetária”). Mas o 4º princípio – numa carta que alterna, de forma algo anárquica, procedimentos, regras e definições – vai um pouco mais adiante: “As alternativas propostas no Fórum Social Mundial contrapõem-se a um processo de globalização comandado pelas grandes corporações multinacionais e pelos governos e instituições internacionais a serviço de seus interesses, com a cumplicidade de governos nacionais. Elas visam fazer prevalecer, como uma nova etapa da história do mundo, uma globalização solidária que respeite os direitos humanos universais, bem como os de tod@s @s cidadãos e cidadãs em todas as nações e o meio ambiente, apoiada em sistemas e instituições internacionais democráticos a serviço da justiça social, da igualdade e da soberania dos povos.”
Aqui chegamos um pouco mais perto do que seriam as propostas propositivas – com perdão pela redundância – do movimento. Para minha frustração, no entanto, não encontrei alternativas dignas desse nome, ou pelo menos não de forma sistemática e organizada, de maneira a permitir um diálogo racional com essas “alternativas”. Existem dezenas, provavelmente centenas, de documentos, na “Biblioteca das Alternativas”, mas, à diferença das bibliotecas normais, a dos anti não está classificada, não possui seções, nem “fichas catalográficas” que nos habilitem conhecer as ideias, as propostas e as alternativas apresentadas pelo movimento. Figuram nela tão somente os títulos e a indicação da língua em que se encontram os documentos: percorri vários, muitos deles e, com pesar, recolhi apenas uma sensação de déjà vu again.
De 2001 até os dias que correm, esses documentos são monotamente repetitivos: eles condenam sempre, em termos ásperos, a globalização capitalista, conclamam à mobilização ativa contra as reuniões das organizações internacionais que supostamente pretendem facilitá-la – aquelas mesmas já mencionadas – e terminam pelas promessas de sempre: os antiglobalizadores, por ocasião dos seus próprios encontros, “não vêm manifestar, nem protestar, mas sugerir correções e propor soluções para que, finalmente, de fato, um outro mundo seja possível” (“Antiglobalização”, Ignacio Ramonet, do Le Monde Diplomatique, da ATTAC francesa e um dos “papas” do movimento, em texto de 4.09.2002). Busquei, em vários outros documentos, essas soluções, essas “correções” prometidas, mas confesso minha frustração: não encontrei nada digno desse nome.
Não que não existam propostas ou “ideias” a respeito da globalização, ou sobre como ela poderia ser mais humana, solidária, economicamente equitativa, socialmente justa e ecologicamente responsável. Mas é que, em minha análise, as propostas ou alternativas à globalização apresentadas pelos anti me parecem desumanas, muito pouco solidárias, economicamente desastrosas, socialmente catastróficas e ecologicamente poéticas, mas insustentáveis no plano prático. Talvez eu esteja sendo apressado demais, ao condenar as alternativas antiglobalizadoras, mas esta é a sensação que me deixou a leitura de praticamente todos os documentos do site www.forumsocialmundial.org.br.
Para ser honesto, comigo mesmo e com os representantes da anti, existe sim uma condição geral para que essa globalização deixe de ser tudo aquilo que ela aparenta ser, aos olhos dos anti: que ela deixe de ser capitalista. Isto, pelo menos, é o que eu deduzo do 11º princípio da Carta de Princípios, que define o fórum como sendo “um movimento de ideias que estimula a reflexão, e a disseminação transparente dos resultados dessa reflexão, sobre os mecanismos e instrumentos da dominação do capital, sobre os meios e ações de resistência e superação dessa dominação, sobre as alternativas propostas para resolver os problemas de exclusão e desigualdade social que o processo de globalização capitalista, com suas dimensões racistas, sexistas e destruidoras do meio ambiente está criando, internacionalmente e no interior dos países”. Em outros termos, se a dominação do capital fosse eliminada, metade (ou pelo menos grande parte) dos problemas da humanidade estaria resolvida.
Ou muito me engano, ou a reflexão não vem sendo muito estimulada nesses encontros, já que não consigo atinar como se pretende eliminar um dos mais poderosos fatores de produção criados com o processo civilizatório, desde a revolução agrícola: o capital (ou talvez mesmo desde o paleolítico inferior, uma vez que armas de pedra ou de madeira são uma forma de “capital”). Seriam os antiglobalizadores astronautas? São eles de outro planeta, ainda não tocado pelo modo de produção capitalista? Acredito que não, o que nos deixaria uma única conclusão: eles são simplesmente anticapitalistas, o que tampouco é consenso entre eles. Com efeito, muitos proclamam não ser contra o modo de produção capitalista, apenas pretendendo melhorar o seu funcionamento.
De fato, ao ler os documentos da “Biblioteca das Alternativas”, constatei que alguns ostentam um anti-capitalismo visceral, ao passo que outros são apenas levemente anticapitalistas. Seriam os antiglobalizadores marxistas, socialistas ou de alguma forma pessoas de esquerda? Dificilmente, pois nada existe de mais antimarxista e de antissocialista do que o pensamento nacionalista, chauvinista ou contrário ao saudável internacionalismo proclamado pelo autor do Manifesto Comunista e d’O Capital. Marx proclamava, antes de mais nada, as virtudes do capital enquanto redutor das diferenças entre sociedades, em suas diversas etapas de desenvolvimento: ele pretendia que o capital unificasse rapidamente as forças produtivas e as relações de produção nos cantos mais recuados do planeta para que o exército dos proletários pudesse, finalmente, não recusar o capitalismo, mas sim superá-lo a partir de seu acabamento enquanto modo de produção, cedendo lugar a uma etapa superior de organização social da produção. Mas isto eu não preciso relembrar, pois que constitui o “beabá” de qualquer marxista digno desse nome.
O que me surpreende, apenas e tão somente, é que, ao constatar a presença de vários “marmanjos” marxistas no movimento – com isso eu quero me referir aos mais velhos, que ainda leram Marx, já que os mais novos parecem simplesmente ignorar as obras do velho barbudo –, eles não tenham atinado para a existência dessa “contradição insuperável” em seu seio: um marxista consequente deveria estar lutando em favor de mais, não de menos, globalização, pois apenas ela é capaz de trazer para mais perto de nós o dia da derrocada final do capitalismo e sua superação pelo socialismo.
A posição da antiglobalização não é, portanto, marxista ou sequer socialista. O que de fato transparece nos muitos documentos compilados, como indicado no já citado 4º princípio, é um posicionamento dos anti contra o “processo de globalização comandado pelas grandes corporações multinacionais e pelos governos e instituições internacionais a serviço de seus interesses, com a cumplicidade de governos nacionais”. Ou seja, o mal absoluto são as grandes empresas multinacionais, e quem não se posicionar contra elas fica proibido, portanto, de frequentar os encontros do movimento.
No longo prazo, esse posicionamento pode representar uma contradição nos termos, na medida em que o movimento antiglobalizador já se transformou, de fato, em uma grande corporação multinacional, com representação em quase todos os países e com várias “instituições internacionais a serviço de seus interesses”. Assim, se ele, por acaso, numa hipótese não de todo irrealizável, conquistar governos – como parece que já conseguiu convencer alguns e dispõe de muitos aliados em outros, inclusive perto de nós –, ele se tornará uma força irresistível, capaz de mudar de verdade a face do planeta. Apenas não sei se para melhor, como uma análise de algumas de suas propostas alternativas pode demonstrar.

3. Pensando o impensado: existem ideias concretas sobre temas concretos?
Para facilitar o debate e a confrontação de ideias, entre as minhas próprias e as que parecem defender os anti, resolvi organizar o restante deste texto em torno de algumas questões práticas que costumam concentrar o interesse do movimento. Escrevi “parecem” pois que o movimento não ostenta ideias oficiais, o que é compreensível, pois que não pretende ser ou parecer “autoritário”, e não consolidou suas propostas em um conjunto de alternativas que mereçam ter esse nome. O fato é que eles não apresentam os meios e modos pelos quais suas “ideias” poderiam ser testadas na prática, ou pelo menos ser objeto de simulações econométricas ou de elegantes equações de equilíbrio ao estilo de Keynes (um profeta frequentemente invocado nesses meios).
Como os anti não apresentam esse corpus conceitual, fica muito difícil, o que já é pouco compreensível, considerá-los pelo que eles pretendem ser, um movimento, e não apenas um ajuntamento heteróclito de individualidades, ostentando um conjunto heterogêneo de ideias dispersas. Apresento minhas desculpas antecipadas aos autores de trabalhos dotados de ideias sensatas, mas a reunião de todos esses textos num mesmo barril de baixa coerência intrínseca dá uma horrível impressão de sopa de letras.
Arriscando-me, portanto, a ser injusto com os detentores de ideias menos estapafúrdias (mas, humildemente, eu os convido a me contradizer), aqui estão algumas “ideias” defendidas pelos antiglobalizadores e meus próprios comentários a respeito.

