Algumas "línguas" do Brasil que eu consigo distinguir, no rádio, na televisão (sem indicação de local), no contato direto:
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;
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domingo, 25 de outubro de 2020
As "línguas" do Brasil (em minha opinião) - Paulo Roberto de Almeida
O Brasil não é um pária internacional - Juan Arias (El Pais)
O Brasil é um “pária” do mundo? (Por Juan Arias)
O ministro das Relações Exteriores de Jair Bolsonaro, Ernesto Araújo, afirmou na quinta-feira aos alunos do Colégio Rio Branco, o prestigioso instituto de formação dos diplomatas brasileiros, que não importa que o Brasil pareça “um pária” no mundo se for para defender a liberdade. Disse isso diante do presidente Jair Bolsonaro, que participava da cerimônia.
As palavras costumam ser reveladoras do que se pensa. E não é por acaso Araújo escolheu o qualificativo de “pária”, que também significa excluído, marginais e proscrito, e que nos remete aos párias da Índia, aos intocáveis, aos sem direitos, aos castigados para fazer os trabalhos mais humildes.
Afirmar que não importa que o Brasil seja visto como um pária e marginal no mundo é uma grave ofensa aos mais de duzentos milhões de brasileiros. E acrescentar que isso é para “defender a liberdade” soa como sarcasmo.
Que liberdades o Governo de extrema direita defende hoje? A liberdade de expressão? A liberdade da mulher de usar o próprio corpo? A de poder viver em paz a própria sexualidade? A dos negros e pardos que são a maioria e são os mais expostos à violência institucional? A liberdade dos diferentes e excluídos? A dos indígenas que estão sendo exterminados e empurrados para entrar na nossa civilização alienada?
Justamente hoje os grandes milionários estão comprando ilhas virgens para viver fora do estrondo de um mundo cada vez mais poluído e massificado. Não, o Brasil não é visto no exterior como um pária. No máximo, com preocupação porque seu Governo está ameaçando todas as liberdades com uma política autoritária que o afasta das grandes democracias do mundo.
O ministro Araújo havia afirmado ao chegar ao Itamaraty que “Deus escolheu Trump e Bolsonaro para salvar o mundo”. Salvá-lo do quê? Justamente, neste momento, são os Estados Unidos e o Brasil que pagam um preço alto pelas políticas negacionistas e autoritárias de seus presidentes.
A verdade, goste-se ou não, é que hoje o Brasil é visto pelo mundo com preocupação, não como um “pária”. É um país que sempre foi admirado, não só como potência econômica, como também por ser um país que despertava simpatia e até inveja. O Brasil é um país onde sempre conviveram em paz pessoas de mais de 90 nações diferentes. Aqui ficaram e hoje seus filhos e netos se sentem brasileiros.
Que seu ministro de Relações Exteriores não se importe que este país, um dos maiores do mundo e estratégico no continente, seja visto como um “pária” revela melhor do que qualquer outra coisa a que limites uma pobreza política e espiritual estão conduzindo o país.
O Brasil sempre se destacou por sua política externa vista como uma das mais preparadas do mundo. O Itamaraty era considerado uma escola de diplomatas que engrandeciam a imagem do Brasil no exterior.
Eu mesmo fui testemunha disso há 20 anos, quando cheguei aqui e fui entrevistar o então ministro de Relações Exteriores, Celso Lafer. Fiquei impressionado com sua visão aberta do mundo, sua bagagem cultural e seu domínio das línguas. E em minhas viagens pelo mundo pude sentir de perto a simpatia com que meus colegas jornalistas brasileiros eram acolhidos. De imediato exaltava-se o Brasil, lembrando não só seu futebol com o mítico Pelé, mas também sua música, seu pluralismo religioso e suas belezas naturais, de suas florestas a suas praias virgens. E sobretudo pela capacidade de acolher os estrangeiros.
Não encontrei, de fato, um estrangeiro radicado no Brasil que tenha visto este país como um “pária”, mas, sim, como um gigante digno de respeito e que apesar de suas desigualdades sociais e seu racismo herdado do tempo da escravidão é um país que não ama a guerra. Gosta, isso sim, de viver com felicidade. Quando o ex-diretor da edição brasileira do EL PAÍS Antonio Jiménez voltou à Espanha e foi questionado sobre o que o Brasil havia lhe dado, ele respondeu: “me ensinou a ser feliz”.
Que os governantes de hoje que estão empobrecendo o país com suas políticas de exclusão e negacionismos não se iludam. A democracia, com todos os seus pecados, é hoje aprovada por 70% dos brasileiros como melhor do que a ditadura.
Tentar envenenar o país criando ódio e empobrecendo as liberdades só levará a uma rebelião ou a um desprezo pelos novos políticos.
