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quinta-feira, 18 de setembro de 2025

O que esperar da política externa nas Eleições de 2026? - Danilo Sorato Le Monde Diplomatique Brasil

BRASIL

O que esperar da política externa nas Eleições de 2026?

A disputa em 2026 colocará a frente dois tipos de projeto para as relações exteriores do país: um autônomo e outro dependente dos EUA

https://diplomatique.org.br/o-que-esperar-da-politica-externa-nas-eleicoes-de-2026/

 Desde a constituição de 1988, a política externa brasileira tem se comportado na busca do desenvolvimento aproveitando os fluxos da globalização [1]. Essa premissa se alinha ao imperativo categórico de tomar posições multilaterais em diversos organismos internacionais, tais como a ONU, OMC, etc. Em paralelo, houve uma definição da participação estratégica do país em torno da sua região mais próxima, a América do Sul. Esse objetivo se traduziu na integração econômica pela via do Mercosul e na integração político-militar na Unasul.  

No que toca a relação com os EUA, houve um intercâmbio de posições a depender do presidente de turno. Em alguns momentos, optou-se por uma parceria alinhada e dependente dos interesses americanos; em outros, buscou esforços para construir uma posição autônoma e independente dos interesses estadunidenses.  

Apesar de ainda não haver a definição de todos os nomes que tencionam o cargo de presidente da república, há indícios que nos levam a projetar possíveis projetos de política externa dos candidatos. Dentre os nomes indicados para o pleito eleitoral estão, Lula da Silva (PT), Tarcísio de Freitas (Republicanos), Ratinho Jr. (PSD), Zema (Novo), Caiado (União Brasil). A pergunta central é o que esperar dos candidatos a presidente em relação a política externa nas Eleições de 2026?   

política externa
21.11.2023 – Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante Cúpula Virtual Extraordinária do BRICS.
Palácio da Alvorada. Brasília – DF
Foto: Ricardo Stuckert / PR

Lula: da volta do protagonismo mundial a confirmação de país soberano 

Recentemente, Lula da Silva deixou claro que será candidato à reeleição em 2026, salvo se sua saúde não deixar. Isso aponta um cenário esperado e estável no que se refere a política externa. Com um projeto de autonomia frente aos EUA, o petista vai pretender confirmar que seu projeto de política externa 4.0 é baseado na afirmação da soberania brasileira e na autodeterminação dos povos.  

Em 2022, Lula prometeu recolocar o Brasil no cenário mundial. E bem, após quase 3 anos, é notável que o país retomou protagonismo internacional. Seja exercendo o papel de receptor de grandes eventos, tais como, G-20, BRICS+ e COP-30; seja no choque direto com a administração Donald Trump em relação ao tarifaço.  

A mídia internacional deixou de afirmar que o Brasil era um “pária internacional” para colocar destaque as ações que o país vem apresentando nas grandes agendas globais, bem como na tensão exercida com os EUA. Essa posição deverá ser reafirmada no projeto político para 2026. E os demais candidatos? Quais são as suas propostas de política externa? 

De Tarcísio a Caiado: EUA mais, EUA menos 

Ainda que não haja planos de governo dos candidatos mais à direita, a partir da análise dos discursos recentes é possível projetar quais serão as prioridades em seus projetos de relações internacionais do país. 

O candidato Tarcísio de Freitas (Republicanos) tem se expressado no sentido de assumir a herança de Jair Bolsonaro. Nesse sentido, além de assumir uma postura de aproximação com os EUA, ele vem criticando o governo que supostamente abandonou a tradição pragmática de se relacionar com todos os países 

Além disso, já fez gestos e elogios a política fiscal da Argentina, numa clara postura de imitar o recorte ministerial imposto por Javier Milei. Isso indica que Tarcísio deverá buscar uma aproximação com a Argentina, aproveitando-se do distanciamento político de Lula e Milei.   

Outro presidenciável é Ratinho Jr (PSD). Diferente de Tarcísio, ele não tem falado da política externa com tanta frequência. Mas tem deixado alguns indícios para o seu projeto político. Por exemplo, segundo ele a culpa do tarifaço americano é porque Lula falou em desdolarização. A fala em si já aponta que ele não deverá apostar no BRICS+, visto que o pagamento em outras moedas é uma proposta do grupo.  

