Bolo de Laranja Lima
(semana 08-bis)
O bolo de fubá cremoso foi minha primeira paixão. A cada mordida, eu percebia que a vida era bela. A cada bala de coco, a cada quitute da Colombo, a cada biscoito de nata, tornei-me mais esfericamente perfeito.
Convenhamos. Todo corpo celestial é esférico. No espaço, só há astros redondos. Eu nunca vi um planeta magro. Nós, gordos, temos essa semelhança com o divino.
Esta semana, vasculhando armários atrás de uma lata de leite condensado que pudesse aplacar minha fúria roliça ante tantas notícias, pensei em você, amigo leitor, também a buscar um quitute para saciar as ânsias. É nesse espírito que ofereço minha sabedoria rotunda e recomendo a beleza do bolo de laranja lima.
A doçura da laranja lima é infinitamente superior à laranja comum. Esconde a acidez e evita que se denuncie o quitute como um bolo de laranjas. Evita-se a indigestão. Evita-se a vulgaridade do excesso de açúcar, para mascarar o amargor de laranjas podres.
Ainda que um bolo de laranjas cariocas ordinárias mascare o contrabando excessivo de farinha de baixa qualidade, que pode gerar abundantes ganhas para os boleiros industriais, o bolo de laranja lima traz em si a beleza de manter o passado laranja maquilado. E traz no próprio nome uma lima que pode ser usada para escapulir de clausuras.
Pela laranja lima, reflitam.
Ministro Ereto da Brocha, OMBUDSMAN.
Nenhum comentário:
Postar um comentário