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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Um "debate" involuntario com Olavo de Carvalho: materiais disponiveis - Paulo Roberto de Almeida

Micro-introdução: no mês passado fui contatado pelo pessoal do Brasil Paralelo, uma iniciativa alternativa à hegemonia cultural do gramscismo vulgar, comum em nossas universidades, para conceder uma nova entrevista sobre temas internacionais, depois que minha entrevista concedida no ano passado foi considerada boa.
Essa entrevista de 2016 pode ser vista por este registro: 
3047. “A política externa paralela do lulopetismo diplomático”, Brasília, 14 outubro 2016, gravação de entrevista, em vídeo, para servir como depoimento no quadro do Brasil Paralel;  disponível no canal pessoal: https://www.youtube.com/user/paulomre, neste link: https://youtu.be/fWZXaIz8MUc). 
Concordei com a nova entrevista e solicitei um roteiro, para guiar meus argumentos, ele me foi fornecido, e com base nele preparei as notas seguintes: 
3202. “Globalismo e globalização: os bastidores do mundo”, Brasília, 7 dezembro 2017, 8 p. Notas preparadas para entrevista via hangout, para um programa da série Brasil Paralelo. Blog Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/12/globalizacao-e-globalismo-como.html).  
Não tinha a informação de que a gravação do Brasil Paralelo seria feita em "paralelo" com Olavo Carvalho, de que só vim a tomar conhecimento no momento mesmo da gravação. Não tenho objeção a qualquer tipo de debate, embora talvez tivesse sido conveniente uma antecipação a respeito.
Como se pode verificar pela gravação efetiva, com réplicas e por vezes tréplicas, discordamos no essencial, o tal de Globalismo, o conceito central nesse debate. O vídeo está aqui: 
Transmitido em 11/12/2017 (link: https://www.youtube.com/watch?feature=youtu.be&utm_campaign=inscritos_-_o_primeiro_debate_do_webinario_ja_esta_no_youtube&utm_medium=email&utm_source=RD%2BStation&v=6Q_Amtnq34g); no Canal YouTube (link: https://youtu.be/6Q_Amtnq34g); divulgado no blog Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/12/globalismo-e-globalizacao-ou-vice-versa.html); divulgado via Twitter-Youtube: https://shar.es/1MxLDO).  

Olavo de Carvalho, de seu lado, formulou comentários sobre as minhas posições, que transcrevo na sua íntegra, a seguir, e complemento por breves comentários sobre a discordância central entre nossas duas posições: o tal de globalismo. Eu considero essa "coisa" uma fantasmagoria, o que Olavo de Carvalho considera uma idiotice da minha parte. Estamos nesse terreno, por enquanto.

Aqui as duas postagens de Olavo de Carvalho a meu respeito:  


Duas entradas no Google, detectadas em 20/12/2017:

diariofilosofico.midiasemmascara.org/cultura/o-debate-com-paulo-roberto-de-almeida/
8 de dez de 2017 - Tive hoje um debate no Brasil Paralelo com o prof. Paulo Roberto de Almeida (foto). É um homem inteligente, culto e honesto, infelizmente, a meu ver, limitado pela perspectiva diplomática e econômica que é a sua área de atuação, e um tanto insensível, por isso, aos aspectos culturais e psico-sociais ...

O debate com Paulo Roberto de Almeida

Olavo de Carvalho

8 de dezembro de 2017 - 5:49:50 
 

Tive hoje um debate no Brasil Paralelo com o prof. Paulo Roberto de Almeida (foto). É um homem inteligente, culto e honesto, infelizmente, a meu ver, limitado pela perspectiva diplomática e econômica que é a sua área de atuação, e um tanto insensível, por isso, aos aspectos culturais e psico-sociais mais sutis do processo globalizante. Ele tem razão ao dizer que o governo mundial é impossível, mas a impossibilidade de uma meta não prova a inexistência do movimento destinado a promovê-la. A economia comunista também era impossível, mas quantos, para realizá-la, não deram suas vidas e as alheias? O prof. Almeida se diz um racionalista, e o problema é exatamente esse: nenhuma análise histórica é mais arriscada do que aquela baseada na premissa de que todas as ações devem ser explicadas por um cálculo racional de interesses objetivos. Outro ponto importante, que não houve tempo de explorar no debate, é o seguinte: metas de enorme alcance como o socialismo, o califado universal ou qualquer tipo de império mundial são por natureza difíceis de definir e mais ainda de descrever no seu estado final pretendido. Por isso sua imagem se subdivide em metas parciais e estas, em vez da meta final, concentram os esforços e o entusiasmo dos seus adeptos. Assim a meta final pode ser adiada indefinidamente e até desaparecer das consciências sem deixar de ser o polo aglutinador e orientador ao qual, como a uma nebulosa imagem mítica, convergem milhares de esforços até inconexos. Karl Marx foi propositadamente vago quanto à sociedade socialista ideal porque só assim seria possível, por meio da confusão dialética da “praxis”, articular estrategicamente o previsível e o imprevisível, o racional e o irracional. Com o “governo mundial” passa-se exatamente a mesma coisa. Não se vê em parte alguma um plano racional detalhado para construi-lo, mas nem por isso ele deixa de ser o inspirador remoto de milhares de iniciativas independentes que convergem na sua direção.
P. S. – O debate irá ao ar na semana que vem.



diariofilosofico.midiasemmascara.org/.../novas-notas-sobre-o-debate-com-paulo-robe...
7 dias atrás - O prof. Paulo Roberto de Almeida (f0to) queixa-se de não ter sido avisado de que sua entrevista ao Brasil Paralelo seria um debate. Eu também não fui, mas não me queixo. É um prazer poder conversar com alguém que personifica tão nitidamente a ideologia da Nova Ordem Global cuja existência ele ...

