Cartografia
da esquerda no Brasil
LEANDRO ELIEL*
Este texto tem uma pretensão modesta: apresentar de maneira sintética o
conjunto das organizações de esquerda atuantes, hoje, no Brasil. Certamente
haverá erros de informação e resumos polêmicos, motivo pelo qual pedimos a
ajuda dos leitores para que possamos corrigir os erros e registrar as
divergências na próxima edição desta revista.
Partido dos Trabalhadores
O Partido dos Trabalhadores (www.pt.org.br)
foi fundado em 1980. Quatro grandes setores confluíram na sua criação:
a) sindicalistas do chamado “novo sindicalismo”, especialmente os metalúrgicos,
bancários e petroleiros;
b) militantes de organizações de esquerda atuantes na oposição contra a
ditadura (alguns entraram em caráter individual no PT, outros entraram por
decisão de suas respectivas organizações);
c) lideranças populares formadas pelas pastorais e comunidades da Igreja
Católica, especialmente do setor progressista;
d) parlamentares e lideranças atuantes no Partido do Movimento Democrático
Brasileiro, o PMDB (durante muitos anos, o único partido de oposição legalizado
no país).
Desde a sua fundação, o PT abrigou diferentes correntes de opinião,
geralmente denominadas de tendências. A primeira tentativa de disciplinar a
existência de tendências no interior do Partido ocorreu no 5º Encontro Nacional
do PT, em 1987. A segunda tentativa ocorreu no Primeiro Congresso do PT, em
1991.
Uma compreensão do papel jogado pelas tendências no interior do PT deve
levar em conta pelo menos duas variáveis: as posições políticas defendidas por
estes grupos e a atitude geral que adotavam frente ao Partido.
De 1983 a 1993, por exemplo, existia uma tendência hegemônica e
majoritária em âmbito nacional: a Articulação, cujas posições se refletiam nas
resoluções partidárias.
Competindo com a Articulação, havia algumas lideranças e agrupamentos
informais com posições mais moderadas (exemplo disso são os parlamentares que
defenderam votar em Tancredo Neves no Colégio Eleitoral). E havia, também,
lideranças e agrupamentos com posições mais radicalizadas.
A maioria destes agrupamentos tivera origem anterior ou exterior ao PT.
É o caso da Democracia Socialista (Organização Revolucionária
Marxista/Democracia Socialista), do Partido Revolucionário Comunista (PRC), do
Partido Comunista Brasileiro Revolucionário, da Organização Socialista
Internacionalista (O Trabalho), da Ala Vermelha, da Convergência Socialista,
entre outros.
Entre 1991 e 1995, em decorrência dos acontecimentos e debates
descritos, ocorrem profundas alterações na vida interna do PT. Em primeiro
lugar, todas as tendências passam a se considerar como “tendências internas” de
um “partido estratégico”. Em segundo lugar, a Convergência Socialista e outros
grupos saem do PT, criando o PSTU. Em terceiro lugar, a tendência majoritária
passa por um processo de cisão, dando origem à Articulação Unidade na Luta e à
Articulação de Esquerda. Em quarto lugar, lideranças e tendências situadas à
esquerda e à direita da Articulação, invertem seus papéis (é o caso de Plínio
de Arruda Sampaio, líder moderado nos anos 1980 e líder radical nos anos 1990;
é o caso, também, de José Genoíno, que faz o percurso inverso).
De 1995 até o final de 2003, o quadro interno se estabiliza da seguinte
forma. Um grupo majoritário denominado, talvez para que não restasse dúvida, de
“Campo majoritário”, composto basicamente pela Articulação Unidade na Luta e
pela Democracia Radical (esta por sua vez, oriunda da aliança do ex-PRC com
outros setores). Uma esquerda, com quatro expressões mais conhecidas, a saber:
a Democracia Socialista, a Articulação de Esquerda, a Força Socialista e O
Trabalho. E um centro, cuja expressão principal viria a formar o chamado
“Movimento PT”, agrupamento de lideranças parlamentares e grupos regionais.
No final de 2003, a expulsão de Heloísa Helena e de três deputados
federais é o marco inicial de um novo processo de alteração no quadro interno.
