O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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quinta-feira, 19 de março de 2020

Rodrigo Constantino também aproveita o Coronavirus para continuar a batalha ideológica

A ditadura chinesa do Partido Comunista é apenas a forma moderna do velho "despotismo oriental", a tirania longeva que se estendeu ao longo de séculos, com poucos períodos de abertura política ou tolerância com a dissidência (que no entanto existia e existe, mesmo nos momentos mais despóticos).
O despotismo não impediu o desempenho brilhante da China nos séculos passados, graças tanto à energia de seu povo, quanto à organização "weberiana" dos mandarins do Estado, e também fases tenebrosas de sua história – guerras civis, rebeliões, invasões estrangeiras com humilhações e genocídios, como no caso do militarismo do Japão –, o que se agravou ainda sob o maoísmo demencial dos anos 1950 aos 70, com milhões de mortos em cada um desses episódios e provações. 
Epidemias existem em diferentes países e situações, que são ou não controláveis pelas autoridades sanitárias.
A ditadura chinesa errou, sim ao início do novo coronavirus, mas depois se recompôs e organizou um sistema eficaz de controle e combate, o que fez com a epidemia revertesse em dois ou três meses. A RPC oferece agora know-how, equipamentos e pessoal como colaboração a países afetados, entre eles Itália e Brasil.
Acredito que se deve separar as querelas ideológicas das questões técnicas vinculadas ao combate à pandemia, que sendo uma enfermidade global, deve ser combatida globalmente, na cooperação entre os estados nacionais, sob a coordenação da OMS e organismos regionais dessa esfera.
O exclusivismo nacionalista, assim como o dedo acusatório de natureza política não vão resolver os problemas dos países afetados.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 19/03/2020

Onde os valores fazem parte da notícia

 

    A ditadura comunista deveria indenizar o mundo pelo vírus chinês


Por Rodrigo Constantino
Gazeta do Povo, 19/03/2020

O presidente Donald Trump passou a só se referir ao Covid-19 como "vírus chinês", e tem sido atacado por jornalistas por isso. Mas como ele nunca abaixa a cabeça para essa turma, chega a ser constrangedor ver a humilhação que sofrem quando tentam emparedar o presidente como "racista", e ele simplesmente explica que o vírus veio da China mesmo, e que o regime, ao esconder informações, ajudou a criar a pandemia."

Como explica Ben Shapiro, não há nada de controverso em chamar de vírus chinês, como chamamos, aliás, a gripe que dizimou milhares no passado de gripe espanhola. Diz Shapiro:

 
"O fato de a imprensa de alguma forma ter encontrado tempo para tratar de um assunto menor — a descrição de um vírus chinês como tal — em meio a um pânico mundial sem precedentes demonstra o profundo descompromisso daqueles que reclamam.

É inacreditável que o termo seja controverso. O vírus realmente teve origem na China. Mais do que isso, a ideia de que o governo chinês deveria ser protegido das consequências de suas medidas tirânicas e seu governo patológico é de uma perversidade sem igual."

 
O debate foi aquecido no Brasil pelo episódio envolvendo Eduardo Bolsonaro, que publicou mensagem na linha do que disse Trump. Eduardo pode falar dez vezes antes de pensar, pode ser pouco diplomata, irresponsável até, tudo isso de que tem sido acusado, mas ele é o deputado federal mais votado da nossa democracia e não mentiu; já a China é uma ditadura que prende jornalistas e calou médicos que alertavam para o risco da gripe.

Eduardo, em que pese ser filho do presidente e por isso gerar tensão diplomática maior, não foi o único deputado federal a se manifestar nesse sentido. Marcel van Hattem, do Partido Novo, também comentou, ao compartilhar a ótima sequência feita por Rodrigo da Silva sobre o caso.
 

Kim Kataguiri, do DEM de Rodrigo Maia e ligado ao MBL, também publicou responsabilizando o regime chinês.

Já Rodrigo Maia, supostamente tentando apagar incêndio diplomático, pediu desculpas à ditadura.

Nosso “primeiro-ministro”, nos desejos de boa parte da mídia, prefere tomar o partido do regime que prende jornalistas, que cala médicos que alertam sobre o coronavírus, que permitiu com que o troço virasse uma pandemia. Eles amam a democracia... ou nem tanto!

É lamentável - e revelador -, portanto, ver nossos "jornalistas" e "democratas humanistas" tomando o partido da ditadura, vibrando com a "enquadrada" do PCC, o maior responsável pela pandemia. É pragmatismo, simpatia ideológica ou se venderam para os comunistas mesmo?



