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domingo, 17 de novembro de 2024

China: da abertura para um mundo de "desordem sob os céus" para "sinergias" - Paulo Pinto (Linkedin)

O maior especialista na China e em assuntos asiáticos em geral, refaz o caminho chinês para a modernização.

 

CHINA - DA ABERTURA PARA UM MUNDO DE “DESORDEM SOB OS CÉUS”, PARA “SINERGIAS” QUE PRESCREVAM FORMAS DE GOVERNANÇA CHINESAS AO LONGO DE SEU “CINTURÃO”

Paulo Pinto

Embaixador do Brasil aposentado. Percursos diplomáticos diferenciados.

Linkedin, November 15, 2024

https://www.linkedin.com/pulse/china-da-abertura-para-um-mundo-de-desordem-sob-os-c%C3%A9us-paulo-pinto-cqq5f/ 

 

O início da década de 1980 é reconhecido como um marco, na história recente da China, quando se deu o processo de abertura do país ao exterior, após a fase turbulenta da Revolução Cultural.

Procuro, a seguir, resgatar ensinamentos da experiência pessoal de ter servido em Pequim, entre 1982 e 1985, no Sudeste Asiático, entre 1986 e 1995 e em Taipé, entre 1998 e 2006. O exercício de reflexão a seguir é resultado, portanto, mais de conclusões de vivência do autor, do que de trabalho acadêmico.

Parto da premissa de que cabe procurar na origem do pensamento chinês sobre a organização do “Império do Centro”, explicações sobre o atual sucesso econômico da RPC. Haveria, também, possíveis riscos da tentativa de imposição de sua forma de governança através de “rota” em diferentes países da África e América Latina (vide meu texto publicado em 21 de outubro).

O artigo reflete a convicção de que, tanto no plano interno, quanto no externo identificam-se, na década de 1980, alterações resultantes de condicionantes históricas de forma de pensar chinesa, capazes de influenciar o cenário atual da RPC.

Acredito ser importante o resgate da lógica de que aquela nova cena de partida, em direção ao cenário atual, ajuda no esforço de reflexão sobre o que se passa, hoje, na República Popular da China. Por um lado, para o entendimento do presente naquele país, cabe abandonar raciocínios e equações, a partir de modelos fora do contexto cultural chinês. Por outro, conforme se exporá na conclusão, o modelo atual de governança em Pequim começa a ser considerado como exemplo a ser seguido, em outras nações.

 

O Início da Modernização

No início da década de 1980, quando cheguei a Pequim, não era possível deixar de sentir uma certa tristeza, pelo fato de que havia sido encerrada, na China, uma Era de convicção poética maoista. A partir de 1949, acreditara-se que, em benefício do interesse comum da sociedade, centenas de milhões de pessoas poderiam ser levadas a patamar mais elevado do que o egoísmo individual.

A experiência chinesa de busca de uma sociedade igualitária encantara a muitos. Os países do Terceiro Mundo admiravam sua combatividade e autossuficiência. Os economistas ocidentais registravam o pleno emprego atingido, no campo, e invejavam sua força de trabalho disciplinada, na indústria.

O exercício de observação diário e o aprendizado da realidade do país, no entanto, indicavam que não se vivera na China, nas três décadas anteriores, tantos motivos de encantamento.

Na verdade, perdurara o elitismo e a corrupção entre os dirigentes do partido e do governo. O lento progresso obtido na economia demonstrara não ser tão fácil, desenvolver-se com os próprios recursos, sem a infusão de investimento, tecnologia ou ajuda externa.

Em suas relações internacionais, sabe-se, a República Popular, desde sua fundação, em 1949, havia mantido um vasto exército e milícias armadas e desenvolvido a bomba atômica. A China tivera conflitos com a União Soviética e Índia e fricções com o Japão, com respeito às Ilhas de Senkaku, e com o Vietnã, quanto às Spratlays. Não se tratava, portanto, de país totalmente “amante da paz”, conforme se divulgava em Pequim aos visitantes estrangeiros.

No plano interno, na medida em que se conhecia melhor a real situação chinesa, ficavam diminuídos, inclusive, os ganhos considerados, por exemplo, no controle familiar. Havia sido enorme, verificava-se, o custo, em termos de direitos humanos, na proibição de casamentos antes dos 20 anos e obrigatoriedade de apenas um filho por casal.

Não se quer negar, no entanto, as grandes conquistas do período maoista, nem os feitos do povo chinês. Um país que, na primeira metade do século XX, fora devastado por guerras internas, encontrava-se, no início da década de 1980, unificado, apesar das crises de liderança resultantes da Revolução Cultural.

Como era possível verificar, a China alimentava e vestia seu povo. Um esforço descomunal fora feito para construir represas, diques e sistemas de irrigação, bem como no sentido da autossuficiência alimentar.

Mas seria isso suficiente? Tais conquistas teriam que ser vistas em perspectiva.

Mao Zedong tornara a “necessidade” em “virtude”, como base de sustentação para política de autossuficiência. Em grande parte, tratava-se de reação ao fato de que os soviéticos terem cessado todo e qualquer auxílio, a partir de 1960, levando consigo, inclusive as matrizes de fábricas cuja instalação já havia sido iniciada.

