Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
terça-feira, 12 de novembro de 2013
Educacao: melhor jogar o MEC na lata do lixo e comecar tudo outra vez...
terça-feira, 22 de outubro de 2013
Plano Nacional de Educacao: "equivocado e inocuo" - Claudio Moura Castro
Especialista considera Plano Nacional de Educação 'equivocado e inócuo'
quarta-feira, 26 de junho de 2013
Miseria educacional brasileira: o pior entre 35 paises (OCDE)
terça-feira, 16 de abril de 2013
Miseria educarional (e professoral) brasileira: um belo futuro pela frente, e por tras, e por todos os lados...
Editorial O Estado de Minas, 15 de abril de 2013
"Insanidade", disse Albert Einstein, "é repetir as mesmas ações e esperar resultados diferentes". A afirmação do criador da Teoria da Relatividade serve para a preocupante situação do magistério. Reduz-se significativamente o número de candidatos a professor matriculados nas universidades. Segundo dados do Censo de Educação Superior de 2011, são eles que mais abandonam a carreira durante o curso.
Física encabeça a lista dos desistentes. Nada menos de 31% dos estudantes interrompem os estudos e tomam outros rumos. Em números absolutos, português e matemática sobressaem - 40 mil alunos evadiram em busca de melhores oportunidades. Vale lembrar que as três matérias são obrigatórias nos níveis fundamental e médio. Quem as ministrará?
Ganha cores nítidas, assim, o quadro que se vinha esboçando havia anos. Salários baixos, falta de estímulo, más condições de trabalho e poucas oportunidades de ascensão funcional tornam a carreira pouco atraente. Comparada com outras que exigem o mesmo grau de escolaridade, fica claro o desprestígio que expulsa talentos e joga na orfandade milhões de brasileiros cuja única oportunidade de melhoria social reside na educação de excelência.
Não se pode esquecer, também, o apelo dos concursos públicos. O recrutamento universal baseado na meritocracia atrai os ex-futuros professores com a remuneração, a possibilidade de progressão na carreira e a carga mais leve que a de responder pelo futuro de crianças e jovens. A conclusão não pode ser outra: ao desqualificar o magistério, o governo deu um tiro no pé do país. Estimulou a evasão dos melhores para outros destinos. Só ficaram os raros vocacionados ou os incapazes de buscar saídas.
É um círculo vicioso. Maus professores formam maus profissionais, que, por sua vez, serão maus advogados, maus engenheiros, maus arquitetos, maus garçons, maus administradores, maus tudo. A falta de excelência do ensino contribui para a baixa produtividade do trabalhador e a falta de competitividade da economia. Em suma: emperra o desenvolvimento e atrasa a concretização do projeto de entrar no fechado clube das nações desenvolvidas.
Os pessimistas dizem que o Brasil perdeu o trem da história. Na década de 1970, ao promover a reforma do ensino, democratizou o acesso à escola. Mas ficou no meio do caminho. Negligenciou a democratização do conhecimento. O resultado é a tragédia revelada pelas avaliações nacionais e internacionais de cursos. Os otimistas, porém, acreditam que ainda há tempo.
O bom senso manda ser realista. Além de salários compatíveis com os pagos aos profissionais de nível superior mais valorizados, impõe-se oferecer plano de carreira atraente, melhorar as condições de trabalho e dar prestígio ao professor. Continuar a brincadeirinha do faz de conta é apostar na insanidade de Einstein. Ou acreditar em Papai Noel e na Gata Borralheira - o que dá no mesmo.
Portugues: lingua "estrangeira", no Brasil (ou seria o Purtugueis?)
Leonardo Vieira
O Globo, 16/04/2013
Instituições como UFF e UniCarioca dão cursos para tentar resolver problema que, segundo especialistas, vem do ensino médio e da falta do hábito da leitura
Apesar figurar entre os 4% dos brasileiros que frequentam cursos de ensino superior, uma parte dos universitários do país ainda lidam com o idioma de Camões como se fosse uma língua estrangeira. Esta é a impressão de professores e outros profissionais que lidam diariamente com essas deficiências. O quadro é tal que instituições como UFF, PUC e UniCarioca oferecem aulas de português instrumental para tentar suprir a lacuna deixada pelo ensinos fundamental e médio. A partir deste ano, a UFRJ também terá aulas de apoio para alunos com problemas de escrita.
Conforme O GLOBO mostrou ontem, formandos que prestaram o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) em 2012 cometeram erros graves de ortografia na prova dissertativa, como "egnorancia" e "precarea". A prova, que mede exatamente a qualidade do ensino superior no país, revelou ainda a falta de coesão e coerência e falhas de construção frasal em muitos dos estudantes.
Para tentar reverter esse quadro, a UFRJ, que já oferecia aulas de apoio em matemática, física e química, também vai passar a ministrar cursos de língua portuguesa, a partir deste ano. No Centro Universitário UniCarioca, aulas gratuitas de português acontecem aos sábados, voltadas para alunos, independentemente da graduação. Com foco em gramática e no novo acordo ortográfico, o curso "Letras&Números" é aberto também a convidados que desejam aprimorar o idioma nativo.
De acordo com a coordenadora pedagógica da Unicarioca, Márcia Aguiar, mesmo tomando parte do fim de semana dos estudantes, a procura tem sido muito maior que a oferta limitada de 100 vagas por semestre. Segundo ela, as maiores dificuldades trazidas pelos alunos são relacionadas à ortografia e à elaboração de frases mais complexas, com períodos compostos. E a explicação é simples:
- Se a pessoa não lê muito, ela certamente vai ter dificuldade em escrever. Por isso nós vemos essas palavras escritas de forma errada e frases sem sentido - comenta a coordenadora. - É um problema estrutural. Muitas pessoas vêm do ensino médio para a faculdade sem saber escrever direito.
O diagnóstico é ratificado pelo coordenador de seleção do Núcleo Brasileiro de Estágios (Nube), Erick Sperduti, que ainda chama atenção para a "falta de paciência" da geração atual com a leitura. No ano passado, Erick participou de um estudo com 7.219 jovens à procura de estágio tiveram que escrever 30 palavras simples ditadas pelos pesquisadores. O resultado foi alarmante: 28,8% deles erraram mais do que sete termos, o que já bastaria para serem reprovados em processos seletivos de grandes empresas. Surgiram vocábulos como "pro-penção" e "flequicivel".
- O problema começa com o próprio jovem que não desenvolve o hábito da leitura. Mesmo em multinacionais, a pessoa precisa escrever relatórios e se comunicar perfeitamente com seus superiores. Não basta falar inglês ou dominar informática. O Português é levado a sério no mundo corporativo - esclarece Erick.