Artigo completo aqui.
 

sábado, 12 de outubro de 2019

Rodrigo Constantino: como agem os mercenários do poder

Os blogueiros de crachá: Moura Brasil expõe militância virtual ligada ao governo
por Rodrigo Constantino

Felipe Moura Brasil, diretor de jornalismo da Jovem Pan, publicou uma longa reportagem muito importante na revista Crusoé, expondo nomes e como atuam os militantes virtuais do bolsonarismo, agindo desde dentro do governo. Eis o resumo:

“De fato, trata-se de uma espécie de petismo com sinal trocado, na linha do que já havia denunciado Janaina Paschoal, que percebeu postura similar àquela dos seguidores de Lula.”

Um dos nomes que mais aparecem, para surpresa de ninguém que conheça os bastidores da direita populista, é o de Filipe G. Martins, assessor da Presidência para assuntos internacionais. Quem tiver interesse em conhecer melhor o perfil dele, recomendo essa reportagem da Época.

O jovem, que exerce bastante influência em Bolsonaro por ser uma espécie de preposto de Olavo de Carvalho no governo, atua diretamente na articulação dessa militância. Como "analista", mais parecia o goleiro Muralha, sempre pulando para o mesmo lado e cantando a vitória da direita. Acertava metade. E "analisava" desde a posição de membro de diretório de partido, com cargo no PSL e de olho num eventual cargo no governo em caso de vitória do "seu" candidato. Analista independente é isso!

Vera Magalhães comentou o caso no Jornal da Manhã de hoje:
(...)
Vera é alvo constante dessa "milícia digital" bolsonarista, assim como tantos outros jornalistas. Carlos Andreazza, por exemplo, que também comentou a reportagem:

“Até os ministros Paulo Guedes e Sergio Moro são alvos dessa turma. Sabemos que os nacional-populistas e reacionários influenciados por Olavo e Bannon não engolem os liberais, e enxergam em Guedes um instrumento útil no momento, nada mais.”

Filipe G. Martins, chamado de Robespirralho ou Sorocabannon nas redes sociais, foi o responsável pela barrigada no caso da OCDE, criando um baita alarde na época do apoio de Trump, como se fosse sinônimo já de vitória e ingresso no "clube dos ricos". Esses dias soubemos que não é bem assim que as coisas funcionam no mundo da diplomacia real...

A militância foi imediatamente acionada, ao que tudo indica, para entrar em campo defendendo o jovem assessor e o governo. A mídia só espalharia Fake News, dizem. A reação é a prova da falta de humildade desse pessoal para reconhecer um erro. Venderam um peixe que não foram capazes de entregar, e agora atacam o mensageiro. Comentamos isso no Jornal da Manhã hoje:

É constrangedor ver o malabarismo dos bolsolavistas para defender Filipe. "A OCDE tem regras", "a Argentina já estava na fila" etc. Ora, então qual foi a razão de toda aquela empolgação eufórica do assessor à época da notícia do apoio americano? Daqui a pouco, se até isso fracassar na frente, vão resgatar o globalismo e desqualificar a própria OCDE como irrelevante ou instrumento dos comunistas. Haja pano para passar.

Para Rubens Ricupero, ex-embaixador nos Estados Unidos, "estamos colhendo a humilhação pública depois de todo festejo". O diplomata de carreira Paulo Roberto de Almeida, alvo da militância por ter discordado de Olavo num debate sobre globalismo, comentou: "Ricupero volta a sublinhar o que é relevante nos fatos, não nas alucinações exteriores do olavo-bolsonarismo diplomático, feito de retórica vazia. Vou atualizar minha lista das NÃO realizações da 'política externa para o povo'."

O jornalista Merval Pereira, em sua coluna de hoje, resgatou a frase atribuída a Dulles de que não há países amigos, mas interesses comuns, e acrescentou:

“A propalada amizade entre Trump e a família Bolsonaro, base para a defesa de uma política externa atrelada aos Estados Unidos, começa a ser desmistificada pelos próprios americanos, que ontem aceitaram Argentina e Romênia no chamado “clube dos ricos”, sem abrir brecha para o Brasil, o que fora anunciado como a grande vitória alcançada na visita do presidente Bolsonaro aos Estados Unidos.

A indicação de Eduardo Bolsonaro para a embaixada americana, apesar da visível falta de qualificação, subiu no telhado agora. Afinal, o trunfo usado era justamente a "amizade" entre os dois presidentes. Mas e se essa "amizade" pouco quer dizer na prática? Não é assim que se constrói relações republicanas. O "jeitinho" personalista pode ter raízes profundas fincadas na cultura brasileira, mas não se pode dizer o mesmo da América.”

