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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Meus livros podem ser vistos nas páginas da Amazon. Outras opiniões rápidas podem ser encontradas no Facebook ou no Threads. Grande parte de meus ensaios e artigos, inclusive livros inteiros, estão disponíveis em Academia.edu: https://unb.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida

Site pessoal: www.pralmeida.net.
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quinta-feira, 1 de maio de 2025

Contra todos os fanatismos: repudiando a extrema-direita burra - Paulo Roberto de Almeida

 Contra todos os fanatismos: repudiando a extrema-direita burra

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.
Nota sobre ataques e acusações dos delirantes da extrema-direita.

         Abastecido por intensas leituras ecléticas, desde a mais precoce etapa do letramento, feita do embevecimento pelos grandes autores de histórias infantis e romances juvenis, nunca me prendi a qualquer escola ideológica ou a qualquer militância política exacerbada. Mesmo na fase de minha inclinação socialista, a do marxismo histórico e teórico, mais do que a do leninismo engajado, que coincidiu com a vigência dos anos de ditadura militar no Brasil, jamais deixei de ler, ao lado dos clássicos do marxismo, os grandes nomes do liberalismo mundial e do pensamento político democrático e mesmo libertário, quase anarquista (pela recusa de qualquer autoridade arrogantemente estatal). Esse ecletismo político e filosófico, me fez recusar, desde cedo, todas aquelas obsessões que frequentam nossos meios políticos e culturais: o fundamentalismo religioso, o fanatismo político, certas tribos bárbaras ligadas a algum clube futebolístico e até mesmo aquelas seitas que devotam uma paixão religiosa por ídolos musicais, esportistas ou quaisquer outros.
        Essa aversão aos extremismos de todos os tipos – religioso, político, futebolístico ou de idolatria por personagens temporariamente famosos – foi ainda mais reforçada depois que voltei de um longo exílio no exterior, durante os anos de chumbo da ditadura militar, quando reforcei minhas inclinações liberais e libertárias pela leitura de grandes mestres das doutrinas e filosofias políticas democráticas e daqueles que preconizam livres mercados e democracias de mercado. Desde minha volta engajei-me novamente na luta democrática, tendo sido logo fichado como “diplomata subversivo” pelo SNI, ao início de minha carreira diplomática, por ter continuado minha luta contra a ditadura. Também lutei contra as ditaduras de esquerda, equivocadamente classificadas como “socialistas”, quando sempre registraram inúmeras similitudes com regimes fascistas. Mas nunca tivemos algo desse tipo no Brasil, a não ser o velho populismo demagógico, supostamente progressista e impulsionado por militantes de extração gramsciana, mas que se apoiavam mais no castrismo bolchevique do que em teses inspiradas no pensamento sofisticado do marxista italiano.
        O fato de ter sido levado, durante todo o reino dos companheiros, ao ostracismo na Secretaria de Estado das Relações Exteriores, pelo fato de expressar abertamente reservas à diplomacia partidária lulopetista, fez com que certa direita igualmente ideológica me colocasse, durante a fase de transição dos anos 2016-2021, numa categoria de defensores de uma política externa conservadora, ou alinhada com certas teses desse bloco de alucinados partidários da chamada direita mundial. Isso logo se revelou totalmente indevido, tendo eu já exibido o galardão inédito de ter sido punido por tucanos, petistas e bolsonaristas, justamente por defender ideias próprias em matéria de relações internacionais do Brasil.
        O Brasil se encontra infelizmente tomado por uma luta entre duas tribos ideológicas rivais, que se digladiam nas redes sociais em defesa de seus respectivos demagogos políticos, aos quais eu sou igualmente oposto, por justamente defender uma política externa livre de quaisquer influências partidárias distintamente sectárias. Como esse espaço foi ocupado, no espaço de quatro anos do governo anterior, pela franja lunática dos antiglobalistas idiotas – aos quais eu dediquei cinco “livros de combate”, desde Miséria da Diplomacia (2019), até Apogeu e Demolição da Política Externa (2021) –, os fanáticos defensores dessa tropa de alucinados antiglobalistas me tomam agora como defensor da tribo adversária, atualmente no poder, o que é invariavelmente denegado por minhas postagens independentes, sempre em apoio a uma política externa independente, baseada nos padrões tradicionais do Itamaraty, segundo valores e princípios inscritos nas cláusulas de relações internacionais da CF-1988.
        A esquerda presente nesses canais tende a ignorar minhas críticas à diplomacia partidária novamente em curso, uma vez que ela ocupa o poder, e se acha detentora da palavra certa no comando da política externa brasileira. A extrema-direita – que além de fanática é muito burra – costuma, em contrapartida, reagir com rancor sempre quando alguma postagem não se alinha com suas teses fanaticamente antipetistas, o que simplesmente não contemplo em meus argumentos, que não se guiam por posturas sectárias, e sim por uma análise racional das políticas em pauta. Formulo estas simples observações apenas para alertar os fanáticos de quaisquer tendências e setores de atividade que continuarei em minha prática habitual de analisar com isenção, e de criticar quando pertinente, as políticas de Estado aplicadas às relações exteriores do Brasil, meu terreno de reflexão preferencial (e profissional durante quase meio século).
        Resumo: não tenho partido, ou ideologia, não tenho religião (mas, atenção, não me defino como ateu, apenas como irreligioso) e não tenho nenhum time de futebol, tampouco cultivo qualquer devoção a alguma personalidade em destaque. Continuarei nesta postura contrarianista que é a minha, mas marcada por um ceticismo sadio que me faz examinar com extrema atenção – é o meu único “extremismo” – cada assunto relevante presente na agenda externa do Brasil, para então emitir minha opinião fundamentada em fatos e numa orientação filosófica distintamente liberal-democrática.
Reiterando, uma vez mais, minhas posições, já expostas desde o início do presente século, considero a política externa partidária do PT prejudiciais à credibilidade da diplomacia brasileira, tradicionalmente marcada por um processo decisório posto ao serviço exclusivo dos interesses nacionais, independente de considerações ideológicas como as que contaminam hoje certas teses vinculadas ao universo político do lulopetismo diplomático. Mas, quero deixar muito claro que vou continuar me opondo a quaisquer deformações tendenciosas que marcam as posturas diplomáticas, e outras, da extrema-direita estúpida que aparentemente domina o espectro político-partidário brasileiro na atualidade, chegando inclusive a “capturar” alguns supostos liberais nessa oposição sectária ao lulopetismo.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 4913, 1 maio 2025, 3 p.