Apesar da deficiência, a coordenadora do Departamento de Letras da UFF, Mariangela Rios, vê uma maior consciência da importância da língua nativa pelos jovens. Segundo ela, é cada vez maior dentro da UFF a obrigatoriedade de disciplinas de Português instrumental em graduações com Economia e Biblioteconomia. Mariangela entende ainda as falhas graves como um processo sociológico mais profundo.
- A dificuldade do aluno é mesmo no ingresso na universidade. Em cursos com grande relação de candidato/vaga como Medicina, os alunos vêm com bagagem muito maior que outros como a própria faculdade de Letras. Neste caso, os estudantes, muitas vezes, vêm de cursos e escolas com qualidade de ensino mais baixa - argumenta.
Educacao: o Brasil dividido (4 a 5 anos de diferenca entre o Sul-Sudeste e o Norte-Nordeste)
Estado de São Paulo, 16/04/2013
Alunos de Estados das Regiões Norte e Nordeste do Brasil têm quatro anos de atraso na aprendizagem em relação aos estudantes do Sul e Sudeste do País.
Levantamento feito com base em dados da Prova Brasil mostra o porcentual de alunos de escolas públicas que obtiveram pontuação considerada adequada no exame
Em Alagoas, por exemplo, 57% dos estudantes terminam o 9.º ano do ensino fundamental sem saber o conteúdo de matemática que deveriam dominar já no fim do 5º. Ano
Os dados são de um levantamento da Fundação Lemann, feito com base em microdados da Prova Brasil, e mostram o porcentual de alunos de escolas públicas que obtiveram pontuação considerada adequada no exame.
Os resultados apontam que, ao fim do ensino fundamental, no 9.º ano, os estudantes que moram em Alagoas, no Maranhão e no Amapá sabem menos português e matemática do que aqueles que estão terminando o 5.º ano na rede pública de Estados como Minas Gerais, do Distrito Federal e de Santa Catarina.
Em Alagoas, por exemplo, 57% dos estudantes terminam o 9.º ano do ensino fundamental sem saber o conteúdo de matemática que deveriam dominar já no fim do 5.º ano. Isso significa que mais da metade dos estudantes foi para o ensino médio sem saber, por exemplo, localizar informações em um gráfico, competência esperada para uma criança de 10 anos de idade.
No outro extremo, em Minas Gerais, 87% dos alunos do 9.º ano têm conhecimento proficiente ou avançado do conteúdo do 5.º ano. O índice chega a 85% em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul.
Se o aprendizado dos formandos do 9.º ano já está muito aquém do que eles deveriam saber no 5.º ano, o cenário fica ainda pior se forem consideradas as competências esperadas para a etapa que estão concluindo.
Na rede municipal do Amapá, por exemplo, apenas 2,4% dos alunos vão para o ensino médio com aprendizado adequado para enfrentar a nova etapa.
quinta-feira, 4 de abril de 2013
Eu conheco um pais que NAO vai dar certo...; nao pode dar, não vai dar...
Carlos Alberto Sardenberg
O Globo, 4/04/2013
O ponto de partida é o seguinte: as crianças estão com dificuldades para alcançar a plena alfabetização no primeiro ano, ou seja, aos sete anos. Além disso, há um número expressivo de reprovações nesse primeiro ano, justamente por causa do atraso em leitura e redação.
Qual a resposta da autoridade educacional?
É fácil: eliminar a reprovação ─ todos passam automaticamente ─ e, sobretudo, fixar como meta oficial que a alfabetização deve se completar no segundo ano, quando a criança estiver fazendo oito anos. Em resumo, dar um período a mais para aprender a ler e escrever.
Não, não se passa no Brasil. Está acontecendo na Costa Rica. Mas, no Brasil, está, sim, em andamento o programa Alfabetização na Idade Certa, sendo esta também definida aos 8 anos.
A Costa Rica é o melhor país da América Central e considerado de bom padrão educacional. De fato, no teste Pisa, aplicado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico em alunos de 15 anos, de 70 países, a Costa Rica obteve 443 pontos em leitura, ficando na 44ª. posição. Na América Latina, só perde para o Chile, cujos alunos alcançaram um pouco mais, 449 pontos. O Brasil está pior, 412 pontos nesse quesito.
Os cinco primeiros colocados são os alunos de Xangai, Coreia do Sul, Finlândia, Hong Kong e Cingapura, com notas entre 526 e 556. Pois nesses países a idade certa para alfabetização é seis anos. Isso mesmo, dois anos antes das metas de Brasil e Costa Rica. A questão é: quando e por que se precisa de mais tempo?
Na Costa Rica, onde a reforma educacional ainda está em debate, há dois tipos de argumentos, um referente ao calendário escolar, outro propriamente pedagógico.
No calendário: o problema, dizem autoridades, é que há muitos feriados e muitos períodos de férias, de modo que o ano letivo não passa de seis meses. Se as crianças vão menos dias à escola, claro que aprendem menos.
O leitor pode ter pensado: mas não seria o caso de aumentar o número de dias letivos?
Para os políticos, nem pensar. Criaria uma encrenca danada com professores e outros funcionários do sistema.
Já o argumento pedagógico diz que não se pode forçar uma criança de sete anos, que se deve deixá-la seguir segundo suas necessidades e seu próprio ritmo.
Quem acompanha o debate educacional no Brasil já ouviu argumentos semelhantes. Por exemplo: no programa Alfabetização na Idade Certa não foram introduzidos padrões que permitam medir se a criança sabe ou não ler. Seria possível fazer isso, uma medida numérica? Sim, já se faz pelo mundo afora. Em Portugal, por exemplo, no primeiro ano, o aluno deve ler em um texto simples, 55 palavras por minuto; no ano seguinte, 90 e, no terceiro ano, 110.
Simples, objetivo, de fácil avaliação.
Não é só no Brasil, mas em praticamente toda a América Latina esse tipo de avaliação causa até uma certa ojeriza. Entre professores, aqui, é forte a rejeição a avaliações concretas, como, por exemplo, um teste nacional que meça a capacidade dos mestres várias vezes ao longo da carreira. Médicos e advogados também não querem fazer as provas profissionais.
Tudo considerado, ficamos com as metas pouco ambiciosas. Pode-se argumentar que seria, digamos, romântico colocar como meta a alfabetização aos seis anos no Brasil. Se um número expressivo de jovens é classificado como “analfabeto funcional” depois do ensino médio, como querer que todos aprendam a ler e escrever aos seis anos?