Em primeiro lugar, o Movimento de Esquerda Socialista e a Corrente Socialista
dos Trabalhadores (duas tendências oriundas da antiga Convergência Socialista),
acompanhadas de um número significativo de lideranças de esquerda
independentes, saem do PT ainda em dezembro de 2003 e criam o PSOL. Outro grupo
expressivo de petistas filia-se ao PSOL entre os meses de setembro e outubro de
2005. É o caso da Ação Popular Socialista (tendência resultante da fusão da
antiga Força Socialista com outros grupos), de Plínio de Arruda Sampaio, de
vários deputados federais e de certo número de militantes oriundos de várias
tendências da esquerda petista ou independentes. Em segundo lugar, lideranças
até então vinculadas ao “Campo majoritário” ou independentes de expressão
desligam-se do PT, indo para outros partidos ou ficando sem filiação partidária
(é o caso, por exemplo, de Hélio Bicudo, Cristovam Buarque e de Chico Whitaker).
Em terceiro lugar, a crise de 2005 e o processo de eleição das novas direções
partidárias altera a força do antigo “Campo majoritário”, que deixa de ter a
maioria absoluta no Diretório Nacional do PT.
De 2005 em diante a esquerda partidária passa por um processo de divisão
e redução de sua influência, que se expressa nos resultados das eleições
internas. Em 2007 a correlação de forças se mantém quase inalterada, com a
diferença de que dois representantes moderados disputam o segundo turno, Ricardo
Berzoini (CNB) contra Jilmar Tatto (PTLM), com a vitória de Berzoini. Em 2009,
a CNB compõe uma chapa com o PTLM e NR elegendo a maioria absoluta dos membros
no Diretório Nacional e, no primeiro turno, conquistam também a presidência do
PT com José Eduardo Dutra, que logo depois, por problemas de saúde, se afasta
da presidência. O Diretório Nacional elege Rui Falcão para ocupar a
presidência. Em 2013, num processo eleitoral bastante criticado, setores
partidários que estavam no centro ou na esquerda petista aderem a candidatura
do grupo majoritário para a presidência do PT.
As principais
tendências do PT
Construindo um novo Brasil(www.contruindoumnovobrasil.com.br), também conhecida
pela sigla CNB: oriunda da Articulação dos 113, passando pela Articulação
Unidade na Luta e pelo Campo Majoritário. Reivindica o programa democrático e
popular, concentrando esforço cada vez maior na luta institucional como caminho
para as mudanças. No PED 2013 apoiou Rui Falcão, da tendência Novo Rumo, à
presidência nacional do PT.
Novo Rumo (NR), originalmente uma cisão paulista da
Articulação de Esquerda. Possui uma orientação política similar à da CNB,
privilegiando uma estratégia institucional.
Partido de Luta e de Massas (PTLM, www.ptlmnacional.org.br): originário da Articulação
Unidade da Luta. Também possui uma trajetória política similar à da CNB,
privilegiando uma estratégia institucional. No PED 2013 apoiou Falcão à
presidência nacional do PT.
Movimento PT (MPT, www.movimentopt.com.br):
reúne oriundos de diferentes setores do Partido. Busca situar-se no centro,
fazendo críticas ao campo majoritário e a esquerda petista. No PED 2013 apoiou
Rui Falcão à presidência nacional do PT.
Esquerda Popular e Socialista (EPS, www.esquerdapopularsocialista.com.br): grupo
originário da fusão entre a Tendência Marxista e um grupo que em 2011 saiu da
AE. Define-se como marxista, defende a articulação das lutas sociais e
institucionais na construção de uma sociedade socialista. No PED 2013 apoiou
Rui Falcão à presidência nacional do PT e participou da chapa do Movimento PT.
Brasil Socialista (BS): tendência oriunda do
antigo PCBR, compondo durante quase toda a história do PT o campo de esquerda.
Foi a principal corrente a impulsionar a fundação do Movimento de Libertação
dos Sem Terra (MLST). No PED 2013 apoiou Rui Falcão à presidência nacional do
PT.
