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quarta-feira, 21 de maio de 2014

Caro leitor: que tal trabalhar apenas 30hs por semana, sem qualquer obrigacao ou controle?

Pois e' o que pretendem os funcionarios da UnB, que sequestraram a universidade inteira, impedem o acesso de professores e alunos, e chantageiam todo o sistema em favor de suas reivindicacoes abusivas.
Existe uma unica maneira de acabar com esse tipo de chantagem: acabar com a estabilidade e a tolerancia existente em relacao aos chantagistas do servico publico.
O Brasil se converteu numa grande ilha caotica, afastada do mundo real.
Paulo Roberto de Almeida

Técnicos em greve queimam pneus para fechar acesso à UnB

Grupo pede redução da jornada e repudia ponto eletrônico.
Na segunda, categoria já havia ocupado reitoria da universidade.

Do G1 DF
Bloqueio com pneus montado por técnicos-administrativos da UnB, que estão em greve há 66 dias (Foto: TV Globo/Reprodução)Bloqueio com pneus montado por técnicos-administrativos da UnB, que estão em greve há 66 dias (Foto: TV Globo/Reprodução)
Em greve há 66 dias, técnicos-administrativos queimaram pneus para fechar dois acessos à Universidade de Brasília pela via L3 Norte na manhã desta quarta-feira (21). O grupo reivindica redução da jornada de trabalho de 40 para 30 horas semanais, repudia a instalação do ponto eletrônico e pede o reconhecimento dos mestrados e doutorados feitos no exterior. De acordo com o Ministério do Planejamento, o acordo feito com a categoria vale até 2015 e não há previsão de uma nova proposta até lá.
Equipes do Corpo de Bombeiro estiveram no local para tentar negociar com os manifestantes e conter as chamas. A Polícia Militar também enviou equipe à pista para pedir ao grupo que libere o acesso. De acordo com a corporação, não houve registro de conflitos no local.
Os motoristas precisaram improvisar um retorno para poder chegar à universidade. As primeiras aulas começam às 8h. A pista também dá acesso ao Lago Norte.
A categoria já havia participado de um protesto na segunda, quando 200 trabalhadores ocuparam a reitoria da instituição. A UnB tem 2,5 mil técnicos-administrativos, trabalhando em áreas como a biblioteca, no decanato, no almoxarifado, na secretaria e na jardinagem.
A categoria entrou em greve no dia 17 de março, seguindo a mobilização nacional. Em todo o país são 180 mil trabalhadores e pensionistas, em 53 instituições federais. A paralisação foi aderida por 39 universidades.

domingo, 17 de junho de 2012

O brejo acadêmico: quanto pior melhor? - Editorial Estadao

A universidade brasileira, sobretudo as federais, estão indo para o brejo há muito tempo, sobretudo em termos de qualidade, embora muitos podem discordar de minha opinião. Eu apenas me baseio no que vejo na área de Humanas, o que há de mais próximo do sindicalismo exacerbado que também contribui para mandar a universidade para o brejo. Minha previsão seria a de uma decadência bem clamorosa, para ver se, com uma supercrise, se poderia pensar em reformar esse monstro sem controle. Mas sou pessimista...
PRA