Novas notas sobre o debate com Paulo Roberto de Almeida

Olavo de Carvalho

13 de dezembro de 2017 - 0:48:36 
 

O prof. Paulo Roberto de Almeida (foto) queixa-se de não ter sido avisado de que sua entrevista ao Brasil Paralelo seria um debate. Eu também não fui, mas não me queixo. É um prazer poder conversar com alguém que personifica tão nitidamente a ideologia da Nova Ordem Global cuja existência ele nega.
*
By the way, nem o nacionalismo nem o internacionalismo são valores absolutos, que possam ser consagrados numa “posicão doutrinal” definitiva. Tudo é questão de jeito, de motivo e de ocasião.
*
Dizer que o globalismo foi inventado pelos nacionalistas é o mesmo que dizer que o anti-semitismo foi inventado pelos judeus. Inventar o nome para designar alguma coisa não é o mesmo que inventar a coisa.
*
Já que o prof. Paulo Roberto de Almeida gosta de avisos prévios, lá vai um: Sempre que você chamar as minhas idéias de paranóicas, chamarei as suas de idiotas.
*
A expressão “governo global” é uma figura de linguagem, uma metonímia. Designa um poder global informal pelo nome de uma instituição que não existe, que talvez não venha a existir nunca, mas de cujas funções ideais ele já exerce algumas na realidade.
Nenhum presidente do mundo ou parlamento global decretou oficialmente a agenda abortista, feminista, racialista ou gayzista, nem o controle politicamente correto da linguagem, nem o favorecimento legal aos criminosos, nem o desarmamentismo civil, nem o boicote geral ao cristianismo, nem a abertura das fronteiras à imigração em massa.
No entanto, todas essas medidas vêm sendo impostas em escala global com uma rapidez e uma eficiência avassaladoras, assim como a política de intimidação aos adversos e refratários, rotulados, com uniformidade mundial, de fascistas, neonazistas ou, na mais branda das hipóteses, de paranóicos e teóricos da conspiração.
Negar a existência de um poder global sob a alegação da dificuldade de constituir um governo mundial como entidade legalmente reconhecida é negar a existência de crimes sob a desculpa de que não são permitidos pelo Código Penal. É a apoteose do formalismo jurídico em oposição à realidade dos fatos.
*
O fato de que todas essas agendas estejam sendo impostas simultaneamente em toda parte, exceto no Islam e na Rússia, é a prova definitiva da concorrência entre os três esquemas globalistas, que mencionei no debate com o prof. Duguin.
*
Dizer que nenhuma dessas agendas foi imposta pela força, que os governos nacionais as aceitaram espontaneamente, só prova uma coisa: que em inúmeros países a classe governante já aderiu à ideologia globalista e a impõe a seu próprio povo por vontade própria. Isso é a prova cabal de que o globalismo já possui a HEGEMONIA, e uma hegemonia não se impõe sem o trabalho de inumeráveis agentes de influência, com muito planejamento e investimentos colossais. ISSO é o poder global.
*
Em geral os intelectuais acadêmicos e especialmente os cientistas sociais estão, ao menos hoje em dia, mais propensos a acreditar que são dirigidos por entidades abstratas, como as instituições ou as classes sociais, do que a admitir que estão sob o poder de algum indivíduo ou grupo determinado. No entanto, é duvidoso que as instituições e classes sociais “pensem”, e o modo como essas entidades sem cérebro atuam sobre a alma e a conduta de pessoas detentoras de cérebros é ainda um problema nebuloso, na melhor das hipóteses. Em contrapartida, a diferença de poder e de horizonte de consciência entre indivíduos é um dos fatos mais patentes e mais abundantemente confirmados pela experiência desde a antiguidade. Considero-a mesmo uma das propriedades distintivas da espécie humana, sem paralelo entre os outros animais. Terão as ciências sociais feito um juramento de sempre desprezar o óbvio em favor de hipóteses rebuscadas e impossíveis de provar?
*
Imagino, por exemplo, Josef Stalin no seu gabinete, em comparação com um prisioneiro que morre à míngua no fundo do Gulag. O primeiro determina, com uma canetada, o destino de milhões de pessoas, enquanto o segundo mal pode mover o próprio corpo. Um aproxima-se da onipotência na mesma medida em que o outro naufraga na impotência, NENHUM fenômeno parecido se observou jamais no reino animal. Em contrapartida, nenhuma época da História deixou de presenciar os sinais patentes de alguma diferença de poder entre seres humanos, similar à que assinalei.




Aqui meus comentários adicionais, muito rápidos, pois não tenho tempo, agora de fazer longas digressões históricas e econômicas sobre os fundamentos de minhas posições.
Apenas um alerta, a todos: não tentem fundamentar minha postura com qualquer condição profissional, ou seja, a carreira diplomática. O Itamaraty não tem absolutamente NADA a ver com o que penso. Respondo por mim mesmo.

Se ouso resumir meu argumento, eu diria que globalização é um processo, real, empiricamente embasado, enquanto globalismo é um conceito, para não dizer uma ideologia, ou um espantalho, agitado por pessoas nitidamente anti-globalização, que podem ser de direita ou de esquerda, mas que neste caso são de direita, no que não vai nenhuma vergonha, desde que essa direita (ou esquerda) saiba separar processo de ideologia, ou evento-processo, de um lado, e conceito, de outro.
Aceito absolutamente a globalização, acho algo tão inevitável quanto as correntes dos mares, e rejeito o tal de globalismo a um desses fetiches que surgem de forma recorrente, para desviar o debate das questões reais.

Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 20 de dezembro de 2017


sábado, 2 de janeiro de 2016

Recordar (2014) e' viver: o que "elles" prometiam entre os dois turnos

Permito-me postar novamente aqui comentários que fiz em resposta a "argumentos" feitos em defesa da candidata que ganhou no segundo turno de outubro de 2014, apenas para constatar o que se prometia, e comparar com o que efetivamente ocorreu.
Os argumentos vão em tipo regular, os meus comentários em negrito.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 2 de janeiro de 2016



