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quarta-feira, 6 de julho de 2016

Educacao: nao existe nenhuma chance de melhorar - Fernando Schuler

História e sociologia na nova base curricular: ideologia e confusão
FERNANDO SCHÜLER
05/07/2016

A discussão sobre um currículo comum enfrenta um clássico problema de ação coletiva: quem exatamente é capaz de expressar o “pensamento comum” ou a reflexão sociológica “adequada” para as 190 mil escolas brasileiras?

Responda rápido: se você não quiser resolver muita coisa, mas fazer uma boa discussão, por onde deve começar? Há muitas respostas para essa pergunta. A minha favorita é: fazendo um mau diagnóstico. Ok, a resposta é meio óbvia, mas é exatamente disso que se trata o debate travado no país em torno da nova “base nacional comum curricular”.

Para quem não está familiarizado com o tema, trata-se de implantar um currículo obrigatório comum para todas as escolas brasileiras, estatais ou privadas, de ensino médio e fundamental. Na prática, uma lista de conteúdos para disciplinar o ensino básico. Orientar os autores de livros didáticos, o trabalho dos professores, em sala de aula, e as provas do Enem.

Meu argumento: a proposta de uma base curricular comum parte de um diagnóstico errado. Ela diz que que há um problema com nossa educação básica e que a implantação de um currículo nacional é fundamental para reduzir nossas “desigualdades educacionais”. Isso está lá, na primeira frase do site do “Movimento pela base nacional comum”.

Os dados são conhecidos: o Brasil possui 190 mil escolas voltadas ao ensino básico. Perto de 80% têm gestão governamental. No ensino médio, alcançam 3,4, em média, no Ideb. A rede privada, por sua vez, tem um Ideb de 5,4. A discrepância se repete no Pisa: alunos de escolas privada alcançam uma média pouco acima de 500; alunos de escolas públicas ficam perto do último lugar, com média de 387.

Observando esses dados, alguém poderia desconfiar que há um problema com a educação estatal, no Brasil. Desconfiar que há um problema com o alto absenteísmo de professores na rede pública (estudo mostrou que 12 mil professores faltam à aula todos os dias na rede estadual paulista); com a burocracia da gestão governamental, as amarras da lei das licitações, a estabilidade no emprego dos professores, a precariedade das instalações, a falta de continuidade administrativa, a pressão sindical contra qualquer inovação e meritocracia, as greves em série, et etc.

Alguém podia ter pensado nessas coisas, mas ninguém pensou. No cânone do debate educacional brasileiro, pode-se chegar a qualquer conclusão, menos que exista algum problema como o modelo de gestão estatal de nossas escolas. Questionar o “modelo” gera, como me disse certa vez a dirigente de uma ONG voltada à educação, um “problema político”. E ninguém quer encarar um problema politico, não é mesmo?

Uma vez decidido não enfrentar o cânone, produziu-se um singular diagnóstico: o que está faltando na nossa educação é uma lista de conteúdos que as escolas devem ensinar. Tenho curiosidade de saber que tipo de evidência empírica se usou para se chegar a essa conclusão. Suspeito que nenhuma. Talvez apenas a velha ideia de que é preciso “centralizar” quando alguma coisa não está funcionando.

Pois bem, feito o diagnóstico, o governo brasileiro partiu para a elaboração da lista. O MEC formou uma comissão de 116 professores e pôs mãos à obra. Depois de algumas revisões, publicou uma última versão da lista de conteúdos no mês de maio.

Relutei, confesso, em analisar seu conteúdo, pelas razões expostas acima. Mas fui em frente. Me concentrei nas áreas de história e sociologia. Li e reli a lista de conteúdos, e confesso que me surpreendi. Ela é muito pior, mais confusa e mais pesadamente carregada de viés ideológico do que havia imaginado.

O viés ideológico da base comum surge com nitidez na área de sociologia. Nos 28 conteúdos sugeridos, o arco conceitual é feito de palavras-chaves como “classes sociais”, “dominação”, “divisão social do trabalho”, “relações sociais de produção”, “movimentos sociais”. Não há, em toda lista, uma única menção a conceitos como liberdade, ética, indivíduo, direitos individuais, mercado, tecnologia ou inovação. Nada sobre a sociedade pós-industrial, de Daniel Bell; sobre a sociedade de rede, de Manuel Castells; ou a sociedade aberta, de Karl Popper. Alguém diria que esses são temas “difíceis”? Não acho. Não é a dificuldade que separa a boa sociologia do proselitismo.

A lista consagra uma visão binária de sociedade, baseada em polarizações de “classe” e movimentos sociais. Linha já adotada em nossos livros didáticos de sociologia. A novidade é que agora ela ameaça se tornar visão “oficial” do Estado brasileiro. No primeiro ano do ensino médio, os alunos  aprenderão sobre “localização social, como classes sociais”; No segundo ano, refletirão sobre “movimentos sociais baseados em classes sociais e, no terceiro, “problematizarão a divisão de classes no modo de produção capitalista”. No quarto, fariam uma revolução, imagino. Brincadeira. A expectativa realista é que passem a integrar algum “movimento social”.

Para deixar claro: é razoável que esse tipo de conteúdo seja apresentado como uma dentre outras linhas de interpretação sociológica no mundo moderno. Nada razoável, no entanto, é que ele seja apresentado como “a” sociologia como tal. Como pensamento único, travestido de realidade e pronto a fazer a cabeça dos nossos alunos.

O que temos aqui é um clássico problema de ação coletiva: quem exatamente é capaz de expressar o “pensamento comum” ou a reflexão sociológica “adequada” para as 190 mil escolas brasileiras? Uma comissão de 116 especialistas escolhida pelo Ministério da Educação? Uma espécie de ágora digital com todo mundo dando palpite na internet? O Conselho Nacional de Educação? O Congresso? O resultado da base curricular, na área da sociologia, ao menos até agora, mostrou apenas o perfeitamente previsível: que a definição dos conteúdos foi “capturada” por um grupo de opinião ideológica muito particular. E ameaça se tornar “opinião oficial” do governo brasileiro.

O vezo ideológico se repete na área de história, apenas de maneira mais confusa. Depois de ler e reler os 56 itens sugeridos para os três anos do ensino médio, confesso que tudo me pareceu uma bricolagem de conteúdos “multiculturais”. Tentativa de compor algo como uma “história étnica”, livre de linhas de tempo, feita de distintas “temporalidades” africanas, ameríndias, europeias ou asiáticas.

A ideia, aparentemente, é retirar da civilização “ocidental” ou “europeia” qualquer “primazia” no estudo da história. O estudo do império brasileiro teria o mesmo status que tem o estudo do reino do Congo, por exemplo. É o que está lá, no item nove do 1º ano do ensino médio, indicando o estudo dos “reinos, impérios, confederações e civilizações nas Áfricas e nas Américas”.