O Grande Timoneiro, então, colocou toda sua crença na “genialidade do povo chinês”. Doravante, tudo seria resolvido com a mobilização permanente das “massas”. Como consequência, surgiriam energias e talentos até então escondidos por sistema social opressivo. Na década de 1960, por exemplo, ampla campanha nacional encorajava simples operários a fazerem sugestões sobre inovações tecnológicas. Exageros evidentes eram noticiados a respeito do aumento de produtividade como resultado de soluções práticas obtidas nos canteiros de obras, campos agrícolas e operadores de máquinas nas fábricas.

O caráter “anticientífico” das práticas maoistas chegou ao apogeu durante a chamada Revolução Cultural, quando professores e alunos foram obrigados a curvar-se diante da “sabedoria” das massas.

Postura semelhante fora adotada nas forças armadas chinesas, onde o conceito maoista de “guerra popular” baseava-se na premissa de que “homens contavam mais do que máquinas”. Nessa perspectiva, centenas de milhares de soldados de infantaria, com armamento obsoleto, seriam capazes de derrotar um Exército soviético equipado com armas modernas. Mantinha-se, no entanto, a dissuasão nuclear, na medida em que a China não renunciava a sua própria bomba atômica.

Com a derrota do “bando dos quatro”, a China desencadeou outra campanha, desta feita para condenar a viúva de Mao, visando a acusá-la e a seus três cúmplices de Xangai, pela maioria dos fracassos e fraquezas dos anos anteriores. Este novo processo implicou, novamente, em notáveis exageros nas acusações. A mensagem, no entanto, era clara: os dirigentes chineses haviam tomado consciência de que suas políticas de autossuficiência, recusa em aceitar ajuda externa e a negativa à aquisição de tecnologia estrangeira haviam reduzido as taxas de crescimento e o progresso em quase todos os setores da economia.

A rejeição da ideologia passada foi feita na forma de pronunciamentos que, gradativamente, desautorizassem o autoritarismo vigente sob Mao Zedong, cuja memória continuava a ser reverenciada, com todas as honras devidas ao fundador da República Popular da China. Tratava-se, no entanto, de trazê-lo a proporções humanas.

Começava o processo de estabelecer seu lugar na história, como um grande líder revolucionário, mas como um homem com menor sucesso, quando se tratou de administrar um país. Suas principais preocupações diziam respeito à eliminação dos dogmas socialistas, agora vistos como impedimento à nova marcha da China, em direção à modernização. O principal responsável pelas alterações na condução das políticas, econômica e social da China, a partir de 1978, e “Novo Timoneiro”, passou a ser o então Vice-Primeiro-Ministro Deng Xiao-Ping.

O julgamento público de Mao, no entanto, tinha dimensões restritas. Todos os erros cometidos no período de radicalização maoista eram atribuídos a Lin Piao e ao “bando dos quatro”. Para o cidadão chinês, contudo, havia implicações óbvias: não era possível aceitar que toda a culpa fosse atribuída a um traidor e a quatro radicais – na prática, os novos dirigentes em Pequim estavam admitindo que a “Grande Revolução Proletária Cultural” havia sido um fracasso enorme e custoso.

O próprio retorno de Deng Xiao-Ping ao poder, como Vice-Primeiro-Ministro já significava uma rejeição eloquente a julgamentos emitidos por Mao, que havia dado seu apoio pessoal às duas quedas anteriores de Deng.

Não era possível ignorar, contudo, que Mao tinha razão quanto ao diagnóstico sobre os males que atingiam a China. Assim, de acordo com sua visão, o maior perigo para o país seria o retorno à estagnação imposta pela burocracia do partido e do estado.  Suas soluções eram poéticas e imaginativas: uma série de campanhas para mobilizar os intelectuais – “O Movimento de Cem Flores” – a busca de um caminho mais curto para o Socialismo – “O Grande Salto Adiante” – e a provocação de uma “discórdia criativa” entre a juventude do país e a burocracia estatal – “A Revolução Cultural”.

Mas, como se sabe, Mao não obteve sucesso na criação do “homem socialista”.  Ele pediu demais, tanto dos chineses, quanto da natureza humana.

No final da década de 1970, no entanto, todo este processo havia sido esquecido. Ficara provado que, em tese era uma boa ideia encorajar os trabalhadores a pensarem o aumento da produção com seus próprios meios.  Na prática, a premissa ideológica, sobre a qual se baseava – a de que a sabedoria está consagrada nos trabalhadores – conduziu a medidas impraticáveis, como por exemplo, a utilização de máquinas antiquadas sendo empregadas em velocidade inapropriada, provocando acidentes ou resultados negativos.

Verificava-se, por exemplo, que a produção de cereais ficara estagnada. Não houve progresso em projetos de irrigação, nem de novos fertilizantes agrícolas, enquanto a população chinesa continuava a aumentar. O país continuou a importar alimentos. Houve sérios casos de fome generalizada, por falta de alimentação.

A mesma ausência de melhoria foi notada no setor industrial, onde prevaleceu a política maoista de autossuficiência e oposição a aprender da experiência de outros países. Tal postura levou, por exemplo, à estagnação da produção anual de aço, ao lento progresso tecnológico, a preservação de fábricas antiquadas, com equipamentos, tecnologia e formas de administração superados e emprego excessivo de mão de obra.

