Dixit, redixit, tridixit (et encore):
Brasil se isola na questão síria
Editorial O Globo, 31/05/2012
No
momento em que os principais países recorrem às mais duras medidas para
repudiar o massacre sistemático do povo sírio por seu próprio governo, o Brasil
mais uma vez decide contemporizar. Segundo o Itamaraty, o governo brasileiro está preocupado em não piorar ainda
mais a situação na Síria. "O diálogo precisa ser mantido", sustentou
o porta-voz da chancelaria brasileira.
Não
é um bom sinal. Mostra uma recaída na diplomacia companheira praticada nos dois
governos Lula, de um terceiro-mundismo arcaico e antiamericanismo juvenil, que
resultou em episódios grotescos, como a recepção em Brasília do presidente
iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, e a viagem do brasileiro a Teerã para tentar
evitar, inutilmente, uma ação da comunidade internacional contra o programa
nuclear iraniano. Ou manifestações de simpatia pelo ditador do Zimbábue,
Mugabe, com quem se reuniu por iniciativa de Hugo Chávez. Ou a impotência
diante da transformação da Embaixada do Brasil em Tegucigalpa num palanque do
aliado Manuel Zelaya, presidente deposto de Honduras.
A
presidente Dilma Rousseff deu sinais importantes de que
restabeleceria as melhores tradições do Itamaraty
ao fazer dos direitos humanos a pedra de toque de sua política externa. Foi uma
decorrência disso o voto brasileiro no Conselho de Direitos Humanos da ONU de
apoio à condenação de atrocidades de Muamar Kadafi na Líbia. Mas a evolução dos
fatos, que levaram à intervenção militar da Otan para derrubar o ditador, criou
mal-estar em muitos países, inclusive o Brasil. Objetavam que a ONU teria dado
carta-branca à Otan para derrubar um governo, ainda que fosse uma ditadura
cruel.
Agora,
porém, não há justificativa para a inação do governo brasileiro diante do
massacre cotidiano de sírios por parte de um regime que não se acanha de
praticar genocídio. Bashar Assad tacha de "terroristas" os que lutam
para derrubá-lo - uma força heterogênea de rebelados contra a ditadura,
desertores das forças sírias, civis que pegaram em armas. Mesmo que haja entre
eles sectários. Assad só tem demonstrado frieza diante das tentativas da
comunidade internacional de obter um cessar-fogo via esforços do
ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan.
Recentemente,
Dilma determinou ao primeiro escalão
da área internacional que repensasse a política externa brasileira para
ajustá-la ao pós-Primavera Árabe e à crise europeia. O objetivo seria aumentar
a influência do país no cenário internacional. Mas há erros evidentes. Ao se
referir às divergências de opinião no Conselho de Segurança em relação à Síria,
principalmente entre americanos, de um lado, e China e Rússia, de outro, o
assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, comentou: "Parece
a volta da Guerra Fria."
A
frase resume o caráter equivocado da posição brasileira num mundo
multipolarizado. Não tem sentido manter uma postura de inércia envergonhada,
até porque entre ela e a intervenção militar há uma série de gradações
diplomáticas possíveis. O que não pode é defender o indefensável só para não
destoar de "companheiros" da sigla Brics e se isolar dos demais
países.
2 comentários:
MAS COMO MANTER UM DIALOGO SENSATO NA ONU , QUANDO PAISES COMO CHINA E RUSSIA , TEM O PODER DE VETO ????? ACASO UM DIALOGO SENSATO, VAI MUDAR A OPINIÂO DESTES PAISES ????? È POR ISTO QUE EU DIGO: A ONU,SÒ SERA EFICIENTE ,QUANDO UMA RESOLUÇÂO FOR DECIDIDA POR 2/3 DAS NAÇOES AFILIADAS ...IMPOSSIVEL UMA RESOLUÇÂO APOIADA POR 2/3 DAS NAÇOES DO GLOBO , SER IMPRUDENTE ...A ONU , PRECISA SIM PASSAR POR UMA MUDANÇA ..OU ENTÂO QUE SE CRIE UMA NOVA ORGANIZAÇÂO , ONDE 2/3 DAS NAÇOES , TENHA O DIREITO DE DECIDIR O QUE È MELHOR PARA A HUMANIDADE ...
Quando 2/3 for suficiente para decidir qualquer ação por parte da ONU, os Estados Unidos e seus aliados cegos não precisarão da existência da ONU.
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