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terça-feira, 1 de maio de 2012

Um retrato da politica brasileira: nao parece Chicago da Lei Seca?

Sem comentários. (PRA)

OPERAÇÃO MORDAÇA - CAPÍTULO I
Quidnovi, 09/03/2012 - 20:17

Ainda estava escuro, quando às 6 horas da manhã, do dia 29 de fevereiro de 2012, a mansão de luxo, na Rua Cedroarana, Quadra G-3, Lote 11, no Residencial Alphaville Ipês, em Goiânia, de propriedade do governador de Goiás Marconi Pirillo até 2010, foi invadida pela “swat” da Polícia Federal. Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso numa ação cinematográfica. O arrombamento da porta da sala e a chegada dos agentes federais ao quarto de Carlos Cachoeira coroava a Operação Monte Carlo.

Cachoeira, como é chamado, acordou assustado. No corredor, a sua prisão era assistida pela fresta da porta por uma criança de 12 anos, sua enteada, e pela esposa, Andressa. O delegado que comandava a operação pediu que o contraventor abrisse o cofre, mas Cachoeira argumentou que não sabia o segredo. Só Andressa tinha a senha. A polícia entrou no quarto e exigiu que o cofre fosse aberto. Imediatamente a esposa de Cachoeira mostrou o que havia guardado em segredo: joias, inclusive de família, uma quantia em dinheiro de um imóvel vendido por Andressa, documentos e alguns DVDs de conteúdo ainda não revelado.

Governador de Goiás Marconi Perillo
O delegado espalhou sobre a cama todas as joias, a maioria herança de família, principalmente dos avós e do ex-marido de Andressa Wilder Morais, atual suplente do senador Demóstenes Torres (DEM-GO). A esposa do contraventor pediu ao delegado que deixasse as jóias e que não invadisse o quarto que sua filha dormia. O pedido foi atendido. Cachoeira foi levado pela polícia, enquanto a criança atônita tentou ir ao seu encontro, sem entender o que se passava. Até este momento, Andressa estava forte. Mas ao ver a filha, a esposa de Cachoeira desmontou.
A Polícia Federal acreditou ter fechado a Operação Monte Carlo naquele momento, mas não sabia que ali começava um dos maiores escândalos da política brasileira. Cachoeira foi para a carceragem da PF em Brasília e preferiu o silêncio.
Em fevereiro de 2004, Carlinhos foi protagonista do escândalo Waldomiro Diniz, onde o assessor do ministro chefe da Casa Civil José Dirceu, foi denunciado por receber propina do esquema de jogo clandestino no país. Naquele momento, Cachoeira recebeu total apoio do PT comandado por Zé Dirceu, que rotulava o contraventor como “empresário do jogo”, e o Ministério Público como “aparelho repressor e conspiratório.”

José Dirceu
O ministro da Justiça era Márcio Tomaz Bastos. O advogado, era Antônio Carlos de Almeida e Castro, o Kakay. Quem acusava era o mesmo Ministério Público, que agora também comanda a operação só que a serviço do PT .
As digitais do PT foram constatadas quando a Polícia Federal começou as investigações sob o comando da sede em Brasília. O Palácio do Planalto acompanhava tudo e aguardava o momento certo para contrapor o escândalo do Mensalão que será votado nos próximos meses pelo Supremo Tribunal Federal.
Cachoeira tinha um forte esquema de proteção na Polícia Federal de Goiás, onde contava com seu fiel escudeiro o chefe da inteligência da Polícia Federal. Cachoeira sempre foi um homem muito bem relacionado. Colaborador de todas as horas nas campanhas políticas, principalmente do PT. As investigações aconteciam e surpreendiam o comando da PF. Políticos de alto escalão se misturavam com empresários e contraventores.
Cachoeira foi transferido como preso comum para a Penitenciária Federal de Segurança Máxima de Mossoró, no Rio Grande do Norte. Desembarcou na cidade sob um sol escaldante, de 42 graus, e foi levado para a cela 17 do presídio. Parecia que a situação tinha chegado ao fim, quando o contraventor foi chamado para raspar a cabeça e receber o tratamento de preso de alta periculosidade. Enquanto a máquina deixava à vista o couro cabeludo de Cachoeira, lágrimas de ódio rolavam pelo seu rosto. Naquele momento, revendo o filme da prisão de Fernandinho Beira Mar, o silêncio de Carlos Cachoeira se transformava em ira contra o PT. Somente no dia seguinte teve o direito de encontrar seu advogado Ricardo Sayeg.
Aí começava o desabafo de alguém que sabe muito e não vai evitar a vingança. Os responsáveis pela Operação Monte Carlo foram os petistas, o alvo; o líder de oposição Demóstenes Torres (DEM-GO) e a isca; o mesmo Cachoeira que no passado foi tão amigo do PT, e agora tão usado.