Filipe Martins e essa militância dos "blogueiros de crachá", e Eduardo Bolsonaro com sua obsessão pela embaixada e por assassinar a reputação de eventuais críticos do governo, como tentou fazer comigo usando uma mentira patética acerca do meu passado no mercado financeiro, representam o que há de pior no governo Bolsonaro. E o fato de serem tão influentes na cabeça do presidente é o que mais assusta..."

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segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Austeridade fiscal: inimiga do crescimento econômico? - Rodrigo Constantino (Gazeta do Povo)

Rodrigo Constantino
Gazeta do Povo, 16 de setembro de 2019

A Folha de SP trouxe neste domingo em destaque um texto de opinião com o título “Por que cortar gastos não é a solução para o Brasil ter crescimento vigoroso?”. Trata-se da velha e surrada “teoria” de que a austeridade fiscal é inimiga do crescimento, que o governo precisa investir e gastar mais para induzir o crescimento econômico por meio do “multiplicador fiscal”.
Seria a descoberta do moto perpétuo de crescimento: o governo gasta e investe o que não tem, sem se preocupar com o déficit, e isso vai gerar mais crescimento ainda na iniciativa privada. O crescimento maior fará a arrecadação subir, e por isso não precisamos nos preocupar com os rombos do orçamento.
Com base numa “tese” dessas, é realmente espantoso ainda existirem países pobres! E “paradoxalmente”, são justamente os que mais acreditam nessas trilhas para o sucesso. Por que será?
O que os autores heterodoxos não explicam é como justamente na fase expansionista irresponsável de Dilma o país mergulhou na maior recessão da história recente. É mais ou menos como os ladrões que acabaram de realizar o maior roubo a banco de todos os tempos tentarem explicar que investir mais em segurança não é a solução, e ainda culparem outros pelo roubo. Haja cara de pau!
Claro que, com tão pouca sustentação teórica ou empírica, os autores tinham que partir para teorias da conspiração: “a insistência em um diagnóstico e uma política equivocada reflete apenas uma fé cega ou estaria a serviço de determinados interesses econômicos e políticos?”. Quem levanta tal suspeita é justamente a turma que adota fé cega em ideologias e tem vários interesses econômicos e políticos na manutenção do modelo atual falido, que leva aos altos juros e ao rentismo. Eles condenam da boca pra fora o excessivo gasto com juros, como se este não tivesse ligação alguma com o elevado déficit fiscal e sua trajetória insustentável, se não houver reformas estruturais de cunho liberal.
Não adianta quantas vezes a experiência comprove a boa teoria econômica, de que aumento de gastos públicos costumam gerar menos, não mais crescimento sustentável a longo prazo. Sempre haverá quem venda a ilusão de que basta o governo gastar para nos tirar do buraco que o excesso de gastos públicos cavou. Ou acabamos de vez com as falácias da Unicamp, ou a Unicamp acaba com o Brasil. Quase conseguiram com a Dilma, mas não desistiram ainda…
Rodrigo Constantino

terça-feira, 12 de março de 2019

Guru do presidente manda alunos abandonarem o governo: e agora José? - Rodrigo Constantino

Agora me dou conta que deveria ter patenteado dois termos: 
"Sofista da Virgínia" e
"Rasputin de subúrbio".
Pelo menos ganharia uns trocados com o seu uso por terceiros.
Propriedade intelectual serve para isso mesmo: recolher royalties para poder viajar a Paris.
Apenas um trecho: "Olavo chegou a citar nominalmente Filipe Martins como um dos que deveriam sair."
Paulo Roberto de Almeida

Guru do presidente apronta mais uma e sugere que seus alunos deveriam abandonar governo