Com a morte de Mao Zedong e a derrubada do “Bando dos Quatro”, a China podia, finalmente, enfrentar com clareza e determinação seus inúmeros problemas e tomar as decisões cabíveis, para superá-los. O corpo do “Grande Timoneiro” fora colocado em mausoléu, construído na Praça da Paz Celestial, quebrando, a propósito, a harmonia do local, no centro de Pequim (na sequência do processo chinês de abertura ao exterior, para suprema heresia, uma lanchonete de “fast food” americana foi estabelecida nas vizinhanças do túmulo).

Não se tratava, no entanto, de abrir mão, completamente, do pensamento maoista que, então, permeava de forma abrangente a “maneira de fazer as coisas”, no país. Assim, continuava a ser citada, por exemplo, a obra “Sobre as Dez Grandes Relações”, publicada em 1956. Nela, Mao oferecia exercício de reflexão que poderia, no momento da abertura externa do país, na década de 1980, conter explicações ainda úteis para justificar qualquer que fosse a orientação a ser adotada pelos novos dirigentes de Pequim.

Havia sido abandonado, contudo, o fundamento da filosofia maoista: o “conceito hegeliano” de que a unidade deve ser dividida em duas partes e que cada situação contém em si contradições saudáveis que são necessárias para a luta e o progresso, levando, assim, à noção de luta de classes contínua e revolução permanente[1].

Segundo Mao, a China não deveria jamais permitir-se cair na complacência da “unidade” e, de acordo com esta filosofia, o “Grande Timoneiro” teve a audácia poética de desencadear uma revolução contra seu próprio governo e partido. O veredito da história será provavelmente o de que, enquanto Mao foi um dos maiores líderes revolucionários, demonstrou ser um governante menos habilidoso, uma vez que sua revolução se tornou vencedora. Provocou, assim, severas perdas a seu país e a morte de milhões de pessoas, enquanto perseguia suas visões utópicas.

Os novos líderes em Pequim pareciam retomar abordagem mais tradicional de forma de governança. 

 

A Busca do “Caminho Real”

No início da década de 1980, portanto, o sentimento dominante era o de que a morte havia “humanizado” Mao Zedong e “desmitificado” a China, que, então, admitia suas limitações no trato com os grandes problemas do país.

A nova política pragmática representava praticamente a recusa total das doutrinas que haviam dominado as políticas agrícola e industrial dos últimos 20 anos. Todas as empresas públicas, por exemplo, foram instruídas a gerar lucros – proposta impensável, até recentemente. Incentivos materiais passaram a substituir a pureza ideológica. A China conscientizou-se de que necessitava da tecnologia do Ocidente e, enquanto abandonava sua política restritiva de “autossuficiência”, começava a buscar fontes de financiamento de longo prazo – ajuda, em outras palavras – para financiar suas compras de “know-how”, instalações industriais, navios, equipamento de transporte e material de emprego militar.

Nessa perspectiva, no período de vivência do autor naquele país, entre 1982 e 1985, autoridades chinesas persistiam no esforço de implementação de políticas pragmáticas, com vistas a dissociar-se dos fins marxistas de construção de uma sociedade que se limitasse a fornecer “a cada um, de acordo com suas necessidades”. Buscar-se-ia, doravante, recompensar as pessoas de acordo com seu bom desempenho, produtividade, antiguidade e qualificações.

Este novo pragmatismo viria a ser colocado em prática com a mecanização da agricultura, modernização da indústria pesada e reequipamento das forças armadas. Sempre que necessário e no contexto das disponibilidades orçamentárias, seriam comprados equipamentos e tecnologias do exterior, na forma de “turn-key”, com a aquisição de fábricas japonesas, aviões militares Harrier britânicos ou “offshore oil expertise” dos EUA e Europa.

Não se abandonava, contudo, o discurso adotado, desde a fundação da República Popular, no sentido de atribuir a influências burguesas externas crimes financeiros, corrupção e fenômenos sociais indesejáveis. Assim, enquanto programava novas políticas econômicas liberais, Pequim efetuava sucessivos expurgos de elementos prejudiciais ao partido e governo, promovendo o combate a infrações prontamente puníveis com julgamentos sumários e execuções públicas. Entendia-se que era necessário, naquela fase, atender a “sentimentos puritanos” de conservadores do PCC, eliminando-se, desta forma, os aspectos mais desagradáveis do processo de modernização.

Para os moradores em Pequim, naquele período, era comum testemunhar – como tive a infelicidade de compartilhar - na avenida principal, a passagem de caminhões militares, com condenados à morte, em direção ao estádio, onde seriam executados em grupos, com um tiro na nuca. É sabido que, em seguida, a família do “justiçado” recebia a conta pelo gasto governamental com a bala da arma utilizada.

Observadores mais prevenidos, no entanto, sentiam que a “correção ideológica” não era, naquele momento, a real prioridade dos dirigentes chineses. Tratava-se, sobretudo, de conter eventuais expectativas irrealistas de grande parte da população, que, como decorrência da abertura do país para o exterior, poderia imaginar que seria possível obter, rapidamente, o mesmo padrão de consumerismo já então vigente no Ocidente. A manutenção da disciplina, portanto, era essencial para preservar o ritmo lento de crescimento que o Partido Comunista ainda decidia impor.

