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domingo, 18 de maio de 2025

A busca insensata por protagonismo - Roberto Brant (Estado de Minas)

  BRASIL VISTO DE MINAS

A busca insensata por protagonismo

Entre o amadorismo, a presunção e a ideologia, nossa política externa está perdendo o sentido da realidade e da proporção

Roberto Brant

Estado de Minas, 16/05/2025

    

        Li em algum lugar que Joaquim Nabuco, quando embaixador do Brasil nos Estados Unidos, nos primeiros anos da República, teria dito que uma virtude essencial da política externa de um país seria o senso de realidade e de proporção, querendo certamente dizer com isso não se fazer maior nem menor do que a realidade. Seria fazer justiça à nossa diplomaciareconhecer que, na maior parte da nossa vida republicana, a política externa brasileira tem se mantido fiel àquela virtude, não se apequenando diante dos mais poderosos, nem cultivando a fantasia de um poder e de uma influência que naturalmente não temos.

        Por razões e modos diferentes, o governo passado e o atual têm imposto à nossa política externa um tipo de ativismo partidarizado, estranho à nossa tradição e prejudicial aos nossos interesses permanentes. Essa disposição torna-se particularmente imprudente em um momento de grande turbulência geopolítica, quando a “ordem internacional baseada em regras”, que vinha organizando a convivência entre os países desde o final da Segunda Guerra Mundial, está em processo de dissolução.

        O momento do mundo está marcado por três movimentos de ruptura que vão transformar a vida numa direção imprevisível. O primeiro foi a invasão da Ucrânia pela Rússia, rompendo quase 80 anos de paz na Europa. O segundo é a presidência Trump, que está pressionando os limites da democracia americana, desfazendo acordos e compromissos e afirmando o fim de princípios e valores na política externa americana. O terceiro, de caráter mais estrutural, é a emergência de uma nova ordem em que empresas de tecnologia com controle da inteligência artificial rivalizam com os estados soberanos na luta por influência e domínio geopolítico. É neste cenário de grande complexidade que deve atuar a política externa.

        O Brasil certamente não pode estar alheio a nenhum desses movimentos, mas sem deixar de reconhecer que não temos o poder necessário para moldar seus desenvolvimentos, cabendo-nos mover com inteligência e sobriedade para proteger da melhor maneira o interesse nacional. O voluntarismo ideológico de Bolsonaro e de Lula tem impedido o Itamaraty de agir como uma instituição profissional a serviço do interesse permanente do Estado brasileiro e nos exposto até a certas situações que beiram o ridículo.

        No caso exemplar da Ucrânia, Lula tem evitado que nossa política externa expresse sua longa fidelidade ao princípio da não intervenção, princípio especialmente imprescindível a países como o nosso que não tem os meios materiais para se defender em todas as situações. Nosso presidente nunca condenou com a ênfase necessária a Rússia invasora, prega uma paz sem condições e ainda por cima vai a Moscou para, na companhia exclusiva de trinta ditadores, levar a sua homenagem ao líder russo e à sua política, em um gesto que fere a nossa tradição e o próprio sentimento do povo brasileiro.

        No caso dos Estados Unidos, o ex-presidente Bolsonaro e seu círculo mais fiel demonstra uma vassalagem aos piores aspectos do governo Trump e ainda cultiva abertamente a fantasia de uma intervenção americana em nossas instituições. Do seu lado, o presidente Lula não se cansa de provocar desnecessariamente o líder americano que, malgrado o horror que possa nos causar, até o momento não provocou danos diretos ao nosso país, mesmo porque uma tarifa piso de 10% que nos foi aplicada é muito menor do que a tarifa média com que taxamos todas as nossas importações.

        Por fim, o presidente e sua mulher, de um modo aparentemente impróprio e desajeitado, buscaram no presidente chinês apoio para conter em nosso país.

Entre o amadorismo, a presunção e a ideologia, nossa política externa está perdendo o sentido da realidade e da proporção.


As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.







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