Além disso, ao acenar com essa fala, ele reproduz a fala de Donald Trump para impor o tarifaço ao Brasil. Logo, deduz-se que Ratinho Jr. deverá alinhar-se aos EUA, inclusive reproduzindo frases do aliado americano.   

O candidato Zema (Novo) é outro presidenciável que tem apostado seus discursos em criticar a aproximação brasileira com os BRICS+. Com um discurso muito similar ao de Bolsonaro em 2018, Zema aponta que o Brasil não deve ficar no grupo porque supostamente se relacionaria com “ditaduras”. Percebe-se que o atual governador de Minas aposta na política de aproximação máxima com os EUA, e imitando Javier Milei vai retirar o Brasil de um bloco que compensa economicamente nossa balança comercial deficitária com os EUA. 

Por fim, Ronaldo Caiado (União Brasil), o único candidato a presidente que já enfrentou Lula anteriormente em 1989, tem apostado em um discurso antigo e recorrente para justificar a aproximação com os EUA em seu projeto político para 2026. Ele tem focado em utilizar a crítica da suposta política externa ideológica do PT, algo utilizado por diversos presidenciáveis ao longo da Nova República, de FHC a Bolsonaro.   

 

Muito discurso, pouca agenda de política externa 

Recentemente, Lula da Silva tem feito comparações de sua trajetória política com Getúlio Vargas. Há paralelos e há diferenças. Mas o que se percebe é que de todos os candidatos para a eleição de 2026, o petista é o mais experiente no quesito política externa assim como o “pai dos pobres”. Ao analisar os discursos da oposição, percebe-se um alinhamento em torno da figura dos EUA. Mas não há claridade nos diversos temas que compõe a agenda externa brasileira. 

Essa demonstração de fragilidade na agenda externa, vai na direção contrária ao que Lula já conhece e fez na política externa. Desde parcerias multilaterais a bilaterais, passando pela discussão de agendas de governança global, acordos de paz, meio ambiente, inovação, dentre outros. O próprio BRICS+ é uma criação da política externa 2.0 do petista em 2009, e nasceu da vontade de criar uma alternativa econômica aos EUA em nossa balança comercial.  

Se Getúlio foi visto como um exímio articulador das relações internacionais brasileiras no período entre 1930-1945, ao fazer um equilíbrio entre os EUA (potência econômica) e a Alemanha (potência ascendente), Lula busca esse mesmo equilíbrio entre EUA (potência) e a China (potência ascendente) após a crise de 2008.   

 

Danilo Sorato é professor de História e Relações Internacionais. Doutor em Estudos Estratégicos pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Pesquisador do Laboratório de Política Externa Brasileira (LEPEB/UFF) e Pesquisador do Centro de Estudos Estratégicos e do Planejamento Espacial Marinho (CEDEPEM/UFF/UFPel).  Escreveu diversos artigos acadêmicos e jornalísticos sobre as relações internacionais do Brasil, em especial os governos Temer, Bolsonaro e Lula.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

Quais serão os desafios da política externa brasileira em 2025? - Danilo Sorato (Le Monde Diplomatique)

POLÍTICA INTERNACIONAL
Quais serão os desafios da política externa brasileira em 2025?
O Brasil deve se atentar a três relações políticas: com os Estados Unidos, a Venezuela e a Argentina, devido aos acontecimentos de 2024
Danilo Sorato
Le Monde Diplomatique, 7 de janeiro de 2025

