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quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Anita Garibaldi - Uma Heroína Brasileira - 200 anos



BICENTENÁRIO DE ANITA GARIBALDI: DEBATE IDEOLÓGICO EM TORNO DO LEGADO DA REVOLUCIONÁRIA!


Folha de S.Paulo, 29/08/2021

O convés do navio comandado por Giuseppe Garibaldi (1807-1882), sob ataque das tropas imperiais brasileiras, começava a ser coberto por tripulantes caídos, mas Anita, apelido dado pelo italiano à Ana Maria de Jesus Ribeiro da Silva, seguia na primeira linha de atiradores.

Mesmo com a batalha escalando em mortos e feridos, ela seguia na proa, entre dois marinheiros, "de fuzil ao peito", exposta "às balas do inimigo" e atirando, escreveu Lindolfo Collor, avô do ex-presidente e hoje senador Fernando Collor, em "Garibaldi e a Guerra dos Farrapos", livro de 1938 sobre a revolta ocorrida no sul do Brasil entre 1835 e 1845.

A cena é mais uma a ilustrar, em tintas carregadas, Anita Garibaldi em batalhas -com cerca de 18 anos, de origem pobre, ela se juntou à revolta e partiu de Laguna (SC) para lutar ao lado de Garibaldi, por quem se apaixonou, apesar de oficialmente ser uma mulher casada. Um escândalo para a época.

Anita já foi samba-enredo no Carnaval do Rio de Janeiro, interpretada na TV por Giovanna Antonelli e no cinema por Anna Magnani, atriz do neorrealismo italiano, e é uma das poucas mulheres brasileiras nas páginas de aço do "Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria", exposto na Praça dos Três Poderes, em Brasília.

Às vésperas da data que marca 200 anos de seu nascimento, algumas vitrines da sua terra natal, onde o nome de Anita está em museu, rua, autoescola e restaurante, colocaram manequins vestidos como ela, a maioria com uma arma a tiracolo.

Sua memória no bicentenário se divide em eventos e na discussão de como os valores defendidos por ela se colocariam no polarizado Brasil de 2021.

A data de nascimento, 30 de agosto de 1821, foi reconhecida pela Justiça de Santa Catarina no final dos anos 1990 depois de um processo movido para que se criasse um documento atestando que Anita era brasileira, já que sumiram todos os registros oficiais, como o livro tombo da igreja onde foi batizada.

"Em nome das lojas maçônicas, da Câmara de Vereadores, da Unisul (Universidade do Sul de Santa Catarina) e do próprio Instituto Anita, na época, fundação, pedimos que se reconhecesse o nascimento tardio de Anita", conta Adílcio Cadorin, advogado e autor de livros como "Anita - Guerreira das Repúblicas e da Liberdade".

"Fomos ao cartório e registramos o nascimento dela 178 anos depois de ela ter nascido", acrescenta ele.

Ex-prefeito de Laguna, Cadorin participou da criação do movimento separatista O Sul É Meu País –do qual se afastou. Diretor do Instituto Cultural Anita Garibaldi, é visto como o principal divulgador da memória dela hoje.

A Guerra dos Farrapos foi iniciada no vizinho Rio Grande do Sul devido à insatisfação de estancieiros com os tributos cobrados sobre o charque gaúcho, e levou à proclamação de duas repúblicas, a Piratini, no Rio Grande do Sul, e a Juliana, em Santa Catarina, com a tomada da Laguna de Anita.

Simpática aos valores republicanos, por influência do tio, Anita cresceu montando a cavalo como os homens, com uma perna de cada lado, e com fama de indômita. Uma das histórias sobre ela diz que chegou a dar um golpe de chicote em um homem que a assediou e comunicou à polícia o ocorrido.

Com a mãe viúva e irmãos pequenos, foi convencida a se casar com um sapateiro da cidade no dia em que completou 14 anos. Manoel Duarte, conhecido como Manoel dos cachorros, que lutou ao lado do Império, teria a deixado antes da chegada de Garibaldi à cidade, afirma Cadorin.

Ao lado do italiano, com quem Anita se casou depois no Uruguai, em um intervalo de dez anos, ela engravidou cinco vezes e participou ativamente da luta pela unificação da Itália.