Mensagem ao Partido (www.mensagemaopartido.com.br): campo integrado por
diversas personalidades, grupos regionais e por uma tendência nacional, a
Democracia Socialista (DS). Entre 2003 e 2005, ao mesmo tempo que uma parte de
seus integrantes funda o PSOL, o grupo majoritário na DS rompe seus vínculos
com o Secretariado Unificado da Quarta Internacional e reorienta-se
internamente no PT, passando a defender uma estratégia conhecida como
“revolução democrática”. A Mensagem ao Partido lançou candidatura própria no PED
2007, 2009 e 2013. Antes disso, a DS já havia lançado candidatura própria no
PED 2001 e 2005.
Militância Socialista (MS, www.militanciasocialista.org): fusão de diversas
tendências regionais. Defende a articulação da luta social com a luta
institucional, na defesa de reformas estruturais mais amplas. Compõe a esquerda
petista. No PED 2009 apoiou a candidatura da Articulação de Esquerda. No PED
2013 lançou candidatura própria.
Articulação de Esquerda (AE, www.pagina13.org.br):
cisão da Articulação dos 113, surgida em 1993 com o lançamento do manifesto
“Hora da Verdade”. A AE defende uma estratégia e um programa
democrático-popular e socialista. Lançou chapa e candidatura própria em todos
os PED, desde 2001 até 2013. Edita o jornal Página 13.
O Trabalho (OT, www.otrabalho.org.br):
oriunda da Organização Socialista Internacionalista, a tendência trotskista O
Trabalho passou por uma importante cisão nos anos 1980, quando parte importante
de sua militância adere a Articulação dos 113. Outra cisão ocorreu por volta de
2007, dando origem a um agrupamento denominado Esquerda Marxista. Reivindica a
Quarta Internacional. Edita o jornal O Trabalho. Lançou chapa e candidatura
própria em todos os PED, desde 2001.
Esquerda Marxista (EM, www.marxismo.org.br):
cisão de O Trabalho. Filiada à Corrente Marxista Internacional, luta pela
reconstrução da Quarta Internacional. Sua estratégia política é orientada pelo
Programa de Transição de Trotski. Edita o jornal Esquerda Marxista. Desde que
surgiu, participou com chapa e candidatura própria no PED nacional.
Partido
Democrático Trabalhista (PDT)
O PDT, criado em 1979, é fruto da reorganização do trabalhismo histórico
que atuava no PTB até extinção dos partidos políticos pela ditadura militar.
Impedido pelos militares de controlar a legenda do PTB, Leonel Brizola, junto
com outras lideranças, funda o PDT. Defende que a propriedade privada deve ser
preservada e submetida ao bem estar social e a um Estado normativo. Em 1989,
nas eleições presidenciais, Leonel Brizola quase foi para o segundo turno,
momento em que apoiou a candidatura de Lula contra a de Collor. Em 1994,
candidata-se novamente e obtém uma votação muito baixa. Em 1998, é candidato a
vice-presidente na chapa de Lula, quando são derrotados por Fernando Henrique
Cardoso. Nas eleições de 2002, o PDT apoia a candidatura de Ciro Gomes (PPS). Em
2006, lança Cristovam Buarque. Em 2010 apoia a candidatura de Dilma Rousseff
(PT). O PDT edita o jornal O Trabalhador.
Partido Socialista
Brasileiro (PSB)
O PSB, fundado em 1947 pela Esquerda Democrática, reorganiza-se em 1985,
mantendo o mesmo programa e estatuto de origem. Defende um programa socialista
gradual e legal, que preserve a propriedade privada. Nas eleições presidenciais
de 1989, 1994 e 1998, o PSB apoiou a candidatura de Lula. Em 2002, lançou
candidatura própria, a de Antony Garotinho, apoiando Lula no segundo turno. No
primeiro turno de 2006 não apoiou formalmente nenhuma candidatura, apoiando
Lula no segundo turno. Em 2010 apoiou a candidaturas Dilma Rousseff. Em 2013,
sem conseguir organizar a própria legenda, Marina Silva filia-se ao PSB e soma
esforços com os socialistas para viabilizar a oposição ao Governo Dilma.