Paulo Roberto de Almeida

Encontrei, num dos inúmeros sites que trabalham apaixonadamente pela causa companheira, uma postagem em defesa do voto na candidata do continuísmo, cuja introdução enaltece as qualidades daquele que foi Secretário-Geral do Itamaraty nos primeiros sete anos do governo Lula (deixando o governo para continuar servindo o regime em outras posição). Nela ele é chamado de “maior diplomata brasileiro”, o que pode até ser verdade – pelo menos nesse regime – mas não tenho condições de corroborar essa afirmação comparativamente: deve ter outros que concorrem à mesma distinção (ver a introdução neste link: http://www.ocafezinho.com/2014/10/15/maior-diplomata-brasileiro-enumera-razoes-para-votar-em-dilma/).
Mas isso não vem muito ao caso agora, pois logo após esse panegírico inaugural, vem transcrita uma lista, elaborada pelo dito maior diplomata brasileiro, contendo nada menos do que 31 razões que esse estupendo diplomata acredita que somente a sua candidata seria capaz de atender, para fazer do Brasil um país mais desenvolvidos, mais soberano, mais próspero, mais importante no mundo.
Como eu considero que a maior parte dessas razões são ridiculamente generalistas, ou seja, podem ser cumpridas por qualquer dirigente que tenha bom senso e uma boa equipe ministerial, vou separar, portanto, aquelas que não apresentam nenhuma “vinculação genética” com a candidata governista, daquelas que só ela, ou sua equipe partidária, seria capaz de perpetrar, e submetê-las, então a breves comentários de minha parte.
Ainda assim cabem observações sobre todas as supostas razões de sua lista. Resultou, dessa separação, que metade das razões são de propostas que poderiam ser cumpridas por QUALQUER presidente sensato, sendo que a outra metade, apresentada como contendo razões suscetíveis de serem preenchidas apenas pela candidata oficialista, demanda uma avaliação crítica, feita na lista B. Vejamos como se apresentaria a nova listagem dividida em duas partes, mas com seus números originais.

Lista A: obrigações ou propostas que QUALQUER presidente sensato seria capaz de cumprir (na redação dada pelo maior diplomata brasileiro), sobre as quais algumas pequenas coisas ainda podem ser ditas (por um diplomata menor):

01. para aumentar o emprego, que é a maior preocupação de cada brasileiro, com carteira assinada; [caberia registrar que empregos produtivos são geralmente criados pela iniciativa privada, uma vez que governos não criam riqueza, apenas distribuem a riqueza criada pela sociedade]

02. para controlar a inflação sem prejuízo do desenvolvimento; [parece que a candidata não foi muito feliz em nenhum dos dois objetivos: a inflação só fez elevar-se, em seu governo, passando inclusive do teto, e o crescimento desceu de elevador, para o subsolo do PIB]

03. para aumentar o salário mínimo de que depende a enorme maioria dos brasileiros; [salario mínimo costuma provocar desemprego, ou pelo menos diminuir a empregabilidade daquela fração da PEA que não possui qualificação técnica]

04. para garantir as conquistas dos trabalhadores em termos de horário, férias, licença maternidade, previdência social, aposentadoria; [meritório, mas os países mais regulados nesses aspectos podem igualmente apresentar alto desemprego se a produtividade não acompanha o nível de requerimentos legais]

06. para eliminar a pobreza e a indigência no Brasil; [bem, os companheiros vem tentando fazê-lo desde 2003 e não é seguro que consigam esse objetivo no horizonte previsível]

07. para reduzir cada vez mais a mortalidade infantil; [parece que isso já vem sendo feito desde o ancien régime, e vai continuar, em governos sensatos]

08. para aumentar a expectativa de vida de todos os brasileiros; [parece que esse processo não depende tanto de mandatos presidenciais, e sim de condições sistêmicas que vem ocorrendo naturalmente desde muito tempo; não pode portanto ser apresentado como favor governamental]

09. para eliminar o analfabetismo inclusive funcional; [se poderia começar pela própria candidata, que parece apresentar sérios problemas com as palavras]

10. para ampliar cada vez mais o número de vagas nas escolas técnicas e nas universidades; [que bom]

11. para fortalecer a cultura brasileira em todos os seus aspectos; [cultura patrocinada por burocratas costuma ser da pior espécie; por que não deixar a sociedade livre para se expressar espontaneamente?]

13. para reduzir a violência e o número de homicídios; [no ritmo atual, vai exigir um mandato de 100 anos... e contando]

18. para defender os direitos humanos de todos os brasileiros e combater toda a discriminação, preconceito e violência que tenha como origem a raça, a orientação sexual, o gênero, o nível de renda, a crença religiosa e a origem regional; [a mania de separar as pessoas por raça e todos os outros quesitos listados acaba criando uma sociedade fragmentada em direitos exclusivos de certas categorias, ao passo que o cidadão comum se sente desamparado]

19. para demarcar as terras indígenas e eliminar o desmatamento ilegal; [os indígenas já são os maiores latifundiários os país; os antropólogos politicamente corretos do partido companheiro e do governo idem pretende deixá-los eternamente numa redoma protetora?]

24. para construir mais ferrovias, mais rodovias, mais portos e aeroportos; [cabe continuar tentando, mas pela experiência acumulada até aqui em matéria de obras públicas, a fatura sempre vai ser três vezes maior do que o planejado, senão mais, e ainda tem os 3% do partido companheiro]

25. para expandir o transporte urbano público e gratuito; [só um dirigente maluco, ou que pretende repassar a conta para todos os brasileiros, inclusive os que não usam transporte público, poderia prometer uma irracionalidade econômica como o transporte gratuito]

26. para fazer a reforma agrária, fortalecer a agricultura familiar e expandir a produção e a exportação agrícola; [parece que os companheiros não gostam do agronegócio]

Lista B: obrigações ou propostas que o maior diplomata brasileiro acredita que só a sua candidata seria capaz de cumprir (na redação dada por ele), mas sobre as quais permanecem fundadas dúvidas (daí os comentários adicionais do diplomata menor, aqui DM: ):

05. para expandir o programa Minha Casa, Minha Vida que atende a aspiração fundamental da casa própria;
            DM: O programa constitui uma enorme propaganda governamental, com subsídios pouco transparentes, num esquema que diminui a capacidade dos mercados de ajustar a oferta da construção civil à demanda existente; só não ocorreu ainda uma bolha imobiliária porque o governo é incompetente até para licenciar o número de casas potencialmente no programa.

12. para dobrar o investimento público em ciência e tecnologia;
            DM: Impossível fazê-lo, a despeito das intenções; caberia, sim, aperfeiçoar o ambiente produtivo para estimular mais investimento privado em inovação.

14. para fazer a reforma política, com ampla participação popular, eliminar a influência do poder econômico e criar uma verdadeira democracia;
            DM: Quando alguém começa a falar em “verdadeira democracia” deve ser porque já tem problemas com a democracia sem adjetivos ou condições; a reforma política dos companheiros representaria uma deformação legal tendente a assegurar-lhes o reforço de sua hegemonia e monopólio sobre o poder.

15. para lutar de forma legal contra a corrupção, punindo tanto os corruptos como os corruptores;
            DM:  Deve ser uma grande piada!

16. para democratizar os meios de comunicação e garantir a possibilidade e a liberdade de expressão para todos os brasileiros;
            DM: A palavra “democratizar’, como no vocabulário orwelliano, significa exatamente o contrário; trata-se de uma velha obsessão companheira com o controle do que chamam de “mídia”.