Após um ano cheio de acontecimentos nas relações internacionais do Brasil, a proximidade do ano novo traz algumas reflexões acerca dos possíveis desafios que o país encontrará em suas relações exteriores. Quais serão os momentos de tensão? Quais serão os momentos de distensão?
No que diz respeito aos momentos de tensão, o Brasil deverá prestar atenção a três relações bilaterais: Estados Unidos, Venezuela e Argentina. Possivelmente, as relações políticas com esses três países não serão as mais tranquilas, considerando os sinais do último ano, ainda que as dificuldades se apresentem por motivos distintos.
Como analisado em 2024, o caso da Venezuela já gerou dificuldades em relação ao resultado eleitoral no vizinho e o veto brasileiro à entrada venezuelana no BRICS+. Se voltarmos dois anos atrás, os problemas políticos entre o Brasil e a Venezuela aconteceram em virtude das disputas fronteiriças entre o vizinho e a Guiana. Dada a instabilidade política e econômica do nosso parceiro venezuelano, possivelmente algumas falas entre Lula e Maduro vão gerar mais ruídos para 2025.
E aqui há um ponto de contato entre os problemas com a Venezuela e os outros dois focos de tensão bilateral. A chegada de Donald Trump à presidência dos EUA será um ponto de atrito entre Brasil e Estados Unidos, especialmente quando o assunto for a crise na Venezuela. Nesse jogo de xadrez, Javier Milei, presidente argentino, certamente possui visões mais alinhadas às de Trump, já que suas ações têm sido no sentido de aprofundar a crise política entre os vizinhos.
Caberá ao Brasil adotar uma postura de equilíbrio e pragmatismo em relação à Venezuela, especialmente no que diz respeito aos EUA e à Argentina. Deverá deixar claro que é crítico em relação aos resultados eleitorais de 2024, mas que não apoia pressões econômicas e políticas sobre o país vizinho. A postura brasileira deverá ser a de mediador entre os dois polos de tensão: Nicolás Maduro e a dupla Trump-Milei.
Além dos problemas com a Venezuela, outra questão problemática entre o Brasil e os EUA será a disputa STF-Musk. Pelo protagonismo que o empresário americano assumirá no governo de Trump, espera-se que ele dê uma resposta às ações judiciais impetradas pelo Judiciário brasileiro em relação à rede social X. A política externa brasileira caberá agir com inteligência para não prejudicar outras agendas (políticas, econômicas, tecnológicas) entre Brasil e EUA.
Em relação ao Brasil e à Argentina, já houve algumas dificuldades entre Lula e Milei nos fóruns multilaterais, como o G-20 e o Mercosul. Esses problemas estão relacionados ao caminho que a integração econômica no continente sul-americano deverá seguir. Enquanto o brasileiro é defensor de uma integração econômica, política e social, o argentino é defensor de uma integração estritamente econômica, inclusive com liberdade para a Argentina articular acordos comerciais bilaterais.
Com a chegada do aliado americano, Milei provavelmente deverá aumentar o tom das críticas às políticas brasileiras. Qual será a estratégia brasileira para essa relação? Além de manter uma relação formal entre os estados, Lula poderá compensar esse distanciamento articulando uma trinca de países no Cone Sul com visões de integração econômica semelhantes: Brasil, Uruguai e Chile. Essa é uma maneira de diminuir a influência de Milei na região, ao mesmo tempo em que abre espaço para novas oportunidades com os vizinhos.
Para além dos pontos de tensão, também é importante pensar quais serão os pontos de distensão. De forma similar ao que ocorreu em 2024, o Brasil apostará fortemente nos eventos multilaterais para ganhar mais protagonismo no cenário internacional. O país sediará o encontro do BRICS+ em Brasília e da COP-30 em Belém do Pará.
Nesses espaços multilaterais, o país será protagonista em duas importantes agendas: a ambiental e a das reformas das instituições globais. Por um lado, dará prosseguimento às suas políticas ambientais em busca de novos acordos que possam ser mais eficazes para conter as mudanças climáticas vigentes no mundo. Por outro lado, utilizará sua voz e seu peso para pleitear mudanças nas atuais instituições multilaterais (ONU, OMC), no caminho de equalizar o poder em um mundo multipolar.
Os dois eventos internacionais consolidarão a imagem brasileira perante o mundo. Isto é, um país que voltou a ter credibilidade internacional e que está nos grandes debates da agenda global. Será um momento de o país conseguir mais sucesso do que alcançou com a organização do G-20 no Rio de Janeiro.
Para finalizar, haverá outros pontos de tensão e distensão na política externa brasileira em 2025. Entretanto, os citados no artigo serão pontos destacados que o Brasil precisará dar atenção para que consiga defender seus interesses perante um mundo em constante transformação.

Danilo Sorato é professor de História e Relações Internacionais. Doutorando em Estudos Estratégicos pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Pesquisador do Laboratório de estudos sobre a Política Externa Brasileira (LEPEB/UFF) e Pesquisador do Centro de Estudos Estratégicos e do Planejamento Espacial Marinho (CEDEPEM/UFF/UFPel). Escreveu diversos artigos acadêmicos e jornalísticos sobre as relações internacionais do Brasil, em especial os governos Temer, Bolsonaro e Lula.

https://diplomatique.org.br/quais-serao-os-desafios-da-politica-externa-brasileira-em-2025/ 

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