Para o 1º ano do ensino médio, há 16 conteúdos. Todos fazem referência a alguma “matriz cultural” e parecem organizados em uma espécie de “ranking étnico”. Quinze itens mencionam temas africanos (afro-américa, temporalidades africanas, pan-africanismo, afro-atlântico, movimentos sociais negros, quilombolas etc.), nove itens mencionam temas “ameríndios” e seis itens mencionam temas “europeus”. Alguma referência ao período colonial brasileiro? Ao processo de Independência? À Inconfidência Mineira? Nada. Isso não passa de uma “temporalidade dominante excludente a outros saberes”. Sacou?

Sobre esse tema, há uma saborosa nota, publicada nas redes sociais, de autoria do ex-ministro Renato Janine Ribeiro. Janine conta que reclamou com a comissão da base comum: “Não havia sequência histórica”, escreve. Apenas uma visão “brasilcêntrica” do mundo. O mais curioso é quando conta ter “solicitado expressamente que incluíssem a Inconfidência Mineira”. Pelo visto, não teve jeito. Nem mesmo o ex-ministro foi atendido.

No mais, é triste ver uma base curricular repleta de malandragem ideológica. Quando tratarem dos movimentos totalitários do século XX, nossos alunos estudarão o fascismo, o nazismo e o “stalinismo”. Nossos 116 especialistas decidiram tirar a palavra “comunismo” do rol dos movimentos totalitários. Por lógica, deveria constar no texto o “mussolinismo”, em vez do fascismo, e quem sabe o “hitlerismo”, em vez do nazismo.

Quando estudarem as “lutas democráticas” e as “ditaduras nas Américas”, nossos alunos aprenderão sobre os horrores da ditadura argentina e chilena, de Pinochet (curiosamente o único ser humano citado em toda a base de história). Alguma referência à mais longa ditadura latino-americana, em Cuba? À saga dos balseiros? À luta democrática na Ilha? Um prêmio para quem acertar a resposta.

Uma das mais saborosas recomendações é dada para o 1º ano do ensino fundamental: “problematizar as razões da seleção, escolhas e definição das datas comemorativas”. Fiquei imaginando a professora, diante da turminha de 6 ou 7 anos de idade, perguntando: “Vocês sabem o que está por trás da escolha do 7 de setembro? Vocês acham que o Brasil é um país realmente independente?

Há conteúdos que parecem simplesmente mal elaborados. Como a sugestão de “relacionar e problematizar as juventudes” nos “diversos espaços do Brasil e nos mundos europeus e asiáticos nos séculos XX e XXI”. Fiquei pensando o que um professor faria, em sala de aula, a partir de uma recomendação como essa. Analisar a música pop no japão? Os protestos de jovens chineses na Praça da Paz Celestial? O maio de 1968? A Jovem Guarda? E por que a juventude “asiática” e não a “norte-americana”?

Outro exemplo: a sugestão de “analisar os efeitos da mundialização/globalização entre os séculos XIX e XXI na Europa e na Ásia relacionando-os à formação de fronteiras étnicas, nacionais, culturais, religiosas e econômicas”. Uma frase como essa não faz rigorosamente nenhum sentido. São dois séculos de história e um recorte espacial aleatório. Por que “Europa e Ásia?”, o que significa uma “fronteira religiosa” e que sentido a globalização econômica gera “fronteiras econômicas”? Na verdade, tudo parece não passar, por vezes, de uma sequência de frases soltas, incapazes de oferecer nenhuma orientação objetiva para o professor ou para quem se aventurar a escrever um livro didático de história.

Por fim, há o mistério da completa ausência do estudo de história antiga e medieval. Ausência de uma “história do mundo”, na observação correta de Renato Janine Ribeiro. Nada minimamente sistemático sobre a Grécia e a criação da democracia ocidental; sobre as grandes civilizações antigas, sobre Roma e sobre o que andou acontecendo no milênio que separa o fim do Império e o renascimento. Nossos alunos pouco ou nada saberão da tradição medieval, da reforma, da cultura renascentista, da formação do pensamento político moderno, ou ainda sobre a revolução na Inglaterra e na França. Tudo porque resolvemos abolir, de uma hora para outra, toda a temporalidade histórica. Diria mais: toda a rica tradição historiográfica amplamente reconhecida no ocidente.

É possível, em tese, imaginar que uma base curricular comum possa ajudar a melhorar a nossa educação. Isso se for bem feita, a partir de um diagnóstico adequado e siga o que há de melhor na experiência internacional. E fique longe de qualquer tipo de proselitismo ideológico. Não é uma tarefa simples.

A boa educação, em qualquer lugar do mundo, é obtida quando se põe em execução um bom modelo de gestão, em amplo sentido: da gestão administrativa, passando pela contratação e avaliação de professores, até a política pedagógica e a medição sistemática de resultados. O bom setor privado brasileiro há muito sabe fazer isso e o faz, em regra, pelo mesmo valor que os governos gastam para oferecer aos mais pobres uma má educação. Nosso problema, no fundo, é ficar insistindo em obrigar o governo a fazer o que ele já provou, de todas as maneiras possíveis, que não sabe fazer.

Os erros cometidos no debate da nova base curricular nacional são mais uma oportunidade de discutirmos sobre isso. E de andar para a frente. Não vamos perder essa oportunidade.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

"A crise da educacao e' mais grave do que a da pobreza" - Ricardo Paes de Barros

Fazem anos que insisto em que as cinco primeiras prioridades do Brasil devem ser estas:

1) Educação
2) Educação
3) Educação
4) Educação
5) Educação

Perdão, corrijo: não qualquer educação. Apenas a primária, a secundária e a técnico-profissional. No que se refere ao ciclo superior, e outras afins, são importantes, mas não prioritárias, pelo menos não com a urgência dos problemas da educação fundamental e do ensino profissionalizante.
Paulo Roberto de Almeida 

"A crise da educação é mais grave do que a da pobreza"
Entrevista/ Ricardo Paes de Barros
Flávia Yuri Oshima e Guilherme Evelin
Época, 8/08/2015

O economista liberal, um dos pais do Bolsa Família, diz que o Plano Nacional de Educação é pouco ambicioso e critica o preconceito no governo contra o setor privado.

Um dos maiores especialistas do mundo em pobreza e desigualdade abraçou outra causa. Um dos formuladores dos programas de combate à pobreza, ainda nos tempos do governo Fernando Henrique, Ricardo Paes de Barros deixou o governo Dilma neste ano e agora se debruça sobre políticas públicas para a educação, como economista-chefe do Instituto Ayrton Senna. PB, como é chamado, é engenheiro do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), tem mestrado em estatística, doutorado e pós-doutorado em economia pela Universidade de Chicago — templo do pensamento liberal - e pela Universidade Yale, ambas nos Estados Unidos. Hoje usa suas habilidades com números e õ conhecimento que adquiriu ao longo de 40 anos de estudos sobre a sociedade brasileira para avaliar as políticas de maior alcance, com menor custo, na educação brasileira. Na entrevista a seguir, fala sobre o Plano Nacional de Educação, o impacto da desigualdade no aprendizado e sobre quanto a ideologia atrapalha o país.

ÉPOCA - O problema da educação é falta de dinheiro ou de gestão?