Um equívoco, claro. Não há razão alguma para não fixar para os que entram agora na escola as metas mais rigorosas e adequadas aos padrões internacionais.
Há também uma questão política, que tem a ver com o desempenho dos governos: metas mais largas são mais fáceis de atingir e, claro, de propagandear.
Isso reflete uma cultura ─ a de evitar o problema, escolher o desvio mais fácil e politicamente mais vendável. Se as crianças não estão aprendendo na idade certa, se dá mais tempo a elas, em vez de tentar melhorar o processo de alfabetização. E, avançando, se os alunos das escolas públicas não conseguem entrar nas (ainda) boas universidades públicas, abrem-se cotas para esses alunos, muito mais fácil do que melhorar o ensino médio.
Dizem: o problema é que as universidades públicas estavam sendo ocupadas pelos alunos mais ricos vindos do ensino médio privado. Falso. O problema não está nas boas escolas privadas, está na má qualidade das públicas. Melhorar estas seria a verdadeira política de igualdade.
A propósito: nas boas escolas privadas, as crianças já sabem ler e escrever bem aos seis anos.
terça-feira, 19 de fevereiro de 2013
Miseria da educacao no Brasil: a industria da aprovacao
sábado, 9 de fevereiro de 2013
"Debate" de ideias: miseria da academia, e do jornalismo (Olavo de Carvalho)
Sou um homem de ideias, se posso ousar na autocaracterização, ou pelo menos respeito ideias (quando consistentes, claro, lógicas, e sólidas), e seu poder de mudar o mundo. Como eu mesmo não tenho poder algum -- certamente não material, ou de fortuna, sequer o do alcance nos meios de comunicação, não tenho nenhuma influência sobre os que decidem, de verdade, e meu único poder é o de divulgar ideias e de as debater para o pequeno público que porventura frequenta estas páginas --, como eu não tenho poder algum, repito, minha única força é a de selecionar ideias, conceitos, problemas, exemplos e posições, e de trazer tudo isso aqui para uma exposição, um debate, e uma tomada de posição.
Tenho uma enorme carga de leitura todos os dias: dezenas, senão centenas de mensagens que entram no InBox, que precisa ser selecionadas, lidas, pela sua relevância, ou descartadas por inúteis ou simples spam (cada vez mais, infelizmente). São boletins de imprensa (dos mais importantes jornais diários e de revistas de análise e opinião), colunas especializadas, newsletters de fundações, think tanks, grupos de interesse, mensagens de alunos ou pesquisadores, enfim, todo tipo de material que tento acompanhar. Sobra-me, assim, pouco tempo para escrever, o que é um problema sério de administração do meu pouco tempo disponível. Mas, no meio de cada mensagem, de cada matéria lida, sempre tenho reações mentais, reflexões momentâneas, sugestões de novos artigos, que nunca são escritos porque justamente dedico mais tempo à leitura do que à escrita, que exige sempre mais cuidados, mais tempo e atenção, do que a leitura rápida dos materiais entrantes.
Daí a tendência a simplesmente postar matérias que considero relevantes ou interessantes -- pode ser uma simples reportagem de jornal, puramente factual, ou uma análise assinada -- e fazê-la preceder de rápidos comentários meus, geralmente escritos tão rapidamente que os erros são inevitáveis, de estilo, de concordância, de simples digitação, já que o pensamento flui mais rápido do que a escrita dedilhada. Não deixo de fazer, contudo, pensando que poderei um dia retomar todas essas postagens, para escrever algo mais alentado sobre os problemas aqui enfocados.
Trata-se, obviamente, de uma ilusão, um pouco como todos os livros que compro, folheio um pouco, e depois tenho de deixar de lado, por ocupações mais urgentes. Como já adiantei, vou precisar de mais uns 150 anos, para ler todos os livros que tenho ou que pretendo ler... Também vou precisar de vários anos para voltar a todos os postos acumulados nos meus diversos blogs, milhares deles.
Isso não me impede de continuar acompanhando o debate sobre a cultura brasileira (ou a falta dela). Como fiz na postagem anterior, ou precedente, coloco aqui matérias desse outro jornalista conhecido, não porque eu concorde com tudo o que ele, ou com suas outras posições, em matérias religiosas, filosóficas ou políticas, por exemplo, mas simplesmente porque ele trata de questões reais, que tem a ver com a deterioração do debate intelectual no Brasil, algo que me preocupa sumamente.
Paulo Roberto de Almeida
A imbecilidade, segundo ela própria
Olavo de Carvalho
Diário do Comércio,
Faz dezessete anos que publiquei O Imbecil Coletivo: Atualidades Inculturais Brasileiras, onde ilustrava com toda sorte de exemplos o desmantelamento da cultura superior no Brasil e sondava as causas de tão deprimente estado de coisas. Desde então, à medida que o fenômeno alcançava dimensões maiores e mais alarmantes, não cessei de acrescentar a essa obra, em artigos e conferências, inúmeras atualizações, esclarecimentos e novas análises.
Ao longo de todo esse período, não veio, da mídia ou do establishment universitário, nenhum sinal de que alguém ali desejasse discutir seriamente o problema ou reconhecer, ao menos, que um cidadão desperto havia soado o alarma.
Ao contrário: tudo fizeram para ocultar a presença do mensageiro e dar por inexistente o mal que ele apontava, do qual eles próprios, por suas ações e omissões, eram os sintomas mais salientes.
Chegaram ao cúmulo de, não podendo ignorar de todo as obras essenciais que eu recolocava em circulação com extensas introduções, notas e comentários, noticiá-las sem mencionar o nome do preparador, como se os textos abandonados no fundo do baú da desmemória nacional tivessem saltado dali por suas próprias forças, sem nenhuma ajuda minha.
Inaugurado quando da minha edição dos Ensaios Reunidos de Otto Maria Carpeaux em 1998, o “Consenso Nacional da Vaca Amarela”, como o chamei na ocasião, continua em pleno vigor, como se vê por dois exemplos recentes.
Na Folha de S. Paulo, um sr. Michel Laub faz ponderações sobre a “Dialética Erística” de Schopenhauer, usando a edição comentada que dela publiquei pela Topbooks em 1998 e esmerando-se em suprimir o meu nome ao ponto de atribuir ao filósofo alemão o título editorial “Como Vencer um Debate sem Precisar Ter Razão”, como se fosse do texto original e não dos meus comentários.
Na Carta Capital desta semana, o sr. Mino Carta deplora o que ele chama de “imbecilização coletiva”, no tom de quem soa um alerta pioneiro e fingindo ignorar que esse termo, há muito tempo, já deixou de ser uma expressão genérica para se tornar alusão a um dos livros mais lidos das últimas décadas.