O “guru” do presidente aprontou mais uma: escreveu um comentário em seu Facebook pressionando seus alunos que ocupam cargo no governo a abandonarem suas posições e voltarem aos estudos, pois há muitos inimigos e “pústulas”, suas palavras, em torno de Bolsonaro. Olavo de Carvalho não ajudou a criar uma base sólida de pensadores da alta cultura, como alguns alegam, mas sim uma legião de seguidores um tanto fanáticos de uma espécie de seita que repete que o filósofo “tem sempre razão”.
O comentário do sofista de Virgínia, como o chamou o diplomata Paulo Roberto de Almeida, coloca seus alunos numa delicada situação. Ou aceitam agora que andam com “pústulas” e desafiam o guru, ou continuam bajulando o mestre e perdem o cargo no governo – e todas as mordomias que vêm com ele. Olavo chegou a citar nominalmente Filipe Martins como um dos que deveriam sair. É dura a vida de quem quer ser revolucionário jacobino e establishment ao mesmo tempo.
Ao expor isso, fui chamado de invejoso pela turba de olavetes, o que é irônico: atacam o mensageiro em vez de a mensagem, justamente como fez a esquerda na questão do “golden shower” que Bolsonaro postou. Ora, não fui eu quem disse que há muitos pústulas no governo e que gente como Filipe Martins, hoje uma espécie de chanceler do B, deveria pedir para sair. Até acho que deveria sair, mas por outros motivos.
Ironicamente, após a “exigência” de Olavo, quem saiu do MEC foi o militar criticado pelo filósofo. Em seguida, Olavo passou a postar comentários se vangloriando da enorme quantidade de olavetes em postos do governo, gabando-se de sua suposta influência na gestão de Bolsonaro. É a dialética eterna inspirada no marxismo: se saírem do governo é bom, pois ele pediu e acusou o governo de ter muitos “pústulas”; mas se ficarem também é bom, pois comprova sua força contra os sabotadores. Cara um ganho, coroa você perde. Por isso “ele tem sempre razão”.
O próprio Filipe Martins festejou em seu Twitter o resultado da “queda de braço” com o simples comentário V.V.V., em referência à expressão atribuída a Júlio César, “Veni. Vidi. Vici”. César utilizou a frase numa mensagem ao senado romano descrevendo sua recente vitória sobre Fárnaces II do Ponto na Batalha de Zela. A frase serviu tanto para proclamar seu feito, como também para alertar os senadores de seu poder militar (Roma passava por uma guerra civil). Pouco tempo depois ele foi assassinado no Senado. Filipe talvez devesse ter mais cuidado em sua arrogância…
Dou destaque a essa “treta” interna da “direita alternativa” apenas para chamar a atenção para a incompatibilidade entre ser um revolucionário radical, jacobino, e ser um liberal-conservador reformista. Os primeiros partem para o tudo ou nada, alimentam-se de uma narrativa tribal de que ninguém presta fora de seu círculo fechado, e que as instituições democráticas estão completamente podres e precisam ser derrubadas, substituídas “pelo povo”. Os últimos querem trabalhar com as instituições, aperfeiçoa-las, melhorar o que for possível usando a política, não a demonizando.
Bolsonaro terá de fazer sua escolha. Não é possível atender a dois mestres de uma só vez. Especialmente mestres opostos. Ou ele abandona o guru jacobino e seu discurso antipolítica, ou não aprova reforma alguma e seu governo naufraga antes de começar. Qual vai ser sua escolha?
Rodrigo Constantino

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Cuidado com os bolsoviques - Rodrigo Constantino

Um blog de um liberal sem medo de polêmica ou da patrulha da esquerda “politicamente correta”.

