Abaixo o artigo de Hussein Kalout sobre o incidente e, mais abaixo, um "editorial" falado no Jornal da Band, em termos incisivos contra o atual chanceler, que o Grupo Bandeirantes simplesmente designa de IDIOTA.
Paulo Roberto de Almeida
O 'DELFIM DA POLÍTICA EXTERNA' E A FÁBULA CHINESA
Diante de uma grave crise global e nacional de saúde pública, Eduardo Bolsonaro emplacou uma olímpica crise diplomática com a poderosa China
O Padre José de Anchieta historiou sobre a dimensão da estupidez e da irracionalidade do comportamento do homem perante o óbvio. Convencido de que pau torto não se desentorta, concluiu: “As cores da vida são as que pintamos”.
Diante de uma grave crise global e nacional de saúde pública, Eduardo Bolsonaro, “o delfim da política externa”, emplacou uma olímpica (e desnecessária) crise diplomática com a poderosa China. Usando sua conta no Twitter, atacou a China, responsabilizando Pequim pela crise global do coronavírus, ao agir de maneira análoga ao regime soviético por ocasião do desastre de Chernobyl.
Jogou para a plateia de milicianos digitais, em nome do suposto “debate democrático”, quando o que estava por trás era algo muito diferente: o emprego de teorias conspiratórias para desviar a atenção de sua própria incompetência.
O grande problema é que escolheu o alvo errado. Agora, setores do governo e do empresariado correm atrás do prejuízo, desesperadamente, no desiderato de apagar o incêndio e fazer contenção de danos com esse país que é, simplesmente, o maior parceiro econômico e comercial do Brasil.
Em estado de perplexidade, diplomatas, políticos e empresários questionam a necessidade de deflagrar um entrechoque diplomático direto com um país cujos recursos de poder são infinitamente maiores do que os do Brasil – e tudo isso em meio a uma luta para salvar a vida de brasileiros e resguardar a combalida economia do país.
Diante da saraivada de críticas institucionais e debaixo de um panelaço nacional, a estratégia pode ter buscado desviar o foco da crise para um inimigo externo. Encontrar bodes expiatórios – sobretudo se for estrangeiro e ainda melhor se for vermelho e comunista – encaixa bem na narrativa fabricada da nossa extrema-direita, ajudando a desviar a atenção dos problemas reais e de suas soluções urgentes.
A insistência em dizer que se trata de um vírus chinês, copiando Trump, mal consegue esconder uma visão xenófoba que se associa à tese, corrente entre grupos bolsonaristas, segundo a qual a doença seria uma invenção chinesa para dominar o mundo.
A ignorância da política internacional, a cegueira imposta por sua ideologia lunática e a ausência do menor traço de bom senso e compostura levaram Eduardo Bolsonaro – secundado por seu ajudante de ordens que responde formalmente pelo Itamaraty – a cometer dois erros pueris: 1) não entendeu que o “timing” para engrossar com a China é inadequado; e 2) não percebeu que o que funciona como estratégia nos EUA não necessariamente funciona no Brasil. O tiro saiu pela culatra!
A reação do Embaixador da China, Yang Wanming, ocorreu dez horas após os tuites do Deputado Eduardo Bolsonaro. É inimaginável pensar que essa reação ocorreu sem consultas com Pequim e sem o respaldo de Xi Jinping.
O grau de descontentamento chinês não poderia ser maior, como demonstra a opção de deixar de lado a sua tradicional liturgia diplomática, mandando recados incisivos, frontais e sem camuflagem na linguagem diplomática ao núcleo duro do bolsonarismo. A China sente que o vento já sopra em outra direção.
Não é preciso lembrar de que a China é o principal investidor estrangeiro em infraestrutura e importador majoritário de ampla gama de nossos produtos agrícolas. Cabe lembrar, ainda, que foi a China quem, recentemente, salvou o governo Bolsonaro do maior fiasco no setor energético – o megaleilão do Pré-Sal promovido pela Petrobras no fim do ano passado. E a China é quem está socorrendo a Itália e também fornecendo insumos de saúde para o Brasil, tendo merecido inclusive agradecimento do ministro da Saúde!
O setor empresarial brasileiro e o agronegócio estão em alerta e atônitos com a irresponsabilidade da conduta do deputado. A nossa área de saúde, preocupada em mobilizar a cooperação internacional, em particular da China, está estupefata.
Sem investimento e sem o escoamento da produção para a China a situação econômica do povo brasileiro seria impactada em matéria de ingresso de capitais, empregos e renda, e, tudo isso, em uma hora que precisamos de toda a ajuda possível para combater uma pandemia viral e impedir o declínio total da economia brasileira.
Independentemente dos acontecimentos, a incompetência do comandante-em-chefe da nação já foi precificada. Eximir o governo e a si mesmo pelos resultados dessa tragédia, na tentativa de estancar o derretimento de massa de votos que o levou ao poder, já não é mais uma opção viável. A estratégia de culpar os outros – esquerda, isentões, chineses – não vai colar, como já não colou no teflon das panelas que soaram em protesto.
Em momento de aguda crise e estado de calamidade pública, o que se espera dos políticos e membros de Poderes é que estejam à altura do desafio de liderar o país, o que requer abnegação e espírito público. O momento é crítico, vidas humanas estão em jogo, o bem-estar dos mais vulneráveis está em perigo.
É hora de mostrar maturidade, colocando de lado objetivos pessoais e político-partidários em nome do bem comum. Os indignos da tarefa, insensatos de sempre e notórios ineptos fariam bem em ao menos não atrapalhar. Por enquanto, infelizmente, vão confirmando a tese de Anchieta.
HUSSEIN KALOUT é cientista político, professor de Relações Internacionais e pesquisador da Universidade Harvard. Foi Secretário Especial de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (2017-2018).
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Postura do Grupo Bandeirantes de Comunicação sobre a nota do chanceler a propósito do incidente entre um deputado e a embaixada da China (20/03/2020)
“A provocação desnecessária de um deputado irresponsável, seguida por um chanceler idiotizado, uma espécie de avesso do Barão do Rio Branco, colocou o Brasil em conflito com o seu maior parceiro comercial.
Pura inépcia. O chefe da diplomacia, que teria como missão zelar pelos interesses do país, torna-se assim um obstáculo, talvez o maior, no caminho de nossas relações com a China.
O lamentável chanceler realiza essa proeza de inverter seu papel, numa demonstração clara de que é incapaz de responder pelo cargo que lhe deram. Exigir, como ele exigiu, que o embaixador chinês se retratasse, depois de reagir ao destempero do deputado, é uma atitude descabida, que prova a inconsciência de um diplomata despreparado.
Uma atitude de desprezo pela amizade e respeito por um povo que, neste momento, mostra a sua tenacidade numa luta eficiente contra o Coronavirus, exatamente o contrário do que conseguem enxergar o deputado imaturo e o chanceler inepto.
Por quanto tempo ainda veremos um IDIOTA ocupar a cadeira de Rio Branco, Afonso Arinos e San Tiago Dantas.
Essa é a opinião do Grupo Bandeirantes de Comunicação.” (1:26)
https://m.youtube.com/watch?feature=youtu.be&v=VeNCehaybRE