Talvez eu devesse estar contente de que, mesmo sem menção ao tremendo esforço que fiz para revelá-lo, o fenômeno mesmo se tornasse por fim objeto de alguma atenção. Mas o sr. Carta só toca no problema com a finalidade de encobrir suas causas, lançar as culpas sobre os bodes expiatórios de sempre e bloquear, enfim, toda possibilidade da discussão séria pela qual venho clamando desde 1996.
Desde logo, ele só enxerga a degradação cultural do Brasil pelo aspecto quantitativo da escassez de grandes obras – a qual, em si, não seria tão grave se a massa da produção mediana e os debates correntes dessem testemunho de um nível de consciência elevado, honrando uma herança que já não se consegue emular. É justamente a queda do nível de consciência geral que justifica falar de “imbecilização”, quando a mera diminuição do número de gênios por quilômetro quadrado seria chamada mais propriamente de “empobrecimento” ou coisa assim. Desprovido de qualquer tino de historiador ou sociólogo, o sr. Carta limita-se a registrar o fenômeno com a superficialidade de um resenhista cultural. Não apenas entra no debate com um atraso monstruoso, mas rebaixa formidavelmente o nível de análise já alcançado uma década e meia antes.
Com aquele automatismo de quem já tem resposta pronta para todas as questões em que não pensou, ele lança o débito da miséria cultural brasileira na conta dos culpados genéricos mais à mão, os malditos capitalistas, sobretudo os donos da mídia. Em suma: os concorrentes comerciais do sr. Carta, que odeia o capitalismo mas ama o capital ao ponto de fazer dele o nome da sua revista.
Pergunto eu, em que foi que os expoentes da cultura brasileira antiga, um Guimarães Rosa, um Graciliano Ramos, um Gilberto Freyre, um Manuel Bandeira, dependeram jamais da mídia para produzir suas altas criações? O sr. Carta, com toda a evidência, confunde cultura com show business: este não sobrevive sem a mídia, mas os grandes, os espíritos criadores, trabalham não só longe dela como contra ela. O que quer que ela diga ou faça não pode reforçar ou tolher sua inspiração.
Em segundo lugar, a imbecilização da própria midia, que reflete na esfera mais baixa o decréscimo de QI nos andares superiores, não é de maneira alguma culpa dos empresários. Quem quer que tenha alguma experiência de jornalismo no Brasil sabe que os donos e acionistas só interferem na redação muito raramente e na defesa de pontos específicos do seu interesse, deixando a orientação geral das publicações aos cuidados das celebridades jornalísticas, das primas donas, que aí imperam com invejável liberdade de movimentos, como o próprio Sr. Carta imperou no Jornal da Tarde, na Veja e em não sei mais quantos lugares. E sabe também que essas lindas criaturas implantaram nas redações, desde a década de 80, o mais estrito monopólio esquerdista, restringindo o espaço das vozes discordantes, eliminando qualquer possibilidade de confrontação de idéias e ainda discursando cinicamente contra o “pensamento único”, como se o único “pensamento único” que ali se praticava não fosse o delas próprias. Mais sobre este assunto no próximo artigo.
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Causa mortis
Olavo de Carvalho
Diário do Comércio
A tal ponto chegou a padronização esquerdista da mídia, da qual falava o meu artigo anterior, que em 2001 O Globo, segundo confessou seu chefe de redação, Luís Garcia, teve de contratar pelo menos um colunista tido como “de direita”, para não dar muito na vista. Esse colunista era eu, mas, assim que se tornou patente a minha insistência em denunciar as atividades do Foro de São Paulo – cuja simples existência o establishment iluminado negava --, fui expelido não somente daquele jornal, mas da Zero Hora, do Jornal da Tarde e da revista Época.
Fui substituído por uma geração de direitistas soft, que se limitam a defender genericamente a economia de mercado e as liberdades democráticas, sem deixar de fazer toda sorte de concessões ao programa sociocultural da esquerda. E tanto se reduziu nesse ínterim a quota de “direitismo” admissível, que mesmo esses, hoje em dia, são rotulados de radicais, extremistas e golpistas, inclusive pela revista do sr. Carta.
A História já comprovou mil vezes que o rebaixamento da cultura a instrumento de um esquema de poder, acompanhado da supressão das vozes discordantes, é o caminho mais curto para a imbecilização geral.
É claro que a mídia, por si, não pode secar a criatividade das melhores inteligências. O que ela pode fazer, e fez, foi baixar o nível do debate geral para ajustá-lo a uma política que festejava o analfabetismo do sr. Lula como prova de suas “raízes populares” (uma ofensa brutal aos pobres estudiosos) e, coerentemente com o mais rasteiro populismo intelectual, entregava o Ministério da Cultura a homens incapazes de escrever três palavras sem errar duas e meia.
Isso começou com o dogma progressista-populista (já comentado no próprio Imbecil Coletivo), de que todo es igual, nada es mejor, de que toda distinção entre o mais alto e o mais baixo é um elitismo fascista, devendo portanto ser extinta a noção mesma de cultura superior e instaurado o cambalache universal que hoje arranca lágrimas de crocodilo do sr. Mino Carta.
Significativamente, o sr. Carta não diz uma palavra sobre a essencial causa mortis da cultura brasileira, a instrumentalização das universidades como centros de formação da militância comunista. Num ambiente de compressiva uniformização doutrinal, intoxicados de slogans, chavões e cacoetes mentais obrigatórios, protegidos de todo desafio intelectual e cientes de que o menor desvio da ortodoxia dominante pode destruir suas carreiras, milhões de jovens entendem hoje a formação universitária como subserviência canina aos mandamentos de seus orientadores, incluindo, entre as demonstrações rituais de fidelidade, as expressões histéricas de ódio às bêtes noires da mitologia professoral -- eu, é claro, em primeiríssimo lugar. Que alta cultura pode sobreviver nessa atmosfera? Não foi decerto coincidência que alunos da maior universidade brasileira, tendo descido da condição de estudiosos acadêmicos para a de ativistas e militantes, tenham caído daí para a de drogados e praticantes do sex lib e em seguida para a de bandidos comuns. Qual será a próxima etapa?