É assustador falar em liberdade um Governo que persegue os artistas, os cientistas e humilha os professores, ao mesmo tempo que deixa tranquilos as poderosas milícias e traficantes. É grotesco que um Governo que considera uma insignificância as 155.000 vítimas da pandemia, por sua política negacionista do vírus e por boicotar a esperança de uma vacina que nos livre desse pesadelo, se vanglorie de ser paladino da liberdade.
Enfraquecer o Brasil, que é um continente com enormes possibilidades tantas vezes castradas por políticas obtusas e de rapina dos bens públicos, é um pecado que a extrema direita pode pagar muito caro.
O Brasil não é um pária, é uma possibilidade de desenvolvimento destinada a contar no tabuleiro mundial. E isso ninguém será capaz de lhe roubar. Um país que nunca amou a guerra, ao qual se incute o amor pelas armas e é envenenado com ódios que poderiam conduzir a uma guerra civil, merece estadistas que, em vez de apequená-lo, sejam capazes de recolocá-lo dentro e fora do território não como um pária, mas como uma possibilidade e uma esperança.
Reforma das FFAA? - The Intercept Brasil
Só uma reforma nas Forças Armadas pode pôr fim ao espírito golpista de nossos militares
A maioria das democracias repensou papéis e funções das Forças Armadas pós-Guerra Fria, menos o Brasil. Aqui, 9 propostas para refundá-las.
ASSÉDIO MORAL a professores civis em academias militares e a funcionários civis no Ministério da Saúde. Adesão ao olavismo. Participação ativa na política. Ameaças aos poderes Judiciário e Legislativo. Militarização da segurança pública, da educação, do meio ambiente e da saúde. Revisionismo histórico. Elogios a torturadores e ditadores. Retorno da censura e intimidação a opositores do governo. Ameaças de novo AI-5 e de nova intervenção militar. Negacionismos da ciência, dos direitos humanos e da pandemia. Aparelhamento do estado. Desrespeito à Constituição Federal. Esses são alguns dos temas que vemos diariamente nos jornais envolvendo integrantes das Forças Armadas brasileiras. Mas por que nossos militares perpetuam ideologias retrógradas e cenários conspiratórios em pleno século 21? Por que é tão difícil fazê-los funcionar sob o regime democrático respeitando-o?
Um dos caminhos para responder às indagações acima é compreender como se formam, se estruturam e operam as Forças Armadas no Brasil. Neste texto, o diagnóstico que apresentamos é que não é possível pensarmos um fim para o “espírito interventor” de nossos militares sem uma reforma profunda do setor de segurança brasileiro.
O fim da Guerra Fria, no início dos anos 1990, trouxe um incentivo para o que, na literatura acadêmica, convencionou-se chamar de “Reforma dos Setores de Segurança”. O mundo, afinal, era outro. A débâcle do bloco socialista a partir da queda do Muro de Berlim, o fim da União Soviética e o triunfo do modelo de democracia liberal marcaram os estágios finais do que Samuel Huntington chamou de Terceira Onda nos processos de democratização. As ameaças tradicionais de outros estados passaram a dar lugar ao que Mary Kaldor denominou de “novas ameaças”, conflitos marcados principalmente por envolver combatentes não militares contra forças armadas tradicionais.
A agenda das reformas dos setores de segurança – que em alguns lugares assumiu a forma da chamada Revolução dos Assuntos Militares, a RAM – veio como forma de adequar as forças militares e policiais a esta nova realidade das “novas ameaças”. Sua pauta era direcionada, em especial (mas não exclusivamente), às novas democracias de então, países que haviam feito há pouco a transição de regimes autoritários para democráticos, que incluíam a antiga zona de influência soviética, África, Ásia e também a América Latina.
Os incentivos externos, do fim da Guerra Fria, e os domésticos, das transições para democracias, impulsionaram a reestruturação de grande parte das Forças Armadas do mundo no fim do século 20 e início do 21. Dentre os muitos pontos estimulados estavam a redefinição das doutrinas militares, diminuição de contingentes e do orçamento para as defesas nacionais, investimento em modernização e digitalização tecnológica das Forças Armadas e mudanças substantivas na educação e instrução de militares.
Havia um incentivo para que as academias militares se abrissem para as ciências, assim como para uma maior participação de civis nos assuntos de defesa nacional. E, por fim, havia incentivos para que as novas democracias desenhassem instrumentos de controle constitucional dos militares, para que estes não voltassem a intervir nos rumos políticos naqueles países que haviam há pouco saído de ditaduras militares.
‘Nosso modelo de transição para a democracia, muito mais do que uma exigência da sociedade, foi guiado pelos coturnos’.
Essas reformas avançaram rapidamente em grande parte do mundo – parte da América do Sul inclusa –, mas o Brasil manteve uma indesejável autonomia no setor castrense. Mais uma vez, fizemos uma “revolução” para não mudar nada. Em uma jabuticaba (amarga) política, nosso modelo de transição para a democracia, muito mais do que uma exigência da sociedade, foi guiado pelos coturnos, mais especificamente por um setor distensionista do mundo das armas. Isto significa que a “transição lenta, gradual e segura”, como resumida pelo ditador Ernesto Geisel, nos legou uma autonomia militar que impossibilitou a reforma do setor de segurança brasileiro, enquanto grande parte do mundo repensava e redefinia os papéis, funções, doutrinas e emprego de suas forças armadas.