Impasse nas federais

Editorial O Estado de S.Paulo, 17 de junho de 2012 | 3h 05
A greve das universidades federais, que paralisa as atividades de graduação e pós-graduação de 55 das 59 instituições de ensino superior da União, completa o primeiro mês com um impasse e um incidente.
O impasse foi causado pelo fracasso da última reunião entre representantes do Sindicato Nacional dos Docentes do Ensino Superior (Andes) e da Secretaria de Relações do Trabalho do Ministério do Planejamento, realizada em Brasília. Depois de mais de três horas de discussões, o governo pediu uma trégua de 20 dias para apresentar um novo projeto de carreira para os professores, mas a proposta foi rejeitada. O governo quer adotar um plano de cargos e salários semelhante ao dos servidores da área de ciência e tecnologia e tem pressa em chegar a um acordo. O Palácio do Planalto teme que a greve se espalhe para outros setores do funcionalismo público, justamente num ano eleitoral. Os grevistas, contudo, acusam os Ministérios do Planejamento e da Educação (MEC) de insistir em diretrizes que já foram recusadas pelo Andes há pelo menos um ano e meio.
Já o incidente ocorreu no câmpus de Guarulhos da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Protestando contra a superlotação das salas de aula e a falta de um mínimo de infraestrutura, os estudantes invadiram as dependências da diretoria acadêmica e 26 foram presos, depois de um confronto com a Polícia Militar (PM). Eles foram levados à sede da Polícia Federal e indiciados pelos crimes de dano ao patrimônio e constrangimento ilegal.
Os líderes estudantis acusam os dirigentes da Unifesp de terem chamado a tropa de choque. Mas, vinculados ao PT e não querendo criar problemas políticos para o ex-ministro Fernando Haddad, candidato do partido à Prefeitura de São Paulo, os dirigentes alegaram que a PM teria ido ao câmpus de Guarulhos por "conta própria". A informação foi desmentida pela PM. Segundo o alto comando, foi o setor de segurança da Unifesp que pediu providências para preservar o patrimônio da instituição. Uma semana antes, os dirigentes da Unifesp haviam pedido à Justiça que convocasse a PM para promover a reintegração de posse, autorizada pela Justiça, das dependências da diretoria acadêmica em Guarulhos.
Os professores das universidades federais têm duas reivindicações. A primeira é a exigência de um novo plano de carreira docente. A segunda reivindicação está diretamente atrelada aos seis anos em que Haddad esteve à frente do MEC. Durante sua gestão, foram criadas 14 novas universidades e autorizada a ampliação de muitos campi já existentes. A expansão da rede federal de ensino superior foi uma das bandeiras da campanha eleitoral de Lula e de sua candidata, Dilma Rousseff, no pleito de 2010.
O problema é que quase todas as universidades inauguradas com muita pompa e comício, por Haddad e Lula, estão ocas até hoje. "As condições de trabalho não acompanharam a expansão. Faltam bibliotecas, prédios, professores em número adequado. O ambiente de aprendizado está com prometido", afirma Marina Barbosa, presidente do Andes - entidade que durante anos esteve sob o controle do PT. Esse também é o entendimento dos especialistas em educação. "A política de expansão acelerada não obedeceu a nenhuma avaliação cuidadosa sobre prioridades, abrindo instituições onde não havia demanda, admitindo alunos antes de existirem edifícios e instalações adequadas, forçando as universidades a criar cursos noturnos e contratar mais professores, mesmo quando não havia candidatos qualificados, e sem preparar as universidades para lidar com alunos que chegavam do ensino médio cada vez menos preparados", diz Simon Schwartzman, do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade.
A última greve dos professores foi em 2005, ano em que começou a expansão da rede de universidades federais. Sete anos depois, o setor está em crise e não há sinais de que será uma crise de breve duração. Pelo contrário, os docentes acabam de receber o apoio dos técnicos da educação federal - uma categoria que cruzou os braços por mais de cem dias, em 2011.

sábado, 16 de junho de 2012

Universidades brasileiras: refens do sindicalismo exacerbado

Este é apenas um dos problemas da universidade brasileira, e não dos mais graves.
O sindicalismo político, exacerbado, corporativo, em algumas unidades quase mafioso, pelas seitas políticas ultra-minoritárias e ultra-radicais que dominam os aparelhos sindicais dessas unidades, está contribuindo, isto é evidente, para a deterioração das condições de ensino no ciclo superior do Brasil
Mas esta é talvez apenas a superfície de um problema mais grave: a deterioração qualitativa do conteúdo mesmo do ensino.
Pelo que constato, por crescente número de propostas de artigos da minha área destinados a publicação, e que tenho de, como parecerista, rejeitar por falta absoluta de qualificação (seja simplesmente pelo Português deficiente, seja ainda pela falta de lógica elementar nos argumentos, seja, o que é mais grave, pelo desconhecimento total do objeto do artigo), só posso chegar à conclusão de que nosso ciclo superior está se aproximando dos padrões lamentáveis que sabemos existir nos ciclos precedentes das instituições públicas.
O grevismo inconsequente é apenas o reflexo de tudo isso.
O Brasil vai pagar muito caro pela republiqueta sindical que foi criada nos últimos dez anos...
Paulo Roberto de Almeida 