17. para ampliar radicalmente as oportunidades de mulheres, negros e pobres em todas as esferas da sociedade e do Estado;
            DM: O que os companheiros mais fizeram foi fragmentar a sociedade em categorias especiais, criando várias tribos que reivindicam “direitos” específicos.

20. para reduzir as desigualdades entre as regiões do Brasil;
            DM: Outra tarefa impossível, ou muito difícil de ser feita pelo governo, por qualquer governo; normalmente, as regiões são adquirindo suas dinâmicas ricardianas e se desenvolvem naturalmente de acordo com processos únicos e exclusivos; a pretensão de moldar regiões e estruturas econômicas é própria de engenheiros sociais, ou de regimes autoritários vocacionados para o estatismo e o intervencionismo, duas doenças tipicamente companheiras.

21. para fortalecer a soberania do Brasil;
            DM: Pura retórica vazia, como sempre foi feita; na prática, os companheiros alienaram a soberania brasileira para regimes bolivarianos e em benefício de Cuba.

22. para promover a integração e a cooperação com os vizinhos da América do Sul e da África;
            DM: Qualquer governo poderia fazer isso, mas no caso dos companheiros virou uma tal de diplomacia míope orientada para o chamado Sul, uma obsessão geográfico-ideológica que consiste em andar com uma perna só.

23. para defender a paz, a auto determinação, a não intervenção, e a solução pacífica de controvérsias como os princípios fundamentais da ação internacional do Brasil;
            DM: Mais retórica vazia, que na prática não se aplica; intervenção nos assuntos internos de outros países é o mais foi praticado durante todos os anos de diplomacia companheira, a exemplo de Honduras, Paraguai e outros casos.

27. para alcançar a autonomia energética;
            DM: Objetivo ilusório; um país aberto ao comércio e aos investimentos vai diversificar sua matriz energética de maneira mais eficiente do que excesso de intervenção governamental no setor, como aliás ocorreu com etanol, com biodiesel, petróleo, gás, nuclear, todos eles em total desequilíbrio em relação aos dados do mercado atualmente; o Brasil exibe um custo da energia dos mais elevados.

28. para reconstruir a indústria brasileira;
            DM: Bem, até agora o que ocorreu foi uma destruição pouco reconstrutora; duvidoso que se consiga fazer coisa melhor; aqui existe apenas um artigo de fé.

29. para tornar o sistema tributário mais justo e menos concentrador de riqueza;
            DM: Mas, se era essa a intenção, por que nada se fez em 12 anos; nesse período, a carga fiscal aumentou 4 pontos do PIB e só uma quarta parte disso foi para as chamadas camadas mais modestas; o resto foi para quem já é rico.

30. para reduzir as taxas de juros e democratizar o credito;
            DM: Os juros estão mais altos agora do que no início do governo, e os consumidores muito mais endividados.

31. para realizar uma Olimpíada ainda melhor do que a Copa.
            DM: Deve ser outra piada...

Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 18 de outubro de 2014.

sábado, 22 de junho de 2013

Perguntas ainda sem resposta: Argumentos substantivos ou Atirando contra o mensageiro...

Eu sou por natureza didático, e polêmico, assim parece ser a minha essência, com todos os defeitos inerentes às duas qualidades (ou falta de). Gosto de ler, de refletir, e de escrever. Como também me julgo um cidadão responsável, pelo menos tentativamente, por uma parte dos problemas do país (afinal de contas sou pago com os impostos de todos os trabalhadores brasileiros, e não tenho certeza de que a minha produtividade no trabalho seja condizente com a remuneração e outros privilégios associados), eu também pretendo oferecer minhas críticas à situação corrente e minhas sugestões sobre como melhorar o país.
Faço a minha parte, em todo caso, que é esta mesma: leio, reflito, escrevo e publico, neste instrumento solitário que é este aqui.
Mas, sendo um veículo aberto, eu me exponho às criticas, comentários, sugestões, e até xingamentos, dos 15 leitores que devo possuir regularmente. Não me importariam muito as ofensas, se ao menos elas trouxessem algum comentário substantivo junto, mas isso é mais raro.
Adesistas Anônimos e Mercenários a Soldo, como eu os designei, exibem o péssimo costume de atirar sobre o mensageiro, em lugar de se debruçar sobre as questões. Por vezes é uma palavra errada, uma concordância mal feita, uma crase mal colocada (sempre na pressa da redação), pronto; basta isso para os AAs e os MSs soltarem sua bateria de ofensas. Algumas, até a maioria, eu posto aqui, pois não tenho problemas com que me critiquem e até me ofendam, pois isso é também um demonstrativo de como anda o Brasil, sempre com a ofensiva dos totalitários ao pretender dividir o país entre nós e eles, ao inverso, se vocês me entendem.
O "nós" deles é o poder totalitário, que não admite críticas nem contestações, o pensamento único gerado pelo partido totalitário e que pretende monopolizar o poder.
O "eles" somos nós, os que admitem o debate democrático, que acreditamos nas virtudes da democracia, e que achamos que alternância no poder sempre é bom e salutar em qualquer sociedade.
Fiz uma série de postagens especialmente dedicadas a meus leitores furibundos e até agora não recebi nenhum comentário, nem para responder, nem para ofender, o que pode ser preocupante.
Talvez eles não tenham tido tempo de ler tudo o que escrevi, e por isso vou resumir aqui as perguntas que fiz aos AAs e aos MSs.
Aqui vão elas, com seus respectivos links para as explicações introdutórias.

1) Pergunta: o Brasil precisa de 40 ministérios?
2) Por que nossa taxa de poupança voluntária é tão baixa, e por que o investimento público é inacreditavelmente baixo, o que impede que tenhamos taxas mais robustas de crescimento?
3) O Brasil precisa de rádios, TVs, jornais públicos, ou pagos com o dinheiro público?
4) Quais são os argumentos a favor do Fundo Soberano do Brasil?
5) Sabendo que a maior parte dos países (inclusive aqueles que exibem alta qualidade no ensino) gasta aproximadamente, na média, entre 5 e 6% nos orçamentos educacionais, por que o Brasil precisaria colocar 10% do PIB no dispendio educacional?
 