Aécio Neves
Com a chegada do senador Aécio Neves (PSDB-MG) no Congresso, era esperado que naturalmente o neto de Tancredo Neves fosse o líder da oposição ao Governo Dilma. Aécio recebeu algum recado e se mantem apagado no cenário político. Com isso, o líder do Democratas se destacou nacionalmente como o homem que lidera a oposição. Com o destaque, o senador passou a ser o inimigo número um do Partido dos Trabalhadores, que começou a caçada. Aécio Neves, taxado por ter telhado de vidro, trabalhou como bom mineiro, no silêncio, e assiste o colega de oposição servindo de boi de piranha. Nos bastidores se comenta que Aécio só irá assumir a liderança da Oposição no último ano do Governo Dilma evitando o desgaste prematuro.

Apesar do PT ter pesado a mão sobre Demóstenes Torres não foram encontradas provas que possam calar a voz da oposição. A relação do senador com Carlos Cachoeira é meramente social, como as mantidas com outros empresários do estado de Goiás. É menos íntima, por exemplo, do que a mantida entre o ex-presidente Lula e o seu churrasqueiro Jorge Lorenzetti, envolvido num escândalo de repasse de R$ 18,5 milhões em verba pública para sua ONG. Tanto barulho por conta de um fogão e uma geladeira, presente de casamento da esposa de Carlinhos para a esposa de Desmóstenes, amigas de longa data? Com certeza, há mais fartura à mesa do PT.
O exército de Cachoeira também foi desestabilizado. Funcionários públicos, empresários, políticos, policiais, familiares e pessoas que emprestavam o próprio nome para manter a força e o poder de quem hoje detém um arsenal capaz de mudar a história política do país foram presos ou desarticulados com a Operação Monte Carlo.
Cachoeira sempre foi um homem prevenido. Na era dos escândalos detonados dentro e fora dos Governos, o contraventor documentava todos os encontros com seus “parceiros”, em vídeo, áudio, contratos de gaveta, e as transações bancárias no Brasil e no exterior. Monitorava seus “sócios” através de agentes de informações. Durante todos esses anos que transitou nas altas rodas políticas e sociais do país, Carlinhos Cachoeira produziu vários documentários, capazes de mudar o curso da vida, principalmente de quem será julgado ainda este ano pelo Supremo, com a chance de ter o ministro algoz do Mensalão do PT, Joaquim Barbosa, na presidência da maior instância jurídica do País.
No encontro com o seu advogado Ricardo Sayeg, em Mossoró, Cachoeira avisou que a família e amigos tem nas mãos “esse” material que será despejado na imprensa nos próximos dias. Nesta sexta-feira, o contraventor começou a cumprir sua promessa. A Revista Veja, divulgou on line, vídeo no qual Carlinhos tem uma conversa com o deputado federal Rubens Otoni (PT-GO), na qual oferece R$ 100 mil para ajudar o petista e insinua já ter contribuído com a mesma quantia para o candidato em outra campanha.
Só um detalhe: Otoni nunca declarou a quantia ao Tribunal Regional Eleitoral e não consegue explicar o porquê disso.