Alunos em aula na UnB lamentam greve

Poucos estudantes que continuam indo às aulas apoiam professores que mantêm atividade e acham que serão prejudicados

Priscilla Borges - iG Brasília  - Atualizada às 
Quem chega à Universidade de Brasília (UnB) percebe logo os reflexos da greve: estacionamentos com mais vagas disponíveis, corredores vazios, salas sem atividade. Apenas pequenos grupos se dividem entre papos nos jardins ou em algumas turmas ainda em aula.
Os poucos estudantes se sentem prejudicados pela paralisação parcial dos professores. Têm poucas aulas, em horários e dias intercalados, e sabem que, quando todos voltarem à ativa, continuarão frequentando a universidade, para repor o restante das aulas.
Priscilla Borges
Corredores vazios na UnB. Universidade aderiu à greve dos professores federais
“Por causa de uma aula, temos de continuar vindo. Melhor seria não ter aula nenhuma. Nós, que somos de fora, não podemos ver a família agora e nem em julho”, reclama Daniel Barretto, 18 anos, que é de Salvador (BA), falando em nome dos colegas.
Do grupo de sete universitários que conversava após uma aula no Minhocão (prédio principal da UnB), todos calouros do curso de Relações Internacionais, quatro vieram de longe para estudar atraídos pela fama da graduação, a mais antiga do País na área. Agora, sentem-se frustrados.
Além de Daniel, Maria Fernanda Lopes, 19 anos, Laís Sachs, 18, e Anaïs Ferreira, 18, também deixaram as famílias em Minas Gerais, São Paulo e Piauí para estudar. “O Brasil faz o inverso do que deveria fazer uma potência econômica: não investe na qualidade da educação, não valoriza os professores”, protesta Laís.
Isabela Nunes, 19 anos, acredita que a qualidade de ensino não está entre as prioridades nem de professores, nem de servidores. “É a última coisa que estão se importando”, desabafa. Para ela e os amigos, a reposição dos conteúdos será feita de qualquer jeito.
Quem insiste em dar aulas o faz por convicção. Como os grevistas, que deixaram as salas de aulas desde 21 de maio. Uma professora de Ciência da Computação, que prefere não se identificar com medo de represálias, diz que “não se sente bem fazendo greve”.
Ela diz que concorda com as reivindicações dos professores, mas não com os “meios”. “Greve é horrível. Essa interrupção não é boa para o processo de aprendizagem dos alunos. Não consigo parar pelo meu compromisso com eles”, afirma.
Direito ou dever?
A professora, assim como outros que continuam as atividades acadêmicas, sentiu-se coagida a paralisar as atividades nos últimos dias. No dia 31 de maio, o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) suspendeu o calendário acadêmico, reconhecendo a greve.
Priscilla Borges
Alunos calouros de Relações Internacionais lamentam começar o curso com greves