Em 2003, o PT expulsa a deputada federal Luciana Genro e os deputados
federais Babá e João Fontes, assim como a senadora Heloisa Helena. O motivo
imediato da expulsão foi a reforma da previdência. Afirmando que o PT havia
abandonado seu projeto estratégico socialista, esses parlamentares e setores da
esquerda petista (como o Movimento de Esquerda Socialista e a Corrente
Socialista dos Trabalhadores) iniciam a construção de um novo partido,
regularizado em 2005, com o nome de PSOL. Naquele mesmo ano ganham o reforço de
outros setores petistas, entre eles a tendência APS e lideranças como Plínio de
Arruda Sampaio, Chico Alencar e Marcelo Freixo, entre outras.
Em 2006, o PSOL lança a candidatura de Heloisa Helena para a Presidência
da República, numa coligação que contava com o PSTU e o PCB. Tendo como vice
César Benjamin, até então um dos teóricos da chamada Consulta Popular, Heloisa
Helena obtém 6,85% dos votos, ficando em terceiro lugar na corrida
presidencial. Nas eleições de 2010, Heloisa Helena não aceita a candidatura a
Presidência, preferindo a candidatura ao Senado pelo estado de Alagoas. Apesar
da eleição dada como certa, não obteve sucesso, ficando em terceiro lugar. Em
seguida, a ex-senadora renuncia a seu mandato na presidência do PSOL. Nesse
ano, Plínio de Arruda Sampaio é o candidato do PSOL à presidência da República,
sem conseguir fazer aliança com PSTU e PCB, que lançam suas próprias
candidaturas presidenciais. Plínio recebe apenas 0,87% dos votos, ficando em
quarto lugar. Em 2014, depois de um Congresso partidário marcado por denuncias
de fraudes e pela rejeição de prévias internas, o senador Randolfe Rodrigues é
escolhido como candidato do PSOL à Presidência da República. Em seguida, a
Insurgência, tendência da esquerda psolista, lança a candidatura de Renato
Roseno e reivindicou a realização de uma Conferência Eleitoral. Edita o jornal
Página 50.
Atualmente, dois campos disputam o controle do partido: um setor
moderado e majoritário (Unidade Socialista), capitaneado atualmente pela APS e
por diversos grupos regionais; e um setor radicalizado (Bloco de Esquerda),
composto por Insurgência, MES, APS-Corrente Comunista, CST, LSR, Plínio de
Arruda Sampaio, Carlos Gianazzi, entre outras organizações e lideranças. Entre
eles o Coletivo Rosa Zumbi, que lançou tese própria (PSOL Necessário) no último
Congresso, originando-se de um racha da APS.
Recentemente, o MES, segunda maior corrente interna, indicou Luciana
Genro candidata a vice na chapa à Presidência da República, consolidando uma
nova maioria na agremiação.
A relativa hegemonia do campo moderado foi consolidada após a renúncia
de Heloisa Helena, que foi presidente do partido entre 2004 e 2010, e que teve
sua filiação ao PSOL questionada pela colaboração com a construção da Rede
Sustentabilidade de Marina Silva. Afrânio Bopré (APS), naquele momento, assumiu
a presidência do PSOL, ficando até 2011, quando Ivan Valente (APS) foi eleito
para o cargo num mandato de dois anos. Em 2013, o setor moderado, a Unidade
Socialista, obteve 52% dos votos dos/as delegados/as, indicando Luiz Araújo
(APS) como presidente do PSOL, enquanto o Bloco de Esquerda conquistou 45% e o
PSOL Necessário 3% dos votos. Na atual executiva nacional o setor moderado
possui dez representantes, enquanto o Bloco de Esquerda possui nove, configurando
um acirrado processo de disputa interna.
As principais tendências do PSOL
Ação Popular Socialista / Corrente Comunista (APS-CC,http://pt.wikipedia.org/wiki/A%C3%A7%C3%A3o_Popular_Socialista):
oriunda do Movimento Comunista Revolucionário e da Força Socialista, antigas
tendências internas do PT, a APS adere ao PSOL em 2005, tornando-se a principal
corrente partidária, mesmo com o racha de 2012/2013. No último congresso elegeu
o presidente do Partido, compondo o campo moderado.
Movimento Terra, Trabalho e Liberdade (MTL):
organização anterior à fundação do PSOL, que inicialmente reunia organizações
atuantes no campo (MLST de Luta, MT e MLS) e que atraiu militantes de setores
urbanos, principalmente do serviço público, tornando-se uma tendência do PSOL.