Já que o sr. Carta deplora as diferenças entre a cultura brasileira dos anos 40 ou 50 e a de hoje, por que não diz que, dessas diferenças, a maior foi a passagem de um saudável pluralismo ideológico a uma atmosfera de monopolismo partidário, rancor insano e repressão do pensamento divergente? Será possível imaginar, naquela época remota, um intelectual de boa reputação bloqueando o acesso dos seus adversários à mídia, ou baixando sobre eles uma cortina de silêncio em público ao mesmo tempo que, pelas costas, instigasse contra eles o ódio da juventude universitária? Naquele tempo, o editor José Olympio costumava reunir no fundo da sua livraria os escritores das mais variadas tendências ideológicas, para conversações que hoje seriam impossíveis. Naquele tempo, foram sobretudo os críticos de esquerda que fizeram a fama de Gilberto Freyre, o inverso de um esquerdista. Naquele tempo, o socialista Álvaro Lins abria as portas do jornalismo a Otto Maria Carpeaux, que chegava da Áustria com a fama de doutrinário-mor do regime católico-autoritário do chanceler Dolfuss. Não que inexistissem antagonismos. Existiam e eram feios. Mas ninguém fugia de lidar com eles no campo da palavra, ninguém seguia o preceito leninista de tentar destruir socialmente o adversário em vez de discutir com ele.
Diferença por diferença, pergunto se naqueles tempos áureos algum colunista de mídia seria capaz de falar de um problema já abundantemente denunciado e analisado por outro colunista, e fazê-lo com ares de pioneirismo absoluto, sem dar o menor sinal de ter ouvido falar do antecessor. Se o sr. Carta diverge de mim, que seja homem e fale o português claro. Que pare de camuflar sua covardia por trás de uma afetação de superioridade olímpica.
Os exemplos poderiam multiplicar-se ad infinitum. Não foi só a produção de boas obras que diminuiu. Foi muito mais a estatura moral da classe opinante, hoje mais empenhada em consolidar o poder do PT e beneficiar-se financeiramente dele do que em preservar aquele mínimo de integridade e honradez sem o qual não existe vida intelectual nenhuma.
O sr. Carta imita enfim o mafioso que mandou matar o adversário e depois ainda foi ao enterro perguntar à viúva: “De quê morreu o seu marido, minha senhora?” A dona, não podendo dar nome aos bois, saiu-se com este maravilhoso eufemismo: “Foi de encontro a um projétil que vinha em sentido contrário.” Pois bem, sr. Carta, foi disso que morreu a cultura brasileira: foi de encontro a um bloco de imbecis presunçosos que vinham em sentido contrário.
Olavo De Carvalho
oakwoodwolf3@aol.com
quarta-feira, 2 de janeiro de 2013
Educacao: insatisfeitos com a propria incompetencia, companheirosquerem torna-la padrao geral
Agora pretendem trazer toda essa ruindade tambem para o terceiro ciclo: assim, sua obra estará completa e, do jardim da infância ao pós-doc, os padrões de mediocridade e de militantismo ideológico terao prevalecido.
Vai demorar duas gerações -- isto se começarmos em algum breve futuro, do contrário será mais -- para consertar a catástrofe, pois ainda temos as máfias sindicais de professores para atrapalhar qualquer reforma positiva que se pretenda. Os companheiros não querem testes, não querem cobrança de resultados, não querem eficiência no ensino, não querem produtividade, não querem qualidade, não querem nada disso; eles só querem aumento geral de salários, classes menores, computadores e tabletes para todos (mesmo sem nada para colocar dentro), mais folgas, um isonomismo completo nos padrões de remuneração, sem esses testes e benchmarks ridículos, sobretudo sem o avanço da escola privada, que só avança, aliás, porque a deles é ruim, aproximando-se do péssimo, e indo para o catastrófico.
Nada foi tão devastador para o Brasil e nada terá consequências tão desastrosas para o futuro do país quanto essa passagem e a instalação da horda de bárbaros "pedagógicos" na educacao brasileira.
Paulo Roberto de Almeida
A estatização da educação
O Estado de S. Paulo, 1/01/2913
O governo do PT e seus movimentos sociais que estão encastelados no Ministério da Educação (MEC) e Secretarias de Educação estaduais e municipais vêm seguidamente invadindo a liberdade de ensinar do povo brasileiro. Por um lado, insatisfeitos por não conseguirem a tão propalada educação pública e gratuita de qualidade e, por outro, vendo o avanço da escola privada no número de alunos.
Enquanto a escola pública perdeu 2% dos alunos em 2011, comparado com 2010, a escola privada cresceu 20%. Uma ofensa para os burocratas do MEC, já que evidencia o reconhecimento da eficiência, da boa gestão e da diversidade da escola privada no Brasil, pois basta melhorar um pouco a renda que o primeiro investimento da família é na educação dos filhos. E educação de qualidade é na escola privada, que se tornou o sonho de consumo da sociedade.
Pelo artigo 209 da Constituição brasileira, a educação "é livre à iniciativa privada", devendo ser autorizada e podendo ser avaliada pelo poder público. Nos últimos dez anos, o MEC e seus burocratas emitiram milhares de portarias, enviaram grande número de projetos de lei ao Congresso Nacional e alteraram outras tantas, sempre com a desculpa de que a escola privada precisa ser avaliada. Na prática, vêm invadindo a liberdade da escola privada e anulando o direito dos brasileiros de terem uma opção que não seja a escola única e una, ou seja, a escola pública.
A cartada final está no Congresso, com o Projeto de Lei n.º 4.372/2012, que pretende criar mais um órgão público, desta vez sob o nome de Instituto Nacional de Supervisão e Avaliação do Ensino Superior (Insaes). Trata-se da maior aberração jurídico-política dos burocratas do MEC, e com grande risco para a democracia brasileira, caso seja aprovada. Encontra-se na Câmara dos Deputados com prioridade, e o governo tem pressa. Dentre todas as atrocidades, o projeto de lei gasta a maioria dos seus artigos para definir os cargos e o plano de carreira dos seus, mas reserva à escola privada uma verdadeira estatização. Nem as universidades federais, que são mantidas pelo Ministério da Educação com os nossos impostos, sofrem tantas interferências e ingerências, mas para a iniciativa privada a proposta do governo prevê de multas a intervenção, com retoques de perversidade, como o pagamento de altíssimas taxas para sustentar a burocracia e comprometer a gerência financeira das escolas. Tudo isso aliado a um tratamento excessivamente rigoroso dispensado às escolas privadas, diferentemente do que se vê com o ensino público, pois se às escolas públicas se aplicasse o mesmo rigor poderia até melhorar a qualidade de que tanto fala. O campo de atuação do Estado é, no máximo, o de fiscalização dos interesses dos cidadãos.
É incompatível com o Estado Democrático de Direito a possibilidade de que a nova autarquia determine a intervenção na atividade empresarial, até mesmo com a designação de interventor. A iniciativa privada não pode ficar sujeita a esse tipo de ameaça, que traz à memória recentes episódios que se acreditavam varridos da História com a implantação da Nova República.
Entende-se inadmissível a aplicação de penalidade pessoal que implique a proibição de dirigente empresarial e educacional de exercer a sua atividade profissional, ainda que em outros estabelecimentos. Essa conduta, prevista no projeto de lei, confirma a diretriz abusiva, inconstitucional e autoritária da proposta, que chega às raias de uma sanção penal à pessoa do dirigente.
Não vejo urgência na tramitação de uma lei dessa natureza, pois neste momento, em que o País aguarda uma nova regulamentação da educação, especialmente em razão da proposta de uma reforma universitária e do Plano Nacional de Educação, a ideia da criação do Insaes nem sequer é pertinente, muito menos necessária. Pior que isso, entretanto, é dar ao projeto de lei o rito de assunto prioritário para efeitos de tramitação.
Além de todos os fundamentos já externados, não se pode deixar de impugnar a "prioridade" conferida ao projeto do Insaes, que não pode ser aprovado "às pressas", pois, longe de ser um assunto de política de governo, suas propostas geram uma quebra de conceitos e paradigmas que afeta a política educacional do Estado, o que justifica sua tramitação em conjunto com a reforma universitária e, ao mesmo tempo, após amplo e refletido debate com todos os segmentos da sociedade.
Por outro lado, o que vemos são os grandes grupos do ensino superior disfarçados em diversas associações e num Fórum Nacional trocando a liberdade, a autonomia e o direito de ensinar por um "prato de lentilhas". Tanto o governo quanto esses grandes grupos não percebem, não entendem, ou não querem entender, que a educação privada é constituída de milhares de pequenas instituições, de educação infantil, ensino fundamental e médio, cursos técnicos e faculdades, espalhadas por este imenso Brasil, as quais, com propostas focadas e segmentadas, contribuem decisivamente para o pouco desenvolvimento que temos nos últimos anos, empregam formalmente milhares de educadores de nível superior e colaboram decisivamente para o desenvolvimento das cidades e do entorno onde atuam, movimentando o comércio, o mercado locatício e o setor de serviços.
A estatização da escola privada está a caminho e corremos um grande risco de entrar para a História por acabarmos com a única escola democrática do Brasil, a escola particular.
Outros países ao redor do globo enfrentaram o mesmo dilema. E onde se preservou o pluralismo de ideias, o respeito à iniciativa privada e o direito à liberdade de escolha venceu a democracia. Essa é a grande lição que os burocratas do MEC se recusam a aprender.
quarta-feira, 19 de dezembro de 2012
Educational cliff in Brazil: alo, alo decadencia, aqui estamos nos...
Abismo na educação
Formalmente, o exame não se presta a medir a qualidade das escolas, e sim a competência dos alunos, razão pela qual é usado como meio de seleção para universidades. No entanto, os resultados deixam claro não só que as escolas particulares continuam mais bem preparadas para ensinar as disciplinas exigidas no processo de seleção, como também que as escolas públicas não conseguiram acompanhar as mudanças do Enem. Resultado: o número de escolas da rede pública entre as 100 que obtiveram os melhores resultados caiu de 13 para 10 entre 2010 e 2011; já entre as 50 mais bem colocadas, o total recuou de 6 para 3.
A crise no ensino médio fica ainda mais evidente quando se constata que 92% das escolas estaduais, onde está a maioria dos alunos, obtiveram pontuação abaixo da média geral na prova objetiva. No ranking, a primeira escola, ligada à Universidade Estadual do Rio, aparece somente na 60.ª colocação. A primeira escola estadual sem nenhum vínculo com universidades ou com ensino técnico surge num distante 248.º lugar. O Rio, Estado de melhor desempenho na rede pública estadual, teve apenas 18% das escolas com notas acima da média geral. Em São Paulo, foram 14%. No Ceará, apenas 2%.
O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, torturou os números para extrair conclusões positivas dos resultados. Ele afirmou que a média da pontuação dos 37,5 mil alunos de escolas públicas mais bem colocados - isto é, dos estudantes que teriam direito a cotas nas universidades federais - foi de 630,4, contra os 569,2 obtidos, em média, pelo total de estudantes das escolas particulares. Logo, segundo Mercadante, os alunos de escolas públicas não farão feio ao ingressar nas universidades por meio das cotas. Nem é o caso de notar que se trata de comparar bananas com abacaxis - afinal, essa elite das escolas públicas, festejada pelo ministro, vai disputar vagas em universidades não com a média geral dos alunos das escolas privadas, mas com a elite dessas escolas, cujo desempenho é significativamente melhor.
Ademais, é o caso de perguntar ao ministro por que razão ele defende as cotas se os alunos das escolas públicas parecem, em sua opinião, tão bem preparados para enfrentar o vestibular e a concorrência das escolas privadas. A realidade, essa madrasta, mostra porém que a aposta nas cotas é o que resta a um governo que não investe na melhoria do ensino público, cujos resultados pioram a cada ano. A conta dessa distorção não tardará a ser cobrada. Em 2015 haverá reserva de 50% de vagas universitárias federais para alunos da rede pública, ou 150 mil matrículas. Segundo os números do Enem de 2011, a média dos 150 mil melhores alunos das escolas públicas, que teriam direito às cotas em 2015, foi de 582,2 pontos, bem abaixo do desempenho dos alunos da rede particular. E mesmo excluídas do cálculo as notas da prova de redação, que normalmente pioram o resultado dos alunos de escolas públicas, a média geral da rede pública foi de 474,2 pontos, muito distante dos 569,2 pontos obtidos nas escolas privadas. São fatos que a demagogia das cotas não corrigirá.
terça-feira, 11 de dezembro de 2012
Como o Congresso prejudica a educacao brasileira...
Mas não fiquem otimistas, ainda tem muito a piorar no sistema educacional brasileiro, com a ajuda de todos os personagens citados acima.
Paulo Roberto de Almeida
Currículo pode ter mais duas disciplinas obrigatórias
Lauro Neto (lauro.neto@oglobo.com.br)
Agência O Globo, 10/12/2012
RIO - Aprovado no Senado, o projeto de lei que prevê a inclusão de duas novas disciplinas obrigatórias (Cidadania Moral e Ética, no ensino fundamental, e Ética Social e Política, no médio) já está causando polêmica antes de ser votado na Câmara de Deputados. Os defensores da proposta do senador Sérgio Souza (PMDB-PR) argumentam que a atual crise de valores e o cenário de corrupção justificam a necessidade dos conteúdos. Mas educadores ouvidos pelo GLOBO são contra, alegando principalmente que a grade curricular do ensino básico já está saturada.
O próprio Ministério da Educação e o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) reprovam a iniciativa. O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, frisa que as escolas públicas já têm 13 disciplinas obrigatórias.
- A sobrecarga não contribui para o aluno ter foco nas disciplinas essenciais, que são Matemática, Língua Portuguesa e Ciências.
Presidente do Consed, Maria Nilene Badeca da Costa diz que os dois órgãos trabalham juntos na reformulação da Educação básica. Para ela, a inclusão das disciplinas inviabilizaria o projeto político pedagógico das escolas.
- Os currículos escolares já estão sobrecarregados, não há disponibilidade de espaço na matriz curricular. Não é necessário alterar a legislação. O Consed acredita que a experiência educacional já indica fortemente conteúdos relativos à ética, à cidadania e à política - defende Maria Nilene.
De acordo com o Consed, esses conteúdos devem ser tratados de modo integrado com o currículo escolar, como eixos transversais, permeando a formação dos estudantes em todos os componentes curriculares existentes.
Mas o senador Sérgio Souza (PMDB-PR) defende sua proposta. Ele cita um levantamento feito pelo Fórum Econômico Mundial, com 60 países, que colocou o Brasil na 50ª posição no ranking de corrupção, e no 55º lugar na ineficiência da Justiça. Questionado se o projeto não seria um mea culpa por parte da classe política, Souza rebate:
- Se formarmos cidadãos conscientes para serem representantes, eles irão para a política com propósitos diferentes, que não sejam voltados ao próprio interesse econômico. O cidadão já é corrupto no momento em que quer levar vantagem na fila do pedágio ou do mercado. A cultura brasileira tem isso de ser país do jeitinho, é vergonhoso.
Por isso, o senador defende a implantação de uma política educacional voltada para a formação moral e ética preparando os jovens para o exercício responsável da cidadania. Souza contesta os argumentos da falta de tempo e espaço no currículo:
- Com a proposta de período escolar integral, essa justificativa cai por terra. Antes de discutirmos se há espaço, temos que discutir se é importante.
Os argumentos não convencem a relatora das diretrizes curriculares no Conselho Nacional de Educação, Regina de Assis, que endossa as críticas.
- Isso é desconhecimento de currículo. Não vejo necessidade de incluir mais duas disciplinas para se teorizar sobre isso. Já faz parte das metas curriculares e dos projetos político-pedagógicos. Desde a creche tem que se ensinar a ética a partir de valores e da prática - diz Regina, doutora em educação.
Victor Notrica, presidente do Sindicato dos Professores de Escolas Particulares do Rio de de Janeiro, lembra que o conteúdo proposto pelas novas disciplinas já é trabalhado pelos professores. Ele ressalta a dificuldade de se cumprir o currículo atual nos 200 dias e 800 horas/ano obrigatórios por lei e levanta outro problema:
- Não sei se há docentes especializados para dar esses conteúdos em disciplinas específicas. Isso tudo faz parte do dia a dia escola. Os professores das ciências sociais, exatas e Língua Portuguesa já fazem uma abordagem de ética e cidadania. A inclusão obriga uma exclusão. Vai hipersaturar a carga horária dos estudantes e tumultuar ainda mais a grade curricular pelo excesso de conteúdo.
Alguns colégios cariocas alegam que já transmitem esses valores em outras disciplinas. O pH, por exemplo, tem a Aula de Vida para o ensino fundamental e de Atualidades para o médio. O São Bento ministra ensino religioso para os menores e teologia para os mais velhos. Diretora do São Bento, Maria Elisa Penna Firme lembra que a escola funciona das 7h30m às 17h30m.
- Já temos 15 disciplinas. Para entrar duas disciplinas, temos que tirar carga horária daquelas que já compõem o currículo. São temas importantes, mas que devem ser abordados dentro de Filosofia, Sociologia e Geografia - diz ela.
Rui Alves, diretor de ensino da rede pH, é menos refratário. Se a proposta virar lei, o colégio adaptará o conteúdo trocando os nomes das matérias:
- São disciplinas importantes para a formação dos alunos. A grande preocupação é contornar essa situação dentro da grade desses segmentos.
Secretária municipal de Educação, Cláudia Costin também está preocupada com a carga horária.
- Enquanto não resolver a questão da carga horária, sou contra. Nas nossas 119 escolas com 7 horas diárias, estamos incluindo a disciplina Educação para Valores. Nas demais, com média de 4 horas de aula/dia, se entrar mais uma disciplina, vamos ter menos tempo para trabalhar Matemática, Português e Ciências, que têm se saído tão mal em rankings internacionais.
Um currículo em crescimento constante
Elaborado pelo senador Sérgio Souza, o projeto que prevê a inclusão das duas disciplinas no currículo tem como relator o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), ex-reitor da Universidade de Brasília (UnB). O texto, que ainda será submetido a votação na Câmara dos Deputados, não é o primeiro a propor mudanças curriculares na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), de 1996. A cada ano, a legislação vai crescendo junto com os currículos. A alteração mais recente aconteceu em abril deste ano, quando foram incluídos os princípios de proteção e defesa civil e a educação ambiental de forma integrada aos conteúdos dos ensinos fundamental e médio nas escolas.
Em 2008, a inclusão de Filosofia e Sociologia como disciplinas obrigatórias em todas as séries do ensino médio também gerou polêmica e até hoje é questionada.
- A inclusão de Sociologia e Filosofia já foi demais. Tem que haver um projeto de currículo nacional, com conteúdos mínimos necessários para se aprender em cada série, e alguns aspectos regionais, que podem variar de estado para estado - defende Rubem Klein, da Associação Brasileira de Avaliação Educacional.
Também em 2008, a música passou a ser conteúdo obrigatório, mas não exclusivo do ensino de Artes. No mesmo ano, tornou-se obrigatório o estudo da história e da cultura afro-brasileira e indígena em todo o currículo dos ensinos fundamental e médio, em especial em Artes, História e Literatura.
Um ano antes, o ensino fundamental passou a ter, obrigatoriamente, conteúdo sobre os direitos das crianças e dos adolescentes, tendo como diretriz o Estatuto da Criança e do Adolescente.
Mais recentemente, em 2011, o estudo sobre os símbolos nacionais passou a ser incluído como tema transversal nos currículos do ensino fundamental.
segunda-feira, 11 de junho de 2012
A universidade brasileira se tornando mais estupida? Provavelmente
Paulo Roberto de Almeida
quinta-feira, 24 de maio de 2012
A miseria educacional brasileira, crescente, no terceiro ciclo
Tenho, portanto, muitos motivos para ser absolutamente pessimista quanto à situação atual e quanto à degradação futura dessas instituições que condensam um pouco todos os males da educação brasileira, desde o pré-primário até o pós-doutoramento.