Com isso, as discussões sobre o direito à reposição das aulas foram acalouradas. A resolução nº 138/2012, que suspende o calendário, não detalha a reposição. O tema foi debatido na reunião e colocado em ata, que ainda precisa ser aprovada na próxima quinta-feira.
Priscilla Borges
Vanessa, Alexandre, Thaís e André acreditam que a greve é um direito dos professores, mas acham que a paralisação atrapalha a aprendizagem
De acordo com o decano de Ensino de Graduação, José Américo Garcia, a definição é que “os professores que estão ministrando aulas precisam saber que será necessário repor as aulas, já que muitos estudantes não estão em aula (há uma greve estudantil na UnB)”.
Em tese, isso significa que quem continua dando aulas terá de repor, quando todos voltarem às atividades normais, as mesmas aulas a um ou outro aluno que decidiu fazer greve também. Para professores e alunos, a decisão fere o direito de quem não concorda com a paralisação.
“Greve é um direito e não um dever. Eu ia parar de dar aulas, mas agora desisti. Não posso ser obrigado a isso”, ressalta Antônio Luciano, professor do Instituto de Física. Ele discorda dos critérios do plano de carreira proposto pelos grevistas e acredita que a greve mais prejudica do que ajuda a universidade. “Todos perdem o ânimo com tanta greve”, diz.
Alunos e professores contam que a maioria dos docentes só parou as atividades após essa decisão do Cepe. Alexandre Cruz, 18, e Vanessa Alves, 19, não acham justo que o professor tenha de repor as aulas para quem optou por não frequentar as aulas.
“O professor parar ou não é uma opção dele. Não acho que seja do aluno”, pondera Vanessa. Muitos, no entanto, com medo de que os alunos faltassem e tivessem trabalhado dobrado, desistiram de continuar dando aulas.
O decano de Ensino de Graduação afirma que, além de a decisão ainda precisar de aprovação do Cepe, uma comissão foi designada para avaliar os casos. “Quem continua dando aula é porque tem excelente adesão dos estudantes. Casos específicos serão avaliados”, garante.
Marcelo Hermes, professor do Instituto de Biologia lidera um grupo que decidiu procurar a Justiça para garantir o direito de quem não quer parar as atividades. Primeiro, eles entraram com um pedido de interpelação à universidade. Querem entender melhor a decisão do Cepe. Se preciso, continuarão com as ações judiciais. “A maioria dos professores parou depois disso. Estão querendo nos forçar a entrar em greve”, protesta.

domingo, 10 de junho de 2012

A tragedia educacional brasileira: piorando em todos os níveis, do pre ao pos - Simon Schwartzman

Um artigo do conhecido especialista em educação, precedido de um comentário pessoal de meu amigo Mauricio Dias David: 



Simon Schwartzman é um dos mais respeitados sociólogos brasileiros. E um grande especialista em educação. Esteve também um período à frente do IBGE, nos anos 90. Tudo o que o Simon escreve merece uma reflexão atenta. Faz alguns anos, em um almoço em uma tarde de sábado na casa da Ana Célia e do Antonio de Barros Castro, em Itaipava, êle me comentou a sua receita para o sucesso da sua administração à frente do IBGE : " agi como uma rainha da Inglaterra, constituí uma boa diretoria de técnicos e procurava interferir o mais mínimo possível na administração da instituição". Adequados preceitos, cuja sabedoria se ressalta ainda mais em uma época de administrações intervencionistas em que o "professor" tal ou qual ( fico indignado quando tal qualificativo é usado fora do seu contexto de homem dedicado à propagação do saber...) é glorificado por muitos por ficar apontando "campeões nacionais" aqui e acolá... Mas voltando ao texto do Simon, sua leitura é proveitosa e incita à reflexão. Mas as suas conclusões são assustadoras ( pelo menos para quem se preocupa com o futuro da educação pública no Brasil) : " o mais provável é que as universidades federais continuem a se esgarçar, com greves sucessivas e piora nas condições de trabalho dos professores e de estudo para os alunos, abrindo espaço para que o setor privado ocupe cada vez mais o segmento de educação superior de qualidade, como ocorreu no passado com o ensino médio.". Previsões assustadoras e ameaçadoras, justamente no momento em que o nosso País vive jornadas cruciais para a definição do papel da educação, da pesquisa e da inovação na definição do futuro que nos será permitido construir...
Mauricio Dias David