Está aberta a estação de caça ao mensageiro, ou a abertura da academia socrática...
Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 22/06/2013

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Argumentos para e dos Anonimos Adesistas e Mercenarios a Soldo (5): Educacao com 10pc do orcamento?

Já digo logo de cara: sou contra.
Não porque eu ache que a educação não precise de dinheiro, ou que os professores já ganhem bem (embora eles não ganhem tão mal assim, para o seu nível de produtividade).
Mas porque eu acho que mais dinheiro não vai resolver a péssima qualidade da educação no Brasil: será a mesma porcaria apenas que consumindo mais recursos de toda a sociedade.

Tenho dezenas de argumentos sobre a educação, sua organização e as formas de remuneração, mas sobretudo sobre a qualificação dos professores. Também acho que o MEC é o principal problema da educação brasileira, hoje, mas isso podemos discutir depois.

O desafio para os AAs e MSs é este aqui:

Sabendo que a maior parte dos países (inclusive aqueles que exibem alta qualidade no ensino) gasta aproximadamente, na média, entre 5 e 6% nos orçamentos educacionais, por que o Brasil precisaria colocar 10% do PIB no dispendio educacional?

Tem a ver também com quanto se gasta em cada nível, como se gasta (nos meios e nos fins, etc.), mas a pergunta básica está colocada acima.
Fico esperando argumentos a favor dos 10%. Eu sou contra.
Paulo Roberto de Almeida
20/06/2013

Argumentos para e dos Anonimos Adesistas e Mercenarios a Soldo (4): Fundo Soberano, precisamos dessa estrovenga?

Já me perguntaram diversas vezes sobre o tal de Fundo Soberano, orgulhosamente chamado de FSB, do Brasil (não é do Brasil, é do governo, já que controlado por apenas 3 burocratas públicos).
Também acho que já dei minha opinião: sou contra, simples assim.

Mas explico.
Fundos Soberanos, quando existem (e não são todos os países que os têm, só os mais esquizofrênicos), são formados, obviamente, a partir de um excesso, excedente, surplus, superávit, seja lá o que for a mais, basicamente de duas coisas: excesso de receitas sobre despesas (superávit fiscal), saldos excedentários no balanço de pagamentos (muitas exportações, muita renda do exterior, muitos investimentos, etc.).
Ou seja, o país tem um governo muito responsável (por vezes mesquinho, também), que arrecada mais do que gasta, ou ou país em si é extraordinariamente bem sucedido na sua competitividade externa.
Mas, geralmente, os países que exibem essas características, e são muitos, geralmente desenvolvidos, não têm fundo soberano, porque não precisam disso. As transações correntes ocorrem naturalmente, e a moeda geralmente é livremente conversível, havendo também liberdade de movimento de capitais.
Quem tem FS (e aí eu volto aos esquizofrênicos mencionados acima)?
Os países anormais...
Estou brincando claro, mas grande parte são esses exportadores de petróleo, ou de alguma outra commodity rentável (o que aliás desenvolve nefastos comportamentos rent-seeking; procurem na Wikipedia, curiosos), enfim, países que possuem excedentes de exportação estruturais, constantes, abundantes.
Outros países, mas são poucos, que também podem fazer um FS são os que dispõem de um resultado fiscal também favorável, por arrecadarem muito e gastarem pouco. A Noruega, por exemplo, está na mesma situação, dupla, aliás: descobriu petróleo, e a Statoil alimenta um fundo estatal que vai servir ao futuro do país, seja para educar os seus filhos, seja para cuidar dos seus velhos, quando esses recursos acabarem, e o peso da demografia for mais forte.

O que eu quero dizer com tudo isso?
Apenas isto: o Brasil é um país que não dispõe de excedentes estruturais de nenhum tipo, nem fiscal, nem de transações correntes.
O Brasil, portanto reúne todas as condições para NÃO ter Fundo Soberano.

E por que o Brasil tem um Fundo Soberano?
Sei lá, perguntem ao ministro da Fazenda.
O mais incrível, é que já tendo um orçamento todo comprometido com despesas correntes, miseráveis investimentos e um grande pagamento da dívida pública, ele escolheu retirar dinheiro do orçamento para colocar no FSB.
Faz sentido isso?
Para mim não faz nenhum.

Portanto, aqui vai o meu quarto desafio aos Adesistas Anônimos e aos Mercenários a Soldo:

Quais são os argumentos a favor do Fundo Soberano do Brasil?

Paulo Roberto de Almeida
20/06/2013



Argumentos para e dos Anonimos Adesistas e Mercenarios a Soldo (3): televisao publica, propaganda governamental

Terceiro da série.

O Brasil, ou melhor, o governo, por qualquer critério que se meça, gasta um bocado com propaganda governamental, e dispõe para isso de milhares de funcionários, que teoricamente trabalham com "informação".

É sabido -- pois isso é público -- que esses canais governamentais exibem um índice baixíssimo de audiência, não importa quanto dinheiro se gaste com esses veículos.

Meu argumento é muito simples: acabar com tudo isso, eliminar, por completo, toda e qualquer informação governamental -- que não seja aquela absolutamente necessária, como avisos sobre: vacinações, catástrofes, defesa civil, avisos relevantes, etc, mas que também podem ser facilmente veiculados pelos meios privados, em redes nacionais, ou até de graça, pelos mesmos meios -- e liquidar toda essa estrutura cara, custosa, inútil, que não serve para nada, a não ser para dar emprego aos companheiros.

A pergunta também é simples?

O Brasil precisa de rádios, TVs, jornais públicos, ou pagos com o dinheiro público?

Eu já esclareci a minha posição, e apenas aguardo argumentos a favor da posição contrária à minha...

Paulo Roberto de Almeida
20/06/2013

Argumentos para e dos Anonimos Adesistas e Mercenarios a Soldo (2): poupança e investimento

Continuando a minha série de desafios aos Anonimos Adesistas e aos Mercenarios a Soldo, coloco aqui o problema.

O Brasil tem uma taxa de poupança voluntária notoriamente e estavelmente baixa (já foi maior), na faixa de 17 a 18 por cento do PIB. Ora, isso é reconhecidamente insuficiente, se quisermos crescer mais de 4 ou 5 % ao ano. Teríamos de estar investindo cerca de 25% do PIB, por exemplo, o que não é extraordinário.

