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sexta-feira, 9 de maio de 2008

868) Ainda a reforma ortografica: dicas

O que muda com a reforma da língua portuguesa
Brasil se prepara para reforma ortográfica
DANIELA TÓFOLI
da Folha de S.Paulo

O fim do trema está decretado desde dezembro do ano passado. Os dois pontos que ficam em cima da letra u sobrevivem no corredor da morte à espera de seus algozes. Enquanto isso, continuam fazendo dos desatentos suas vítimas, que se esquecem de colocá-los em palavras como freqüente e lingüiça e, assim, perdem pontos em provas e concursos.

O Brasil começa a se preparar para a mudança ortográfica que, além do trema, acaba com os acentos de vôo, lêem, heróico e muitos outros. A nova ortografia também altera as regras do hífen e incorpora ao alfabeto as letras k, w e y. As alterações foram discutidas entre os oito países que usam a língua portuguesa --uma população estimada hoje em 230 milhões-- e têm como objetivo aproximar essas culturas.

Não há um dia marcado para que as mudanças ocorram --especialistas estimam que seja necessário um período de dois anos para a sociedade se acostumar. Mas a previsão é que a modificação comece em 2008.

O Ministério da Educação prepara a próxima licitação dos livros didáticos, que deve ocorrer em dezembro, pedindo a nova ortografia. "Esse edital, para os livros que serão usados em 2009, deve ser fechado com as novas regras", afirma o assessor especial do MEC, Carlos Alberto Xavier.

É pela sala de aula que a mudança deve mesmo começar, afirma o embaixador Lauro Moreira, representante brasileiro na CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa). "Não tenho dúvida de que, quando a nova ortografia chegar às escolas, toda a sociedade se adequará. Levará um tempo para que as pessoas se acostumem com a nova grafia, como ocorreu com a reforma ortográfica de 1971, mas ela entrará em vigor aos poucos."

Tecnicamente, diz Moreira, a nova ortografia já poderia estar em vigor desde o início do ano. Isso porque a CPLP definiu que, quando três países ratificassem o acordo, ele já poderia vigorar. O Brasil ratificou em 2004. Cabo Verde, em fevereiro de 2006, e São Tomé e Príncipe, em dezembro.

António Ilharco, assessor da CPLP, lembra que é preciso um processo de convergência para que a grafia atual se unifique com a nova. "Não se podem esperar resultados imediatos."

A nova ortografia deveria começar, também, nos outros cinco países que falam português (Portugal, Angola, Guiné-Bissau, Moçambique e Timor Leste). Mas eles ainda não ratificaram o acordo.

"O problema é Portugal, que está hesitante. Do jeito que está, o Brasil fica um pouco sozinho nessa história. A ortografia se torna mais simples, mas não cumpre o objetivo inicial de padronizar a língua", diz Moreira.

"Hoje, é preciso redigir dois documentos nas entidades internacionais: com a grafia de Portugal e do Brasil. Não faz sentido", afirma o presidente da Academia Brasileira de Letras, Marcos Vilaça.

Para ele, Portugal não tem motivos para a resistência. "Fala-se de uma pressão das editoras, que não querem mudar seus arquivos, e de um conservadorismo lingüístico. Isso não é desculpa", afirma.

As novas regras da língua portuguesa devem começar a ser
implementadas em 2008. Mudanças incluem fim do
trema e devem mudar entre 0,5% e 2% do
vocabulário brasileiro. Veja abaixo quais são as mudanças.

HÍFEN
Não se usará mais:
1. quando o segundo elemento começa com s ou r,
devendo estas consoantes ser duplicadas, como em
"antirreligioso", "antissemita", "contrarregra",
"infrassom". Exceção: será mantido o hífen quando
os prefixos terminam com r -ou seja, "hiper-",
"inter-" e "super-"- como em "hiper-requintado",
"inter-resistente" e "super-revista"
2. quando o prefixo termina em vogal e o segundo
elemento começa com uma vogal diferente.
Exemplos: "extraescolar", "aeroespacial", "autoestrada"

TREMA
Deixará de existir, a não ser em nomes próprios e seus derivados

ACENTO DIFERENCIAL
Não se usará mais para diferenciar:
1. "pára" (flexão do verbo parar) de "para" (preposição)
2. "péla" (flexão do verbo pelar) de "pela"
(combinação da preposição com o artigo)
3. "pólo" (substantivo) de "polo" (combinação antiga e popular de "por" e "lo")
4. "pélo" (flexão do verbo pelar), "pêlo"
(substantivo) e "pelo" (combinação da preposição com o artigo)
5. "pêra" (substantivo - fruta), "péra"
(substantivo arcaico - pedra) e "pera" (preposição arcaica)

ALFABETO
Passará a ter 26 letras, ao incorporar as letras "k", "w" e "y"

ACENTO CIRCUNFLEXO
Não se usará mais:
1. nas terceiras pessoas do plural do presente do
indicativo ou do subjuntivo dos verbos "crer",
"dar", "ler", "ver" e seus derivados. A grafia
correta será "creem", "deem", "leem" e "veem"
2. em palavras terminados em hiato "oo", como
"enjôo" ou "vôo" -que se tornam "enjoo" e "voo"

