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terça-feira, 22 de maio de 2018

A ordem economica internacional em fragmentacao - Michael Spence

Quando idiotas assumem o comando de grandes países, sua capacidade de desmantelar instituições e o ambiente de negócios é inacreditável. Enfrentamos atualmente esse risco.
Paulo Roberto de Almeida

ESTADAO
20maio18 

‘Não se sabe qual será a nova ordem econômica'

Para economista, novo modelo econômico global não está claro, o que contribui para elevar as turbulências

Entrevista com
Michael Spence, vencedor do Nobel de Economia de 2001
Cláudia Trevisan, O Estado de S.Paulo

WASHINGTON - A ordem econômica global criada depois da Segunda Guerra Mundial está se desmanchando e não está claro qual arranjo a substituirá, afirma Michael Spence, vencedor do Prêmio Nobel de Economia de 2001, ao lado de Joseph Stiglitz e George Akerlof. Em sua opinião, a nova estrutura tenderá a ser “balcanizada” e a ter menos liberdade para fluxos de bens, serviços, capital, pessoas, informação e tecnologia.
Spence acredita que parte da turbulência vivida recentemente pelos mercados internacionais se deve à incerteza sobre o que substituirá a estrutura do pós-guerra. O ataque a ela vem dos países desenvolvidos, que passaram a sofrer consequências negativas na distribuição de renda em consequência da criação de cadeias de produção global. “É muito difícil prever onde isso terminará.” A seguir, trechos da entrevista:  
No início do ano parecia haver otimismo em relação à economia mundial, mas recentemente esse sentimento deu lugar a turbulências, especialmente nos países emergentes. O que aconteceu?
Na segunda metade do ano passado, houve o que o FMI chamou de aceleração sincronizada no crescimento. As pessoas pensaram que era uma mudança real, mas foi apenas uma retomada cíclica. Agora, temos a combinação da alta da taxa de juros nos Estados Unidos e o nervosismo de investidores internacionais. Fluxos de capital internacionais se tornaram bastante voláteis, o que provocou dificuldades para várias economias emergentes. O exemplo mais recente é a Argentina. Também há incerteza em relação à tensão comercial entre a China e os Estados Unidos e como isso afetará outros países, incluindo os emergentes. Há volatilidade nos mercados, volatilidade nos fluxos de capital e crescente incerteza. E parece não haver um fim disso no horizonte. Ao mesmo tempo, o preço das commodities está subindo, em particular o do petróleo, o que é bom para países exportadores. É um cenário misto.  
Quais são os principais riscos para a economia mundial?
O que me surpreende é que o crescente sentimento anti-establishment e a intensificação da polarização política de maneira geral não contaminaram os mercados ou as economias. Mas eu acredito que essas tendências são riscos. Um conflito aberto entre a China e os EUA nas áreas de comércio, investimentos e tecnologia é outro risco. Por trás de tudo isso, há uma espécie de ruptura da ordem mundial criada depois da Segunda Guerra Mundial, com suas convenções relativas a comércio e investimentos.  
Quais as características da nova ordem que poderá substituí-la?
Ninguém sabe, e isso é parte do problema. Há duas possibilidades. Uma é a balcanização (fragmentação) da economia global. A internet, por exemplo, será regulada de maneira distinta em diferentes partes do mundo. A regulamentação da América e da Europa será diferente da chinesa e isso criará problemas para companhias que operem além das fronteiras nacionais. Isso é apenas um exemplo. Eu também acredito que o fluxo relativamente livre de bens, serviços, capital, pessoas, informação e tecnologia – que define como a economia global funciona – será menos livre. A ordem mundial criada depois da Segunda Guerra Mundial tinha o objetivo de facilitar a recuperação no pós-guerra. Mas seu principal efeito foi acelerar o crescimento em todos os lugares, especialmente nos países em desenvolvimento. No passado, a economia aberta e a transferência de parte das atividades econômicas para países em desenvolvimento não tiveram grande impacto sobre a distribuição de renda nas economias desenvolvidas. Na medida em que o sistema evoluiu, os emergentes passaram a responder por fatia cada vez maior do PIB e a eficiência das cadeias de produção começou a diminuir. Há falhas sísmicas cada vez maiores nessa ordem. 
Quais são elas?
As principais se desenvolveram ao longo dos 20 anos. Tendências negativas na distribuição de renda produziram ceticismo crescente em relação à globalização. Isso foi exacerbado pelo fato de que estruturas governamentais não fizeram nada sobre isso. A polarização econômica, social e política que estamos vendo tem uma fonte econômica. Nós vemos isso no Brexit, na eleição de (Donald) Trump e nas correntes anti-establishment na Europa. O que estamos vendo agora são os países desenvolvidos dizendo “não estamos mais dispostos a arcar com as consequências dessas assimetrias”. E os grandes países em desenvolvimento respondendo “bem, nós podemos sobreviver sem vocês”. É muito difícil prever onde isso terminará.  
Há o risco de uma crise nos emergentes semelhante às que vimos no passado?

