Sobre a política externa e a diplomacia brasileira em tempos obscuros
Paulo Roberto de Almeida
[Objetivo: crítica ao bolsolavismo diplomático; finalidade: debate público]
Não existem precedentes, em 200 anos de história diplomática, para o que vem ocorrendo com o Itamaraty, desde a ascensão dos novos bárbaros ao comando da nação, em função das circunstâncias excepcionais dos anos 2016-18, que permitiram a agregação das forças mais obscurantistas que jamais ocuparam posições de poder no Brasil.
Os novos bárbaros são certamente de extrema-direita, mas sem muita doutrina ou conceitos programáticos. Eles são basicamente primários, são reacionários obscurantistas, e sobretudo profundamente toscos e ignorantes em matéria de relações internacionais, de política exterior e de diplomacia brasileira.
Eles encontraram quem lhes servisse de forma oportunista e totalmente subordinada e subserviente, numa obra de destruição da inteligência no serviço exterior, e de ruptura não só com as melhores tradições do Itamaraty, mas também com a simples racionalidade de posturas que garantissem a defesa do interesse nacional.
Fundamentalmente, colocaram o Brasil a serviço do dirigente inepto de uma potência estrangeira, numa postura de submissão automática que é profundamente vergonhosa para uma diplomacia outrora respeitada e admirada, mas também para o próprio país, que se vê praticamente excluído de um diálogo que deveria ser mutuamente benéfico com outros atores relevantes da comunidade internacional.
Sob a condução dos novos bárbaros, a diplomacia terraplanista reduziu a interlocução do país a um punhado de populistas reacionários, unidos na mesma causa demencial do antiglobalismo, num profundo desprestígio para a diplomacia profissional.
O trabalho de reconstrução da política externa e da diplomacia profissional brasileira deve começar por um esforço de resistência que assume, inicialmente, um formato intelectual, ou seja, de contraposição conceitual e doutrinária à atual indigência mental que caracteriza as posturas assumidas pelos novos bárbaros no plano do relacionamento exterior do Brasil.
Essa resistência deve prosseguir pela denúncia de todas as barbaridades sendo atualmente perpetradas em nome do Brasil no plano externo e se completar por uma exposição clara sobre quais seriam as melhores políticas a serem assumidas por uma governança responsável em defesa dos mais altos interesses do país. Estes certamente não passam pela subordinação a uma potência estrangeira, pela adesão a doutrinas autoritárias e antidemocráticas ou pela recusa irracional e absurda do multilateralismo nas relações internacionais do Brasil.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 3738, 22 de agosto de 2020
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