3.1. Protecionismo agrícola e vantagens comparativas dos mais pobres
Vários documentos dos anti insistem numa pouco definida segurança alimentar: segundo esses textos, se deve dar prioridade à alimentação do povo a partir da própria região ou país, e não às exportações ou importações. Para eles, a segurança alimentar e a sustentabilidade rural só podem existir quando um país é capaz de satisfazer uma parte significativa de suas próprias necessidades alimentares. Esta posição transparece em vários documentos franceses, por exemplo, e eu mesmo assisti, pessoalmente, ao representante mais eloquente desse tipo de proposta, Bernard Cassen, da ATTAC, defender esse absurdo na Câmara dos Deputados, em Brasília, sem que nenhum dos parlamentares brasileiros presentes ousasse responder a tamanha sandice econômica e a tão evidente atentado aos interesses exportadores do Brasil.
Parece evidente, aos observadores isentos, que não há qualquer “insegurança alimentar” no mundo como um todo. Desde os tempos de Malthus, a produção agrícola cresceu muito mais rápido do que a “produção” de indivíduos, e ainda que possa haver, ocasionalmente, carências produtivas numa região localizada – geralmente por motivo de guerra civil ou desastre natural –, elas podem ser rapidamente supridas via comércio internacional ou assistência alimentar de emergência. A tese da “segurança alimentar” e a da “multifuncionalidade agrícola” constituem disfarces canhestros do mais egoísta protecionismo agrícola, que tanto mal faz aos povos mais pobres da Terra. Estes não podem utilizar-se de suas vantagens comparativas, que estão todas localizadas no setor primário, para alçar-se da miséria mais vergonhosa, mantida em grande medida graças à concorrência desleal de um punhado de ricos agricultores subsidiados dos países mais avançados. De resto, a indústria e ainda mais os serviços são muito mais “multifuncionais” do que a agricultura, já que estão presentes em todas e cada uma das nossas atividades diárias, não se podendo argumentar sobre sua localização espacial ou eventual isolamento do mercado externo, como se faz em relação à agricultura, sem cometer novos atentados pueris à mais simples racionalidade econômica.
Não tenho nada contra a existência da agricultura familiar, assim como nada tenho a opor a que os países ricos subsidiem suas populações da forma como desejarem, mas eles não podem fazê-lo opondo-se ao livre comércio de produtos agrícolas como vem fazendo e sabotando a comercialização externa da produção agrícola dos países mais pobres por meio de subvenções às suas próprias exportações não competitivas. O protecionismo hipócrita dos países mais ricos está assim roubando, literalmente, os mais pobres de oportunidades de desenvolvimento. A hipocrisia nesse terreno é inaceitável e o movimento antiglobalizador não poderia se fazer cúmplice desse vil atentado aos direitos humanos de milhões de pobres ao redor do mundo. Espero que pelo menos os antiglobalizadores brasileiros saibam desvencilhar-se dessa armadilha que os torna coniventes com um dos piores atentados aos direitos econômicos dos mais pobres.

3.2. Dívida externa, movimentos de capitais e globalização financeira
Um traço que unifica as mais diversas correntes do movimento antiglobalizador é, sem dúvida alguma, sua oposição ao pagamento da dívida externa dos países mais pobres e, de modo geral, à livre movimentação de capitais financeiros. Outra medida, de caráter propositivo e não simplesmente negativo como a do cancelamento das dívidas – traduzidas na prática por “plebiscitos” tão canhestros quanto viciados em sua indução automática ao não-pagamento, sustentado de forma piegas na “miséria do povo” –, é a que apresenta uma taxação sobre a movimentação de capitais, dita Tobin Tax, como sendo o remédio milagre tanto à volatilidade financeira quanto ao problema do não desenvolvimento dos países mais pobres. Rejeitada pelo próprio economista, James Tobin, que sugeriu um modesto controle sobre as aplicações cambiais no momento da derrocada do sistema de Bretton Woods, essa taxa, patrocinada especialmente pela vertente gaulesa do movimento anti – de onde retira o acrônimo ATTAC –, não apenas não resolveria o problema da volatilidade e da especulação, como se colocaria frontalmente contrária aos interesses de países emergentes tomadores de recursos, como o próprio Brasil. Neste terreno das finanças internacionais, as simplificações dos anti são tantas e tão risíveis que resulta difícil sequer “dialogar” com representantes desse movimento, que parecem não ter ideias mínimas sobre como funcionam os mercados financeiros e que partes de responsabilidade compartilhada devem ser atribuídas em momentos como os das graves turbulências financeiras dos anos noventa do século 20.
Já escrevi o suficiente sobre as crises financeiras – em especial em meu livro Os Primeiros Anos do Século XXI, em especial cap. 10, “O Brasil e as crises financeiras internacionais, 1929-2001” – para voltar agora em detalhe sobre seus determinantes, as consequências econômicas de curto prazo e as possíveis lições do ponto de vista da globalização financeira (inclusive quanto aos necessários cuidados que se há de ter em relação a esse aspecto da globalização, necessariamente diferente da liberalização comercial, que sempre provoca efeitos positivos). Não pretendo, em todo caso, contestar argumentos infantis e desprovidos de qualquer fundamentação histórica ou fatual, como os alinhados por organizações como o “Jubileu 2000”, que promove uma sistemática campanha em prol da eliminação da dívida externa dos países mais pobres. Registro aqui apenas um exemplo desse tipo de argumento:
“Resolver os problemas da dívida externa implica buscar saldar uma dívida histórica que os países do norte têm com os povos do sul como consequência do saque e da devastação que neles realizaram durante mais de 500 anos”. Como se diz: contra esse tipo de afirmação não há argumento. Sem dúvida que a dívida externa dos países mais pobres pode e deve ser diminuída ou mesmo eliminada, em certos casos, mas uma ação generalizada de cancelamento dessas dívidas faria mais mal do que bem ao conjunto dos países em desenvolvimento e emergentes, já que os retiraria dos mercados voluntários de capital por um tempo considerável, acumulando mais prejuízos do que benefícios.
Em relação aos movimentos de capitais puramente especulativos, vilipendiados tanto pelos antiglobalizadores como por alguns “globalizadores” – como por exemplo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso – pode-se simplesmente relembrar que eles estão em todas as partes, em especial nos países mais avançados, mas são capazes de provocar prejuízos apenas naquelas economias que já enfrentam desequilíbrios, nas quais a volatilidade é um dado intrínseco, não extrínseco, ao sistema. Controles podem ser utilizados, mas não são certamente a panaceia que alguns apregoam, sobretudo na forma permanente de restrições às entradas e saídas, de suposta paternidade keynesiana. Movimentos mais livres de capitais, assim como maior grau de competição no sistema financeiro contribuem para o bom funcionamento de qualquer sistema econômico, mas níveis adequados de liquidez podem ser regulados por instrumentos tributários ao alcance de qualquer país. Apenas a ojeriza atávica em relação aos mercados financeiros ostentada em certos círculos esquerdistas pode justificar algumas das medidas propostas pelos grupos antiglobalizadores: elas pertencem mais ao reino da paixão política do que ao terreno da administração sensata das relações econômicas internacionais.

3.3. Competição aberta contra mercados regulados e fechados
Outro dos objetos mais frequentes da demonologia dos antiglobalizadores é o livre-comércio, invariavelmente acusado de provocar perdas para os países mais pobres e de concentrar ainda mais as riquezas em escala planetária. Nada poderia estar mais distante da verdade. Se existe algum tipo de consenso entre os economistas, há mais de dois séculos, é justamente o que defende os efeitos benéficos do livre-comércio para todos os participantes da relação. Os argumentos são tão convincentes a esse respeito que não caberia insistir na argumentação em favor da liberdade de comércio, e sim aguardar provas mais evidentes, dos anti, de que ela provoca miséria e desigualdade.
Bastaria considerar os dados mais elementares da história e das estatísticas atuais confrontando níveis de renda e coeficiente de abertura externa (isto é, a participação do comércio no produto bruto) para constatar o óbvio: há uma nítida correlação entre renda per capita e abertura ao comércio. Como ocorre nesses casos, apenas dirigentes sindicais e agricultores dos países do norte, de um lado, e “intelectuais” do sul, de outro, atacam o livre-comércio: os primeiros estão, é claro, interessados nos empregos industriais ou nos mercados agrícolas protegidos em seus países, ao passo que os segundos defendem teses abstratas, em total contradição com os interesses de seus próprios trabalhadores.
Os argumentos em favor do livre-comércio são tão poderosos que mesmo o PT, no Brasil, aderiu à tese, como se deduz desta afirmação, do seu candidato presidencial em plena campanha de 2002: “Somos a favor do livre-comércio, desde que os países possam competir em igualdade de condições” (carta-compromisso de 23.07.02), Na verdade, a frase deveria receber um ponto final na primeira vírgula, já que a condicionalidade proclamada não tem nenhuma razão de ser: competição em igualdade de condições nunca existirá. Os países exibem assimetrias naturais ou criadas que se manifestam de forma recorrente e que sustentam justamente o comércio, sendo ilusório acreditar que elas serão eliminadas. Aliás, elas não podem ser eliminadas pois que constituem o que se chama de base estrutural das vantagens comparativas relativas, que é o fundamento do próprio ato de comerciar. O livre-comércio, de verdade, é sempre unilateral, nunca condicional e restrito ao princípio de reciprocidade.

3.4. Instituições de solução de controvérsias em face do arbítrio comercial
Não contentes em despejar sua fúria contra o FMI e o Banco Mundial, acusando-os de serem sustentáculos do neoliberalismo – quando as instituições de Bretton Woods são, na verdade, instrumentos que corrigem imperfeições dos mercados –, os antiglobalizadores ingênuos também pretendem eliminar ou paralisar a OMC, vista como mais uma defensora das grandes multinacionais e da liberalização selvagem, o que constitui, obviamente, outra grande bobagem. Longe de fazer pressão em favor de uma completa liberalização comercial – o que, aliás, seria um grande benefício para os países mais pobres – a organização de Genebra contribui, antes de mais nada, para administrar de modo relativamente imparcial as formas modernas de mercantilismo, que os países insistem em promover em lugar de aderir resolutamente aos princípios de Adam Smith.
Na verdade, se a OMC não existisse, seria preciso inventá-la, na medida em que ela constitui uma das poucas defesas, por meio do sistema de solução de controvérsias, de que dispõem os países menos poderosos para lutar contra o arbítrio dos mais fortes. A oposição consistente dos antiglobalizadores contra as rodadas multilaterais de negociação comercial da OMC – como de resto contra a Alca e outros processos em curso de escala mais restrita – afastam as possibilidades de que países mais pobres possam se integrar mais rapidamente à economia mundial e daí extrair crescimento e riqueza. Desse ponto de vista, os antiglobalizadores são altamente irresponsáveis.