Ricardo Paes de Barros - A meta é investir 10% do Produto Interno Bruto (PIB) em educação até 2024. Nenhum outro país coloca tanto dinheiro na área. Mas o Brasil tem a educação típica de um país que tem metade da renda per capita brasileira; está 25 anos atrás do Chile e tem apenas metade dos jovens cursando o ensino médio na idade certa. São problemas graves. Então, se pedirem 10% do PIB para mexer na educação, acho que a sociedade brasileira deve dar. Mas deve dar sob a condição de garantir que a situação mudará, com um plano sério, bem explicado, com metas.

ÉPOCA - Esse seria o objetivo do Plano Nacional de Educação (PNE), que passou a vigorar neste ano. Qual sua opinião sobre ele?

Paes de Barros - As metas do PNE são muito pouco ambiciosas para quem quer realmente dar um salto na área. Elas não botam o Brasil no mapa do mundo da educação mesmo que consigamos cumprir todas. Faltam no PNE evidências sobre a eficácia das ações que mudarão para melhor o cenário do país. O MEC tem de dizer: "Pegaremos esse dinheiro, faremos isso com ele e entregaremos este resultado. E se, no meio do caminho, não chegarmos lá, acionaremos uma outra coisa, que funcionará assim, custará tanto e produzirá tal efeito".

ÉPOCA - No ponto em que o Brasil está hoje, cuidar da educação é mais importante que cuidar da pobreza?

Paes de Barros - Em 2000, a gente tinha 15% da população extremamente pobre e 12% de analfabetos. Todo mundo acreditava que reduziríamos os analfabetos rapidamente porque o problema era focalizado e todos sabiam como fazer. Acreditavam que seria complexo reduzir a pobreza. No fim, a gente pegou aqueles 15% de pobres e rapidamente os levamos a 3%. E o analfabetismo ainda está em 9%. Hoje nossa revelada incompetência em melhorar em educação torna o problema mais desafiante e mais importante. Já temos uma política social supercapaz de atacar a miséria, mas os problemas da educação atingem muito mais gente do que a pobreza.

ÉPOCA - O que o senhor faria se estivesse no Ministério da Educação?

Paes de Barros- Cuidaria da difusão de melhores práticas. Num mesmo bairro temos escolas com nota 6 do índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que é uma boa nota, e outras com Ideb 3, que é péssima. Isso não faz sentido. Se uma empresa inventar uma coisa bacana, o que a concorrência fará? Copiará. Por que a escola de Ideb 3 não copia a vizinha de Ideb 6? A questão é que criamos um sistema de educação que não é público, é estatal, e não tem nenhuma dinâmica. O sucesso do Bolsa Família tem muito a ver com isso. No fundo, quem faz todo o trabalho do Bolsa Família ser um negócio localizado é o município, porque quem escolhe quem será cadastrado é ele. Vários municípios copiam as experiências dos outros, e o Bolsa Família funciona bem em todo o país.

ÉP - Essas boas práticas em educação não se disseminam por causa das desigualdades regionais?

Paes de Barros - Acho que não c esse o problema. O desempenho agregado de Pernambuco, Goiás e Rio de Janeiro em educação, na última década, é muito melhor que do resto do país. São Estados completamente diferentes. Agora, me diga por que o Espírito Santo não é igual ao Rio de Janeiro? Se Goiás fez, por que Tocantins e Mato Grosso não fizeram? Por que os municípios vizinhos a Sobral, no Ceará (outro caso de sucesso em educação), não vão lá entender o que eles fizeram para ter as melhores notas do Estado no ensino público?

EPOCA - E quanto a condição social influencia nessas disparidades na educação?

Paes de Barros - Muito mais do que deveria. Essa é uma das coisas que a gente deveria cobrar do governo. Esse é um ponto que está muito pouco contemplado no Plano Nacional da Educação. É absurdo que o aprendizado de uma criança esteja condicionado ao lugar em que ela vive, ao fato de ela ser pobre ou rica, branca ou negra. O sistema educacional brasileiro permite que essas características tenham um impacto gigantesco no aprendizado do aluno. Isso é uma fonte de desigualdade de oportunidade absurda, que alimentará uma desigualdade ainda maior no futuro.

ÉPOCA -O que pode ser feito para resolver esse problema?

Paes de Barros - Se for bem planejada c bem implementada, a educação de tempo integral pode reduzir essa desigualdade. Ela pode dar ao aluno mais pobre aquilo que uma família em melhores condições oferece para uma criança e que tem tanto impacto positivo no aprendizado. Se numa família mais rica a criança tem acesso a um lugar iluminado e tranquilo para estudar, é isso que a escola tem de ter. A escola tem de desenhar mecanismos para tornar a educação mais independente do ambiente familiar. Tem de dizer para o pai: eu só preciso que o senhor faça a criança dormir cedo, faça ela se alimentar bem e seja carinhoso e encorajador. Não adianta pedir para o pai estudar com ele, para fazer pesquisas em livros a que ele não tem acesso. É preciso cuidar também da autoeficácia. O aluno bom é aquele que acredita que é capaz de aprender. O aluno confiante que tem um professor que acredita nele vai aprender muito mais.

ÉPOCA - O senhor é um entusiasta da ideia de que os esforços de educação devem ser concentrados nos primeiros anos de vida da criança. A principal meta do governo para a primeira infância é a criação de milhares de creches. É o caminho certo?

Paes de Barros - Essa é uma questão importante e muito complexa. A creche não é a solução para todas as crianças. Mães e pais, em suas casas, com suporte do Estado, com atendimento médico, podem promover o desenvolvimento fantástico da criança. Um exemplo é o Primeira Infância Melhor, do Rio Grande do Sul. É um programa de visitação domiciliar, de um profissional que vai observar a criança e dar orientação para a família de como cuidar dela. O plano do governo diz que, daqui a dez anos, teremos 50% das crianças nas creches. Mas o que precisamos é de um plano que cuide de 100% das crianças aqui e agora. Precisamos de um programa em que os agentes de saúde olhem pelo desenvolvimento das crianças e orientem as famílias. Ninguém no mundo cuidou da primeira infância colocando todas as crianças em creches de tempo integral. A creche é uma resposta para as crianças pequenas de mães pobres que trabalham. Para esse público, é uma opção eficaz. A creche aumenta mais a renda da família que o Bolsa Família. E faz isso de forma autônoma. Agora, existe um problema com as creches no Brasil que chega a ser uma maluquice: a maior parte das creches públicas é usada por mães que não trabalham. Existe hoje espaço nas creches brasileiras para abrigar a vasta maioria das mães pobres que trabalham. Mas não se dá prioridade a elas. O Ministério Público diz que o direito à creche é universal. Ocorre que quem tem tempo para pegar a fila da creche, quem vai lá no Ministério Público reclamar que quer creche, é a mãe que não trabalha. A política de creches deveria ser focalizada em quem precisa.

ÉPOCA - Na criação do Bolsa Família, houve resistência de setores do governo Lula ao programa por se tratar de uma política focalizada, considerada neoliberal por eles. Ainda há preconceito contra as políticas de focalização?

