Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
quarta-feira, 8 de maio de 2019
O que Bolsonaro poderia ter aprendido com Aisin Gioro Pu Yi? - Fabio de Oliveira Ribeiro
sexta-feira, 12 de abril de 2019
Araujo constrange o Itamaraty : alvo de crescente oposicao interna - Carta Capital
Araújo constrange o Itamaraty e é alvo de crescente oposição interna
“Não acho que ele seja manipulador ou mau-caráter. Naquele discurso de posse, deu pra ver que ele quase chorou”, disse um terceiro-secretário lotado em Brasília.
Nunca antes na história do Itamaraty
Dança das cadeiras nas chancelarias
domingo, 20 de agosto de 2017
Um duelo (diplomatico) a distancia com Mangabeira Unger (2002) - Paulo Roberto de Almeida
Eu comentei também imediatamente, e mandei o texto para o próprio, em seu endereço de Harvard. Nunca recebi resposta, sequer uma nota acusando recepção. Tampouco publiquei ou divulguei este texto que segue após o artigo original.
Transcrevo agora pois talvez alguns dos debates de 2002 ainda tenham algum significado nos dias que correm. Provavelmente, pois durante os 13 anos da gestão companheira não avançamos em praticamente nada, nem em diplomacia, nem em qualquer outro terreno, a não ser na corrupção.
Acho que o Brasil está rigorosamente atrasado mais de duas décadas, em suas políticas públicas e até em sua diplomacia. Mas este é outro debate.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 20 de agosto de 2017
Roberto Mangabeira Unger
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Ele elenca, em seguida, quatro tarefas que deveriam “nortear uma nova política exterior”. Suas propostas são simples e diretas e merecem citação explícita, seguidas de comentários.
1) “A primeira tarefa é trabalhar pela construção de instituições que definam uma ordem política e econômica multilateral capaz de lidar com o fato do poderio americano.”
De acordo, mas a proposta não contradiz o que já vem sendo dito e feito pelo Brasil.
Corolário: “E que abram caminho para uma diversidade de trajetórias de desenvolvimento.”
Não poderia ser de outra forma. O irracional seria tentar perseguir a todo custo uma ilusória uniformização de posições em matéria de políticas econômicas e de modelos de desenvolvimento, o que apenas violentaria as condições próprias e o contexto exclusivo em que se dão nosso próprio processo de desenvolvimento e nossa inserção internacional. Não se compreenderia aliás uma política externa que tentasse encaixar o Brasil em moldes pré-fabricados.
Corolário: Essa tarefa, segundo Mangabeira, “exige entendimentos arrojados com alguns dos outros grandes países continentais, sobretudo a China e a Índia, com a União Européia e com nossos aliados potenciais dentro dos Estados Unidos”.
Não se percebe bem o ineditismo de tais propostas, uma vez que a diplomacia do Brasil vem atuando precisamente nessa linha, de diversificar parcerias externas e lograr uma intensificação do relacionamento com grandes países emergentes, como podem ser a China, a Índia e a Rússia. A relação com a UE é tradicional e muito intensa, atuando como contrapeso aos Estados Unidos pelo menos desde o Império e começo da República. Seria, por outro lado, muito útil que fossem identificados esses “aliados potenciais” dentro dos Estados Unidos que não estão muito claros quem sejam exatamente. Se forem os anti-globalizadores do movimento sindical e ecológico ou, ainda, protecionistas enrustidos ou declarados à la Ralph Nader, o Brasil teria muito pouco a ganhar com eles, já que eles atuam, justamente, para dificultar o acesso de nossos produtos (sobretudo agrícolas) ao mercado dos EUA.
2) “A segunda tarefa é aproveitar as contradições da economia global, buscando acordos e parcerias não só com Estados e blocos regionais mas também com empresas.”
De acordo novamente, mas é preciso obter um mapeamento preciso, a ser fornecido por Mangabeira, dessas contradições existentes na economia global, a partir das quais seria possível traçar o quadro de alianças preferenciais que a diplomacia brasileira buscaria. Do que pode ser observado atualmente, trata-se exatamente do que vem sendo feito pela atual diplomacia, que está longe de refugiar-se no “isolamento”, como quer nosso articulista.
3) “A terceira tarefa é começar a refazer nossa situação na América do Sul através dos empreendimentos comuns e das instituições comuns que faltaram ao Mercosul.”
Perfeito: mais uma vez aguarda-se o detalhamento desses empreendimentos e instituições comuns “que faltaram ao Mercosul”, pois fica parecendo que a crise deste último deve-se à falta dessas instituições, não à existência de condições econômicas objetivas em cada um dos países membros.
4) “A quarta tarefa é cumprir nossa obrigação sagrada para com a África sofredora, ajudando o Brasil, desse modo, a reconciliar-se consigo mesmo e a ganhar a energia dos magnânimos.”
Esta parte entra num terreno que pertence mais à obrigação moral do que ao cálculo racional. Se temos alguma obrigação sagrada para com a “África sofredora”, que justifique sacarmos nosso talão de cheques para atender necessidades daqueles povos, seria o caso de discutir com o Congresso como empregar esse dinheiro, pois vários parlamentares podem argumentar que temos sofredores de sobra, aqui mesmo no Brasil, com os quais temos deveres igualmente, ou mais, sagrados.