A TRAJETÓRIA DE CACHOEIRA
Carlinhos Cachoeira cresceu no meio da jogatina. Seu pai fez parte do grupo de Castor de Andrade e levou para Goiás o conhecido jogo do Bicho. Seus irmãos difundiram pelo Estado o jogo e a chegada das máquinas caça-níqueis. Cachoeira, no entanto, se aperfeiçoou com projetos oferecidos em vários Estados batizado de On Line Real Time. Trata-se de um software que permite ligar as caça-níqueis diretamente à Caixa Econômica, buscando, aos moldes das Loterias, a legalização do jogo.
Carlinhos montou várias empresas para gerenciar o jogo nos Estados. E começou sua fortuna. Procurava grupos coreanos, italianos, espanhóis e vendia à vista, a exploração do jogo pelo país. Assim passou a recrutar políticos que viabilizavam a exploração dos jogos de azar pelos Governos estaduais. Cachoeira sofisticou seus negócios a partir da implantação de seu novo sistema com o apoio do então governador de Goiás Maguito Vilella, padrinho do seu primeiro casamento. Carlinhos criou a empresa Gerplan no governo de Vilella.

Marconi Perillo
Com a entrada do governador tucano Marconi Pirillo, o empresário do jogo expandiu seus negócios para vários Estados, até bater de frente com os interesses do então ministro chefe da Casa Civil, o petista Zé Dirceu.
Waldomiro Diniz, assessor de Zé Dirceu na Casa Civil, trabalhava para a família Ortiz, forte concorrente de Carlinhos Cachoeira. Os Ortiz lutavam pela permanência do jogo clandestino, pois reconheciam que o negócio era mais rentável. Carlos Cachoeira queria a legalização porque detinha toda uma estrutura profissional com tecnologia de hardware e software para a arrecadação do jogo pelo governo em tempo real e com a garantia de desconto dos impostos.

Waldomiro Diniz
Cachoeira então gravou Waldomiro pedindo propina para a campanha do PT em 2002. Com isso, o empresário do jogo usava o flagrante para combater a propina paga pela família Ortiz ao assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz, responsável também pelo pagamento do mensalão do PT dentro do Congresso Nacional.
Waldomiro era tido como uma águia, mas foi abatido pelo Ministério Público em pleno voo. O escândalo fragilizou José Dirceu permitindo o ataque de Roberto Jefferson, que culminou com a cassação do mandato de deputado e a demissão da Casa Civil.
Cachoeira foi cercado de atenções pelo PT durante todos esses anos para
evitar um escândalo maior em torno do financiamento de campanhas em vários Estados. Este roteiro, com conteúdo explosivo, desta vez virá à tona, pois Carlinhos planeja em sua solidão na cela 17 do Presidio de Segurança Máxima de Mossoró, como se vingar do PT que o abandonou e o colocou nesta situação.

Nesse arsenal explosivo tem várias empresas: Construtoras, Laboratórios, Bancos no Brasil e no Exterior. Na próxima edição, o Quidnovi vai mostrar, com documentos, como a máfia do jogo atua com o braço político nos cofres públicos.
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Complemento informativo: 
Todo mundo menos eu, Coluna Carlos Brickmann
(*) Coluna exclusiva para a edição dos jornais de Quarta-feira, 2 de maio