Havia, de qualquer forma, pouca dúvida quanto ao fato de que, em longo prazo, a motivação pelo lucro viria a prevalecer sobre a burocracia lenta, ineficiente e quase sempre corrupta. Tal previsão, como se sabe, prevaleceu, com a adoção, ainda na década de 1990, do discurso sobre economia socialista de mercado.

Tal processo de transição causava incertezas. Havia condicionantes culturais milenares para tais expectativas. Segundo a concepção chinesa, para ser estável, a sociedade necessitava do comando de um “timoneiro” confiável, capaz de traçar um projeto nacional viável e coerente com a longa e rica história chinesa.

A este líder caberia garantir à população segurança, paz, governança eficiente – em suma uma moldura de governabilidade favorável ao progresso e prosperidade. Como reciprocidade, os governados lhe deveriam obediência, “como o bambu que se curva diante do vento” – isto é, ao governante justo é devida a total aceitação de sua autoridade.

Uma vez que o objetivo final da governabilidade era o contentamento e elevação moral do povo, Mencius[2] argumentava que, no caso de o líder falhar em seus deveres e obrigações, haveria justificativa para uma “revolução”.

Implícito neste sistema, encontrava-se o conceito de que, se o líder não cumprisse a missão de fornecer a esperada moldura de governabilidade e o tratamento benevolente de seu povo, teria prejudicado seu direito à lealdade dos governados. Segundo Mencius, sempre que pessoas chegam à posição de autoridade, existe a tendência de se tornarem corruptas, seja pelo anseio de glória ou busca de ganhos pessoais.

Fazia, então, a clara distinção entre o exercício do poder, em função da virtude do governante, e o emprego da força, como forma de obter obediência.

Lembra-se que, desde o início da civilização chinesa, há cerca de 4000 anos, nas margens do Rio Amarelo, seus pensadores procuraram estabelecer sistema de educação e ética dedicado a atingir o “Tao” [3] ou “Caminho do Meio”. Este seria uma estrutura social que refletiria o equilíbrio da natureza, onde se equivalem o “Yin” e o “Yang” [4]·.

Mais tarde, Confúcio e seus seguidores tentaram construir um ordenamento social que estabeleceria normas de conduta aos monarcas, no sentido de corresponderem a suas responsabilidades, perante seus súditos, enquanto imporiam aos governados o sentido da ordem das coisas, seus deveres e obrigações.

Confúcio escreveu: “Quando um governante exerce o poder de forma correta, ele terá influência sobre as pessoas, sem a necessidade de dar ordens. Quando o governante não age de forma correta, suas ordens não terão valor”.

O Confucionismo tem sido chamado de “a religião do li”. “Li” representa o conjunto de condutas apropriadas e a ordem social. Entre as qualidades essenciais no “Homem Superior”, a mais importante seria a “Ren” – benevolência e bondade.

Assim, uma sociedade confucionista visaria, seja a aceitação total de um dirigente, ou sua rejeição completa. Não haveria espaço, por exemplo, para o conceito ocidental de “loyal opposition”.

Qualquer membro da oposição, que reagisse por motivos honestos às políticas da autoridade no poder teria poucas opções: manifestar suas críticas, sendo imediatamente punido – por não corresponder ao tal preceito de obediência incondicional; registrar seu protesto e, em seguida, autopunir-se pelo “delito da discórdia”, talvez cometendo suicídio; ou retirar-se do convívio social e isolar-se como eremita, na floresta, com a esperança de tornar-se referência para outros descontentes, criando clima favorável para a derrubada da dinastia vigente e sua substituição por novos governantes.

Implícito em tal sistema encontrava-se o pressuposto de que o interesse pela estabilidade político-social deveria prevalecer sobre direitos individuais, tais como a liberdade de opinião ou o de expressá-las.

Em suma, era sob a égide do mesmo “mandato celestial” de sempre que Deng conduzia o processo de abertura da China ao exterior, enquanto, no plano interno, quebrava dogmas socialistas, em processo de instalação no país, a partir de 1949.

O autor teve a experiência pessoal de visitar, entre 1982 e 1985, algumas cidades costeiras que vinham adotando o novo sistema de “responsabilidade coletiva”. Isto é, até então os meios de produção e, principalmente, a terra eram de “propriedade coletiva”, e tudo o que fosse produzido seria entregue ao mercado público. Em troca, os indivíduos receberiam os bens, alimentos e serviços básicos para sua sobrevivência. Havia escassez, mas não se sofria miséria.

Foi possível ouvir narrativas, por exemplo, de que, durante o período da “Revolução Cultural”, cada pessoa receberia uma vestimenta – no estilo “traje de Mao”. Esta deveria durar nove anos. Durante os três primeiros, consideraria a roupa nova. Nos seguintes, como boa. Nos finais, adequada. Decorrido este prazo, novo conjunto de calça, jaqueta e chapéu lhe seria distribuído.

Com a nova prática – segundo o ensinado por membro de comunidade agrícola, durante um almoço ao qual o autor compareceu, em “fazenda modelo”, de cidade costeira da China – tudo continuaria a pertencer à coletividade e entregue ao mercado público. Pequena faixa de terra, no entanto, poderia ser cultivada individualmente e a produção vendida particularmente. Tal ganho poderia permitir ao camponês comprar sua própria ferramenta. Caso sua produtividade continuasse a aumentar, assim como sua renda, seria possível adquirir, por exemplo, uma segunda enxada. Em seguida, era necessário contratar alguém para operar o outro meio de produção.