3.5. Crescimento e pobreza, ou o que a globalização pode fazer por eles
A acusação, sempre freqüente nos manifestos do movimento anti, de que a globalização reduz o crescimento nos países mais pobres e aprofunda neles a pobreza, não é apenas rizível e desprovida de fundamentação empírica: ela é totalmente ridícula, em face dos exemplos mais conspícuos em sentido contrário. China e Índia, dois países pobres e dotados de instituições econômicas socialistas e dirigistas, foram os que mais cresceram quando, justamente, se inseriram no processo de globalização, explorando suas vantagens naturais (mão-de-obra barata) ou adquiridas (educação de qualidade, em certas categorias de trabalhadores, e facilidades logísticas e de comunicações). Nos dois, milhões de pessoas se alçaram de uma miséria ancestral e puderam desfrutar de uma primeira sensação de progresso social desde gerações imemoráveis.
Na outra ponta, os dois países mais abertos ao processo de globalização, de fato os promotores históricos desse processo desde a era da primeira revolução industrial, o Reino Unido e os Estados Unidos, são também aqueles que apresentaram as maiores taxas de crescimento de todos os desenvolvidos durante a terceira onda da globalização, nos anos noventa, ostentando igualmente as menores taxas de desemprego entre os países da OCDE. Por acaso são também os mais globalizados financeiramente e os que mantêm o menor número de restrições aos investimentos ou em termos regulatórios.
No que se refere aos investimentos diretos, justamente, observa-se uma virtual contradição entre, de um lado, a oposição retórica e o soberanismo vazio proclamado pelos anti e, de outro, os ativos esforços de atração de capitais de risco que vêm sendo feitos pelos países em desenvolvimento, que se mostram indiferentes ao discurso contra as multinacionais dos primeiros. Pode parecer razoável proclamar-se a intenção de reservar “espaços nacionais” para políticas de desenvolvimento, mas a menos de se dispor de políticas setoriais definidas e concretas, o alerta pode parecer inócuo  ou simples manifestação de prevenção contra o investidor estrangeiro, que ele vem em busca de objetivos muito objetivos: liberdade de ação e o maior lucro possível, nessa ordem.

3.6. Concentração da renda e desigualdades
A concentração e a desigualdade na distribuição da renda podem ocorrer mesmo na ausência do processo de globalização, como prova o Brasil na era do protecionismo industrial e de fechamento comercial. A globalização, ao contrário, ao provocar uma maior taxa de crescimento da economia em países menos avançados, tende a favorecer o crescimento e, portanto, a criação de riquezas. A distribuição da renda adicional assim criada pode não ser a mais equitativa possível, mas isso depende de um conjunto de fatores políticos e sociais que ultrapassam a capacidade operacional da globalização.
Esta questão, de toda forma, está ligada ao papel que o Estado desempenha no sistema econômico. Os antiglobalizadores costumam afirmar que não existe nenhuma experiência histórica que demonstre que o mercado, por si só, logre alcançar níveis satisfatórios de repartição de benefícios e muito menos justiça social, o que é no mínimo uma generalização indevida. Ainda que o Estado tenha sido importante ao administrar mecanismos tributários, compensatórios e de benefícios indiretos – escolas, hospitais e saneamento básico, por exemplo – em favor dos mais desfavorecidos, em praticamente todos os países, as evidências mais eloquentes em termos de crescimento da renda e de repartição equitativa das riquezas geradas no setor privado estão justamente naqueles países onde os mercados funcionaram de forma mais desimpedida e livre, não nos mais estatizados ou controlados pelo setor público. Privatizações podem tanto concentrar como desconcentrar a renda, dependendo da forma como são conduzidas, sem esquecer que uma das formas mais iníquas de concentração da renda em países pobres é aquela operada em favor de certas categorias de privilegiados estatais – funcionários da ativa ou pensionistas – que logram transferir para si uma parte substancial da riqueza social sob a forma de investimentos em empresas estatais ou pensões abusivas.

3.7. Tecnologia proprietária e dependência tecnológica
Da mesma forma como os capitais financeiros, patentes e direitos proprietários em geral têm o dom de despertar paixões exacerbadas nas hostes do movimento. Talvez seja porque aqui estão concentrados alguns dos símbolos considerados nefastos para os antiglobalizadores: grandes multinacionais lidando com segredos industriais, extração de lucros abusivos sobre determinadas categorias de produtos, a começar pelo remédios, enfim, monopólio tecnológico dos ricos e dependência dos mais pobres. As demandas, em conseqüência, vão da proibição de patentes em certas áreas (ligadas à vida e saúde), ao licenciamento compulsório de patentes devidamente registradas de remédios de larga utilização pública, passando pelo controle extensivo do setor pelo Estado.
De fato, o regime de patentes consagra o monopólio do detentor dos direitos durante um certo tempo, que vem sendo paulatinamente aumentado (atualmente de 20 anos para patentes e bem mais para direitos do autor) e estendido a novas áreas, até aqui inéditas, do conhecimento e da engenhosidade humanas. Pode-se, efetivamente, constatar um certo exagero na proteção patentária, atualmente, mas como disse uma vez Churchill em relação à democracia, trata-se do pior regime, à exceção de todos os demais. Sem a promessa de ganhos trazidos pelo regime “monopólico” das patentes, seria difícil assegurar os investimentos necessários à introdução de novos remédios nos mercados. A existência de um regime abrangente de proteção tornou-se, assim, uma condição do próprio desenvolvimento tecnológico nessas áreas de ponta, razão pela qual países dotados de “baixa cultura patentária” têm sido notoriamente deficientes no registro e na exploração de inovações, a despeito mesmo de seus progressos científicos, como parece ser o caso do Brasil.
A dependência tecnológica é um fato, mas ela não será sequer arranhada se os países em desenvolvimento seguirem os conselhos dos antiglobalizadores na condução de suas políticas tecnológicas e de propriedade intelectual. Ao contrário, é provável que a dependência se aprofunde caso suas “prescrições” sejam seguidas, uma vez que elas não correspondem ao itinerário real dos países capitalistas desenvolvidos, e sim são meras teses agitadas no mundo abstrato em que vivem os antiglobalizadores.

3. Meio ambiente e mercado: um instável equilíbrio
A degradação ambiental e a diminuição da diversidade biológica são fatos que acompanham a civilização humana desde tempos imemoriais: as sociedades devastaram a natureza e substituíram-na por paisagens humanas, assim como domesticaram animais e agora tentam interferir no próprio ato de criação de novos seres vivos, desta vez ao nível molecular, quando já o vinham fazendo há milhares de anos ao nível da seleção das espécies. Acreditar que tais fenômenos se reduzem a um problema de mercado ou que está ligado exclusivamente ao modo de produção capitalista é de um reducionismo atroz e, no entanto, é isso que vêm fazendo os antiglobalizadores ecológicos.
O que eles pedem, em essência, é o afastamento dos critérios de mercado das questões vinculadas ao meio ambiente – na OMC, por exemplo –, quando os sinais de mercado são os únicos capazes de, ao precificarem os custos relativos de utilização e de conservação, estabelecer um justo meio termo, por certo sempre instável, entre a preservação ambiental e o uso sensato dos recursos naturais. A experiência das últimas décadas, em especial nos ex-países socialistas, indica que a ausência de sinais de mercado e a presença avassaladora do Estado na regulação do uso de recursos comuns pode andar de par com os piores atentados ao meio ambiente de que se tem notícia. Parece claro que a livre disposição desses recursos também pode conduzir a abusos por parte das empresas privadas – sempre tentadas a atuarem segundo um comportamento free-rider –, mas justamente a combinação de mecanismos regulatórios com adequados estímulos de mercado parece mais condizente com as necessidades sociais do que um preservacionismo radical que parece impedir, atualmente, os povos dos países mais pobres de fazerem uso adequado de seus ainda vastos recursos naturais. Como também indicado pela experiência histórica, as piores degradações ambientais tendem a ocorrer nas regiões mais pobres dos países em desenvolvimento. Desse ponto de vista, as posições assumidas pelos antiglobalizadores tendem, na prática, a perpetuar miséria e degradação ambiental nesses países.