Paes de Barros - Esse debate sobre a focalização foi superado. O que continua a existir é uma coisa discriminatória contra o setor privado. A educação claramente discrimina a universidade privada diante da pública, como se, por definição, algo estatal fosse melhor do que o privado. O programa nacional de alfabetização, por exemplo, tem de ser com as universidades públicas, e não com as privadas. Por quê? É pura discriminação - e ela tem de ser contestada. Há a ideia de que privatizar parte da educação é mercantilizar o setor. Esse é o grande nó dos serviços públicos do Brasil. Na educação essa mentalidade é brutal e representa um grande problema. Não se pode usar o Fundeb (fundo de financiamento para a educação básica) para contratar uma rede de escolas de educação média para prover os serviços de um Estado. Um Estado poderia gastar menos contratando uma rede de ensino particular. Ele não se preocuparia com infraestrutura, nem com o quadro de docentes. O loco do Estado seria o controle da qualidade do ensino. Isso economizaria dinheiro e dor de cabeça. Imagina isso no Estado de São Paulo, que tem mais de 200 mil professores. As Organizações Sociais (OS) deram certo na saúde. Mas não se pode usar OS na educação. Não podemos testar o modelo de charters schools no Brasil, que são escolas privadas pagas em parte pelo governo e gratuitas para a população. Na Colômbia estão fazendo isso. A Suécia está se livrando de todas as escolas públicas. O país paga para a rede privada prover o estudo. Para a família é gratuito — e só o que importa é a qualidade.

ÉPOCA - Apesar da discriminação contra o setor privado, o Bolsa Família, formulado por liberais como o senhor, se transformou em uma vitrine dos governos do PT. O senhor se ressente por isso?

Paes de Barros - Não tenho problema nenhum com essa apropriação. Na verdade, é o contrário. Eu gostaria que eles tivessem se apropriado de outras ideias minhas. Foi um privilégio poder ter contribuído de alguma forma com a mudança social que ocorreu nos últimos anos. O presidente Lula fez coisas surpreendentes nesse sentido. Ele tem o mérito fantástico de ter escutado os caras mais variados da face da terra. Saiu copiando ideia de tudo que é lugar, coisas dramaticamente diferentes, filosófica e ideologicamente contrárias. O ProUni, que concede bolsas de estudo em rede privada, e o ProUni, que é a expansão das universidades públicas, são contradições frontais. O Fernando Henrique escolheria um dos dois, nunca faria os dois. O Lula não tinha muita ideologia. Ele tinha um senso prático e uma vontade de melhorar a vida das pessoas. Se você me perguntar por que a desigualdade caiu no Brasil, direi que não sei a razão e que isso é ótimo. Quando se sabe o motivo do crescimento econômico, isso significa que ele não será sustentável. Não tem nenhuma indústria que mantenha o crescimento de um país por um longo período. Quando é algo espalhado, misturado, que não dá para dizer que foi A, B ou C, é positivo, porque foi algo que aconteceu em todos os setores, por todo o país.

ÉPO - Quais das suas ideias o senhor se ressente por não terem sido implementadas?

Paes de Barras - A principal foi a da junção de toda a política de transferência. Unir o seguro-desemprego com o Bolsa Família. Hoje, o beneficiário que conseguir um emprego formal perde o direito ao benefício. Se ele perder o emprego, não o ganha de volta. A gente tem de construir um sistema que junte isso tudo num programa que estimule o trabalho e a formalização. Da forma como está, ele desestimula o cidadão a ser formal, ou a voltar a trabalhar. Passei o último governo inteiro tentando emplacar esse plano, mas não fui ouvido. Desenvolvi outro programa para a população isolada na área de fronteira do país que garante a permanência nessa faixa. Temos 600 mil pessoas lá. Na próxima geração, não teremos ninguém. Isso será um problemão para o Brasil.

ÉPO - Tivemos vários ganhos na redução de desigualdade nos últimos 20 anos. Essas conquistas estão em risco com a crise que o país está vivendo agora?

Paes de Barros - Os ganhos sociais são muito sólidos. Não acho que corremos muito risco. A crise que temos é inventada por nós mesmos. Não temos crise por causa de desastre natural, ou alguma doença, ou algum inimigo que causou alguma coisa. É um desarranjo institucional. Fomos muito desorganizados, gastamos mais do que tínhamos. Dado isso, essa crise teria tudo para ser de curta duração. Seria o caso de chamar todo mundo, organizar e proteger a renda dos mais pobres. Metade da população brasileira tem menos de 20% da renda brasileira. É fácil proteger 20% da renda brasileira. Porque se a renda brasileira precisar cair 4%, basta os outros 80% perderem 5% que a renda dos mais pobres não precisa cair nada. Num país com uma política social poderosa como a do Brasil, dá para blindar os pobres. Para isso precisamos de um corte orçamentário cuidadoso. Agora, estamos caminhando para a direção errada. Fizemos cortes toscos, no abono salarial e no seguro-desemprego, que poderiam ser alterados de outra forma. E transformamos uma crise que poderia ser de curta duração em algo de média duração. Falta coesão e uma liderança que junte todo mundo em torno de uma mesa para fazer um ajuste sério. Hoje é como se estivéssemos numa enchente desastrosa, com água até o joelho, e a oposição quer sentar numa mesa boiando na enchente para discutir quem é o culpado, em vez de correr para escoar a água.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Educacao brasileira: 12 mitos desmontados por Gustavo Ioschpe

Material do ano passado, mas ainda plenamente válido.
Acesse a postagem interativa, neste link: http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/gustavo-ioschpe-derruba-12-mitos-da-educacao-brasileira
Paulo Roberto de Almeida

Veja.com, 26/07/2014 - 09:22

Entrevista: Gustavo Ioschpe

Gustavo Ioschpe derruba 12 mitos da educação brasileira

Professor ganha pouco, universidade pública deve ser gratuita... O economista desconstrói versões predominantes sobre a realidade e os desafios do ensino nacional. Leia também: trecho inédito do novo livro do colunista de VEJA

Bianca Bibiano
Gustavo Ioschpe: "No dia em que a má qualidade do ensino tirar votos, teremos uma mudança verdadeira no país."
Gustavo Ioschpe: "No dia em que a má qualidade do ensino tirar votos, teremos uma mudança verdadeira no país." (Heitor Feitosa/VEJA.com/VEJA.com)
No início de 2013, Israel Lelis (PP), prefeito de Ibipeba, cidade de 17.000 habitantes no interior da Bahia, teve uma atitude bastante incomum: deu a todos os 200 professores da rede municipal de ensino local um exemplar do livro O Que o Brasil Quer Ser Quando Crescer?", de Gustavo Ioschpe, economista e colunista de VEJA. "Pensamos que era uma piada de mau gosto", conta Cleide Lelis, secretária de Educação da cidade. "Os professores que não conheciam o autor acharam que se tratava de um pseudônimo criado pelo prefeito para criticar nosso trabalho." Esclarecida a situação, os docentes organizaram um evento para discutir os artigos do livro, publicados originalmente em VEJA. "Os textos falam do que ninguém quer ouvir e fazem questionamentos que enriqueceram o debate sobre o que fazer para melhorar a qualidade da educação", diz a secretária.
Divulgação/ Ed. Objetiva
O que o Brasil quer ser quando crescer?
O Que o Brasil Quer Ser Quando Crescer? (Editora Objetiva; 254 páginas; 36,90 reais)
Sim, falar de temas espinhosos, questionar versões consagradas e derrubar mitos sobre a educação brasileira (leia na lista abaixo) é uma especialidade de Ioschpe, de 37 anos. Apoiado em rigor metodológico e na análise minuciosa de pesquisas nacionais e internacionais, o economista desconstrói discursos que se tornaram predominantes entre professores, pais, políticos e quase toda a sociedade para explicar a funesta situação do ensino nacional e seus desafios. Ioschpe volta à carga em novo livro, uma edição ampliada de "O Que o Brasil Quer Ser Quando Crescer?", que chega às livrarias no dia 1º de agosto e reúne 40 artigos publicados em VEJA entre 2006 e 2013. Os textos tratam de questões como financiamento da educação, participação dos pais e propostas de melhoria do ensino. O volume traz ainda um extenso material produzido após uma viagem do autor à China, em 2011, para investigar as causas do recente e acelerado avanço da educação no país asiático. Parte da apuração foi publicada à época em VEJA, mas parte permanecia inédita até agora (leia capítulo na íntegra).