 Introduz-se, assim, uma forma de relação de produção capitalista, com a exploração do trabalho de um indivíduo pelo outro. E, se este novo empresário vier a comprar grande número de ferramentas, veículos de transporte, lojas – não haveria, perguntei, uma organização de mercado monopolista?

Nesse ponto da conversa com o camponês, o representante da polícia ideológica, que vinha acompanhando o encontro intervém e declara que o governo da República Popular da China garantiria a manutenção de relações de produção e organização de mercado socialistas. Fim de caso. Cabia, então, cessar as perguntas e retornar à degustação do peixe – talvez o mais saboroso que digeri naquele país – com outras iguarias simples, mas bem-preparadas.

Era um processo de reformas, assim cuidadoso, sempre sob o controle de um sistema ainda centralmente planificado, que vinha sendo introduzido na China, na década de 1980. Sua implantação ocorria na agricultura e em versões industriais, nas áreas urbanas. Criavam-se empréstimos bancários e ações de empresas, com lucros sendo distribuídos aos operários.

Pensava-se, então, na gradativa descentralização do planejamento econômico. A planificação continuaria a vigorar nas áreas de infraestrutura e indústria pesada. Nos demais setores, haveria metas e linhas gerais. Fábricas se tornariam empresas independentes, com operários ganhando dividendos e gerentes decidindo, localmente, sobre onde obter matérias primas e a respeito de como e onde os produtos seriam vendidos e a qual preço.

A China, assim, buscava superar o ponto de equilíbrio estabelecido pelo princípio socialista, segundo o qual “de cada um de acordo com suas habilidades e a cada um de acordo com suas necessidades”, para novo paradigma – que, segundo a tradição confucionista deveria visar a estabilidade social. Este, contudo, deveria explorar a ganância e desejo por consumo de sua população.

Segundo especialistas no assunto, Mao não teria sido um líder na tradição de Confúcio. Pois – conforme descrito acima – não abraçou as normas ditadas pela “li”, que estabelecem a conduta adequada à ordem social. Teria agido no estilo de um “Macaco Rei”, liberando forças de “luan” (desordem e rebelião) para mobilizar a população e manter-se no poder. Assim, na essência do pensamento maoista se encontrava a rejeição à concepção confucionista de estabilidade. O progresso, para Mao, só poderia ser obtido pela luta contínua e permanente.

Deng Xiaoping, no entanto, personificou o retorno da China à tradição confucionista. No sentido de que caberia ao líder benevolente buscar o caminho certo para a estabilidade, segurança e o estabelecimento de forma de governança que favorecesse o progresso.

Uma das maiores conquistas de Confúcio foi a criação de um sistema educacional e de seleção por exames, aberto a todos, que veio a celebrar, na China, a figura do “acadêmico” e a classe dos “mandarins”.

Durante o período maoista, os “acadêmicos” foram considerados “parasitas”. Com a subida de Deng ao poder, o conhecimento voltou a ser valorizado. Tratava-se, agora, de encorajar a educação, incentivando especialistas, tecnocratas e gerentes com recompensas materiais, enquanto se retornava a valores tradicionais confucionistas.

Resta desejar que, com sua ascensão crescente, a RPC não busque exportar também, por seus “cinturões e rotas”, as atuais formas de governança. Em artigos próximos procurarei analisar as relações históricas do “Império do Centro” com seu entorno mais próximo, no Sudeste Asiático.

 

[1] Lew, Roland. “Mao prend le Pouvoir”. Éditions Complexe 1981.

[2] Mencius. 372-289 AC. Foi o segundo maior filósofo chinês, após Confúcio. Teve reconhecida sua teoria sobre a natureza humana, segundo a qual todos os homens possuem bondade inata, que pode ser desenvolvida pela educação e a autodisciplina, ou desperdiçada por negligência ou influências negativas, mas nunca totalmente perdida.

[3] Tao é um conceito elaborado na filosofia chinesa antiga. Significa “caminho”, ou, em certos contextos “doutrina” ou “princípios”. Pode também significar a verdadeira natureza do mundo.

[4] Na filosofia chinesa, Yin e Yang são utilizados para descrever como forças, aparentemente opostas, podem estar interconectadas e serem interdependentes em diferentes aspectos da natureza, enquanto se revezam, de forma cíclica.

 

 

segunda-feira, 4 de novembro de 2024

The Next World War Starts Here (Japan, China, Koreas) - Matthew Kaminski (Politico)

 The Next World War Starts Here

An aggressive China and Russia’s war on Ukraine brought South Korea and Japan closer — with lots of American help. Keeping them together to deter Beijing will be one of the most important foreign policy tasks for Harris or Trump.

SEOUL — East Asia is the most serious threat to world peace. An eruption here is hotter and bigger than anything the Middle East or Europe would conceivably produce.

The Biden administration leaves behind a strong diplomatic legacy in Asia, in contrast to its failure in Afghanistan and mixed record in Ukraine and the Middle East. It built webs of security alliances across the region to deter China and forged what has proved elusive for decades — a rapprochement, if not warm friendship, between historical foes and America’s closest Asian allies, South Korea and Japan.