4. Diagnóstico de duas enfermidades precoces: autismo e esquizofrenia
Ao percorrer os inúmeros escritos – caóticos, desiguais, geralmente carentes de método e ainda menos apoiados em estudos empíricos – dos antiglobalizadores, a sensação que se retira é a de uma estéril e inócua anarquia mental. Aliás, uma única conclusão parece possível a partir da leitura (penosa) dos textos dos anti: o que os anima, na verdade, não é a criação de um “novo mundo”, ou a indicação de alternativas reais e credíveis aos problemas deste velho mundo em que vivemos, por certo desigual e iníquo, sob muitos aspectos, mas ainda assim infinitamente melhor do que aquele no qual viveram nossos avós e bisavós, e assim sucessivamente até tempos recuados, e bem mais sombrios, da história da humanidade. O que os mobiliza, de fato, são duas tomadas de posição que cabe aqui considerar: um anti-capitalismo visceral e, o que é mais grave, sua derivação sociológica, um anti-mercadismo filosófico.
Não tenho nenhum tipo de mandato para colocar-me na defesa do capitalismo, um sistema que me parece dispensar defensores pagos ou voluntários, já que vem, ao longo dos séculos, resistindo razoavelmente bem aos assaltos continuados de uma horda de bárbaros anticapitalistas, desde os mercantilistas adeptos das reservas de mercado, aos monopolistas das companhias reais de comércio, a socialistas utópicos e soi-disant “científicos”, a coletivistas fascistas e planejadores comunistas, a estatistas disfarçados e outros dispensadores do “bem-estar social”. Pesa em seu favor o fato de não ter sido inventado por nenhum cérebro genial, à diferença de certas soluções “inovadoras” para minorar as misérias e sofrimentos humanos, emergindo de forma imperfeita e sempre incompleta de um processo impessoal, não administrado centralmente, não controlado e não controlável por nenhuma força social particular, mas resultando da combinação de milhares de ações e reações ao longo de uma cadeia de interações sociais que deita raízes em várias correntes constitutivas da civilização ocidental (pois é um fato histórico, não absoluto ou excludente, que o capitalismo emergiu primeiro nas formações sociais criadas a partir do substrato civilizatório comum do Ocidente medieval). Tal como ele existe, o capitalismo é certamente imperfeito e desigual, concentrador e indiferente às especificidades humanas, mas é também o sistema mais dinâmico de criação de riqueza e de disseminação de progresso técnico que já existiu na face da Terra. Não é eterno, certamente, mas vai evoluir gradualmente para formas diferentes – talvez não “superiores”, num sentido moral – de organização social da produção, sem que se possa predizer com alguma certeza como e em que condições ele vai continuar a moldar as sociedades modernas como o fez nos últimos cinco ou oito séculos.
É a esse sistema de remuneração pelo mérito, de prêmio pela astúcia individual, de retorno pela dedicação ao trabalho honesto, mas também de acumulação crua (e não raro violenta) de capitais, de genial inventividade e de brutal concentração de riquezas, que os antiglobalizadores pretendem substituir por algum sistema de organização social da produção e de distribuição de renda ainda indefinido, mas idealmente mais justo e menos desigual, feito de solidariedade e de respeito aos direitos humanos, assim como ao meio ambiente e à diversidade natural dos povos. Nada mais singelo e mais irrealista, pois que eles não conseguem sequer entender a lógica de funcionamento do capitalismo, quanto mais fazê-lo ser deslocado por um outro sistema inerentemente mais justo e mais eficiente (por fiat natural?).
A principal dificuldade para esse tipo de empreendimento benemérito – e aqui passo à segunda característica dos antiglobalizadores – é que no meio do caminho tinha um mercado. Ainda que eles não queiram ou não possam admitir tal realidade, o fato é que o mercado é muito maior do que o capitalismo, pois que perpassa todas as sociedades, em todas as épocas e lugares. Não há sociedade sem mercados, salvo talvez em povos muito primitivos, mas estes também conhecem formas de divisão social (e sexual) do trabalho, que já são, pelo simples fato de existirem, um embrião dos mercados potenciais. A economia de mercado sobreviverá ao capitalismo, quando este já não mais fizer parte do estoque de modos de produção à disposição dos “engenheiros sociais”, pela simples razão que ela funciona como uma espécie de sistema circulatório, sustentando o conjunto de funções numa sociedade complexa.
Que o mercado seja contraditório, incerto, caótico e inerentemente injusto, como parecia interpretar um espírito idealista como Marx, não implica em que possamos nos desvencilhar dele facilmente (ou impunemente). Todas as tentativas realizadas até aqui, a mais notória durante setenta anos, entre as planícies europeias e as estepes asiáticas, redundaram em notórios fracassos, quando não em tragédias humanas incomensuráveis. A recusa filosófica, digamos idealista, do principio do mercado pela maior parte dos antiglobalizadores, sempre prontos a acusar a “mercantilização da vida” em qualquer relação envolvendo intercâmbio de renda ou ativos patrimoniais, é algo preocupante e, eu diria, sintomático de uma doença bem mais grave, que em psiquiatria recebe o nome de “esquizofrenia”.
A esquizofrenia, segundo os dicionários médicos, é uma psicose caracterizada pela desagregação da personalidade e por uma perda de contato vital com a realidade. Antigamente conhecida por “demência precoce”, ela afeta mais particularmente os adolescentes ou adultos até os 40 anos. Segundo o psiquiatra suíço que a estudou, Eugen Bleuler (1857-1939), essa doença apresenta-se como uma dissociação mental, ou “discordância”, acompanhada por uma invasão caótica do imaginário, podendo se traduzir por distúrbios afetivos, intelectuais e psicomotores, sentimentos contraditórios em relação ao mesmo objeto (amor e ódio, por exemplo), ou então por incapacidade de agir, por autismo, delírio e até recusa de falar. O autismo, por sua vez, é uma ruptura entre a atividade mental e o mundo exterior e uma introversão mais ou menos total no mundo do imaginário e dos fantasmas (Larousse Médical, 1995).
Eu estaria sendo muito cruel e exagerado se acusasse os antiglobalizadores dessas duas enfermidades: esquizofrenia e autismo? Os sintomas e as reações, em todo caso, são muito parecidos. Como os esquizofrênicos, eles recusam ver o mundo como ele é, preferindo descrevê-lo em tintas sombrias e catastróficas, cujos componentes têm um único problema: o de não corresponderem à realidade dos fatos. Como os autistas, eles se reúnem entre eles e recusam dialogar com o exterior, ou com quem não aceitar sua Carta de “Princípios”, tão confusa formalmente quanto desconexa substantivamente.
Acredito, pessoalmente, que – à parte um “núcleo duro” de anticapitalistas profissionais, isto é, aqueles sobreviventes do grande desastre do movimento comunista do século 20 e que ainda continuam a se perpetuar como uma seita religiosa, através de velhos ritos litúrgicos que só desaparecerão com o passamento do último representante da espécie – a maior parte dos integrantes do movimento antiglobalizador é composta de jovens idealistas que desejam sinceramente a correção da piores desigualdades que ainda dividem a humanidade em um punhado de países ricos e uma imensa periferia de pobres e miseráveis. Eles são devotados à causa e acreditam, por indução daqueles profissionais acima referidos ou por leituras apressadas ou enviesadas, que o velho capitalismo, o neoliberalismo (que muitos confundem com o chamado “Consenso de Washington”) e o sistema de mercado são efetivamente responsáveis pelas misérias do mundo, tal como o vemos de nossas janelas, nas ruas do Terceiro Mundo ou que aprendemos a conhecer em informações disseminadas pela internet. Esse mundo real é realmente inaceitável e algo deve ser feito para paliar suas carências mais gritantes e suas iniquidades mais brutais.
Apenas considero que essas misérias, injustiças e iniquidades não se devem, em absoluto, à globalização: elas preexistem, inclusive, ao capitalismo e podem talvez continuar a existir se, por acaso, em uma bela manhã de sol, o mundo decidisse deixar de ser “capitalista” para ser qualquer outra coisa, proposta ou não pelos antiglobalizadores. Os anti se enganam singularmente de inimigo, provavelmente por falta de leituras honestas, de um estudo mais atento da realidade histórica, de um conhecimento mínimo sobre como funcionam os sistemas econômicos e, também, porque se deixam levar por um discurso simplista e simplificador, por parte daqueles já mencionados acima.
Não tenho nenhuma restrição mental em acusar os “defensores do culto”, tanto porque eu também já fui um deles, embora de uma vertente não religiosa, muito dada a leituras de todo tipo, onde Marx era combinado a Raymond Aron, Engels a Fernand Braudel e Lênin a Tocqueville. Derivei minha reavaliação dos capitalismos realmente existentes por meio de um conhecimento não apenas teórico, mas sobretudo prático de todos os socialismos realmente existentes (e suas pequenas e grandes tragédias sociais). Aprendi, em especial, a reconsiderar minha análise do sistema de mercado – tal como absorvida precocemente n’O Capital, de Marx – pelo estudo das tribos mais primitivas do planeta, numa antropologia comparada das sociedades que em muito contribuiu para relativizar as críticas mais candentes que os modernos socialistas faziam às iniquidades percebidas e reais desse sistema na moderna economia capitalista.
Quero crer, com base nesses estudos e na reavaliação pessoal conduzida ao longo dos anos, que os assim chamados “marxistas” contemporâneos – e que ainda continuam a perpetuar ritos e instrumentos de um culto tão ultrapassado quanto inócuo, do ponto de vista da moderna sociedade globalizada – não merecem na verdade esse epíteto, e sim o de reacionários, pois querem fazer girar para trás a roda da história, segundo a fórmula consagrada de Marx. Aliás, eu me considero marxista e nem por isso deixo de ser “globalizador”, como aliás Marx o seria, se por acaso vivesse atualmente. Por isso acredito, com base em todas as considerações que efetuei neste ensaio, que não só os marxistas, mas também os socialistas de todas as espécies, os humanistas, os ecologistas, as pessoas de esquerda e os progressistas em geral deveriam adotar, sincera e devotamente, uma postura em favor da globalização – atualmente inseparável, mas não para sempre, do capitalismo –, da qual um balanço honesto saberia nela reconhecer o único sistema progressista realmente existente. Por progressista eu entendo, está claro, um sistema capaz de incorporar, progressivamente, contingentes sempre crescentes de pessoas em patamares mais elevados de produtividade, de renda e de bem estar social, não um sistema que atenda a todas as necessidades culturais, educacionais ou de justiça social de todas as sociedades por ele tocadas. Isto a globalização é capaz de fazer, mas ela não poderá, obviamente, dispensar o igualitarismo social com que sonham alguns de seus arautos ou de que a acusam vários, ou maior parte, de seus críticos.
Quero crer, também, que a maior parte dos participantes do movimento antiglobalizador seja composta de indivíduos idealistas, que se esforçam sinceramente por encontrar respostas aos problemas do mundo atual, por definir, como proclamado no seu 4º princípio, as chamadas propostas alternativas para uma “nova etapa da história do mundo, uma globalização solidária que respeite os direitos humanos universais, bem como os de tod@s @s cidadãos e cidadãs em todas as nações e o meio ambiente, apoiada em sistemas e instituições internacionais democráticos a serviço da justiça social, da igualdade e da soberania dos povos.”
Concordo basicamente com esse objetivo geral, idealista, contentando-me talvez, tão simplesmente, em retirar o adjetivo “solidária” do conceito de globalização, não por discordar da intenção, mas por considerá-la inócua e absolutamente irrelevante do ponto de vista do processo histórico. A globalização seguirá sua marcha impessoal, indiferente às vontades e intenções daqueles que pretenderiam atribuir-lhe qualquer caracterização particular ou específica.
Atores sociais e líderes políticos intentarão, obviamente, moldar o processo de globalização, tentando adaptá-lo às suas necessidades nacionais, às suas concepções filosóficas ou a seus projetos políticos. Todas essas ações poderão, ou não, desviar, ainda que de forma moderada, o traçado impessoal e aparentemente indomável do processo de globalização, mas não conseguirão determinar seu curso básico, que é o da unificação progressiva do planeta numa sociedade singular, não totalmente integrada ou dotada de padrões uniformes (como pretendem os defensores do nacionalismo cultural), mas tampouco fechada em arquipélagos nacionais como ocorreu até os nossos dias. As ameaças de eliminação das diferenças culturais entre os povos, devido à importação de bens e serviços de “cultura de massas” do atual centro imperial, são carentes de maior substância efetiva e não deveriam ser consideradas por todos aqueles que trabalham com a identidade nacional desses povos, como a própria experiência brasileira já o demonstrou amplamente.
Uma leitura realista das possibilidades e limites da globalização nos permitiria visualizar, sem paixões ou esperanças não razoáveis, o potencial de realizações que esse processo contraditório e indomável contém no sentido de uma transformação positiva, e progressista, da maior parte das formações sociais integradas, de uma ou outra forma, ao grande caudal da economia mundial. Sempre haverá aqueles que preferirão combater moinhos de vento, em lugar de se lançar, modesta e pragmaticamente, nas pequenas e grandes tarefas vinculadas necessariamente ao processo de globalização: a educação das massas, a qualificação técnica e profissional dos trabalhadores, a melhoria contínua dos padrões culturais e científicos da população, de maneira a prepará-la para usufruir plenamente dos benefícios desse processo irreversível, bem como para fazê-la participar com seus próprios instrumentos dessa grande dinâmica multiforme.
Os antiglobalizadores da atualidade me parecem ter adotado, por enquanto, a atitude do avestruz, o que é próprio daqueles que se sentem fragilizados frente a uma realidade que não dominam e que parece dominá-los por sua vez. As manifestações ruidosas que conduzem nos locais e eventos típicos da atual globalização constituem um típico combate de retaguarda, e suas teses estão condenadas a se esvair na vacuidade das ideias mal pensadas, mal conduzidas e mal direcionadas. É de toda forma reconfortante saber, de acordo com Marx, que a humanidade nunca deixa de oferecer soluções aos problemas que ela mesma se coloca. Daí a razão de meu otimismo.