Mas, se formos atentar para todos os recolhimentos compulsórios em vigor no Brasil, de tipo laboral, previdenciário, ou outro, chegaríamos à conclusão de que a nossa poupança potencial é muito maior do que isso.
É sabido, também, que o nível de recolhimentos públicos -- receitas, ou carga fiscal -- se aproxima de 36 ou 37% do PIB, e que todo ano temos um déficit nominal de aproximadamente 3% do PIB, o que se traduz, portanto, num dispêndio final de cerca de 40% (ou dois quintos) do PIB (bem mais do que a derrama do Tiradentes, não é?).
Sabemos também que o investimento público, do Estado, se situa em torno de 1% do PIB.

Pois bem: a pergunta, e espero argumentos em resposta, para os AAs e MSs é a seguinte:

Por que nossa taxa de poupança voluntária é tão baixa, e por que o investimento público é inacreditavelmente baixo, o que impede que tenhamos taxas mais robustas de crescimento?

Eu já tenho os meus argumentos e as minhas respostas, mas caberia esperar para ver os argumentos daqueles que acham que eu só tenho ofensas, e não propostas e argumentos...

Paulo Roberto de Almeida
20/06/2013

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Um debate sobre inovacao: DARPA e "darpobras" - Mansueto Almeida, e outros (eu...)

Um debate muito relevante sobre inovação tecnológica e o papel das encomendas militares no caso dos EUA.
Estou ali no meio dos comentários...
Paulo Roberto de Almeida 

Lições de Inovação: Defense Advanced Research Projects Agency” (DARPA)
Mansueto Almeida
20/10/2012
Apesar de ser um país liberal com um discurso tradicional contra intervenção do Estado na economia, o que muitos não percebem é que, mesmo nos EUA, o governo tem uma importância fundamental no incentivo à inovação. E o melhor exemplo desse papel ativo do governo no fomento à inovação é uma agência criada pelo presidente Eisenhower, em 1958, em resposta ao lançamento do satélite soviético Sputnik, em 1957.
Essa agência se chama “Defense Advanced Research Projects Agency” (DARPA), uma agência do governo americano com um orçamento anual de US$ 3 bilhões – 0,5% do orçamento do Departamento de Defesa de US$ 651 bilhões, em 2009- que se destaca no financiamento de tecnologias novas para uso militar cuja aplicação transborda para uso comercial.
Escrevi recentemente uma nota técnica sobre o assunto a partir de um livro que que li sobre essa agência de fomento à inovação nos EUA. Há varias coisas interessantes no formato dessa agência (leiam a nota técnica anexa) e o Brasil poderia fazer algo semelhante. Essa agência tem as seguintes características: (1) não tem um corpo de funcionários permanentes, trabalha com pesquisadores recrutados por um contrato de três anos; (2) a agência fomenta redes de pesquisa para dar o ponta pé inicial no desenvolvimento de tecnologias novas, (3) há um casamento no desenvolvimento de tecnologias para uso militar e sua aplicação em uso comercial; (4) a agência aprende com suas experiências mal sucedidas – o fracasso é essencial no desenvolvimento de inovação radical.
Infelizmente, no caso do Brasil, não há nada remotamente semelhante a DARPA. Por exemplo, no nosso caso, o orçamento da defesa executado, em 2011, foi de R$ 61,2 bilhões, subdividido da seguinte forma: (1) R$ 17,5 bilhões com gasto de pessoal ativo; (2) R$ 29,1 bilhões com aposentados e pensionistas, (3) R$ 8 bilhões com custeio, e (4) R$ 6,5 bilhões com investimento.
Se no Brasil houvesse uma agência de inovação ligada ao orçamento das Forças Armadas nos moldes da DARPA dos EUA, essa agência teria um orçamento perto de R$ 300 milhões – 0,5% do orçamento da defesa. Um valor que seria muito pequeno. Na verdade, poderíamos ser muito mais audaciosos e pegar recursos do Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação (MCTI) e parte dos recursos que hoje mandamos para o BNDES para investir em inovação a fundo perdido.
No Brasil de hoje, quase metade dos recursos anuais dos Fundos Setoriais (orçamento anual perto de R$ 3 bilhões) não são executados e os contínuos empréstimos do Tesouro ao BNDES, apenas em 2011, tiveram um custo fiscal perto de R$ 23 bilhões.
O governo brasileiro poderia ser muito mais ousado na sua agenda de inovação sem precisar aumentar a despesa primária ou criar novos impostos. Bastaria redefinir o que é prioritário e encarar uma verdade simples – investimento em inovação deve ser feito a fundo perdido, por meio da formação de redes de pesquisa, inclusive com a participação de empresas privadas.
Mas isso por enquanto não é consensual. Por enquanto, muito acham que promover crescimento é dar crédito subsidiado para empresas que não precisam de subsídio para continuarem a fazer mais do mesmo. O que sempre escuto de pessoas, em geral arrogantes, é que: “O Brasil precisa promover empresas grandes para exportar mais e promover o crescimento sustentável”. Sinceramente, não é isso que o Brasil precisa.
O que o Brasil precisa é investir mais em educação, em todos os níveis de ensino, reduzir o papel do BNDES na oferta de recursos e gastar mais a fundo perdido com o fomento à inovação nos moldes da DARPA – com as melhores cabeças do país pensando em inovação. Não é fácil, mas esse é o desafio.