Huge challenges loom for Joe Biden’s successor here. The scale of the forces lining up against each other in the northern Pacific is terrifying. China is forging a deeper alliance of American adversaries in North Korea and Russia, making threats against Taiwan and staking stronger claims on territory in the South China Sea. America’s actions in other geopolitical theaters — above all Ukraine — will reverberate in East Asia.

As strange as it might seem in this moment, the next U.S. administration’s strategy is hamstrung by some old history. Japan and South Korea — which have powerful militaries, and in Japan’s case one that’s recently embarked on a major buildup — are haunted by long-running disputes from the previous century that make their entente feel fragile. It’s an open question whether it can last, even as the threats that are pulling them together grow more serious.

Over the hills that ring Seoul lies the most heavily militarized region in the world. The DMZ separates this vibrant capital from a nuclear-armed hermit state ruled by an unpredictable autocrat that weighs heavily on Korean minds.

The view from Tokyo, a quick flight across the Sea of Japan, is as unreassuring these days.

Russian military planes are breaching the country’s northwestern coastal airspace repeatedly, a reminder that Tokyo and Moscow have an unresolved, nearly 80-year-old territorial dispute over the Kuril Islands that leaves them technically in a state of war. China disputes Japan’s claim over the Senkaku Islands in the south. In the first ever known incursion, Chinese military aircraft flew through Japanese airspace in August. Chinese and Russian military ships together passed near Japanese waters in September during a joint exercise. North Korea openly considers Japan a foe and occasionally sends a missile over the country.

“Japan is now facing off against North Korea, Russia and China and that makes for a severe security environment,” Minoru Kihara, Japan’s defense minister until the government changed last month, told me in an interview in Tokyo. “We feel a strong sense of crisis considering that such incidents took place in a short period of time.”

The war in Ukraine shifted plates in Asia. After Vladimir Putin launched the invasion, Xi Jinping backed him strongly against a unified NATO — making that European conflict a test of China’s superpower ambitions. Japan is “paying close attention to China’s alliance with Russia,” Kihara added. Ukraine also brought Moscow and North Korea closer. Kim Jong Un sent thousands of his soldiers to fight there last month in return, presumably, for military technology and other goodies.

‘Drinking buddies’

The answer to this robust authoritarian axis à trois is the trilateral relationship with Seoul and Tokyo that Washington spent years trying to bring to life.

While both countries are protected by the U.S. through treaties going back over 70 years — and while both share common enemies — South Korea and Japan have long been estranged. During World War II, Japan occupied South Korea, enslaving Koreans to work in their factories and sexually service their soldiers. Japan has apologized and paid reparations to Koreans. But this remains an open nerve — and badly strained political and military ties.

During his time as the commodore of a squadron of guided missiles destroyers in the 1990s, retired Adm. Jim Stavridis recalled that during joint exercises the U.S. had to keep Japanese and South Korean vessels far away from each other — or “you’d get the on-the-sea version of ‘road rage’.” It is as if France and Germany had remained frosty after World War II. Under that scenario, Europe wouldn’t have NATO or the EU.

The Xi era in China changed Japanese attitudes about security. Ukraine is the more recent accelerant.

Prime Minister Fumio Kishida, who stepped down this autumn, elaborated a line used by his foreign minister — “First Ukraine, then Taiwan” — to suggest the war could come here: “Ukraine may be the East Asia of tomorrow.” Russia’s biggest supporter China is the one power today openly challenging the U.S.-led order, and the only one with the ability potentially to do so.

Japan responded by unveiling plans to double defense spending — from 1 percent of its GDP to 2 percent by 2027. The budget has already gone up more than 40 percent since 2022. Under its constitution, Japan can only defend itself and had neglected the military. A previous Japanese leader, Shinzo Abe, started to change things in the 2010s. Japan built out a formidable navy and added modern weaponry. By the time the current expansion plans are in place, Japan is expected to be the world’s third-largest spender on defense, after the U.S. and China. Germany, by contrast, is reversing plans to boost defense spending.

Even for all that spending, “China is outpacing Japan’s increase of defense budget and they have four times more than we do,” said Kihara, the former defense minister. “It is difficult for us to face China on our own.”

South Korea is an obvious ally for Japan. Kishida was open to closer relations, believing Japan needed friends to resist China. What made that possible was the presidential election in March of 2022, a month after the invasion of Ukraine, that brought Yoon Suk Yeol to the presidential palace in Seoul.


The left and right swap power every five or 10 years here. The left tends to seek reconciliation with North Korea and dislike Japan. A man of the right, Yoon brought more hawkish views and something else: a genuine affection for Japan going back to his father’s time studying and teaching there.

He had his first chance to meet Kishida at the Madrid NATO summit in July of that year. “Yoon hugged him,” recalled a former Korean official who was there. Kishida was taken aback. Yoon is outgoing, Kishida circumspect. “Asian leaders don’t do hugs, unless they are communists.”

From that awkward beginning came a relationship that this former official described as “drinking buddies.”

The U.S. had been looking for an opening like this for years. Kurt Campbell, the deputy secretary of State, pushed a rapprochement strategy from Washington. Dozens of trilateral meetings followed where the U.S. did “the thing that’s unusual for America — step back and let everyone else talk,” said Rahm Emanuel, America’s ambassador in Tokyo.