O pouco que experimentamos de reforma no Exército, Marinha e Aeronáutica, foi, em linhas gerais, por iniciativa dos próprios militares. E, naturalmente, apenas nos setores que lhes eram objeto de interesse. Em larga medida, foram questões ligadas à modernização tecnológica e reaparelhamento das Forças, mas nada direcionado à atuação, instrução, tamanho dos contingentes ou, mais particularmente, às ideologias da caserna brasileira.
Até mesmo iniciativas indesejadas pelas Forças Armadas, como a criação do Ministério da Defesa em 1999, acabaram tendo uma dócil acomodação onde, a despeito da extinção de quatro ministérios militares, não se conseguiu construir uma direção política e implementar um efetivo controle civil democrático sobre os militares.
Sem um amplo, democrático e inclusivo debate que refunde nossas Forças Armadas, seguiremos destinados a, de tempos em tempos, repetirmos nossa história. Mais do que formar militares comprometidos com a democracia, é preciso termos uma visão crítica sobre nossa própria história e o papel das Forças Armadas nela, que não apenas seja laudatória, mas que possibilite uma real reflexão sobre o papel dos militares em um país socialmente mais justo, inclusivo e menos desigual como desejamos.
É inadmissível a aceitação, explícita ou implícita, da atuação dos militares como reguladores da vida política e social. É igualmente inaceitável que a caserna promova, endosse ou se valha de operações psicossociais (OPSi) para promover doutrinas revisionistas sobre a história do Brasil e as atuações passadas, presentes e futuras dos militares no cenário doméstico do país.
É impensável em uma democracia sólida que o presidente, um ex-militar, e o vice-presidente, um general da reserva, elogiem um notório torturador condenado pela justiça, ainda mais subvertendo o conceito universal de direitos humanos. Também é imprescindível um programa que contemple a direção política numa sociedade democrática sobre esse instrumento fundamental de força do Estado chamado Forças Armadas.
Elencamos aqui então nove propostas que, longe de esgotar a discussão, podem contribuir para abrir um debate público acerca de uma agenda para uma reforma do setor de segurança brasileiro:
- Efetivação de um Ministério da Defesa dirigido por civis, desde o ministro e passando por todos os escalões, com capacidade real de definir e implementar políticas de defesa. Vale aqui frisar que coronéis da reserva e afins não são civis, e torna-se necessário criar e fomentar uma massa crítica civil nesta temática, por meio, por exemplo, da criação da carreira de analista civil de defesa.
- Fortalecimento da participação do Congresso no debate e definição das políticas de defesa, que deve ser igualmente acompanhada de um acentuado protagonismo da parte da sociedade civil. Algumas questões, para ilustrar: qual a prioridade, Amazônia ou fronteira sul? Amazônia ou fronteira oeste? Amazônia Azul ou águas interiores? Ou ambas? Como proteger um espaço aéreo tão grande? É preciso cotejar os efetivos, os meios materiais e onde estão estacionados ante as ameaças reais ou potenciais.
- A educação nas academias militares, nos diferentes níveis, precisa ser revista de cima a baixo, sendo absolutamente inaceitável à cidadania que ainda se continue ministrando conteúdos definidos como “Revolução Democrática de 31 de março de 1964”, entre outras excrescências. Instituições como a Escola Superior de Guerra (ESG) precisam ser abolidas pelo desserviço que prestam ao país, deformando civis e militares em seus bancos escolares.
- A promoção da igualdade racial, ou mais especificamente a ausência de negros em postos de comando, precisa ser enfrentada e a salutar e exitosa política de cotas já existente nas universidades civis pode e deve ser transposta ao processo seletivo das academias militares. Se as Forças Armadas são um reflexo do povo brasileiro, é preciso que os postos de comando também sejam um espelho da maioria da população, preta e parda, do Brasil.
- Abrir espaço para o efetivo respeito e promoção à diversidade de gênero (leia-se, mulheres) e distintas orientações sexuais (LGBTQIAP+).Impedir que mulheres e pessoas de diversas orientações sexuais ocupem cargos de liderança, inclusive em funções de combate, está em dessintonia com o Ocidente democrático a que queremos pertencer, é preconceituoso e desconhece o que se passa nas fileiras das Forças Armadas pertencentes à OTAN, por exemplo.
- Acabar com serviço militar obrigatório, que é absolutamente infrutífero do ponto de vista da preparação e o combate para a guerra, em pleno século 21 e na vigência da chamada “sociedade do conhecimento”. Por que não criar um serviço civil obrigatório, para homens e mulheres onde, especialmente os que passam pela educação superior pública e gratuita, possam retribuir de algum modo o investimento feito pela sociedade neles?