"Anita era um espírito livre e lutador, mas certamente, a partir das 'Memórias de Garibaldi', especialmente na versão de Alexandre Dumas, os traços corajosos e heróicos de Anita se acentuaram. Se Garibaldi pretendia propor uma mulher, ainda mais imprudente do que os homens para incitar os italianos na luta patriótica, Dumas estava construindo o casal romântico perfeito de amor e revolução", avalia a italiana Silvia Cavicchioli, autora de "Anita - Storia i Mito di Anita Garibaldi" (Einaudi, 2017, sem versão em português).

"Na decisão de deixar os filhos, de cruzar a Itália sozinha para chegar ao parceiro, está toda a natureza não convencional e rebelde de Anita."

Em maio, em meio à pandemia de Covid-19, a estátua dela no centro da praça República Juliana, em Laguna, amanheceu segurando uma placa escrita "Fora Bolsonaro genocida". No Instagram, a conta @anitasemlimites publicou um registro e a legenda: "Um dia empunhei minha garrucha contra o imperialismo, hoje levanto minha bandeira contra o fascismo! Prazer, Anita Garibaldi".

Os comentários se dividiram entre elogios à ação e quem a considerasse vandalismo e desrespeito à memória de Anita.

"Fala sério que essa gente acha que eu apoiaria o fascistoide militar se tivesse andando por terras brasilis nos dias atuais", diz a pessoa por trás do perfil, que responde dizendo ser a própria Anita a falar. Ela não quis se identificar.

"Sorte dele que hoje os tempos são outros, há cento e tantos anos, resolvemos as coisas de outra forma com o pessoal uniformizado que falava em nome da nação. Bolsonaro é a escória. E como diria Giuseppe, 'socialismo é o sol do futuro'".

A usuária responsável pela conta, se fazendo passar por Anita, diz não estar contente com os eventos em torno de seu bicentenário. "Me parece que querem me colocar como uma conservadora", diz ela.

O prefeito Samir Ahmad, que considera que Anita "cada dia mais serve de modelo", diz que o direito de expressão deve ser assegurado, mas não se pode destruir imagens para reconstruir a versão que se quer da história -a estátua não parece ter sido danificada na intervenção.

"Maturidade política não pode ser confundida com deturpação da história. Que a liberdade de expressão fique restrita à esfera das palavras e discussões sem imposição de nenhuma forma. A cada quatro anos temos novos eleitos, que seja feita e respeitada a vontade do povo, como defendeu a nossa heroína."

Eleito pelo PSL, ele deixou o partido há poucos dias e diz que deve seguir o governador Carlos Moisés, que também saiu da sigla. "Votei no Bolsonaro e até posso votar novamente, porém, isso não significa que convergimos em tudo."

"[Hoje, Anita] seria uma republicana, democrata, defenderia liberdade, igualdade social, igualdade entre mulheres e homens, o que ela sempre exigiu do Garibaldi. Ela nunca se colocou acima dele, mas do lado", diz Cadorin, que avalia que Bolsonaro está fazendo a coisa certa, mas dizendo coisas erradas.

"Anita foi uma mulher muito à frente do seu tempo, que rompeu paradigmas. E que teve que enfrentar questões que hoje assolam a mulher moderna, como a maternidade versus o desejo de se realizar em outros espaços, mais masculinos", diz Leticia Wierzchowski, autora dos livros "A Casa das Sete Mulheres" e "Travessia", sobre Anita e Garibaldi.

Anita morreu em 4 de agosto de 1849, aos 27 anos, grávida do quinto filho e perseguida por tropas austríacas na Itália. E continuou rendendo histórias.

Com a roda quebrada da charrete que levava o corpo, os homens que fariam seu enterro amarram uma corda no pescoço do cadáver e o arrastaram, antes de deixá-lo em uma cova rasa. O corpo foi encontrado dias depois e abriu uma investigação de homicídio, que gerou rumores de que o próprio Garibaldi a teria matado.

Em entrevista à Folha de S.Paulo em 1999, o jornalista Paulo Markun, que escreveu "Anita Garibaldi - Uma Heroína Brasileira", disse: "O legista cometeu um engano ao imaginar que ela teria sido estrangulada. Mas, num primeiro momento, esse boato chegou a se espalhar".