Leia mais:
Capítulo inédito do novo livro: "A educação que constrói uma potência"

A viagem de Gustavo Ioschpe à China
A bagagem que permite ao economista fazer afirmações incisivas, que destoam da maioria — como a de que o Brasil não gasta pouco em educação e de que os professores não ganham mal —, foi acumulada ao longo de mais de 15 anos de pesquisas. "Eu não escrevo para mostrar minha opinião. Escrevo como pesquisador, apoiado em literatura empírica", diz Ioschpe. O gaúcho de Porto Alegre começou a escrever quando cursava o ensino médio e se preparava para o vestibular. "Sempre gostei de escrever e resolvi fazer um livro com dicas para vestibulandos que, assim como eu, precisavam aguentar a pressão dos exames." A repercussão do livro rendeu um convite para se tornar colunista do jornal Folha de S.Paulo, em 1996. No mesmo ano, foi aprovado na Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, onde estudou administração, economia e ciências políticas.
O interesse pela educação brasileira nasceu com a repercussão de um artigo que defendia a cobrança de mensalidade nas universidades públicas. "Foi a primeira vez que recebi uma resposta agressiva dos leitores", diz. Para compreender o que causava tantas queixas, decidiu aprofundar a discussão em uma pesquisa científica. O resultado do trabalho ganhou forma em sua tese de graduação e foi aprofundado no curso de mestrado em desenvolvimento econômico na Universidade de Yale, onde ele mergulhou no estudo da economia da educação.
"Minha pesquisa me deixou chocado. Àquela altura, o Brasil ganhava visibilidade internacional com a promessa de um forte crescimento econômico, mas sofria com um problema seriíssimo de falta de capital humano, que atrapalhava o crescimento da nação e persiste até hoje. Para piorar, a discussão a respeito era irrelevante. O debate se resumia ao financiamento da educação e ao salário dos professores."
Com a "pretensão da juventude", como ele mesmo define, Ioschpe pensou que poderia mudar o eixo central do debate usando argumentos de sua tese de mestrado, publicada em 2002. "Eu queria mostrar que soluções comprovadamente eficazes para alavancar a aprendizagem, como cobrar diariamente o dever de casa, não envolviam recursos financeiros. Mas ninguém quer ouvir sobre soluções que deem mais trabalho aos professores. A educação nacional era e continua um desastre."
O receio de que o atraso educacional aniquilasse as chances de o Brasil se tornar um país desenvolvido motivou Ioschpe a seguir escrevendo — ele é colunista de VEJA desde 2006. "O maior elogio que posso receber é uma crítica pessoal. Se os comentários apontassem fraquezas nos dados que apresento, eu me importaria de verdade. Quando elas vem recheadas de xingamentos, vejo apenas que faltaram argumentos consistentes aos meus interlocutores." Com poucos interlocutores nessa seara dispostos a debater, o economista mirou outro alvo. "Antes, eu acreditava que poderia interferir no debate educacional mostrando que o problema é de má gestão e não de falta de recursos financeiros ou tecnológicos. Recentemente, concluí que discutir com esses grupos não adianta: a mudança só vai acontecer quando a população passar a cobrar melhorias."

Gustavo Ioschpe derruba 12 mitos da educação brasileira

Em entrevista, o economista comenta a situação e os desafios do ensino nacional

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"O Brasil investe pouco em educação"

“Se um médico prescreve um remédio para uma doença e ele não surte efeito, a primeira opção é aumentar a dosagem. Se o problema persistir, provavelmente o médico tentará outro medicamento. Quando o assunto é educação, a lógica segue o caminho oposto: a solução para todos os problemas é sempre aumentar a dosagem do que se considera o único remédio, ou seja, o dinheiro. Os defensores desse tratamento desconsideram o fato de que repasses de verba cada vez maiores já foram anunciados por programas como Fundef e Fundeb sem melhorar a qualidade da educação. Apesar disso, o Plano Nacional de Educação, recém-sancionado pela presidente Dilma Rousseff, prevê que, até 2024, 10% do PIB brasileiro deve ir para o setor. Segundo a Unesco, países como Finlândia, China, Irlanda e Coreia do Sul, que apresentam os melhores índices educacionais do mundo, gastam até 5,7% do PIB com educação. Em contraponto, nações como Quênia, Namíbia, Armênia e Mongólia despendem entre 7% e 12,9% do PIB no setor: mesmo assim, não conseguiram solucionar o problema da baixa qualidade do ensino.”

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Educacao: a pessima qualificacao dos professores no Brasil - O Globo

Os jornalistas não são exatamente competentes para extrairem todas as conclusoes pertinentes da pesquisa. Eles também são mal qualificados...
Paulo Roberto de Almeida 