13 de fevereiro de 2019
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A direita chegou ao poder. Mas qual direita? O bolsonarismo é um fenômeno complexo, com inúmeras variáveis. Há um fator de esgotamento do lulopetismo. Há outro ligado ao discurso da segurança pública. A presença do liberal Paulo Guedes na campanha atraiu outra gama de eleitores, mais instruídos que a média. E claro, há a vertente do conservadorismo e também de um reacionarismo que se confunde com aquele.
Por conta de ser esse saco de gatos, desde o começo tenho me esforçado para separar o joio do trigo. É fundamental, para o bem da direita brasileira no longo prazo e do próprio governo Bolsonaro, traçar uma distinção entre liberais e conservadores e essa ala mais reacionária, que parece o PT com o sinal trocado, como já disse Janaina Paschoal.
Os fanáticos autoritários, que costumam usar os mesmos métodos dos inimigos, atendem pelo carinhoso apelido de “bolsominions”. Mas outro termo, criado por uma amiga, talvez seja ainda melhor: bolsoviques. Sim, a maioria vem do marxismo, e muitos não parecem capazes de abandonar esse ranço ideológico, apesar de colocaram o marxismo cultural como maior ameaça ao mundo – com boa dose de razão.
O que os torna tão semelhantes aos seus adversários é o método de atuação. Eles não aceitam conviver com o contraditório; partem em ataques de manada a qualquer crítico, em especial aqueles dentro da própria direita; cultuam mitos e políticos; e adotam um duplo padrão extremamente seletivo. O assassinato de reputação dos críticos está em sua cartilha também, e os tiros iniciais quase sempre vêm do núcleo duro do próprio bolsonarismo.
Um sujeito com cargo no governo, por exemplo, pediu publicamente a cabeça do editor e escritor Carlos Andreazza (que, afirmo desde já, é editor dos livros que publico pela Record). Outro, por trás de um perfil falso, chegou a ameaçar a filha do escritor. Andreazza desabafou: “Não serei permissivo com quem age para assassinar reputações e difamar, de maneira concertada, aqueles, sobretudo jornalistas, que não aderem ao novo regime. Isto tem comando, cadeia. É milícia. Sei exatamente quem é quem e como funciona. Prosperam sobre a covardia”.
Paulo Cruz, colunista da Gazeta do Povo e um dos grandes intelectuais do Brasil, já foi alvo da horda também, assim como Alexandre Borges e tantos outros. Quem atua mais nos bastidores dos movimentos de direita conhece o modus operandi dessa gente. Por muito tempo, vários acharam melhor manter o silêncio: a alternativa era pior, o risco de volta do PT, o que seria a destruição total do país. Mas agora Bolsonaro é governo, a direita está no poder, e adotar uma postura de independência que trace uma clara linha divisória entre pensadores sérios e militantes fanáticos se torna questão de sobrevivência da própria direita no futuro.
Um episódio divisor de águas foi o ataque virulento e até criminoso de Olavo de Carvalho contra o vice-presidente Hamilton Mourão. Não vem ao caso se Mourão merecia ou não críticas: acho que merecia e as fiz, pois ele andou seduzido pelos holofotes e afagos da imprensa. Mas Olavo foi muito além, e acusou o general de conspirar um golpe contra Bolsonaro, hospitalizado. Trata-se de denúncia gravíssima, sem qualquer prova concreta. Não importa: os bolsoviques fecharam com o “guru” e endossaram os ataques pérfidos e levianos.
Se tudo isso não passasse de “treta” das redes sociais, nem sequer mereceria um artigo. O problema é que essa turma faz parte do governo, e contribui para manchar a reputação da direita ao abraçar uma política de guerra total, em que todo aquele que discordar uma vírgula merece ser eliminado do mapa. Não só prejudica a imagem da direita, como atrapalha o próprio governo e o andamento das reformas estruturais lideradas pela equipe de Paulo Guedes.
Ninguém menos que um dos filhos do presidente faz parte desse time. Eduardo Bolsonaro colou em Steve Bannon, um populista nacionalista que nem Trump quis manter em seu governo. Bannon é da direita “alternativa”, tribal, que se alimenta politicamente dos grupos extremistas do outro lado. Sem Antifa ou Black Lives Matter não haveria “o movimento” lançado por Bannon. Seus adeptos se enxergam como templários numa cruzada para salvar a civilização ocidental, mas não passam de coletivistas autoritários dispostos a meios condenáveis para chegar e ficar no poder.
Segundo O Antagonista, Eduardo já estaria até pensando em criar um partido novo, sob influência de Bannon. Faz todo o sentido dentro da lógica de poder deles: dobrar a aposta na narrativa revolucionária jacobina, contra tudo e todos que estão aí – inclusive o PSL, que teria “se corrompido”. Como o universo dos incorruptíveis é nulo, todos se tornam alvos em potencial desse grupo “purista” (e hipócrita), assim como foi com os seguidores fanáticos de Robespierre, ele mesmo vítima da turba que ajudou a criar.
Sempre que um liberal ou conservador de boa estirpe critica uma postura condenável desse pessoal, vem a manada bovina ou xingar de “esquerdista”, ou lembrar que há outro inimigo muito pior. Sim, ninguém nega que a esquerda radical seja a maior ameaça ao Brasil. Mas são os bolsoviques que estão no poder agora. E passar panos quentes sempre que um deles falar ou fizer uma barbaridade qualquer é o caminho mais seguro para implodir de vez não só a direita, mas nossas liberdades.
Nos bastidores da direita há muita gente cansada dessas táticas de guerrilha virtual dos bolsoviques, mas poucos têm a coragem de se manifestar publicamente. Entende-se: não é agradável ter uma legião ensandecida te perseguindo, difamando ou mesmo ameaçando, sem falar que agora esses loucos estão no poder. Mas essa é uma briga importante de se comprar. Não lutamos contra o PT para abaixar a cabeça para reacionários fanáticos. A luta é contra toda forma de coletivismo e autoritarismo. Não importa se vem da esquerda ou da “direita”.
Artigo originalmente publicado pela Gazeta do Povo.