Little was straightforward. Korean and Japanese ministers rarely meet each other one-on-one. Korea’s defense minister hadn’t come to Tokyo for 15 years before this July. If the Japanese defense chief goes to Seoul next year, as planned, that would be the first time in nine years. The U.S. has to play mediator and counselor to both sides.

“History is history, brother,” Emanuel said. “It has a pull on emotions and it has a pull on psychology.

“The U.S. plays an important role in keeping the plates spinning,” he added.

When Japan was hosting the G7 summit in Hiroshima in May of 2023, Washington pressed to have Korea invited. During the meeting, Yoon and Kishida went together with their spouses to pay respects at a memorial to the Korean victims of the 1945 atomic bombing of the city. It was a first of sorts and created a lasting image.

The culmination of the courtship was the Camp David summit in August last year. Yoon, Kishida and Biden hailed a new era and announced various agreements, including on sharing data about missiles and a major exercise. “This is an all hands on deck moment in the region,” said a senior administration official in Washington, who asked for anonymity.

“When you have trust in us and in the president, you don’t do the bare minimum,” Emanuel said. “They went beyond their comfort zone. In a world consumed by war and grievance, history can catch up to the present and shape it. Camp David showed dialogue and diplomacy shaped the future.

“Now,” Emanuel continued, “the goal is to institutionalize it in the DNA of governments.”

‘Not allies’

The fact is this rapprochement is far from a done deal. Leaders in Seoul and Tokyo sound at best cautionary notes.

“I’m very pessimistic,” said a senior Japanese official who was granted anonymity to discuss the matter. The Koreans “swing from one extreme to the other.” Yoon’s opponents have called him a sellout to Japan, riding him hard on the rapprochement.

Another foreign ministry official in Tokyo recalled working visits to Seoul during the lead-up to the Camp David summit. “They would yell at us during negotiations over what happened in the war and when the meeting’s over, they say, ‘no hard feelings, let’s go out for drinks’,” this official said. “The next day they yell at us some more. It’s due to the domestic political pressure they’re under.”

In Korea, this issue isn’t purely a matter of partisan politics. Distrust crosses generations and goes deep.

While Korea has agreed to joint naval and aerial exercises, Japanese forces aren’t welcome on Korean soil. “We prefer to have them somewhere else,” deadpanned a senior Korean official.

Asked whether Japan was now an ally, this official paused and said, “Don’t think so. Partner is enough.”

The recurring pain points involve Korean demands for reparations and more apologies. The Japanese reply that these demands were settled already — and want to stay away from Korea’s messy internal politics.

Yes and no. Korea’s enthusiasm for the rapprochement may pass with President’s Yoon’s departure from office. Yet Japan’s own politics are tortured by history as well, which hinders its ability to build deeper relationships with Korea and other nations across Asia that fear China’s rise.

Japan’s 21st century awakening on defense contrasts with its former wartime ally in Germany. There is another contrast with Germany that is less complimentary. “The curious thing,” Ian Buruma wrote in his book Wages of Guilt: Memories of War in Germany and Japan, “much of what attracted [the] Japanese to Germany before the war — Prussian authoritarianism, romantic nationalism, pseudo-scientific racialism — had lingered in Japan while becoming distinctly unfashionable in Germany.”

No Japanese politician, Buruma continued, has “ever gone down on his knees, as Willy Brandt did in the old Warsaw ghetto, to apologize for historical crimes.”

The Liberal Democratic Party, which has ruled Japan for all but four years since 1955 and will almost certainly continue to despite losing its majority in the past weekend’s elections, has a vocal nationalist right wing. Many mornings outside LDP headquarters, trucks with loudspeakers and flags blare nationalist speeches.

These historical issues might have been settled long ago. The U.S. can share some blame, deciding, in order to get a peace deal done, to let the Japanese emperor stay as head of state but give up his divine right to rule. Japan’s military kept its flags and symbols. Germany was wiped clean of the Nazi regime and its vestiges.

“We didn’t really grow up,” said one foreign ministry official that I spoke to in Tokyo.

Yasukuni Shrine is a large complex in central Tokyo near the imperial palace. The shrine honors Japan’s war dead, among whom are 14 war criminals who committed atrocities in World War II. A large museum on the site treats Japan’s wartime histories with reverence. Models of a kamikaze plane and submarine are displayed. Exhibits for the last war suggest the Japanese were fighting Western imperialism in Asia. It’s as if a museum in Berlin displayed Nazi flags and honored Nazi leaders.

Whenever an LDP politician visits Yasukuni, Koreans and Chinese have an excuse to complain. Kihara, the defense minister, went on Aug. 15, the 79th anniversary of Japan’s surrender. He was unapologetic, saying that “those who had sacrificed should be given tribute” and that his own relatives worship there. “It is unfortunate that this has been politicized,” he said.

Just don’t call it Asian NATO

These two awkward neighbors need each other and America needs them to get along to marshal a credible response to the China-led threesome.

The security anxieties in the region are bound to grow. If Beijing acts on its threats and succeeds, the fall of Taiwan would be a huge economic and political blow to the U.S. It would also put the rest of Asia in play, so to speak. Add to that the reemergence of Russia in the region and the heightening of the North Korean threat. The war in Ukraine is sputtering along, and the outcome there might hang on what happens in the U.S. Tuesday.