13 Respostas

  1. em 20/10/2012 às 19:27 | ComentarRodrigo Medeiros
    Mansueto,
    Você leu “Economics and World History: Myths and Paradoxes” (University Of Chicago Press, 1993), de Paul Bairoch? Pois bem, lá consta que os EUA foram a pátria mãe do protecionismo para o desgosto dos nossos (neo)liberais. O livro também discute como o protecionismo tem sido a norma e o liberalismo econômico o desvio na economia mundial.
    Cordialmente,
    • em 21/10/2012 às 5:13 | Comentarmansueto
      Não li esse livro. Mas o ponto que faço aqui é muito mais simples do que o debate protecionismo vs não protecionismo. Na verdade, meu ponto aqui é que mesmo em uma sociedade liberal, o fomento à inovação depende fortemente de recursos públicos como é o caso dos EUA.
  2. Como se sabe, todos os governos praticam intervenções em seus países. O livre mercado ou ingerência estatal mínima, só existe nos manuais de economia e livros de filosofia. Já que na prática é impossível que governos não intervenham, é desejável que essa se dê da maneira inteligente ou sensata, tal como fazem aí os EUA. No Brasil, infelizmente como vc bem pontuou, ainda não temos uma agência desse tipo mas temos a EMBRAPA, uma estatal muito bem sucedida, que elevou os níveis de produção de nossa agricultura a patamares de excelência mundial, e que agora, segundo li na Revista Exame, vai investir em parceria com a iniciativa privada em novas pesquisas para produção de uma semente de milho que seja extremamente resistente ao clima seco.
    Mas um dia chegaremos lá meu nobre Mansueto. Para isto basta apenas vontade política e uma mudança de mentalidade.
    acredito nisso
    • em 21/10/2012 às 5:18 | Comentarmansueto
      O caso da Embrapa e mesmo do complexo ITA-CTA-Embraer são bons exemplos. Gosto mais do caso da Embrapa pela característica de inovação que beneficia um grande numero de produtores.
      A Embrapa é uma instituição que tem algumas semelhanças com esse exemplo da DARPA que quis destacar. Trabalha com redes de pesquisa, aprende com os casos de fracasso e “faz apostas radicais”.
      Mas no caso da Embrapa a elite da pesquisa no setor foi trazida para dentro da Embrapa que faz a pesquisa. No caso da DARAP, os pesquisadores vieram por um período de tempo limitado para fazer apenas coordenar a pesquisa.
  3. em 20/10/2012 às 21:58 | ComentarHilario Muylaert
    Caro Mansueto,
    A propósito do desenvolvimento tecnológico americano, podemos dizer que a “Guerra Fria”, no período pós- 2ª guerra mundial, foi o seu principal fator motivador. O “chamado” complexo militar-industrial-acadêmico — em que participaram o MIT, Stanford, Harvard, Columbia, dentre outras, aliadas à GE, Boeing, ATT..etc, e a nata da elite (NASA……projeto guerra nas estrelas………..etc…..) militar americana — foi uma estratégia vencedora, que acabou por deixar “a nu” a extinta União Soviética.
    Num 2º momento, ou seja, como desdobramento, a estratégia previa a transferência das novas tecnologias para o mundo dos negócios privados, com fins civis e comerciais. Então, a internet, por exemplo, não surgiu de investimentos de pesquisas de mercado. Surgiu, sim, de orçamentos fiscais destinados à guerra, à expansão do imperialismo americano.
    Assim, como as tecnologias de ponta que atualmente dispomos (celular, fibras óticas, satélites…etc… ) são oriundas de investimentos públicos para fins militares.
    Em suma, o domínio americano da tecnologia militar e comercial foi alcançado dada uma estratégia de governo, e financiada com recursos públicos.
    Interessante seu artigo, Mansueto, pois abre uma janela para desmistificarmos a lenda americana do livre mercado. Particularmente aos liberais ortodoxos que pouco abordam a economia política, e a história econômica.
    Um abraço
    Hilario Muylaert
    • em 21/10/2012 às 5:24 | Comentarmansueto
      Caro Hilário,
      não sei se o meu artigo desmistifica a lenda americana do livro mercado. O meu ponto é algo mais simples: inovação nos EUA está ligado sim ao complexo militar-industrial-acadêmico como você bem colocou.
      Mesmo a literatura sobre o Vale do Silício mostra como os contratos militares forma importantes para a pesquisa e para a formação de novas empresas na região ao longo de todo o século XX.
      Não quero dizer com isso é claro que o Brasil precisa entrar em guerras para fomentar inovação. O que quero destacar é a estrutura organizacional de fomento a inovação vai DARPA, uma agencia que trabalha na formação de redes de pesquisa e com flexibilidade para apostar em tecnologias radicais e o uso de recursos a fundo perdido.
      Acho que neste campo há lições para nós. Abs,
  4. Não gosto da falta de recursos com que os militares lidam hoje, mas gosto menos ainda de ver os incentivos à inovação no Brasil serem liderados por um modelo militar-bélico à la Estados Unidos. O tamanho do gasto de pesquisa deles nas áreas militar (incomparável com qualquer outro país do mundo até então – China tem aumentado essa despesa também) é reflexo também da “inclinação” do país para se envolver em conflitos armados e efetuar gastos militares.
    Não ignoro a importância, mas preferiria ver um investimento mais próximo do que o MITI representou para o Japão na descentralização dos incentivos à inovação e de programas como o norte-americano SBIR que financia (a fundo perdido, claro) projetos de pesquisa com vistas à desenvolvimento em através de um modelo de seleção competitiva (tipo edital) e tem resultados animadores. No Brasil a iniciativa já foi copiada pela FAPESP (programa PIPE), mas a diferença de escala ainda é brutal, uma vez que lá esse é um programa Federal e aqui se limita a um Estado.
    Acho interessante ver o quanto a inovação (e a educação em grande medida) vem sendo negligenciada nas políticas públicas e é bom ver a blogosfera repercutir isso em bom nível, mas, ainda assim, não acredito que o ‘modelo DARPA/DoD’ seria uma boa opção para o Brasil.
    • em 21/10/2012 às 5:37 | Comentarmansueto
      Mas nunca o nosso incentivo à inovação será liderado por um modelo militar bélico como no caso dos EUA. Talvez eu tenha passado a falsa impressão que estava defendendo esse tipo de modelo militar-bélico.
      O ponto é que no Brasil, o fomento à inovação baseia-se fortemente na concessão de crédito subsidiado via FINEP e os mecanismos de subvenção à inovação são para vários projetos desconexos e pulverizados.
      O que acho interessante no caso DARPA/DoD é a organização institucional da inovação: (1) se pega os melhores pesquisadores de cada tema e os convidam para coordenar ou participar de uma rede de pesquisa; (2) a ideia é mostrar para militares e setor privado que o desenvolvimento de uma nova tecnologia é possível, (3) os projetos surgem de um simples rascunho de um desses pesquisadores, que têm profundo conhecimento da área de pesquisa que atuam; (4) há vários fracassos (com aprendizado) para se chegar a um caso de sucesso, etc.