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Liberdades econômicas no mundo - Rodrigo Constantino

Gazeta do Povo lança Índice de Liberdade Econômica, melhor mapa para entender como tornar o Brasil uma nação rica

O Índice de Liberdade Econômica, calculado pela Heritage Foundation, é o mais tradicional indicador que mede o grau de capitalismo dos países. Há anos ele é utilizado no mundo todo como o melhor parâmetro para avaliar se um país tem ou não o que se pode chamar de economia livre.
E a correlação entre esse indicador e outros que medem qualidade de vida da população, riqueza e desenvolvimento humano, além de corrupção, é enorme e uma com elo causal: a liberdade econômica causa a riqueza, os avanços sociais e maior transparência.
Esse índice era publicado no Brasil pelo Instituto Liberdade, de Porto Alegre, e a Gazeta do Povo marca um golaço ao assumir sua publicação agora, provando seu compromisso com os valores da liberdade e do progresso. Entender os itens desse índice é a melhor forma de compreender as mazelas nacionais, assim como o que deve ser feito para finalmente colocar o Brasil na rota do crescimento.
O Brasil petista despencou no ranking, mostrando como caminhamos na direção do socialismo sob Lula e Dilma. A Venezuela já virou socialista de vez, e os resultados desastrosos estão aí para todos verem – menos os cegos ideológicos. Uma economia controlada pelo estado, fechada, com muita regulação e impostos é a receita mais segura para a catástrofe econômica e social de uma nação. E somos um patinho feio, um ótimo aluno marxista, ostentando a vergonhosa 153a posição no ranking:
Para sermos apenas medíocres ainda precisamos melhorar muito. Não temos direito de propriedade garantido, e basta pensar nos invasores do MST ou nas favelas sem título de propriedade. Os gastos do governo são altos demais, a carga tributária é muito elevada e complexa, a saúde fiscal é péssima, com rombo de quase R$ 200 bilhões por ano. O judiciário é lento, as leis são arbitrárias, nem o passado é certo. O protecionismo é grande e afasta o país da globalização. As leis trabalhistas são inspiradas no fascismo marxista de Mussolini e Vargas, com amplo poder sindical. O setor financeiro é concentrado demais, com muita barreira à entrada.
Enfim, o “neoliberalismo” é o fantasma da mitologia canhota inventado como bode expiatório para os males produzidos pelo excesso de estado. Só há duas saídas para o Brasil: aeroportos ou liberalismo! Nosso podcast Ideias desta semana foi justamente sobre esse relevante tema:
Estamos em ano de eleições. Cobre dos seus candidatos uma postura sobre esses pontos. Só vote em quem estiver comprometido com o avanço da liberdade econômica, quem tiver noção de que o caminho para a prosperidade passa inexoravelmente pela redução do estado e de seu intervencionismo. Pregar maior controle estatal é impedir nosso avanço, asfixiar aqueles que criam riquezas, manter as amarras que sufocam o Brasil. Chega de tanto estado! Vamos dar uma chance à liberdade…
Rodrigo Constantino

segunda-feira, 31 de julho de 2017

Quer reduzir os juros? Baixe os gastos publicos - Rodrigo Constantino


Um blog de um liberal sem medo de polêmica ou da patrulha da esquerda “politicamente correta”.