Brasil não qualifica seus professores, diz estudo inédito

O Globo, 8/07/2014

Mais de 70% das atividades de formação continuada de professores no Brasil têm baixa eficácia e aplicabilidade, deixando o docente desmotivado e sem tempo para continuar com os estudos. Os métodos mais eficazes, as tutorias, são adotados apenas por 2% das escolas do país. Estas são principais conclusões do estudo “Formação continuada de professores no Brasil”, feito pelo Instituto Ayrton Senna (IAS) em parceria com The Boston Consulting Group (BCG), consultoria multinacional de gestão empresarial. A pesquisa, inédita, foi divulgada na tarde desta segunda-feira em São Paulo, em cerimônia que contou com a presença do ministro da Educação, José Henrique Paim.
O estudo ouviu 2.732 educadores entre novembro de 2012 e março de 2013, sendo diretores de escolas (51%), coordenadores pedagógicos (18%) e professores (26%). A partir das respostas, a pesquisa identificou os principais entraves para a formação continuada de docentes no Brasil e traçou linhas de ação para a capacitação dos profissionais.
Mais de 70% dos profissionais consultados no estudo disseram que as atividades oferecidas em sua escola são de caráter coletivo e “fora da sala de aula”, como acesso a material didático, reuniões pedagógicas e participação em eventos. Para os pesquisadores, esse enfoque em práticas conjuntas e mais distantes do cotidiano escolar “resulta em iniciativas de baixo impacto na melhoria do ensino”.
Ao serem perguntados sobre como suas escolas oferecem formação continuada, 14% disseram que o projeto se dá por oferta de material didático. Outros 14%, responderam que têm horário de trabalho reservado para atividades pedagógicas coletivas, 9% alegaram que mantêm encontros com supervisores e outros 9% afirmaram que fazem cursos a distância.
Em uma das perguntas, foi pedido para que profissionais da área dessem notas de 1 a 5 para os principais desafios da formação continuada, sendo 5 o grau máximo de dificuldade. No topo da lista tanto de professores quanto de diretores ficou a “lacuna de incentivos”, com média geral de 2,9. De acordo com o estudo, isso seria decorrente da baixa percepção por parte de professores e diretores de que a continuação dos estudos pode lhes proporcionar ascensão profissional.
Em seguida, para os dois grupos, os itens que mais atrapalhariam a formação continuada seria a “escassez de tempo” e a pouca “aplicabilidade do conteúdo”. Tanto o professor quanto o diretor convergiriam ainda ao apontar que há falta de priorização de outras iniciativas que não formação, falta de alinhamento das ações de formação continuada e elevada rotatividade dos professores. Esse último item, segundo o estudo, seria agravado ainda pelo alto número de professores com contratos temporários. Dados do Censo Escolar de 2012 mostram que existem 507.166 professores temporários e 1.327.526 efetivos no Brasil.
- Um dos pontos que mais atrapalha é a troca de governos municipais e estaduais. Cada gestão traça um plano de formação continuada, com parcerias de diferentes universidades. E com isso, a cada troca de governo, temos um novo plano. É uma formação ‘descontinuada’ – critica o coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, o cientista político Daniel Cara.
As percepções, contudo, não são homogêneas em todos os estados do país. Enquanto profissionais do Sudeste, por exemplo, elegem a escassez de tempo como um dos principais entraves para a continuação dos estudos, em grande parte do Sul e em Rondônia, Tocantis e parte do Nordeste, este é um considerado um “desafio leve”. Por outro lado, se nos estados do Norte, é a alta rotatividade dos professores o maior culpado, no Rio ela seria encarada com mais facilidade pelos educadores.
De acordo com o estudo, as disparidades regionais demandariam abordagens diferenciadas para a formação continuada, inclusive na questão curricular. A pesquisa ressalta que uma das maiores dificuldades seria responder a essa questão: como produzir um material que sirva ao professor de São Paulo e ao do interior da Região Norte?
- Tirando situações que envolvam questões mais neutras como o ensino de fração na Matemática, o ideal seria que cada lugar desenvolvesse suas práticas de formação continuada, obedecendo as realidades locais. No entanto, para que isso ocorra, o MEC tem que estabelecer desde já uma diretriz curricular comum, coisa que ainda não temos – afirma Maria Helena Guimarães de Castro, diretora executiva da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) e uma das educadoras que participou do estudo.
Tutoria pedagógica e plano de carreira
Além do panorama geral, o estudo também traça planos para implementar de modo eficaz a formação continuada. Uma das principais soluções sugeridas pelo estudo é a tutoria pedagógica ou professores-tutores nas redes de ensino. O estudo cita ainda o caso da rede estadual de Goiás, que implementou a prática e agora colhe os frutos. Lá, docentes são supervisionados por colegas mais experientes e outros educadores, além de receberem avaliações de desempenho e “feedbacks” e manterem reuniões frequentes com suas equipes pedagógicas. Em contraste, apenas 2% dos entrevistados no estudo disseram receber esse acompanhamento.
Os pesquisadores chamam atenção ainda para a urgência de se institucionalizarem planos de carreira que estimulem a qualificação do profissional. Vale lembrar que essa é uma das 20 metas do Plano Nacional de Educação (PNE), sancionado mês passado pela presidente Dilma Rousseff.
Natália Souza sabe muito bem a importância dos estudos. Professora de História na Escola Sesc, de ensino privado, e de uma escola municipal na comunidade de Cidade de Deus, no Rio, Natália conta que percebe bem como cada rede lida com a questão da formação continuada. Enquanto na escola particular paga seus estudos de pós-graduação, a rede municipal lhe dá acréscimo de R$ 200 por titulação de mestrado.
- Na rede pública, não há oferta nenhuma. A iniciativa tem que partir de nós. Eu fiz mestrado porque eu quis e porque houve incentivo da Escola Sesc. É uma pena, porque nos sentimos mais seguros ao lecionar depois de um curso de reciclagem – afirma a professora.
Fonte: O Globo.

domingo, 13 de outubro de 2013

A decadencia do ensino superior (!?) no Brasil - BBC-Brasil

'Geração do diploma' lota faculdades, mas decepciona empresários

Estudante (Foto Reuters)
Número de instituições de ensino superior mais que dobrou desde 2001
Nunca tantos brasileiros chegaram às salas de aula das universidades, fizeram pós-graduação ou MBAs. Mas, ao mesmo tempo, não só as empresas reclamam da oferta e qualidade da mão-de-obra no país como os índices de produtividade do trabalhador custam a aumentar.
Na última década, o número de matrículas no ensino superior no Brasil dobrou, embora ainda fique bem aquém dos níveis dos países desenvolvidos e alguns emergentes. Só entre 2011 e 2012, por exemplo, 867 mil brasileiros receberam um diploma, segundo a mais recente Pesquisa Nacional de Domicílio (Pnad) do IBGE.
“Mas mesmo com essa expansão, na indústria de transformação, por exemplo, tivemos um aumento de produtividade de apenas 1,1% entre 2001 e 2012, enquanto o salário médio dos trabalhadores subiu 169% (em dólares)", diz Rafael Lucchesi, diretor de educação e tecnologia na Confederação Nacional da Indústria (CNI).
A decepção do mercado com o que já está sendo chamado de "geração do diploma" é confirmada por especialistas, organizações empresariais e consultores de recursos humanos.
"Os empresários não querem canudo. Querem capacidade de dar respostas e de apreender coisas novas. E quando testam isso nos candidatos, rejeitam a maioria", diz o sociólogo e especialista em relações do trabalho da Faculdade de Economia e Administração da USP, José Pastore.
Entre empresários, já são lugar-comum relatos de administradores recém-formados que não sabem escrever um relatório ou fazer um orçamento, arquitetos que não conseguem resolver equações simples ou estagiários que ignoram as regras básicas da linguagem ou têm dificuldades de se adaptar às regras de ambientes corporativos.
"Cadastramos e avaliamos cerca de 770 mil jovens e ainda assim não conseguimos encontrar candidatos suficientes com perfis adequados para preencher todas as nossas 5 mil vagas", diz Maíra Habimorad, vice-presidente do DMRH, grupo do qual faz parte a Companhia de Talentos, uma empresa de recrutamento. "Surpreendentemente, terminanos com vagas em aberto."
Outro exemplo de descompasso entre as necessidades do mercado e os predicados de quem consegue um diploma no Brasil é um estudo feito pelo grupo de Recursos Humanos Manpower. De 38 países pesquisados, o Brasil é o segundo mercado em que as empresas têm mais dificuldade para encontrar talentos, atrás apenas do Japão.
É claro que, em parte, isso se deve ao aquecimento do mercado de trabalho brasileiro. Apesar da desaceleração da economia, os níveis de desemprego já caíram para baixo dos 6% e têm quebrado sucessivos recordes de baixa.
Linha de montagem da Ford (Foto BBC)
Produtividade da industria aumentou apenas 1,1% na última década, segundo a CNI
Mas segundo um estudo divulgado pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) divulgado nesta semana, os brasileiros com mais de 11 anos de estudo formariam 50% desse contingente de desempregados.
"Mesmo com essa expansão do ensino e maior acesso ao curso superior, os trabalhadores brasileiros não estão conseguindo oferecer o conhecimento específico que as boas posições requerem", explica Márcia Almstrom, do grupo Manpower.

