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terça-feira, 1 de maio de 2012

Um retrato da politica brasileira: nao parece Chicago da Lei Seca?

Sem comentários. (PRA)

OPERAÇÃO MORDAÇA - CAPÍTULO I
Quidnovi, 09/03/2012 - 20:17

Ainda estava escuro, quando às 6 horas da manhã, do dia 29 de fevereiro de 2012, a mansão de luxo, na Rua Cedroarana, Quadra G-3, Lote 11, no Residencial Alphaville Ipês, em Goiânia, de propriedade do governador de Goiás Marconi Pirillo até 2010, foi invadida pela “swat” da Polícia Federal. Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso numa ação cinematográfica. O arrombamento da porta da sala e a chegada dos agentes federais ao quarto de Carlos Cachoeira coroava a Operação Monte Carlo.

Cachoeira, como é chamado, acordou assustado. No corredor, a sua prisão era assistida pela fresta da porta por uma criança de 12 anos, sua enteada, e pela esposa, Andressa. O delegado que comandava a operação pediu que o contraventor abrisse o cofre, mas Cachoeira argumentou que não sabia o segredo. Só Andressa tinha a senha. A polícia entrou no quarto e exigiu que o cofre fosse aberto. Imediatamente a esposa de Cachoeira mostrou o que havia guardado em segredo: joias, inclusive de família, uma quantia em dinheiro de um imóvel vendido por Andressa, documentos e alguns DVDs de conteúdo ainda não revelado.

Governador de Goiás Marconi Perillo
O delegado espalhou sobre a cama todas as joias, a maioria herança de família, principalmente dos avós e do ex-marido de Andressa Wilder Morais, atual suplente do senador Demóstenes Torres (DEM-GO). A esposa do contraventor pediu ao delegado que deixasse as jóias e que não invadisse o quarto que sua filha dormia. O pedido foi atendido. Cachoeira foi levado pela polícia, enquanto a criança atônita tentou ir ao seu encontro, sem entender o que se passava. Até este momento, Andressa estava forte. Mas ao ver a filha, a esposa de Cachoeira desmontou.
A Polícia Federal acreditou ter fechado a Operação Monte Carlo naquele momento, mas não sabia que ali começava um dos maiores escândalos da política brasileira. Cachoeira foi para a carceragem da PF em Brasília e preferiu o silêncio.
Em fevereiro de 2004, Carlinhos foi protagonista do escândalo Waldomiro Diniz, onde o assessor do ministro chefe da Casa Civil José Dirceu, foi denunciado por receber propina do esquema de jogo clandestino no país. Naquele momento, Cachoeira recebeu total apoio do PT comandado por Zé Dirceu, que rotulava o contraventor como “empresário do jogo”, e o Ministério Público como “aparelho repressor e conspiratório.”

José Dirceu
O ministro da Justiça era Márcio Tomaz Bastos. O advogado, era Antônio Carlos de Almeida e Castro, o Kakay. Quem acusava era o mesmo Ministério Público, que agora também comanda a operação só que a serviço do PT .
As digitais do PT foram constatadas quando a Polícia Federal começou as investigações sob o comando da sede em Brasília. O Palácio do Planalto acompanhava tudo e aguardava o momento certo para contrapor o escândalo do Mensalão que será votado nos próximos meses pelo Supremo Tribunal Federal.
Cachoeira tinha um forte esquema de proteção na Polícia Federal de Goiás, onde contava com seu fiel escudeiro o chefe da inteligência da Polícia Federal. Cachoeira sempre foi um homem muito bem relacionado. Colaborador de todas as horas nas campanhas políticas, principalmente do PT. As investigações aconteciam e surpreendiam o comando da PF. Políticos de alto escalão se misturavam com empresários e contraventores.
Cachoeira foi transferido como preso comum para a Penitenciária Federal de Segurança Máxima de Mossoró, no Rio Grande do Norte. Desembarcou na cidade sob um sol escaldante, de 42 graus, e foi levado para a cela 17 do presídio. Parecia que a situação tinha chegado ao fim, quando o contraventor foi chamado para raspar a cabeça e receber o tratamento de preso de alta periculosidade. Enquanto a máquina deixava à vista o couro cabeludo de Cachoeira, lágrimas de ódio rolavam pelo seu rosto. Naquele momento, revendo o filme da prisão de Fernandinho Beira Mar, o silêncio de Carlos Cachoeira se transformava em ira contra o PT. Somente no dia seguinte teve o direito de encontrar seu advogado Ricardo Sayeg.
Aí começava o desabafo de alguém que sabe muito e não vai evitar a vingança. Os responsáveis pela Operação Monte Carlo foram os petistas, o alvo; o líder de oposição Demóstenes Torres (DEM-GO) e a isca; o mesmo Cachoeira que no passado foi tão amigo do PT, e agora tão usado.