Anthony Garotinho, principal adversário político do governador fluminense Sérgio Cabral, divulgou fotos devastadoras (www.gabeira.com.br): Cabral e o dono da Delta, Fernando Cavendish, até agora personagem principal da CPI do Cachoeira, dançando juntos em Paris, enquanto suas companheiras exibiam ao fotógrafo as solas vermelhas dos caríssimos sapatos Louboutin. Num lugar chiquérrimo, a mais cafona das celebrações - sabe-se lá o que celebravam. 
Mas Garotinho não está a salvo: quem pagou a postagem de cartas pedindo votos a seus candidatos, nas eleições de 2004, foi, em grande parte, a Delta, de Cavendish. Nas cartas, Garotinho, evangélico, dizia estar orando pelos eleitores. Sua fatia da Delta, parece, não foi tão apetitosa; mas também comeu por lá.
Neste caso Delta-Cachoeira, não há quem escape: amigos, inimigos, antigos amigos hoje inimigos, antigos inimigos hoje amigos, ferozes defensores da moralidade dos outros, gente mais tolerante com a moralidade dos outros (e também com a própria). Há o tucano Perillo, governador de Goiás, há Demóstenes Torres, do DEM goiano, há Agnelo Queiroz, do PT de Brasília, há o peemedebista Sérgio Cabral, há Garotinho do PR (o mesmo do ex-ministro Alfredo Nascimento, aquele que caiu do Ministério mas manda muito no Senado e no partido). A CPI teme ligar a metralhadora, porque a arma pode girar.
Tanta gente! Daqui a pouco teremos de lembrar um velho sucesso de Carlos Galhardo (e também de Silvio Caldas): "Todo mundo, menos eu".
Velhos versos
Certos antigos poemas são irretocáveis. Desta mesma composição, uma única quadrinha: "Entre as luzes fatais da cidade/ A orgia cruel te envolveu/ Todo mundo chorou de piedade/ Todo mundo, menos eu".
Outros comentários já estão ficando fora de moda. O jornalista Ennio Pesce, sempre brilhante, costumava dizer que o mal do mar de lama é que as praias não davam para todo mundo. Pois não é que, neste caso, as praias cresceram muito?

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

O fascismo soft (e ordinario) do poder - Marco Antonio Villa

Os que me leem regularmente, sabem o que eu penso da política, dos políticos, do poder e da economia, atualmente em vigor no Brasil.
Não preciso dar explicações a ninguém sobre o que penso, como penso e por que o faço, desta maneira que faço, ou seja, totalmente independente, espírito anárquico (o que não quer dizer anarquista), sem peias, sem disciplina, sem qualquer submissão ao poder ou aos que mandam. Sou inteiramente livre, para desgosto de alguns que aqui aparecem, que gostariam da mesma rendição às falcatruas que cometem, direta ou indiretamente, da mesma submissão que obtiveram de tantos, por pressão, ameaças, dinheiro ou suposta afinidade ideológica. 
Não sou comprável, nem "submetível", e por isso posso postar, e comentar o que me apraz, até reações raivosas daqueles mesmos que gostariam que todos concordassem com as falcatruas, mentiras, fraudes e desonestidade que veem sendo servidas ao povo brasileiro, com a complacência de políticos -- inclusive os de uma suposta oposição -- que não se pejam em atacar a imprensa, ou seja, os meios livres, pelos poucos ataques que merecem sua conduta a todos os títulos deplorável.
Por isso mesmo, continuo, com meu espaço de resistência à mentira, à fraude, à omissão, à burrice, à má-fé e à desonestidade de todos aqueles que pertencem aos círculos que pertencem não por mérito, mas por adesão ao que de pior a política brasileira já produziu desde tempos imemoriais.
O Brasil, infelizmente, passou a viver, ou já está vivendo, desde algum tempo, sob um regime que poderíamos descrever como de Cleptocracia, ou seja, um sistema organizado com base no roubo sistemático dos bens públicos (que são recursos da sociedade) pelos que controlam o poder, em diversas esferas. A Cleptocracia se espalha por todos os poros da sociedade, como uma peste que sufoca gradativamente a sociedade.
Não que não tivéssemos corruptos e ladrões antes do atual sistema: não, eles existiam e estavam bem vivos. Apenas que o que era feito de forma desorganizada, assistemática, de forma praticamente artesal, no máximo manufatureira incipiente, passou a ser feito de forma sistemática, organizada, em escala industrial, avassaladora, um sistema montado para justamente fraudar os cidadãos e as empresas, arrancando todos os recursos que são possíveis de serem extraídos pelos meios disponíveis, legais e ilegais, de todos os modos.
Cleptocracias, como esta do tipo que se instalou no Brasil, são difíceis de serem extirpadas. Que o diga a Venezuela, que hoje paga o preço da antiga cleptocracia tradicional que tinha se instalado no poder, e que foi substituída por uma nova, mais eficiente do que a anterior.
O Brasil vai ter um imenso trabalho para extirpar a sua. Não imagino uma "limpeza" antes de uma geração completa, aí por meados dos anos 2020, depois dos 200 anos de independência, que podem ser passados ainda sob o mesmo regime que inaugurou a vida nacional: antes eram traficantes de escravos, escravocratas, ladrões de terra, aproveitadores de cargos públicos, enfim, amigos do alheio. Hoje podemos substituir os traficantes de escravos pelos demagogos oportunistas, que se locupletam com base nos muitos pobres e ignorantes que ainda existem no Brasil. Processos históricos são lentos e imprevisíveis. Chegaremos lá, mas vai demorar...
Paulo Roberto de Almeida 