Causas

Especialistas consultados pela BBC Brasil apontam três causas principais para a decepção com a "geração do diploma".
A principal delas estaria relacionada a qualidade do ensino e habilidades dos alunos que se formam em algumas faculdades e universidades do país.
Os números de novos estabelecimentos do tipo criadas nos últimos anos mostra como os empresários consideram esse setor promissor. Em 2000, o Brasil tinha pouco mais de mil instituições de ensino superior. Hoje são 2.416, sendo 2.112 particulares.
"Ocorre que a explosão de escolas superiores não foi acompanhada pela melhoria da qualidade. A grande maioria das novas faculdades é ruim", diz Pastore.
Tristan McCowan, professor de educação e desenvolvimento da Universidade de Londres, concorda. Há mais de uma década, McCowan estuda o sistema educacional brasileiro e, para ele, alguns desses cursos universitários talvez nem pudessem ser classificados como tal.
“São mais uma extensão do ensino fundamental", diz McCowan. "E o problema é que trazem muito pouco para a sociedade: não aumentam a capacidade de inovação da economia, não impulsionam sua produtividade e acabam ajudando a perpetuar uma situação de desigualdade, já que continua a ser vedado à população de baixa renda o acesso a cursos de maior prestígio e qualidade."
Para se ter a medida do desafio que o Brasil têm pela frente para expandir a qualidade de seu ensino superior, basta lembrar que o índice de anafalbetismo funcional entre universitários brasileiros chega a 38%, segundo o Instituto Paulo Montenegro (IPM), vinculado ao Ibope.
Estudantes (Foto BBC)
Especialistas questionam qualidade de novas faculdades no Brasil
Na prática, isso significa que quatro em cada dez universitários no país até sabem ler textos simples, mas são incapazes de interpretar e associar informações. Também não conseguem analisar tabelas, mapas e gráficos ou mesmo fazer contas um pouco mais complexas.
De 2001 a 2011, a porcentagem de universitários plenamente alfabetizados caiu 14 pontos - de 76%, em 2001, para 62%, em 2011. "E os resultados das próximas pesquisas devem confirmar essa tendência de queda", prevê Ana Lúcia Lima, diretora-executiva do IPM.
Segundo Lima, tal fenômeno em parte reflete o fato da expansão do ensino superior no Brasil ser um processo relativamente recente e estar levando para bancos universitários jovens que não só tiveram um ensino básico de má qualidade como também viveram em um ambiente familiar que contribuiu pouco para sua aprendizagem.
"Além disso, muitas instituições de ensino superior privadas acabaram adotando exigências mais baixas para o ingresso e a aprovação em seus cursos", diz ela. "E como consequência, acabamos criando uma escolaridade no papel que não corresponde ao nível real de escolaridade dos brasileiros."

Postura e experiência

A segunda razão apontada para a decepção com a geração de diplomados estaria ligada a “problemas de postura” e falta de experiência de parte dos profissionais no mercado.
“Muitos jovens têm vivência acadêmica, mas não conseguem se posicionar em uma empresa, respeitar diferenças, lidar com hierarquia ou com uma figura de autoridade”, diz Marcus Soares, professor do Insper especialista em gestão de pessoas.
“Entre os que se formam em universidades mais renomadas também há certa ansiedade para conseguir um posto que faça jus a seu diploma. Às vezes o estagiário entra na empresa já querendo ser diretor.”
As empresas, assim, estão tendo de se adaptar ao desafio de lidar com as expectativas e o perfil dos novos profissionais do mercado – e em um contexto de baixo desemprego, reter bons quadros pode ser complicado.
Para Marcelo Cuellar, da consultoria de recursos humanos Michael Page, a falta de experiência é, de certa forma natural, em função do recente ciclo de expansão econômica brasileira.
"Tivemos um boom econômico após um período de relativa estagnação, em que não havia tanta demanda por certos tipos de trabalhos. Nesse contexto, a escassez de profissionais experientes de determinadas áreas é um problema que não pode ser resolvido de uma hora para outra", diz Cuellar.
Nos últimos anos, muitos engenheiros acabaram trabalhando no setor financeiro, por exemplo.
"Não dá para esperar que, agora, seja fácil encontrar engenheiros com dez ou quinze anos de experiência em sua área – e é em parte dessa escassez que vem a percepção dos empresários de que ‘não tem ninguém bom’ no mercado", acredita o consultor.

'Tradição baicharelesca'

Por fim, a terceira razão apresentada por especialistas para explicar a decepção com a “geração do diploma” estaria ligada a um desalinhamento entre o foco dos cursos mais procurados e as necessidades do mercado.

É bastante disseminada no Brasil a ideia de que cargos de gestão pagam bem e cargos técnicos pagam mal. Mas isso está mudando – até porque a demanda por profissionais da área técnica tem impulsionado os seus salários."
Gabriel Rico
De um lado, há quem critique o fato de que a maioria dos estudantes brasileiros tende a seguir carreiras das ciências humanas ou ciências sociais - como administração, direito ou pedagogia - enquanto a proporção dos que estudam ciências exatas é pequena se comparada a países asiáticos ou alguns europeus.
“O Brasil precisa de mais engenheiros, matemáticos, químicos ou especialistas em bioquímica, por exemplo, e os esforços para ampliar o número de especialistas nessas áreas ainda são insuficientes”, diz o diretor-executivo da Câmara Americana de Comércio (Amcham), Gabriel Rico.
Segundo Rico, as consequências dessas deficiências são claras: “Em 2011 o país conseguiu atrair importantes centros de desenvolvimento e pesquisas de empresas como a GE a IBM e a Boeing”, ele exemplifica. “Mas se não há profissionais para impulsionar esses projetos a tendência é que eles percam relevância dentro das empresas.”
Do outro lado, também há críticas ao que alguns vêem como um excesso de valorização do ensino superior em detrimento das carreiras de nível técnico.
“É bastante disseminada no Brasil a ideia de que cargos de gestão pagam bem e cargos técnicos pagam mal. Mas isso está mudando – até porque a demanda por profissionais da área técnica tem impulsionado os seus salários”, diz o consultor.
Rafael Lucchesi concorda. "Temos uma tradição cultural baicharelesca, que está sendo vencida aos poucos”, diz o diretor da CNI – que também é o diretor-geral do Senai (Serviço Nacional da Indústria, que oferece cursos técnicos).
Segundo Lucchesi, hoje um operador de instalação elétrica e um técnico petroquímico chegam a ganhar R$ 8,3 mil por mês. Da mesma forma, um técnico de mineração com dez anos de carreira poderia ter um salário de R$ 9,6 mil - mais do que ganham muitos profissionais com ensino superior.
“Por isso, já há uma procura maior por essas formações, principalmente por parte de jovens da classe C, mas é preciso mais investimentos para suprir as necessidades do país nessa área”, acredita.

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domingo, 29 de setembro de 2013

Criacionistas contribuem para o atraso cientifico; tambem existem no Brasil

Creationists on Texas Panel for Biology Textbooks


Drew Anthony Smith for The New York Times
Students and activists marched through the University of Texas in Austin to the State Board of Education’s hearing on biology textbooks on Sept. 17.



Drew Anthony Smith for The New York Times
Ide Trotter, left, a chemical engineer, is among the evolution skeptics on a state review panel.
As Texas gears up to select biology textbooks for use by high school students over the next decade, the panel responsible for reviewing submissions from publishers has stirred controversy because a number of its members do not accept evolution and climate change as scientific truth.
In the state whose governor, Rick Perry, boasted as a candidate for president that his schools taught both creationism and evolution, the State Board of Education, which includes members who hold creationist views, helped nominate several members of the textbook review panel. Others were named by parents and educators. Prospective candidates could also nominate themselves. The state’s education commissioner, Michael L. Williams, a Perry appointee and a conservative Republican, made the final appointments to the 28-member panel. Six of them are known to reject evolution.
Some Texans worry that ideologically driven review panel members and state school board members are slowly eroding science education in the state.
“Utterly unqualified partisan politicians will look at what utterly unqualified citizens have said about a textbook and decide whether it meets the requirements of a textbook,” lamented Kathy Miller, president of the Texas Freedom Network, which monitors the activities of far-right organizations. The group filed a request for documents that yielded the identities of the textbook review panelists as well as reports containing their reviews.
Publishers including well-known companies like Pearson, Houghton Mifflin Harcourt and McGraw-Hill submitted 14 biology textbooks for consideration this year. Reports from the review panels have been sent to publishers, who can now make changes. Mr. Williams will review the changes and recommend books to the state board. Through a spokeswoman, Mr. Williams repeatedly declined requests for an interview. The state board will vote on a final approved list of textbooks in November.
The reports contained comments from Karen Beathard, a senior lecturer in the department of nutrition and food science at Texas A&M University, who wrote in a review of a textbook submitted by Houghton Mifflin Harcourt that “Students should have the opportunity to use their critical thinking skills to weigh the evidence between evolution and ‘creation science.’ ”
In reviews of other textbooks, panel members disputed the scientific evidence, questioning, for example, whether the fossil record actually demonstrates a process of mutation and natural selection over billions of years. “The fossil record can be interpreted in other ways than evolutionary with equal justification,” one reviewer wrote. Among the anti-evolution panelists are Ide Trotter, a chemical engineer, and Raymond G. Bohlin, a biologist and fellow of the Discovery Institute.
By questioning the science — often getting down to very technical details — the evolution challengers in Texas are following a strategy increasingly deployed by others around the country.
There is little open talk of creationism. Instead they borrow buzzwords common in education, “critical thinking,” saying there is simply not enough evidence to prove evolution.
If textbooks do not present alternative viewpoints or explain what they describe as “the controversy,” they say students will be deprived of a core concept of education — learning how to make up their own minds.
Historically, given the state’s size, Texas’ textbook selections have had an outsize impact on what ended up in classrooms throughout the country. That influence is waning somewhat because publishers can customize digital editions and many states are moving to adopt new science standards with evolution firmly at their center.
Even in Texas, districts can make their own decisions, but many will simply choose books from the state’s approved list. “It’s a Good Housekeeping Seal of Approval,” said David Anderson, a former official in the Texas Education Agency, as the department of education is known, and now a consultant who works with textbook publishers.
Four years ago, a conservative bloc on the state school board pushed through amendments to science standards that call for students to “analyze and evaluate” some of the basic principles of evolution. Science educators and advocates worry that this language can be used as a back door for teaching creationism.
“It is like lipstick on a Trojan horse,” said Ms. Miller of the Texas Freedom Network.
Parents are worried that their children will not be able to compete for jobs that require scientific backgrounds.

Jessica Womack, who traveled from near Houston this month to participate in a rally before a public hearing on the books, recounted how her daughter, now 14, had been shamed by a third-grade teacher for raising her hand when the class was asked who believed in evolution.
Drew Anthony Smith for The New York Times
Kathy Miller is the president of the Texas Freedom Network.
Drew Anthony Smith for The New York Times
Students made signs before a public hearing on biology textbooks. Educators and advocates worry about standards that call for students to “analyze and evaluate” basic principles of evolution.
Drew Anthony Smith for The New York Times
Educators and advocates worry about science standards that call for students to “analyze and evaluate” some of the basic principles of evolution.
The publishers are considering changes. A spokeswoman for Pearson said that the publisher had made some adjustments but that they “did not compromise the integrity of the science.” She added, “Our book has always been honest that evolutionary biologists don’t have all the answers nor does evolution provide all the answers.”
A spokeswoman for Houghton Mifflin Harcourt said that the publisher had not yet received any requests for corrections, but that the company’s textbook was of the “highest quality based on research.” A spokesman for McGraw Hill declined to comment.
Across the country, textbook publishers are likely to increasingly tailor materials to the new science standards developed by a consortium of 26 state governments and several groups of scientists and teachers.
Already seven states — California, Delaware, Kansas, Kentucky, Maryland, Rhode Island and Vermont — have officially adopted the standards. This month, after a legislative committee in Kentucky voted to reject the new science standards, Gov. Steven L. Beshear overruled the decision and said he would use his executive powers to put the standards in place.
But educators note that standards and textbooks can be overridden by teachers who themselves question evolution.
“Most educational decisions are made in the 17,000 school districts and by individual schoolteachers in the classroom,” said Joshua Rosenau, programs and policy director at the National Center for Science Education, a nonprofit group that defends the teaching of evolution and climate change. “And it is really hard to know what is happening there.”
In a survey of more than 900 high school biology teachers conducted by Michael Berkman and Eric Plutzer, political scientists at Penn State University, one in eight said they taught creationism or its cousin, intelligent design, as valid scientific alternatives to Darwinian evolutionary theory.
In Texas, the debate has each side borrowing from the other to make its point. Those who challenge evolution invoke the scientists Carl Sagan and Richard Dawkins, while those who plead for the sanctity of science cite Genesis and the Book of Job.
At the public hearing this month, Michael Singer, a biology professor at the University of Texas who teaches courses to nonscience majors, said his students were often nervous about learning evolution. “I tell them that the Book of Job says that their faith will be tested,” he said. “You don’t need faith to believe what the evidence suggests. You need faith to believe what the evidence doesn’t suggest.”
Then he pulled out a £10 note from his native Britain to show the audience: on one side was a picture of Queen Elizabeth II, on the other, Charles Darwin.