Aécio Neves
Com a chegada do senador Aécio Neves (PSDB-MG) no Congresso, era esperado que naturalmente o neto de Tancredo Neves fosse o líder da oposição ao Governo Dilma. Aécio recebeu algum recado e se mantem apagado no cenário político. Com isso, o líder do Democratas se destacou nacionalmente como o homem que lidera a oposição. Com o destaque, o senador passou a ser o inimigo número um do Partido dos Trabalhadores, que começou a caçada. Aécio Neves, taxado por ter telhado de vidro, trabalhou como bom mineiro, no silêncio, e assiste o colega de oposição servindo de boi de piranha. Nos bastidores se comenta que Aécio só irá assumir a liderança da Oposição no último ano do Governo Dilma evitando o desgaste prematuro.

Apesar do PT ter pesado a mão sobre Demóstenes Torres não foram encontradas provas que possam calar a voz da oposição. A relação do senador com Carlos Cachoeira é meramente social, como as mantidas com outros empresários do estado de Goiás. É menos íntima, por exemplo, do que a mantida entre o ex-presidente Lula e o seu churrasqueiro Jorge Lorenzetti, envolvido num escândalo de repasse de R$ 18,5 milhões em verba pública para sua ONG. Tanto barulho por conta de um fogão e uma geladeira, presente de casamento da esposa de Carlinhos para a esposa de Desmóstenes, amigas de longa data? Com certeza, há mais fartura à mesa do PT.
O exército de Cachoeira também foi desestabilizado. Funcionários públicos, empresários, políticos, policiais, familiares e pessoas que emprestavam o próprio nome para manter a força e o poder de quem hoje detém um arsenal capaz de mudar a história política do país foram presos ou desarticulados com a Operação Monte Carlo.
Cachoeira sempre foi um homem prevenido. Na era dos escândalos detonados dentro e fora dos Governos, o contraventor documentava todos os encontros com seus “parceiros”, em vídeo, áudio, contratos de gaveta, e as transações bancárias no Brasil e no exterior. Monitorava seus “sócios” através de agentes de informações. Durante todos esses anos que transitou nas altas rodas políticas e sociais do país, Carlinhos Cachoeira produziu vários documentários, capazes de mudar o curso da vida, principalmente de quem será julgado ainda este ano pelo Supremo, com a chance de ter o ministro algoz do Mensalão do PT, Joaquim Barbosa, na presidência da maior instância jurídica do País.
No encontro com o seu advogado Ricardo Sayeg, em Mossoró, Cachoeira avisou que a família e amigos tem nas mãos “esse” material que será despejado na imprensa nos próximos dias. Nesta sexta-feira, o contraventor começou a cumprir sua promessa. A Revista Veja, divulgou on line, vídeo no qual Carlinhos tem uma conversa com o deputado federal Rubens Otoni (PT-GO), na qual oferece R$ 100 mil para ajudar o petista e insinua já ter contribuído com a mesma quantia para o candidato em outra campanha.
Só um detalhe: Otoni nunca declarou a quantia ao Tribunal Regional Eleitoral e não consegue explicar o porquê disso.

A TRAJETÓRIA DE CACHOEIRA
Carlinhos Cachoeira cresceu no meio da jogatina. Seu pai fez parte do grupo de Castor de Andrade e levou para Goiás o conhecido jogo do Bicho. Seus irmãos difundiram pelo Estado o jogo e a chegada das máquinas caça-níqueis. Cachoeira, no entanto, se aperfeiçoou com projetos oferecidos em vários Estados batizado de On Line Real Time. Trata-se de um software que permite ligar as caça-níqueis diretamente à Caixa Econômica, buscando, aos moldes das Loterias, a legalização do jogo.
Carlinhos montou várias empresas para gerenciar o jogo nos Estados. E começou sua fortuna. Procurava grupos coreanos, italianos, espanhóis e vendia à vista, a exploração do jogo pelo país. Assim passou a recrutar políticos que viabilizavam a exploração dos jogos de azar pelos Governos estaduais. Cachoeira sofisticou seus negócios a partir da implantação de seu novo sistema com o apoio do então governador de Goiás Maguito Vilella, padrinho do seu primeiro casamento. Carlinhos criou a empresa Gerplan no governo de Vilella.