Ministério da Verdade
Marco Antonio Villa, historiador  professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)
Folha de S.Paulo, 9/01/2012

Estamos vivendo um tempo no qual os donos do poder exigem obediência absoluta.
No Congresso, a oposição representa apenas 17,5% das cadeiras. O governo tem uma maioria digna da Arena. Em 1970, no auge do regime militar, o MDB, partido de oposição, chegou a examinar a proposta de autoextinção. Quatro anos depois, o mesmo MDB venceu a eleição para o Senado em 16 dos 22 Estados existentes (no Maranhão, o MDB nem lançou candidato).
Ou seja, a esmagadora maioria de hoje pode não ser a de amanhã. Mas, para que isso aconteça, é necessário fazer algo básico, conhecido desde a antiga Grécia: política.
É nesse terreno que travo o meu combate. Sei que as condições são adversas, mas isso não significa que eu tenha de aceitar o rolo compressor do poder. Não significa também que eu vá, pior ainda, ficar emparedado pelos adversários que agem como verdadeiros policiais do Ministério da Verdade.
Faço essas ressalvas não para responder aos dois comentários agressivos, gratuitos e sem sentido do jornalista Janio de Freitas, publicados nesta Folha nos textos “Nada mais que o Impossível” (1º de janeiro) e “Meia Novidade” (3 de janeiro). Não tenho qualquer divergência ou convergência com o jornalista. Daí a minha estranheza pelos ataques perpetrados sem nenhuma razão (aparente, ao menos).
A minha questão é com a forma como o governo federal montou uma política de poder para asfixiar os opositores. Ela é muito mais eficiente que as suas homólogas na Venezuela, no Equador ou, agora, na Argentina.
Primeiro, o governo organizou um bloco que vai da direita mais conservadora aos apoiadores do MST. Dessa forma, aprova tudo o que quiser, com um custo político baixo. Garantindo uma maioria avassaladora no Congresso, teve as mãos livres para, no campo da economia, distribuir benesses ao grande capital e concessões aos setores corporativos. Calou também os movimentos sociais e sindicatos com generosas dotações orçamentárias, sem qualquer controle público.
Mas tudo isso não basta. É necessário controlar a imprensa, único espaço onde o governo ainda encontra alguma forma de discordância. No primeiro governo Lula, especialmente em 2005, com a crise do mensalão, a imprensa teve um importante papel ao revelar as falcatruas -e foram muitas.
No Brasil, os meios de comunicação têm uma importância muito maior do que em outras democracias ocidentais. Isso porque a nossa sociedade civil é extremamente frágil. A imprensa acaba assumindo um papel de enorme relevância.
Calar essa voz é fechar o único meio que a sociedade encontra para manifestar a sua insatisfação, mesmo que ela seja inorgânica, com os poderosos.
Já em 2006, quando constatou que poderia vencer a eleição, Lula passou a atacar a imprensa. E ganhou aliados rapidamente. Eram desde os jornalistas fracassados até os políticos corruptos -que apoiavam o governo e odiavam a imprensa, que tinha denunciado suas ações “pouco republicanas”.
Esse bloco deseja o poder absoluto. Daí a tentativa de eliminar os adversários, de triturar reputações, de ameaçar os opositores com a máquina estatal.
É um processo com tinturas fascistas, que deixaria ruborizado Benito Mussolini, graças à eficiência repressiva, sem que se necessite de esquadrões para atacar sedes de partidos ou sindicatos. Nem é preciso impor uma ditadura: o sufrágio universal (sem política) deverá permitir a reprodução, por muitos anos, dessa forma de domínio.
Os eventuais conflitos políticos são banais. Por temer o enfrentamento, a oposição no Brasil tenderá a ficar ainda mais reduzida e restrita às questões municipais e, no máximo, estaduais.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