- Fim da Justiça Militar nos moldes atualmente existentes, inclusive com uma nova edição do Código Penal Militar (o nosso é de 1969, ou seja, editado durante os anos de chumbo da ditadura militar), que está em dessintonia com a Constituição Federal de 1988.
- Redução dos efetivos e modernização dos meios de emprego e defesa: não é tendo mais generais per capita que os EUA e várias outras nações relevantes militarmente que aumentamos nosso poder de dissuasão. A chaga corporativista, que não é exclusiva dos militares, mas é deles que estamos tratando aqui, precisa ser enfrentada.
- Tornar transparente a gestão e o financiamento da defesa e, ao lado disso, respeitadas as especificidades da profissão militar, empreender uma revisão do atual sistema previdenciário militar modificado em 2019, bem como dos soldos recebidos. Se seguirmos destinando ao menos quatro quintos do orçamento em defesa ao pagamento de salários e pensões, não adianta subir os gastos em defesa para 2% do PIB ou mais que a conta não fechará – aliás, o presidente Bolsonaro não para de conceder benesses e/ou penduricalhos aos amigos de farda.
De uma coisa estamos certos. Um país como o Brasil, com quase 17 mil quilômetros de fronteiras secas, cerca de 8 mil quilômetros de litoral e um imenso espaço aéreo, além de fazer divisa com mais dez nações, não pode prescindir de Forças Armadas na tarefa de proteção e defesa de seu território, de suas riquezas, além de serem fundamentais na definição do papel que quer ocupar no sistema internacional.
No quadro atual, nossos militares nem desejam repetir a aventura de 1964 porque eles estão ganhando tudo sem precisar de golpe. Gozam de um elevado grau de autonomia e influência e com seus programas estratégicos, em larga medida mantidos em um contexto de restrição orçamentária, ao lado de suas aposentadorias precoces, soldos generosos e outras sinecuras garantidas a partir da reestruturação das carreiras militares implementadas no primeiro ano de governo.
Contudo, trata-se de um jogo perigoso, no qual não está garantido que os militares não sairão chamuscados do governo Bolsonaro e com possíveis severas sequelas para as Forças Armadas como um todo (os números de pesquisas recentes já mostram isso) – como disse o então ministro do Superior Tribunal Militar, o STM, o general Peri Bevilaqua (posteriormente aposentado compulsoriamente pelo AI-5): “Quando a política entra por uma porta do quartel, a disciplina sai pela outra”.
Não exibe sua melhor forma uma democracia onde os cidadãos sabem de cor o nome dos generais pelo que fazem na política e não na guerra. Urge a nós, de diferentes gerações, mas antes de tudo informados pelo firme compromisso democrático, revertermos esse quadro, sepultando definitivamente o “Partido Militar” que não deve ter lugar em uma sociedade diversa, plural e desenvolvida.
A carreira militar medíocre do político medíocre que está sendo um presidente mais que medíocre- Helga Hoffmann
COMO O SITE DA 'SERÁ?' FOI HACKEADO ESTA TARDE, DISPONIBILIZO O ORIGINAL DA MINHA RESENHA LÁ PUBLICADA
"A atlética vida de Jair Bolsonaro no quartel e o flerte com terrorismo
Helga Hoffmann
Em memória de José Luiz Clerot,
meu parceiro de 1956 pela união
dos estudantes secundaristas
O nosso Presidente da República alardeia sua condição de atleta. Quando ouvi o Presidente enfatizar, de novo, o quanto era atlético, não acreditei! Bolsonaro, no pódio, de terno e aparência formal, desembesta ipsis litteris: “Sempre fui atleta das Forças Armadas. Aquela história do atleta, que a imprensa vai p’ro deboche, mas quando pegar num bundão de vocês, a chance de morrer é bem maior.” Acho que foi em 24 de agosto pp., mas esse vídeo está por toda parte.
Esse disco é repetido, Covid-19 é “gripezinha” e quem morreu foi porque não tratou de ter a vida de atleta de que se vangloria o capitão. Veremos que a ojeriza a jornalistas tem raízes antigas, desde que uma jornalista, em outubro de 1987, achou que não podia deixar de reportar o que lhe haviam descrito, pois que se tratava de bombas, um plano de protestar contra baixos soldos estourando dinamite em locais estratégicos do Rio de Janeiro. Assim como a obsessão em controlar a Polícia Federal (PF), desde que a perícia grafotécnica da PF concluiu que era de autoria dele o croquis de localização das bombas.
De fato, os créditos e elogios oficiais que Bolsonaro recebeu em sua vida militar se referem primordialmente a resistência física e desempenho atlético, tanto que tinha o apelido de “Cavalão” quando era o cadete 531. Mas não foram precisamente de atletismo as façanhas maiores que marcaram sua vida de militar, e que a encerraram, há 32 anos.