31 de julho de 2017
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Em sua coluna de hoje no GLOBO, o economista Paulo Guedes explica de forma resumida qual foi o maior dos erros desde a redemocratização no final da década de 1980, e que não deixa partido algum de fora (apesar de ser injusto colocar os tucanos no mesmo saco dos petistas, como veremos). O grande vilão, sem dúvida, foi a expansão dos gastos públicos:
Um erro fundamental da social-democracia em suas mais de três décadas governando o país foi a ininterrupta expansão dos gastos públicos sob todas as formas, dos meritórios programas sociais de transferência de renda inerentes a uma democracia emergente aos reprováveis subsídios a grandes empresas agora configurados como práticas de um capitalismo de quadrilhas.
[…] Essa incapacidade de controlar gastos e de promover reformas trouxe como subproduto uma tragédia de dimensões épicas: os esforços de estabilização sem apoio da política fiscal elevaram as taxas de juros por décadas, causando um endividamento interno em bola de neve. As enormes despesas anuais com os juros da dívida são impressões digitais de políticas de estabilização pouco competentes, sempre conduzidas por apertos monetários em ações isoladas do Banco Central.
[…] Teríamos hoje centenas de bilhões de reais para aplicar anualmente em programas de saúde, educação e segurança pública, em vez dessa roubalheira a céu aberto, um verdadeiro ninho de ratos em que se transformou o aparelho de Estado sob a condução de uma despreparada “vanguarda do atraso” pela “esquerda”, e seus oportunistas aliados “conservadores” comprados à “direita”. Os arquitetos de nossa governabilidade revelam-se agora incompetentes uns, malfeitores outros, e as duas coisas alguns. Chegam a ser comoventes a compreensão de FHC pelos infortúnios de Lula, a impensável aproximação política de Lula a Maluf e Collor e o voluntarioso afeto de Sarney por todos eles.
Quando ainda estudava Economia na PUC, lembro de uma palestra com Paulo Guedes em que ele condenava exatamente isso com uma boa analogia: Gustavo Franco, então presidente do Banco Central, era como o Napoleão que sozinho invadiu a Rússia, e aguardava a chegada da tropa em seu auxílio. Mas ela não veio.
Ou seja, jogou a taxa de juros para cima para conter a inflação, mas era crucial que a redução dos gastos públicos ocorresse em seguida. Não veio a ajuda do lado fiscal. O inverno chegou, a o bravo soldado se viu isolado, incapaz de derrotar os inimigos.
Enfrentar a inflação somente com os juros é como tentar matar uma formiga com uma bazuca: o efeito colateral será inevitável e catastrófico. A melhor ferramenta para conter a inflação é a redução das despesas do governo, as reformas estruturais que apontem nessa direção lá na frente, e o controle imediato, com teto de gastos e tudo mais.
É verdade que o PSDB aprovou a Lei de Responsabilidade Fiscal, mas na prática se mostrou perdulário também, gastador, imbuído de sua mentalidade social-democrata esquerdista. Pode não ter sido irresponsável como o PT, mas passou longe do modelo liberal que demandava um corte sério na gastança estatal. Ao menos deu autonomia ao BC para usar a bazuca…
Quando o governo insiste nessa política fiscal expansionista, só resta a política monetária (alta de juros) para segurar a inflação. O PT resolveu abandoná-la, e Dilma reduziu na marra as taxas de juros, sob os aplausos de Ciro Gomes e muitos empresários, como Benjamin Steinbruch. “Deu ruim”, como os liberais anteciparam (inclusive este que vos escreve). A inflação saiu de controle, como esperado.
Mas no Brasil aprendemos que poucos aprendem com a história. E vemos os potenciais candidatos insistindo na mesma receita furada, condenando o termômetro pela febre, culpando os altos juros pelos problemas, como se o rabo balançasse o cachorro, e não o contrário. Até mesmo a opção mais à direita, aquela com viés nacionalista, repete as mesmas ladainhas, como fica claro nessa entrevista com Jair Bolsonaro no Valor hoje:
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Essa besteira parece dita por Dilma ou Ciro Gomes, mas foi dita por Bolsonaro, que nada entende de economia (e não foi por falta de esforço da minha parte, que cheguei a enviar de presente a ele meu curso online “Bases da Economia“, que explica direitinho as causas da inflação e evitaria esse tipo de vergonha alheia caso ele tivesse visto).
Também acho que a segurança é a prioridade num país com 60 mil assassinatos por ano, apesar de entender que a economia vem logo atrás, num país com 15 milhões de desempregados. Mas fica claro por que a turma do “mito” repete que economia não tem tanta relevância assim: é o maior calcanhar de Aquiles do homem. Sair da social-democracia para o nacionalismo dirigista não é o que precisamos.
Falta no Brasil alguma liderança que seja capaz de mesclar a determinação de combater a criminalidade e o socialismo na cultura com o conhecimento básico da economia e do liberalismo. Essa figura ainda não surgiu no horizonte político. Ainda dependemos de nomes que se mostram incapazes de compreender a importância do resgate de valores morais para a sociedade e a urgência em abandonar a política de inchaço e voluntarismo estatal, responsável pela calamidade em que vivemos hoje.
Querem saber o que permitiria a redução sustentável das taxas de juros, mais recursos para investimentos em áreas cruciais como segurança e justiça, menores impostos e ao mesmo tempo a redução da corrupção? Uma queda drástica dos gastos públicos, com fim de subsídios e assistencialismo, privatizações, abertura comercial etc. Ou seja, o liberalismo econômico, que, ao lado de um conservadorismo nos costumes, seria a melhor solução para os males que assolam nosso país hoje.
Liberais clássicos e conservadores de boa estirpe seguem na busca por uma liderança que compreenda isso.
Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal

sábado, 15 de julho de 2017

As fracas conviccoes dos liberais brasileiros: Rodrigo Constantino sobre Paulo Rabello de Castro

Um blog de um liberal sem medo de polêmica ou da patrulha da esquerda “politicamente correta”.