O "debate" sobre o voto distrital: vigaristas se mobilizam contra...

Como o articulista abaixo, não creio que o voto distrital seja a solução para todas as patifarias da política brasileira, mas ele já permitiria corrigir algumas. Será por isso que tantos patifes se mobilizam contra?
E já tem até gente articulando "análises sociológicas" sobre o assunto. Como diria alguém, os sociólogos são uns "marturbadores sociais", e eu não tenho nenhum problema em dizer isto pois sou sociólogo...


Reinaldo Azevedo, 15/09/2011

Caras e caros, a campanha em favor do voto distrital mal começou. Conseguiram-se, até o momento em que escrevo, 74.512 assinaturas. O objetivo é chegar a 100 mil. Quanto antes se conseguisse implementar a mudança, melhor (o post abaixo trata de assunto correlato), mas não há uma data-limite, depois da qual ou se tem a vitória, ou, então, se desiste. Esta é uma batalha longa, de fôlego. Mesmo no começo, a idéia já mobiliza adversários poderosos, como vocês verão. Aí ao lado, há o link para a página “Eu Voto Distrital”. A qualidade de quem tenta impedir até mesmo o debate revela muita coisa.
Em Dois Córregos, a gente diz do falso sonso: “Esse, de tonto, só tem o andado”. Não diria o mesmo do “sociólogo” Marcos Coimbra, dono do Instituto Vox Populi, que foi tirado da quase falência pelo PT. Nunca o vi caminhar porque não freqüentamos os mesmos ambientes. Mas se pode afirmar com certeza: de tonto, ele só tem a cara. Esse sujeito emergiu no cenário político como filho do diplomata Marcos Antonio de Salvo Coimba, que foi secretário-geral da Presidência do governo de Fernando Collor, de quem era cunhado. Embora devam ter quase a mesma idade, o filhote de Coimbrão era, assim, uma espécie de sobrinho postiço do presidente impichado. Foi ali que ele despontou para o estrelato.
O “sociólogo” é um homem de muitas convicções, todas sempre bem-remuneradas. Na esfera federal, por exemplo, ele é petista. Em Minas, ele é tucano. E está aberto a propostas nas demais 26 unidades da federação. Não é que ele resolveu sair atirando contra o voto distrital? A exemplo do que fazem muitos vigaristas intelectuais quando não têm argumentos, optou por botar uma pecha no sistema: “É coisa da direita”. Até outro dia, isso bastava para silenciar o debate. Aos poucos, muita gente vai percebendo o truque porque começou a se dar conta de quem estava acusando. “Se há tantos canalhas contra a direita, então ela não deve ser tão má assim”, já começam a desconfiar alguns. É, vai ver não é… “Se há tantos ladrões atacando a direita, vai ver ela não é tão má assim”. É, vai ver não é…
Digamos que por “direita” se tome  o conceito boçal, sendo comum na esquerda: reúne conservadores, que repudiam as mudanças e preferem um sistema que exclua o povo das decisões. Muito bem! Coimbra cometeu um artigo contra o voto distrital. O primeiro parágrafo é este (em vermelho):