Brasília, 5 de julho de 2004

Os amigos russos de Trump: assets ou liabilities? - Politico

Parece que Mister Trump tem negócios obscuros, que ele será chamado a explicar ao longo da campanha presidencial. Provavelmente soçobrará sem conseguir desvendar questões inexplicáveis e muito pouco transparentes.
A despeito de ser o candidato que ninguém no mundo quer -- salvo o Putin, claro, e seus amigos oligarcas russos --, Trump será o homem mais discutido, mais escrutinado, mais inquirido, de qualquer campanha presidencial americana EVER.
E tudo isso por um grande idiota, não um imbecil completo (do contrário não teria conseguido preservar seus ativos e riquezas patrimoniais), mas um idiota no sentido de ser o candidato menos adequado para liderar uma potência como os EUA (ou qualquer outro paiseco de qualquer continente do planeta Terra).
Vamos ler este relato importante de uma das grandes revistas políticas dos EUA.
Grato ao Roque Callage pelo envio, que apreciei...
Paulo Roberto de Almeida


Trump and the Oligarch

He claims no ties to Russia. Here’s how he made millions from one of its wealthiest men.

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The house wasn’t built for a Russian oligarch, although it looked the part. The 62,000-square-foot, 17-bedroom mansion is a palace of new-money flash, featuring Greek fountains, tennis courts, trompe l’oeil murals, underground parking for dozens of cars, and a 100-foot swimming pool and hot tub overlooking the ocean. It even had a faux-aristocratic name: “Maison de l’Amitie,” or the House of Friendship. It was the trophy of a Boston-area nursing home magnate, until he lost his fortune in 2004. That’s when Donald Trump scooped it up.

After paying $41 million for the place in November 2004, Trump called it “the finest piece of land in Florida, and probably the U.S.” He vowed to upgrade the structure into “the second-greatest house in America.” (Second, of course, to his nearby Mar-a-Lago resort.) But Trump had no intention of living there. He intended to flip it for a quick—and huge—profit. His initial asking price, less than two years after buying it, was $125 million. By the time Trump listed the property, in early 2006, the real estate market was already cooling off. The property sat on the market for about two years as a frustrated Trump churned through real estate brokers and slashed his price 20 percent. It wasn’t at all clear who might pay Trump three times his buying price for a neoclassical palace amid a looming recession.

In the summer of 2008, Trump found a solution to his problem in the form of one of the world’s hundred richest men: a 41-year-old Russian billionaire named Dmitry Rybolovlev. Then with a net worth that Forbes estimated at $13 billion, Rybolovlev had made his fortune in the wild west of 1990s post-Soviet Russia. He’d spent a year in prison on murder charges (he was later cleared) and wore a bulletproof vest when his own life was threatened. He would pay Trump $95 million for Maison L’Amitie in what was widely described as the most expensive U.S. residential property sale ever.

“People were shocked” at Trump’s coup, said Jose Lambiet, a local reporter-turned-blogger who knows Trump and once toured the property with him. “They couldn’t believe that he did it.”

“It was a great deal,” Trump told POLITICO in a mid-July telephone interview. “I’m good at real estate.”

That’s hard to deny. Trump more than doubled the property’s sale price in less than four years. All it took was a signature Trumpian combination of bravado and exaggeration, along with something more controversial: Russian money.

The nature of Trump’s connection to Russia has exploded recently as a campaign issue, thanks to his friendly comments about Russian President Vladimir Putin; the ties that several of his advisers have to Moscow; his contrarian views on NATO and Ukraine, which happen to echo Putin’s; and his startling call on Wednesday for Moscow to find and release Hillary Clinton’s deleted private emails.

But the connection isn’t just political. Trump has repeatedly explored business ventures in Russia, partnered with Russians on projects elsewhere, and benefited from Russian largesse in his business ventures. “Russians make up a pretty disproportionate cross-section of a lot of our assets,” Donald Trump Jr. said at a real estate conference in 2008.

On Wednesday, Trump angrily insisted that he has “nothing to do with Russia,” and said that he has no investments in the country.
He did, however, grant one pointed exception: Maison de l’Amitie. “The closest I came to Russia, I bought a house a number of years ago in Palm Beach, Florida,” Trump told reporters. “I bought the house for $40 million and I sold it to a Russian for $100 million including commissions.”
It is also a story of a classic Trump deal: a lucrative flip, figures on both sides that don’t really add up, and at the center, a house that may not have been what either party claimed.

Why did a Russian billionaire pay Trump so much money for a house the new owner is believed never to have set foot in, which he has denied owning, and which he now intends to tear down? The answer offers an important window into Trump’s kinship with Russia’s oligarchs, and what he likely sees in them as business allies. It is also a story of a classic Trump deal: a lucrative flip, figures on both sides that don’t really add up, and at the center, a house that may not have been what either party claimed.
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Even by Palm Beach's standards of splendor and excess, the French Regency-style estate at 515 N. Country Road, with its spectacular ocean views and hundreds of feet of private beach, stood out. A butler employed there once encountered tourists with cameras outside the house’s front gates, ogling the modernist statues outside. “When does the museum open?” they asked.

In an interview, Trump shrugged off the Maison de l’Amitie sale as a “small deal,” compared to his other ventures, the way some people might refer to a summer cabin in the woods. “That was a house I bought for fun,” Trump said. He also downplayed his personal investment in the place, saying that he only made minor improvements to the property. “I cleaned it up a little bit, but not too much,” Trump told POLITICO. “The primary thing was, I painted it.” The implication, of course, would be that the price differential between his purchase and sale was almost entirely profit.
Back when Trump was trying to flip the house at a dizzying price, however, he claimed to have done far more. “I bought the land and gutted the house,” Trump told a reporter in late 2005. After the property went on the market, Shawn McCabe, vice president of Trump Properties in Florida, told Forbes that Trump had put in at least $25 million of his own money. Kendra Todd, a former contestant on Trump’s hit NBC show, The Apprentice, who went to work for Trump and helped to oversee the property’s renovation, said in an interview that Trump had done extensive work, from redoing a pool house to landscaping. “He was really involved with the project. He made the selections for the stone and the fixtures,” Todd said.

Documents submitted in March to Palm Beach’s architectural commission by a private firm retained by the buyer suggest that the actual work was modest. They say Trump had the main house’s interior “remodeled, updating with a new kitchen and dividing a large room to create additional bedrooms and bathrooms,” along with “some minor interior alterations of doors, frames & windows.”
The $100 million house Trump sold to Dmitry Rybolovlev. | AP Photo
The $100 million house Trump sold to Dmitry Rybolovlev. | AP Photo
Whatever improvements Trump actually made, they weren’t enough to quickly attract a buyer. As the house went unsold for months, according to a 2008 account in the New York Observer, Trump churned through three real estate brokers.

Some thought his asking price ludicrous. Lambiet, a former Palm Beach Post reporter who now publishes the local blog GossipExtra, noticed flaws and shortcuts during a personal tour Trump gave of the property in 2007. Trump, for instance, boasted that he’d installed gold fixtures in the bathrooms. But when Lambiet scratched a faucet, he found gold paint under his fingernails. And when Trump pointed out hurricane windows, which he also claimed were bulletproof, Lambiet found them suspiciously thin. “You knew in a hurricane the first wave was going to come right in,” he recalled in an interview.

In March 2008, Trump slashed the price to $100 million.

Trump rejected at least one offer for less than his asking price, one of his former brokers, Dolly Lenz, told the Observer in 2008. Lenz described the would-be buyer as an American socialite. Perhaps Trump understood that the payoff he was demanding would have to come from outside the U.S. A new generation of ultra-wealthy foreigners had emerged in the previous decade, many of them Russians who had reaped mind-boggling wealth as formerly state-controlled industries were privatized, the spoils mostly shared among political cronies. By then, Trump had pursued or completed multiple deals with Russian partners. “We see a lot of money pouring in from Russia,” Donald Jr., said at that 2008 real estate conference. Lenz told the Observer that she also believed a Russian might be Trump’s savior: “If you didn’t target the Russian billionaires, then you shouldn’t be in business.”
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Enter Dmitry Rybolovlev. Barely over 40 and worth a Forbes-estimated $12.5 billion in 2008, Rybolovlev was not exactly a familiar name on the Palm Beach social circuit. A former medical student who became a stock broker as the country transitioned from socialism to a market economy in the 1990s, he invested in heavy industry. In 1995, then just 29 years old, he was chairman of the Russian fertilizer giant Uralkali. Dubbed “the fertilizer king,” he would become one of the world’s wealthiest men, peaking at No. 59 on the Forbes 500 list. (Today, he’s listed as the 148th wealthiest man.) Like many Russian oligarchs, his success unfolded in the shadow of violence. Caught up in the dangerous world of 1990s Russian industry, he began wearing a bulletproof vest and moved his family to Switzerland. In 1996, he was jailed for almost a year, accused of plotting the murder of a rival businessman. (Rybolovlev has said he was pressured in jail to sell shares of his company for his freedom, suggesting possible extortion; he was later acquitted.)

Today, Rybolovlev is better known for other things. There was his record-setting purchase of an $88 million Manhattan apartment for his 22-year-old daughter; his ownership of Monaco’s pro soccer team; and recent accounts in the New York Times and The New Yorker of claims that an art broker who helped him purchase works by the likes of Picasso and da Vinci overcharged him by hundreds of millions of dollars.
Back then, Rybolovlev was just starting to collect the treasures for which he is now famous. He and his wife, Elena, whom he married in 1987, were developing an appetite for grand properties, and planned to build a replica in Geneva of Marie Antoinette’s chateau at Versailles. But they also hunted for estates overseas, and in early 2008, a broker led them to Maison de l’Amitie.

