Mostrando postagens com marcador lições da história. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador lições da história. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 28 de julho de 2025

Crise de 2008 e tarifaço de 2025: lições da história - Felipe Salto e Roberto Giannetti da Fonseca (FSP)

 Crise de 2008 e tarifaço de 2025: lições da história

Felipe Salto e Roberto Giannetti da Fonseca*
Colunista do UOL
FSP, 28/07/2025

A tarifa de 50% que se anuncia sobre as exportações brasileiras para os Estados Unidos coloca em risco a liquidez financeira de milhares de empresas exportadoras brasileiras de diversos setores da economia. O financiamento à exportação é um instrumento fundamental para garantir a liquidez destas empresas que empregam direta e indiretamente milhões de brasileiros. A boa situação do balanço de pagamentos do Brasil, notadamente, o elevado nível de reservas, dá suporte à tempestiva construção de boas estratégias para preservar as empresas exportadoras e seus empregos.
Os chamados Adiantamentos de Contratos de Câmbio (ACC) permitem antecipar receitas de vendas externas, garantindo às empresas exportadoras capital de giro para sustentar seus processos produtivos e compromissos que estão para vencer.
Na crise financeira de 2008, a maior desde 1929, o Banco Central atuou para ampliar a oferta de crédito aos exportadores brasileiros através deste canal. As instituições financeiras brasileiras tiveram acesso a um maior volume de dólares no mercado interbancário, a partir de leilões de reservas internacionais promovidos pelo Banco Central do Brasil com direito de recompra.
O Banco Central usa esse mecanismo para guarnecer o sistema financeiro. Para ter claro, o exportador firma um contrato de câmbio com o banco, a uma taxa (R$/US$) predeterminada, comprometendo-se a exportar bens no valor equivalente ao valor financiado e a saldar a dívida no prazo máximo de 180 dias a partir da entrada dos recursos oriundos das exportações.
O papel da autoridade monetária, por sua vez, não é o de emprestar diretamente às empresas, mas sim neste caso específico de oferecer maior liquidez às instituições financeiras, por meio de leilões, tendo como lastro os contratos de ACC. Ao realizar os leilões de reservas internacionais, o Banco Central promove a liquidez necessária para que os bancos brasileiros estendam o prazo de vencimento dos ACC que estão para vencer para os exportadores de 180 para 360 dias, de uma forma inteligente e com baixo custo.
Neste momento, às vésperas do início da nova política tarifária dos EUA em relação ao Brasil, crescem os riscos de problemas de financeiros para as empresas exportadoras brasileiras, cujo capital de giro vai ficar impactado nos estoques de produtos finais e de matérias-primas na cadeia produtiva afetada. Essas empresas em breve poderão estar inadimplentes junto aos bancos e fornecedores, atrasando salários e o recolhimento de tributos, e até demitindo em massa seus funcionários. O alongamento de prazos, o refinanciamento e o aumento da oferta de ACC podem pavimentar um caminho natural e seguro, dando fôlego a estas empresas até que se possível resolva-se satisfatoriamente este imbróglio tarifário. A exemplo do que já se fez em 2008 em crise de liquidez internacional, caberá ao Banco Central atuar novamente através desse mecanismo.
Segundo a Tabela 13 ("Movimento de Câmbio Contratado") da base de "Indicadores Econômicos Selecionados" do Banco Central, os ACC corresponderam a US$ 33,2 bilhões em 2024. A média anual para o período 2014-2023 foi de US$ 31,6 bilhões. De 1º de janeiro a 18 de julho de 2025, foram US$ 18,3 bilhões.
As intervenções da autoridade monetária no mercado de câmbio por meio de linhas com recompra totalizaram US$ 15 bilhões em 2024. Em 2025, até o dia 18 de julho, US$ 100 milhões, liquidamente. O nível de reservas internacionais, por sua vez, está em US$ 345,7 bilhões, conforme posição coletada na mesma data.
A saber, as reservas haviam diminuído de US$ 355 bilhões para US$ 329,7 bilhões, entre 2023 e 2024, sobretudo pelos movimentos ocorridos no final do ano passado. A necessidade de maior intervenção no mercado de câmbio deu-se pela volatilidade do dólar associada ao quadro externo e, em menor grau, às apreensões quanto à política fiscal doméstica.
Em qualquer métrica adotada, da menos à mais conservadora, esse patamar de reservas internacionais exibido pelo Brasil é considerado relativamente elevado. Ele é suficiente para sustentar, por exemplo, quase 16 meses de importações, se tomarmos os dados fechados de 2024, quando o país importou US$ 262,4 bilhões.
É preciso reconhecer que houve uma piora rápida do déficit em transações correntes, de US$ 17,6 bilhões para US$ 32,8 bilhões, entre o primeiro semestre de 2024 e o mesmo período do ano corrente, reflexo do aumento de importações. Mas os investimentos externos diretos seguem robustos. Passaram de US$ 37,8 bilhões para US$ 33,8 bilhões no mesmo período. Ainda cobrem, como se vê, todo o déficit externo.
Esse quadro geral das contas externas avaliza uma atuação precisa, intensa e bem calibrada da autoridade monetária para guarnecer o mercado e sustentar o financiamento aos exportadores. Independentemente dos desdobramentos do novo tarifaço, esse mecanismo precisa estar pronto para ser acionado a qualquer momento.
As negociações entre brasileiros e americanos começaram bem. A combinação de grupos importantes e representativos do empresariado com a eficiente diplomacia permanente do Itamaraty e a liderança do ministro e vice-presidente Geraldo Alckmin poderá render bons frutos. Não será rápido, vale dizer, mas nos parece inescapável.
Nossos maiores aliados são os empresários e os consumidores americanos. A falta de produtos de boa qualidade aos quais estão habituados, o aumento repentino dos preços e a perda de bem-estar vão pressionar o governo americano ao diálogo com o Brasil.
Até lá, entendemos que não há pacote fiscal ou socorro a empresas brasileiras a ser precipitadamente engendrado. Cabe destacar que não se trata de subsidiar as exportações brasileiras por qualquer outro mecanismo, já que não se trata de caso de competitividade sistêmica, mas sim de liquidez financeira temporária. Ademais, não há qualquer espaço para isso. A mais óbvia atuação do poder público deve partir do Banco Central, na linha proposta neste artigo, amparado nos técnicos da instituição e à luz da exitosa experiência de 2008, guardadas as proporções.