      No Brasil, as nossas políticas de fomento à inovação, com exceção da Embrapa, não envolvem nada disso. Como falo na p10-11 da nota técnica:
      “Há no setor público brasileiro um grupo de pesquisadores de reconhecida competência na sua área de atuação que definem em quais tecnologias o país vai apostar? No caso do Brasil, há esse fluxo constante de migração de pesquisadores de empresas privadas, academia, e centros de pesquisa para uma agência pública de fomento à inovação e vice-versa? Em outra palavras, é possível falar que o sistema de promoção de CT&I no Brasil está inserido em um sistema nacional de inovação como parece ser o caso da DARPA nos EUA? Os gestores públicos têm flexibilidade de tomar a decisão do que financiar a fundo perdido? Há no caso brasileiro nos projetos apoiados pela FINEP e MCTI a dinâmica de avaliação e aprendizado a partir de casos de fracasso no desenvolvimento de novas tecnologias?”
      Assim, não o desafio não é repetir o complexo de pesquisa militar bélico dos EUA mas aprender com a organização institucional de uma instituição que por mais de 50 anos parece funcionar bem. E mesmo esse aprendizado será limitado, pois aqui não temos a excelência da rede de pesquisa das universidades que existe por lá.
      • Nesse sentido eu concordo, mas não consigo pensar numa instituição no Brasil que tenha a competência que tem o DARPA para liderar um projeto desse tamanho. Alguns colegas do MCT estão cada vez mais desestimulados com o aparelhamento da estrutura e a relativa falta de rumo do ministério.
        Inovação é uma agenda parada no Brasil, infelizmente. Acho que o modelo pode servir de inspiração sim, mas os obstáculos são muitos, uma vez que os Estados dificilmente conseguirão recursos com o vulto necessário para impactar essa realidade, além do problema de perdas já mencionado por conta da pulverização das políticas.
        Vale lembrar que mesmo em São Paulo, só o custeio do Ensino Superior estadual, leva algo em torno de 10% da cota parte do ICMS. É uma parcela muito grande do orçamento para uma esfera relativamente pequena (se comparada ao ensino médio, por exemplo) e ter que elevar a mais via políticas de inovação se torna algo proibitivo.
        É bom ver você propor essa discussão por aqui, mas é triste não conseguir enxergar eco dessas preocupações no governo federal.
  5. Discordo da maior parte dos argumentos aqui apresentados, inclusive da visao do Mansueto, mas nao tenho tempo ou condicoes de desenvolver os meus agora. Apenas ouso dizer que as pessoas confundem orcamento militar voltado para aplicacoes especificas com o processo de inovacao que permeia TODA a sociedade americana e confundem a superestrutura desses gastos do Pentagono (em grande medida inuteis e perdularios) com a “infraestrutura” da boa formacao educacional, que na verdade comeca com a professorinha de aldeia. O Pentagono nao poderia fazer absolutamente NADA se ja nao encontrasse na sociedade americana pessoas preparadas (engenheiros, fisicos, tecnologos em geral) para desenvolver ideias, e isso nao comeca e nao termina com ele. O Pentagono e’ apenas a ponta, alias deformada, de um imenso iceberg de inovacao.
    Isso nao tem NADA a ver com liberalismo, protecionismo, neoliberalismo e outras bobagens, totalmente desconectadas dos fundamentos do “modo inventivo de producao” em vigor nos EUA, que tem a ver com estimulos adequados que vem em primeiro lugar da propria sociedade, nao do Estado.
    Um dia desenvolverei estes pontos.
    Paulo Roberto de Almeida 
    • em 21/10/2012 às 6:04 | Comentarmansueto
      Na verdade, até entendo o seu ponto de vista. Mas o meu ponto, como já falei nos outrso comentários acima, não é defender que precisamos aumentar gastos com defesa ou mesmo subordinar a politica de fomento a CT&I ao complexo militar.
      É fato que inovação é algo que está no DNA dos EUA e não tem paralelo em nenhum outro país do mundo. Mas grande parte da agenda de inovação dos EUA está historicamente ligada ao esforço de pesquisa militar , mesmo o caso do Vale do Silício.
      A formação do Vale do Silicio (que na verdade só passa a ser chamado por esse nome a partir de 1973) foi muito dependente de contratos com o DoD e do esforço de inovação de um grupo de acadêmicos que participaram de um grupo de pesquisa financiado pelo governo americano na segunda guerra mundial, entre os quais, o famoso diretor da escola de engenharia de Stanford, Frederick Terman.
      Dito isso, não acredito que precisamos fomentar o complexo bélico para inovar e uma agência como a DARPA teria dificuldades de funcionar no Brasil justamente pelos pontos que você apontou: nosso sistema educacional é ruim e não dá para inovar com um sistema educacional que não funciona e com empresas que estão protegidas da livre concorrência.
      Da mesma forma, o exemplo da DARPA não tem absolutamente nada a ver com o debate protecionismo versus liberalismo. O que acho importante do aprendizado aqui é a forma que essa instituição funciona: (1) os melhores pesquisadores de cada tema são convidados para coordenar ou participar de uma rede de pesquisa; (2) o setor público atua apenas na fase inicial do desenvolvimento de uma nova tecnologia para sensibilizar setor privado (e militar no caso dos EUA), (3) os projetos surgem de um simples rascunho de um desses pesquisadores, que têm profundo conhecimento da área de pesquisa que atuam; (4) há vários fracassos (com aprendizado) para se chegar a um caso de sucesso, etc.
      No Brasil, independentemente da qualidade da nossa educação, já utilizamos recursos públicos para fomentar inovação e acho que os resultados são pífios e quem tem a palavra muitas vezes sobre o que será financiado são burocratas que não participam de pesquisa. E acho também que a organização institucional dos órgãos de fomento à inovação não tem paralelo com o tipo de organização institutional que se encontra na DARPA.
      Assim, o meu ponto é muito mais destacar a “organização institucional” de uma agencia voltada para o fomento à inovação. Vou deixar isso mais claro na revisão na nota técnica. Abs,
      Mansueto Almeida
      • em 21/10/2012 às 11:33Rodrigo Medeiros
        Este debate é muito importante! Desculpem-me pela insistência, mas o protecionismo integra parte relevante desse imbróglio da inovação. Vejamos um caso recente e que virou matéria da revista The Economist:
        Penso ser ingênuo acreditar que se pode fazer inovação em larga escala sem alguma forma de protecionismo. Afinal, o que não seria estratégico para os EUA? O Brasil não tem condições de bancar essa posição por diversos motivos e a regulação ruim das atividades econômicas entre nós aponta para esse quadro de dificuldades de se regular adequadamente os gigantes transnacionais.
        Dica de leitura sobre o dual complexo industrial-militar dos EUA: “The Closed World: Computers and the Politics of Discourse in Cold War America” (The MIT Press, 1996), de Paul N. Edwards.
        Cordialmente,