By then Trump had lowered his asking price, but he was determined to make a nine-figure sale sure to draw national headlines. “He wanted to break $100 million,” said David Newman, a lawyer at Day Pitney who represented Elena Rybolovleva. Trump clearly felt competitive about the final price. When the Saudi Prince Bandar bin Sultan listed his home in Aspen, Colorado, for $135 million a few months earlier, Trump publicly complained that “some character [is] putting on a price just to try to top Trump.”

Ultra high-end real estate sales are often detached from normal market forces. An ego-driven buyer might have a perverse incentive to pay more, not less. “People are happy to say, ‘I got the most expensive house in the U.S.,’” Newman said. This is particularly true of Russian oligarchs, he added: “They like to buy the biggest and the best.” In this sense, Trump and Rybolovlev had something fundamental in common.

But as the deal took shape, the Florida real estate market began to crash. And for all of Trump’s talk of renovations, sources close to the Rybolovlevs would later tell reporters that the house was uninhabitable. (Lambiet says it’s hard to air condition and has persistent mold.) Perhaps fearing they were being played, the Rybolovlevs pressed Trump for a $25 million discount, an undisclosed source close to the family told the New York Times in 2012.

But Trump wanted his magic number. If he really did put $25 million into the house, a $75 million sale wouldn’t leave much profit. Trump also said in the interview that he could tell Rybolovlev was hooked: “He wanted it very badly.” Trump held firm.

And Rybolovlev caved. It may be that the Russian decided the extra $25 million was breadcrumbs from his $13 billion fortune. It’s also possible that Rybolovlev’s wealth far exceeds his financial acumen. Last year, the Russian accused a Geneva-based art dealer of swindling him out of $500 million to $1 billion through huge markups on fine art purchases. In one case, Rybolovlev paid $118 million for a nude portrait by Modigliani, which he now believes the dealer bought for just $93.5 million on his behalf.

In July 2008, a family trust established by Rybolovlev paid Trump $95 million, according to a warranty deed recorded by Palm Beach County. Trump, for whom appearances are everything, continues to state the price as $100 million (“plus commissions,” as he put it Wednesday; he has previous said that total included a $5 million credit for broker fees).

Five years after the sale, Palm Beach County appraised the house for just $59.8 million. It has since rebounded to a healthier $81.8 million, still nearly 15 percent less than Rybolovlev paid.
“I got a good price,” Trump said, dismissing skeptics who say he took advantage of Rybolovlev. “People don’t want to see that big a profit being made.”
But the drama around what had become Palm Beach’s most famous trophy house had only begun.
Within months, the Rybolovlev marriage broke apart in ugly fashion. Elena accused her husband of serial infidelity, charging in her divorce petition that, during parties on his yacht, he shared his “young conquests with his friends, and other oligarchs.” Among her demands on his assets was a claim to half the value of Maison de L’Amitie, which she accused Dmitry of buying with a trust to keep it from her. Her lawsuit charged that her husband had “a history of secreting and transferring assets in order to avoid his obligations.” The Panama Papers leaked in April showed that, around the time the couple split up, Rybolovev used offshore companies to move luxury assets like real estate and fine art out of Switzerland, where they would have been exposed to her divorce claims, according to the International Consortium for Investigative Journalists, which acquired the documents. (Rybolovlev has denied trying to hide assets from his wife, and in an April statement, a lawyer for his family’s trust said his offshore holdings had been set up “completely legitimately.”)

The divorce took on an action-movie flavor as Rybolovlev tried to dodge legal papers staking Elena’s claim to his assets. In 2011, a process server stalked Rybolovlev in Hawaii, where the Russian had purchased a $20 million house from the actor Will Smith. As the Russian tried to escape, the server jumped on the mogul’s moving black Cadillac Escalade to slap legal documents on the windshield, according to affidavits described by the Palm Beach Post. Another incident, filmed and posted on YouTube, shows a server sprinting toward Rybolovlev’s SUV shouting, “Dmitry!” as the driver guns the engine and speeds off.
With Maison de L’Amitie in a legal tug of war, Dmitry Rybolovlev distanced himself from the property. In one 2011 deposition, he denied owning the house, “directly or indirectly.” (The actual owner was a family trust created to secure the financial future of his two daughters, he said.)
A Palm Beach Post reporter asked Trump about the confusion: Did he know exactly who had bought his house? “Somebody paid me $100 million,” Trump joked.
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Trump has much in common with Russia’s oligarchs—billions in wealth, supreme self-confidence, a taste for trophies and a love of flaunting riches—and in recent years, he has gravitated toward them. In 2013, he partnered with the Russian real estate mogul Aras Agalarov to bring the Miss Universe pageant, which Trump owned at the time, to Moscow. Trump later boasted that “all the oligarchs” had attended the event. While in Moscow, Trump discussed plans for real estate projects there.
It is hard to verify the claim Trump made this week that he has no investments in Russia and that his dealings with Russians are very limited. His company is private and is not required to disclose its finances. In a break from modern presidential norms, Trump refuses to release his personal tax returns.
“The big question is whether any hard evidence comes out about whether Trump has any financial interests linked to Russia,” says Democratic consultant Jeremy Rosner, who served on Bill Clinton’s national security council staff. “And that’s why it’s so important that he release his tax records. Otherwise, we could have a Manchurian Candidate with the keys to the Oval Office who is under the control of a foreign power. And voters deserve very clear evidence that that is not the case.”

A close look at the case of Maison de L’Amitie doesn't suggest any connection to Putin. Rybolovlev is not usually described in media accounts as a close ally of the Russian leader, and Kremlin officials have publicly criticized him over a 2006 industrial accident at a Uralkrali mine. “He’s not very well received here in Russia,” an unnamed adviser to the Russian government told the New York Times in 2013.
Trump says he’s never so much as shaken hands with Rybolovlev, his nearly $100 million man. “I never met him. He was represented by a broker,” Trump said in the interview. “I heard good things about him in many ways, and about his family.” Trump added that Rybolovlev’s nationality was not relevant to him. “He just happened to be from Russia. He’s a rich guy from Russia.”
Asked whether Trump and Rybolovlev had ever spoken, a spokesman for the Russian said he “would [not] comment on a private, personal relationship.”o
The dust is now settling on Rybolovlev’s divorce. In 2014, a Swiss court ordered Rybolovlev to pay Elena $4.5 billion, a sum later slashed to $600 million. The couple finally settled on undisclosed terms last fall. Forbes currently estimates Rybolovlev’s net worth at $7.7 billion. He now lives in Monte Carlo, residing in a penthouse apartment, overlooking its famous harbor and attending games of his AC Monaco soccer club with Prince Albert.
But dust clouds may soon rise over Maison L’Amitie. In April, Palm Beach’s architectural commission approved a plan to demolish the home. The House of Friendship, having faced bankruptcy and bitter divorce, will likely be torn down. Rybolovlev may never set foot in it.
Trump speculated that the property will be subdivided. Which is fine by him, he says, unsentimental about a home he once envisioned as America’s second-greatest.

“I have no emotion,” Trump said, “other than it was a great deal.”
That’s hard to dispute. Even with the work Trump did on the house, Lambiet still marvels at the quick profit he turned.
“This is what he does with everything. He puts a little veneer on things and he doubles the price, and people buy it,” Lambiet said. “He’s all smoke and mirrors—and that house was the proof.”

Annabelle Timsit contributed to this report.

Read more: http://www.politico.com/magazine/story/2016/07/donald-trump-2016-russian-ties-214116#ixzz4FwemVyMt
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sábado, 30 de julho de 2016

Nunca Antes na Diplomacia...: a politica externa brasileira em tempos nao convencionais - livro Paulo Roberto de Almeida

Apresentação sumária do meu mais recente livro publicado sobre a política externa brasileira, mais exatamente sobre a diplomacia lulopetista e as bases conceituais de uma política externa sensata, profissional, lançada quando eu me encontrava no exterior:

Nunca Antes na Diplomacia...: a política externa brasileira em tempos não convencionais
(Curitiba: Editora Appris, 2014, 289 p.; ISBN: 978-85-8192-429-8)

Em tempos de grandes mentiras, o ato de falar a verdade torna-se revolucionário.
George Orwell



Nunca antes na diplomacia? Provavelmente...
Tudo o que sempre lhe intrigou na política externa da era do “nunca antes”, e não tinha a quem perguntar?
Agora já tem, ou, pelo menos, onde ler a respeito. Um diplomata experiente explica o que representaram esses tempos não convencionais na diplomacia brasileira.
Conceitos, fundamentos, ideias (as boas e as más), mas sobretudo os resultados práticos, examinados com isenção, em torno de uma diplomacia que rompeu o consenso nacional de que ela sempre desfrutou tradicionalmente. De fato, nunca antes...

Paulo Roberto de Almeida assina aqui uma de suas obras mais lúcidas, apresentando uma visão contrarianista ao “pensamento único” sobre a política externa dos últimos anos.

Este livro apresenta uma avaliação do que representaram, para o Itamaraty, os anos de diplomacia partidária, um período de desvios nas melhores tradições da Casa de Rio Branco.
Nunca antes na história do País, e de sua diplomacia, preconceitos ideológicos e plataforma partidária influíram tanto nas questões de competência do Itamaraty.
Eu louvo a sua coragem, no sentido de romper a cortina de silêncio em torno das más escolhas feitas na última década, expondo abertamente a sua contrariedade com as posições adotadas em nome do Brasil.
Do Prefácio do Embaixador Rubens Antônio Barbosa,
presidente do Conselho de Comércio Exterior da FIESP.