The Biden diplomatic push of the past couple years in East Asia is intended to build out enough military muscle and overlapping alliances to create a kind of NATO for the region — with China in the role of the old Soviet Union. You just can’t call it NATO. The South Koreans and others don’t want to be formally allied with Japan. To be more like Germany, Japan would also become an equal partner to America and others.

The U.S. isn’t ready to reopen the postwar security deal that keeps Japan in a kind of arrested development. The current Prime Minister Shigeru Ishiba used to muse about an Asian NATO and reopening the status of forces agreement between the U.S. and Japan. He had to disavow the idea minutes after winning power in late September.

Those political issues are a distraction, U.S. officials say. In practical terms, however, a lot has already changed. The region is arming up, passing Europe in terms of defense expenditures a decade ago. As they spend more, Japan’s terrible demographics limit their ability to add manpower. The money is going to buy hundreds of American long-range Tomahawk missiles, integrated antimissile systems and unmanned defenses. Japan’s navy could be “the swing vote on effective deterrence” over Taiwan, said Matt Pottinger, deputy national security adviser in the Trump White House. Japan wants to develop weapons with the U.S. and train its troops there.

Earlier this year, the U.S. upgraded the commander of forces in Japan from a two-star to a three-star general officer and pledged to build a new command and control center — which Emanuel called “the largest change in our force structure” and “the most important thing we have done here in 60 years.”

Other baby steps are planned. The trio is talking about putting in place some institutional roots. Perhaps a secretariat for the trilateral relationship — that’s not exactly a second coming of NATO. 

The wartime history in East Asia feels far more alive and relevant to the future than in Europe. Beijing, naturally, exploits it. The Chinese government has managed to transfer animosity toward Japan to the next generation. A 10-year-old Japanese boy was stabbed to death in September while walking to school in Shanghai on the anniversary of Japan’s invasion of China, the latest in a string of attacks on Japanese in the country.

Beijing has another card to play against both South Korea and Japan. Both countries are deeply integrated with China economically, which Beijing has used to pressure them.

As much as the U.S. wants their friendship to build, Japan and South Korea will look primarily to Washington for reassurances about American power and its commitment to them individually.

“Beijing wants to send a signal that the U.S. is unable to support treaty allies in the region, and to send a signal to Taiwan, to portray us as hollow allies,” Pottinger said. “Xi has led himself into believing that America is in irrevocable decline and that China and its allies will paper the world in chaos.”


segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Economic crisis forcing China to adjust foreign policy - Ian Bremmer India Today

Economic crisis forcing China to adjust foreign policy: Ian Bremmer

Ian Bremmer explained why China is showing less willingness to engage in confrontational behaviour and is actively seeking to reduce tensions with key partners.

https://www.indiatoday.in/business/story/ian-bremmer-explains-why-china-economic-crisis-is-reshaping-its-foreign-policy-exclusive-2624350-2024-10-28

In Short

  • China's economy is facing its worst performance in decades
  • Provincial governments nearly bankrupt, real estate sector collapsing
  • Manufacturing overproduction causing global trade tensions

China is facing its worst economic performance in decades, pushing Beijing to adopt a more cooperative stance in international relations, global risk expert, political scientist and author Ian Bremmer said while speaking to Rahul Kanwal, News Director - Aajtak & India Today.

The world's second-largest economy is grappling with economic challenges. Provincial governments are essentially bankrupt, and the real estate sector, which accounts for about 30% of government revenue and 70% of consumer wealth, is in collapse.

 

Manufacturing remains the only bright spot in China's economy. However, this strength has become a double-edged sword. With domestic consumption weak, factories are overproducing, leading to political backlash from trading partners worldwide.

" I was just in Beijing uh a week ago and I'll tell you it's the worst economically I've seen the Chinese perform in decades. The leadership is aware of it," said Bremmer, president of Eurasia Group.

These economic pressures are reshaping China's foreign policy. Beijing is showing less willingness to engage in confrontational behaviour and is actively seeking to reduce tensions with key partners.

"This is a time when the Chinese are highly aware of not wanting confrontation geopolitically around the world. That's led to more engagement, um it's led to less willingness to be assertive and aggressive and respond with perceived slights with tit for tat. It's also absolutely the reason why Xi Jinping decided this was the time to reach out to India and to have a very successful bilateral," said Bremmer.

This shift was evident in the recent meeting between Chinese President Xi Jinping and Indian Prime Minister Narendra Modi, their first bilateral talks in about five years. While the meeting signals a thaw in relations, experts suggest this change might be temporary.

"I don't think the Chinese have changed their overall long-term strategy," Bremmer explains. "But for the near term... I think this isn't just a matter of a few months. I think this is probably a few years because China's problems are structural."

This economic situation has also influenced China's role in BRICS, the economic bloc that includes Brazil, Russia, India, China, and South Africa, which recently expanded to include four new members. The group is gaining importance as a platform for Global South cooperation, though member countries maintain varying relationships with Western nations.

Despite discussions about reducing dependency on the US dollar within BRICS, significant changes to the global financial system appear unlikely in the near term. The dollar's role in global trade remains largely unchanged since the 1990s, even as other currencies' relative strengths shift.

For Chinese leadership, the immediate priority appears to be stabilising the domestic economy rather than pursuing aggressive foreign policy objectives. This economic reality is forcing Beijing to adopt a more pragmatic approach to international relations, at least for the foreseeable future