ACENTO AGUDO
Não se usará mais:
1. nos ditongos abertos "ei" e "oi" de palavras
paroxítonas, como "assembléia", "idéia", "heróica" e "jibóia"
2. nas palavras paroxítonas, com "i" e "u"
tônicos, quando precedidos de ditongo. Exemplos:
"feiúra" e "baiúca" passam a ser grafadas "feiura" e "baiuca"
3. nas formas verbais que têm o acento tônico na
raiz, com "u" tônico precedido de "g" ou "q" e
seguido de "e" ou "i". Com isso, algumas poucas
formas de verbos, como averigúe (averiguar),
apazigúe (apaziguar) e argúem (arg(ü/u)ir),
passam a ser grafadas averigue, apazigue, arguem

GRAFIA
No português lusitano:
1. desaparecerão o "c" e o "p" de palavras em que
essas letras não são pronunciadas, como "acção",
"acto", "adopção", "óptimo" -que se tornam "ação", "ato", "adoção" e "ótimo"
2. será eliminado o "h" de palavras como "herva"
e "húmido", que serão grafadas como no Brasil -"erva" e "úmido"

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Livros didáticos de 2010 já terão nova ortografia

MEC também autoriza editoras a fazerem adaptações nas obras a partir do ano que vem; para associação do setor, decisão é precipitada

O Ministério da Educação (MEC) publicou ontem uma resolução no Diário Oficial da União exigindo que os livros didáticos que serão comprados para as escolas públicas a partir de 2010 estejam de acordo com as novas normas ortográficas da Língua Portuguesa.

O mesmo documento também autoriza as editoras a já fazerem essa adaptação no ano que vem. O governo brasileiro é um dos maiores compradores de livros didáticos do mundo; em 2007 foram cerca de 120 milhões de exemplares.

O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa foi assinado em Lisboa, em dezembro de 1990, e ratificado pelo Brasil e por outros três países de língua portuguesa. O parlamento de Portugal deve votar o acordo no dia 15, mas sua aprovação é contestada por intelectuais que já reuniram mais de 17 mil assinaturas contra o projeto. Entre as principais mudanças no Brasil, estão a eliminação do trema e dos acentos diferenciais.

O acordo deve entrar em vigor em 1º de janeiro de 2009 no País. “Já preparamos uma minuta sobre isso que ainda precisa ser assinada pelo presidente da República”, diz a integrante da Comissão de Definição da Política de Ensino, Aprendizagem, Pesquisa e Promoção da Língua Portuguesa (Colip), ligada ao MEC, a lingüista Estella Maris Bortoni. O grupo é responsável pelas discussões das novas normas no Brasil.

“Foi uma decisão precipitada, já que não existe nem um vocabulário oficial da nova norma”, diz o presidente da Associação Brasileira de Editores de Livros (Abrelivros), Jorge Arinos. Segundo ele, as editoras estão tendo de contratar profissionais para corrigir página por página dos protótipos dos livros que serão vendidos em 2010, mas que já devem ser enviados ao MEC até julho. “Não há sequer um corretor em computador que faça isso.”

Segundo o diretor do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), órgão do MEC responsável pelos livros didáticos, Rafael Torino, a parte da resolução que fala sobre os livros de 2009 atendeu a um pedido de editoras. Ele explica que o edital do programa do livro pede que as empresas entreguem ao MEC exatamente o mesmo livro que foi apresentado para avaliação. “Como muitas já estavam fazendo as mudanças agora, resolvemos autorizar que elas entregassem esses livros diferentes em 2009.”

É o caso dos produtos da Editora Nova Geração, que, segundo seu diretor, Arnaldo Saraiva, já foram todos adaptados à nova norma. “Essa resolução está até atrasada, o País todo já deveria estar se adaptando”, diz. Já a Editora FTD, que vende cerca de dez coleções para o MEC, ainda não tem livros com a ortografia modificada para oferecer em 2009. “Vamos correr, mas é impossível mudar todos”, diz a coordenadora editorial da FTD, Silmara Vespasiano.

No ano que vem, o MEC enviará às escolas cerca de 50 milhões de exemplares para o ensino médio e outros livros para um programa que equipa bibliotecas. Em 2010, haverá compras para alunos do 1º ao 5º ano do ensino fundamental. “Serão livros completamente novos, que ainda serão produzidos, por isso devem vir obrigatoriamente com a nova ortografia”, diz Torino.

Mudanças
Trema: Deixará de existir, a não ser em nomes próprios
Hífen 1: Não será mais usado quando o segundo elemento começar com “r” ou “s”. Essas letras deverão ser duplicadas. Exemplos: antissemita e contrarregra
Hífen 2: Não será mais usado quando o primeiro elemento termina em vogal e o segundo elemento começa com uma vogal diferente. Exemplos: extraescolar e autoestrada
Acento circunflexo 1: Não será mais usado nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo dos verbos crer, dar, ler e ver. Exemplos: creem, leem, deem
Acento circunflexo 2: Não será mais usado em palavras terminadas com hiato “oo”, como em enjoo e em vôo
Acento agudo: Não será mais usado em palavra terminada em “eia” e “oia”. Exemplos: ideia, jiboia
(O Estado de SP, 9/5)

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