Com impressionante velocidade, a direita brasileira se descobriu favorável ao voto distrital (desde criancinha). Sem que exista qualquer motivo lógico que explique o porquê, políticos, intelectuais, empresários e jornalistas conservadores se encantaram com ele e começaram, em coro, a defendê-lo. Ao mesmo tempo, passaram a espinafrar o voto proporcional, que faz parte das regras de nosso sistema político desde o Código Eleitoral de 1932.

Huuummm… É mentira! Discute-se o voto distrital no Brasil desde a Constituinte de 1988. Quando se fez o plebiscito do Parlamentarismo, a suposição era a de que se implantaria, quando menos, o modelo misto. O debate é antigo e contava e conta com a simpatia de muitos políticos mais à esquerda no espectro ideológico. Eu não acredito, com sólidos motivos (já falo a respeito), nem nas pesquisas de Coimbra e não teria razão para acreditar na sua memória, não é mesmo? Quer dizer que o “sobrinho” do Collor agora virou um “progressista”, um “esquerdista”, “desde criancinha”? Para um neomudancista e antidireitista, Coimbra argumenta com a elegância de um ganso se fingindo de cisne: se o voto proporcional está aí desde 1932, então deve ser uma coisa boa, é isso? Os eventos recentes da política brasileira e o modo como se forma a maioria no Congresso falam por si mesmos, certo? Mas sigamos com ele.

Em nenhum lugar do mundo havíamos visto coisa parecida. A argumentação em favor do voto distrital nunca teve cor ideológica, nunca foi bandeira da direita (ou da esquerda).

Seria só uma bobagem não estivesse ele cumprindo uma tarefa. Digamos que o debate sobre o voto distrital estivesse mesmo sendo levado adiante “pela direita”. Coimbra, que o combate, fala, então, em nome de quem ou do quê? De resto, fosse mesmo coisa da direita, o que é mentira, ela não teria o direito de se expressar? O que vem em seguida é sofrível, mas merece ser exposto para que se tenha noção da qualidade de alguns dos adversários do voto distrital.

A discussão sobre suas vantagens e desvantagens sempre permaneceu no plano técnico. Quem tem um mínimo de informação sobre o assunto sabe que não há sistema eleitoral integralmente bom ou ruim. Todos têm aspectos positivos e negativos. Sabe, também, que faz pouco sentido falar em voto distrital no abstrato, assim como de voto proporcional puro. Cada país tem seu sistema, com coloração e particularidades únicas. Há tantos sistemas de voto distrital (e de voto proporcional) quantos países que o adotam.
Outra mentira grotesca. Ninguém defende o voto distrital como a cura de TODOS os males. Ele é uma resposta para ALGUNS dos males da política, notadamente o descolamento entre representantes e representados e a transformação do Parlamento num ajuntamento de celebridades, de sem-votos e de porta-vozes de corporações. Aos poucos, o Congresso brasileiro deixa de encarnar a vontade das pessoas para defender segmentos organizados. O cidadão só vale alguma coisa se estiver ligado a um grupo de pressão. Mais: cairia brutalmente o custo das campanhas eleitorais. É evidente que todos os sistemas têm defeitos — eu mesmo já apontei aqui alguns do voto distrital. A questão é saber qual reúne mais qualidades e qual poderia aproximar mais eleitores e eleitos. Coimbra não gosta disso. Acha coisa “de direita”.