Está tudo documentado na biografia escrita pelo jornalista Luiz Maklouf Carvalho, “O Cadete e o Capitão: a Vida de Jair Bolsonaro no Quartel” (São Paulo, Todavia, 1ª ed., 2019). Essa grande reportagem vai do nascimento, em março de 1955, até o julgamento do Superior Tribunal Militar (STM) que o tirou da carreira militar, em junho de 1988. Acompanha os primeiros 33 anos de vida de Jair Messias, até o seu flerte com terrorismo e o ingresso na política.
É livro difícil de resumir, pelos detalhes. Das 253 páginas, mais de um terço é documentação: algumas fotos antigas de família, com o pai, a primeira mulher e três filhos pequenos, e muitas fotos de documentos, laudos periciais, convocações para depor, libelos acusatórios, termos de inquirição de testemunhas, trechos de atas, e reportagens nos principais jornais, inclusive o famoso artigo de Bolsonaro no semanário “Veja” em setembro de 1986 (fotografado na p. 135). É impressionante, também, a quantidade de personagens que tiveram algum envolvimento com as atividades de Bolsonaro no tempo de quartel e que Luiz Maklouf Carvalho procurou entrevistar, mas que se recusaram a atendê-lo ou sequer responderam, apesar da enorme persistência do jornalista.
Cada momento da formação de Jair Messias é exaustivamente documentado, pelos registros na Escola de Cadetes de Campinas, na Academia Militar de Agulhas Negras (AMAN), na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO). Não escapam episódios para os quais há versões contraditórias, como a ajuda de Jair Messias adolescente para prender o capitão Lamarca ou, já tenente, seu serviço de 1979 a 1981 em Nioaque, Mato Grosso do Sul, na região de fronteira com o Paraguai, onde teria feito “voos como observador aéreo”. (p.49)
A maior parte do livro trata de suas tribulações depois de publicar o artigo “O salário está baixo”, na “Veja” (03/09/1986), que começaria a mudar sua vida. Dois anos depois estava célebre, ao ser julgado no STM pelo plano de explodir bombas a fim de chamar a atenção para os baixos vencimentos dos militares.
Sobre a infância de Jair Messias não há muita documentação. Cf. hagiografia de Jair Bolsonaro escrita pelo filho Flavio, a família pobre e esforçada do dentista prático Percy Geraldo Bolsonaro e seus seis filhos viveu em várias pequenas cidades do interior paulista, e também em Jundiaí e Campinas. O dentista não exerceu o ofício em todas essas cidades, chegou a ser preso por exercício ilegal da profissão, mas, segundo o neto Flavio, foi “perseguição política”. A maior parte da infância de Jair Messias e seus dois irmãos e três irmãs se passou em Eldorado, onde, segundo o neto, o avô voltou a ser dentista.
Olha-se o passado com lentes do presente. Notei que o menino Jair Messias se acostumou com violência bem cedo: tinha medo das lambadas de fio de ferro ordenadas pelo pai e executadas pelo irmão mais velho encarregado de punir os menores. Segundo ele próprio, “Naquela época, existia respeito. Os filhos chamavam o pai de senhor. A gente se borrava de medo, porque todo mundo apanhava em casa.” (p.22) E sua vida militar também começou por ordens do pai. (p.26-28) Curiosamente o menino Jair nasceu em Glicério mas foi registrado em Campinas (segundo Flavio porque achavam que sucesso na vida só tem quem é registrado em cidade grande).
Os capítulos sobre a formação militar mostram um desempenho em geral regular, pontuado por destaques de treinamento para pentatlo, vitórias na Corrida da Infantaria, mergulho em água funda que salvou “Negão Celso” durante uma instrução, mais elogios por “excelente preparo físico e resistência à fadiga” (ao partir do Rio de Janeiro para Nioaque), mais pentatlo, travessia náutica Flamengo-Urca, 1º lugar no curso de educação física e 5º lugar em mestre de saltos, saltos de paraquedas, 1º lugar no curso de mergulho autônomo, curso civil de salto livre em paraquedas (que não está no registro militar e em que sofreu acidente do qual conta uma internação hospitalar e fuga mirabolantes), salvamento de passageiros de um ônibus que caiu no córrego do Vigário (em que teria mergulhado até 20 metros). (p.54)
Depois que volta ao Rio, deixando para trás em Nioaque sua plantação de melancias e seus alunos de futebol, logo passa à fase de “sindicalista” militar, por aumento da remuneração, num período em que se viram noutros pontos do país protestos salariais isolados de capitães ou suas mulheres.
Recordemos que 1986 (quando Bolsonaro publicou em setembro o artigo reclamando dos soldos) foi um ano complicado. Com a inflação acelerando, foi decretado em fevereiro o Plano Cruzado, que chegou a criar alguns meses de otimismo e esperança de que se estabilizariam os preços. Mas o plano começou a falhar: com o tabelamento e os “fiscais do Sarney” os produtos sumiram, ou obtinham preços ainda mais altos no mercado negro, e no último trimestre a inflação voltou a acelerar, pior que antes, e o Cruzado foi dado como fracassado. E mais: em novembro se realizariam eleições gerais dos representantes que formariam a Assembleia Nacional Constituinte 1987-1988.