Em síntese, o Brasil dispõe de uma diplomacia que pode e deve sofrer diversos aperfeiçoamentos de forma e de conteúdo. Tal tarefa será empreendida com a colaboração de todos aqueles interessados num debate sério sobre a questão. A condição primeira para que tal debate seja feito seria evitar as simplificações e as meias-verdades, evitando caracterizar os dados da realidade pelo seu travestimento indevido numa série de conceitos que relevam mais da acusação gratuíta do que da análise serena.
terça-feira, 22 de setembro de 2015
Deficit diplomatico - Rubens Barbosa (OESP)
Rubens Antonio Barbosa
O Estado de S.Paulo, 22/09/2015
As consequências dos erros na condução da economia estão sendo sentidos por todos. A avaliação das opções estratégicas dos governos do PT na área externa mostra resultados em geral contrários aos interesses nacionais.
A ação da politica externa e de comércio exterior dessas administrações partiu de premissas e percepções que se provaram equivocadas. As prioridades foram, nas grandes linhas, as mesmas dos governos anteriores (África, Oriente Médio, CSNU, América do Sul, China, Mercosul). O que mudou foram a ênfase e a forma da implementação das políticas por influência da plataforma de um partido político.
O declínio do poderio dos EUA e a crítica ao processo de globalização econômica e financeira estavam no centro da visão de mundo do lulopetismo, que requentou temas da esquerda da década de 60 contra a opressão capitalista e o imperialismo.
A retórica oficial ressaltou o interesse do governo em mudar a geografia politica, econômica e comercial global pelo fortalecimento do multilateralismo e pelo fim da hegemonia dos EUA, por meio da reforma dos organismos internacionais e, em especial, do Conselho de Segurança da ONU. Como corolário, politicas começaram a ser desenhadas para mudar o eixo da dependência comercial do Brasil pela redução da influência dos países desenvolvidos e pelo aumento da cooperação com os países em desenvolvimento.
A relações Sul-Sul passaram a ser uma das prioridades da política externa com maior aproximação e ativismo na América do Sul, na África e no Oriente Médio e a participação nos blocos integrados por países dessas regiões e outros emergentes (BRICS, IBAS, UNASUL, CELAC).
Ampliar a integração regional e fortalecer o Mercosul e sua expansão para formar uma área de livre comércio na América do Sul como forma de oposição aos EUA, foram outras vertentes da política externa que afetaram as reais prioridades do Brasil no seu entorno geográfico.
A aplicação da plataforma do PT com a partidarização da política externa e a criação na América Latina de canal paralelo ao do Itamaraty culminou com a politica de afinidades ideológicas, generosidade e paciência estratégica nas relações econômicas e comerciais com os países sul-americanos como Venezuela, Argentina, Bolívia, Cuba e com países africanos.
A prioridade absoluta nas negociações comerciais multilaterais e a crítica à abertura comercial com a rejeição dos acordos de livre comércio colocaram o Brasil na contramão das tendências atuais de maior integração econômica global
O resultado dessas opções criou um verdadeiro déficit diplomático para o Brasil.
Na política externa, de pouca relevância no governo Dilma, deu-se o enfraquecimento da voz do Brasil no contexto internacional o que afetou nossa projeção externa. Isso criou no Itamaraty crescentes problemas operacionais de gestão pela falta de recursos e resultou na redução do perfil brasileiro nos temas globais discutidos nos organismos internacionais especializados. A desintegração regional se acentuou pela ausência de liderança brasileira e pelo apoio à ALBA (Aliança Bolivariana). Pela dificuldade de fazer avançar o Mercosul, deu-se ênfase às relações bilaterais com os países sul-americanos. O antiamericanismo e o congelamento das relações com os EUA, refletiram-se na criação de novas instituições sul-americanas (CELAC, UNASUL). Sem visão estratégica, abandonaram-se as prioridades de projetos de infraestrutura na América do Sul. A baixa prioridade dada às importantes nações democráticas e a aproximação e o apoio a regimes de clara inspiração antidemocrática são reflexo da confusão entre valores e interesses na definição de políticas nos temas globais (democracia e Direito Humanos). A ausência de uma clara visão do interesse brasileiro se manifesta em relação aos países desenvolvidos (União Europeia, EUA e Japão), China e BRICS.
No tocante ao comércio exterior, essas políticas geraram o isolamento do Brasil das negociações comerciais no âmbito da OMC. Enquanto foram assinados mais de 400 acordos comerciais, o Brasil assinou apenas quatro (Israel, Egito e Autoridade Palestina e África meridional (SACU). Hoje vemos o Mercosul comercial paralisado e cedendo lugar a temas sociais e políticos. Além de que o intercâmbio com a África e o Oriente Médio pouco cresceu em termos percentuais no total do comércio exterior brasileiro. O empobrecimento da pauta comercial brasileira e a perda de espaço no comércio internacional estão associados à manutenção de uma economia fechada. E, por causa de nossa reduzida inserção nas cadeias produtivas globais e à aplicação de políticas restritivas no comércio exterior, acabamos tendo limitado acesso à inovação e à tecnologia.