Sumário:
Prefácio, Embaixador Rubens Antônio Barbosa
As ideias e as práticas da diplomacia brasileira nos últimos 20 anos
Introdução, Paulo Roberto de Almeida
1. Bases conceituais de uma política externa nacional
2. As relações internacionais do Brasil em perspectiva histórica
3. Processos decisórios na história da política externa brasileira
4. A política da política externa: as várias diplomacias presidenciais
5. Duas diplomacias em perspectiva: a profissional e a engajada
6. As novas roupas da diplomacia regional do Brasil
7. Uma nova arquitetura diplomática?: mudanças na política externa
8. Pensamento e ação da diplomacia engajada: uma visão crítica
9. Nunca antes na diplomacia: balanço e avaliação
10. Uma política externa exótica: seus efeitos institucionais
11. A opção preferencial pelo Sul: um novo determinismo geográfico?
12. Uma grande estratégia para o Brasil?
13. O Barão do Rio Branco: o que ele fez, então?; o que faria, agora?
Bibliografia geral
Livros de Paulo Roberto de Almeida
 

Editora Appris: http://www.editoraappris.com.br/

Aquisição do livro

Versão e-book:
E-BOOK - Nunca Antes na Diplomacia: A Política Externa Brasileira em Tempos não Convencionais por R$ 27,00 

Pode ser solicitado online nos sites da

Jordan Young: morte de um brasilianista

Jordan M. Young, um grande brasilianista, morreu em 21 de Julho de 2016Abaixo, uma descrição de seu livro mais autobiográfico:


Lost in the Stars of the Southern Cross


Paperback, 224 Pages
Just weeks before the bombing of Pearl Harbor, 21-year-old Jordan Young arrived in Brazil with $35 in his pocket and dreams of adventure. Unable to return to the U.S. because of war travel restrictions, Jordan studied at the University of São Paulo, worked as a rural sociologist in the Amazon, and helped organize the Rubber Army to support the WWII war effort. In the process he met the Brazilian beauty whom he married many years later. His memoir tells the story of the Brazil of the 1940s that no longer exists and the making of a Brazilianist. Jordan M. Young is professor emeritus of history at Pace University in New York, NY. He is the author of several books about Brazil and an early proponent of the study of Brazilian culture in the United States.

Gordon on Economic Growth in the USA, 1870-2014 - book review by William Nordhaus


Why Growth Will Fall

Gustave Caillebotte: The Floor Planers, 1875
Musée d’Orsay, Paris
Gustave Caillebotte: The Floor Planers, 1875
Robert Gordon has written a magnificent book on the economic history of the United States over the last one and a half centuries. His study focuses on what he calls the “special century” from 1870 to 1970—in which living standards increased more rapidly than at any time before or after. The book is without peer in providing a statistical analysis of the uneven pace of growth and technological change, in describing the technologies that led to the remarkable progress during the special century, and in concluding with a provocative hypothesis that the future is unlikely to bring anything approaching the economic gains of the earlier period.
The message of Rise and Fall is this. For most of human history, economic progress moved at a crawl. According to the economic historian Bradford DeLong, from the first rock tools used by humanoids three million years ago, to the earliest cities ten thousand years ago, through the Middle Ages, to the beginning of the Industrial Revolution around 1800, living standards doubled (with a growth of 0.00002 percent per year). Another doubling took place over the subsequent period to 1870. Then, according to standard calculations, the world economy took off.
Gordon focuses on growth in the United States. Living standards, as measured by GDP per capita or real wages, accelerated after 1870. The growth rate looks like an inverted U. Productivity growth rose from the late nineteenth century and peaked in the 1950s, but has slowed to a crawl since 1970. In designating 1870–1970 as the special century, Gordon emphasizes that the period since 1970 has been less special. He argues that the pace of innovation has slowed since 1970 (a point that will surprise many people), and furthermore that the gains from technological improvement have been shared less broadly (a point that is widely appreciated and true).
A central aspect of Gordon’s thesis is that the conventional measures of economic growth omit some of the largest gains in living standards and therefore underestimate economic progress. A point that is little appreciated is that the standard measures of economic progress do not include gains in health and life expectancy. Nor do they include the impact of revolutionary technological improvements such as the introduction of electricity or telephones or automobiles. Most of the book is devoted to describing many of history’s crucial technological revolutions, which in Gordon’s view took place in the special century. Moreover, he argues that the innovations of today are much narrower and contribute much less to improvements in living standards than did the innovations of the special century.
Rise and Fall represents the results of a lifetime of research by one of America’s leading macroeconomists. Gordon absorbed the current thinking on economic growth as a graduate student at MIT from 1964 to 1967 (where we were classmates), studying the cutting-edge theories and empirical work of such brilliant economists as Paul Samuelson, Robert Solow, Dale Jorgenson, and Zvi Griliches. He soon settled in at Northwestern University, where his research increasingly focused on long-term growth trends and problems of measuring real income and output.
Gordon’s book is both physically and intellectually weighty. While handsomely produced, at nearly eight hundred pages it weighs as much as a small dog. I found the Kindle version more convenient. Here is a guide to the principal points.
The first chapter summarizes the major arguments succinctly and should be studied carefully. Here is the basic thesis:
The century of revolution in the United States after the Civil War was economic, not political, freeing households from an unremitting daily grind of painful manual labor, household drudgery, darkness, isolation, and early death. Only one hundred years later, daily life had changed beyond recognition. Manual outdoor jobs were replaced by work in air-conditioned environments, housework was increasingly performed by electric appliances, darkness was replaced by light, and isolation was replaced not just by travel, but also by color television images bringing the world into the living room…. The economic revolution of 1870 to 1970 was unique in human history, unrepeatable because so many of its achievements could happen only once.
The series of “only once” economic revolutions behind this short summary makes up the next fourteen chapters of the book. Most of the innovations are familiar, but Gordon tells their histories vividly. More important, in many cases, he explains quantitatively the way these economic revolutions boosted the living standards of the statistically average American. Among the most illuminating chapters are those on housing, transportation, health, and computers.
The last two chapters are about the fall in Rise and Fall. This book differs from the Spenglerian “decline of the West” genre in an important respect. As the mathematicians might say, Gordon moves up a derivative. In other words, he is not predicting that living standards in the US will decline; rather he views it as likely that the growth rate of living standards will decline from its very rapid pace in the special century.
Gordon sees two sources for his pessimistic outlook. The first is that the long list of “only once” social and economic changes cannot be repeated. A second source is what he calls “headwinds.” These are structural changes in the economy that reduce actual output below the country’s technological potential and provide another reason for slow growth in living standards in the decades ahead.
The central subject in Rise and Fall is the rapid growth of output in the 1870–1970 period, followed by a period of slower growth. We must clarify that “growth” in Gordon’s view involves intensive rather than extensive expansion. Intensive growth is that of output per unit of input, also called productivity, while extensive growth refers to total output. A standard productivity measure that encompasses all inputs is called “total factor productivity” or TFP.1
What are the underlying trends? Figure 1 on this page shows the growth in total factor productivity by decade since 1890. I show two estimates to provide an idea of how robust Gordon’s conclusions are. The one labeled “Gordon” is from his Figure 16.5. The alternative measure, which I have constructed for this review, combines other sources, with private GDP for the first half of the period covered and business output for the second half.2 (The data were provided by Gordon. A shortcoming of his book is the absence of an online appendix, and in this respect it is behind best practice.)
nordhaus_Figure1_Table1
The main result of both measures is to confirm that there was a marked slowdown in productivity growth when we compare the earlier period (1890–1970) to the latest period (1970–2014). Both series give a slowdown of 0.6 percentage points per year in productivity growth. The alternative estimate is that the growth in productivity slowed from 1.7 percent per year in the earlier period to 1.0 percent per year in the second period.
The alternative series shows a smoother increase from the 1890–1920 period to the 1920–1970 period, and then a sharp drop after 1970. Gordon makes much of the robust productivity growth during the Great Depression and World War II, but this is not apparent in the alternative series.
Productivity growth slowed sharply after 1970, with little variability from decade to decade. The slowdown has been puzzling scholars for four decades. My own view is that it is a decline from one thousand cuts. Important ones are rising energy prices, growing regulatory burdens, a structural shift from high- to low-productivity growth sectors (such as from manufacturing to services), as well as the source that Gordon emphasizes, the decline of fundamentally important inventions.
So Gordon’s basic hypothesis looks rock solid: there has been a substantial slowdown in productivity growth since the end of the special century in 1970.
It is commonplace to complain that gross domestic product does a poor job of representing true economic welfare because it omits harmful elements such as pollutionn.3 This is true. However, most readers will be surprised to learn that the major shortcoming of conventional measures is that they underestimategrowth. Moreover, according to Gordon, the understatement was arguably much larger in the special century than before or after.
Why do conventional measures understate actual improvements in living standards? Gordon gives two principal reasons. First, the growth of real income is systematically understated because of flawed price indexes. The price indexes used to convert current dollars of output into inflation-corrected or “real” output overestimate price increases and consequently understate real output growth. Second, GDP omits many aspects of economic activity that are not captured in market transactions. The common omissions are environmental degradation, leisure time, nonmarket work, and improvements in health.
We can begin with the price-index problem. For this, I take an example familiar to most people, lighting. If you were to examine the US economic accounts, you would not find a component that measures the price of lighting or the real output of lighting. Instead, you would find elements such as the price of fuel (whale oil or electricity) and the price of lighting devices (oil lamps or lightbulbs). For each of these prices, we today have carefully designed techniques for collecting prices and spending. So, you might think, by combining correctly the prices of the lighting devices and the fuels (the input prices), we might accurately track the price of producing a certain amount of light (the output price).
Or so we thought until the actual estimates were made. It turns out for lighting that the output price fell much more sharply than the input prices. We can take the example of standard incandescent lightbulbs and LEDbulbs to illustrate. Assume that we need 800 lumens to light a space (a candle produces about thirteen lumens). Suppose that we light the space for 50,000 hours. This would require about 50 incandescent bulbs and 60 watts x 50,000 hours or 3,000 kilowatt-hours (kwh) of electricity. At the current US average electricity price of ten cents per kwh, the cost of incandescent lighting over the period would be about $350 ($50 for the bulbs and $300 for the electricity). Now assume that a new technology, LED bulbs, becomes available. You can get the same illumination with one $5 six-watt LED bulb lasting 50,000 hours. When you calculate the life-cycle costs, the 800 lumens x 50,000 hours cost only $35 ($5 for the bulb + $30 for the electricity).
So the price of lighting declined by 90 percent. And—the critical point for Gordon’s story—with the introduction of LED bulbs, every $100 of expenditures on lighting produced ten times the real output. This is not an isolated example. This same quantum jump came with each improvement in lighting technologies: from oil lamps, to kerosene lamps, to incandescent, to compact fluorescent, to LED lighting. A more detailed look at the history of lighting indicates indeed that conventional measures have understated the growth in the output of lighting by a huge margin.
How do conventional measures of prices or real output treat this major change in prices and real output? They simply ignore it. More precisely, the LED bulb is “linked” to price and output indexes when it is introduced. This means that the amount or efficiency of lighting per dollar is assumed to be unchanged.
Gordon emphasizes that this tiny but revealing story about lighting is told time and again during the special century. The major inventions that revolutionized American living standards were seldom captured in the standard indexes. Examples include running water, toilets, telephones, air travel, phonographs, television, air conditioning, central heating, antibiotics, automobiles, financial instruments, and better working conditions. These tectonic shifts in technology and living standards would generally go unrecorded in “real GDP” growth and in the growth of “real wages.”
The second source of mismeasurement concerns activities that are outside the purview of standard output measures. On close examination, many of these have little effect on the growth of real output when included. For example, if you included a correction for carbon dioxide emissions, it would reduce the level of output, but such a correction would not reduce real output growth at all over the last decade.
However, one specific measurement of error makes an enormous difference—the omission of improvements in health status. Gordon has a fascinating chapter on the sharp “only once” improvements in health and life expectancy. While some of his views on the sources of improvements in health are not persuasive, his final conclusion on the importance for living standards seems justified:
A consistent theme of this book is that the major inventions and their subsequent complementary innovations increased the quality of life far more than their contributions to market-produced GDP…. But no improvement matches the welfare benefits of the decline in mortality and increase in life expectancy….
His statement refers to a strange aspect of output measurement. Suppose we lived on average fifty years, and the average consumption of housing, food, etc. rose by 10 percent. Then our measures of living standards (real GDP or real income) would rise by 10 percent. However, assume that we had the same consumption every year, but had less illness because of antibiotics, or less pain because of anesthetics, or lived twenty years longer. Then there would be no measured gain in living standards. This seems strange, but that is the way our methods for measuring output and income are designed.
There have been several studies attempting to incorporate the benefits of improved health into measures of living standards.4 These show two important points. First, including health status increases sharply the improvement in living standards over the last century. And second, this health-status bonus was larger during the special century than before or after.
In recent years, trends in average living standards interacted with rising income inequality to produce stagnant wages in the lower and middle income groups. Table 1 shows the basic trends over recent decades. The first row shows the results of the last part of the special century. The last two rows show the period of slower growth.
The column labeled “average” shows the growth in per capita, inflation-corrected, post-tax income. This shows an income slowdown that parallels the productivity slowdown, with a decline of 1.4 percentage points from the first to the third subperiod. The slowdown in the growth of real income was largely due to the slowdown in productivity growth from the special century to the more recent period.
The last three columns show how the growth was divided between the bottom fifth, the middle fifth, and the top 1 percent of the income distribution. The first subperiod was one of shared prosperity; indeed, the bottom groups fared slightly better than the top. However, in the most recent years, particularly since 2000, the decline in average income growth was further exacerbated for the lowest income groups by a declining share of the total. So, for the bottom fifth, the growth in real income declined from 3 percent at the end of the special century to essentially zero in the last fifteen years. Of this catastrophic decline, about half was due to the slower overall growth, while half was due to rising inequality. Gordon has an extensive review of the sources of rising inequality, but his emphasis on the role of declining productivity growth is an important and durable part of the story of stagnant incomes.
The last chapter of the book suggests that the US faces major “headwinds” that will continue to drag down living standards relative to underlying productivity growth. In Gordon’s account, these headwinds are rising inequality, poor-quality education, the aging population, and rising government debt. Gordon forecasts that average growth in real income per person over the next quarter-century will be 0.7 percent per year—even lower than the 1.3 percent per year in the 2000–2015 period. If inequality continues to grow, this might lead to declining incomes of the bottom part of the distribution—and therefore to true Spenglerian decline. I emphasize that these forecasts are highly speculative and contingent on many economic, fiscal, and demographic forces.
What of the future of economic growth? Here Gordon is a leading proponent of the view emphasizing the likelihood of “secular stagnation.” There are actually two variants of the stagnation. The first, emphasized by Lawrence Summers, is “demand-side”: a global savings glut along with low inflation is leading to weak aggregate demand in the high-income regions. This syndrome is consistent with zero or negative interest rates in Europe and Japan.
Gordon’s view of stagnation is “supply-side”—referring to a slackening in the growth of productivity rather than persistent weakness caused by the business cycle and high unemployment. His pessimism does not involve the neo-Malthusianism of groups like the Club of Rome, which foretold resource exhaustion, or concerns of those like Nicholas Stern, who sees future climate-driven catastrophes. Rather, Gordon’s concept of stagnation comes from his view about the slow future pace of technological change. He recognizes the perils of forecasting technological futures. But in the end he sees the slow growth of decades since 1970 shown in Figure 1—not those of the special century—as the norm for the years to come. He does not argue that returning to rapid growth is impossible. Instead, he thinks that we have exhausted the major society-changing “only once” inventions, and he sees no prospect that we will find a similar set of inventions of such breadth and depth in the near future.
In discussing the future, Gordon dissects the arguments of the technological optimists who see a growing part in the economy for robots and artificial intelligence. An extreme pole of technological futurism is a theory called “the Singularity.” As computer scientists look into their crystal ball, they foresee artificial intelligence moving toward superintelligence, which denotes intellect that is much smarter than the best human brains in practically every field, including not just games like Go but also scientific creativity, general wisdom, and social skills. At the point where computers have achieved superintelligence, we have reached the Singularity, where humans become economically superfluous. Superintelligent computers are the last human invention, as imagined by the mathematician Irving Good:
Let an ultraintelligent machine be defined as a machine that can far surpass all the intellectual activities of any man however clever. Since the design of machines is one of these intellectual activities, an ultraintelligent machine could design even better machines; there would then unquestionably be an “intelligence explosion,” and the intelligence of man would be left far behind. Thus the first ultraintelligent machine is the last invention that man need ever make.
Gordon has no sympathy for these futuristic views. Moreover, the economic data (such as those shown in the figure and table) show no trace of a coming Singularity. If anything, growth has slowed even more since the financial crisis of 2008. But as we observe that games like chess or Go are won by a computer, it seems prudent to keep an eye on the evolution of superintelligence.
To summarize, Rise and Fall is a magnificent book on American economic history of the last century and a half. This review can touch only the major themes and has necessarily skimmed over many of the fascinating discussions of individual sectors and historical episodes. If you want to understand our history and the economic dilemmas faced by the nation today, you can spend many a fruitful hour reading Gordon’s landmark study.
Notes:
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    Productivity comes in several varieties. The simplest to measure is labor productivity, or output per hour worked. However, this does not account for improvements in education, or for changes in the access of the average worker to a larger stock of more productive capital. Total factor productivity (TFP) is a more complicated concept to measure than labor productivity because it involves measuring the contribution of capital and education, as well as determining how to weigh the different inputs, but today these are standard procedures.