Em 2012, com críticas “ao processo de moderação”, importantes lideranças do RJ
e ES rompem com a tendência. Após as denuncias de retenção de verbas de
assessores contra uma parlamentar do PSOL-RJ, o MTL dissolveu-se, tendo parte
de seus integrantes aderido a Rede Sustentabilidade.
Movimento de Unidade Socialista-MUS / Fortalecer o
PSOL (www.fortaleceropsol.com.br):
oriunda da antiga Convergência Socialista, da CST e do MES, entre outros
militantes que atuavam no PT. Também conhecidos como Fortalecer o PSOL, título
da tese apresentada no 3º Congresso. No último congresso, junto com a APS e o
MTL, compôs o campo moderado.
Somos
PSOL : tendência com pouca expressão e que no último
congresso compôs o campo moderado. Defende uma visão “de que estamos vivendo um
momento histórico de transição do capitalismo da Era Industrial, a Era da
Informação, que estaria em pleno desenvolvimento, a internet e sua arquitetura
interna — em sua versão de uso 2.0 –, seria uma nova geografia, digitalizada,
que permitiria aos seres humanos uma experiência sensorial intersubjetiva única
e revolucionária na história da humanidade”.
Insurgência (www.insurgência.org): surge em 2013, fruto da fusão
entre o Coletivo Socialismo e Liberdade (CSOL), racha do PSTU; o ENLACE e o
Coletivo Luta Vermelha, filiado ao Secretariado Unificado da Quarta
Internacional. Publica a revista À Esquerda, critica o processo de moderação do
PSOL, a institucionalização e as alianças promovidas nas últimas eleições.
Movimento Esquerda Socialista (MES, www.lucianagenro.com.br/mes/): oriunda da antiga
Convergência Socialista, o MES entra no PSOL e torna-se a segunda maior
tendência interna, atuando inicialmente próximo à Senadora Heloisa Helena e ao
MTL. Defendia posições mais moderadas, inclusive a aliança com o PV, que
ocorreu nas eleições de 2008, em Porto Alegre. Desde o II Congresso disputa com
a APS o controle do partido. Compõe o Bloco de Esquerda. Luciana Genro, do MES,
foi confirmada como candidata a vice-presidência de Randolfe Rodrigues.
Corrente Socialista dos Trabalhadores (CST, www.cstpsol.org):
oriunda da antiga Convergência Socialista, atuava no PT. É filiada à Unidade
Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional (UIT-QI). Possui o
periódico mensal Combate Socialista. A CST, que compõe o Bloco de Esquerda,
acusa a Unidade Socialista de igualar o PSOL aos partidos do sistema.
Coletivo Resistência Socialista (CRS, http://www.resistenciapsol.xpg.com.br/): compõe o Bloco
de Esquerda, apresenta críticas a condução da maioria e, alegando fraude, não
aceita os resultados do último Congresso e a candidatura de Randolfe Rodrigues
à Presidência, exigindo um novo processo.
Ação Popular Socialista / Nova Era (APS/NE, http://psol50sp.org.br/files/2013/07/Tese-da-APS-Congresso-Estadual-Psol.pdf):
entre 2012 e 2013 a corrente majoritária APS sofre uma cisão. Surgem daí três
agrupamentos: a APS/CC, o coletivo Rosa Zumbi e a APS/Nova Era ou APS de
Esquerda, que reuniu, majoritariamente, setores sindicais de juventude críticos
às alianças realizadas pela APS em Macapá e Belém. No último congresso compôs o
Bloco de Esquerda.
Coletivo Primeiro de Maio (http://primeirodemaio.org/):
tendência oriunda do Coletivo Rosa do Povo, é crítica do setor majoritário e da
ampliação de alianças promovidas pelo PSOL no último período. No último
congresso compôs o Bloco de Esquerda.
Coletivo Rosa Zumbi (http://coletivorosazumbi.wordpress.com/): tendência
oriunda do racha da APS, é crítica tanto do setor moderado, por sua excessiva
institucionalização, quanto dos setores à esquerda, pelo seu sectarismo.
Defende a validade e atualização do Programa Democrático e Popular. No último
congresso lançaram chapa própria com apoio do Deputado Federal Chico Alencar.