No inicio do segundo mandato, o governo Dilma até ensaiou alguma evolução na política externa e na negociação comercial externa. Porém, em tempos de ajuste da economia, o governo se vê diante de uma escassez de meios que limitam a ação externa. Os resultados das conversações com os EUA e a Alemanha foram limitados e mais de boas intenções do que de ações concretas. Prossegue, entretanto, a influência partidária, como evidenciado pela não retomada do acordo de salvaguardas tecnológicas com Washington.
As opções equivocadas geraram custos enormes ao pais e terão de ser revistas. Em virtude da partidarização e da falta de visão estratégica, faltou, como recomendou o Barão do Rio Branco, “tomar a dianteira e construir uma liderança serena, coerente com nossa dignidade de nação”.
O ministro Mauro Vieira procura movimentar a ação externa com viagens à Africa, ao Irã e Líbano e afirma que a única ideologia que guia o Itamaraty é a da defesa do interesse nacional. Trata-se de importante mudança de política que, espera-se, possa de fato produzir resultados concretos.
Rubens Barbosa, presidente do Conselho de Comércio Exterior da Fiesp.
sexta-feira, 25 de julho de 2014
O Golias anao e o David gigante: apenas um conflito de egos em torno do conflito Israel-Palestina? (sic)
Por Redação, com agências internacionais - de Jerusalém
Além das mortes de mais de 700 palestinos, o governo de Israel conseguiu, nesta quinta-feira, ferir gravemente a diplomacia brasileira ao afirmar, por intermédio de sua Chancelaria, que o “comportamento” do Brasil “ilustra a razão por que esse gigante econômico e cultural permanece politicamente irrelevante”. Além disso, o governo disse que o país escolhe “ser parte do problema, em vez de integrar a solução” e, segundo o porta-voz israelense Yigal Palmor, o Brasil não passa de um “anão diplomático”. O “comportamento” que mereceu as duras críticas de Tel Aviv trata-se do comunicado distribuído na noite passada, no qual o Itamaraty condena o “uso desproporcional da força” por parte de Israel e não faz referência às agressões de palestinos contra israelenses.
– Essa é uma demonstração lamentável de por que o Brasil, um gigante econômico e cultural, continua sendo um anão diplomático – afirmou Palmor ao diário israelense The Jerusalem Post.
Outra medida que irritou o Estado judeu foi a reprimenda diplomática brasileira ao chamar o embaixador de Israel em Brasília, Rafael Eldad, para expressar seu protesto, e convocar o embaixador brasileiro em Tel Aviv, Henrique Pinto, de volta a Brasília. Segundo as regras da diplomacia, o protesto feito a Eldad e a convocação de Pinto mostram sinais de forte desagrado. Em sua página na internet, a diplomacia israelense acusou o Brasil de “impulsionar o terrorismo” e afirmou que isso, “naturalmente”, afeta a “capacidade do Brasil de impulsionar influência”.
Na nota, Israel se diz “decepcionado” com a convocação do embaixador brasileiro e observa que a atitude “não reflete” o nível das relações bilaterais, além de “ignorar o direito de Israel de se defender”. “Israel espera apoio de seus amigos em sua luta contra o Hamas, reconhecido como uma organização terroristas por muitos países”, afirma o documento.
Apenas algumas horas após a crítica sem precedentes do governo israelense, o chanceler brasileiro, Luiz Alberto Figueiredo, colocou panos quentes na crise ao afirmar que a “discordância entre amigos é natural”. Figueiredo acrescentou que o comunicado do Itamaraty na noite passada, que recebeu o aval da presidenta Dilma Rousseff, segundo apurou o diário conservador paulistano Folha de S. Paulo, “não apaga as críticas feitas anteriormente ao Hamas só porque não as menciona”.
– O gesto que tinha que ser feito foi feito. O Brasil entende o direito de Israel de se defender, mas não está contente com a morte de mulheres e crianças – explicou.
Fontes citadas pela Folha afirmam que o Itamaraty e o Palácio do Planalto ainda estudam a melhor reação para um comentário considerado “tão duro”. “Se, de um lado, alguns diplomatas brasileiros alertam para que não se ‘bata boca’ com Tel Aviv, outros analisam ser necessário uma resposta enérgica da própria presidente da República para responder a crítica à altura. Em Gaza, o gesto brasileiro foi recebido com festa. Palestinos se aproximaram da reportagem da FSP para expressar gratidão ao governo Dilma Rousseff”.
– Obrigado por convocar seu embaixador. O Brasil é melhor do que os países árabes, como o Egito, que não fazem nada – disse Tawfiq Abu Jamaa, em Khan Yunis.
Desde que começou a operação israelense Margem Protetora, no dia 8 deste mês, mais de 700 palestinos, na grande maioria civis, foram mortos. Do lado israelense, morreram 32 militares e três civis, sendo um cidadão tailandês. O intuito da operação é desmantelar o movimento radical islâmico Hamas, que governa a Faixa de Gaza.