Tenho, portanto, muitos motivos para ser absolutamente pessimista quanto à situação atual e quanto à degradação futura dessas instituições que condensam um pouco todos os males da educação brasileira, desde o pré-primário até o pós-doutoramento.
Os adeptos do regime atual poderão protestar, mas eu também já os ouvi, mais do que gostaria, nessas reuniões sindicais que decidem pela greve, como atualmente. A indigência mental dos argumentos só perde para a decadência moral dos propósitos. Estou verdadeiramente assustado e preocupado com o que vejo.
Não tenho nenhuma dúvida de que a situação vai continuar a se deteriorar, com greve ou sem greve.
Abaixo mais um desabafo sobre a questão.
Paulo Roberto de Almeida
Eis aí. Inaugurou-se um novo campus da Universidade Federal de Viçosa (que Lula conta como uma nova instituição) sem acesso por asfalto, sem iluminação e esgoto tratado — na Universidade Federal Rural de Pernambuco, em Garanhuns, a, perdoem-me a crueza, merda corre a céu aberto. Os depoimentos também deixam evidente a carência na estruturação técnica do corpo docente.
Estão em greve 70% das universidades federais do país. O assunto quase não é notícia. No ano passado, os institutos federais de ensino (também os de nível técnico) ficaram parados quase cinco meses. Poucos se interessavam pelo assunto. Por quê? Fácil de responder. Porque são os intelectuais e as ONGs petistas que hoje pautam boa parte dos veículos de comunicação. O partido também é majoritário nas associações e sindicatos de professores. Se os pelegos petistas não conseguiram impedir o movimento, é porque a situação, com efeito, não é das melhores — embora eu insista que a greve, nesses casos, prejudica, na verdade, os alunos. Servidores públicos deveriam pensar meios simbólicos de fazer seu protesto chegar à sociedade. Bem, essa é outra questão. Volto ao ponto.
“O problema de infraestrutura é grave. No meu curso de Medicina Veterinária, a gente tem muitos problemas com aula prática. Como pode um estudante de veterinária sem aula prática de anatomia, radiologia, citologia e por aí vai? O governo abre cursos e não dá condição nenhuma de o professor ensinar e de o aluno aprender. E a gente é obrigado a ouvir essa ladainha desses políticos! É revoltante!!!!”
“Sou professor de um curso criado pelo REUNI e sou testemunha da falta de planejamento e do descaso na criação de cursos. A Universidade criou o curso sem ter a infraestrutura e os professores necessários. Temos mais professores contratados do que efetivos (concursados), e não há perspectiva de novas vagas. Não temos laboratórios, e a primeira turma irá se formar sem nunca ter feito práticas básicas da área. A seleção exclusivamente feita pelo ENEM não seleciona. Nossos alunos entram sem saber resolver uma mísera equação de 1º grau, e a taxa de reprovação é alta, levando ao abandono. Mas, na propaganda do governo, tudo parece perfeito. Só olhando de perto para ver o quanto se festeja uma mentira.”
O retrato do Hospital do Fundão, ligado à UFRJ, é o retrato do governo do PT. Os médicos residentes andam à cata de pacientes para poderem ESTUDAR! A UFRJ abriu uma faculdade de medicina em Macaé SEM hospital de referência para os alunos que serão futuros médicos! Agora, eles vêm de Macaé para o Hospital do Fundão, onde há falta de TUDO, principalmente de pacientes, por falta de infraestrutura. As universidades federais do governo do PT só existem funcionando nas PROPAGANDAS do MEC a PREÇO DE OURO, PAGAS com NOSSO DINHEIRO. Lá TUDO funciona.
Os Hospitais Federais do RJ NUNCA antes tão precários. Há uns 10 anos, todos eram referência de bom atendimento. (…) Enquanto a USP se torna uma das melhores universidades do MUNDO, as federais nas mãos do PT estão em petição de miséria. Esse é o JEITO PT de governar que ELES querem para São Paulo, com Haddad de candidato. Que Deus livre SP dessa tragédia”
No discurso dos títulos a baciadas, Lula afirmou que chegou ao governo com 6 milhões de universitários e que, hoje, eles serim 12 milhões. Mentira! Segundo o Censo Universitário, no fim de 2010, assinado por Haddad, havia 6,37 milhões de estudantes no terceiro grau — 14,7% estão na modalidade “ensino à distância”, que tem virado, no Brasil, uma “picaretância”. Disse ter criado novas universidades federais. Mentira também! Deve chegar, no máximo, à metade. Algumas “universidades novas” são campi avançados ou divisão de instituições anteriores. Em 2010, as universidades públicas brasileiras formaram 24 mil estudantes A MENOS do que em… 2004!
3 comentários:
Paulo, uma pergunta:
Uma vez dentro do Itamaraty, posso fazer algum mestrado ou e/ou doutorado? Se sim, como funciona? Dá para conciliar o trabalho e o mestrado?
Com relação à educação superior no Brasil, tema do post, posso dar meu testemunho de como as coisas funcionam nas faculdades de economia. Felizmente, a gente tem a ANPEC, e isso parece que diminui bastante a ocorrência do que mais me irrita na academia, que é aquela bobagem de vc ter que puxar o saco de professor para conseguir ir avançando, ou ficar publicando uma tonelada de artigos sem entender bulhufas do que está escrevendo. A ANPEC seleciona os mestrandos em economia basicamente pela nota que os alunos tiram no exame de seleção. É uma prova extremamente difícil, e que cobra muito estudo. Eu percebo que o nível do pessoal tem avançado bastante. Um sujeito saído de uma faculdade pouco tradicional ou conhecida pode muito bem fazer o mestrado na PUC-Rio se conseguir uma nota elevada. Isso valoriza e premia o estudo sério.
Fiz minha graduação na UFJF, e tive alguns ótimos professores, muitos dos quais chegados recentemente de doutorados em universidades americanas ou inglesas. Obviamente, tive aulas com os pilantras também (ainda são uma parcela considerável), que publicam 250 artigos no ano, todos irrelevantes, e não se incomodam em dar uma aula porca, às vezes com métodos pré-históricos.
Mas pelo que percebi, acho que os departamentos de economia estão um pouco à frente dos outros. Em uma conversa com uma amiga socióloga e uma bióloga, acharam muito estranho eu não ter publicado nada durante a graduação. A socióloga tinha 5 artigos publicados. Disse que se vc não tiver produzido nada ou não tiver boas cartas de recomendação (puxa-saquismo), fica difícil conseguir um bom mestrado. Eu acho isso um absurdo. Entramos na graduação para aprender a ciência primeiro, depois é que temos que produzir. Ainda existe um corporativismo muito grande na academia brasileira, além de uma premiação por quantidade de produção que é patética.
Abraços, Zamba
Zamba
O Itamaraty parece intelectual mas não tanto. Dá para estudar, mas isso depende muito dos chefes, em Brasilia ou nos postos, pois pode coincidir com as horas de trabalho.
Ou seja, chances existem, dados pelo ambiente, mas cabe ao candidato fazer os esforços devidos para se qualificar.
Alguns colegas aproveitaram postos para fazer mestrado e doutorado nas melhores universidades da Europa e dos EUA, mas isso depende muito, como disse, dos chefes e do próprio candidato.
Paulo Roberto de Almeida
Saquei... valeu!
abraços, Zamba
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