Na “Veja” de setembro de 1986 o capitão Bolsonaro tem todo o linguajar do político que nascia: a imprensa mente quando diz que há desligamentos da AMAN “por homossexualismo, consumo de drogas e suposta falta de vocação”, a verdade é que “mais de 90% das evasões se deram devido à crise financeira que assola a massa dos oficiais e sargentos do Exército brasileiro.” Descreve como duríssima a vida no quartel e que “um homem que dedica os melhores anos de sua vida à carreira militar ... não pode simplesmente pensar em patriotismo ... quando não pode sequer sonhar em constituir condignamente uma família.” Informa que um sargento ganha (naquele mês) 4.134 cruzados e um capitão 10.433 cruzados. Não quer “pleitear aumento salarial” mas pedir “vencimento digno da confiança que meus superiores depositam em mim”. (O que ele não diz é que o salário mínimo naquele momento era 804 cruzados e só foi reajustado em 01/01/1987 para 964,80.)
O artigo lhe trouxe, além da fama e manifestações de apoio, um julgamento por infração a 6 artigos do Regulamento Disciplinar do Exército e prisão por 15 dias. E algo rendeu: pois um ano depois Sarney deu um reajuste de mais de 100% aos militares, ainda que de pouca duração, dada a hiperinflação.
No ano seguinte o capitão voltava às páginas da “Veja”, agora por um alarido mais alarmante. A matéria com título “Por bomba nos quartéis, um plano na EsAO” era um quadro dentro de uma reportagem maior sobre insatisfação dos militares, especialmente capitães, com a manchete “Ordem Desunida”, que informava inclusive a prisão de dois capitães, um no Paraná e outro no Rio, o capitão Luiz Fernando Walter de Almeida por invadir a prefeitura de Apucarana com 50 comandados armados, e o capitão Sadon Pereira Pinto por formalizar queixa aos superiores na EsAO. (As fotos das duas matérias estão nas páginas 136-140 do livro.)
O quadro é um relato da jornalista Cassia Maria de uma visita a uma casa da Vila Militar, em fins de outubro de 1987, recebida por Lígia (mulher do capitão Fabio Passos). A repórter tinha contato com fontes militares já desde a época em que Bolsonaro foi à sede da “Veja”, ano antes. Agora Bolsonaro chegou à essa casa revoltado com a prisão de Sadon e contou que os alunos da EsAO pretendiam permanecer nos quartéis durantes os dois dias de prisão dos dois capitães, e esperava por alguém identificado como “Xerife” com mais notícias. Para que Cassia Maria não visse esse personagem foi levada para um dos quartos, em que Ligia lhe contou o plano “Beco sem saída”, em que algumas bombas seria detonadas em banheiros da EsAO e simultaneamente na AMAN e outras unidades do Exército. Segundo Lígia, “não haverá perigo”, pois serão apenas explosões pequenas para assustar o Ministro [Gal Leônidas] e mostrar ao Presidente Sarney que aquele não controla a tropa. Os detalhes do relato são muitos, inclusive um momento em que Bolsonaro explica como construir uma bomba-relógio.
Em resumo: o capitão foi chamado a se explicar ao sub-comandante da EsAO, Cel. Adilson Garcia do Amaral e escreveu na mesma hora um desmentido de próprio punho (também fotografado nas pp. 162-164 do livro). Seguiu-se a disputa sobre quem mentiu, se jornalistas ou Bolsonaro e seus defensores, na imprensa primeiro e logo numa sindicância na EsAO. Essa sindicância, depois de ouvir oficiais e o diretor da sucursal da “Veja”, Alessandro Porro, e o editor-chefe, Ali Kamel, pediu perícia (exame grafotécnico) dos croquis de colocação das bombas. Mas o laudo do 1ºBPE, seção de investigações criminais, não foi conclusivo porque tinha só a xerox dos croquis. O sindicante, apesar de solicitar os originais, não pediu nova perícia e decidiu submeter Fabio Passos e Jair Bolsonaro a um Conselho de Justificação (composto de três coronéis).
Os trabalhos do Conselho de Justificação merecem uma resenha à parte, mas o importante a notar é que foi feita uma nova perícia, agora com os originais dos croquis, e o laudo (número 58/87) concluiu que, apesar de semelhanças de caracteres, não podia garantir a “reponsabilidade gráfica”. As perícias grafotécnicas seriam essenciais mais tarde na decisão do STM: até agora temos dois laudos inconclusivos do próprio Exército. O Presidente do Conselho de Justificação, coronel Bechara Couto pediu uma terceira perícia, dessa vez à Polícia Federal do Rio de Janeiro e com novas folhas de padrão gráfico do punho de Jair Bolsonaro. O laudo “documentoscópico” da PF disse: “Sim, não restam dúvidas que os manuscritos no doc.1 (os croquis ou esboços), questionado, promanam do punho gráfico do capitão Jair Messias Bolsonaro”. Temos agora 3 laudos, 2 inconclusivos, e um afirmativo de que Bolsonaro era autor dos desenhos.