PRESIDENTE DO BNDES AGORA PARECE ACREDITAR NO “MITO DO GOVERNO GRÁTIS”

13 de julho de 2017
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É com tristeza que escrevo esse texto, pois tenho – ou tinha – grande admiração pelo economista Paulo Rabello de Castro, com quem já participei de palestras em conjunto. Considerado um dos herdeiros intelectuais de Roberto Campos, liberal que vinha condenando a estatização da poupança no Brasil com veemência, autor do livro O mito do governo grátis, eis que Paulo, agora no comando do BNDES, parece ter esquecido de tudo que defendeu no passado recente.
Liberais são céticos com o governo e, como Lord Acton, acham sempre que o poder corrompe. No encontro entre um liberal e o poder, a chance de vitória do poder é enorme. Não é fácil resistir às suas tentações e pressões, o que demandaria quase um rigor ético de santo. Por isso mesmo os liberais defendem a redução do poder, a adoção de um mecanismo de incentivos mais adequados, para evitar riscos desse tipo.
No caso do BNDES, por exemplo, a única solução realista para um liberal seria acabar com o banco, não ter o instrumento. Uma vez que ele esteja lá, será muito difícil impedir seu uso para o “capitalismo de compadres”, para beneficiar os “amigos do rei” com seus subsídios que transferem riqueza dos trabalhadores para os poucos grupos ricos. E, como prova disso, temos o atual presidente do BNDES dando uma de JK e falando em fazer seis anos em seis meses, ou negando que subsídio seja… subsídio!
Haja malabarismo semântico! E isso vindo de um liberal, de um doutor em Economia pela Universidade de Chicago, casa de Milton Friedman, é simplesmente imperdoável. “Subsídio, na realidade, liquidamente não é subsídio. Porque o banco reverte o resultado de sua boa administração em prol da administração”, afirmou Paulo, mas poderia ter sido Guido Mantega também. Será que o doutor nunca ouviu falar em CUSTO DE OPORTUNIDADE?
Que tal voltar aos autores clássicos como Bastiat? Aquilo que se vê (resultado positivo) e aquilo que não se vê (qual teria sido o uso alternativo desses recursos escassos pela iniciativa privada?). Ao defender os subsídios do BNDES, a famosa “bolsa-empresário”, Paulo está simplesmente ignorando o outro lado da equação, o que não é admissível para um liberal. Alexandre Schwartsman, em sua coluna desta quarta na  Folha, atacou as recentes declarações do presidente do BNDES:
Boa parte do empresariado nacional, em particular os encastelados na pirâmide da Paulista, se especializou em ganhar dinheiro à custa de transferência de recursos do resto da população.
São vários os mecanismos, da proteção contra a concorrência (não só internacional mas também doméstica) ao uso intensivo de subsídios. Uma das formas mais insidiosas e menos transparentes, porém, se dá por meio do BNDES.
Empresas com acesso privilegiado ao banco tomam lá recursos balizados pela TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), que tipicamente se situa muito abaixo do custo a que o Tesouro Nacional se financia (numa primeira aproximação, a taxa Selic), quando não da própria inflação.
[…]
Para começar, trata-se de um subsídio gigantesco que não passa pelo Orçamento federal: dá-se, portanto, a um ramo do Executivo o poder de promover transferências de renda sem nenhuma transparência, sem nenhuma discussão com a sociedade, seja de cunho técnico ou democrático.
E, exatamente por ser pouco transparente, é também um incentivo considerável para os que apreciam participar do jogo da corrupção.
[…]
A própria lógica de uma economia de mercado se inverte quando a principal atividade empresarial deixa de ser a inovação para se concentrar na obtenção de facilidades de modo a canalizar renda do resto da sociedade para si.
Quando um instrumento como o BNDES está à disposição, ainda mais com um presidente afirmando que subsídio não é subsídio e que pretende fazer seis anos em seis meses, ou seja, a senha para a abertura da torneira, então os grandes empresários vão “investir” apenas em lobby para cair nas graças do banco, em vez de investir em produtividade.
E há, ainda, o efeito “crowding out”, ou seja, o banco estatal drena recursos escassos e pressiona a taxa de juros para o restante da economia para cima. Não existe, afinal, almoço grátis, como dizia Milton Friedman, tampouco governo grátis, como parecia saber o próprio presidente do BNDES.
Mas parece que a chegada ao governo tem o mesmo efeito daquele aparelhinho do “Men in Black”, que apaga a memória do sujeito num segundo. E Paulo, doutor por Chicago, economista liberal, agora parece convencido de que existe o “moto perpétuo do crescimento”, bastando o banco estatal emprestar recursos produzidos do além ou extraídos da economia com taxas subsidiadas, para que os “campeões nacionais” possam pagar bons dividendos depois, e o BNDES arrecadar impostos.
Não é incrivelmente simples? Luciano Coutinho, JBS, Eike Batista, Mantega e Odebrecht precisam só explicar o que deu errado…
Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal