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terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

MEC nao sabe ainda o que fazer, mas quer dar "liberdade" 'as familias (OESP)

Patética essa entrevista: o MEC não tem ideia do que deve ser feito para melhorar a educação no Brasil, mas acha que as famílias, deixadas livres da educação compulsória, saberão educar os seus filhos melhor que as nossas péssimas escolas. Só posso desejar boa sorte. Mas tenho pena das mães, que terão uma quádrupla jornada agora...
Paulo Roberto de Almeida



'Liberdade é o principal ponto do Ministério da Educação', diz número 2 da pasta

Para Luiz Antonio Tozi, secretário executivo, nova equipe trabalha para 

a 'liberdade do cidadão'

Isabela Palhares e Renata Cafardo, O Estado de S.Paulo
18 Fevereiro 2019 | 15h16

SÃO PAULO - O principal ponto para orientar os trabalhos da nova equipe do Ministério da Educação  (MEC) tem sido a busca pela "liberdade do cidadão", segundo Luiz Antonio Tozi, secretário executivo da pasta. 
"Temos um consenso e o próprio presidente (Jair Bolsonaro) tem também colocado como prioridade o aprendizado, para que o jovem tenha liberdade e discernimento para ser o que quiser", disse na manhã desta segunda-feira, 18, em São Paulo, durante a abertura do seminário  "Prioridades para a Educação Básica", promovido pelo Todos pela Educação.

General vai compor equipe do alto escalão do MEC
Fachada do Ministério da Educação (MEC), em Brasília Foto: Marcos OliveiraAgência Senado
Dentre as primeiras ações previstas pelo novo comando do MEC, está a regulamentação para o ensino domiciliar. A modalidade, conhecida como homeschooling, não é liberada no País e a sua regulamentação foi colocada como prioridade para os cem primeiros dias de governo - apesar de apenas cerca de 3,2 mil famílias no País aderirem ao modelo, atendendo cerca de 6 mil crianças, o governo diz que quer dar liberdade para os pais que optam por esse tipo de ensino. 
Tozzi também elencou outros objetivos que são vistos como importantes para melhorar a educação no Brasil, mas para elas ainda não há nenhuma ação elaborada. "Ninguém duvida que nós temos que aumentar as possibilidades de aprendizagem efetiva, que nós temos que profissionalizar a carreira dos professores, fazer um novo processo de redistribuição  (de recursos) para os Estados e municípios", disse.

"Não sabemos ainda como fazer de forma precisa e sem errar", acrescentou.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Educacao fundamental: um desastre americano (imaginem no Brasil) - Daniel J. Mitchell

O milagre da multiplicação dos "coelhos", ops, dos professores do fundamental, nos EUA. De 1970 a 2010, os gastos subiram exponencialmente com o "professorado", mas a taxa de matrícula aumentou tão marginalmente que pode-se dizer que estacionou. 
Os gastos por aluno TRIPLICARAM, em dólares constantes, mas os resultados em Leitura, Matemáticas e Ciências permaneceram absolutamente estáveis, isto é, medíocres, e até diminuíram. Ou seja, o problema está na gestão, com muitos funcionários da "educação", que não trabalham na verdade com educação. 
Isto acontece nos EUA. Imagino que no Brasil, o quadro deve ser igual ou PIOR. 
Alguém espera alguma melhoria no ensino público, lá e aqui? Ingênuos.
Paulo Roberto de Almeida 

The Failure of Public Schooling in One Chart

Daniel J. Mitchell
Foundation for Economic Education

While I have great fondness for some of the visuals I’ve created over the years (especially “two wagons” and “apple harvesting“), I confess that none of my creations have ever been as clear and convincing as the iconic graph on education spending and education outcomes created by the late Andrew Coulson.
I can’t imagine anyone looking at his chart and not immediately realizing that you don’t get better results by pouring more money into the government’s education monopoly.
But the edu-crat lobby acts as if evidence doesn’t matter. At the national level, the state level, and the local level, the drumbeat is the same: Give us more money if you care about kids.
So let’s build on Coulson’s chart to show why teachers’ unions and other special interests are wrong.
Gerard Robinson of the American Enterprise Institute and Professor Benjamin Scafidi from Kennesaw State University take a close look at this issue.
…education is important to the economic and social well-being of our nation, which is why it is the No. 1 line item in 41 state budgets. …Schools need extra money to help struggling students, or so goes the long-standing thinking of traditional education reformers who believe a lack of resources – teachers, counselors, social workers, technology, books, school supplies – is the problem. …a look back at the progress we’ve made under reformers’ traditional response to fixing low-performing schools – simply showering them with more money – makes it clear that this approach has been a costly failure.
And when the authors say it’s been a “costly failure,” they’re not exaggerating.
Since World War II, inflation-adjusted spending per student in American public schools has increased by 663 percent. Where did all of that money go? One place it went was to hire more personnel. Between 1950 and 2009, American public schools experienced a 96 percent increase in student population. During that time, public schools increased their staff by 386 percent – four times the increase in students. The number of teachers increased by 252 percent, over 2.5 times the increase in students. The number of administrators and other staff increased by over seven times the increase in students. …This staffing surge still exists today. From 1992 to 2014 – the most recent year of available data – American public schools saw a 19 percent increase in their student population and a staffing increase of 36 percent. This decades-long staffing surge in American public schools has been tremendously expensive for taxpayers, yet it has not led to significant changes in student achievement. For example, public school national math scores have been flat (and national reading scores declined slightly) for 17-year-olds since 1992.
By the way, the failure of government schools doesn’t affect everyone equally.
Parents with economic resources (such as high-profile politicians) can either send their kids to private schools or move to communities where government schools still maintain some standards.
But for lower-income households, their options are very limited.
Minorities disproportionately suffer, as explained by Juan Williams in the Wall Street Journal.
While 40% of white Americans age 25-29 held bachelor’s degrees in 2013, that distinction belonged to only 15% of Hispanics, and 20% of blacks. …The root of this problem: Millions of black and Hispanic students in U.S. schools simply aren’t taught to read well enough to flourish academically.  …according to a March report by Child Trends, based on 2015 data from the National Assessment of Educational Progress (NAEP), only 21% of Hispanic fourth-grade students were deemed “proficient” in reading. This is bad news. A fourth-grader’s reading level is a key indicator of whether he or she will graduate from high school. The situation is worse for African-Americans: A mere 18% were considered “proficient” in reading by fourth grade.
But Juan points out that the problems aren’t confined to minority communities. The United States has a national education problem.
The problem isn’t limited to minority students. Only 46% of white fourth-graders—and 35% of fourth-graders of all races—were judged “proficient” in reading in 2015. In general, American students are outperformed by students abroad. According to the most recent Program for International Student Assessment, a series of math, science and reading tests given to 15-year-olds around the world, the U.S. placed 17th among the 34 Organization for Economic Cooperation and Development countries in reading.
This is very grim news, especially when you consider that the United States spends more on education – on a per-pupil basis – than any other country.
Here’s a table confirming Juan’s argument. It lacks the simple clarity of Andrew Coulson’s graph, but if you look at these numbers, it’s difficult to reach any conclusion other than we spend a lot in America and get very mediocre results.
Juan concludes his column with a plea for diversity, innovation, and competition.
For black and Hispanic students falling behind at an early age, their best hope is for every state, no matter its minority-student poverty rate, to take full responsibility for all students who aren’t making the grade—and get those students help now. That means adopting an attitude of urgency when it comes to saving a child’s education. Specifically, it requires cities and states to push past any union rules that protect underperforming schools and bad teachers. Urgency also means increasing options for parents, from magnet to charter schools. Embracing competition among schools is essential to heading off complacency based on a few positive signs. American K-12 education is in trouble, especially for minority children, and its continuing neglect is a scandal.
He’s right, but he should focus his ire on his leftist friends and colleagues. They’re the ones (including the NAACP!) standing in the proverbial schoolhouse door and blocking the right kind of education reform.
P.S. This is a depressing post, so let’s close with a bit of humor showing the evolution of math lessons in government schools.
P.P.S. If you want some unintentional humor, the New York Times thinks that education spending has been reduced.
P.P.P.S. Shifting to a different topic, another great visual (which also happens to be the most popular item I’ve ever shared on International Liberty) is the simple image properly defining the enemies of liberty and progress.
Republished from Dan Mitchell's blog.

sábado, 7 de março de 2015

(Des)Educacao no Brasil: a terra de todos os vicios e de todas as corrupcoes

Eu me pergunto que máquina poderosa de reflexão, de pesquisa, de redação, revisão, correção e finalização de trabalhos acadêmicos é capaz de produzir um TCC em três dias e uma dissertação inteira em apenas uma semana, sendo que os clientes não precisam fazer nada, nem pensar, apenas pagar.
Suponho que este serviço que me está sendo oferecido a partir de Brasília (uma das capitais do crime de colarinho branco no Brasil), deva existir em todas as capitais igualmente, mas na verdade ele prescinde de locais físicos, podendo ser praticado a partir de qualquer lugar do planeta.
Suponho também que uma boa investigação, pelo lado dos pagamentos (não do telefone ou do site, que podem ser virtualizados facilmente), possa chegar aos responsáveis pela poderosa empresa de fabricação de trabalhos acadêmicos.
Para prepararem "originais inéditos", e não cópias que possam ser detectadas facilmente como fraudes, os empresários do crime devem contar com vários professores, especialistas em muitas áreas de conhecimento. Que tipo de acadêmico colabora com um empreendimento desses?
Seria este o caminho do ensino no Brasil?
Não vamos nos cansar de novidades nessa área.
Paulo Roberto de Almeida

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sábado, 20 de julho de 2013

Educacao: falta de gestao compromete 40pc das verbas alocadas

Demetrio Weber
O Globo, 19/07/2013

Recursos destinados por prefeituras ao ensino fundamental também são desperdiçados com corrupção

Um estudo elaborado por analistas de finanças e controle da Secretaria do Tesouro Nacional, vinculada ao Ministério da Fazenda, estima que pelo menos 40% dos recursos gastos pelas prefeituras brasileiras no ensino fundamental são desperdiçados, seja por corrupção ou ineficiência da máquina pública.

Publicado na página do Tesouro na internet, com a ressalva de que expressa a opinião dos autores e não necessariamente a do órgão, o texto diz que os recursos disponíveis são mais do que suficientes para o cumprimento das metas do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Logo, o problema dos municípios seria a má gestão e não a falta de dinheiro.

De acordo com o levantamento, 4,9 mil municípios destinaram R$ 54 bilhões por ano ao ensino fundamental, no período de 2007 a 2009, sendo que R$ 21,9 bilhões teriam sido desperdiçados, na estimativa mais modesta.

A conclusão atiça o debate sobre a necessidade de mais investimentos no ensino. O Senado está para votar projeto de lei do novo Plano Nacional de Educação (PNE) que propõe aumentar o gasto público com ensino para 10% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país, num ano), ao longo dos próximos dez anos. Em 2011, o gasto estava em 5,3% do PIB. A briga em torno do aumento do percentual trava o projeto, que chegou à Câmara dos Deputados em dezembro de 2010.

As 4,9 mil prefeituras analisadas no estudo correspondem a 88% do total de cidades no país. De um lado, o estudo olhou o Ideb municipal, indicador do Ministério da Educação que sintetiza o nível de aprendizagem e aprovação dos estudantes brasileiros. De outro, verificou o tamanho do gasto de cada prefeitura com o ensino fundamental.

Ao comparar as duas colunas, os autores identificaram cidades que conseguem fazer mais com menos, isto é, onde Ideb atinge níveis proporcionalmente altos em relação ao montante investido.

Esses municípios serviram de referência para os demais. Assim, prefeituras que gastaram proporcionalmente mais para cada ponto do Ideb receberam o carimbo de ineficientes. E a parcela de gasto a mais de cada prefeitura, na comparação com os municípios mais eficientes, foi classificada como desperdício de dinheiro.

Valendo-se de fórmulas econométricas, os autores concluíram que pelo menos 40,1% dos recursos foram desperdiçados, percentual que pode chegar a 47,3%, conforme a metodologia.

Para compensar diferenças socioeconômicas entre os municípios, uma outra variável foi levada em conta: a escolaridade das mães de estudantes. A premissa é de que cidades onde as mães têm menor escolaridade precisam de maiores investimentos. E vice-versa.

Naercio Menezes Filho, economista especializado em Educação e professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), afirma que mais dinheiro para a Educação não significa necessariamente melhoria da qualidade do ensino. Ele elogiou a rede pública de Sobral, no Ceará, que conseguiu avançar no Ideb com um ligeiro acréscimo de recursos:

- A gestão é tão importante quanto o volume de recursos - disse Naercio.

Sobral é uma cidade cujo modelo educacional inspira programas do MEC, como o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa.

O Texto para Discussão número 15, de 2013, é assinado pelos analistas Janete Duarte, Sérgio Ricardo de Brito Gadelha, Plínio Portela de Oliveira e Luis Felipe Vital Nunes Pereira, além da professora da Universidade de São Paulo (USP) Fabiana Rocha, que prestou consultoria ao Tesouro.

"Os resultados indicam que o desperdício de recursos é expressivo para qualquer agrupamento de municípios definido pelo tamanho da população", escreveram eles. "O gasto efetivamente realizado é muito maior do que o gasto mínimo necessário para atingir as metas. Mesmo quando são feitas simulações a partir do estabelecimento de metas mais duras, fica claro que a restrição não é a escassez de recursos."

Tesouro critica o estudo
Procurado anteontem pelo GLOBO, o Tesouro informou, inicialmente, que não se pronunciaria sobre o estudo, já que o texto expressa a opinião dos autores e não necessariamente a do órgão, como consta na própria publicação. De acordo com o Tesouro, os autores também não se manifestariam, porque tudo o que teriam a dizer já estava publicado.

Ontem, porém, o Tesouro mudou de ideia e se posicionou sobre o tema, criticando o estudo: "(...) A STN discorda dos resultados obtidos que apontam excesso de recursos. A política do governo federal, em parceria com estados e municípios, e focada na ampliação e na melhoria da qualidade do ensino básico do país, leva em consideração um complexo sistema de variáveis que o estudo apresentado não considera. Qualquer simplificação sobre a qualidade do gasto nessa área pode levar a conclusões equivocadas e não amparadas pelos resultados aferidos pelo Ministério da Educação", diz o Tesouro por e-mail.

A STN informou também que uma portaria do governo que regulamenta a série de Textos para Discussão proíbe os autores de falarem diretamente à imprensa, sem a intermediação da assessoria do Ministério da Fazenda.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Argumentos para e dos Anonimos Adesistas e Mercenarios a Soldo (5): Educacao com 10pc do orcamento?

Já digo logo de cara: sou contra.
Não porque eu ache que a educação não precise de dinheiro, ou que os professores já ganhem bem (embora eles não ganhem tão mal assim, para o seu nível de produtividade).
Mas porque eu acho que mais dinheiro não vai resolver a péssima qualidade da educação no Brasil: será a mesma porcaria apenas que consumindo mais recursos de toda a sociedade.

Tenho dezenas de argumentos sobre a educação, sua organização e as formas de remuneração, mas sobretudo sobre a qualificação dos professores. Também acho que o MEC é o principal problema da educação brasileira, hoje, mas isso podemos discutir depois.

O desafio para os AAs e MSs é este aqui:

Sabendo que a maior parte dos países (inclusive aqueles que exibem alta qualidade no ensino) gasta aproximadamente, na média, entre 5 e 6% nos orçamentos educacionais, por que o Brasil precisaria colocar 10% do PIB no dispendio educacional?

Tem a ver também com quanto se gasta em cada nível, como se gasta (nos meios e nos fins, etc.), mas a pergunta básica está colocada acima.
Fico esperando argumentos a favor dos 10%. Eu sou contra.
Paulo Roberto de Almeida
20/06/2013

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Como o Congresso prejudica a educacao brasileira...

Unidos, jamais serão vencidos. Congressistas, representantes do executivo (em especial as saúvas freireanas desse dinossauro que se chama MEC), marxistas desempregados e mafiosos sindicais em geral acham ótimo esses projetos que se destinam a aumentar um pouco mais a grade curricular -- já por si nefasta, irracional, exacerbada de coisas inúteis -- que inferniza a vida dos estudantes brasileiros. O que já é ruim, tem a oportunidade agora de ficar péssimo.
Mas não fiquem otimistas, ainda tem muito a piorar no sistema educacional brasileiro, com a ajuda de todos os personagens citados acima.
Paulo Roberto de Almeida 

Currículo pode ter mais duas disciplinas obrigatórias
Lauro Neto (lauro.neto@oglobo.com.br)
Agência O Globo, 10/12/2012

RIO - Aprovado no Senado, o projeto de lei que prevê a inclusão de duas novas disciplinas obrigatórias (Cidadania Moral e Ética, no ensino fundamental, e Ética Social e Política, no médio) já está causando polêmica antes de ser votado na Câmara de Deputados. Os defensores da proposta do senador Sérgio Souza (PMDB-PR) argumentam que a atual crise de valores e o cenário de corrupção justificam a necessidade dos conteúdos. Mas educadores ouvidos pelo GLOBO são contra, alegando principalmente que a grade curricular do ensino básico já está saturada.

O próprio Ministério da Educação e o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) reprovam a iniciativa. O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, frisa que as escolas públicas já têm 13 disciplinas obrigatórias.

- A sobrecarga não contribui para o aluno ter foco nas disciplinas essenciais, que são Matemática, Língua Portuguesa e Ciências.

Presidente do Consed, Maria Nilene Badeca da Costa diz que os dois órgãos trabalham juntos na reformulação da Educação básica. Para ela, a inclusão das disciplinas inviabilizaria o projeto político pedagógico das escolas.

- Os currículos escolares já estão sobrecarregados, não há disponibilidade de espaço na matriz curricular. Não é necessário alterar a legislação. O Consed acredita que a experiência educacional já indica fortemente conteúdos relativos à ética, à cidadania e à política - defende Maria Nilene.

De acordo com o Consed, esses conteúdos devem ser tratados de modo integrado com o currículo escolar, como eixos transversais, permeando a formação dos estudantes em todos os componentes curriculares existentes.

Mas o senador Sérgio Souza (PMDB-PR) defende sua proposta. Ele cita um levantamento feito pelo Fórum Econômico Mundial, com 60 países, que colocou o Brasil na 50ª posição no ranking de corrupção, e no 55º lugar na ineficiência da Justiça. Questionado se o projeto não seria um mea culpa por parte da classe política, Souza rebate:

- Se formarmos cidadãos conscientes para serem representantes, eles irão para a política com propósitos diferentes, que não sejam voltados ao próprio interesse econômico. O cidadão já é corrupto no momento em que quer levar vantagem na fila do pedágio ou do mercado. A cultura brasileira tem isso de ser país do jeitinho, é vergonhoso.

Por isso, o senador defende a implantação de uma política educacional voltada para a formação moral e ética preparando os jovens para o exercício responsável da cidadania. Souza contesta os argumentos da falta de tempo e espaço no currículo:

- Com a proposta de período escolar integral, essa justificativa cai por terra. Antes de discutirmos se há espaço, temos que discutir se é importante.

Os argumentos não convencem a relatora das diretrizes curriculares no Conselho Nacional de Educação, Regina de Assis, que endossa as críticas.

- Isso é desconhecimento de currículo. Não vejo necessidade de incluir mais duas disciplinas para se teorizar sobre isso. Já faz parte das metas curriculares e dos projetos político-pedagógicos. Desde a creche tem que se ensinar a ética a partir de valores e da prática - diz Regina, doutora em educação.

Victor Notrica, presidente do Sindicato dos Professores de Escolas Particulares do Rio de de Janeiro, lembra que o conteúdo proposto pelas novas disciplinas já é trabalhado pelos professores. Ele ressalta a dificuldade de se cumprir o currículo atual nos 200 dias e 800 horas/ano obrigatórios por lei e levanta outro problema:

- Não sei se há docentes especializados para dar esses conteúdos em disciplinas específicas. Isso tudo faz parte do dia a dia escola. Os professores das ciências sociais, exatas e Língua Portuguesa já fazem uma abordagem de ética e cidadania. A inclusão obriga uma exclusão. Vai hipersaturar a carga horária dos estudantes e tumultuar ainda mais a grade curricular pelo excesso de conteúdo.

Alguns colégios cariocas alegam que já transmitem esses valores em outras disciplinas. O pH, por exemplo, tem a Aula de Vida para o ensino fundamental e de Atualidades para o médio. O São Bento ministra ensino religioso para os menores e teologia para os mais velhos. Diretora do São Bento, Maria Elisa Penna Firme lembra que a escola funciona das 7h30m às 17h30m.

- Já temos 15 disciplinas. Para entrar duas disciplinas, temos que tirar carga horária daquelas que já compõem o currículo. São temas importantes, mas que devem ser abordados dentro de Filosofia, Sociologia e Geografia - diz ela.

Rui Alves, diretor de ensino da rede pH, é menos refratário. Se a proposta virar lei, o colégio adaptará o conteúdo trocando os nomes das matérias:

- São disciplinas importantes para a formação dos alunos. A grande preocupação é contornar essa situação dentro da grade desses segmentos.

Secretária municipal de Educação, Cláudia Costin também está preocupada com a carga horária.

- Enquanto não resolver a questão da carga horária, sou contra. Nas nossas 119 escolas com 7 horas diárias, estamos incluindo a disciplina Educação para Valores. Nas demais, com média de 4 horas de aula/dia, se entrar mais uma disciplina, vamos ter menos tempo para trabalhar Matemática, Português e Ciências, que têm se saído tão mal em rankings internacionais.

Um currículo em crescimento constante

Elaborado pelo senador Sérgio Souza, o projeto que prevê a inclusão das duas disciplinas no currículo tem como relator o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), ex-reitor da Universidade de Brasília (UnB). O texto, que ainda será submetido a votação na Câmara dos Deputados, não é o primeiro a propor mudanças curriculares na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), de 1996. A cada ano, a legislação vai crescendo junto com os currículos. A alteração mais recente aconteceu em abril deste ano, quando foram incluídos os princípios de proteção e defesa civil e a educação ambiental de forma integrada aos conteúdos dos ensinos fundamental e médio nas escolas.

Em 2008, a inclusão de Filosofia e Sociologia como disciplinas obrigatórias em todas as séries do ensino médio também gerou polêmica e até hoje é questionada.

- A inclusão de Sociologia e Filosofia já foi demais. Tem que haver um projeto de currículo nacional, com conteúdos mínimos necessários para se aprender em cada série, e alguns aspectos regionais, que podem variar de estado para estado - defende Rubem Klein, da Associação Brasileira de Avaliação Educacional.

Também em 2008, a música passou a ser conteúdo obrigatório, mas não exclusivo do ensino de Artes. No mesmo ano, tornou-se obrigatório o estudo da história e da cultura afro-brasileira e indígena em todo o currículo dos ensinos fundamental e médio, em especial em Artes, História e Literatura.

Um ano antes, o ensino fundamental passou a ter, obrigatoriamente, conteúdo sobre os direitos das crianças e dos adolescentes, tendo como diretriz o Estatuto da Criança e do Adolescente.

Mais recentemente, em 2011, o estudo sobre os símbolos nacionais passou a ser incluído como tema transversal nos currículos do ensino fundamental.