O coronel Bechara Couto pediu um complemento de laudo pericial com o novo material colhido para a terceira perícia, a da PF. Seria um adendo ao laudo 58/87, a segunda perícia do Exército. Esse complemento concluiu: ”ante a comparação gráfica realizada entre os padrões gráficos coletados e a peça motivo (croquis), são os peritos acordes em que os caracteres gráficos lançados nos croquis e nas peças padrão promanam de um mesmo punho gráfico”. Com o novo laudo na mão, o Conselho de Justificação considerou, por unanimidade, que Bolsonaro mentira ao longo de todo o processo e “revelou comportamento aético e incompatível com o pundonor militar e o decoro da classe”. Encaminhado ao Ministro do Exército, Gal. Leônidas Pires Gonçalvez, este o remeteu ao STM, não sem antes admitir, em entrevista coletiva, seu arrependimento por ter acreditado nos capitães.
Os 13 votos do STM, em sua maioria de militares, são leitura interessante (pp.217-249). Vários se dedicaram a ofender jornalistas (no que seguiram o relator), e alguns se transformaram em peritos grafotécnicos amadores. Foi duvidoso o motivo pelo qual o Ministério Público Militar foi impedido de falar. Em última análise a decisão final teve como fundamento material 4 laudos grafotécnicos que empatavam: dois inconclusivos e dois dizendo que os croquis eram do punho do Bolsonaro. E dado o empate valeu o critério in dubio pro reo. A dúvida que permanece: como é que no julgamento do STM, em que Bolsonaro foi inocentado por 9 a 4, os três laudos se transformaram em quatro? Bolsonaro teve uma boa advogada.
Nunca existiram quatro perícias, de quatro equipes diferentes de peritos. Só existiram três. Mas a defesa de Bolsonaro conseguiu transformar em duas a segunda perícia do Exército, a de número 58/87, ao considerar a complementação, que a tornou de inconclusiva em afirmativa de autoria, como uma 4ª perícia. E daí o 2 a 1 das perícias no Conselho de Justificação virou 2 a 2 no STM e em dúvida a favor do réu. Mas tudo isso um dia poderá ser revisto. Eu vou lembrar apenas um pedacinho do voto de José Luiz Clerot, in memoriam, meu colega de movimento estudantil secundarista no ano em que unificamos UNES e UBES, e que chegou a ministro togado do STM. Foi quem defendeu os jornalistas, em um ano em que a democracia começava a voltar: “Me recuso a acreditar que Veja publicasse irresponsavelmente matéria desse jaez. Eu me recuso a admitir que essa jornalista é uma irresponsável. É inaceitável. Não estou julgando Veja nem a jornalista. Muito menos que é perigosa. Perigosa por quê? Porque assumiu tamanha responsabilidade? Esses oficiais [Bolsonaro e Fabio Passos] mentiram por escrito e levaram o ministro a defendê-los e depois a engolir um sapo desse tamanho.” ... “Esse capitão, na sua imaturidade, que não sabia lidar com a imprensa, confiou à imprensa o seu plano macabro”. ... “Não quero lançar suspeitas sobre laudos feitos pela área militar – porque há um certo esprit de corps que deve ter funcionado – mas não funcionou na Polícia Federal.”
Online Global Research Tactics for the 21st Century: FRUS - Presentation on archival resources available
A organizadora (Victoria Philips) do evento sobre a pesquisa nos arquivos diplomáticos americanos – especificamente a série US Foreign Relations, volumes dedicados a temas ou períodos – enviou o link para a mais recente apresentação. A próxima é sobre os arquivos britânicos.
The Economics of Coffee in One Chart - Omri Wallach (Visual Capitalist)
The Economics of Coffee in One Chart
Visual Capitalist, October 24, 2020
By Omri Wallach
Breaking Down the Economics of Coffee
What goes into your morning cup of coffee, and what makes it possible?
The obvious answer might be coffee beans, but when you start to account for additional costs, the scope of a massive $200+ billion coffee supply chain becomes clear.
From the labor of growing, exporting, and roasting the coffee plants to the materials like packaging, cups, and even stir sticks, there are many underlying costs that factor into every cup of coffee consumed.
The above graphic breaks down the costs incurred by retail coffee production for one pound of coffee, equivalent to about 15 cups of 16 ounce brewed coffee.
The Difficulty of Pricing Coffee
Measuring and averaging out a global industry is a complicated ordeal.
Not only do global coffee prices constantly fluctuate, but each country also has differences in availability, relative costs, and the final price of a finished product.
