Eles também revelam quão inconscientes ou ingênuos podem ser certos homens públicos, a menos que seja má-fé deliberada.
Em outros termos, o Brasil reconhece a presença das Farc, reconhece que a Colômbia representa o principal ponto de tensão na região, não faz nada para ajudar o vizinho país a resolver o seu problema, e ainda reclama quando o próprio país adota as soluções que acha mais adequadas para resolver essa ameaça terrorista, inclusive fazendo acordos de cooperação militar com o único país que se declarou disposto a ajudá-la (ainda que por interesse próprio, não importa, mas empenhou recursos, armas, homens, de qualquer maneira, o que o Brasil nunca fez).
Inacreditável, por outro lado, a alegação de que o Brasil pretenderia ser um "mediador" do conflito, o que seria aceitável nas mentes distorcidas dos militantes pró-cubanos e pró-Farc, mas não na cabeça de alguém que se pretende ministro da Defesa do Brasil. Mediar entre um Estado legalmente constituído, com um governo constitucionalmente eleito, e um grupo terrorista, que faz tráfico de drogas, pratica sequestros para sobreviver economicamente e cuja única função atualmente é aterrorisar as populações das regiões onde atua? Em que mundo vivem os dirigentes brasileiros? Num mundo da fantasia?
O Wikileaks ainda vai destruir várias reputações, desmantelar diversas hipocrisias, pegar muita gente mentindo em público e desmoralizar algumas carreiras políticas. Nisso, ele é bem vindo...
Finalmente, mais abaixo, os comentários de alguém, certamente muito odiado nesses meios que tentam "mediar" o conflito entre a Colômbia e as respeitáveis Farc...
Paulo Roberto de Almeida
Brasil sabia da presença das Farc na Venezuela, segundo Wikileaks
Nelson Jobim, ministro da Defesa, também teria comentado a respeito da situação do Equador
"Falando de temas de segurança regional", diz uma das mensagens, "Jobim reconheceu na prática a presença da guerrilha das Farc na Venezuela e ofereceu sugestões para criar confiança na fronteira entre Colômbia e Equador".
No entanto, Jobim diz que reconhece publicamente a presença das Farc na Venezuela impediria o trabalho de mediação de seu Governo. "Perguntado sobre a presença das Farc na Venezuela, disse que se reconhecesse sua presença poderia arruinar a capacidade do Brasil como país mediador", explica a nota.
Posteriormente, em outra mensagem, Jobim situa a "Colômbia no centro da potencial instabilidade da região" e considera a tentativa do então presidente Álvaro Uribe de optar por um terceiro mandato na Colômbia como "terrível".
Mais adiante, o ministro brasileiro volta a mostrar suas preocupações a respeito de Uribe, a quem "insiste em qualificar como a primeira fonte de tensões" na região andina.
Na conversa entre Lisa e Nelson Jobim, o ministro da Defesa também mostra "inquietação" sobre o acordo de defesa entre EUA e Colômbia, que permitirá que militares americanos utilizem bases no país andino, ao apontar que um dos memorandos que acompanha o acordo deixa em "evidência a falta de compreensão da América Latina" por parte de Washington.
No entanto, a funcionária finaliza com um balanço positivo seu encontro com Jobim, de quem destaca sua "proximidade ao presidente Lula em questões de segurança". "Apesar da tendência do Governo do Brasil de culpar a Colômbia pelas tensões atuais, seus esforços por manter a paz são sinceros e deveriam ser apoiados", afirma na nota.
Trata-se dos primeiros documentos nos quais a Colômbia é citada desde que o Wikileaks começou a publicação em massa no domingo de mais de 250 mil documentos diplomáticos americanos, muitos deles com revelações embaraçosas para Washington e seus aliados.
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O antiamericanismo bocó somado ao personalismo jeca-tatu…
Reinaldo Azevedo, 30.11.2010
O problema dos telegramas vazados pelo site WikiLeaks é que muitos tentam ver como política oficial — ou escolhas de governo — o que está na esfera das considerações, das análises, dos chutes, da fofoca. Já falo mais a respeito. Vamos a um caso em particular.