Liberdade, Socialismo e Revolução (LSR, http://www.lsr-cit.org/):
fusão das tendências Socialismo Revolucionário (SR) e Coletivo Liberdade
Socialista (CSL), filiada ao Comitê por uma Internacional do Trabalhadores
(CIT), trotskista, publica o jornal Ofensiva Socialista. Crítica dos rumos
adotados pela maioria, assinou junto com o Grupo de Ação Socialista (GAS) e o
Reage Socialista uma tese no último congresso, compondo também o Bloco de
Esquerda.
O PSTU originou-se da Convergência Socialista, tendência petista expulsa
em 1991. No interior do PT, não consideravam o partido como estratégico pra a
revolução socialista. Entre 1991 e 1994, a partir da junção com outros setores,
fundam o PSTU. Posteriormente, romperam com a CUT e construíram a CONLUTAS, que
originou a Central Sindical e Popular (CSP) – Conlutas. Trotskista, está
vinculado à Liga Internacional dos Trabalhados – Quarta Internacional (LIT-QI).
O PSTU não prioriza o processo eleitoral, alegando que é um jogo de
cartas marcadas, sendo apenas um momento de propaganda do programa. As eleições
de parlamentares do partido servem como “ponto de apoio para as lutas sociais”.
Participou das eleições de 1994, apoiando criticamente Lula. Em 1998, 2002 e
2010 lançou candidatura própria, a do metalúrgico José Maria. Em 2006, em
aliança com PSOL e PCB, apoiou a candidatura de Heloisa Helena (PSOL).
Defende uma estratégia socialista, revolucionária, liderada pelo
operariado industrial, aliado aos setores explorados do campo e da cidade, sem
alianças com outras classes ou setores de classes, que impulsionaria a
revolução internacional. Defende a construção de um partido revolucionário,
coeso e sem tendências. As divergências são expressas apenas durante os
processos congressuais. Publica o jornal Opinião Socialista.
Fundado em 1922, o Partido Comunista do Brasil muda de nome em 1962,
passando a chamar-se Partido Comunista Brasileiro. O grupo contrário a esta
mudança de nome dá origem, também em 1962, ao PCdoB. Após o Golpe Militar, o
PCB passa por diversas cisões, originando agrupamentos que optaram pela luta
armada contra a ditadura. No início da década de 1980, Luis Carlos Prestes, até
então a principal liderança comunista do Brasil, também rompe com o PCB. Lança
Roberto Freire candidato à Presidência da República em 1989. Em 1992, um
congresso partidário aprova a extinção do PCB e a criação do Partido Popular
Socialista (PPS). A minoria do congresso não aceita a decisão e consegue
recuperar na justiça o direito a utilizar a sigla PCB. Nas eleições
presidenciais de 1994 a 2002, o Partido Comunista Brasileiro apoia o candidato
do PT. Nas eleições de 2006, em coligação com o PSOL e PSTU, apoia a candidata
presidencial Heloisa Helena (PSOL). Em 2010, lança candidatura própria, a de
Ivan Pinheiro. Para 2014, a pré-candidatura de Mauro Iasi foi lançada.
O PCB atual faz uma autocrítica da visão etapista da revolução
brasileira, defendendo que as transformações necessárias seriam de caráter
socialista. Essa análise inclui a crítica do programa e da estratégia
democrático-popular proposta pelo PT. O PCB defende a construção do Poder
Popular, que não é apenas um fórum de organizações de esquerda, mas um processo
de articulação tática e estratégica de construção de espaços contra hegemônicos
na luta cotidiana que evolua para a construção da dualidade de poderes,
construindo assim o embrião do Estado proletário.
O PCB não permite a existência de correntes internas, defendendo um
partido formado por militantes e quadros. Sua principal publicação é o jornal
Imprensa Popular.
O PCdoB, organizado em 1962, reivindica a tradição histórica do Partido
Comunista fundado em 1922. Durante a ditadura militar, o PCdoB organizou a
guerrilha do Araguaia. Desde 1962 até os anos 1990, o PCdoB defende uma
estratégia etapista. Possui forte presença na UNE e na Ubes, através da União
da Juventude Socialista (UJS); uma importante presença no movimento sindical,
através da CTB; e uma representação institucional em todos os níveis. O PCdoB
não permite tendências internas. Mantém o site Vermelho e publica o jornal A
Classe Operária. Desde 1989, apoiou todas as candidaturas presidenciais do PT,
participando dos governos Lula e Dilma.