That’s why a cup of 16 oz brewed coffee in the U.S. doesn’t cost the same in the U.K., or Japan, or anywhere else in the world. Even within countries, the differences of a company’s access to wholesale beans will dictate the final price.
To counteract these discrepancies, today’s infographic above uses figures sourced from the Specialty Coffee Association which are illustrative but based on the organization’s Benchmarking Report and Coffee Price Report.
What they end up with is an estimated set price of $2.80 for a brewed cup of coffee at a specialty coffee store. Each store and indeed each country will see a different price, but that gives us the foundation to start backtracking and breaking down the total costs.
From Growing Beans to Exporting Bags
To make coffee, you must have the right conditions to grow it.
The two major types of coffee, Arabica and Robusta, are produced primarily in subequatorial countries. The plants originated in Ethiopia, were first grown in Yemen in the 1600s, then spread around the world by way of European colonialism.
Today, Brazil is far and away the largest producer and exporter of coffee, with Vietnam the only other country accounting for a double-digit percentage of global production.
Country | Coffee Production (60kg bags) | Share of Global Coffee Production |
Brazil | 64,875,000 | 37.5% |
Vietnam | 30,024,000 | 17.4% |
Colombia | 13,858,000 | 8.0% |
Indonesia | 9,618,000 | 5.6% |
Ethiopia | 7,541,000 | 4.4% |
Honduras | 7,328,000 | 4.2% |
India | 6,002,000 | 3.5% |
Uganda | 4,704,000 | 2.7% |
Peru | 4,263,000 | 2.5% |
Other | 24,629,000 | 14.2% |
How much money do growers make on green coffee beans? With prices constantly fluctuating each year, they can range from below $0.50/lb in 2001 to above $2.10/lb in 2011.
But if you’re looking for the money in coffee, you won’t find it at the source. Fairtrade estimates that 125 million people worldwide depend on coffee for their livelihoods, but many of them are unable to earn a reliable living from it.
Instead, one of the biggest profit margins is made by the companies exporting the coffee. In 2018 the ICO Composite price (which tracks both Arabica and Robusta coffee prices) averaged $1.09/lb, while the SCA lists exporters as charging a price of $3.24/lb for green coffee.
Roasting Economics
Roasters might be charged $3.24/lb for green coffee beans from exporters, but that’s far from the final price they pay.
First, beans have to be imported, adding shipping and importer fees that add $0.31/lb. Once the actual roasting begins, the cost of labor and certification and the inevitable losses along the way add an additional $1.86/lb before general business expenses.
By the end of it, roasters see a total illustrated cost of $8.73/lb.
Roaster Economics | ($/lb) |
Sales Price | $9.40 |
Total Cost | $8.73 |
Pre-tax Profit | $0.67 |
Taxes | $0.23 |
Net Profit | $0.44 |
Net Profit (%) | 7.1% |
When it comes time for their profit margin, roasters quote a selling price of around $9.40/lb. After taxes, roasters see a net profit of roughly $0.44/lb or 7.1%.
Retail Margins
For consumers purchasing quality, roasted coffee beans directly through distributors, seeing a 1lb bag of roasted whole coffee for $14.99 and higher is standard. Retailers, however, are able to access coffee closer to the stated wholesale prices and add their own costs to the equation.
One pound of roasted coffee beans will translate into about 15 cups of 16 ounce (475 ml) brewed coffee for a store. At a price of $2.80/cup, that translates into a yield of $42.00/lb of coffee.
That doesn’t sound half bad until you start to factor in the costs. Material costs include the coffee itself, the cups and lids (often charged separately), the stir sticks and even the condiments. After all, containers of half-and-half and ground cinnamon don’t pay for themselves.
Factoring them all together equals a retail material cost of $13.00/lb. That still leaves a healthy gross profit of $29.00/lb, but running a retail store is an expensive business. Add to that the costs of operations, including labor, leasing, marketing, and administrative costs, and the total costs quickly ramp up to $35.47/lb.
In fact, when accounting for additional costs for interest and taxes, the SCA figures give retailers a net profit of $2.90/lb or 6.9%, slightly less than that of roasters.
A Massive Global Industry
Coffee production is a big industry for one reason: coffee consumption is truly a universal affair with 2.3 million cups of coffee consumed globally every minute. By total volume sales, coffee is the fourth most-consumed beverage in the world.
That makes the retail side of the market a major factor. Dominated by companies like Nestlé and Jacobs Douwe Egberts, global retail coffee sales in 2017 reached $83 billion, with an average yearly expenditure of $11 per capita globally.
Of course, some countries are bigger coffee drinkers than others. The largest global consumers by tonnage are the U.S. and Brazil (despite also being the largest producer and exporter), but per capita consumption is significantly higher in European countries like Norway and Switzerland.
The next time you sip your coffee, consider the multilayered and vast global supply chain that makes it all possible.