Existem democracias plenamente funcionais e bem-sucedidas com voto distrital, e (muitas) outras com as diversas formas possíveis de voto proporcional. Aliás, em termos puramente quantitativos, a maioria dos países democráticos do mundo tem algum tipo de voto proporcional.
É só a embromação da obviedade. Como eu provo? Invertam o que ele disse, e dá na mesma: “A maioria dos países democráticos do mundo tem algum tipo de voto distrital”. Tem? Claro que sim! Qualquer república federativa, cujo Parlamento é formado por representantes das partes que a compõem, adota uma forma de distritalismo, ainda que, dentro dessas unidades, o voto seja proporcional. Passaram a tarefa ao Coimbrinha, e ele esqueceu de estudar o ponto. Deve ter sido um mau aluno, do tipo preguiçoso. Escolheu o caminho mais fácil: “É coisa da direita”. Huuummm… E a reforma política do PT, que Coimbra deve defender, é coisa de Dirceu! Aliás, este pode ser um confronto interessante: pedir aos brasileiros que escolham a direita ou o Zé Dirceu. Mais um pouco do “sobrinho” do impeachment.

É compreensível que a campanha que a direita brasileira está fazendo em favor do voto distrital não apresente os ponderáveis argumentos que existem contra ele. Seus responsáveis têm todo o direito de subtrair da opinião pública o que é contrário a suas preferências. Afinal, na guerra ideológica, o que menos importa são os fatos. Não é o mesmo que se pode dizer de quem, na mídia, deveria se ocupar do jornalismo. Chega a ser lamentável que veículos de informação assumam função de pura desinformação.
Eu, por exemplo, já apresentei os “ponderáveis argumentos” críticos ao voto distrital. Por que Coimbra não faz o que ele próprio recomenda e apresenta os “ponderáveis argumentos” críticos ao voto proporcional? Como estafeta do petismo, Coimbra também critica “a mídia”, acusando um inexistente engajamento em favor do voto distrital. Isso é patrulha de encomenda. É para mobilizar as franjas do petismo nas redações. O partido lhe passou uma tarefa. Vou pular um trecho do artigo que nada quer dizer. Vamos ao parágrafo em que aparece o patrão.
(…)
A direita brasileira, através de seus núcleos de pensamento estratégico e intelectuais, quer fazer com que o país acredite que o PT e, por extensão, o governo (ou o que ela chama de “lulopetismo”) são a favor do sistema de representação proporcional porque assim se perpetuariam no poder. Quer, portanto, que “as pessoas de bem” se tornem defensoras do voto distrital, assegurando-as de que só com ele é possível simplificar as eleições, aumentar a responsabilidade do eleito, a vigilância do eleitor, acabar com a corrupção.

Ele quis escrever “assegurando-lhes”. O “assegurando-as” é coisa de analfabeto ilustrado. Sabem como é a convivência… Lula está pensando em convocar manifestações da UNE, da CUT e dos “movimentos sociais” em favor da proposta de reforma política do PT, que defende uma espécie de radicalização do voto proporcional, num modelo ainda mais perverso do que o de agora. Não pára por aí: quer também assaltar o nosso bolso com o financiamento público das campanhas, que passaria a conviver com o privado, num modelo misto. O dinheiro seria distribuído, claro!, seguindo o tamanho que os partidos tem hoje. Seria isso um esforço para perpetuar o PT no poder?

Olhem quem está falando
Coimbra? Os adversários que o voto distrital está arrumando depõem em favor da sua qualidade. Três dias antes da disputa do primeiro turno das eleições presidenciais de 2010, o “sociólogo”, com toda a sua ciência, afirmou que Dilma Rousseff venceria no primeiro turno com 12 pontos de vantagem sobre a soma dos votos dos adversários. Ela ficou com 46,91% dos votos — um errinho de mais de 15 pontos percentuais!
Dado esse desempenho, outro qualquer mudaria de profissão ou se esconderia debaixo da cama. Mas Coimbra não é pago para acertar. Há certas profissões em que errar rende muito mais. Mas saibam os senhores que Coimbra não tem um defeito: ele não é de direita! De jeito nenhum! Que alívio!
Agora vocês já sabem: Coimbra é contra! Assim, para acessar a página “Eu Voto Distrital, clique aqui.