Partido Pátria
Livre (PPL)
Oriundo do Movimento Revolucionário 8 de Outubro, que não se legalizou
como partido e atuava no interior do PMDB. Em 2008 o MR-8 decidiu sair do PMDB
e criar um partido. O PPL orienta-se, segundo seu estatuto, pela teoria do
socialismo científico, defendendo a constituição de uma ampla frente nacional,
democrática e popular para completar a independência do Brasil.
Partido da Causa
Operária (PCO)
O PCO originou-se de uma cisão da OSI, organização trotskista existente
anteriormente ao PT. Ingressa no PT como tendência interna, desde 1980.
Conhecida como Causa Operária, denominação do seu jornal, publicado até hoje,
durante o processo eleitoral de 1989 questiona as alianças do PT com o PSB,
iniciando um processo de rompimento com o partido. A partir de 1991, o PCO
inicia seu processo de legalização, obtendo o registro provisório em 1995. Em
1997, consegue o registro definitivo. Nas eleições de 1994, apoia criticamente
a candidatura de Lula. Em 2002, 2006 (candidatura indeferida pelo TSE) e 2010
lançou candidato à Presidência, o jornalista Rui Costa Pimenta.
Defende uma estratégia socialista revolucionária, baseada na aliança
operário-camponesa, liderada pela classe operária. Defende a construção de um
partido revolucionário para cumprir esse papel, sem tendências internas.
Partido Comunista
Revolucionário (PCR)
O PCR foi formado inicialmente por militantes que romperam com o PCdoB
em 1966. Organizado principalmente no nordeste brasileiro, quase desaparece
durante a ditadura, fundindo-se com o MR-8 em 1981. Em 1995, por conta das
divergências com a linha nacionalista do MR-8, o núcleo original do PCR rompe
com a organização e refunda o partido. O PCR edita o jornal A Verdade e defende
a reconstrução de uma Internacional Comunista, participando da Conferência
Internacional de Partidos e Organizações Marxistas-Leninistas (CIPOML).
A LBI é uma cisão à esquerda da Causa Operária, motivada pela avalição
de que esta organização adaptou-se à burocracia lulista. Defende a reconstrução
trotskista da Quarta Internacional. É contrária a formação de Frentes de
Esquerda, sendo que em 1998 defendeu o voto nulo nas eleições presidenciais.
Defende a greve geral revolucionária para a derrubada imediata do Estado. Edita
o jornal Luta Operária e a revista Marxismo Revolucionário.
A LER-QI foi fundada em 1999, com duras críticas ao PSTU e ao morenismo,
criticadas por serem “variantes deformadoras do trotskismo”. Defende o programa
de transição de Trotski e um programa revolucionário de tomada do poder,
desferindo duras criticas às possibilidades institucionais. Edita o jornal
Palavra Operária.
O POR, fundado em 1989, trotskista, é uma cisão à esquerda da Causa
Operária, motivada pela avaliação de que esta teria abandonado a perspectiva da
ditadura do proletariado. Em 1990 defende o voto nulo nas eleições. Define-se
como um embrião do partido revolucionário. Edita o jornal Massas.
O MNN, trotskista, foi criado em 2005 com críticas ao PT por sua
conciliação de classes e com o capital internacional. Critica o PT e a esquerda
petista por duas questões principais: a ilusão que nutre sobre as
possibilidades de administração do Estado e ao rebaixamento da luta sindical.
Defende um programa transitório para o socialismo expresso no Programa Único,
na construção da dualidade de poderes como preparação da construção do
socialismo.
Fundada em 1997, em torno de um programa nacionalista de esquerda (o
Projeto Popular para o Brasil). A Consulta Popular é crítica do que denomina de
esquerda eleitoral.
_________________________
* LEANDRO ELIEL é
historiador, professor da Faculdade Fleming-Uniesp. Publicado originalmente
na Revista Esquerda Petista, n. 1, março de 2014.
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