*Roberto Giannetti da Fonseca, economista e empresário, ex-Secretário Executivo da CAMEX (governo FHC)

quinta-feira, 26 de outubro de 2023

Globalização e poder militar: lições da história - Democracia e supremacia no sistema internacional (2004) - Paulo Roberto de Almeida

 Um texto que serviu para uma palestra no Uniceub, mas que nunca tinha sido divulgado.

1309. “Globalização e poder militar: lições da história: Democracia e supremacia no sistema internacional”, Brasília, 3 ago. 2004, 14 p. Texto-suporte, elaborado com base no trabalho 1296, para palestra na semana de história do Centro Universitário de Brasília, Uniceub, em 25/08/2004. Disponibilizado na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/108622467/1309_Globalização_e_poder_militar_lições_da_história_Democracia_e_supremacia_no_sistema_internacional_2004_).


Globalização e poder militar: lições da história

Democracia e supremacia no sistema internacional

 

 

Paulo Roberto de Almeida

Texto-suporte para palestra na semana de história do

Centro Universitário de Brasília, Uniceub

(Brasília, 25 de agosto de 2004)

Sumário: 

1. Do direito da força à força (ainda incipiente) do direito

2. O fim do sistema de Vestfália?

3. A democratização do poder mundial é possível ou realizável?

4. O sistema internacional é igualitário, democrático, eficiente?

5. A igualdade de direito, a desigualdade de fato

6. O novo império e a supremacia universal: estabilidade hegemônica ou novo ciclo?

 

 

1. Do direito da força à força (ainda incipiente) do direito

Depois de uma primeira metade marcada por terríveis guerras que dizimaram milhões de pessoas em várias partes do mundo, o século XX assistiu, em sua segunda metade, à conformação de uma nova ordem internacional fundada antes no direito do que na força bruta, como tinha sido o caso até então. Mas, no início do século XXI, o sistema internacional ainda não constitui, evidentemente, uma ordem equitativa, segura e, sobretudo, estável, que garanta um padrão de vida condigno a todos os habitantes do planeta, ou que os coloque ao abrigo de possíveis ameaças de rupturas indesejáveis nos domínios da ordem política, do bem-estar econômico e da segurança pessoal. Ameaças latentes ainda existem, seja em termos de garantias de paz, seja no terreno da democracia política, seja ainda no estabelecimento de condições materiais mínimas para a preservação de níveis aceitáveis de desenvolvimento humano, em especial nos países menos desenvolvidos. Se o espectro de guerras globais entre as principais potências parece felizmente afastado, conflitos regionais, guerras civis, instabilidade econômica e política e desigualdades sociais persistentes ainda constituem realidades frequentes no cenário atual, com uma incidência mais aguda nos países mencionados. 

Esses problemas constituem a nova fronteira institucional e política do início no novo milênio. O sistema internacional evoluiu positivamente, ao longo do último meio século, no sentido da construção tentativa de uma ordem política mais estável e previsível e de uma arquitetura institucional tendencialmente mais democrática. Esse sistema precisaria fazer, agora, novos progressos materiais e organizacionais na direção da superação desses problemas “residuais” – muitos deles de origem estrutural – que afligem grande parte da população mundial. Um diagnóstico realista das perspectivas que se oferecem nesse terreno indicaria que o sistema de relações internacionais precisaria caminhar para a construção de uma arquitetura política e econômica que possa se basear na governança global e na democracia preventiva. Como sistema de governança global eu não proponho um sistema de controle supranacional baseado na ONU ou qualquer outro órgão político de caráter intergovernamental, mas sim um espaço de desenvolvimento inter-estatal que leve em consideração as novas realidades criadas pela globalização e as estenda a todos os países do planeta, sem distinção de fronteiras políticas. A democracia preventiva pode ser entendida como um sistema que ultrapassa as restrições atuais da soberania absoluta dos Estados, realidade que comanda um respeito total e irrevocável ao princípio da não-intervenção nos assuntos internos. Ela significaria um processo coletivo de tomada de decisões que tenha no respeito aos direitos humanos e na adoção da forma democrática de governo os critérios básicos de participação na comunidade internacional.

 

2. O fim do sistema de Vestfália?

(...)


Ler a íntegra neste link: 

 https://www.academia.edu/108622467/1309_Globalização_e_poder_militar_lições_da_história_Democracia_e_supremacia_no_sistema_internacional_2004_

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...