Em conversa com ex-embaixador americano no Brasil Clifford Sobel (20067-2009), Nelson Jobim, ministro da Defesa, teria definido Samuel Pinheiro Guimarães, então segundo homem no Itamaraty e hoje chefe da Sealopra (lembram-se dela?), como antiamericano; teria dito mesmo que ele “odeia os EUA” e “trabalha para criar problemas na relação”. Clifford enviou a mensagem a seu governo, e agora ela está no mundo…
Jobim já ligou para Guimarães para assegurar que não disse nada daquilo; que conversou, sim, com o embaixador, mas ele interpretou mal o sentido de suas palavras etc e tal. Lula defende o ministro da Defesa. Vamos pensar.
Digamos que Jobim tenha dito o que lhe atribuem: mentira não é, certo? A hostilidade de Guimarães aos EUA e à política americana não precisa de conversa privada ou de fofoca para se manifestar. Está na cara. É pública. Mais: ao longo de oito anos, nas questões relevantes, o Itamaraty sempre procurou contrastar com os americanos: se eles queriam uma coisa, Celso Amorim demonstrava querer o contrário.
Nem Amorim nem Guimarães mandam em coisa nenhuma. Ambos refletiam as opiniões de Lula — é dele a política externa, certo? Tanto é assim que as relações do Brasil com os EUA pioraram com a eleição de Barack Obama. Já durante a campanha eleitoral do atual presidente americano, notava-se o incômodo de Lula. Ainda que pareça estúpido e mesquinho, o Babalorixá de Banânia achava que o outro era a única figura a lhe fazer sombra no mundo…
Some-se esse aspecto megalômano, delirante, à cultura antiamericana de onde deriva Guimarães, e encontraremos o Brasil a defender o programa nuclear do Irã e a se abster numa votação em que aquele país é condenado por violar os direitos humanos. Foi a soma do antiamericanismo bocó com o personalismo jeca-tatu.
3 comentários:
Professor,
Uma das coisas que mais me enojam é ouvir alguém dizer que é neutro diante do crime. Não importa se quem diz são membros do governo, ou um conhecido ongueiro carioca. Claro que o primeiro caso é muito pior, por várias razões inclusive por que é feito em meu nome.
Abs,
Por que essa política externa de ser complacente com traficantes de drogas, terroristas e radicais islâmicos?
Onde os nossos ilustres "líderes" querem nos levar?
Já está provado que as FARC são responsáveis pela maior parte do abastecimento do mercado brasileiro com cocaína. Será que pensam que o vício da população e a violência que decorre daí é algo digno de louvor?
O pior é que o Partido já se tornou um monstro: seus tentáculos já se enredaram de tal forma no Estado brasileiro, que é quase impossível desgarrá-los. A mera indignação não basta...
Ricardo,
A razão é muito simples.
O PT, a pedido dos cubanos e sob a orientação estrita dos cubanos, organizou, em 1990, o Foro de São Paulo, instância de coordenação dos movimentos de esquerda da AL, para servir a interesses cubanos em primeiro lugar, e os desses movimentos em segundo lugar.
Entravam todos esses partidos de esquerda, e movimentos guerrilheiros, todos unidos na causa anti-imperialista, socialista, comunista, anti-Consenso de Washington, anti-neoliberalismo e tudo o mais que você pode imaginar.
PT e FARC estavam em pé de igualdade nesse foro; esta é uma constatação de fato, não uma opinião.
Parece que nem os cubanos, nem os petistas se importavam em que as FARC fizessem tráfico de drogas, se dedicassem a sequestros criminosos, a ações terroristas. Tudo era justificado em nome da luta anti-imperialista e pelo socialismo.
Muitos desses grupos se tornaram, de fato, entidades mafiosas, vivendo de tráficos diversos, e sobretudo de dinheiro que circulava vindo sabe-se lá de onde (na verdade se sabe, mas é preferível não dizer).
Em 2005, como tudo isso era um pouco incômodo, se conviu em que as FARC deixassem de participar ostensivamente das reuniões anuais do FSP, mas eles provavelmente continuavam participando oficiosamente.
Acho que isso esclarece a questão.
Paulo Roberto de Almeida
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