Anita teve sete sepultamentos, sendo as duas últimas na repatriação que o ditador fascista Benito Mussolini fez de seus restos, que estavam na França.

"Em Ravena, onde ela morre, e em grande parte da Itália central, ela é muito amada e continua a existir um verdadeiro culto laico de Anita, um nome que ainda se dá às crianças em sua memória", diz Silvia.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Carmen Licia garibaldina (ou anitiana, se ouso dizer) - Semana da Italia na UnB

Minha querida esposa, companheira de leituras e estudos, Carmen Licia Palazzo, "italiana" como o nome indica, fará uma exposição sobre Anita Garibaldi, no quadro desta semana italiana na Universidade de Brasilia.
Eu a estou vendo em plena preparação, selecionando imagens fotográficas que ele mesma fez, em nossos périplos garibaldinos pela Itália, desde a Sicília até Ravenna, onde faleceu Anita Garibaldi, depois de acompanhar o "herói dos dois mundos" por guerras e combates, na América do Sul e na Itália do Risorgimento.
Abaixo a transcrição do programa completo, do qual destaco esta parte:

28 de abril (quinta-feira)
10h – Mesa: As italianas do Brasil – Anita Garibaldi e Thereza Cristina de Bourbon
Palestra: Vida, paixão e morte de Thereza Cristina de Bourbon, a italiana Imperatriz do Brasil (1822-1889), com o professor Dr Aniello Angelo Avella, da Universitá di Roma Tor Vergata Itália e Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ)
Palestra: Imagens de Anita Garibaldi no Brasil e na Itália, com a dra Carmen Lícia Palazzo, consultora do Projeto de Estudos Judaico-Helenísticos (PEJ/UnB)
Mediador – Gehad Ismail Hajar, do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná

Tenho de estar, não posso faltar, do contrário terei de prestar contas a Garibaldi em pessoa, extremamente vingativo. Ou será que estou sonhando?
Paulo Roberto de Almeida

A Casa da Cultura da América Latina (CAL/DEX/UnB) realiza, de 25 a 29 de abril, a I Semanas Latinas 2011. Com o tema O Brasil Italiano: uma visão da contribuição italiana à cultura brasileira o evento reúne diversas atividades nos períodos matutino, vespertino e noturno, todas com inscrições gratuitas e abertas ao público em geral.

- Ciclo de Debates
No período da manhã, no Auditório do Memorial Darcy Ribeiro, acontecerá o Ciclo de Debates que abordará questões relacionadas ao tema. Os interessados em participar devem se inscrever no local ou no Interfoco (Campus Darcy Ribeiro, Prédio Multiuso I, sala AT57, e-mail – interfoco@unb.br). Todos os inscritos receberão certificado da UnB.

Confira a programação:
25 de abril (segunda-feira)
10h – Abertura com apresentação do Coro Italiano da UnB
10h15 – Mesa de abertura:
Reitor da UnB – José Geraldo de Sousa Júnior
Decano de Extensão – Oviromar Flores
Embaixador da Itália – Gherardo La Francesca
Diretora da CAL/UnB – Ana Queiroz
Coordenadora das Semanas Latinas – Ariane Abrunhosa

11h – Mesa: As relações Brasil e Itália
Palestra: Depois da imigração-economia e cultura italiana no Brasil, com o professor dr Amado Cervo, do Instituto de Relações Internacionais da UnB;
Palestra: A presença do Brasil na Itália, com o Conselheiro Paulo de Tarso Jardim
Mediadora: Professora Ariane Abrunhosa (CAL/UnB)

26 de abril (terça-feira)
10h – Exibição do documentário Lina Bo Bardi, direção de Aurélio Michiles
Local: Auditório do Memorial Darcy Ribeiro
11h – Mesa Redonda – Lina Bo Bardi: uma existência brasileira
Debatedores:
Aurélio Michiles – cineasta
Professor dr Cláudio Queiroz, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU/UnB)
Evandro Salles – produtor cultural
Mediador – Cláudio Valentinetti - jornalista