Os adeptos do regime atual poderão protestar, mas eu também já os ouvi, mais do que gostaria, nessas reuniões sindicais que decidem pela greve, como atualmente. A indigência mental dos argumentos só perde para a decadência moral dos propósitos. Estou verdadeiramente assustado e preocupado com o que vejo.
Não tenho nenhuma dúvida de que a situação vai continuar a se deteriorar, com greve ou sem greve.
Abaixo mais um desabafo sobre a questão.
Paulo Roberto de Almeida
Eis aí. Inaugurou-se um novo campus da Universidade Federal de Viçosa (que Lula conta como uma nova instituição) sem acesso por asfalto, sem iluminação e esgoto tratado — na Universidade Federal Rural de Pernambuco, em Garanhuns, a, perdoem-me a crueza, merda corre a céu aberto. Os depoimentos também deixam evidente a carência na estruturação técnica do corpo docente.
Estão em greve 70% das universidades federais do país. O assunto quase não é notícia. No ano passado, os institutos federais de ensino (também os de nível técnico) ficaram parados quase cinco meses. Poucos se interessavam pelo assunto. Por quê? Fácil de responder. Porque são os intelectuais e as ONGs petistas que hoje pautam boa parte dos veículos de comunicação. O partido também é majoritário nas associações e sindicatos de professores. Se os pelegos petistas não conseguiram impedir o movimento, é porque a situação, com efeito, não é das melhores — embora eu insista que a greve, nesses casos, prejudica, na verdade, os alunos. Servidores públicos deveriam pensar meios simbólicos de fazer seu protesto chegar à sociedade. Bem, essa é outra questão. Volto ao ponto.
“O problema de infraestrutura é grave. No meu curso de Medicina Veterinária, a gente tem muitos problemas com aula prática. Como pode um estudante de veterinária sem aula prática de anatomia, radiologia, citologia e por aí vai? O governo abre cursos e não dá condição nenhuma de o professor ensinar e de o aluno aprender. E a gente é obrigado a ouvir essa ladainha desses políticos! É revoltante!!!!”
“Sou professor de um curso criado pelo REUNI e sou testemunha da falta de planejamento e do descaso na criação de cursos. A Universidade criou o curso sem ter a infraestrutura e os professores necessários. Temos mais professores contratados do que efetivos (concursados), e não há perspectiva de novas vagas. Não temos laboratórios, e a primeira turma irá se formar sem nunca ter feito práticas básicas da área. A seleção exclusivamente feita pelo ENEM não seleciona. Nossos alunos entram sem saber resolver uma mísera equação de 1º grau, e a taxa de reprovação é alta, levando ao abandono. Mas, na propaganda do governo, tudo parece perfeito. Só olhando de perto para ver o quanto se festeja uma mentira.”
O retrato do Hospital do Fundão, ligado à UFRJ, é o retrato do governo do PT. Os médicos residentes andam à cata de pacientes para poderem ESTUDAR! A UFRJ abriu uma faculdade de medicina em Macaé SEM hospital de referência para os alunos que serão futuros médicos! Agora, eles vêm de Macaé para o Hospital do Fundão, onde há falta de TUDO, principalmente de pacientes, por falta de infraestrutura. As universidades federais do governo do PT só existem funcionando nas PROPAGANDAS do MEC a PREÇO DE OURO, PAGAS com NOSSO DINHEIRO. Lá TUDO funciona.
Os Hospitais Federais do RJ NUNCA antes tão precários. Há uns 10 anos, todos eram referência de bom atendimento. (…) Enquanto a USP se torna uma das melhores universidades do MUNDO, as federais nas mãos do PT estão em petição de miséria. Esse é o JEITO PT de governar que ELES querem para São Paulo, com Haddad de candidato. Que Deus livre SP dessa tragédia”
No discurso dos títulos a baciadas, Lula afirmou que chegou ao governo com 6 milhões de universitários e que, hoje, eles serim 12 milhões. Mentira! Segundo o Censo Universitário, no fim de 2010, assinado por Haddad, havia 6,37 milhões de estudantes no terceiro grau — 14,7% estão na modalidade “ensino à distância”, que tem virado, no Brasil, uma “picaretância”. Disse ter criado novas universidades federais. Mentira também! Deve chegar, no máximo, à metade. Algumas “universidades novas” são campi avançados ou divisão de instituições anteriores. Em 2010, as universidades públicas brasileiras formaram 24 mil estudantes A MENOS do que em… 2004!
quinta-feira, 26 de abril de 2012
Ate onde vai a tragedia educacional brasileira?: a perder de vista
Eis o comentário:
quarta-feira, 25 de abril de 2012
A constitucionalizacao da burrice: uma enfermidade congressual (e brasileira)
O Brasil deve ser o único país no mundo que tem emendas constitucionais para regular alhos e abobrinhas, para resolver se vamos virar à esquerda ou à direita, e em ambos os sentidos, vamos nos atando com tantas emendas constitucionais que, dentro de mais ou menos dez anos, a CF será um cartapácio de mais de 1.000 páginas, que vai definir até o número de calorias que deve ter a merenda escolar.
Querem apostar?
Acho que alguém já disse que não existe limite para a estupidez humana...
Paulo Roberto de Almeida
Retrocessos na educacao tambem: vai continuar ruim, apenas com um pouco mais de dinheiro
Se fosse assim, a Venezuela, que durante décadas teve a maior renda per capita da América Latina, seria um paraíso para se viver. Aliás, ela teve um afluxo de bilhões de dólares nos últimos dez anos, por causa dos altos preços do petróleo, e a situação de sua população piorou sempre.
O aumento compulsório da verba para educação me recorda o deputado do PT que pretendia fixar por lei o salário mínimo a 100 dólares, quando na época ele valia menos de 70 dólares. Hoje deve estar em mais de 450 dólares, e os operários dispõem obviamente de maior poder de compra, o que seria talvez obstaculizado se a medida idiota do deputado do PT fosse aprovada.
Agora pretendem colocar a 8, 9 ou 10% do PIB o montante das verbas destinadas à educação. Eu aposto como a educação vai continuar pavorosa, apenas que torrando mais dinheiro da população com as máfias sindicais e as burocracias das secretarias de educação e do MEC, povoados de saúvas freireanas que só fazem a educação recuar, sempre, invariavelmente.
Lamento um debate tão pobre.
Paulo Roberto de Almeida