    A final detail is whether productivity relates to business output, to private output, or to total GDP (the latter also includes government output). Accurate measures are usually confined to business output because government output in such areas as education and military forces is difficult to measure and therefore these areas customarily are measured as inputs (teachers) rather than outputs (learning). Gordon generally uses the more comprehensive GDP because it is available for longer periods. It must be reemphasized that all productivity figures refer to measured output and omit the unmeasured contributions of important new and improved products discussed in Gordon’s main text. 
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    The alternative is a splicing of the following sources: data for the early part is total factor productivity for the private economy (private GDP), 1890–1950, from Historical Statistics of the United States, Millennial Edition(Cambridge University Press, Vol. 3, Series Cg270, Cg278). The data are based on an early study by John Kendrick in Productivity Trends in the United States (Princeton University Press, 1967). These data are used for the TFP growth rates for 1890–1900 to 1940–1950. For the period 1948–2014, I use total factor productivity for the US private business sector from the US Bureau of Labor Statistics. These are available at www.bls.gov/mfp/#tables, “Historical multifactor productivity measures (SIC 1948–1987 linked to NAICS 1987–2014).” These data are used for the TFP growth rates for 1950–1960 to 2000–2014. Note that for the two periods of overlap (1950–1960 and 1960–1970), the early (Kendrick) series and the BLS series are virtually identical. From 1948 to 1970, the private GDP TFP growth rate averaged 2.13 percent per year while the BLS series averaged 2.03 percent per year.  
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    Economic statisticians have developed techniques for incorporating external effects like pollution into the measurement of national output. The method is straightforward. You would begin with a measure of the physical emissions, such as annual carbon dioxide (CO2) emissions or sulfur dioxide emissions. These would be parallel to the production of new houses, currently included in the accounts. You then multiply the quantity by a “shadow price,” which would measure the social cost of the emissions. Again, the parallel here would be multiplying the quantity of new houses by the price of the houses. Since the emissions price is a damage, or negative price, the price times quantity of emissions would be subtracted from total output.

    As an example, total CO2 emissions for the United States in 2015 were 5,270 million tons. The US government estimates that the social cost of emissions is $37 per ton (all in 2009 dollars). So the total subtraction is $37 x 5,270 = $195 billion. This would be a debit from the $16,200 billion of total output in that year, or slightly more than 1 percent of output. (These data are from the Bureau of Economic Analysis and the Energy Information Administration.)

    Note, however, that CO2 emissions declined over the decade from 2005 to 2015, from 5,993 billion to 5,270 billion tons per year. So the subtraction from GDP to correct for CO2 emissions was smaller in 2015 than in 2005. Growth of corrected GDP was therefore a tiny bit higher after correcting for CO2 emissions than before the correction. To be precise, after correction, the real growth rates over the 2005–2015 period would be 1.394 percent per year using the corrected figures instead of 1.385 per year using the official figures.So correcting for CO2 emissions would lower the estimate of output, but would raise by a tiny amount the estimate of growth. 
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    Studies on the impact of adding health to the national economic accounts include an early example from William Nordhaus, “The Health of Nations,” in Measuring the Gains from Medical Research: An Economic Approach, edited by Kevin Murphy and Robert Topel (University of Chicago Press, 2010).