Não vejo o surgimento de uma crise sistêmica. Se há um problema com potencial de se tornar sistêmico, ele é a grande quantidade de dívida que a economia global contraiu no período posterior à crise (de 2008). Esse passivo vem na forma de dívida soberana, corporativa e das famílias. Na última vez em que olhei, a economia global havia acrescentado três quartos do PIB global em dívida bruta.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Transformacoes da ordem economica mundial do seculo 19 a Segunda Guerra - Paulo Roberto de Almeida

Um artigo meu promovido no Twitter da RBPI:

Revista Brasileira de Política Internacional

On-line version ISSN 1983-3121

Rev. bras. polít. int. vol.58 no.1 Brasília Jan./June 2015

http://dx.doi.org/10.1590/0034-7329201500107 

ARTIGOS
Changes in the world economic order, from the end of the 19th century up to the Second World War
Paulo Roberto de Almeida *  
*Ministério das Relações Exteriores, Brasília, DF, Brasil (pralmeida@me.com)
Ensaio de caráter histórico sobre as grandes mudanças ocorridas na economia mundial, da belle époque a Bretton Woods, enfatizando elementos de continuidade e de ruptura, tanto no plano do comércio, como no das finanças internacionais, bem como aspectos institucionais. Dentre os primeiros elementos se situam a permanência de um mesmo grupo de nações de economia avançada no pelotão das potências dominantes que formulam e determinam a agenda política internacional, bem como a importância do poderio tecnológico e industrial para apoiar a projeção estratégica e militar dessas potências; dentre as rupturas podem ser citadas a derrota dos emergentes, em especial Japão e Alemanha, que desafiaram a ordem política e econômica mundial mediante tentativas de projeção imperial que destoavam dos esforços de interdependência global que estavam sendo construídos pelas principais economias de mercado, todas de orientação política liberal democrática. A outra potência emergente no período, a União Soviética, foi relativamente marginal economicamente no período e só projetaria poder, verdadeiramente, no final da Segunda Guerra Mundial.
Palavras-Chave: comércio mundial; entre-guerras; finanças internacionais; guerras globais; mudanças estruturais; ordem econômica internacional
Historical essay dealing with the relevant changes in the world economy, from the belle époque to Bretton Woods, emphasizing elements of continuity and its ruptures and discontinuities, in trade, finance as well as in institutional aspects. Among the continuities, appears the resilience of a core group of advanced economies, which is able to draft and define the international policy agenda, and the importance of the industrial and technological capabilities to support any exercise of strategic and military projection by those big powers; among the discontinuities is the failure of some emerging powers, namely Germany and Japan, in their challenging of this world order by means of an imperial-like power projection outside of the core group of market economies aiming to create a global interdependence based on democratic and liberal principles. Another emerging power during that period, Soviet Union, was essentially economically irrelevant and was not able to project its own power before the end of the World War II.
Key words: international trade; inter-war period; world finance; global wars; structural changes; world economic order

Grandes tendências da economia mundial, de 1890 a 1944
A economia mundial, no meio século que vai do final do século 19 a meados do século 20, se apresentava como um sistema não muito bem articulado de economias nacionais e de dependências coloniais ou semicoloniais, interligadas por intercâmbios voluntários ou compulsórios de bens, serviços, capitais, mão de obra e tecnologia; elas o faziam num contexto de crescentes assimetrias estruturais entre as nações do capitalismo avançado e entre essas e seus territórios coloniais, nações semicoloniais ou países dependentes. Os elementos estruturais de divergência são provavelmente mais relevantes do que aqueles de continuidade, entre o começo e o final do período, mas, no plano geopolítico, o mundo não deve ter se alterado tão radicalmente nesse período de pouco mais de meio século.
No plano estritamente econômico, o mundo passou por fases caracteriza damente distintas ao longo do período: saltos tecnológicos, representados pelos grandes avanços da segunda revolução industrial; mudanças dramáticas nos sistemas monetários nacionais, a partir de violentas crises financeiras, de surtos violentos de inflação em diversos países, com ruptura dos regimes monetários e cambiais, a começar pelo do padrão ouro; fases de crescimento sustentado, seguidas por conjunturas de estagnação; surtos de liberalização setorial, alternando com impulsos de protecionismo comercial; incorporação de novos atores econômicos, com preservação de velhas desigualdades estruturais; fases de fechamento e de abertura aos movimentos de pessoas e aos fluxos de capitais; redistribuição dos fluxos de renda em direção de novos centros de acumulação e confirmação de antigos mecanismos de concentração e de acumulação; enfim, uma gama variada de tendências estruturais, de rupturas conjunturais e de ciclos econômicos tão diversos quanto os processos políticos que marcaram esse século ao mesmo tempo exemplarmente criador, no plano das ciências e das técnicas, mas também extremamente destruidor em termos de vidas humanas e padrões civilizatórios.
(...)