Posted: 09 Jun 2012 03:25 PM PDT
A greve das universidades federais não é um evento isolado, mas parte de um processo que, infelizmente, tem tudo para acabar mal. Para entender, é importante lembrar que, diferentemente da maioria dos outros países da América Latina, o Brasil nunca teve grandes universidades nacionais abertas para todos que concluem o ensino médio, e optou, desde o início, por universidades seletivas, abrindo espaço para o crescimento cada vez maior do ensino superior privado, que, com seus cursos noturnos, de baixo custo e sem vestibulares difíceis, acabou atendendo à grande demanda por ensino superior de pessoas mais pobres e sem condições passar nos vestibulares e estudar de dia, que o setor público não atendia. Hoje, apesar do esforço do governo federal em aumentar a matrícula em suas universidades, 75% dos estudantes estão do setor privado.
Com um setor público pequeno e seletivo, as universidades brasileiras conseguiram criar um corpo de professores de tempo integral e dedicação exclusiva, desenvolver a pós-graduação e criar muitos cursos de qualidade, coisas que quase nenhum outro país da região conseguiu. Mas, como parte do serviço público, elas possuem um sistema homogêneo de contratos de trabalho, regras e promoção de professores e programas de ensino que não tomam em conta o fato de que elas são, na verdade, muito diferentes entre si – algumas têm programas de qualidade de graduação e pós-graduação em áreas dispendiosas como engenharia e medicina e fazem pesquisas relevantes, enquanto outras simplesmente copiam os modelos organizacionais, as regras de funcionamento e os custos das primeiras, com muito pouco de sua cultura institucional e conteúdos. Com a generalização dos contratos de tempo integral e a estabilidade dos professores, os custos subiram, sem mecanismos para controlar a qualidade e o uso adequado de recursos, que variam imensamente de um lugar para outro, independentemente de resultados.
Na década de 90, com Paulo Renato de Souza como Ministro da Educação, houve algumas tentativas de colocar esta situação sob controle, introduzindo um sistema de avaliação de resultados (o provão), vinculando parte do salario dos professores ao número de aulas dadas, e tentando introduzir legislação dando às universidades autonomia não somente para gastar, mas também para assumir a responsabilidade pelo uso eficiente dos recursos públicos através de orçamentos globais, e tentando fazer valer a prerrogativa do governo federal de escolher reitores a partir das listas tríplices selecionadas pelas universidades. Estas políticas encontraram grande resistência, os orçamentos globais nunca foram instituídos, o “provão” na prática só afetou alguns segmentos do setor privado, e o conflito entre as universidades e o governo no episódio da nomeação do reitor da UFRJ, em um tempo em que os salários não aumentavam, mobilizou grande parte dos professores, alunos e administradores das universidades federais contra o Ministério da Educação e o governo Fernando Henrique Cardoso.
Nos primeiros anos do governo Lula as relações das universidades federais com o governo passaram por um período de lua de mel: tudo era concedido, e nada era cobrado. A gratificação de docência foi incorporada aos salários, que passaram a crescer graças à melhora da economia e do aumento geral dos gastos públicos; o “provão” foi substituído por um pretencioso sistema de avaliação, o SINAES, que demorou em se organizar e continuou sem afetar as instituições federais; e a nomeação dos reitores eleitos internamente pelas universidades se transformou em regra. Para atender à demanda crescente por educação superior, o governo comprou vagas no setor privado com o Prouni, em troca de isenção de impostos, aumentando cada vez mais a proporção de estudantes no setor privado. Ao mesmo tempo, o governo iniciava uma política de expansão do acesso às instituições federais, primeiro com a introdução de cotas raciais e sociais, depois com a criação de novas instituições e a abertura de novas sedes das universidades existentes, e finalmente com o programa Reuni que, em troca de mais recursos, exigiu que as universidades federais praticamente duplicassem o número de vagas abrindo novos cursos, sobretudo noturnos, e aumentassem o número de aulas dadas por professor. Ao mesmo tempo, os