27 de abril (quarta-feira)
10h – Exibição do documentário In vino veritas (Ittala Nandi – 1982)
11h – Mesa Redonda: Ittala Nandi, a artista e a mulher
Debatedores:
Cláudio Valentinetti – jornalista e biográfo
Professor Paulo José Cunha, da Faculdade de Comunicação (FAC/UnB)
Participação especial da atriz e diretora Ittala Nandi

28 de abril (quinta-feira)
10h – Mesa: As italianas do Brasil – Anita Garibaldi e Thereza Cristina de Bourbon
Palestra: Vida, paixão e morte de Thereza Cristina de Bourbon, a italiana Imperatriz do Brasil (1822-1889), com o professor Dr Aniello Angelo Avella, da Universitá di Roma Tor Vergata Itália e Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ)
Palestra: Imagens de Anita Garibaldi no Brasil e na Itália, com a dra Carmen Lícia Palazzo, consultora do Projeto de Estudos Judaico-Helenísticos (PEJ/UnB)
Mediador – Gehad Ismail Hajar, do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná


29 de abril (sexta-feira)
10h – Mesa: Expressões artísticas: das letras às formas

Palestras: A poesia e a pintura em Annalisa Cima, com a professora Dra Aurora Bernardini, da Universidade e São Paulo (USP);
- A contribuição italiana nas obras públicas de Brasília, com a Dra Ana Queiroz (CAL/UnB);
- Arte contemporânea: Brasil-Itália, com a professora Marília Panitz , do Instituto de Artes (IDA/UnB)
Mediador – professor Roberto Max Storai Lucich, do Decanato de Extensão (DEX/UnB)

- Oficinas de Gastronomia
No período da tarde serão realizadas as Oficinas de Gastronomia, no laboratório do Departamento de Nutrição da UnB (Faculdade de Ciências da Saúde, Campus Darcy Ribeiro). Serão oferecidas trinta (30) vagas e as inscrições devem ser feitas pelo e-mail cursoscal@unb.br. Informações: (61) 3321 5811.

Confira a programação:
25 de abril (segunda-feira), às 15h
Prato: Maiale al Latte
Chef: Francesco Bruno

26 de abril (terça-feira), às 15h
Prato: Pasta e Fagioli Amalfitana
Chef: Rosário Tessier

27 de abril (quarta-feira), às 15h
Prato: Tiramisù e Torta Gianduia
Chefs: Bruno Rappel e Mauro Rappel

- Oficinas Culturais
No período da noite serão realizadas as Oficinas Culturais. Os interessados em participar podem se inscrever nos locais das atividades.

Confira a programação:

Dia 25 de abril (segunda-feira), às 19h
Oficina Panorama Italiano: Oriundos, brasileiros de raízes italianas – parte I
Coordenador – Roberto Max Storai Lucich, professor do Instituto de Letras (IL/UnB)
Local: Auditório do Memorial Darcy Ribeiro

Dia 26 de abril (terça-feira), às 19h
Oficina Música Italiana
Apresentação do Coro Italiano da UnB
Regente: Adilude Passos Valadão, coordenadora do Núcleo Sonoro da UnB
Local: Instituto Central de Ciências (ICC Sul, Campus Darcy Ribeiro)

Dia 27 de abril (quarta-feira), às 19h
Oficina Panorama Italiano: Oriundos, brasileiros de raízes italianas – parte II
Coordenador – Roberto Max Storai Lucich, professor do Instituto de Lestras (IL/UnB)
Local: Auditório do Memorial Darcy Ribeiro

Dia 28 de abril (quinta-feira), às 19h
Oficina Encontro Poético: Palavras e Imagens
Lançamento do livro Estação poética, de Jandira Costa
Apresentação de curtas em animação e vídeo, de Gustavo Tomazi, diretor de Animação e Vídeo
Local: Auditório do Memorial Darcy Ribeiro

Realização: Casa da Cultura da América latina (CAL/DEX/UnB)
Apoio: Instituto e Letras (IL/UnB); Faculdade de Saúde (FS/UnB); UnBTV; Trattoria da Rosário; Confeitaria Rappel; Grupo de Estudos José Ortega y Gasset: Ciência e Arte

Brasília, 12 de abril de 2011
Núcleo de Comunicação da CAL