Marconi Perillo
Com a entrada do governador tucano Marconi Pirillo, o empresário do jogo expandiu seus negócios para vários Estados, até bater de frente com os interesses do então ministro chefe da Casa Civil, o petista Zé Dirceu.
Waldomiro Diniz, assessor de Zé Dirceu na Casa Civil, trabalhava para a família Ortiz, forte concorrente de Carlinhos Cachoeira. Os Ortiz lutavam pela permanência do jogo clandestino, pois reconheciam que o negócio era mais rentável. Carlos Cachoeira queria a legalização porque detinha toda uma estrutura profissional com tecnologia de hardware e software para a arrecadação do jogo pelo governo em tempo real e com a garantia de desconto dos impostos.

Waldomiro Diniz
Cachoeira então gravou Waldomiro pedindo propina para a campanha do PT em 2002. Com isso, o empresário do jogo usava o flagrante para combater a propina paga pela família Ortiz ao assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz, responsável também pelo pagamento do mensalão do PT dentro do Congresso Nacional.
Waldomiro era tido como uma águia, mas foi abatido pelo Ministério Público em pleno voo. O escândalo fragilizou José Dirceu permitindo o ataque de Roberto Jefferson, que culminou com a cassação do mandato de deputado e a demissão da Casa Civil.
Cachoeira foi cercado de atenções pelo PT durante todos esses anos para
evitar um escândalo maior em torno do financiamento de campanhas em vários Estados. Este roteiro, com conteúdo explosivo, desta vez virá à tona, pois Carlinhos planeja em sua solidão na cela 17 do Presidio de Segurança Máxima de Mossoró, como se vingar do PT que o abandonou e o colocou nesta situação.

Nesse arsenal explosivo tem várias empresas: Construtoras, Laboratórios, Bancos no Brasil e no Exterior. Na próxima edição, o Quidnovi vai mostrar, com documentos, como a máfia do jogo atua com o braço político nos cofres públicos.
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Complemento informativo: 
Todo mundo menos eu, Coluna Carlos Brickmann
(*) Coluna exclusiva para a edição dos jornais de Quarta-feira, 2 de maio


Anthony Garotinho, principal adversário político do governador fluminense Sérgio Cabral, divulgou fotos devastadoras (www.gabeira.com.br): Cabral e o dono da Delta, Fernando Cavendish, até agora personagem principal da CPI do Cachoeira, dançando juntos em Paris, enquanto suas companheiras exibiam ao fotógrafo as solas vermelhas dos caríssimos sapatos Louboutin. Num lugar chiquérrimo, a mais cafona das celebrações - sabe-se lá o que celebravam. 
Mas Garotinho não está a salvo: quem pagou a postagem de cartas pedindo votos a seus candidatos, nas eleições de 2004, foi, em grande parte, a Delta, de Cavendish. Nas cartas, Garotinho, evangélico, dizia estar orando pelos eleitores. Sua fatia da Delta, parece, não foi tão apetitosa; mas também comeu por lá.
Neste caso Delta-Cachoeira, não há quem escape: amigos, inimigos, antigos amigos hoje inimigos, antigos inimigos hoje amigos, ferozes defensores da moralidade dos outros, gente mais tolerante com a moralidade dos outros (e também com a própria). Há o tucano Perillo, governador de Goiás, há Demóstenes Torres, do DEM goiano, há Agnelo Queiroz, do PT de Brasília, há o peemedebista Sérgio Cabral, há Garotinho do PR (o mesmo do ex-ministro Alfredo Nascimento, aquele que caiu do Ministério mas manda muito no Senado e no partido). A CPI teme ligar a metralhadora, porque a arma pode girar.
Tanta gente! Daqui a pouco teremos de lembrar um velho sucesso de Carlos Galhardo (e também de Silvio Caldas): "Todo mundo, menos eu".
Velhos versos
Certos antigos poemas são irretocáveis. Desta mesma composição, uma única quadrinha: "Entre as luzes fatais da cidade/ A orgia cruel te envolveu/ Todo mundo chorou de piedade/ Todo mundo, menos eu".
Outros comentários já estão ficando fora de moda. O jornalista Ennio Pesce, sempre brilhante, costumava dizer que o mal do mar de lama é que as praias não davam para todo mundo. Pois não é que, neste caso, as praias cresceram muito?

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