antigos centros federais de educação tecnológica, os CEFETs, foram transformados em Institutos Federais de Tecnologia e equiparados às universidades em termos de custos e prerrogativas. Segundo dados do INEP, o gasto por aluno do governo federal passou de 9 mil reais ao ano em 2001 para 18 mil em 2010, acompanhando a inflação. Como o número de alunos do sistema federal duplicou nestes dez anos, devendo estar hoje em cerca de um milhão, os custos do sistema aumentaram na mesma proporção em termos reais, embora o número de formados tenha aumentado pouco. Só o programa REUNI custou 4 bilhões de reais, metade para investimentos e outra metade que passou a se incorporar ao orçamento das universidades federais.
Esta política de expansão acelerada não obedeceu a nenhum plano ou avaliação cuidadosa sobre prioridades, abrindo instituições aonde não havia demanda, admitindo alunos antes de existirem os edifícios e instalações adequadas, forçando as universidades a criar cursos noturnos e contratar mais professores mesmo quando não haviam candidatos qualificados, e sobretudo sem preparar as universidades para lidar com alunos que chegavam do ensino médio cada vez menos preparados. Ao mesmo tempo, a necessidade de contenção de gastos do governo Dilma tornou impossível atender às expectativas de aumento salarial dos professores, gerando um clima generalizado de insatisfação revelado pela greve.
É possível que a greve leve a algumas concessões salariais por parte do governo federal, como costuma acontecer, mas o efeito mais visível deste tipo de movimento é o de prejudicar os estudantes e professores mais comprometidos com o estudo e pesquisa, levando à desmoralização das instituições, sem que as questões de fundo sejam tocadas. A principal questão de fundo é a impossibilidade de o setor público continuar se expandindo e aumentando seus custos sem modificar profundamente seus objetivos e formas de atuação, diferenciando as instituições dedicadas à pesquisa, à pós-graduação e ao ensino superior de alta qualidade, que são necessariamente mais caras e centradas em sistema de mérito, das instituições dedicadas ao ensino de massas em carreiras menos exigentes, que é onde o setor privado atua com custos muito menores e qualidade pelo menos equivalente. Esta é uma tese que provoca enorme reação nas instituições federais e os sindicatos docentes, que querem sempre continuar iguais e niveladas por cima em seus direitos, embora esta nivelação não exista em relação aos resultados. Mas a conta, simplesmente, não fecha.
Uma diferenciação efetiva exigiria limitar os contratos de trabalho de tempo integral e dedicação exclusiva às instituições que consigam demonstrar excelência em pesquisa, pós-graduação e formação profissional; introduzir novas tecnologias de ensino de massas e à distancia, aumentando fortemente o número de alunos por professor; e criar mecanismos efetivos que estimulem as instituições a definir seus objetivos, trabalhar para eles, e receber recursos na proporção de seus resultados. Um exemplo do que poderia ser feito é o processo de Bologna que está ocorrendo na Europa, que cria um primeiro estágio de educação de superior de massas de três anos, com muitas opções, e depois as instituições se especializam em oferecer cursos avançados de tipo profissional e científico conforme sua vocação e competência. É necessário, também, criar condições e estimular as instituições federais a buscar recursos próprios, inclusive cobrando anuidades dos alunos que podem pagar. Esta diferenciação exigiria que as universidades federais fossem muito mais autônomas e responsaveis pelos seus resultados do que são hoje, sobretudo na gestão de seus recursos humanos e financeiros, o que se torna impraticável quando os salários dos professores são negociados diretamente entre os sindicatos e o Ministério da Educação e as tentativas de diferenciar benefícios e financiamento em função do desempenho são sistematicamente combatidas.
Se nada disto for feito, o mais provável é que as universidades federais continuem a se esgarçar, com greves sucessivas e piora nas condições de trabalho dos professores e de estudo para os alunos, abrindo espaço para que o setor privado ocupe cada vez mais o segmento de educação superior de qualidade, como ocorreu no passado com o ensino médio.
(Simon Schwartzman)